O que você está esperando?

O que você está esperando?

Por Gustl Rosenkraz

Sabemos muitas coisas sobre nós mesmos. E sabemos normalmente o que é que nos faz bem ou mal e até mesmo o queremos ou não. É claro que não sabemos tudo, pois tem coisas mais difíceis de se reconhecer, e terminamos nos ocupando mais com isso, com as coisas que não sabemos, correndo atrás, procurando entender, o que é certo, pois precisamos nos conhecer, mas não é bom dedicar-se completamente ao oculto sem cuidar também do óbvio, do que já se sabe, do tanto que já conhecemos de nós.

Costumamos negligenciar a nós mesmos. Tem coisas que são claras, sobre as quais já refletimos, pensamos e repensamos ou sentimos e ressentimos, ou que simplesmente estão tão na cara que nem dá para não percebê-las. Mas preferimos não enxergá-las. E assim, seguimos na vida com coisas mal resolvidas, adiando ou ignorando completamente certos problemas, uns pequenos, outros médios, alguns enormes, fazendo de conta que eles não existem ou querendo acreditar que não há solução, por medo das consequências, por insegurança, por pressão externa, por condicionamento ou por conveniência, na verdade porque somos assim: perfeitamente imperfeitos.

Sabemos que precisamos praticar mais esportes e nos alimentar melhor, mas adiamos por falta de tempo ou outra desculpa qualquer, alguns de nós continuam fumando, mesmo sabendo que a vida encurta um pouco a cada cigarro, consumimos álcool em excesso, mesmo sabendo que a vingança do fígado é certa, permanecemos em relações, mesmo sabendo que o amor acabou, continuamos trabalhando para o mesmo patrão, mesmo sabendo que ele é um tirano ganacioso, comemos açúcar e gordura em demasia, mesmo sabendo que a vingança da balança não falha (a do coração e a do pâncreas menos ainda!), calamo-nos ou dizemos que sim, mesmo sabendo que seria melhor dizer não, sabemos que o portão precisa ser consertado, mas preferimos correr o risco do ladrão entrar de noite no terreno. E o pior de tudo: continuamos vivendo uma vida corrida, estressante, superficial e muitas vezes vazia, mesmo sabendo que seria urgentíssimo cuidar mais de nossa alma, de nossa mente, de nossos sentimentos, centrar-nos, buscando e encontrando um pouco mais de paz interior.

Sabemos de tanta coisa e sabemos que é preciso dar certos passos, que nos ajudarão a crescer e nos libertar, resolvendo algumas coisas que nos sobrecarregam, mas preferimos adiar para amanhã. Ou depois de amanhã? Ou talvez no ano que vem? Quando mesmo? E somos criativos, vinculando a decisão a ser tomada a acontecimentos, datas ou situações – “Vou parar de fumar no ano novo!”, “Vou me separar quando as crianças estiverem grandes”, “Vou repousar mais, assim que a obra na casa estiver pronta” -, e assim prosseguimos até o ano novo chegar, os filhos crescerem ou a casa ficar pronta, para pudermos então buscar novas desculpas e adiar mais uma vez.

Tanto faz quais os problemas que você evita enfrentar, tanto faz o que você sempre vive adiando, seja lá por qual motivo, desista de esperar pelo momento certo, pois ele provavelmente nunca chegará. Se você está sofrendo aqui e agora, é também aqui e agora que você deveria buscar as soluções e promover as mudanças necessárias em sua vida, para que você se sinta melhor, para que você seja livre e mais feliz. Sei que terminar uma relação não é a mesma coisa que consertar um portão, mas tanto faz o tamanho da coisa: adiar não é o caminho. O momento certo é sempre agora.

O poder da literatura em “Minhas Tardes com Margueritte”

O poder da literatura em “Minhas Tardes com Margueritte”

Por Octavio Caruso

“Nas histórias de amor, não há apenas o amor. Nunca dissemos ‘eu te amo’, no entanto, nos amamos”.

A delicadeza inserida nesse poema é a força motriz de “Minhas Tardes com Margueritte” (La Tête em Friche – 2011), de Jean Becker, filho do cineasta Jacques Becker. Conhecemos o personagem de Gerard Depardieu como o estereótipo clássico do bronco, grosseirão, um montanhoso amálgama de Forrest Gump e Kaspar Hauser, incapaz de revidar os ataques debochados diários de seus colegas. É impressionante o contraste visual que se estabelece entre ele e a frágil senhora nonagenária, interpretada com doçura pela veterana Gisele Casadesus, ainda que a aptidão dele com o trabalho suave do entalhe na madeira, aliado à sua maneira simples e pura de enxergar a vida, demonstre que o exterior abrutalhado esconde uma fragilidade existencial quase infantil.

Todas as tardes, enquanto contam os pombos da praça, sem conhecimento algum sobre o passado e o presente do outro, completos estranhos unidos pela casualidade, os dois conversam sobre a vida. Assim como ela inicia a leitura de um livro em qualquer ponto, deixando o folhear da página decidir sua sorte, ambos permitem que o acaso conduza essa amizade. O inexorável tempo é o único inimigo, o ato de desaparecer, minguar sereno em direção ao grande desconhecido, sentindo cada vez mais pesada a luz cálida do amanhecer, por sabê-la representar a incontestável evidência de que mais uma noite terminou. O tempo que se esvai implacavelmente. Como se preparar para exercitar esse desapego pessoal? Aquela complexa máquina que sempre agia em harmonia com seus desejos, quando menos se espera, começa a desaprender dia após dia um antigo hábito. A inevitável perda gradual de visão, a inefável sensação de impotência perante as coisas mais simples, como exercitar a leitura, grande paixão da vida dela. O homem, carente do amor materno, consequência de uma parentalidade irresponsável, começa a depender emocionalmente daquela senhora que conhece apenas pelo nome. A mãe dele, uma estranha que mora ao lado, um enigma que ele encara constantemente, alguém que nunca dedicou um mínimo de ternura em sua criação. A senhora, carente do amor de sua família, que a considera um fardo e a instala em um asilo, começa a depender emocionalmente daquele homem que conhece apenas pelo nome.

contioutra.com - O poder da literatura em “Minhas Tardes com Margueritte”“Não precisam cortar a Floresta Amazônica para fazer dicionários que não ajudam aos idiotas. É como dar óculos para um míope. De repente vemos todas as falhas e defeitos”.

O filme aborda o poder transformador da literatura. A cultura é a única maneira real de libertação, ela conforta e traz segurança, incentiva e ensina um leão a disciplinar seu rosnado e sobreviver na selva. Ela o inspira a ler, por conseguinte, ajuda a formar nele um verniz de autoconfiança e amor próprio, afugentando qualquer intenção de se perder em autocomiseração, o caminho mais óbvio em sua complicada situação. Ela se torna a figura materna que ele nunca teve, bondosa e paciente, o símbolo de gentileza que o impulsiona a melhorar como pessoa, aprendendo a, não somente, apreciar melhor a paisagem, outrora embaçada pela mágoa enrustida, como também tomando coragem de abandonar a passividade, como nós percebemos no emocionante desfecho. Ele toma o controle de sua vida, e, nesse processo, acaba se tornando responsável pela vida dela. E, ao crepúsculo de um longo dia, é bonito perceber que tudo iniciou com a leitura de frases soltas de um livro de Albert Camus, num solitário banco de praça, numa tarde como qualquer outra.

“Nesse mundo estamos de passagem, então te passo esse livro”.

OCTAVIO CARUSO: colunista Conti outra

contioutra.com - O poder da literatura em “Minhas Tardes com Margueritte”
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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

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As várias formas de se vir ao mundo

As várias formas de se vir ao mundo

Por Adriana Vitória

Quando engravida toda mulher que você encontra tem conselhos ou historinhas pra contar, boas e más, e acreditem, foi neste período que me dei conta de que, apesar de todas as qualidades femininas, quando se trata de solidariedade, os homens dão um banho nas mulheres.

Não importa de quem venha, não ouçam! Não vale a pena. Nunca haverá uma historia igual a outra. Cada pessoa é um caso.

Tive uma vida absolutamente normal durante os nove meses da minha gravidez. Trabalhei, me mudei e dirigi ate poucas horas antes da minha filha nascer. Ela veio ao mundo depois de 12 longas horas de trabalho de parto. Foi um dia surreal que nem em meus melhores momentos criativos poderia imaginar.

Fiquei horas em um quarto com cinco homens (2 obstetras, 1 anestesista, 1 pediatra e o pai) a espera de um bebê. Depois de horas de papo e cantorias- o pediatra amava sambas e cantou muito pra mim- ela finalmente começou a vir. Já podia enxergar o topo da sua cabecinha, mas então, ela se moveu um pouquinho e a cabeça ficou presa.

Caos! A primeira vez em que me agarrei ao anestesista e pedi socorro. Era uma dor alucinante que descia pela minha perna.

Mesmo assim não desisti do parto normal, queria continuar tentando.

Pedi que tentassem me segurar de ponta cabeça, quem sabe assim ela não voltaria para descer na posição certa? Eles estavam meio incrédulos, mas concordaram. Acho que ganhei mais dois minutos de chance por merecimento, afinal de contas, quantas mulheres suportariam tantas horas sem reclamar de nada, sem chorar ou gritar ?

A tentativa foi em vão. Ela continuou no mesmo lugar. Não dava mais pra esperar. Dei adeus ao aconchego do quarto e fomos pra sala de cirurgia. Estranhamente não me sentia cansada. Estava ansiosa pra ve-la e, minutos depois, finalmente, ela nasceu. Veio pra mim chorando. Falei com ela e ela se acalmou imediatamente.

Apesar de tudo, foi tudo muito natural pra mim, como se estivesse tendo meu decimo bebê.

Outro dia, o pediatra postou em seu facebook a noticia de que as casas de saude no Rio estavam impossibilitadas de receberem as mulheres em trabalho de parto por causa do enorme número de reservas de partos programados ou cesarianas.

Quando foi que nos distanciamos de nossa natureza feminina? Ninguém é obrigado a sentir dor se não precisa.

Compreendo que algumas mulheres com problemas de saúde tenham que evitar o parto natural, tão defendido corajosamente pelo meu obstetra Marcos Dias, mas chegar a este ponto quando se têm anestesias para amenizar as dores das contrações é demais pra minha compreensão.

Provavelmente não teríamos sobrevivido em outra época ou país, mas estamos aqui e sou grata a todos os que estavam presentes, a Deus e a este dia inesquecível e maravilhoso.

Pra mim, assim como morrer, nascer é um processo que precisa ser vivenciado.

Nota da autora: Para quem quiser saber mais sobre o tema, veja o documentário Partos normal e humanizado

Flor Rubra, um conto de Zack Magiezi

Flor Rubra, um conto de Zack Magiezi

Chovia e não se importava, enquanto todos corriam buscando abrigo,  se apertando embaixo das marquises, ela continuava sentada no banco da praça. Estava coberta das gotas que escorriam por seu corpo, com olhos perdidos no horizonte, a boca semiaberta com seu batom vermelho feito sangue, os cabelos despenteados, a camiseta ensopada, a bolsa no colo que carregava o maço de cigarros e um pequeno caderno de anotações. Era poetisa e leitora de si mesma.

Sempre sentiu enorme vazio e deslocamento, estava feito peça perdida de um quebra-cabeça chamado existência, uma dizima que a vida preferia arredondar. Pensou que os fantasmas eram assim e riu, pois as pessoas que disseram para ela não acreditar em fantasmas hoje não creriam nela. Pensou na sua existência, era excêntrica, praticava o exercício esquecido da reflexão, não tinha tempo para idiotices, carreiras imbecis, status e pessoas rasas. Desde muito cedo sabia que a vida era mais do que rótulos, produtos e transações. Desconfiava que a vida sempre escondia algo dela, igual aos mordomos em romances policiais clichês, e estava disposta a arrancar as respostas. E a vida sabendo disso a evitava.

Silenciou a mente dos barulhos interiores e ficou olhando ao seu redor. Observou as pessoas abrigadas nas marquises, o velhinho que usava uma capa de chuva com a expressão de pressa e passos lentos, os cavalheiros respeitáveis em seus ternos, eles tinham os olhos mergulhadores que exploravam o decote e o colo molhado da moça, que estava mais preocupada em proteger os seus cadernos, o menino com ar solitário com uma camiseta de uma banda que ela nunca tinha ouvido falar e suas tatuagens borradas. A chuva era um lembrete, ela mostrava o abismo que existia entre ela e os outros, não tinha o espirito aventureiro e nem vontade de saltar e alcança-los.

Levantou-se, caminhava devagar em direção a sua casa um apartamento alugado no centro. Pensava em alguma música da Elis, não pela letra em si, mas gostava da voz dela, aquela voz forte e doida, aquela voz que era um vazamento da alma. As dores são assim, a ferida abre ou o vaza o sangue ou a alma. A voz de Elis era um vazamento da alma, assim como o batom vermelho que usava todos os dias. Enquanto as pessoas associavam o batom com a mulher sensual que é, a verdade é que o batom que avermelhava os lábios era flor que brotou de toda a dor de sua alma. Era uma rosa dolorida e bela, e assim prosseguia andando devagar, bolsa no ombro, quadris deslizantes, com a flor rubra na boca querendo a voz de Elis.

Viu o velho prédio, abriu a porta e subiu pelas escadas, detestava elevadores e seus constrangimentos. Gostava de deslizar a mão direita pelo corrimão e se conectar a outras mãos que passearam por ali, estranha mania de se conectar a ausência das pessoas e não as pessoas.

E ria ao pensar que os objetos durariam muito mais do que ela e que na verdade eles são pontes imaginárias que ligam, e assim ela ia tocando os objetos e derramando vida neles, para que talvez algum dia alguém se conecte a ela.

Entrou em seu apartamento, deixou as roupas pelo chão, assim como já tinha deixado os sonhos, as palavras e as esperanças de plástico. Deitada em sua cama, olhava o teto cinza, de um dia cinza, como tantos dias cinzas que se repetem e que nos repetem.

A flor rubra sorriu perfumando o quarto com alma.

Zack Magiezi
No Facebook: Estranheirismo
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Nota da Contioutra:  Agradecemos ao autor pela constante parceria, pelas publicações em nossa página do Facebook e pela autorização dessa publicação.

20 de março – Dia do Contador de Histórias

20 de março – Dia do Contador de Histórias

Nada mais “tudo a ver” com a CONTI outra do que contar histórias.  Antes que o mundo fosse presenteado com a TV e com a internet, ver um pai ou uma mãe com um livro aberto ou até dizendo de memória uma bonita história ao filho, era algo mais recorrente. Hoje, contudo, é mais fácil ver o pai ou a mãe ligar a TV ou o tablet, ou celular, para que o seu filho se distraia.

Nessa nova onda tecnológica, a família perde muito. Afrouxam-se os laços na medida em que os pais não mais compartilham, junto às narrativas de contos e lendas, e até mesmo de suas histórias pessoais, sua emoção, seu pensamento. Quem conta uma história não fala somente da história, fala de si enquanto a descreve. Além disso, ele sente a quem o ouve. Percebe seu sentir, sua dor, sua alegria. Sua angústia ou seu encanto.

Na contramão tecnológica, temos os Contadores de Histórias e hoje, 20 de março, o Brasil comemora o seu dia. Dois deles falaram à CONTI outra um pouquinho do seu dia-a-dia.

Falamos com Rita Nasser, de São Paulo. Ela escreve e conta histórias infantis e aqui nos conta como iniciou na atividade de contadora de histórias.

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Olha aqui a Rita mudando o futuro de crianças…

RITA NASSER: “Costumo dizer que todos somos contadores, em potencial. Na verdade, primeiro vem aquela que lê e escuta e depois a contadora.Na infância eu já contava histórias para o cachorro, os amigos, as bonecas…Ali também nascia a escritora, que aos nove anos começa a escrever em homenagem a Lobato.E, como muitos adolescentes, a poesia se instala nesta fase.Com a maternidade ressurge aquela que lê e conta para o filho e nesta época também renasce a escritora. Escutar, escrever, contar…Três faces de mim que discutem de vez em quando, mas…Sempre se entrelaçam, se respeitam…”

 

Conversamos também com PAULO FERNANDES, de Belo Horizonte.

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Paulo Fernandes fazendo o que mais ama…

“Na verdade eu não decidi contar histórias, foi um processo natural, aconteceu sem que eu sequer percebesse e foi se tornando algo essencial a minha vida.”

Para o Paulo, “É tudo mágico, o sorriso de uma criança, um adulto que se envolve e quando percebe já está dentro da história, a alegria dos ouvintes , as histórias que descubro, a possibilidade de resgatar a tradição oral e a escuta em um mundo cada vez mais ligado a tecnologia e com relações líquidas.”

E penso que deve haver muita magia mesmo, afinal foi também isso que noticiou Rita Nasser:

“É tudo mágico! Momento encantador em que entramos no conto e ele vive em nós. Digo “nós” porque contar é especial para quem ouve e quem conta. Tenho muitas passagens que estou registrando, aos poucos, nesses quase vinte anos contando. O melhor de tudo é que nunca saímos como entramos de um conto. Ele sempre nos modifica pra melhor.”

 

Perguntados sobre situações inusitadas, Rita nos diz:

“Há momentos lindos e inesquecíveis… Por exemplo uma vez eu estava contando uma história sobre um lobo que batia à porta. E? Bem na hora H bateram mesmo e as crianças gritaram : É ele!!! O  Lobo. E quando a porta se abriu todos, aliviados, começaram a rir, eu também.”

O Paulo, por sua vez, fala-nos que, obviamente, há momentos mais e momentos menos mágicos. Mas, por suas palavras, acho que a magia predomina.

“Teve um fato inusitado que aconteceu em uma contação e foi a única vez que aconteceu. Uma criança jogou um sapato em mim e disse: cheira meu chulé. Mas há também fatos memoráveis e estes são muitos.

Destaco um fato que marcou, em uma sessão de histórias um bebezinho de 3 meses ficou durante uma hora com olhar atento e ouvidos ligados na história, ao final a mãe disse: Eu estou emocionada, minha filha está encantada com você e suas histórias.”

Fica o registro das nossas homenagens a esses Dom Quixotes contemporâneos, na esperança de que eles nos inspirem a contar sempre muitas e emocionadas histórias.

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Os livros encantados de Rita Nasser…

Saiba mais:

Canal no Youtube onde Paulo Fernandes faz indicações de leituras

Paulo Fernandes no Facebook

Rita Nasser no Facebook

Editorial CONTI outra. 

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Oratório

Oratório

Por Lourival Antonio Cristofoletti

Prezo tudo de bom com que sou abençoado
na condição de humano fico tentando ir além
se não for abuso, Senhor, nem pedir demais
revigora-me as forças, para renovar a gana de viver
clarifica as tormentas e estica a minha paciência
alarga os horizontes e recicla-me as energias
valida meus propósitos e elucida-me as angústias
testemunha a minha fé, potencializa a resignação
dignifica-me as provações, direciona a bondade
exerce controle do meu ego, expande a abnegação
renova-me espiritualmente, toca-me o coração
agradeço-te, comovido, sendo arrebatado, agora
ampara-me se eu fizer jus às Suas bênçãos, amém.

 

O texto acima faz parte do livro  COMPORTAMENTO: INQUIETAÇÕES & PONDERAÇÕES – Livraria Logos 

A reprodução neste espaço foi autorizada pelo autor.

contioutra.com - Oratório

LOURIVAL  ANTONIO CRISTOFOLETTI

contioutra.com - OratórioPaulista de Rio Claro e residente em Vitória/ES. É mestre em Administração pela UnB – Universidade de Brasília, Analista Organizacional e Consultor em Recursos Humanos. Atualmente atua como professor na Graduação e MBA na FAESA – Faculdades Integradas Espírito-Santenses; Instrutor na UFES – Universidade Federal do ES e na ESESP– Escola de Governo do ES.

Livro publicado: COMPORTAMENTO: INQUIETAÇÕES & PONDERAÇÕES
Livraria Logos (vendas pelo site)

E-mail de contato: : [email protected]
No Facebook: Lourival Antonio Cristofoletti No Instagram: lourivalcristofoletti

Mãe, um conto para quem não tem preguiça de pensar

Mãe, um conto para quem não tem preguiça de pensar

Por Lúcia Costa

Ainda na infância, aqueles amigos umbilicais descobriram-se apaixonados. Juraram-se, acreditaram-se, o relógio adiantou ponteiros, anelaram-se, casaram-se.

Os anos passaram apressados: o desejo queimou o primeiro; a sede bebeu o segundo; a fome comeu o terceiro. Quatro anos e as bocas frias ruminavam; os corpos gritavam em silêncio pelo pequeno corpo que não lhes chegava. À  parteira, menos um  luz para mostrar; ao padre, uma falta na pia batismal no domingo; ao Mundo, uma ideia negada; ao casal, uma chupeta e dois pesinhos para medir os limites da casa.

Não queriam adquirir choro que não lhe fosse proveniente dos próprios olhos. Acreditavam que, com isso, teriam de se acostumar à vereda que o pequeno desconhecido traria desenhada. Todos os planos davam para um filho; todos os meses davam para o fracasso.

Uma noite, enquanto viam TV na sala, escutaram um choro primário vindo do jardim. Sufocado entre flores e espinhos, formigas e grama úmida, chegou a casa aquele minúsculo ser de olhos ainda fechados.

E por ali descobriu para que servem os pés, subiu as escadas, dormiu sozinho, espremeu a primeira espinha, dormiu junto a uma estranha sorrateira, desceu para ser calouro, subiu com o diploma, beijou os pais, partiu para longe, encontrou o útero que lhe fermentou, libertou-o da prisão, ofereceu-lhe casa, chama-o carinhosamente de”mãe”.

Longe dali, um par de cabelos brancos, ainda de luto, lamenta o que poderia ter sido, e foi.

contioutra.com - Mãe, um conto para quem não tem preguiça de pensar

Se Ariano Suassuna disse isso sobre o forró, o que ele diria sobre o funk?

Se Ariano Suassuna disse isso sobre o forró, o que ele diria sobre o funk?

O escritor Ariano Suassuna, em sua contumaz crítica à sociedade brasileira, fala-nos, decepcionado, daquilo em que se transformou o forró nacional.

Ele questiona o teor das letras e se mostra preocupado com a geração que, influenciada por tais pensamentos, terão poder sobre o Brasil em breve tempo.

Após ler a fantástica crônica de Ariano, a CONTI outra se pergunta, se Suassuna se mostrou assim desencantado com as letras do forró nacional, o que ele teria dito se fosse convidado a comentar o funk?

Abaixo, o texto de Ariano Suassuna escrito em 2010.

Tem rapariga aí?

Por Ariano Suassuna

“Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!’. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são ‘gaia’, ‘cabaré’, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá:

Calcinha no chão (Caviar com Rapadura),
Zé Priquito (Duquinha),
Fiel à putaria (Felipão Forró Moral),
Chefe do puteiro (Aviões do forró),
Mulher roleira (Saia Rodada),
Mulher roleira a resposta (Forró Real),
Chico Rola (Bonde do Forró),
Banho de língua (Solteirões do Forró),
Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal),
Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada),
Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca),
Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró),
Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró).

Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta ‘desculhambação’ não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de ‘forró’, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo est tico. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

Aqui o que se autodenomina ‘forró estilizado’ continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na platéia’, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é ‘É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!’, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Editorial CONTI outra

“O primeiro visitante da lua”, um conto popular da Guiné Bissau

“O primeiro visitante da lua”, um conto popular da Guiné Bissau

Entendemos como tradição oral o mecanismo por meio do qual a tradição de um povo é transmitida, de geração em geração, através de contos, provérbios, cânticos e lendas.

Nesse ínterim, as lendas visam, principalmente, trazer explicações para os questionamentos maiores da humanidade, como o início da vida, a morte, a criação do mundo, o surgimento do universo.

Aqui transcrevemos uma lenda contada, há muitas gerações, em Guiné Bissau que fala da música em sua origem etérea, lunar, levando-nos a meditar de quando e como surgiram os primeiros batuques na Terra.

Segue:

“Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra.

Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a ideia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua. Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua.

Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.

A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.

O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda.

O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país.

A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.”

Editorial CONTI outra

contioutra.com - "O primeiro visitante da lua", um conto popular da Guiné Bissau
 Nota:  A lenda transcrita no texto acima foi encontrada no site  Lendas africanas.

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O TEMPO E AS JABUTICABAS

O TEMPO E AS JABUTICABAS

Tempo que foge 

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de ‘confrontação’, onde ‘tiramos fatos a limpo’.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena…e para mim basta o essencial.”

Ricardo Gondim

in Tempo que foge.

contioutra.com - O TEMPO E AS JABUTICABAS

Nota da Conti outra: existe uma falsa atribuição desse texto ao escritor Rubem Alves, mas a autoria legítima é de Ricardo Gondim como explica a matéria Tempo que foge.

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“ENTRE MUITOS”, um poema da escritora tida como “O Mozart” da poesia: Wisława SZYMBORSKA

“ENTRE MUITOS”, um poema da escritora tida como “O Mozart” da poesia: Wisława SZYMBORSKA

Sou quem sou.

Inconcebível acaso
como todos os acasos.

Fossem outros
os meus antepassados
e de outro ninho
eu voaria
ou de sob outro tronco
coberta de escamas eu rastejaria.

No guarda-roupa da natureza
há trajes de sobra.
O traje da aranha, da gaivota, do rato do campo.
Cada um cai como uma luva
e é usado sem reclamar
até se gastar.

Eu também não tive escolha
mas não me queixo.
Poderia ter sido alguém
muito menos individual.
Alguém do formigueiro, do cardume, zunindo no enxame,
uma fatia de paisagem fustigada pelo vento.

Alguém muito menos feliz,
criado para uso da pele,
para a mesa da festa,
algo que nada debaixo da lente.

Uma árvore presa à terra
da qual se aproxima o fogo.

Uma palha esmagada
pela marcha de inconcebíveis eventos.

Um sujeito com uma negra sina
que para os outros se ilumina.

E se eu despertasse nas pessoas o medo,
ou só aversão,
ou só pena?

Se eu não tivesse nascido
na tribo adequada
e diante de mim se fechassem os caminhos?

A sorte até agora
me tem sido favorável.

Poderia não me ser dada
a lembrança dos bons momentos.

Poderia me ser tirada
a propensão para comparações.

Poderia ser eu mesma – mas sem o espanto,
e isso significaria
alguém totalmente diferente.

SZYMBORSKA,Wisława. Poemas. Trad. de Regina Prazybycien. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p.p. 100,101,102.

contioutra.com - "ENTRE MUITOS", um poema da escritora tida como "O Mozart" da poesia: Wisława SZYMBORSKA

 

Wisława Szymborska Poetisa, crítica literária e tradutora polonesa. Viveu em Cracóvia, onde se formou em Filologia Polaca e Sociologia pela Universidade Jaguellonica. A sua extensa obra, traduzida em 36 línguas, foi caracterizada pela Academia de Estocolmo como «uma poesia que, com precisão irónica, permite que o contexto histórico e biológico se manifeste em fragmentos da realidade humana», tendo sido a poetisa definida, como «o Mozart da poesia». Prêmio Nobel de Literatura, 1996.

Nota da CONTI outra:  Essa linda indicação de poema foi feita por uma das minhas mais novas amigas do Facebook em sua linha do tempo:  Carmen Silvia Presotto

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A Tribo africana Dogon e sua “inexplicável” relação com as estrelas

A Tribo africana Dogon e sua “inexplicável” relação com as estrelas

Uma das fontes mais surpreendentes da evidência de nossos antepassados ​​vindos das estrelas é a história da tribo de Dogon, África.

Há entre 400.000 e 800.000 Dogon em uma civilização remota na região do planalto central do Mali. A cultura Dogon é conhecida por uma arte significativa e detalhada dos seus costumes tribais, por sua cosmologia precisa e, sobretudo, por suas  lendas que os ligam aos “antepassados ​​de Sirius!

A Importância do Dogon chegou ao mundo ocidental em 1930, quando antropólogos franceses ouviram as lendas dos sacerdotes Dogon. Sçao histórias que foram passadas ​​oralmente, de geração em geração, e documentadas através de obras de arte.

O povo Dogon fala de uma raça extraterrestre do Sistema de Sirius Star, referida como o Nommos, que os visitou na terra. Os Nommos eram uma raça de criaturas humanóides aquáticos, semelhante ao sereias. Interessante é que a deusa Isis, da Babilônia, era descrita como uma sereia e associada com Sirius.

A cultura Dogon diz que os Nommos desceram à terra vindos dos céus, em um grande barco, trazidos por grandes e ruidosos ventos. Os Dogons explicaram que o sistema Sirius tem uma estrela companheira, mas não pode ser vista da Terra devido ao brilho de Sirius. Os pesquisadores descobriram artefatos de Dogon, datados de mais de 400 anos, que descrevem órbitas destas estrelas.

Anos mais tarde, em 1970, os astrônomos finalmente tiveram telescópios bons o suficiente para aumentar o zoom em Sirius e fotografaram Sirius B. O povo Dogon estava certo! Sirius de fato tem sua companheira.

Eles também identificaram as luas de Júpiter e os anéis de Saturno sem o uso de um telescópio. E fica a pergunta: como eles poderiam saber isso?

Abaixo, um exemplo de lenda Dogon falando da criação e do surgimento das estrelas.

A criação da terra

No princípio, o Deus único criou o Sol e a Lua, que tinha a forma de cântaros, a sua primeira invenção. O Sol é branco e quente, rodeado por oito anéis de cobre vermelho, e a Lua, de forma idêntica tem anéis de cobre branco. As estrelas nasceram de pedras que Deus atirou para o espaço. Para criar a Terra, Deus espremeu um pedaço de barro e, tal como fizera com as estrelas, arremessou-o para o espaço, onde ele se achatou, com o Norte no topo e o restante espalhado em diferentes regiões, à semelhança do corpo humano quando está deitado de cara para cima.

(Mito africano de origem Dogon reveladas por um velho cego, Ogotemmêli, escolhido pela tribo para contar aos seus amigos europeus os segredos da mitologia dos Dogons, relatado por Parrinder em África)

O texto acima foi traduzido e adaptado do original Catalyzing Change pela equipe CONTI outra

A lenda “A Criação da Terra” foi encontrada em Lendas Africanas

contioutra.com - A Tribo africana Dogon e sua "inexplicável" relação com as estrelas

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Sabedoria indígena: o que os povos da Amazônia sabem, e nós não sabemos

Sabedoria indígena: o que os povos da Amazônia sabem, e nós não sabemos

“Você não frequentou a faculdade de medicina, não é?”

O xamã disse: “Não, não frequentei.”

Ele disse: “E o que você sabe sobre curar doenças”?

O xamã olhou para ele e disse: “Sabe, se você tem uma infecção, vai ao médico. Mas muitas aflições humanas são doenças do coração, da mente e do espírito. A medicina ocidental não chega à elas, eu as curo.”

(Aplausos)

Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading

 

A patologização do comportamento humano

A patologização do comportamento humano

Por Gustl Rosenkraz

A menopausa, por exemplo, é uma fase normal na vida de qualquer mulher desde que a humanidade existe. Em meados do século passado, a medicina começou a enquadrar os sintomas típicos desta interrupção fisiológica dos ciclos menstruais como transtornos de saúde, classificando o climatério como doença e tratando-o com hormônios, mesmo que essa terapia tenha feito mais mal que bem, aumentando e não reduzindo a incidência de câncer na mama, como é suposto pelos defensores dessa terapia. Ora, mas para que tratar algo que faz parte da vida humana, que é algo que foi estipulado assim pela natureza e que, com certeza, tem seu sentido? Em minha opinião, isso se deve principalmente a uma mentalidade de querer domar a natureza em todos os sentidos, à arrogância de médicos que acreditam saber mais que a criação, à devoção de pacientes que ainda acreditam cegamente em uma medicina que está mais preocupada com sua vaidade e com o lucro do que com seu bem-estar e à ganância da indústria farmacêutica, que faz questão de patologizar o ser humano para vender mais medicamentos.

Bom, o exemplo acima refere-se em primeira linha à saúde física (mesmo que interferências hormonais também tenham seus efeitos psíquicos), mas não é muito diferente com nossos comportamentos, que também são questionados, fazendo com que coisas que até pouco tempo atrás valiam como normais sejam hoje classificadas como distúrbios. Ou você ainda não notou que palavras como bipolaridade, hiperatividade e depressão andam em moda? Não acha estranho que o mundo inteiro esteja ficando “louco”, que todo mundo parece sofrer de algum mal comportamental? O que antigamente era inerente ao comportamento humano e à personalidade de cada um é hoje transformado em distúrbio psicológico. Temperamento é classificado como agressividade, letargia como depressão, inquietude como hiperatividade, insegurança e dúvida como bipolaridade, sem falar do número crescente de crianças que andam por aí recebendo o diagnóstico definitivo de síndrome de Asperger ou coisa parecida.

É fato que o mundo moderno tem nos sobrecarregado bastante. O fluxo de informações é enorme, as relações têm se tornado mais escassas e superficiais, a velocidade com a qual o mundo muda deixa-nos tontos, as incertezas aumentaram… É compreensível que muitas pessoas tenham dificuldades de se orientar e se sentir bem em um mundo assim e, sem dúvida, um ou outro pode mesmo necessitar de auxílio profissional para se recompor e ter mais clareza, mas ainda assim: isso não é motivo para transformar comportamento humano normal em doença.

Parece-me que há um desejo forte de padronização do comportamento humano. Uma criança que entra na escola e não se comporta da forma esperada pelas pessoas à sua volta é rapidamente taxada de “criança problemática”, sem que se busque a fundo pela causa. Os pais, que querem o melhor para seus filhos, acreditam, buscam ajuda profissional, se veem confrontados com algum diagnóstico “moderno”, remédios são receitados e a criança termina patologizada devido a algo que possivelmente faz simplesmente parte de algo individual, que todos nós temos, e que foge de qualquer forma de padronização: sua personalidade.

O consumo de antidepressivos no mundo anda tão alto que cientistas descobriram que camarões estão se “suicidando” por causa da concentração das substâncias ativas desses medicamentos nos mares (vide: Science – ORF – em alemão). Ou seja: muita gente anda consumindo antidepressivos, que são então eliminados com a urina, que por sua vez vai parar na canalização. Como os sistemas de tratamento de esgotos não filtram tais substâncias completamente, elas vão para o mar, sendo então ingeridas pelos camarões. Sob efeito desses remédios, os camarões, que normalmente vivem a certa profundidade, onde a escuridão os protege contra predadores, perdem esse medo natural, nadam para a superfície, sendo então devorados por peixes e pássaros. Parece piada, mas não é. E isso que parece engraçado mostra um fato triste e preocupante: o mundo anda tomando muitos medicamentos antidepressivos. Acredito que sem motivo, pois não dá para crer que tanta gente esteja realmente sofrendo de depressão. Sou mais de acreditar que tudo isso se deve a uma falsa crença em “pílulas milagrosas”, que servem como mecanismo de fuga para pessoas que não querem enfrentar as dificuldades do dia-a-dia e para encher os bolsos de médicos e da indústria. Eu mesmo passei por uma situação interessante, que mostra bem como se lida com psicofármacos hoje em dia: fui mordido por um carrapato e infetado com borrélias, que atacaram meus músculos, causando dores horríveis. Como os médicos não descobriam o motivo, fiquei muito tempo sem saber o que se passava comigo, algo na verdade resultado de pura negligência e arrogância médica, já que eu mesmo havia questionado várias vezes se meus problemas não teriam ligação com a mordida do carrapato, mas os médicos negavam, ignorando as evidências. Pois bem, depois de sofrer muito e andar de consultório para consultório, fui hospitalizado para um exame mais profundo. Antes mesmo de qualquer exame ser feito, o médico me passou um antidepressivo, supondo que me ajudaria contra minhas dores. Não entendi a lógica e recusei esse tratamento. Mais tarde, um dia antes de ter alta, fiquei sabendo que TODOS os demais pacientes da enfermaria (cada um com problemas diferentes!!!) estavam tomando essa medicação. Para mim ficou claro que a intenção do médico não foi a de combater minhas dores coisa nenhuma. Desconfio que o hospital estava fazendo algum estudo ou simplesmente sendo bem remunerado pelo fabricante do remédio.

Há casos onde realmente há um distúrbio que precisa ser tratado, mas esses casos também já existiam antigamente. O que não dá para aceitar é um aumento assustador de patologias “inventadas” e exageradas, a medicação de psicofármacos como se fossem bombons e a transformação de qualquer nuança de individualidade em patologia. Seres humanos são seres singulares, cada um é diferente, cada um tem desejos e necessidades próprias, sua personalidade e sua forma de lidar com a vida e com o mundo, e isso é algo muito precioso. Jamais deveríamos abrir mão de nossa individualidade e muito menos permitir que sejamos transformados em “anormais” em nome de uma “normalidade” criada, que rejeita o que é diferente e tenta padronizar nosso comportamento. O mundo sem as “loucuras” individuais de cada um de nós nada mais seria que um lugar sem nenhuma graça, ou estou errado?

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