O que eu conto para você, eu não conto para mais ninguém!

O que eu conto para você, eu não conto para mais ninguém!

Sobre a importância da entrega e da confiança na relação terapêutica.

Por Marcela Alice Bianco

– O que eu conto para você, eu não conto para mais ninguém! Essa é uma fala que muitas vezes nós terapeutas escutamos dentro do ambiente psicoterápico. Um processo de grande entrega e intimidade, que permite a pessoa que se dispõe a travessia da descoberta e do autoconhecimento uma verdadeira viagem para dentro de si mesma.

Algumas características da relação terapêutica permitem essa atitude. A primeira delas é o próprio despertar para o processo, que se inicia quando a pessoa, por estar envolvida em algum problema ou sofrimento para o qual desconhece a solução, resolve procurar uma ajuda profissional. Neste ponto, ela fantasia seu potencial terapeuta e projeta nele – assim como projetamos imagens numa tela de cinema – as características necessárias a um curador.

O contato começa e a primeira impressão será essencial para a conexão! Empatia, sensação de acolhimento, ausência de julgamentos, sigilo, ética e neutralidade – requisitos indispensáveis para o início de uma boa relação.

E, a partir disso, uma verdadeira dança terapêutica vai se concretizando no espaço da terapia.

Assim, como ocorre quando dançamos em pares, o paciente conduz os passos, dá o tom e o ritmo da dança. Cabe ao terapeuta, a partir da sua escuta diferenciada e do seu olhar atento compreender esse bailado e ressoar na dança, através de questionamentos, ampliações e orientações que possibilitem a expansão da consciência.

Alguns pacientes dançam tango, outros rock, samba, bolero ou bossa nova. Dentro do próprio espaço da terapia o ritmo e a dança vão mudando, conforme o momento, o caminhar do processo e as descobertas que a dupla vai fazendo.

A cada dança, a afinação do par terapêutico é percebida e com isso a entrega acontece. É possível tentar outros passos, outras músicas e assim, tudo vai, cada vez mais, se tornando espontâneo. Dança terapêutica que promove o encontro profundo do Ser consigo mesmo e com sua intimidade.

E nesta troca, o paciente conta aquilo que nunca contou para mais ninguém e descobre sua humanidade quando escuta do parceiro de dança, seu terapeuta, que suas fantasias, vivências, sombras e mais profundos sentimentos fazem parte de toda a multiplicidade das manifestações do Ser completo e profundo que somos nós.

Assim, o paciente descobre que não dança mais sozinho e que, faz parte de uma grande dança, de uma verdadeira ciranda que é a Vida!

Descobrir-se nessa roda da vida é libertador! Abre-se o espaço para uma dança mais consciente e “encorporada”.  Dança da vida, dança da alma, dança da relação!

Namore um trouxa

Namore um trouxa

Estive pensando sozinho e tive uma ideia para ti. Namore um trouxa. Eles são fáceis de achar. Estão chamando tua atenção e te procuram quando estás escondida. Nos dias mais difíceis do teu cabelo, lá estão os tais. Jorrando elogios pelos olhos. Sentem-te bela, ainda que o espelho fale absurdos.

Por favor, fujas dos durões orgulhosos, quando tu xingas, se vão bravos e decididos a nunca mais voltarem. Melhor é ter um trouxa. Tu o mandarás ir para o quinto dos infernos, mas ele só iria aos diabos se fosse contigo. É mais sensato ter alguém que, quando tu pedes distância, continue por perto. Pois, se sempre atenderem teus gritos, e fugirem, quem restará?

Estou bambo com tamanha revelação. Os trouxas, tão criticados e sofridos, difamados pelos propagadores do “ame muito a si mesmo”, são quem mais sabe amar. Perdoam, dão o braço a torcer, chutam a caixinha do egoísmo e dizem “fique aqui”, quando aquela outra parte quer partir.

Tu dirás deles palavras vãs. Acharás que estão, assim, desvairados e loucos, porque és única. Nada tem a ver com isso, não é uma questão de vaidade. Os bons trouxas descobriram beleza em ti, que nem tu mesma viste. E, se a beleza está nos olhos de quem vê, és tu quem precisa dos olhos deles para ser um deslumbre.

Namore-o. Reinvente tuas ideias e encontre neles teu amor tranquilo. Ou mastigue a dura verdade (talvez seja mentira, mas prova o sabor dela ao menos):

– Quem não ama o amor dos trouxas é bem mais trouxa ainda.

Sensível experimento mostra a conexão única entre mães e seus filhos

Sensível experimento mostra a conexão única entre mães e seus filhos

São inumeráveis as abordagens que, de diferentes formas, explicam a genuína conexão entre mães e seus filhos.

Toque, calor, cheirinho, tudo o que é vivenciado durante os cuidados e o momentos de total cumplicidade e afeto são registrados desde sempre pela criança.

O resultado disso fica claro nesse pequeno experimento realizado pela marca de jóias Pandora.  Mães posicionadas em fileira, crianças vendadas, mas o encontro, como esperado, é emocionante!

O menino e a rosa – Helen Buckley

O menino e a rosa – Helen Buckley

Era uma vez um menininho bastante pequeno que contrastava com a escola bastante grande.
Uma manhã, a professora disse:
– Hoje nós iremos fazer um desenho.
“Que bom!”- pensou o menininho. Ele gostava de desenhar leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos… Pegou a sua caixa de lápis-de-cor e começou a desenhar.

A professora então disse:
– Esperem, ainda não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora, disse a professora, nós iremos desenhar flores.

“Que bom!”. Pensou o menininho. Ele gostava de fazer flores. E começou a desenhar bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul.

A professora disse:
– Esperem! Vou mostrar como fazer.
E a flor era vermelha com caule verde.
– Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.

O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso… Virou o papel e desenhou uma flor igual a da professora.
Era vermelha com caule verde.

Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse:
– Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro.
“Que bom!”. Pensou o menininho. Ele gostava de trabalhar com barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro.

Então, a professora disse:
– Esperem! Não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato.
“Que bom!” – pensou o menininho.
Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.

A professora disse:
– Esperem! Vou mostrar como se faz. E ela mostrou para todos como fazer um prato fundo.
– Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.

O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. E fez um prato fundo, igual ao da professora.

E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar, e a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho teve que mudar de escola. Essa escola era ainda maior que a primeira.

No primeiro dia a professora disse:
– Hoje nós vamos fazer um desenho.
“Que bom!”- pensou o menininho e esperou que a professora dissesse o que fazer.
Mas a professora não disse nada. Apenas andava pela sala.

Então, ela foi até o menininho e disse:
– Você não quer desenhar?
– Sim, disse o menininho, e o que é que nós vamos fazer?
– Eu não sei, até que você o faça, disse a professora.
– Como eu posso fazê-lo?
– Da maneira que você quiser.
– E de que cor?
– Qualquer cor, disse a professora.
– Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber o que cada um gosta de desenhar?
– Eu não sei… disse o menininho.

E então, ele começou a desenhar uma flor vermelha com o caule verde.

Helen Buckley

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Os cegos e o elefante, folclore hindu

Os cegos e o elefante, folclore hindu

Certa vez, um rei reuniu alguns homens cegos ao redor de um elefante e perguntou o que lhes parecia ser.

O primeiro deles apalpou a presa e disse que o elefante se parecia com uma gigantesca cenoura; outro, tocando-lhe a orelha, disse que se parecia como um enorme leque; outro, apalpando-lhe a tromba, concluiu que o elefante se parecia com um pilão; outro, tocando-lhe a perna, disse que se parecia com um almofariz; outro ainda, agarrando-lhe a cauda, disse que o elefante era semelhante a um corda.

Nenhum deles foi capaz de descrever ao rei a forma real do elefante.

Da mesma maneira, pode-se descrever parcialmente a natureza do homem, mas não se pode perceber a verdadeira e total natureza de um homem, em sua integralidade.

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Um único pensamento pode determinar o movimento do Universo

Um único pensamento pode determinar o movimento do Universo

Compreender que somos parte do Cosmos, cidadãos de galáxias…

Seres que desenham universos e que alimentam infinitos com sua energia vital.

Meditemos nisso para que possamos compreender que tanto os males quanto a felicidade que nos cercam são fruto da energia que emanamos: a energia que vibra eternamente.

Nikola Tesla – Passing Through (LEGENDADO)

12 estágios do desenvolvimento da síndrome do esgotamento profissional

12 estágios do desenvolvimento da síndrome do esgotamento profissional

O estresse diário se acumula e enreda a pessoa em um círculo vicioso difícil de romper.

É importante lembrar que a síndrome do esgotamento profissional desenvolve-se devagar.

Alguns pesquisadores a dividem, para fins didáticos, em 12 estágios, que podem se suceder, alternar-se ou ocorrer ao mesmo tempo, até que o quadro de fato se instale.

Leia o texto completo: “No limite do estresse”, capa da edição de abril de 2015 de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento

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5 motivos pelos quais os notívagos são pessoas altamente produtivas

5 motivos pelos quais os notívagos são pessoas altamente produtivas

POR ALEKSANDAR ILIC

Quando se compara a produtividade de um notívago à de uma pessoa de hábitos diurnos (ou madrugadora), a conclusão estereotipada é que o trabalhador notívago leva grande desvantagem. Ele sempre foi visto pelos empregadores como uma alternativa precária: estes hábitos noturnos supostamente afetariam sua produtividade. Bem, com a expansão do “universo da internet” – cujos habitantes são, em grande parte, ardorosos notívagos, muitos estudos recentes têm olhado para os notívagos sob uma perspectiva completamente nova.

1. À noite, eles atingem extraordinários picos de energia

Você talvez ache que a sua energia se esgota num ritmo regular ao longo do dia, até que se sinta cansado e pronto para dormir. Este é um equívoco, pelo menos no que se refere a pessoas ativas durante a noite. Segundo os resultados de um estudo, os notívagos atingem um pico de energia, normalmente à noite. Neste momento, sentem-se revigorados e prontos para o trabalho.
Isto prejudica os seus padrões de sono, mas sem dúvida é excelente em termos de produtividade – uma vantagem que os madrugadores não têm. Estes tendem a gastar sua energia ao longo do dia, e não atingem picos de energia no período da manhã, logo depois de acordar. Este fenômeno se limita às pessoas acostumadas a uma rotina noturna ativa.

2. Eles tendem a ser mais bem sucedidos

Muitos talvez encarem isso com ceticismo, mas se você analisar os fatos, e pesquisar sobre o passado de pessoas bem-sucedidas, verá que esta frase tem um fundo de verdade. Barack Obama, atual presidente dos EUA, é um notívago assumido; e a lista de pessoas bem-sucedidas que preferem trabalhar à noite é bastante longa. Vários estudos já confirmaram a hipótese de que os notívagos têm maior probabilidade de alcançar o sucesso. Portanto, não se preocupe: você está em boa companhia.

3. As estatísticas mostram que eles são mais inteligentes

Embora não haja regras fixas e isto não deva ser visto como um fato consumado, um estudo realizado pela London School of Economics and Political Science parece indicar uma nítida correlação entre o QI mais elevado, a capacidade de adaptação e a pré-disposição genética ao ritmo de vida notívago. Satoshi Kanazaw, especialista em psicologia evolucionista e responsável pela pesquisa, classifica esse tipo de comportamento como uma “inovação da evolução”, o que basicamente significa um desvio em relação ao comportamento comum de nossos ancestrais.

4. Eles conseguem manter um alto nível de concentração, mesmo após longas horas de trabalho

Um estudo realizado por uma equipe mista de cientistas, da Bélgica e Suíça, analisou o comportamento de 16 madrugadores e 15 notívagos, a fim de comparar a produtividade e a concentração destas pessoas. No início da jornada, o desempenho de todos foi bastante similar, mas a partir da décima hora de trabalho, aproximadamente, os madrugadores começaram a desacelerar o ritmo.
No estudo, a equipe usou imagens de ressonância magnética para o monitoramento das regiões do cérebro responsáveis pela capacidade de concentração e de atenção. A responsável pelo experimento foi a professora Christina Schmidt, mas os resultados do projeto – que envolveu uma grande equipe – foram publicados num artigo da revista Science. Nossa capacidade de concentração está diretamente relacionada à produtividade e, nesse sentido, o quadro geral é muito mais favorável aos notívagos.
Mesmo assim, os notívagos têm uma chance três vezes maior de serem acometidos pela depressão, segundo estudo publicado no Psychiatry and Clinical Neuroscience, e isso pode ser atribuído a dois fatores. A menor exposição à luz solar pode provocar a deficiência de vitamina D, o que pode levar à depressão. Convém que você leve isso em consideração, e fique atento ao equilíbrio de sua alimentação, a fim de compensar esta deficiência.
Mas nada melhor do que ter um estilo de vida natural; portanto, tente tirar uma semana de férias, respirando ar fresco e expondo-se ao sol. Vale lembrar que o hábito de ficar acordado e ativo em plena madrugada poderá afetar a sua socialização com as pessoas, o que pode, em última instância, levar à depressão. Se você for capaz de prestar atenção a esses dois fatores (a exposição ao sol e a importância da socialização), verá que é muito mais eficiente do que julgava ser.

5. Eles dormem em horários flexíveis

No livro Sleepfaring: A Journey Through the Science of Sleep [Dormir bem: Uma viagem pela ciência do sono], John Horne explica que os notívagos têm uma facilidade muito maior do que a dos madrugadores para adaptar-se à jornada de trabalho típica, 9-17h. Se você estiver realmente determinado a mudar, logo se dará conta de que é capaz de readaptar-se muito rapidamente, e continuar sendo produtivo. E lembre-se: caso necessário, você poderá recorrer ao estímulo adicional de energia a que seu corpo está habituado, no período noturno; se você realmente precisar de um tempo extra para resolver questões profissionais, poderá contar com esta energia.
A crença de que as pessoas com o “mau hábito” de manter a atividade durante a noite, e dormir até mais tarde pela manhã, não passa de um mito já ultrapassado – e não deve ser um critério de peso para as empresas, na hora de recrutar um funcionário. Afinal, cerca de ¼ da população mundial tem estes traços genéticos; portanto, os responsáveis dos departamentos de R.H. das empresas devem estar atentos para não basear suas decisões em preconceitos antiquados e, com isso, correr o risco de não contratar profissionais talentosos.
Além disso, com a expansão do modelo de comércio online e a globalização do ambiente profissional, a jornada típica, 9-17h, está em processo de gradativa extinção. Parece, portanto, que o quadro está ficando mais favorável aos notívagos. Grande parcela dos profissionais freelance que trabalham online se enquadra nesta categoria, e a maioria deles aprecia a liberdade proporcionada por esta rotina de trabalho.

Do original: 5 Reasons Why Night Owls Are Highly Productive, de ALEKSANDAR ILIC .

TRADUZIDO exclusivamente para CONTI outra pelo tradutor e revisor LUIS GONZAGA FRAGOSO

O espelho da abundância

O espelho da abundância

Por Tatiana Nicz

Devo estar sendo repetitiva, com certeza já devo ter falado sobre isso, mas tenho notado cada vez mais como somos acostumados com o caos, com a escassez, sempre reclamando, sempre conectando no pior lado, sempre, sempre vendo o copo menos cheio.

Ultimamente, quando quero entender algo, olho antes para dentro de mim, porque certamente o que vemos de ruim no outro é nada mais que um espelho do que acontece dentro de nós. Como no existencialismo de Sartre, tudo é sentido com base no que nós estamos de fato focando, geralmente notamos aquilo que temos ou queremos e se nos incomoda, certamente é porque mais temos do que queremos. Portanto, se algo do outro está ressoando em mim, é porque ele existe dentro de mim.

Eu, como muitos, também vago pelo mundo, sempre achando algo de algo, tecendo julgamentos, na maioria das vezes pouco fundamentados, distribuindo opiniões sobre tudo e todos (muitas vezes sem ter sido pedida). Porque parece-me que isso é o que mais sabemos fazer ultimamente: opinar. Então saímos por aí, opinando sobre tudo, até aí tudo certo, nosso cérebro é feito para isso: racionalizar. Isso por si é algo bom, não fosse nossa mania de estarmos sempre conectados na escassez, notando tudo que tem de errado e ruim, sem perceber que, na maioria das vezes, estamos sempre voltados também para o pior de nós mesmos.

Quando lemos algo, quando vemos um filme, quando experimentamos algo novo, quando viajamos, quando conhecemos alguém ou aqueles que já conhecemos, todos esses processos sempre são acompanhados de como aquilo é processado dentro de nós, nossa própria experiência sobre aquilo. Moldes, rótulos, caixas. E isso também é bem normal, nosso cérebro precisa catalogar algo para compreendê-lo, para se sentir confortável. E ai que está, a verdade é que nós não precisamos compreender tudo. Mas isso é incomodo, porque o desconhecido é desconfortante mesmo, dá medo. Além do mais como é possível que julguemos o que é diferente no outro, se não conseguimos enxergar aquilo que não conhecemos?

A impressão que tenho é que conectamos demasiadamente no que achamos que está ruim. Isso mais uma vez é compreensível, porque geralmente é o que está ruim que queremos mudar, que nos incomoda. Mas o ruim não passa de algo criado pela nossa sociedade, criado pelo que acreditamos que seja aquilo, e não pelo que ele realmente é. Minha irmã me ajudou muito nesse processo de tentar entender o outro, porque nós duas somos muito diferentes e eu tinha mania de apontar tudo que tinha de errado nela, é irônico o fato de que somos mais cruéis com aqueles que amamos mais e estão mais próximos de nós. Um dia ela me disse: não estou fazendo errado, apenas estou fazendo diferente de como você faria, porque eu sou diferente de você. Bingo!

E não me culpo e nem culpo ninguém, eu julgo, tu julgas, ele julga, nós julgamos… Realmente é extremamente complexo entender e mudar um padrão de comportamento, ainda mais quando ele vem também acoplado em todos que estão em sua volta, quando você é constantemente instigado e estimulado a tecer comentários e construir uma analise crítica de tudo e todos. Inclusive de nós mesmos. Inclusive desse texto.

Observando as crianças vejo que somos inseridos nessa “roda” em um nível muito mais precoce do que podemos imaginar, as crianças fechando o primeiro setênio já sabem julgar, dedurar, tirar sarro e se incomodar com tudo que lhes é estranho ou diferente. Nesse processo, claro, não cabe espaço para as coisas apenas serem, começando por nós mesmos.

Não sou tão sonhadora assim para acreditar que vamos um dia parar de julgar o que se apresenta para nós, mas com um pouco de esforço dá para mudar a sintonia, conectar na abundância, naquilo que é bom, nos inspira e deixar de lado um pouco essa mania que temos de sempre achar algo errado no outro e propagar isso. Também podemos tentar trabalhar no sentido de entender as polaridades e que elas também não passam de apenas um conceito. Sim algo pode ser bom e ruim, certo e errado, bom e mal. O que você vê só depende de que lado do prisma você está olhando.

Porque dessa maneira, conectados sempre na escassez, é isso que iremos atrair para nossas vidas, nesse sentido, falta tempo, falta dinheiro, falta amor, falta tolerância, e se acreditamos que tudo está em falta tudo sempre continuará a faltar. Ainda assim conectar na abundância não é conectar no perfeito, no demasiado, mas conectar no melhor de tudo, mesmo que o melhor não seja ideal, até porque ideal por si só diz, é uma ideia e, portanto, não existe.

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E esse é o exercício diário que venho fazendo em minha vida, silenciar essa voz que sempre tem uma opinião sobre tudo e aprender a aceitar tudo como se apresenta, acho que mais ainda aprender a deixar para lá. Entender que nós não precisamos sempre falar tudo que pensamos, nem entrar no mérito de tudo, muitas vezes podemos apenas entender que tal coisa não nos fez bem e escolher deixar para lá. A morte do meu pai me ensinou a deixar muita coisa para lá. Essa é a beleza que existe em aprender mais sobre a finitude da vida.

Também podemos tentar aprender a enxergar os pontos de conexões que temos com todos em vez de conectar no pior de cada um. Esse foi um conselho de um grande amigo quando me queixei de que estava muito intolerante com tudo e todos. “Tati, nós sempre temos um ponto de conexão com o outro e provavelmente vários de desconexão, a escolha é sua!”. Tentar incorporar isso em nossas vidas e viver fora das polaridades é muito difícil, mas possível. Se uma pessoa faz algo que eu não gosto, não preciso acha-la de todo ruim, posso apenas entender que aprendi algo novo sobre ela e adicionar isso ao “pacote”.

Confesso que, como tudo na vida, tudo isso é muito mais bonito no papel do que no dia a dia, não tem sido uma tarefa muito fácil e muitas vezes não dá. E aprendi a ser mais gentil com minhas limitações. Mas a paciência também é uma virtude que tenho tentado acoplar ao meu pacote, e posso afirmar que já vi muita coisa na minha vida mudar desde que comecei a fazer esse exercício. What is, is. Let it be. Conecte no que tem de bom e não no que falta, na luz e não na sombra, e poderemos aos poucos transformar o Universo ao nosso redor. Aprenda a deixar sua luz brilhar e brilhe.

“O nosso medo mais profundo é nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta.

Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além da medida.
É nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta.

Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso?
Na verdade, que é você para não ser?

Você é um filho do Universo!
Bancar o pequeno não serve ao mundo.
Não há nada de iluminado em se encolher para que outras as pessoas não se sintam inseguras ao seu redor.

Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós.
Não é apenas em alguns de nós, está em todos.
E quando deixamos nossa luz brilhar, inconscientemente damos permissão às outras pessoas para fazerem o mesmo.

Quando nos libertamos do nosso próprio medo,
nossa presença automaticamente liberta os outros.”

~ Marianne Williamson

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TATIANA NICZ- colunista CONTI outra

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Libriana com ascendente em Touro. Católica com ascendente em Buda. É amante da natureza e das viagens. Aprendiz de fotógrafa, ou melhor, de registrar momentos com os olhos do coração. Curiosa. Educadora e contadora de histórias. Divagadora de todas as horas. Tem profunda fé no poder de mudança e transformação de todo e qualquer ser, mas para isso, temos que querer muito. Escreve nas horas vagas para aliviar cargas e compartilhar experiências. Possui metas ousadas: quer mudar o mundo começando por si.

Blog: Desconstruindo Tati

Antônio, uma vida inteira ao lado de Maria

Antônio, uma vida inteira ao lado de Maria

Antônio, uma vida inteira ao lado de Maria e seu sentido: ‘respeitar as pessoas e ser honesto’

Por Gabriela Gasparin

A vida de Antônio Francisco dos Santos, de 77 anos, em suas próprias palavras, não seria nada sem a de Maria Rodrigues dos Santos, de 72. Na virada de 2013 para 2014, eles viram juntos o ano chegar pela 59º vez seguida. É assim desde quando se casaram, em 1955.

No segundo dia de 2014, eu estava em Monguagá, no litoral de São Paulo, quando fui atrás de uma história de pescador para o começo do ano e voltei com um lindo conto de amor. Sozinho e quieto, Antônio foi o único na plataforma de pesca da cidade que me “fisgou” para uma conversa.

Só que a história dele não parecia fazer muito sentido sem a dela. Maria não estava pescando fisicamente com o marido por uma dor nas pernas, mas quando falava, o soldador aposentado revelava que a esposa estava, sim, ali. “Ela é muito bonita até hoje, não sei o que viu em mim.”

Maria tinha só 14 anos no dia do casamento, que foi no Rio Grande do Norte. Logo em seguida o casal veio para a capital paulista e 13 anos depois se mudaram para o litoral. “Viemos eu e ela juntos, sofremos juntos, trabalhamos juntos e estamos juntos até hoje.” Eles têm quatro filhos, nove netos e seis bisnetos.

Maria já foi até servente de Antônio quando ele trabalhou como pedreiro. Os dois construíram duas casas juntos em Mongaguá, para ajudar a completar a renda da aposentadoria.

O sentido da vida dele

E depois de um bom tempo falando sobre a vida vivida ao lado de Maria, Antônio demorou para encontrar as palavras para falar sobre o sentido somente da vida dele.
Humildemente, primeiro disse que não tinha estudo para responder uma pergunta como essa. “Não estudei quase nada. Não tenho muito estudo, nem sei responder, entendeu?”
Eu insisti: “E desde quando a gente precisa de estudo para falar sobre a vida, seu Antônio?”
Ele pensou, pensou… E disse: “Acho assim, o sentido da vida? É bom demais, coisa de Deus… Aproveitar os momentos, respeitando todo mundo, entendeu? Ser honesto… Principalmente isso. Sempre fazer o bem, é importante respeitar as pessoas.”
Para ver o mar
O aposentado disse que não é pescador, mas parou de trabalhar há alguns anos e na época pescava para passar o tempo. “Gosto de ficar aqui assim, só olhando para o mar. Estou aqui desde às 7h” – já eram quase 17h.
Mas quem o ensinou a pescar era Maria. “A minha esposa, ela sabe pescar. Ela que dá as dicas aqui, e os colegas também.”
Agora que Maria está com o problema de saúde, ele mesmo pesca e leva os peixes para casa. Disse que já chegou a tirar 17 pescadas do mar. “Depois ela dá um trato.”
Antônio contou que a esposa era costureira. “Ela começou como auxiliar de costura. Depois deram a oportunidade e ela acabou sendo professora de corte e costura. Desenha, faz tudo sob medida. Ah, eu sem ela não sou ninguém. Peço a Deus de ir primeiro, porque quem resolve todas as paradas é ela. Depois que eu aposentei, perdi a noção, larguei tudo na mão dela, ela que resolve tudo.”

Vidaria é um projeto parceiro CONTI outra.

A discriminação racial na escola: existe?

A discriminação racial na escola: existe?

Conversamos com a professora Eugênia Luz, mestre e doutora em Educação, que realizou um estudo no qual tentou garimpar, no cotidiano escolar, mecanismos de reprodução do racismo para, ao detectá-los, potencializar movimentos de superação.

De tal estudo surgiu o livro “Garimpando pistas para desmontar racismos e potencializar movimentos instituintes na escola”. O livro, publicado pela Editora Appris, terá o seu lançamento no dia 17 de abril, na Universidade do Estado do Amapá.

Segue a entrevista.

O que a despertou para a temática do livro?

Minha preocupação com a questão racial já vem de há alguns anos. Se olhar um pouco mais para trás, eu diria que ela surgiu a partir de uma inquietação ainda meio difusa, desde a minha chegada ao Brasil, na década de 1980, ao abrigo do Programa de Estudante-Convênio de Graduação PEC-G, do governo brasileiro.  Um desconforto que foi ganhando corpo à medida que fui percebendo um descompasso entre a imagem do Brasil propagada no exterior, no caso em Cabo Verde e a realidade percebida dentro de casa. Indagações que foram crescendo e ganhando formas mais concretas e que acabaram resumidas em um textinho de minha autoria chamado “Onde Estão os Negros Brasileiros?”[1].

Fala-nos um pouco da sua vida e da sua experiência como educadora, no tocante, especialmente, à discriminação racial.

Eu venho de um país que foi colónia portuguesa até o ano de 1975 (Cabo Verde) e que viveu um processo opressivo muito grande, não obstante os movimentos de resistência que também não foram poucos. Como alunos, nós sempre fomos aqueles que, via de regra, não correspondiam às expectativas dos professores, em sua maioria portugueses. A baixa expectativa quanto ao nosso desempenho, em muitos casos, era explícito. No entanto, essa situação começou a mudar quando da independência política em 1975, com um movimento intenso de valorização da cultura cabo-verdiana e de matriz africana, na escola e em outros espaços sociais e culturais.  Passamos a usufruir de outro status e isso favoreceu o fortalecimento, de alguma maneira, da nossa identidade étnica, um processo ainda em construção, a meu ver. Ressalto que esse processo é longo e não linear, pois a questão da identidade cabo-verdiana é um tema controvertido e muito complexo.

No Brasil, embora tenha percebido a ausência da população negra nos espaços que frequentava, inclusive na Universidade Federal onde estudei Pedagogia, e ter vivido algumas situações de discriminação racial, acompanhou-me sempre a sensação de que  nos era dispensado um tratamento diferenciado, por sermos estrangeiros, embora, é claro, não estivéssemos imunes ao racismo contra o negro, em várias situações do cotidiano. Como educadora posso considerar o doutorado um marco importante na promoção de mudanças na minha percepção da questão racial, alimentando práticas pedagógicas mais inclusivas que são as que hoje eu venho adotando.contioutra.com - A discriminação racial na escola: existe?

Em sua opinião, o discurso educacional destoa da prática pedagógica, quando o assunto é discriminação racial? Se sim, como isso pode ser constatado? (algum exemplo de ocorrência).

Sim, é muito perceptível esse distanciamento. Em primeiro lugar, nossas pesquisas indicam que, de modo geral, ainda hoje os professores encaram a questão racial de uma forma bem pontual, ou seja, mediante atividades culturais, em períodos específicos e nada mais. Existe uma lei que determina a obrigatoriedade da inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares, buscando valorizar as raízes africanas presentes na cultura brasileira e a refletir sobre a condição da população negra, porém, o que eu vejo é muito descaso com a questão, apesar de continuarmos propagando o discurso de uma educação democrática.

Quando a temática é discriminação, você vê diferenças consideráveis entre Portugal e Brasil, locais onde foram realizadas as suas pesquisas? Quais?

Eu vejo algumas semelhanças e diferenças. O que percebo no Brasil é que o discurso da mestiçagem e da democracia racial ainda acaba encobrindo relações de poder nem sempre bem aquilatadas pelas pessoas.  A toda hora ouvimos nossos alunos na graduação e no mestrado questionarem a inclusão do debate sobre a questão racial, alegando que o Brasil é um país mestiço em que todos são brasileiros não havendo, portanto, brancos, negros e nem indígenas. Isto ainda, infelizmente, é uma realidade. Alguns alegam que trazer essa discussão significa promover divisões no país. Todos sabemos que na perspectiva biológica não há raças, porém, é com base em uma ideia de raças superiores e inferiores que se disseminou o racismo que sustenta a desigualdade no pais e no mundo.

Em Portugal eu sinto o racismo mais explícito. Algo mais pungente, constrangedor.  Embora goste muito de Portugal, percebo que muitos portugueses ainda precisam aprender a respeitar o outro como legítimo outro na convivência. Claro que também percebe-se avanços, mas há um caminho longo a percorrer. Não sei se é pior ou melhor do que no Brasil – afinal nenhuma forma de negar o outro é boa. No tempo que passei visitando escolas  fiquei impressionada com a forma como os alunos africanos são vistos pelos professores: “são mal comportados, apresentam baixo desempenho escolar, não há disciplina em casa, são abandonados pelos pais, etc”. Isso me deixou muito preocupada. Espero poder constatar que essa realidade mudou, na próxima pesquisa que pretendo levar a cabo em Portugal, em 2016.

Você é mulher, africana, negra. Você encontrou muitas barreiras sociais em sua carreira profissional em virtude de cor, gênero e origem? 

 Sim, como apontei anteriormente, vivi algumas situações de discriminação racial explícitas em locais de trabalho, que poderiam ter se configurado como poderosas barreiras em minha carreira, se eu sucumbisse aos obstáculos. Na universidade, apesar de já ser bastante conhecida, ainda me deparo vez ou outra com situações de racismo e que tento encaminhar da melhor forma. Nossa universidade, assim como outras universidades brasileiras é racista. Por conta disso, é sempre uma grande luta para ter nosso trabalho reconhecido, o que às vezes é desgastante e desmotivador.

A quem, especificamente, você recomendaria a leitura do seu livro?

Recomendo  este livro a todos aqueles  se preocupam em construir uma sociedade e uma educação democráticas e inclusivas. Especialmente aos educadores, para que repensem suas posturas diante das diferenças, que reavaliem seus discursos e vejam o nível de incongruências de que são prenhes os discursos correntes de educação democrática e de respeito à diferença contidos no currículo oficial. E, sobretudo, que os educadores da escola básica e dos cursos de Formação de Professores das Universidades analisem com seus alunos, futuros professores, essa realidade exposta de forma parcial no livro e percebem as sutilezas por onde o racismo vai se metamorfoseando na escola.

[1] O Texto a que me refiro encontra-se no livro de fragmentos organizado por LINHARES, Célia, intitulado: Muito além de Caleidoscópios para professores e professoras. Coleção Palavras de Mestres

contioutra.com - A discriminação racial na escola: existe?

 EUGÉNIA DA LUZ SILVA FOSTER

Nasceu em São Vicente, República de Cabo Verde. Aos dezenove anos, deslocou-se para o Brasil, em razão de uma bolsa de estudos, no âmbito do Programa do Estudante Convênio de Graduação (PEC-G), do governo brasileiro, onde fez Pedagogia na Universidade federal de Pernambuco (UFPE). Fez Mestrado e Doutorado em Educação na Universidade Federal Fluminense (FE-UFF), realizou estágio de Pós-Doutorado em Educação, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É professora Associada da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Relações Étnico-Raciais e Interculturais. Atualmente desenvolve pesquisas buscando aproximar as realidades de escolas portuguesas, cabo-verdianas e brasileiras (Amapá), no que tange à temática da Educação, Relações Raciais e Interculturais.

Os pais educam. A escola também.

Os pais educam. A escola também.

Por Elika Takimoto

Não concordo de forma alguma com frase “os pais educam e a escola ensina”. Primeiro que acho que a grande maioria das escolas não ensina nada e sim adestra o aluno a fazer prova. Entre fazer uma boa prova e aprender efetivamente um assunto, segue daí uma distância infinita. Depois penso que a maior educação que podemos dar é o exemplo e isso um bom professor pode ajudar e muito.

Eu sou professora de física e completamente apaixonada pela literatura. Na minha biblioteca, os livros competem entre si nos temas. Há tantos livros de ciência como há de romances, crônicas e contos e também de religião. Enfim, sou amante da leitura e, como todos sabem, também da escrita.

Quando chego para dar a minha aula de física, peço para que os meus alunos coloquem na mesa o livro que estão lendo. Tenho vários motivos para fazer isso: o primeiro é que quero, de fato, saber o que eles leem. Mas há outras razões: quando uma diversidade de livros começam a aparecer, é normal que eles olhem os livros que os colegas estão se distraindo. Animal curioso que nós somos, não raro vejo eles pedindo para dar uma olhada no livro do amigo. E temos absolutamente de tudo: Paulo Coelho, 50 tons de Cinza, Harry Potter, Stephen Hawkings, Clarice Lispector, Gregório Divivier…

Conforme o ano vai acontecendo, a quantidade de alunos que leem aumenta perceptivelmente. E todos os anos percebo esse fenômeno acontecer. Se antes 30% colocavam um livro na mesa, percebo rapidamente mais de 50% da turma lendo dois meses depois das aulas terem iniciado. Na verdade, eles podem estar me enganando para eu ficar feliz, mas não acredito que sejam todos gaiatos assim.

Vale observar: não acho que quem não lê seja burro. Longe disso. A minha defesa pela leitura não é para a pessoa ficar mais inteligente, pois eu leio muito e tenho tremendas limitações de raciocínio. Acredito que lendo nos distraímos de forma saudável e um universo se abre diante dos nossos olhos. É um hobby como outro qualquer, mas muito fácil, barato, viciante e sem nenhuma contra-indicação. Se benefícios trouxer como passar a ver o mundo com mais atenção, escrever melhor, compreender um assunto com uma maior profundidade, ficar mais articulado e mais concentrado… tanto melhor.

Ler é um hábito. Se os pais não leem, dificilmente o filho gostará desse passatempo. Mas, se na escola ele percebe que outros da mesma idade que ele conseguem se divertir e crescer de uma certa forma pela leitura é natural que esse desejo e a curiosidade o dominem.

A leitura é, sobretudo, uma fonte inesgotável de prazer, penso eu. Dando bom dia dessa forma para meus alunos faço com que muitos deles sintam essa sede e passem a beber dessa fonte. O exemplo é dado não por mim, professora, e sim pelos próprios companheiros de turma.

A escola serve sim senhor para educar ao permitir que esse tipo de coisa – dentre outras tantas – aconteça.

O Balão Branco (Badkonake Sefid – 1995)

O Balão Branco (Badkonake Sefid – 1995)

Por Octavio Caruso

Esse é, sem dúvida, um dos filmes mais interessantes da década de noventa. Uma verdadeira aula de direção do iraniano Jafar Panahi, que consegue nos manter completamente tensos ao contar uma história incrivelmente simples. Tudo começa quando a pequena Razieh, vivida pela adorável Aida Mohammadkhani, se interessa em comprar um peixinho colorido gordo e bonito que viu em uma loja, pois já estava cansada dos peixes magros que tinha aos montes em um pequeno lago em sua casa. Sua mãe inicialmente se recusa a fornecer o dinheiro para satisfazer seu desejo, porém, após muitas lamúrias e a promessa de dar um balão branco a seu irmão, a menina consegue a tão desejada cédula. Só que o caminho até a loja se provará uma intensa aventura.

A decisão de situar a trama em tempo real, durante os oitenta minutos restantes para o ano novo, acrescenta um nível de tensão crescente. Em pouco tempo, nós realmente nos envolvemos com as agruras da menina e nos angustiamos a cada novo obstáculo que se apresenta. O diretor demonstra um incrível senso de ritmo, inserindo com inteligência cenas de sutil humor, como uma, logo no início, onde vemos a mãe andando por uma conturbada rua e pedindo a um vendedor de balões que a informe sobre algo, no que o mesmo lhe sinaliza duas direções diferentes, ou quando um jovem soldado tenta fazer amizade com a menina, que de início se amedronta. Nesses pequenos momentos, Panahi nos apresenta o cenário e seus componentes, que, de início, passam como meros figurantes, porém, cada qual em sua própria e fascinante aventura. Ao longo do caminho, todos se mostram extremamente funcionais na narrativa. A câmera inicialmente foca Razieh e seu irmão, porém, ao final acabará se atendo ao jovem vendedor de balões afegão, que, assim como todos no filme, possui enorme importância. A câmera poderia se desviar dos protagonistas e seguir qualquer personagem, todos garantiriam ótimas histórias.

Nas mãos de qualquer diretor menos competente, poderia ter se tornado uma obra redundante, um insuportável tédio, porém “O Balão Branco” nos entretém e nos remete à nossa própria infância. Uma cena em particular sempre me comove, quando a menina reclama com o vendedor do peixe, dizendo que ele não é robusto como o que ela havia visto na primeira vez, no que o vendedor pede que ela o olhe de outro ângulo para vê-lo maior. Ela deixa de olhar por cima do vaso e, com um cativante sorriso no rosto, passa a admirar o belo e robusto peixe que agora nadava à sua frente, aumentado pela ilusão do vidro. Simples e tocante cena que evoca a pura ingenuidade da criança, em um mundo dominado pela indiferença dos adultos. Um ser disposto a encarar a vida pela ótica da fantasia, superando os obstáculos de uma fase tida, erroneamente, por muitos, como puramente divertida.

Algumas opções do diretor são tão sutis que demonstram o zelo de um verdadeiro cineasta autoral. Como quando o pai da menina se irrita com o seu pequeno irmão, por ter lhe trazido sabão em vez de shampoo, enquanto tomava banho. Mais tarde, o jovem aparece com uma marca de agressão no rosto, porém, o roteiro de Abbas Kiarostami não explicita em nenhum momento a causa. Ao não subestimar a inteligência do público, o diretor mostra, na prática e sem nenhuma pretensão, o que muitos cineastas pretensiosos apenas teorizam.

Se você não assistiu essa pequena obra-prima iraniana, não perca tempo e se encante com a beleza pura, simples e tocante que se encerra nos expressivos olhos da pequena Razieh.

OCTAVIO CARUSO

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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

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O amor como oportunidade de crescimento e humanização.

O amor como oportunidade de crescimento e humanização.

Por Juliana Santos

No mito do Andrógino, de Platão, encontramos que no início dos tempos o ser humano original era macho e fêmea. E eram seres tão perfeitos e de capacidades tão maravilhosas que rivalizavam com os deuses. Estes, irritados pelas incontáveis façanhas dos humanos, cortaram-lhes em duas metades, separando masculino e feminino. Desde então, numa saudade sem fim, os dois aspectos lutam para se reunir novamente.

Os mitos são expressões simbólicas daqueles padrões de comportamento e dramas psicológicos humanos presentes em qualquer tempo e lugar da civilização. Assim, para a Psicologia Junguiana, o mito do Andrógino se encarna numa visão de totalidade do Ser, que só realiza o seu caminho de auto realização na integração dos elementos feminino e masculino.

Para Jung, todo homem tem em seu interior um princípio feminino a ser considerado, a este, chamou Anima. Ao princípio masculino da mulher, deu o nome de Animus. Independe da vontade de nosso Ego, esses princípios compõem a nossa personalidade e interferem em nossa vida concreta, de diferentes maneiras! Se reconhecidos e integrados, podem ser muito favoráveis ao nosso caminho de realização humana, mas se ignorados, tornam-se bastante destruidores.

A sociedade e a cultura nos impõem de modo bastante claro e delimitado papéis de homem e de mulher, o que cabe a cada um de nós! Esta postura polarizada na maioria das vezes nos faz assumir posturas rígidas e alienadas que nos afastam das verdades individuais de nosso Ser. Anima e Animus não estão ligados ao gênero.

Jung quis que entendêssemos que somos mais do que aquilo que nos ditam para sermos. Não somos isso ou aquilo, de lá ou de cá, simplesmente Somos, com todas as polaridades de nossas vidas! Afinal, como dizia ele, ninguém se torna iluminado por imaginar caminhos de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão. É, portanto, apenas na integração dos opostos que temos lampejos de totalidade e plenitude!

Os princípios da Anima e do Animus têm funções bastante diferentes! Ela é para o homem uma mediadora entre a sua consciência e seu inconsciente, ajudando-o a ser psicologicamente esclarecido e livre para se relacionar com os valores do Eros, primordiais nas relações. Por sua vez, o Animus é para a mulher como um guia a conduzir-lhe rumo à sua realidade mais profunda, à sua própria alma feminina.

O problema está quando decidimos nos perder na multidão e ignoramos esses elementos mais profundos de nossa Psique. Revoltados, eles tomam conta de nossa personalidade de modo bastante negativo, projetando-se sobre figuras externas através da supervalorização, subvalorização ou fascinação pelos parceiros.

Na projeção, os nossos relacionamentos duram apenas enquanto o Outro satisfaz nossos sentimentos e fantasias sexuais. Neste estado de alienação, acreditamos piamente que nosso encontro com eles, masculino e feminino, acontecerá fora de nós, quando encontrarmos a nossa cara metade. Assim, passamos a vida jogando nas costas de alguém o peso da tarefa de nos tornar completos e felizes! Sem nos darmos conta que um encontro genuíno e humanizante com o Outro só pode acontecer de fato quando antes unimos as partes separadas e soltas de nós mesmos.

Aqueles que buscam realizar o seu potencial e têm coragem de viver, logo aprendem que tudo na vida tem dois lados. Um é luz e o outro é Sombra.”

O caminho de auto realização de nossa humanidade é uma tarefa árdua e infelizmente nem todos o conseguem percorrer. A negação da Anima e do Animus causa efeitos desastrosos não apenas nos encontros entre os sexos, mas para toda a humanidade. Isto porque a fúria do Animus se expressa em forma de desamor, ignorância, rigor, preconceitos e egoísmo. A da Anima retira dos homens a capacidade de relações genuínas carregadas de afeto e intimidade, prejudicando-lhes a função afetiva e a manifestação da ternura.

Nesta altura do texto você pode-se perguntar: Ok, e onde entra o amor nesta história toda?!

E eu arrisco dizer-lhes que amor resta aos que conseguiram exterminar as projeções e conseguem suportar a humanidade ordinária de quem se escolhe amar, ao mesmo tempo em que colhe nos olhos, gestos e palavras do amado o reflexo de suas luzes e Sombras. Sim… A relação genuína nos revela a nós mesmos a cada dia!

Se um dia me permitires um amor, permita-me também a memória sempre viva do Outro dentro de mim, para que minha convivência não se automatize!

Que minha ânsia da plenitude amorosa do Ser não se submeta apenas ao desejo sensual ou ao dever.

Que a gente converse… que a gente dê as mãos!

Que a nossa vida seja um ritual de confronto, onde o meu Ego lhe aponte a luz e a Sombra e na mesma medida, que o meu se humilhe ao dele.

Não quero apenas a minha plenitude, mas também a dele…

E quando meu coração se acalentar pela certeza de ter encontrado um amor,

Que a Tua presença nos inunde.

Amém!

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contioutra.com - O amor como oportunidade de crescimento e humanização.Juliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582

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