Verdades e Mentiras

Verdades e Mentiras

Por Elika Takimoto

A mulher, negra, forte, mal vestida e suja pede clemência para Juliana que insiste em não abaixar o vidro da janela. Juliana acabou de entrar em seu carro que estava estacionado na Avenida Afrânio de Melo Franco a alguns metros de onde morava. Parara ali porque, por sorte, tinha encontrado uma vaga quando voltava do trabalho e resolveu comprar pão na antiga padaria do bairro.

– Por favor, senhora, por favor! Tenha bondade nesse coração!

Juliana movimentou o vidro o suficiente para que um dedo passasse.

– Por favor, senhora, eu trabalhava de acessorista de elevador no prédio aqui perto há dez ano, mas desde que fizeram a reforma me mandaram embora e eu não consigo emprego em nenhum lugar. Tenho fome e queria um dinheirim só para comer alguma coisa. Não sou vagabunda nem filho eu tenho não senhora. Tenho dormido na rua porque não tenho mais como pagar o aluguel do barraco onde morava tenha piedade senhora.

A brecha do vidro era pequena como já registrado, mas não impediu que o bafo de cachaça da mendiga entrasse no carro perfumado de Juliana.

– A senhora está bêbada!

– Não estou não senhora, não tenho dinheiro para comer, senhora, tenha piedade. Juro que não é pra bebida não senhora.

– Em que prédio você trabalhava? De que rua? – Juliana morava no Leblon desde que nasceu e conhecia o bairro como conhecemos não a nós próprios porque isso é mentira, e muito menos a palma de nossas mãos porque isso é bobagem, mas como conhecemos, bem, como conhecemos… como bem conhecemos a nossa mesa de trabalho.

– Ali naquela rua, senhora. – E apontou para lá, qualquer lugar, lugar nenhum.

– Qual rua, moça? Fale o nome da rua!

– Me esqueci, senhora.

– Trabalhou há dez anos no mesmo prédio e se esqueceu do nome da rua? Ah, vá ver se estou na esquina, sua bêbada! Você mente descaradamente!

Quando foi levantar o vidro, a indigente colocou, na tentativa de impedir o gesto da madame, seus dedos no pequeno espaço aberto entre elas.

– Senhora peloamordedeos me dê qualquer coisa, tenho fome.

– Isso não justifica você mentir e abusar da boa vontade das pessoas! Poderia te processar por impostura!

Juliana havia descoberto na semana anterior a traição do namorado com uma colega da sua própria repartição. Juliana era gerente e acabou demitindo uma boa engenheira para não ter que lidar com a vergonha e as fofocas em seu trabalho. No mais, a outra aprenderia a não se meter no caminho de Juliana. Quanto a ele, o traidor, Juliana o amava e estava sofrendo, dizia, porque se tem uma coisa que eu não gosto é de mentiras! Eu não perdoo mentiras!

– Eu vou te processar! Você mentiu pra mim, sua bêbada mentirosa! Com um bafo desses e vem me dizer que não bebe! Ah vá…

– Tá bom, senhora! Eu menti! Eu menti! Mas o que a senhora faria no meu lugar? Por Deus, senhora! Como vou viver sem mentir! Se eu contar a verdade que tento procurar trabalho há vinte ano e ninguém me dá uma oportunidade sequer ninguém acredita! Só sabem me dizer que sou forte, gorda, mas ninguém emprega ninguém que não sabe ler nos dias de hoje! Querem sempre referença! Como vou arrumar referença se nunca trabalhei, senhora?

– O que fazer? Vai trabalhar ora!

– Onde, senhora? Se a senhora me arrumar onde eu trabalho, eu vou! Onde?

– Vai lavar roupa pra fora!

– Lavo, senhora! Mas quais roupas? A senhora confiaria as suas roupas para que eu lavasse elas?

Juliana pensou. Pegou um pão e deu para a senhora. Mas antes de sair com o carro, disse-lhe que fosse no condomínio tal, na casa tal procurar por Juliana e que se ela lá chegasse, teria trabalho para fazer.

Chegando em casa, resolveu fazer uma sauna, avisou a empregada para colocar na mesa perto da piscina os pães recém-comprados com sucos e tudo o mais para compôr o lanche. Ao subir para o seu quarto, ouviu o som da campainha e logo depois a empregada veio lhe avisar que seu Jorge, o porteiro, estava diante de uma mulher negra e suja que estava procurando por ela na porta do condomínio, conforme ele foi avisado por dona Juliana que isso poderia acontecer.

– Kátia, vá buscá-la. Leve a mulher para a garagem e dê-lhe todos os tênis dos meninos para ela lavar no tanque. E quando ela terminar, me chame!

A maltrapinha acompanhou a moça de uniforme branco até a casa de dona Juliana. Da janela de seu quarto, Juliana conseguiu perceber a chegada das duas. A mulher mentirosa vinha atrás de Kátia, mas nada feliz como aqueles que arrumam uma saída na vida. Vinha porque estava com o orgulho ferido por ter sido chamada de mentirosa e queria mostrar para Juliana que o que ela havia feito tinha uma justificativa. Pois sim que tem. Pois sim!

Juliana desceu sem fazer barulho. Kátia havia percebido que a mulher imunda estava cheirando vodca e fraca de tanta bebida. Ao mostrar-lhe os tênis dos meninos que eram três e jogavam futebol na lama toda semana, Kátia explicou-lhe o que teria que ser feito. Da cozinha, andando nas pontas dos pés e com os ouvidos esticados para a porta, Juliana escutou:

– Dona Lourdes, a senhora tem esses tênis para lavar. Dona Juliana gosta deles brilhando, está entendendo? Não sei onde ela está com a cabeça ao colocar a senhora aqui dentro! Até parece que uma mulher como a senhora, que não consegue nem se limpar, vai conseguir lavar esses tênis dos filho dela! Se não ficar direito, ela mandou avisar que não paga! E se eu fosse a senhora nem perdia seu tempo! Dona Juliana é chata com as coisa dela!

Juliana riu para dentro e tornou a subir para o seu quarto como se tivesse andando nas nuvens. Por pisar suave para que as duas não a ouvissem, mas também porque estava com o corpo mais leve por estar perto de comprovar que quando se quer, tem jeito sim e quem se esforça para fazer tudo certinho tem suas recompensas. Que podemos viver sem mentirmos uns para os outros. Que não precisamos arrumar justificativas por termos mentido. Não há desculpas para qualquer mentira! Que se Carlos chegasse e contasse para ela que não gostava dela e que estava interessado por outra que ela entenderia perfeitamente, quer dizer, que seria muito melhor do que ele ter mentido e tê-la obrigado a demitir uma excelente engenheira como a Tatiana.

Após uma hora mais ou menos, Kátia pediu que Juliana descesse, pois a mulher tinha terminado o serviço. E que tinha ficado bom como dona Juliana gosta.

– Muito bem, dona Lourdes. – Juliana rateou. Como sabia o nome da bêbada se jamais havia perguntado? – A senhora volte aqui na semana que vem e fará o mesmo serviço.

Deu-lhe trinta reais. Dez por cada par de tênis.

Na semana seguinte, Lourdes apareceu de novo com o mesmo bafo de cachaça e foram-lhe entregues os mesmos tênis imundos. Kátia recebeu a esmolambada com a mesma impaciência novamente ouvida pela danada da Juliana que espreitava atrás da porta da cozinha.

– De novo com essa cara imunda?!? Como dona Juliana permite que a senhora entre assim aqui? Pois bem, aqui a esponja, aqui os tênis dos menino e comece a lavar porque a senhora não pode ficar aqui muito tempo! Dona Juliana pediu para que eu não deixasse a senhora fazer hora nos serviço de lavági dos tênis!

Juliana não poderia ter ficado mais satisfeita com a sua ideia. Nem contava com essa da Kátia que estava se saindo melhor do que encomenda. Quem diz que quer, quem diz que precisa, quem diz que ama, suporta os trancos da vida e segue em frente mantendo o foco. Só os fracos, os infelizes, os que não têm mais jeito arrumam uma desculpa para a incompetência de respeitar e amar o próximo! Vamos ver se essa negra bêbada volta de novo! Vamos ver! Pois sim que volta, pois sim!

Os tênis ficaram de novo limpíssimos. Lourdes voltou durante três meses, todas as semanas. Juliana arrumou-lhe roupas e sapatos novos. Permitiu-lhe banho no banheiro dos empregados. Após esse tempo, Carlos foi perdoado e Juliana resolveu oferecer algo maior para Lourdes que já não mais cheirava a vodca, run ou cachaça. Pediu para que Kátia ensinasse a ela como cuidar dos cachorros. Depois pediu para Kátia ensinar-lhe a passar roupas. Depois acabou indicando Lourdes para sua amiga.

Ao visitar Andréia, quem atendeu a porta foi Lourdes vestida com um uniforme alvo e cheirando a produtos de limpeza.

– Muito bem, Lourdes! – disse juliana muito feliz – Fico muito contente por você! De certa forma, me sinto como uma madrinha, sabe? Fui eu afinal de contas que perdoei a sua mentira, se lembra? E que te ajudei a ter hoje dignidade que antes parecia que te faltava! Fico realmente muito feliz em ver você livre do vício da bebida, dona Lourdes, e perceber o quanto eu contribuí para isso.

– Muito gradecida, dona Juliana. Por suas palavra bonita e suas atitude. Por ter oferecido os tênis dos menino pra mim lavar. Muito gradecida. Mas quem me tirou do viço foi aquela alma boa da menina que trabalha com a senhora.

Juliana que bem tinha ouvido todo o tratamento dado de uma para a outra, riu-se:

– A Kátia? Alma boa? Com você? Pois sim, dona Lourdes! E eu não sei como ela te tratava? Vivia te chamando de bêbada, de suja e ofendendo a senhora!

– Ela gritava muito comigo. Principalmente no iniço. Desde o primeiro dia. Mas depois que ela me chamava de fedorenta, de bêbada e de tudo o mais e via que eu não fazia nada mesmo, acho porque não tinha as força nos braço por causa das bebida mesmo que a senhora bem sabe que eu bebia e muito, ela vinha e lavava tudim pra mim. Vou te dizer, dona Juliana, eu só fui lavar os tênis dos meninos depois de muitos dia indo na casa da senhora! Põe mês nisso! Ela todo dia brigava muito sim senhora, mas vinha depois chorando, secando o nariz com as mão e lavava tudim pra mim. Por qual motivo eu parei de beber olhando a dona Kátia fazer essas coisas comigo, eu não sei. Mas foi por causa dos xingamento dela e por causa que depois ela vinha fazer os serviço que era pra mim fazer e eu não ia fazer mesmo porque não queria saber de lavar tênis dozoto, alguma coisa aconteceu dendimim. Ela me acorrigiu e nunca mais eu quis beber. Alguma coisa, aquilo significou pra mim. A senhora aceita um cafezim?

Laços de sangue não são necessariamente de amor

Laços de sangue não são necessariamente de amor

Por Adriana Vitória

Além de ter lido muito a respeito e ter experimentado vários tipos de terapia, como um quadro inerte na parede, durante anos, observei atentamente historias que amigos e desconhecidos me relatavam e, sem sombra de duvida, nossas questões principais são, o que chamo de ” o equívoco da fonte”.

No cerne familiar nascem as carências, culpas, frustrações e esperanças de que o outro mude de alguma forma.

Muitos de nós passam a vida esperando para sermos amados. Tendemos a esperar que o amor venha de fontes muitas vezes secas para nós. Crescemos esperando que nossos pais, irmãos e avós nos amem incondicionalmente e que a reciproca seja a mesma, mas não é. Queremos acreditar que o amor deve vir, quase que obrigatoriamente, das pessoas denominadas “família”, e esta é a causa do maior sofrimento para a maioria de nós, e sua ausência, geradora de culpas quase indeléveis.

Nossa civilização, mais especificamente a ocidental, determinou funções a serem exercidas a todos os papéis dentro da hierarquia familiar.

As sociedades vem passando estes conceitos errôneos e equivocados geração após geração. Até que alguém se questione e interrompa este processo neurótico e passe a entender que afetos não se determinam geneticamente, inúmeras famílias estão fadadas a viverem no caos.

Podemos querer bem a aqueles com os quais convivemos nos primeiros anos de nossa vida e NÃO necessariamente amá-los ou sermos amados.

Muitos padastros, madrastas, tios, estranhos, podem amar mais os filhos de seus conjuges e amigos do que seus supostos pais muitas vezes ausentes.

Podemos ter um avô como figura paterna, um amigo que amamos mais que todos nossos irmãos e por ai vai.
Ah! O amor ! Este sentimento mal compreendido e freqüentemente confundido pelas nossas carências.

Ouço amiúde pessoas atônitas exclamando sobre como pode um filho não amar um pai, a mãe ignorar um filho e etc.

Julgamos pessoas com nossos preconceitos quando, muitas vezes gostaríamos de ter a coragem delas e nos libertarmos das amarras dos laços sanguíneos que, muitas vezes nos sufocam.

Compreender que aprendemos com a adversidade, que a realidade, apesar de muitas vezes parecer dolorosa é sempre melhor que a fantasia, que as figuras que nos foram impostas também têm a nos ensinar e que aceitar a inexistência do amor não é o fim do mundo, nos da a chance de encontrá-lo e tornar nossas vidas mais consistentes e felizes.

Em 25 segundos, Einstein diz sobre a educação infantil o que muitos levam a vida toda para compreender

Em 25 segundos, Einstein diz sobre a educação infantil o que muitos levam a vida toda para compreender

Abaixo, você veja um fragmento de um discurso de Albert Einstein referente a educação que as crianças recebem.

Será que tivemos grandes mudanças?

Definitivamente, em 25 segundos, Einstein diz sobre a educação infantil o que muitos levam a vida toda para compreender.

Nota: Após a publicação fomos informados de que a legenda não é compatível com o conteúdo da fala. Entretanto, optamos por deixar a postagem no ar para que as pessoas saibam deste fato mas, o mais importante, para que a reflexão possa permanecer uma vez que a fala é muito interessante.

Agradecemos à Adriana Vitória Cabral Kazaz, amiga, parceira e colunista dessa página pela indicação desse vídeo.

A lenda do boto rosa, da Série: Recontando as lendas brasileiras

A lenda do boto rosa, da Série: Recontando as lendas brasileiras

Por Nara Rúbia Ribeiro

Dizem que há, nas águas dos rios, botos de extraordinária inteligência e profundo conhecimento da arte encantatória. Eles têm poderes especiais e os utilizam para visitar o mundo dos homens e trazer amor às mulheres.

Nas noites de junho, em meio às festas juninas, quando um boto rosa entende ser o certo momento, ele se transforma num homem forte, alto, de espantosa beleza. Suas palavras são poéticas e a sua voz, embora grave, tem a doçura dos rios em que vive. Seus olhos trazem a sede às mulheres. É assim que ele as convence.

Ele vai a festas juninas, sempre de chapéu para encobrir parte do rosto e esconder o único e último vestígio de sua forma antiga: o seu grande nariz.   Assim ele escolhe, dentre todas as mulheres desacompanhadas, a mais bela. Ele a chama para dançar e diz aos seus ouvidos  o que há de mais terno. Seus olhos de boto a deixam com sede de amor e, então, ele a convida para um passeio no fundo rio. E ela o aceita.

Sobre as águas, num feito mágico, boto e humana se amam. Finda a noite, ela retorna ao mundo dos homens e ele retoma a sua forma de boto e desaparece para sempre nas águas.

Contudo, entrega aos humanos algo sem preço. A mulher apalpa o ventre e compreende: o boto lhe deixara um rebento. E assim a humanidade se vê enfeitada de humanos meio homem, meio boto. E a mulher entrega ao mundo dos botos um coração, pois, diz a lenda, que após provar o amor de um boto rosa, a mulher se faz incapaz de a um homem amar.

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Leia outras lendas em:  Recontando as Lendas Brasileiras

Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

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Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
Mia Couto oficial

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A melhor parte de você já foi amada?

A melhor parte de você já foi amada?

Por Patrícia Pinheiro

Acordei, outro dia, de um sonho um tanto peculiar: eu estava parada, à noite, no meio de uma rua aleatória, quando um grupo de meninas passou cantando – e em inglês – o que seria algo do tipo: ” A melhor parte de mim nunca foi amada”. Era uma música linda, e consigo me lembrar apenas dessa curiosa frase.

As melhores partes de nós já foram amadas? Tenho certeza que já se apaixonaram pela cor ou pelo formato dos teus olhos, mas já se deixaram comover pela maneira única como eles enxergam o mundo?

Já desejaram ser a respiração ofegante que sopra em teus ouvidos, mas conhecem e respeitam o dom terapêutico de escuta que eles têm?

Já te amaram pelos desejos que teus lábios provocam, mas quantos conhecem a fundo os motivos que os fazem desenhar os melhores sorrisos? Quantos te decifram pelo timbre? Quantos te elogiam pela eloquência, ou te emprestam palavras e tranquilidade na falta dela?

Já encontraram sensualidade e conforto nos teus ombros, mas te amam, também, pelo peso que eles já tiveram de carregar? Conhecem e respeitam as dores que, ao longo do tempo, os moldaram?

Já amaram o lindo formato das tuas pernas, mas ovacionam a tua determinação – ainda que fraquejante – para nunca ter desistido de seguir em frente? Te admiram pela coleção de trajetos que te fazem ser quem és?

Muitos valorizam o aperto e a textura das tuas mãos, mas quantos se orgulham verdadeiramente de todas as pequenas mágicas que são capazes de brotar delas? Quantos te amam pelo dom?

Muitos já fizeram teu coração acelerar, mas quantos – por conhecerem cada rachadura dele – o afagam constantemente e garantem que a vida seja bem mais que seus batimentos?

Existe beleza na presença e ausência de cada pedacinho de nós, mas, se for para amar, que nos amem por inteiro; que amem nossas melhores partes, que sempre serão aquilo que o físico pode até transbordar, mas jamais capturar totalmente.

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Animação divertida nos lembra que a água só é presente se respeitados os seus ciclos

Animação divertida nos lembra que a água só é presente se respeitados os seus ciclos

A presenvação das reservas de água e o respeito aos ciclos da vida que permitem a sua existência no planeta têm sido cada vez mais debatidos- embora em quantidade e com mudanças infinitamente aquém do necessário para uma mudança efetiva das administrações governamentais e do comportamento das pessoas que, em sua maioria, enxergam esse milagre da natureza como fonte inesgotável.

A CONTI outra selecionou para vocês uma animação muito divertida produzida pela empresa Evian onde uma gotinha percorre  todo um caminho cantando a música “We Will Rock You”, um grande sucesso gravado pelo Queen.

22 de março: Dia Mundial da Água

Aproveitem o passeio!

Breves considerações sobre a música

Breves considerações sobre a música

Por Luis Gonzaga Fragoso

1. Educação musical. Se o ensino desta disciplina fosse levado a sério pelas escolas, e desde o início, as pessoas hoje talvez falassem menos, e a necessidade de estabelecer comunicação, por meio das mais diversas tecnologias, talvez fosse menos frenética. Tendo em mente a lembrança essencial – de que a música é feita de sons e de pausas –, creio que o silêncio seria hoje mais valorizado.

2. O cancioneiro brasileiro é pródigo em exemplos de casamento perfeito entre melodia e poesia. Mas a beleza particular da música, como forma de arte, é seu alcance universal, que independe da letra para acompanhá-la. Basta ouvir, a título de exemplo, “Palhaço”, de Egberto Gismonti. Ou a “Ária na 4ª Corda”, de Bach.

3. Na primeira audição de um CD de nossa música popular, jamais – ou muito raramente – consigo prestar atenção à letra, por mais que tente. A melodia, os arranjos e o timbre do intérprete é que ganham relevo. Caso um vocalize ou um solo instrumental soe afetado ou excessivo, e não esteja a serviço do conjunto da canção, o ouvido vai acusar, e rejeitar. Em casos extremos, a letra da canção só me emociona depois de inúmeras audições do disco.

4. A frase é de uma amiga, mas descreve o que acontece comigo: “Minha mente é uma espécie de jukebox, que toca o que bem entende, na hora que bem entende. Além de funcionar como um tipo de oráculo”. Descrição perfeita. Por isso presto toda a atenção aos sinais de uma canção que emerge do baú mental, tempos depois de eu a ter escutado ou cantarolado: ela certamente não surgiu à toa.

5. Música e passado afetivo. Criança e pré-adolescente, ouvi muito os Beatles, mas também Elton John e Carpenters. Sou felizardo por ter crescido num meio em que eu absorvia tudo como uma esponja, totalmente alheio a rótulos como “música boa”, “ruim”, “cafona” ou “cult”. Numa fase posterior, a mente tentou se impor, com uma autocrítica severa: “Mas você gosta desta bobagem? Olhe só para esta letra!”. A fase veio, demorou o tempo necessário, e se foi.

6. Música ambiente. Um contrassenso total. Pois, se duas ou mais pessoas estão num lugar, e há a necessidade de uma música de fundo, o recado é claro: a música não é digna de atenção. Se não, para que está tocando? Para preencher um vazio, talvez… As pessoas parecem temer o silêncio, cada vez mais.

7. Música no cinema. Cinco ou dez minutos têm sido o bastante para eu avaliar se um determinado filme me agrada, e o respeito do cineasta pelo espectador. Tenho a curiosa sensação de que as trilhas de cinema são variações disfarçadas de uma única matriz, sobretudo em filmes de ação. Tenho reparado numa espécie de obsessão de não deixar espaço para o silêncio (ideia recorrente neste texto, você já percebeu); fazer com que a música sublinhe cada uma das cenas daquele período de 90 minutos – o que me provoca uma ligeira falta de ar. Como se estivesse lendo Proust ou Saramago, e me visse desesperado, me perguntando: cadê o final desta frase, deste parágrafo?!

8. O canto num grupo vocal. Em situações raras, microssegundos depois de terminada uma frase musical cantada pelo grupo, os harmônicos do acorde final pairam no ar – é quase uma entidade, que se corporifica. Descrevo a cena recorrendo às palavras, mas ciente de que tal descrição é pálida, na comparação com a experiência sensorial.

9. O canto num grupo vocal – um complemento. O ouvinte percebe a harmonia do conjunto quando as vozes do naipe se fundem, quando os diferentes timbres se encaixam; se uma delas se destaca, pelo volume ou potência, é porque algo deu errado. O ouvinte deve percebê-las como se o naipe todo fosse uma só voz. A implicação disso é religiosa, na verdadeira acepção desta palavra. Pois é quando os egos individuais se dissolvem – na ausência dos egos é que surge o amor –, quando uma estrela não tem a necessidade de ofuscar o brilho das demais, quando a (ilusória) separação entre as pessoas desaparece, é então que a beleza plena se manifesta.

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Leia mais artigos

Luis Gonzaga Fragoso

Nascido em Sampa, mora numa chácara. Tradutor, músico amador, tem uma espécie de jukebox na mente, que toca o repertório que bem entende.

“Não pense! Sinta!”, palestra de Robert Happé

“Não pense! Sinta!”, palestra de Robert Happé

No futuro nós vamos olhar para essa época e vamos dizer: “Foi nessa época em que o homem despertou.”

Os sinais já aparecem quando as pessoas olham hoje para suas vidas e percebem que não gostam do que veem.

Despertar significa se tornar consciente do quem você realmente representa….

Vejam a palestra completa e aproveitem, além das sábias palavras, do bom humor de Robert Happé.

Nota da Conti outra: Agradecemos à ByNina por indicar esse vídeo fabuloso para que pudessemos compartilhar aqui em nosso espaço.

Os sapatos de Leminski, uma crônica de José Castello

Os sapatos de Leminski, uma crônica de José Castello

José Castello

Um amigo, que é poeta, muito bom poeta, reclama de um incômodo íntimo, um mal-estar sem nome, que nunca o abandona _ mesmo nos melhores momentos de sua vida. Escondo seu nome porque ele me fez esse desabafo durante um jantar, talvez empurrado pela força de um bom vinho. Não é a primeira vez que ouço de um poeta uma reclamação semelhante. Poesia e mal-estar parecem estar não apenas associados, mas intimamente ligados. Um não existe sem o outro. Um é, de certo modo matreiro, sinônimo do outro.

Recordo-me desse amigo ao reencontrar um comentário de Paulo Leminski a respeito das “condições socialmente adversas, negativas” em que o poeta trabalha. Eu o anotei nas margens de um livro de Sêneca (que relação terei visto entre eles?); parece que algum tempo depois, já que escrevo agora com outra letra e a lápis, acrescentei: “trecho de ‘Poesia: a paixão da linguagem”, citado por Julieta Maria). É tudo muito vago. Já não sei dizer quem é Julieta Maria. A folhas de meu livro de Sêneca estão amareladas; a edição é dos anos 1970. O fato é que a citação de Leminski agora reaparece para me sacudir. E para me fazer lembrar de meu amigo.

Diz Leminski: “Chego às vezes a suspeitar que os poetas, os verdadeiros poetas, são uma espécie de erro na programação genética”. (Também eu pareço ter anotado suas palavras no livro errado – mas será?) Continua: “Aquele produto que saiu com falha, assim, entre dez mil sapatos um sapato saiu meio torto”. Não é nova a ideia do poeta torto. “Vai ser gauche na vida” – as palavras de Drummond, no “Poema de sete faces”, já resumem tudo. Ainda assim, é perturbador ouvir Leminski.

Ele persiste na imagem do sapato _ o que me parece ser, já agora, um salto adiante: “É aquele sapato que tem consciência da linguagem, porque só o torto é que sabe o que é o direito”. É por isso que não faz sentido algum a ideia de “endireitar” um poeta. De domesticá-lo. De enquadrá-lo em um modelo, ou uma norma. A poesia não tem a casa em ordem; ao contrário, certa desordem é necessária para seu nascimento. Pensem no próprio Leminski. Pensem em Vinicius de Moraes. Em Orides Fontela. Em Hilda Hilst. Em Mario Quintana. Diferentes, muito diferentes entre si. Cada um, no entanto, com sua desordem.

Vai em frente Leminski: “Então, o poeta seria, mais ou menos, um ser dotado de erro, e daí essa tradição de marginalidade, essa tradição moderna, romântica, do século XIX, do poeta como bandido, do poeta como banido, perseguido”. Não é que o poeta tenha que levar uma vida errática. Não é isso. Não é tão fácil. Pensem em João Cabral, em seu escritório de embaixador. Em Jorge de Lima, em seu consultório médico. No próprio Drummond, em sua mesa de burocrata no Ministério da Educação. Adelia, que escreve e reza. Manoel de Barros, que escrevia trancado a sete chaves, como um monge. Tudo parece em seu lugar _ mas, por dentro, que turbulência.

Continuo a seguir Leminski: o poeta é aquele sapato que se desvia da série. Aquele a quem, sob certos olhos, estão destinados o descarte e o lixo. Aquele que, fosse mesmo um sapato, seria vendido em “ponta de estoque”, por defeito, ou por ser extemporâneo. Não é por outro motivo que os poetas estão na ponta _ isto é, na parte extrema. Não é por outro motivo que são vistos como extremados e (sigo Leminski) e excepcionais _ ainda que a eles só se dirija o desprezo do esnobismo e sua poesia sequer seja lida, vista como inútil ou abjeta.

Penso nos poetas da nova geração. Marco Lucchesi, em sua mesa de chá da Academia Brasileira de Letras. Lucinda Persona, dando aulas de biologia na universidade. Alberto Martins, em seu escritório de editor. Nuno Ramos, em seu ateliê de artista consagrado. Antonio Cicero, em suas lições de filosofia. O poeta pode ter várias faces. Pode seguir vários caminhos _ até mesmo caminhos retos e respeitados. Por que não? É por dentro que algo se desvia. É na alma que um sapato
torto se desenha e o faz escrever.

Fonte indicada: O Globo

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Três pares de sapatos – Van Gogh

21 de março: Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

21 de março: Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

“30 mil jovens por ano são assassinados no Brasil. 77% são negros. Você se importa?”
Brasil Anistia Internacional

No dia 21 de março de 1960, em meio a uma manifestação pacífica na cidade de em Joanesburgo, na África do Sul, cerca de 20 mil manifestantes faziam um protesto contra uma lei denominada “Lei do Passe”. Essa lei obrigava a população negra a usar um cartão que estabelecia os lugares em que os negros poderiam circular, naquela cidade.

Porém, a polícia do regime do apartheid, mesmo observando se tratar de uma manifestação pacífica, disparou contra a multidão de mais de 20 mil pessoas, matando 69 e ferindo outras 186.

O apartheid  significa “separação”, trata-se de um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 por sucessivos governos do Partido Nacional, na África do Sul. Parte dos direitos da grande maioria dos habitantes (negros) foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca.

Para que as lições desse massacre jamais sejam esquecidas, a ONU estabeleceu, em 1969, o dia 21 de março como Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.

Estejamos atentos para que os nossos erros históricos não sejam esquecidos, para que nunca mais se repitam, com a velha ou novas roupagens.

No Brasil, desde 1951, a legislação tenta inibir a discriminação racial. A Constituição Federal de 1988 consolidou esse pensamento, fazendo com que a prática de atos discriminatórios em virtude da raça, o racismo, passasse a ser vista como crime imprescritível e inafiançável, sujeitando o infrator a pena de reclusão.

A lei pode até punir, mas o que educa são os bons exemplos que damos aos nossos filhos e aos demais que conosco convivem. Que as nossas almas estejam desprovidas de todo e qualquer preconceito racial, só assim poderemos mudar o mundo: a partir de nós mesmos.

Para pensarmos:

Jovem Negro Vivo, um vídeo da Anistia Internacional Brasil

Assine o manifesto www.anistia.org.br/jovemnegrovivo

Editorial CONTI outra

Campanha em resposta a carta de uma mãe que esperava um filho portador da Síndrome de Down (Fabulosa)

Campanha em resposta a carta de uma mãe que esperava um filho portador da Síndrome de Down (Fabulosa)

Mãe descobre que filho terá Síndrome de Down e envia e-mail para organização de apoio perguntando como será a vida da criança no futuro. Agência de publicidade italiana resolveu responder com um vídeo emocionante.

“Que tipo de vida o meu filho vai ter?”, perguntou a mulher que estava com medo, pois acabara de descobrir que seu filho iria nascer com a doença genética.

O anúncio, feito especialmente para o Dia Mundial da Síndrome de Down, celebrado em 21 de março, traz 15 portadores da Síndrome de Down para responder a pergunta da mãe, mostrando as alegrias e os desafios que o filho possivelmente enfrentará no futuro.

O filme adota o conceito “Todo mundo tem o direito de ser feliz”, a fim de promover a diversidade e integração na sociedade, especialmente na escola e no trabalho.

A filial italiana da Saatchi & Saatchi, agência que realizou a campanha,  aproveitou um e-mail enviado por uma futura mãe para criar a nova campanha da CoorDown, organização nacional de apoio à Síndrome de Down
Este é o terceiro ano de trabalho da Saatchi com a CoorDown. As duas últimas campanhas ganharam 11 Leões em Cannes para a agência.

Fonte indicada: Meio e Mensagem. Publicada originalmente em 14 de Março de 2014.

[TESTE] Descubra quantas cores você é capaz de enxergar

[TESTE] Descubra quantas cores você é capaz de enxergar

O site Mistérios do Mundo publicou um teste muito interessante para que a pessoa consiga saber sobre sua real capacidade para identificar cores e nós aqui da Conti outra achamos tão bacana que vamos reproduzir para vocês:

“Segundo a especialista norte-americana Diana Derval, as nuances de cores que uma pessoa pode ver depende do número e distribuição de cones (que são as células receptoras de cor) em nossos olhos.

De acordo com Derval, somente 1/4 das pessoas possui quatro cones e consegue ver as cores como elas são.

E abaixo está um teste para saber a capacidade de sua visão. Quantas nuances de cor você é capaz de enxerga?”

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[sociallocker id=”26994″]

Se você conseguiu ver menos de 20 cores, más notícias. Você é um dicromata, isto é, possui somente dois cones. Cerca de 25% das pessoas são dicromatas.

Agora, se você viu entre 20 a 32 cores, você é tricomata, bem como a maioria das pessoas (50%). Isso significa que você possui três cones.

Por fim, se você enxergou entre 33 e 39 cores, você é um quadricromata, isto é, possui quatro tipos de cones (verde, vermelho, amarelo e azul).

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“A Vida na Hora”, mais um lindo exemplo da poesia de Wisława SZYMBORSKA

“A Vida na Hora”, mais um lindo exemplo da poesia de Wisława SZYMBORSKA

A vida na hora.
Cena sem ensaio.
Corpo sem medida.
Cabeça sem reflexão.

Não sei o papel que desempenho.
Só sei que é meu, impermutável.

De que se trata a peça
devo adivinhar já em cena.

Despreparada para a honra de viver,
mal posso manter o ritmo que a peça impõe.
Improviso embora me repugne a improvisação.
Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas.
Meu jeito de ser cheira a província.
Meus instintos são amadorismo.
O pavor do palco, me explicando, é tanto mais humilhante.
As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.

Não dá para retirar as palavras e os reflexos,
inacabada a contagem das estrelas,
o caráter como o casaco às pressas abotoado
— eis os efeitos deploráveis desta urgência.

Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes
ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez!
Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço.

Isto é justo — pergunto
(com a voz rouca
porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores).

É ilusório pensar que esta é só uma prova rápida
feita em acomodações provisórias. Não.
De pé em meio à cena vejo como é sólida.
Me impressiona a precisão de cada acessório.
O palco giratório já opera há muito tempo.
Acenderam-se até as mais longínquas nebulosas.
Ah, não tenho dúvida de que é uma estreia.
E o que quer que eu faça,
vai se transformar para sempre naquilo que fiz.

SZYMBORSKA, Wislawa ( 1923 — 2012), In: Poemas – Seleção, tradução e prefácio de Regina Perybycien – São Paulo: Companhai das Letras, 2011. p.p. 61.62

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Via: Carmen Silvia Presotto

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“A hora de partir”, quando a mensagem da lua não chegou aos ouvidos dos homens

“A hora de partir”, quando a mensagem da lua não chegou aos ouvidos dos homens

Narra uma lenda africana o que abaixo registramos para anais da sabedoria universal:

“Mamãe lua sabia que as pessoas não queriam morrer. Elas desejavam, viver para sempre, como ela: nascendo, crescendo, minguando e reaparecendo toda-poderosa e cheia no céu. Então, em uma bela noite, mamãe lua chamou um lagarto e pediu que ele fosse à terra e dissesse para todos, homens, mulheres, meninos e meninas, que a partir daquele dia todos acordariam e viveriam até o final dos tempos.

─ Pode deixar, mamãe lua! Vou avisar todo mundo ─ disse o lagarto, deixando-a tranquila, pois sua mensagem chegaria para as pessoas rapidamente.

E o lagarto foi caminhando, todo bonito e faceiro, sempre parando para olhar alguma coisa ou conversar com alguém, em vez de se concentrar em sua missão. Quando estava no meio do caminho, encontrou uma árvore carregada de frutas bem madurinhas. Subiu na árvore e comeu, comeu, até ficar com a barriga bem cheia. ” Acho que vou descansar um pouquinho antes de continuar a minha viagem ” , pensou o lagarto. E ali mesmo, debaixo da árvore, dormiu.

A centopeia, que cuida para que a morte chegue no tempo certo para cada um, soube da mensagem que mamãe lua havia enviado para a terra. Preocupada, ela chamou um mongoose, um pequeno animal de pelo curto, muito ágil e esperto, e pediu:

─ Corra até a terra e diga a todos, homens, mulheres, meninos e meninas, que quando morrerem jamis voltarão a viver. Eles devem morrer pra sempre!

O mongoose chegou rapidamente à terra e avisou todas as pessoas que elas morreriam para sempre. Tempos depois, chegou o lagarto trazendo a menssagem da mamãe lua. Mas já era tarde demais. As pessoas estavam muito tristes.

Mamãe lua soube da situação e ficou muito brava com o lagarto:

─ Onde já se viu?

E foi ela mesma falar com todas as pessoas.

─ Eu não posso mudar a situção ─ lamentou. ─ A mensagem da centopeia chegou primeiro. Mas digo que, mais do que nunca, vocês devem viver intensamente cada momento, com muito amor e respeito à vida que existe em cada pessoa, bicho, planta, em cada grão de terra, em todo o universo. Porque todos nós somos um. Estamos ligados pela grande força da vida.

Mamãe lua abriu um grande sorriso e continuou:

─ E quando chegar o dia de vocês partirem para a terra dos espíritos dos seus antepassados vocês viverão para sempre por meio das coisas que realizarem aqui, do amor que alimentarem e da vida que continuará nascendo, crescendo e morrendo neste planeta.

Uma paz imensa encheu o coração de toda a gente. E todos foram dormir porque o dia seguinte sempre será um novo dia.”

E assim fica o registro de que somos eternos e nos imortalizamos na bondade que semearmos aqui.

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