Um único pensamento pode determinar o movimento do Universo

Um único pensamento pode determinar o movimento do Universo

Compreender que somos parte do Cosmos, cidadãos de galáxias…

Seres que desenham universos e que alimentam infinitos com sua energia vital.

Meditemos nisso para que possamos compreender que tanto os males quanto a felicidade que nos cercam são fruto da energia que emanamos: a energia que vibra eternamente.

Nikola Tesla – Passing Through (LEGENDADO)

12 estágios do desenvolvimento da síndrome do esgotamento profissional

12 estágios do desenvolvimento da síndrome do esgotamento profissional

O estresse diário se acumula e enreda a pessoa em um círculo vicioso difícil de romper.

É importante lembrar que a síndrome do esgotamento profissional desenvolve-se devagar.

Alguns pesquisadores a dividem, para fins didáticos, em 12 estágios, que podem se suceder, alternar-se ou ocorrer ao mesmo tempo, até que o quadro de fato se instale.

Leia o texto completo: “No limite do estresse”, capa da edição de abril de 2015 de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento

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5 motivos pelos quais os notívagos são pessoas altamente produtivas

5 motivos pelos quais os notívagos são pessoas altamente produtivas

POR ALEKSANDAR ILIC

Quando se compara a produtividade de um notívago à de uma pessoa de hábitos diurnos (ou madrugadora), a conclusão estereotipada é que o trabalhador notívago leva grande desvantagem. Ele sempre foi visto pelos empregadores como uma alternativa precária: estes hábitos noturnos supostamente afetariam sua produtividade. Bem, com a expansão do “universo da internet” – cujos habitantes são, em grande parte, ardorosos notívagos, muitos estudos recentes têm olhado para os notívagos sob uma perspectiva completamente nova.

1. À noite, eles atingem extraordinários picos de energia

Você talvez ache que a sua energia se esgota num ritmo regular ao longo do dia, até que se sinta cansado e pronto para dormir. Este é um equívoco, pelo menos no que se refere a pessoas ativas durante a noite. Segundo os resultados de um estudo, os notívagos atingem um pico de energia, normalmente à noite. Neste momento, sentem-se revigorados e prontos para o trabalho.
Isto prejudica os seus padrões de sono, mas sem dúvida é excelente em termos de produtividade – uma vantagem que os madrugadores não têm. Estes tendem a gastar sua energia ao longo do dia, e não atingem picos de energia no período da manhã, logo depois de acordar. Este fenômeno se limita às pessoas acostumadas a uma rotina noturna ativa.

2. Eles tendem a ser mais bem sucedidos

Muitos talvez encarem isso com ceticismo, mas se você analisar os fatos, e pesquisar sobre o passado de pessoas bem-sucedidas, verá que esta frase tem um fundo de verdade. Barack Obama, atual presidente dos EUA, é um notívago assumido; e a lista de pessoas bem-sucedidas que preferem trabalhar à noite é bastante longa. Vários estudos já confirmaram a hipótese de que os notívagos têm maior probabilidade de alcançar o sucesso. Portanto, não se preocupe: você está em boa companhia.

3. As estatísticas mostram que eles são mais inteligentes

Embora não haja regras fixas e isto não deva ser visto como um fato consumado, um estudo realizado pela London School of Economics and Political Science parece indicar uma nítida correlação entre o QI mais elevado, a capacidade de adaptação e a pré-disposição genética ao ritmo de vida notívago. Satoshi Kanazaw, especialista em psicologia evolucionista e responsável pela pesquisa, classifica esse tipo de comportamento como uma “inovação da evolução”, o que basicamente significa um desvio em relação ao comportamento comum de nossos ancestrais.

4. Eles conseguem manter um alto nível de concentração, mesmo após longas horas de trabalho

Um estudo realizado por uma equipe mista de cientistas, da Bélgica e Suíça, analisou o comportamento de 16 madrugadores e 15 notívagos, a fim de comparar a produtividade e a concentração destas pessoas. No início da jornada, o desempenho de todos foi bastante similar, mas a partir da décima hora de trabalho, aproximadamente, os madrugadores começaram a desacelerar o ritmo.
No estudo, a equipe usou imagens de ressonância magnética para o monitoramento das regiões do cérebro responsáveis pela capacidade de concentração e de atenção. A responsável pelo experimento foi a professora Christina Schmidt, mas os resultados do projeto – que envolveu uma grande equipe – foram publicados num artigo da revista Science. Nossa capacidade de concentração está diretamente relacionada à produtividade e, nesse sentido, o quadro geral é muito mais favorável aos notívagos.
Mesmo assim, os notívagos têm uma chance três vezes maior de serem acometidos pela depressão, segundo estudo publicado no Psychiatry and Clinical Neuroscience, e isso pode ser atribuído a dois fatores. A menor exposição à luz solar pode provocar a deficiência de vitamina D, o que pode levar à depressão. Convém que você leve isso em consideração, e fique atento ao equilíbrio de sua alimentação, a fim de compensar esta deficiência.
Mas nada melhor do que ter um estilo de vida natural; portanto, tente tirar uma semana de férias, respirando ar fresco e expondo-se ao sol. Vale lembrar que o hábito de ficar acordado e ativo em plena madrugada poderá afetar a sua socialização com as pessoas, o que pode, em última instância, levar à depressão. Se você for capaz de prestar atenção a esses dois fatores (a exposição ao sol e a importância da socialização), verá que é muito mais eficiente do que julgava ser.

5. Eles dormem em horários flexíveis

No livro Sleepfaring: A Journey Through the Science of Sleep [Dormir bem: Uma viagem pela ciência do sono], John Horne explica que os notívagos têm uma facilidade muito maior do que a dos madrugadores para adaptar-se à jornada de trabalho típica, 9-17h. Se você estiver realmente determinado a mudar, logo se dará conta de que é capaz de readaptar-se muito rapidamente, e continuar sendo produtivo. E lembre-se: caso necessário, você poderá recorrer ao estímulo adicional de energia a que seu corpo está habituado, no período noturno; se você realmente precisar de um tempo extra para resolver questões profissionais, poderá contar com esta energia.
A crença de que as pessoas com o “mau hábito” de manter a atividade durante a noite, e dormir até mais tarde pela manhã, não passa de um mito já ultrapassado – e não deve ser um critério de peso para as empresas, na hora de recrutar um funcionário. Afinal, cerca de ¼ da população mundial tem estes traços genéticos; portanto, os responsáveis dos departamentos de R.H. das empresas devem estar atentos para não basear suas decisões em preconceitos antiquados e, com isso, correr o risco de não contratar profissionais talentosos.
Além disso, com a expansão do modelo de comércio online e a globalização do ambiente profissional, a jornada típica, 9-17h, está em processo de gradativa extinção. Parece, portanto, que o quadro está ficando mais favorável aos notívagos. Grande parcela dos profissionais freelance que trabalham online se enquadra nesta categoria, e a maioria deles aprecia a liberdade proporcionada por esta rotina de trabalho.

Do original: 5 Reasons Why Night Owls Are Highly Productive, de ALEKSANDAR ILIC .

TRADUZIDO exclusivamente para CONTI outra pelo tradutor e revisor LUIS GONZAGA FRAGOSO

O espelho da abundância

O espelho da abundância

Por Tatiana Nicz

Devo estar sendo repetitiva, com certeza já devo ter falado sobre isso, mas tenho notado cada vez mais como somos acostumados com o caos, com a escassez, sempre reclamando, sempre conectando no pior lado, sempre, sempre vendo o copo menos cheio.

Ultimamente, quando quero entender algo, olho antes para dentro de mim, porque certamente o que vemos de ruim no outro é nada mais que um espelho do que acontece dentro de nós. Como no existencialismo de Sartre, tudo é sentido com base no que nós estamos de fato focando, geralmente notamos aquilo que temos ou queremos e se nos incomoda, certamente é porque mais temos do que queremos. Portanto, se algo do outro está ressoando em mim, é porque ele existe dentro de mim.

Eu, como muitos, também vago pelo mundo, sempre achando algo de algo, tecendo julgamentos, na maioria das vezes pouco fundamentados, distribuindo opiniões sobre tudo e todos (muitas vezes sem ter sido pedida). Porque parece-me que isso é o que mais sabemos fazer ultimamente: opinar. Então saímos por aí, opinando sobre tudo, até aí tudo certo, nosso cérebro é feito para isso: racionalizar. Isso por si é algo bom, não fosse nossa mania de estarmos sempre conectados na escassez, notando tudo que tem de errado e ruim, sem perceber que, na maioria das vezes, estamos sempre voltados também para o pior de nós mesmos.

Quando lemos algo, quando vemos um filme, quando experimentamos algo novo, quando viajamos, quando conhecemos alguém ou aqueles que já conhecemos, todos esses processos sempre são acompanhados de como aquilo é processado dentro de nós, nossa própria experiência sobre aquilo. Moldes, rótulos, caixas. E isso também é bem normal, nosso cérebro precisa catalogar algo para compreendê-lo, para se sentir confortável. E ai que está, a verdade é que nós não precisamos compreender tudo. Mas isso é incomodo, porque o desconhecido é desconfortante mesmo, dá medo. Além do mais como é possível que julguemos o que é diferente no outro, se não conseguimos enxergar aquilo que não conhecemos?

A impressão que tenho é que conectamos demasiadamente no que achamos que está ruim. Isso mais uma vez é compreensível, porque geralmente é o que está ruim que queremos mudar, que nos incomoda. Mas o ruim não passa de algo criado pela nossa sociedade, criado pelo que acreditamos que seja aquilo, e não pelo que ele realmente é. Minha irmã me ajudou muito nesse processo de tentar entender o outro, porque nós duas somos muito diferentes e eu tinha mania de apontar tudo que tinha de errado nela, é irônico o fato de que somos mais cruéis com aqueles que amamos mais e estão mais próximos de nós. Um dia ela me disse: não estou fazendo errado, apenas estou fazendo diferente de como você faria, porque eu sou diferente de você. Bingo!

E não me culpo e nem culpo ninguém, eu julgo, tu julgas, ele julga, nós julgamos… Realmente é extremamente complexo entender e mudar um padrão de comportamento, ainda mais quando ele vem também acoplado em todos que estão em sua volta, quando você é constantemente instigado e estimulado a tecer comentários e construir uma analise crítica de tudo e todos. Inclusive de nós mesmos. Inclusive desse texto.

Observando as crianças vejo que somos inseridos nessa “roda” em um nível muito mais precoce do que podemos imaginar, as crianças fechando o primeiro setênio já sabem julgar, dedurar, tirar sarro e se incomodar com tudo que lhes é estranho ou diferente. Nesse processo, claro, não cabe espaço para as coisas apenas serem, começando por nós mesmos.

Não sou tão sonhadora assim para acreditar que vamos um dia parar de julgar o que se apresenta para nós, mas com um pouco de esforço dá para mudar a sintonia, conectar na abundância, naquilo que é bom, nos inspira e deixar de lado um pouco essa mania que temos de sempre achar algo errado no outro e propagar isso. Também podemos tentar trabalhar no sentido de entender as polaridades e que elas também não passam de apenas um conceito. Sim algo pode ser bom e ruim, certo e errado, bom e mal. O que você vê só depende de que lado do prisma você está olhando.

Porque dessa maneira, conectados sempre na escassez, é isso que iremos atrair para nossas vidas, nesse sentido, falta tempo, falta dinheiro, falta amor, falta tolerância, e se acreditamos que tudo está em falta tudo sempre continuará a faltar. Ainda assim conectar na abundância não é conectar no perfeito, no demasiado, mas conectar no melhor de tudo, mesmo que o melhor não seja ideal, até porque ideal por si só diz, é uma ideia e, portanto, não existe.

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E esse é o exercício diário que venho fazendo em minha vida, silenciar essa voz que sempre tem uma opinião sobre tudo e aprender a aceitar tudo como se apresenta, acho que mais ainda aprender a deixar para lá. Entender que nós não precisamos sempre falar tudo que pensamos, nem entrar no mérito de tudo, muitas vezes podemos apenas entender que tal coisa não nos fez bem e escolher deixar para lá. A morte do meu pai me ensinou a deixar muita coisa para lá. Essa é a beleza que existe em aprender mais sobre a finitude da vida.

Também podemos tentar aprender a enxergar os pontos de conexões que temos com todos em vez de conectar no pior de cada um. Esse foi um conselho de um grande amigo quando me queixei de que estava muito intolerante com tudo e todos. “Tati, nós sempre temos um ponto de conexão com o outro e provavelmente vários de desconexão, a escolha é sua!”. Tentar incorporar isso em nossas vidas e viver fora das polaridades é muito difícil, mas possível. Se uma pessoa faz algo que eu não gosto, não preciso acha-la de todo ruim, posso apenas entender que aprendi algo novo sobre ela e adicionar isso ao “pacote”.

Confesso que, como tudo na vida, tudo isso é muito mais bonito no papel do que no dia a dia, não tem sido uma tarefa muito fácil e muitas vezes não dá. E aprendi a ser mais gentil com minhas limitações. Mas a paciência também é uma virtude que tenho tentado acoplar ao meu pacote, e posso afirmar que já vi muita coisa na minha vida mudar desde que comecei a fazer esse exercício. What is, is. Let it be. Conecte no que tem de bom e não no que falta, na luz e não na sombra, e poderemos aos poucos transformar o Universo ao nosso redor. Aprenda a deixar sua luz brilhar e brilhe.

“O nosso medo mais profundo é nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta.

Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além da medida.
É nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta.

Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso?
Na verdade, que é você para não ser?

Você é um filho do Universo!
Bancar o pequeno não serve ao mundo.
Não há nada de iluminado em se encolher para que outras as pessoas não se sintam inseguras ao seu redor.

Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós.
Não é apenas em alguns de nós, está em todos.
E quando deixamos nossa luz brilhar, inconscientemente damos permissão às outras pessoas para fazerem o mesmo.

Quando nos libertamos do nosso próprio medo,
nossa presença automaticamente liberta os outros.”

~ Marianne Williamson

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TATIANA NICZ- colunista CONTI outra

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Libriana com ascendente em Touro. Católica com ascendente em Buda. É amante da natureza e das viagens. Aprendiz de fotógrafa, ou melhor, de registrar momentos com os olhos do coração. Curiosa. Educadora e contadora de histórias. Divagadora de todas as horas. Tem profunda fé no poder de mudança e transformação de todo e qualquer ser, mas para isso, temos que querer muito. Escreve nas horas vagas para aliviar cargas e compartilhar experiências. Possui metas ousadas: quer mudar o mundo começando por si.

Blog: Desconstruindo Tati

Antônio, uma vida inteira ao lado de Maria

Antônio, uma vida inteira ao lado de Maria

Antônio, uma vida inteira ao lado de Maria e seu sentido: ‘respeitar as pessoas e ser honesto’

Por Gabriela Gasparin

A vida de Antônio Francisco dos Santos, de 77 anos, em suas próprias palavras, não seria nada sem a de Maria Rodrigues dos Santos, de 72. Na virada de 2013 para 2014, eles viram juntos o ano chegar pela 59º vez seguida. É assim desde quando se casaram, em 1955.

No segundo dia de 2014, eu estava em Monguagá, no litoral de São Paulo, quando fui atrás de uma história de pescador para o começo do ano e voltei com um lindo conto de amor. Sozinho e quieto, Antônio foi o único na plataforma de pesca da cidade que me “fisgou” para uma conversa.

Só que a história dele não parecia fazer muito sentido sem a dela. Maria não estava pescando fisicamente com o marido por uma dor nas pernas, mas quando falava, o soldador aposentado revelava que a esposa estava, sim, ali. “Ela é muito bonita até hoje, não sei o que viu em mim.”

Maria tinha só 14 anos no dia do casamento, que foi no Rio Grande do Norte. Logo em seguida o casal veio para a capital paulista e 13 anos depois se mudaram para o litoral. “Viemos eu e ela juntos, sofremos juntos, trabalhamos juntos e estamos juntos até hoje.” Eles têm quatro filhos, nove netos e seis bisnetos.

Maria já foi até servente de Antônio quando ele trabalhou como pedreiro. Os dois construíram duas casas juntos em Mongaguá, para ajudar a completar a renda da aposentadoria.

O sentido da vida dele

E depois de um bom tempo falando sobre a vida vivida ao lado de Maria, Antônio demorou para encontrar as palavras para falar sobre o sentido somente da vida dele.
Humildemente, primeiro disse que não tinha estudo para responder uma pergunta como essa. “Não estudei quase nada. Não tenho muito estudo, nem sei responder, entendeu?”
Eu insisti: “E desde quando a gente precisa de estudo para falar sobre a vida, seu Antônio?”
Ele pensou, pensou… E disse: “Acho assim, o sentido da vida? É bom demais, coisa de Deus… Aproveitar os momentos, respeitando todo mundo, entendeu? Ser honesto… Principalmente isso. Sempre fazer o bem, é importante respeitar as pessoas.”
Para ver o mar
O aposentado disse que não é pescador, mas parou de trabalhar há alguns anos e na época pescava para passar o tempo. “Gosto de ficar aqui assim, só olhando para o mar. Estou aqui desde às 7h” – já eram quase 17h.
Mas quem o ensinou a pescar era Maria. “A minha esposa, ela sabe pescar. Ela que dá as dicas aqui, e os colegas também.”
Agora que Maria está com o problema de saúde, ele mesmo pesca e leva os peixes para casa. Disse que já chegou a tirar 17 pescadas do mar. “Depois ela dá um trato.”
Antônio contou que a esposa era costureira. “Ela começou como auxiliar de costura. Depois deram a oportunidade e ela acabou sendo professora de corte e costura. Desenha, faz tudo sob medida. Ah, eu sem ela não sou ninguém. Peço a Deus de ir primeiro, porque quem resolve todas as paradas é ela. Depois que eu aposentei, perdi a noção, larguei tudo na mão dela, ela que resolve tudo.”

Vidaria é um projeto parceiro CONTI outra.

A discriminação racial na escola: existe?

A discriminação racial na escola: existe?

Conversamos com a professora Eugênia Luz, mestre e doutora em Educação, que realizou um estudo no qual tentou garimpar, no cotidiano escolar, mecanismos de reprodução do racismo para, ao detectá-los, potencializar movimentos de superação.

De tal estudo surgiu o livro “Garimpando pistas para desmontar racismos e potencializar movimentos instituintes na escola”. O livro, publicado pela Editora Appris, terá o seu lançamento no dia 17 de abril, na Universidade do Estado do Amapá.

Segue a entrevista.

O que a despertou para a temática do livro?

Minha preocupação com a questão racial já vem de há alguns anos. Se olhar um pouco mais para trás, eu diria que ela surgiu a partir de uma inquietação ainda meio difusa, desde a minha chegada ao Brasil, na década de 1980, ao abrigo do Programa de Estudante-Convênio de Graduação PEC-G, do governo brasileiro.  Um desconforto que foi ganhando corpo à medida que fui percebendo um descompasso entre a imagem do Brasil propagada no exterior, no caso em Cabo Verde e a realidade percebida dentro de casa. Indagações que foram crescendo e ganhando formas mais concretas e que acabaram resumidas em um textinho de minha autoria chamado “Onde Estão os Negros Brasileiros?”[1].

Fala-nos um pouco da sua vida e da sua experiência como educadora, no tocante, especialmente, à discriminação racial.

Eu venho de um país que foi colónia portuguesa até o ano de 1975 (Cabo Verde) e que viveu um processo opressivo muito grande, não obstante os movimentos de resistência que também não foram poucos. Como alunos, nós sempre fomos aqueles que, via de regra, não correspondiam às expectativas dos professores, em sua maioria portugueses. A baixa expectativa quanto ao nosso desempenho, em muitos casos, era explícito. No entanto, essa situação começou a mudar quando da independência política em 1975, com um movimento intenso de valorização da cultura cabo-verdiana e de matriz africana, na escola e em outros espaços sociais e culturais.  Passamos a usufruir de outro status e isso favoreceu o fortalecimento, de alguma maneira, da nossa identidade étnica, um processo ainda em construção, a meu ver. Ressalto que esse processo é longo e não linear, pois a questão da identidade cabo-verdiana é um tema controvertido e muito complexo.

No Brasil, embora tenha percebido a ausência da população negra nos espaços que frequentava, inclusive na Universidade Federal onde estudei Pedagogia, e ter vivido algumas situações de discriminação racial, acompanhou-me sempre a sensação de que  nos era dispensado um tratamento diferenciado, por sermos estrangeiros, embora, é claro, não estivéssemos imunes ao racismo contra o negro, em várias situações do cotidiano. Como educadora posso considerar o doutorado um marco importante na promoção de mudanças na minha percepção da questão racial, alimentando práticas pedagógicas mais inclusivas que são as que hoje eu venho adotando.contioutra.com - A discriminação racial na escola: existe?

Em sua opinião, o discurso educacional destoa da prática pedagógica, quando o assunto é discriminação racial? Se sim, como isso pode ser constatado? (algum exemplo de ocorrência).

Sim, é muito perceptível esse distanciamento. Em primeiro lugar, nossas pesquisas indicam que, de modo geral, ainda hoje os professores encaram a questão racial de uma forma bem pontual, ou seja, mediante atividades culturais, em períodos específicos e nada mais. Existe uma lei que determina a obrigatoriedade da inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares, buscando valorizar as raízes africanas presentes na cultura brasileira e a refletir sobre a condição da população negra, porém, o que eu vejo é muito descaso com a questão, apesar de continuarmos propagando o discurso de uma educação democrática.

Quando a temática é discriminação, você vê diferenças consideráveis entre Portugal e Brasil, locais onde foram realizadas as suas pesquisas? Quais?

Eu vejo algumas semelhanças e diferenças. O que percebo no Brasil é que o discurso da mestiçagem e da democracia racial ainda acaba encobrindo relações de poder nem sempre bem aquilatadas pelas pessoas.  A toda hora ouvimos nossos alunos na graduação e no mestrado questionarem a inclusão do debate sobre a questão racial, alegando que o Brasil é um país mestiço em que todos são brasileiros não havendo, portanto, brancos, negros e nem indígenas. Isto ainda, infelizmente, é uma realidade. Alguns alegam que trazer essa discussão significa promover divisões no país. Todos sabemos que na perspectiva biológica não há raças, porém, é com base em uma ideia de raças superiores e inferiores que se disseminou o racismo que sustenta a desigualdade no pais e no mundo.

Em Portugal eu sinto o racismo mais explícito. Algo mais pungente, constrangedor.  Embora goste muito de Portugal, percebo que muitos portugueses ainda precisam aprender a respeitar o outro como legítimo outro na convivência. Claro que também percebe-se avanços, mas há um caminho longo a percorrer. Não sei se é pior ou melhor do que no Brasil – afinal nenhuma forma de negar o outro é boa. No tempo que passei visitando escolas  fiquei impressionada com a forma como os alunos africanos são vistos pelos professores: “são mal comportados, apresentam baixo desempenho escolar, não há disciplina em casa, são abandonados pelos pais, etc”. Isso me deixou muito preocupada. Espero poder constatar que essa realidade mudou, na próxima pesquisa que pretendo levar a cabo em Portugal, em 2016.

Você é mulher, africana, negra. Você encontrou muitas barreiras sociais em sua carreira profissional em virtude de cor, gênero e origem? 

 Sim, como apontei anteriormente, vivi algumas situações de discriminação racial explícitas em locais de trabalho, que poderiam ter se configurado como poderosas barreiras em minha carreira, se eu sucumbisse aos obstáculos. Na universidade, apesar de já ser bastante conhecida, ainda me deparo vez ou outra com situações de racismo e que tento encaminhar da melhor forma. Nossa universidade, assim como outras universidades brasileiras é racista. Por conta disso, é sempre uma grande luta para ter nosso trabalho reconhecido, o que às vezes é desgastante e desmotivador.

A quem, especificamente, você recomendaria a leitura do seu livro?

Recomendo  este livro a todos aqueles  se preocupam em construir uma sociedade e uma educação democráticas e inclusivas. Especialmente aos educadores, para que repensem suas posturas diante das diferenças, que reavaliem seus discursos e vejam o nível de incongruências de que são prenhes os discursos correntes de educação democrática e de respeito à diferença contidos no currículo oficial. E, sobretudo, que os educadores da escola básica e dos cursos de Formação de Professores das Universidades analisem com seus alunos, futuros professores, essa realidade exposta de forma parcial no livro e percebem as sutilezas por onde o racismo vai se metamorfoseando na escola.

[1] O Texto a que me refiro encontra-se no livro de fragmentos organizado por LINHARES, Célia, intitulado: Muito além de Caleidoscópios para professores e professoras. Coleção Palavras de Mestres

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 EUGÉNIA DA LUZ SILVA FOSTER

Nasceu em São Vicente, República de Cabo Verde. Aos dezenove anos, deslocou-se para o Brasil, em razão de uma bolsa de estudos, no âmbito do Programa do Estudante Convênio de Graduação (PEC-G), do governo brasileiro, onde fez Pedagogia na Universidade federal de Pernambuco (UFPE). Fez Mestrado e Doutorado em Educação na Universidade Federal Fluminense (FE-UFF), realizou estágio de Pós-Doutorado em Educação, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É professora Associada da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Relações Étnico-Raciais e Interculturais. Atualmente desenvolve pesquisas buscando aproximar as realidades de escolas portuguesas, cabo-verdianas e brasileiras (Amapá), no que tange à temática da Educação, Relações Raciais e Interculturais.

Os pais educam. A escola também.

Os pais educam. A escola também.

Por Elika Takimoto

Não concordo de forma alguma com frase “os pais educam e a escola ensina”. Primeiro que acho que a grande maioria das escolas não ensina nada e sim adestra o aluno a fazer prova. Entre fazer uma boa prova e aprender efetivamente um assunto, segue daí uma distância infinita. Depois penso que a maior educação que podemos dar é o exemplo e isso um bom professor pode ajudar e muito.

Eu sou professora de física e completamente apaixonada pela literatura. Na minha biblioteca, os livros competem entre si nos temas. Há tantos livros de ciência como há de romances, crônicas e contos e também de religião. Enfim, sou amante da leitura e, como todos sabem, também da escrita.

Quando chego para dar a minha aula de física, peço para que os meus alunos coloquem na mesa o livro que estão lendo. Tenho vários motivos para fazer isso: o primeiro é que quero, de fato, saber o que eles leem. Mas há outras razões: quando uma diversidade de livros começam a aparecer, é normal que eles olhem os livros que os colegas estão se distraindo. Animal curioso que nós somos, não raro vejo eles pedindo para dar uma olhada no livro do amigo. E temos absolutamente de tudo: Paulo Coelho, 50 tons de Cinza, Harry Potter, Stephen Hawkings, Clarice Lispector, Gregório Divivier…

Conforme o ano vai acontecendo, a quantidade de alunos que leem aumenta perceptivelmente. E todos os anos percebo esse fenômeno acontecer. Se antes 30% colocavam um livro na mesa, percebo rapidamente mais de 50% da turma lendo dois meses depois das aulas terem iniciado. Na verdade, eles podem estar me enganando para eu ficar feliz, mas não acredito que sejam todos gaiatos assim.

Vale observar: não acho que quem não lê seja burro. Longe disso. A minha defesa pela leitura não é para a pessoa ficar mais inteligente, pois eu leio muito e tenho tremendas limitações de raciocínio. Acredito que lendo nos distraímos de forma saudável e um universo se abre diante dos nossos olhos. É um hobby como outro qualquer, mas muito fácil, barato, viciante e sem nenhuma contra-indicação. Se benefícios trouxer como passar a ver o mundo com mais atenção, escrever melhor, compreender um assunto com uma maior profundidade, ficar mais articulado e mais concentrado… tanto melhor.

Ler é um hábito. Se os pais não leem, dificilmente o filho gostará desse passatempo. Mas, se na escola ele percebe que outros da mesma idade que ele conseguem se divertir e crescer de uma certa forma pela leitura é natural que esse desejo e a curiosidade o dominem.

A leitura é, sobretudo, uma fonte inesgotável de prazer, penso eu. Dando bom dia dessa forma para meus alunos faço com que muitos deles sintam essa sede e passem a beber dessa fonte. O exemplo é dado não por mim, professora, e sim pelos próprios companheiros de turma.

A escola serve sim senhor para educar ao permitir que esse tipo de coisa – dentre outras tantas – aconteça.

O Balão Branco (Badkonake Sefid – 1995)

O Balão Branco (Badkonake Sefid – 1995)

Por Octavio Caruso

Esse é, sem dúvida, um dos filmes mais interessantes da década de noventa. Uma verdadeira aula de direção do iraniano Jafar Panahi, que consegue nos manter completamente tensos ao contar uma história incrivelmente simples. Tudo começa quando a pequena Razieh, vivida pela adorável Aida Mohammadkhani, se interessa em comprar um peixinho colorido gordo e bonito que viu em uma loja, pois já estava cansada dos peixes magros que tinha aos montes em um pequeno lago em sua casa. Sua mãe inicialmente se recusa a fornecer o dinheiro para satisfazer seu desejo, porém, após muitas lamúrias e a promessa de dar um balão branco a seu irmão, a menina consegue a tão desejada cédula. Só que o caminho até a loja se provará uma intensa aventura.

A decisão de situar a trama em tempo real, durante os oitenta minutos restantes para o ano novo, acrescenta um nível de tensão crescente. Em pouco tempo, nós realmente nos envolvemos com as agruras da menina e nos angustiamos a cada novo obstáculo que se apresenta. O diretor demonstra um incrível senso de ritmo, inserindo com inteligência cenas de sutil humor, como uma, logo no início, onde vemos a mãe andando por uma conturbada rua e pedindo a um vendedor de balões que a informe sobre algo, no que o mesmo lhe sinaliza duas direções diferentes, ou quando um jovem soldado tenta fazer amizade com a menina, que de início se amedronta. Nesses pequenos momentos, Panahi nos apresenta o cenário e seus componentes, que, de início, passam como meros figurantes, porém, cada qual em sua própria e fascinante aventura. Ao longo do caminho, todos se mostram extremamente funcionais na narrativa. A câmera inicialmente foca Razieh e seu irmão, porém, ao final acabará se atendo ao jovem vendedor de balões afegão, que, assim como todos no filme, possui enorme importância. A câmera poderia se desviar dos protagonistas e seguir qualquer personagem, todos garantiriam ótimas histórias.

Nas mãos de qualquer diretor menos competente, poderia ter se tornado uma obra redundante, um insuportável tédio, porém “O Balão Branco” nos entretém e nos remete à nossa própria infância. Uma cena em particular sempre me comove, quando a menina reclama com o vendedor do peixe, dizendo que ele não é robusto como o que ela havia visto na primeira vez, no que o vendedor pede que ela o olhe de outro ângulo para vê-lo maior. Ela deixa de olhar por cima do vaso e, com um cativante sorriso no rosto, passa a admirar o belo e robusto peixe que agora nadava à sua frente, aumentado pela ilusão do vidro. Simples e tocante cena que evoca a pura ingenuidade da criança, em um mundo dominado pela indiferença dos adultos. Um ser disposto a encarar a vida pela ótica da fantasia, superando os obstáculos de uma fase tida, erroneamente, por muitos, como puramente divertida.

Algumas opções do diretor são tão sutis que demonstram o zelo de um verdadeiro cineasta autoral. Como quando o pai da menina se irrita com o seu pequeno irmão, por ter lhe trazido sabão em vez de shampoo, enquanto tomava banho. Mais tarde, o jovem aparece com uma marca de agressão no rosto, porém, o roteiro de Abbas Kiarostami não explicita em nenhum momento a causa. Ao não subestimar a inteligência do público, o diretor mostra, na prática e sem nenhuma pretensão, o que muitos cineastas pretensiosos apenas teorizam.

Se você não assistiu essa pequena obra-prima iraniana, não perca tempo e se encante com a beleza pura, simples e tocante que se encerra nos expressivos olhos da pequena Razieh.

OCTAVIO CARUSO

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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

Blog: Devo tudo ao cinema / Octavio Caruso no Facebook

O amor como oportunidade de crescimento e humanização.

O amor como oportunidade de crescimento e humanização.

Por Juliana Santos

No mito do Andrógino, de Platão, encontramos que no início dos tempos o ser humano original era macho e fêmea. E eram seres tão perfeitos e de capacidades tão maravilhosas que rivalizavam com os deuses. Estes, irritados pelas incontáveis façanhas dos humanos, cortaram-lhes em duas metades, separando masculino e feminino. Desde então, numa saudade sem fim, os dois aspectos lutam para se reunir novamente.

Os mitos são expressões simbólicas daqueles padrões de comportamento e dramas psicológicos humanos presentes em qualquer tempo e lugar da civilização. Assim, para a Psicologia Junguiana, o mito do Andrógino se encarna numa visão de totalidade do Ser, que só realiza o seu caminho de auto realização na integração dos elementos feminino e masculino.

Para Jung, todo homem tem em seu interior um princípio feminino a ser considerado, a este, chamou Anima. Ao princípio masculino da mulher, deu o nome de Animus. Independe da vontade de nosso Ego, esses princípios compõem a nossa personalidade e interferem em nossa vida concreta, de diferentes maneiras! Se reconhecidos e integrados, podem ser muito favoráveis ao nosso caminho de realização humana, mas se ignorados, tornam-se bastante destruidores.

A sociedade e a cultura nos impõem de modo bastante claro e delimitado papéis de homem e de mulher, o que cabe a cada um de nós! Esta postura polarizada na maioria das vezes nos faz assumir posturas rígidas e alienadas que nos afastam das verdades individuais de nosso Ser. Anima e Animus não estão ligados ao gênero.

Jung quis que entendêssemos que somos mais do que aquilo que nos ditam para sermos. Não somos isso ou aquilo, de lá ou de cá, simplesmente Somos, com todas as polaridades de nossas vidas! Afinal, como dizia ele, ninguém se torna iluminado por imaginar caminhos de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão. É, portanto, apenas na integração dos opostos que temos lampejos de totalidade e plenitude!

Os princípios da Anima e do Animus têm funções bastante diferentes! Ela é para o homem uma mediadora entre a sua consciência e seu inconsciente, ajudando-o a ser psicologicamente esclarecido e livre para se relacionar com os valores do Eros, primordiais nas relações. Por sua vez, o Animus é para a mulher como um guia a conduzir-lhe rumo à sua realidade mais profunda, à sua própria alma feminina.

O problema está quando decidimos nos perder na multidão e ignoramos esses elementos mais profundos de nossa Psique. Revoltados, eles tomam conta de nossa personalidade de modo bastante negativo, projetando-se sobre figuras externas através da supervalorização, subvalorização ou fascinação pelos parceiros.

Na projeção, os nossos relacionamentos duram apenas enquanto o Outro satisfaz nossos sentimentos e fantasias sexuais. Neste estado de alienação, acreditamos piamente que nosso encontro com eles, masculino e feminino, acontecerá fora de nós, quando encontrarmos a nossa cara metade. Assim, passamos a vida jogando nas costas de alguém o peso da tarefa de nos tornar completos e felizes! Sem nos darmos conta que um encontro genuíno e humanizante com o Outro só pode acontecer de fato quando antes unimos as partes separadas e soltas de nós mesmos.

Aqueles que buscam realizar o seu potencial e têm coragem de viver, logo aprendem que tudo na vida tem dois lados. Um é luz e o outro é Sombra.”

O caminho de auto realização de nossa humanidade é uma tarefa árdua e infelizmente nem todos o conseguem percorrer. A negação da Anima e do Animus causa efeitos desastrosos não apenas nos encontros entre os sexos, mas para toda a humanidade. Isto porque a fúria do Animus se expressa em forma de desamor, ignorância, rigor, preconceitos e egoísmo. A da Anima retira dos homens a capacidade de relações genuínas carregadas de afeto e intimidade, prejudicando-lhes a função afetiva e a manifestação da ternura.

Nesta altura do texto você pode-se perguntar: Ok, e onde entra o amor nesta história toda?!

E eu arrisco dizer-lhes que amor resta aos que conseguiram exterminar as projeções e conseguem suportar a humanidade ordinária de quem se escolhe amar, ao mesmo tempo em que colhe nos olhos, gestos e palavras do amado o reflexo de suas luzes e Sombras. Sim… A relação genuína nos revela a nós mesmos a cada dia!

Se um dia me permitires um amor, permita-me também a memória sempre viva do Outro dentro de mim, para que minha convivência não se automatize!

Que minha ânsia da plenitude amorosa do Ser não se submeta apenas ao desejo sensual ou ao dever.

Que a gente converse… que a gente dê as mãos!

Que a nossa vida seja um ritual de confronto, onde o meu Ego lhe aponte a luz e a Sombra e na mesma medida, que o meu se humilhe ao dele.

Não quero apenas a minha plenitude, mas também a dele…

E quando meu coração se acalentar pela certeza de ter encontrado um amor,

Que a Tua presença nos inunde.

Amém!

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contioutra.com - O amor como oportunidade de crescimento e humanização.Juliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582

Saiba porque a flor de lótus é um dos símbolos mais antigos e profundos do nosso planeta

Saiba porque a flor de lótus é um dos símbolos mais antigos e profundos do nosso planeta

A flor de Lótus é uma espécie de flor aquática, com muitos significados para os países do Oriente, especialmente o Japão, o Egito e a Índia. Ela é considerada sagrada e um dos símbolos mais antigos e mais profundos do nosso planeta. Nos ensinamentos do budismo e hinduísmo, a flor de lótus simboliza o nascimento divino, o crescimento espiritual e a pureza do coração e da mente.

O significado da flor de lótus começa em suas raízes – literalmente! A flor de lótus é um tipo de lírio d’água, cujas raízes estão fundamentadas em meio à lama e ao lodo de lagoas e lagos. O lótus vai subindo à superfície para florescer com notável beleza. O simbolismo está especialmente nesta capacidade de enfrentar a escuridão e florescer tão limpa, tão bonita e tão especial para tantas pessoas.

À noite as pétalas da flor se fecham e a flor mergulha debaixo d’água. Antes de amanhecer, ela levanta-se das profundezas novamente, até ressurgir novamente à superfície, onde abre suas pétalas novamente. Por causa desse ritualismo, os egípcios antigos associavam a flor de lótus com o deus do sol Ra, porque a flor se fecha durante a noite e se abre todas as manhãs com o ressurgimento do sol.

É também a única planta que regula o seu calor interno, mantendo-o por volta dos 35º, isto é, a mesma temperatura do corpo humano. Outra característica peculiar são suas sementes, que podem ficar mais de 5 mil anos sem água, somente esperando a condição ideal de umidade pra germinar.

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Lenda da flor de Lótus no budismo

Na lenda do Budismo relata-se que quando o Siddhartha, que mais tarde se tornaria Buda, deu os seus primeiros sete passos na terra, sete flores de lótus brotaram. Assim, cada passo dele representa um degrau no crescimento espiritual.
Os Budas em meditação são representados sentados sobre flores de lótus, e a expansão da visão espiritual na meditação (dhyana) está simbolizada pela abertura das pétalas das flores de lótus, que podem estar totalmente fechadas, semiabertas ou completamente abertas, dependendo do estágio da expansão espiritual.

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Lendas egípcias da flor de lótus

A flor de Lótus é uma planta sagrada no Egito Antigo, onde é retratada no interior das pirâmides e nos antigos palácios do Egito. Segundo uma lenda, a flor está relacionada à criação do mundo e o umbigo do Deus Vishnu, onde teria nascido uma brilhante flor de lótus e desta teria surgido outra divindade, o Brahma, o criador do cosmo e dos homens. Outra lenda egípcia diz que o deus do sol Horus, nasceu também de uma flor de Lótus.

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Lenda da flor de lótus no hinduísmo

Na Índia, uma pequena lenda conta a historia de sua criação: Um dia, reuniram-se para uma conversa, à beira de um lago tranquilo cercado por belas árvores e coloridas flores, quatro lendários irmãos. Eram eles o Fogo, a Terra, a Água e o Ar.
Como eram raras as oportunidades de estarem todos juntos, comentavam como haviam se tornado presos a seus ofícios, com pouco tempo livre para encontros familiares. Mas a Água lembrou aos irmãos que estavam cumprindo a lei divina, e este era um trabalho que deveria lhes trazer o maior dos prazeres.
Assim, aproveitaram o momento para confraternizar e contar, uns aos outros, o que haviam construído – e destruído – durante o tempo em que não se viam. Estavam todos muito contentes por servirem à criação e poderem dar sua contribuição à vida, trabalhando em belas e úteis formas.
Então se lembraram de como o homem estava sendo ingrato. Construído ele próprio pelo esforço destes irmãos, não dava o devido valor à vida. Os irmãos chegaram a pensar em castigar o homem severamente, deixando de ajudá-lo. Mas, por fim, preferiram pensar em coisas boas e alegres.
Antes de se despedir, decidiram deixar uma recordação ao planeta deste encontro. Queriam criar algo que trouxesse em sua essência a contribuição de cada um dos elementos, combinados com harmonia e beleza. Sentados à beira do lago, vendo suas próprias imagens refletidas, cada um deu sua sugestão e muitas ideias foram trocadas. Até que um deles sugeriu que usassem o próprio lago como origem.

Que tal um ser vivo que surgisse da água e se crescesse em direção ao céu? Uma vegetal, talvez? Decidiram-se, então, por uma planta que tivesse suas raízes rente à terra, crescesse pela água e chegasse à plenitude do ar. Ofereceram, cada um, o seu próprio dom. A Terra disse: “darei o melhor de mim para alimentar suas raízes”.
A Água foi a próxima: “Fornecerei a linfa que corre em meus seios, para trazer-lhe força para o crescimento de sua haste”. “E eu lhe cercarei com minhas melhores brisas, dando-lhe minha energia e atraindo sua flor”, disse o Ar. Então o Fogo, para finalizar o projeto, escolheu o que de melhor tinha a oferecer: “ofereço o meu calor, através do sol, trazendo-lhe a beleza das cores e o impulso do desabrochar”.
Juntos, puseram-se a trabalhar, detalhe a detalhe, na sua criação conjunta. Quando finalizaram sua obra, puderam se despedir em alegria, deixando sobre o lago a beleza da flor que se abria para o sol nascente. Assim, em vez de punir o ser humano, os quatro irmãos deixaram-lhe uma lembrança da pureza da criação e da perfeição que o homem pode um dia alcançar.

O texto acima foi elaborado a partir de excertos de matérias do site Japão em Foco

Um elogio aos idiotas

Um elogio aos idiotas

Por Carlos Cardoso Aveline

Na vida acelerada do mundo de hoje, todos desejam ser espertos, vivos e astuciosos.

Ninguém quer ficar para trás – quando você está indo, os outros já estão voltando. Ninguém mais diz frases com segundas intenções: dizem coisas com terceiras, quartas e quintas intenções. Frases que, com sorte, um leigo no assunto precisa de várias horas para decifrar e talvez dois ou três dias para imaginar uma resposta à altura.

Em compensação, alguém que diz diretamente aquilo que pensa acaba provocando escândalo e mal-estar. É imediatamente catalogado como perigoso e tratado como idiota. A sinceridade parece contrariar as normas da convivência e da boa educação modernas. Assim, as pessoas bem educadas são amáveis, mas nem sempre se deve acreditar no que dizem.

A idiotice é um tema vasto, com muitos aspectos diferentes, e está inscrita com destaque na cultura brasileira.  Um exemplo  disso são as tradicionais piadas de português.  Elas são uma projeção da brasilidade. No fundo, os portugueses idiotas das piadas somos nós. Os episódios que envolvem Manuel, Joaquim e Maria são todos parte da alma do nosso país –  tanto é assim que só são conhecidos no Brasil. Em Portugal, ao contrário, circulam piadas de brasileiros.

É certo que, quando examinamos a questão da inteligência e da idiotice, surgem algumas perguntas indiscretas. O que é inteligência? O que é burrice?  Quantos tipos há de idiotas?

contioutra.com - Um elogio aos idiotasPodemos dizer que inteligência é a capacidade de perceber o real.  Como há realidades muito diferentes no mundo, não existe um tipo único de inteligência. Cada situação da vida requer um tipo específico de percepção, e por isso as inteligências são múltiplas.   A idiotice e a burrice podem ser definidas como a incapacidade de perceber o real, e são tão variadas quanto as inteligências. Há, portanto, muitos tipos de idiotas. Alguns deles, inclusive, são espertalhões. Sim, há muitos idiotas que passam por inteligentes, e também grande número de  pessoas inteligentes que passam por idiotas.

Além disso, quem é inteligente em uma área da vida pode ser burro em outras. Você é esperto em política e burro na hora de jogar futebol. Sua namorada pode ser menos intelectual que você, na hora de discutir filosofia, mas há aspectos da vida em que ela coloca você no chinelo. Há coisas que seus filhos  fazem bem melhor que você, como, talvez, compreender as sutilezas de um videogame ou computador. Felizmente, ter sabedoria não é saber tudo. Ter sabedoria é saber o mais importante – e administrar bem os seus talentos.

Dos inúmeros tipos de idiotas, um dos mais interessantes foi examinado por François Rabelais, o escritor francês do século 16. Ele abordou a imbecilidade doutoral específica dos “eruditos” que usam palavras complicadas para não dizer coisa alguma. Um deles – conta Rabelais –  fez certo dia uma longa pesquisa para saber “se uma entidade imaginária, zumbindo no vácuo, é capaz de devorar segundas intenções.”  Outro queria saber  “se uma idéia platônica, dirigindo-se para a direita sob o orifício do Caos, poderia afastar os átomos de Demócrito”. Um terceiro investigava “se a frigidez hibernal dos antípodas, passando numa linha ortogonal através da homogênea solidez do centro, podia, por uma delicada antiperístase, aquecer a convexidade dos nossos calcanhares”. Rabelais qualifica tais idiotas eruditos  como professores cegos de discípulos cegos, “que tateiam em um quarto escuro à procura de um gato preto que não está lá”.   Tais indivíduos eram precursores de Rolando Lero, o grande erudito que iluminou a televisão brasileira nos anos 1990.  Não é de todo impossível  encontrar esse tipo de pesquisador fazendo teses de pós-doutorado em certas universidades.

Conheço seres humanos que têm tanto medo de parecer burros que aplaudem  – ou pelo menos fingem que compreendem –  esse tipo de raciocínio longo, difícil, sem significado algum. Mas tal constrangimento é desnecessário: deixando de lado o medo de parecer idiotas, perderemos menos tempo fingindo e  seremos mais felizes.

O exemplo de Albert Einstein, um dos maiores gênios da ciência moderna, é ilustrativo. No início da vida, ele recusou-se a falar até os três anos de idade. Seus pais – pessoas sensatas – pensavam que fosse retardado mental. Mais tarde, quando Einstein ingressou na escola, ele foi novamente considerado imbecil. Seu biógrafo é obrigado a admitir:

“Para os colegas de classe, Albert era uma anomalia que não demonstrava interesse nenhum pelos esportes. Para os professores, era um idiota que não conseguia decorar nada e se comportava de modo estranho. Em vez de responder imediatamente a uma pergunta, como os outros alunos, sempre hesitava. E quando respondia, movia os lábios em silêncio, repetindo as palavras.”

Décadas mais tarde, Einstein deu o troco. Ele qualificou o nosso moderno sistema educacional como uma  estrutura que reprime a inteligência e busca fabricar idiotas obedientes:

“A humilhação e a opressão mental imposta por professores ignorantes e pretensiosos causam danos terríveis na mente jovem; danos que não podem ser reparados e que geralmente exercem influências maléficas na vida futura.”

E ainda:

“A maioria dos professores perde tempo fazendo perguntas para descobrir o que o aluno não sabe, quando a verdadeira arte consiste em descobrir o que o aluno sabe ou é capaz de saber.”

O sábio, o santo e o idiota têm muito em comum, não só entre si, mas também com as árvores e os animais. Todos eles vivem em um estado de comunhão com todas as coisas que é independente do pensamento lógico. Isso contraria a inteligência situada no hemisfério cerebral esquerdo, que rotula e classifica todas as coisas. Essa inteligência gosta de colocar-se como se tivesse o monopólio da consciência. Esse, aliás, é um dos grandes obstáculos para a prática da meditação: a mente pensante não aceita passar o poder à mente que contempla e que compreende a verdade sem necessidade de pensamentos.

A primeira frase dos famosos “Ioga Sutras de Patañjali”, o tratado milenar sobre Raja Ioga, afirma: “Ioga é a cessação das modificações da mente”.  Para alcançar a hiper-consciência, o estado mental do êxtase divino, é necessário paralisar momentaneamente a mente inferior. O sábio é um ser que renunciou à inteligência convencional e optou por uma percepção que a mente comum não consegue captar. Por isso, mesmo no século 21, se aquele que ingressa no caminho espiritual não tiver certos cuidados, pode ser considerado louco ou idiota pelos parentes e amigos. Mas, do ponto de vista do sábio, a situação se inverte e idiota é aquele que fica preso à lógica do mundo externo.

O ser humano geralmente vive imerso em ilusões que ele mesmo criou. Para obter a sabedoria, ele deve aprender algumas coisas e desaprender outras. Helena Blavatsky escreveu:

“A primeira condição necessária para obter autoconhecimento é tornar-se profundamente consciente da ignorância; sentir com cada fibra do coração que somos incessantemente iludidos. O segundo requisito é uma convicção ainda mais profunda de que tal conhecimento – um conhecimento intuitivo e seguro – pode ser obtido por esforço próprio. A terceira condição, a mais importante, é uma determinação indômita de obter e enfrentar aquele conhecimento.”

Quase todo o potencial da mente humana ainda está por ser desenvolvido.  A ciência reconhece que usamos uma parcela muito pequena do cérebro.  O problema não é, pois, que sejamos um tanto limitados mentalmente. O lamentável é que, sendo limitados, nos consideramos extremamente espertos. O filósofo Sócrates, escolhido como o homem mais  sábio da Grécia, explicou:

“Eu e os homens notáveis de Atenas nada sabemos, e a única diferença entre eu e eles é que eu, nada sabendo, sei que nada sei, enquanto que eles, nada sabendo, pensam que sabem muito”.

Seguindo na mesma linha de raciocínio, o pensador espanhol Balthazar Gracián constatou:

“O maior tolo é aquele que acha que não é, e que só os outros são. Para ser sábio não basta  parecer sábio, nem, muito menos, parecer sábio a si próprio. (….) Embora o mundo esteja cheio de tolos, ninguém se julga um deles, nem receia ser um.”

Quando superamos a necessidade de parecer inteligentes e deixamos de lado o medo de parecer idiotas,contioutra.com - Um elogio aos idiotas libertamos nosso potencial criativo e a nossa capacidade de conhecer novos aspectos da consciência.  Quando temos coragem de colocar toda nossa mente em algo, parecemos tolos e distraídos do ponto de vista daqueles aspectos do mundo que optamos por ignorar completamente. Um exemplo claro disso é dado pela história do grande cientista que caminha absorto pela rua, perto da sua Universidade, quando encontra um colega e param para conversar um minuto.  Ao se despedirem,  o cientista  pergunta a seu colega:

“Diga-me, amigo, em que direção eu estava caminhando?”

“Você estava indo para lá”, aponta o outro.

“Ah, obrigado”, agradece o sábio distraído.  Isso significa que eu já almocei.”

A relativa idiotice dos sábios tem outro exemplo no caso do famoso escritor inglês G. K. Chesterton.  Ele morava em Londres quando ainda não havia telefones, e vivia em um mundo tão abstrato que, certa vez, ficou aguardando notícias de sua esposa em uma agência de correios após mandar o  seguinte telegrama para ela:

“Querida, estou  no mercado Harborough. Mas onde eu deveria estar, para fazer o quê?”

No romance “O Príncipe Idiota”, o escritor Fiódor Dostoievsky descreve um Cristo moderno que aparece na Rússia com 26 anos de idade – e se comporta como um idiota desde todos os pontos de vista práticos. Ele não tem a couraça de auto-defesa que caracteriza o tipo moderno de  cidadão “esperto”.  Por isso as pessoas riem da cara dele e ele acha graça junto com os que o desprezam. Chamam-no de burro – e ele concorda, amavelmente, porque só sabe falar a verdade –  e percebe que, realmente,  não tem a astúcia dos seus perseguidores.

Leon Muishkin, o Cristo-príncipe de Dostoievsky, é epiléptico.  O escritor descreve os seus ataques como momentos de iluminação mística: “Não podia duvidar nem admitir sequer a possibilidade de dúvida: naqueles momentos havia, com efeito, beleza e oração, e aqueles instantes eram a maior síntese da vida (…). [E ele] via claramente que a conseqüência evidente desses minutos indescritíveis era a imbecilidade, o obscurecimento das suas faculdades, o idiotismo.”

Dostoievsky está certo em mais de um sentido. Epilepsia à parte, há um fato que poucos estudiosos do caminho do autoconhecimento confessam abertamente: quando se desperta a inteligência espiritual, perde-se, irremediavelmente, a inteligência astuciosa que permite coisas como mentir com habilidade, usar a lisonja na medida certa e falar a verdade só quando ela traz vantagens.

Desse despertar vem a sensação de nada saber diante do mundo. A expansão mística da consciência traz consigo uma inocência idiota em relação à realidade externa. É por isso que os sábios renunciam à agitação e a todas as formas de esperteza associadas com ela, e preferem optar por uma vida retirada. Quem deseja alcançar a consciência celestial deve abandonar a inteligência egoísta e assumir, em certos assuntos, a aparência de um abobado.

“A razão expulsou Deus com chicotadas para o meio dos loucos”, escreveu Louis Pauwels.  E o escritor sufi Idries Shah – grande pensador do islamismo místico–  escreveu um livro intitulado “A Sabedoria dos Idiotas”. Na abertura da obra, Idries Shah explicou:

“Aquilo que os homens de pensamento estreito imaginam que seja sabedoria é freqüentemente considerado loucura pelos sábios sufis. Assim os sufis, por sua vez, chamam a si mesmos de ‘idiotas’. Por uma feliz coincidência, a palavra árabe que significa ‘santo’ (wali) tem a mesma equivalência numérica que a palavra que significa ‘idiota’ (balid). Assim, temos dois motivos para ver os grandes sufis como os nossos Idiotas.”

A astúcia impede o autoconhecimento.   A milenar tradição chinesa conta que certa vez Confúcio procurou Lao-tzu – fundador da filosofia taoísta – e fez a ele uma complexa consulta sobre uma questão ritualística que considerava de grande  importância.  Desprezando a pergunta sofisticada, o mestre disse a Confúcio:

“Você precisa abandonar a sua esperteza e deixar de lado a espada da sua ambição. Os grandes sábios freqüentemente parecem tolos e estúpidos. Aqueles que obtiveram o verdadeiro aprendizado não insistem em ostentar o seu conhecimento.”

Um dos maiores místicos cristãos de todos os tempos, São João da Cruz, estudou filosofia clássica grega na juventude. O modo como ele descreve poeticamente o paradoxo do “nada saber para perceber tudo”  coincide com a tradição socrática, mas também pode ser visto como uma ioga:

“Para chegares a saborear tudo,
Não queiras ter gosto em coisa alguma.
Para chegares a possuir tudo,
Não queiras possuir coisa alguma.
Para chegares a ser tudo,
Não queiras ser coisa alguma.
Para chegares a  saber tudo,
Não queiras saber coisa alguma.”

E João da Cruz descreveu o seu êxtase místico nesses versos:

“Entrei onde não sabia,
e fiquei sem saber,
toda a ciência transcendendo.

Eu não sabia onde entrava,
porém, quando lá me vi,
sem saber onde estava,
grandes coisas entendi.
Não direi o que senti
pois fiquei sem saber,
toda a ciência transcendendo.

De paz e de piedade
era a ciência perfeita,
em profunda solidão,
diretamente entendida;
era coisa tão secreta,
que fiquei balbuciando,
toda a ciência transcendendo.

Estava tão enlevado,
tão absorto e desatento,
que meu sentido ficou
de todo sentir privado;
e o espírito dotado
de um entendimento sem entender
toda ciência transcendendo.”

Embora seja verdade que nem todo idiota alcança a iluminação, é certo que todo iluminado tem algo de idiota e parecerá um tolo desde mais de um ponto de vista.

O aprendiz da arte de viver deve romper os limites das chantagens do que é “politicamente correto” e deixar de lado os mecanismos da ignorância coletiva que buscam impor falsos consensos em função dos interesses desse ou daquele esquema de poder.

Mas, para fugir da idiotice coletiva organizada –  com sua psicologia de rebanho que proíbe o indivíduo de pensar por si mesmo –   é indispensável vencer o medo de que nos seja colocado o rótulo de ovelha negra, ou de idiota.  Só assim poderemos viver com responsabilidade própria e independência pessoal. Há uma história de Ramakrishna, o sábio indiano do século 19, que ilustra bem esse ponto:

“Era uma noite completamente escura, séculos atrás. De repente, um sujeito acende uma tocha para iluminar seu caminho e vai até a casa do vizinho. Ele quer pedir fogo, porque a noite está demasiado escura. Depois de muito gritar e bater na porta, o vizinho finalmente abre a porta, ouve seu pedido e responde: ‘Ah, ah, você é muito imbecil! Raciocine! Você já tem uma tocha acesa na sua mão!’ “

Todos nós corremos o risco de fazer como o pobre coitado que bateu na porta do vizinho. A verdade eterna e a fonte da felicidade estão em nossas próprias mãos. Só dependem de nós. Mas insistimos em procurá-las nas coisas externas e pedi-las de outras pessoas, renunciando à autonomia da nossa caminhada.

Os sábios, como os idiotas, são íntegros.  Eles não fingem que são inteligentes e não têm medo de errar. Tentam, erram e conhecem o sabor da derrota.  Mas, quando acertam, são geniais. O idiota de hoje pode ser o sábio de amanhã, graças à experiência adquirida. Em compensação, aquele que não possui ânimo para tentar não tem chance alguma de aprender.

Por isso devemos criar uma cultura em que é permitido a cada um cair e levantar livremente. Porque somos todos apenas aprendizes. Erramos e aprendemos o tempo todo, e devemos estimular em cada ser humano a coragem de buscar – mesmo tropeçando – os seus sonhos mais elevados. Banindo da nossa cultura o medo ao ridículo, cada um se permitirá um pouco mais de deselegância e autenticidade em sua maneira de viver.

Notas do texto: NOTAS

Nota da Conti outra: A indicação deste texto foi uma gentileza ByNina

Permita-se redescobrir a magia do bambolê!

Permita-se redescobrir a magia do bambolê!

No antigo Egito as crianças brincavam com aros em volta dos seus corpos.

Na Grécia antiga um arco similar era usado como forma de exercício.

Povos tribais da América do Norte utilizavam o arco esférico em rituais de cura, e o mesmo era considerado um objeto sagrado por ser um símbolo do infinito ciclo da vida, pois sua forma não tem começo nem fim.

Foi nessa cultura que as danças com bambolê tiveram seu início como atividades físicas, lúdicas e culturais.

Nos anos 50 os bambolês se tornaram febre entre as crianças, e nos anos 60 os bambolês já faziam parte de inúmeros atos circenses ao redor do mundo.

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Na década de 90, os irmãos Cohen levaram uma história ficcional da invenção do bambolê às telas do cinema com o filme “A Roda da Fortuna”. E ao final desta década o uso do bambolê entre adultos e grupo de amigos tornou-se popular.

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A Roda da Fortuna, filme dos irmãos Cohen

Nos Estados Unidos, no começo dos anos 2000, praticantes de bambolê (chamados “hoopers”) já se encontravam em praias, parques, raves, praças e festivais para compartilhar técnicas e truques. O Festival Burning Man se torna o ponto de encontro anual de “hoopers” de todas as partes do mundo, promovendo esta prática muito além do exercício e entretenimento: Hoop Dance é arte e expressão.

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Festival Burning Man

Em meados de 2009 é lançado o livro “Hooping, a revolutionary fitness program”. A partir daí, o bambolê invade academias e estúdios dos Estados Unidos também como uma maneira divertida de se exercitar. Hoop Dance é uma dança única, fluida, livre, de belos movimentos e curiosos truques que chamam a atenção de quem assiste e participa. Além da sua beleza, e dos benefícios físicos e artísticos, esta técnica facilita a experiência da meditação em movimento.

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Deby Dai praticando Hoop Dance

A concentração da mente em cada movimento, alinhamento corporal, som e respiração, criam, independente da idade de quem pratica os movimentos, uma unidade entre corpo, mente, emoção e momento presente.

Há também as qualidades da forma do movimento espiral circular contínuo ao redor do corpo, o qual propicia a geração de um vórtice energético, pois cientificamente sabe-se que toda a criação da natureza é manifestada através de um movimento geométrico de energia em forma de espiral.

No Hoop Dance, que é a prática do bambolê hoje possível e difundida para os adultos, existe uma fusão do tradicional bambolê com dança, truques e improvisação. 

Próprios para adultos, os aros são produzido à mão, grandes, com peso adequado e costumizados com fitas decorativas e aderentes ao corpo.

Isso faz com que aquele movimento que parecia impossível utilizando um bambolezinho infantil, funcione para todo tipo de corpo e todas as idades.

Saiba mais:  Deby day  

Um cão, apenas – por Cecília Meireles

Um cão, apenas – por Cecília Meireles

Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim — plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito —, eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. E um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um grande esforço, acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem…

Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento… Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.

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Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.

Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.

Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto; como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era o seu.

Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.

Cecília Meireles

Os meus sonhos são mais belos que a conversa alheia, Fernando Pessoa

Os meus sonhos são mais belos que a conversa alheia, Fernando Pessoa

Não faço visitas, nem ando em sociedade alguma – nem de salas, nem de cafés. Fazê-lo seria sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a conversas inúteis, furtar tempo senão aos meus raciocínios e aos meus projetos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre são mais belos que a conversa alheia.

Devo-me a humanidade futura. Quanto me desperdiçar desperdiço do divino património possível dos homens de amanhã; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso dar e diminuo-me a mim-próprio, não só aos meus olhos reais, mas aos olhos possíveis de Deus.

Isto pode não ser assim, mas sinto que é meu dever crê-lo.

Fernando Pessoa, ‘Inéditos’

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Andrew Ferez

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