Seu tempo com seus filhos

Seu tempo com seus filhos

Por Gisela Campiglia

O desejo dos pais é o de educar seus filhos para que eles sejam pessoas independentes e felizes. Mas, como atuar em direção a este propósito quando o tempo disponível para os filhos é limitado?

A comum necessidade de que o casal trabalhe fora para prover o sustento da família, restringe a convivência entre pais e filhos. Desta forma, muitas famílias encontram “educadores” alternativos para substitui-los em sua ausência justificada. Uma empregada, a escola em tempo integral, ou as avós acabam ficando encarregadas desta função. Esses preciosos colaboradores ajudam bastante, no entanto, o alcance de suas ações é restrito. Por melhor que seja uma funcionária doméstica, ela não tem a mesma autoridade que os pais para dar limites à criança quando necessário.  A escola tem influência na educação dos alunos, mas a função da escola é escolarizar, passar conhecimento acadêmico, e não educar. Uma boa escola pode até auxiliar os pais na educação de seus filhos, mas é importante ter a consciência de que existe ex-aluno, mas, não existe ex-filho. A escola convive com o aluno temporariamente, os filhos convivem com os pais por toda a vida. As avós são de plena confiança, ótimas cuidadoras, e oferecem amor as crianças, mas muitas mimam os netos em demasia, fato que acaba trazendo problemas no futuro.

Na impossibilidade de conviver o quanto gostariam com seus filhos alguns pais sentem-se culpados, por isso acabam comprando todos os presentes que as crianças pedem no intuito de compensar sua ausência. Este é um grande equívoco, pois a criança que ganha tudo aquilo que deseja, terá dificuldades de superar frustrações durante a vida. A criança não tem a oportunidade de treinar em casa, mas a vida fará com que ela aprenda a lidar com as contrariedades na marra. A quantidade de objetos que os pais oferecem aos filhos não supre suas necessidades afetivas. Os filhos precisam sentir o quanto eles são importantes para seus pais através do amor, da atenção, dos cuidados e dos limites que recebem. Somente a convivência pode construir uma relação de amor, mas como realizar essa nobre missão quando o tempo disponível para os filhos é escasso?

Uma frase bem colocada causa muito mais impacto do que horas de conversa sem conteúdo. Um abraço de amor intenso tem mais valor do que vários telefonemas.
O que produz significado em nossa vida a quantidade, ou a qualidade?

 Existem mães que ficam em casa com as crianças o dia todo, porém não desgrudam os olhos da tela do computador. Quando a criança solicita atenção, a mãe responde:
“- Espere só um minutinho que eu já vou!”.  O filho espera minutos, horas, e nunca chega o momento de receber a atenção desejada.  A consequência é que a criança sentirá que sua presença na vida da mãe é irrelevante, e isso é muito perigoso. Pesquisas revelam que o uso de drogas na adolescência também é motivado pelo fato do jovem sentir-se desvalorizado pelos pais. A pior miséria que existe no mundo é a falta de amor, vivemos em um planeta cheio de carentes emocionais.

A solução é estar presente de corpo e alma quando houver a oportunidade de ficar com seus filhos. Determine um tempo sagrado para dar atenção exclusiva a eles, mesmo que seja apenas uma hora por dia. Evite permitir que sua energia seja desviada para qualquer outra tarefa durante o período que você criou para estar com as crianças. Não dá para disfarçar em que direção esta indo seu fluxo de energia, os filhos sentem quando o seu foco de atenção não está neles. Programar o cardápio da semana, atender o celular, assistir novela, checar os e-mails pessoais, ou conversar com o cônjuge, são tarefas para serem realizadas quando as crianças já estiverem dormindo.  Se você fica o tempo todo realizando multitarefas, e nunca oferece o privilégio de dar atenção especial para seu filho, ele interpreta o fato equivocadamente. Passa a acreditar que não é merecedor de sua atenção, cresce com baixa estima e leva essa influência para a vida adulta. Não adianta explicar que você é muito ocupado, porque esta se matando de trabalhar para dar uma boa educação para eles. Os filhos precisam ser nutridos com amor, o alimento da alma.

Praticar a sua autoridade em relação aos seus filhos também é uma forma de exercer amor. Muitos pais relutam em realizar essa função intransferível com medo de que os filhos deixem de ama-los, ou mesmo, pela vaidade de mostrar uma imagem sempre agradável para as crianças. Não tenha receio de corrigir quando houver necessidade, proteger seus filhos é diferente de evitar frustrações, o seu sentimento de pena enfraquece a criança. Um adulto sem limites revela uma educação sem limites. A prática do amor inclui disciplina. Você não deve admitir que seus filhos alimentem-se com doces e refrigerantes em excesso, não pode tolerar que se comportem agressivamente na escola. A firmeza dos pais quanto à educação é um ato de amor e proteção. O resultado é a formação de um adulto estruturado com forças existenciais e morais, capaz de conquistar a própria felicidade.

Pais, por favor, não se torturem! A sua relação com seus filhos não é definida pelo tempo que você passa com eles, mas sim pela forma como você se relaciona durante o tempo que dispõe. A sua postura e sentimentos em relação aos seus filhos vão determinar a qualidade da educação que você oferece.

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Nota da CONTIoutra: a reprodução desse material foi autorizada pela autora.

A autora também oferece gratuitamente um E-book sobre Ansiedade, o mal do século XXI.

Gisela Campiglia é palestrante e colunista especializada na Auto realização humana, meu objetivo é ajudar as pessoas a se ajudarem. Integro o conhecimento adquirido em minha formação acadêmica e experiência de vida, para viabilizar o desenvolvimento humano de forma integral. Sou uma consciência universal feminina que busca a evolução através do autoconhecimento e do amor. Formação: Física Quântica – Amit Goswami, Psicologia Junguiana – Facis, Bioenergia – Ippb, Metafísica – Luiz Gasparetto, Administração – Puc, Marketing – Chapman University, Publicidade – Espm. Contato: [email protected]

Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro!

Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro!

Por Juliana Santos

Faz tempo que penso na magia da amizade e no bem enorme que os grandes e verdadeiros amigos fazem à nossa vida! “Que haverá de mais doce do que poder falar a alguém como falarias a ti mesmo?” Cicero – filósofo romano

Como humanos, desde que nascemos precisamos da presença dos outros para nos desenvolvermos e sermos felizes. Estudos já comprovaram que crianças privadas de afeto têm atrofias cerebrais, afinal… já é sabido, o cérebro hoje é entendido como resultado de nossas relações e não mais como a gênese de nossos impulsos e comportamentos. Quem coordena nossas sinapses, e nossas conexões neurais são nossas experiências humanas ao lado dos outros. No início, ao lado de nossos pais e parentes próximos e depois, ao lado dos amores que escolhemos viver! Sim… amigos são amores! E assim, vamos preenchendo nossa vida de significados!

Apenas chamamos de amigos alguém a quem amamos e sentimo-nos amados, gratuitamente. Na amizade, não cabem utilitarismos, hierarquia ou qualquer uso de poder, já que a relação se estabelece é de igualdade. Para os amigos do peito, podemos contar os segredos do nosso coração. São as pessoas que queremos por perto nas melhores e piores horas de nossas vidas.  Eles se tornam testemunhas da nossa existência e nos dão um senso de segurança que nos permite ter a certeza de que sofreremos de saudade, mas não de solidão.

Quer provar a verdade de uma amizade? Veja se ela resiste à franqueza. Sim! Em algum momento, será preciso censurar, corrigir ou instruir com benevolência. Em contrapartida, o outro coração deve estar paciente e humilde para não deixar-se tomar pelo orgulho e ressentimento.  A bajulação não nos permite ser verdadeiros com os outros. E quando um se põe a dizer a verdade e o outro ouve com mentira, e vice versa, não há amizade, há perigo, há falsos amigos.

Mas com estes também precisamos conviver! Uma vez que os verdadeiros criam bases sólidas e colocam o nosso ego e nossa alma numa vivência de calor e aconchego, os falsos amigos tomam a nossa inocência e despertam a nossa astúcia , qualidade também necessária  à nossa sobrevivência.

A vida é assim… não escolhemos o bem ou mal, mas sim temos de aprender a lidar com um e com outro. Toda experiência que fazemos serve para exercitar tanto o biológico, quanto o psíquico. Desta forma é que incrementamos nossos sistemas de recursos emocionais, que nos capacitam a cada dia para lidar com nossas questões humanas. À medida que somamos vivências, o nosso ego ganha capacidade organizadora e cria em nós um senso de continuidade, que nos permite ir adiante.

 Ah… “mas quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro.” (Ecl6, 14) E ainda que tenhamos que conviver com inúmeros falsos amigos, gostoso mesmo é preencher a vida de gente boa! Elas, além de outras tantas coisas boas na vida, nos fazem companhia e nos fortalecem na arte de navegar, com segurança, nas torrentes do caminho rumo à auto realização, além de preencher o coração da melhor sensação humana que podemos ter: ser amados! Afinal,  o prêmio da amizade é o próprio amor e prazer que ela desperta!

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contioutra.com - Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro!Juliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582

A maturidade vem com as horas

A maturidade vem com as horas

Por Patrícia Dantas

Ela é como a mulher que dobra a esquina sem saber com quem vai topar. Embora ela não espere dar de cara com um cafajeste, é o que às vezes acontece. Literalmente, quebrar a cara, para só assim aprender ou remediar da próxima vez que agir. É que não se tem escolha, ou faz, ou se adianta, ou se espraia por onde passa, ou nada.

O mais interessante é que tem gente que só se diz madura, quando passa por uns bons perrengues na vida. “Agora sim, tenho maturidade para escolher o que é melhor para mim.” Talvez nunca lhe falaram que, para muitas reentrâncias da vida, não existem fórmulas prontas, nem regras já experimentadas, tudo acontece num raio de segundos. E não há maturidade ou experiência que resolva o insustentável do inesperado.

Se é difícil encarar alguns acontecimentos trágicos e descaminhados quando já temos passado pelo rito de iniciação, imaginemos agora – quanto mais trágico ainda – quando estamos na posição de algo intocável e embebido pela doce vida – intocáveis como a eterna juventude! É com gastar a pele com o passar dos anos, atropelar o próximo ano quando não se tem vivido o atual. Para isso tudo não precisamos de maturidade, mas de calma e compreensão, para que nosso amadurecimento aconteça como o ciclo vital da natureza, que tudo permite, tudo deseja, tudo procria, tudo destrói, tudo recria; procria e recria com o zelo e dedicação de uma mãe.

Hoje não me vejo como uma pessoa madura ou em via de amadurecimento completo daqui a alguns anos – quase já caindo aos pés da vida. Imagino que, nem quando chegar lá, ao longe, bem velhinha, esteja preparada, por certo esboçando um sorriso feliz e gritando em meu interior: “Vivi e agora sou uma pessoa madura!” Não terei tanta prepotência e maturidade para tal artimanha. O melhor a fazer é preparar os trapinhos para ver se dou sorte e alguém não me azucrina para dar conselhos que não serviriam para mim – é que não fizeram parte das minhas experiências e dos momentos que foram só meus. Tá vendo que não existem fórmulas prontas?

Experimenta me perguntar, daqui a algum tempo, o que fazer: entre uma viagem de alguns meses, ou ficar ao lado da pessoa amada, para que não lhe escape de vista. Não terei a resposta, com certeza, porque não depende de um ciclo previsível, mas da combinação de tudo, da complexidade, do caos em mim, do desconexo, de você, da outra pessoa.

Pasme! Como muitas pessoas – você, eu – têm o dom de achar que pode resolver tudo das muitas coisas que se passam em nosso complexo e banal cotidiano – porque dele não tiramos a completude, ou não sabemos ainda, mas é nosso, parte das nossas mais sofisticadas entranhas. Estamos mal acostumados com tamanho desconhecimento, pois ralamos tanto pelo nível absoluto da compreensão que nem vemos as horas passarem tão apressadas.

Prefiro não me adiantar, mas costumo estar à frente de mim, como um binóculo refazendo e caricaturando cenas que poderiam passar mais lentamente, mas é o ritmo condensado e rijo que assume a postura do homem do tempo. “Siga, com pressa, assim chegará mais rápido, antes de você. Corra o risco, seja outra, assuma a irresponsabilidade de atropelar incansavelmente o fluxo dos seus dias. “

E assim, continuo pensando que o caminho certo é este que me sobressalta antes mesmo do amanhecer.

Cartas, por Lúcia Costa

Cartas, por Lúcia Costa

Por Lúcia Costa

Cartas

Tico das Cartas era um político. Eleito prefeito da pequena cidade de Rio dos Trouxas, só comparecia eventualmente à prefeitura; gostava mesmo de despachar era lá Cabaré de Ritinha, onde mantinha um gabinete na mesa central do bar. Contam que, certa vez, recebeu o bispo por lá e entre goles e quengas discutiram a reforma da igreja.

Tico tinha uma outra paixão que lhe rendera o sobrenome: o jogo de baralho. Desde onze anos de idade, quando ainda morava em uma estreita faixa de terra com os pais e mais meia-dúzia de irmãos, jogava com os meninos que trabalhavam junto a ele apanhando algodão. O dia no campo colhendo o produto, à noite, sentados em sacos abarrotadas de algodão, entregavam-se aos naipes.

Sua vida mudou. Conseguiu se eleger vereador graças ao discurso em defesa dos agricultores, tornou-se prefeito.

O gosto pelo baralho foi ficando primoroso. Era um vício. Blefar era um orgasmo. As cartas construíam os degraus que lhe levavam às nuvens.

Casado com a bela Tereza – moça fina, educada para ser esposa, temente ao marido e à igreja – moravam em uma enorme casa verde com janelas vermelhas enormes.

O baralho lhe rendia sorte, ganhou muito dinheiro, conseguiu, ele mesmo, financiar sua campanha política, comprou terra, gado. Montou um açougue que vendia carne para toda a região de Rio dos Trouxas.

Mas Tico se excedia com dinheiro. Alugava o único clube da cidade e promovia jogatinas regadas a whisky e mulheres. Chegou a financiar um encontro estadual de quengas lá no cabaré de Ritinha. Apostava tudo na mesa de baralho e já não contava com a mesma sorte. Suas despesas excediam seus lucros. Estava em crise.
Tereza casou-se apaixonada. Amava os negros olhos de Tico, a fala firme, a forma como ficava ereto. Desiludiu-se; sabia das excentricidades do marido. Preferia a voz do seu próprio silêncio. Mal dirigia a palavra àquele homem. Mal se movia dentro de casa. Mal seus olhos se alegravam.

Tico não se reconhecia mais enquanto rei das cartas; perdia a cada dia, até chegar ao ponto de possuir somente o titulo de prefeito e a esposa. Sentia-se desanimado. Procurou rezas para lhe afastar o azar. Nada adiantava; não podia sentar em uma mesa que já perdia na estreia.

Em Rio dos Trouxas, tinha um coveiro, Tonho, que, há algum tempo, vinha crescendo no jogo. Admirava o prefeito. Aprendeu com Tico as manhas e as manias de um bom jogador. Estava já para largar a profissão; jogar lhe rendia um bom dinheiro. Acreditava que podia ficar rico através das cartas.

Um dia, Tonho resolveu jogar contra seu mestre. Tico, ressabiado e já sabendo da fama crescente de bom jogador que o rapaz carregava, procurou se desvencilhar, mas Tonho insistiu e ele não era homem de correr de mesa. Aceitou, mas não tinha dinheiro para apostar. Tonho o pressionou: existe triunfo sem troféu? Tico apostou a esposa que ganharia aquela partida. Tonho não tinha ninguém até então.

Tereza sentiu-se humilhada diante à cidade. Todos, rindo, gargalhando, olhavam-na sair da grande casa. Tico embrenhou-se pelo mato, enquanto Tonho a esperava, calado, cabisbaixo. Levou para casa o seu troféu de olhos tristes. Deu-lhe seu jardim, sua cozinha, sua sala, sua cama.

Tonho abandonou as cartas, preferiu continuar enterrando germes obsoletos. Tereza, pela manhã, abre as pequenas janelas verdes da casa vermelha e acende um sorriso para toda a Rio dos Trouxas.

O costume de beijar

O costume de beijar

Por Martiniano J. Silva

Assim como o beijo, o costume de beijar é mais antigo do que se possa imaginar, embora nem sempre sirva para demonstrar o mesmo grau de afeto ou consideração. Os beijos mais antigos que se conhecem são os que se constituem em saudações correntes às estátuas dos ídolos e às pessoas a quem se pretendia prestar homenagens respeitosas. Beijar na boca era coisa rara. A maior parte das vezes beijava-se a barba, os cabelos, a face, os olhos. Na mais remota antiguidade, era assim que o vassalo rendia homenagem ao seu suserano. Os gregos chegaram a possuir uma lei que proibia os homens de beijarem em público as suas mulheres, e os mais ousados estavam sujeitos à pena de morte. No Oriente, conservou-se o costume de beijar a mão, os joelhos ou mesmo os pés, sabendo-se que os reis da Pérsia não concediam este favor a toda gente.

Os primitivos romanos eram partidários do beijo e com ele selavam seus contratos núpcias. Os cristãos dos primeiros tempos escolheram-no para as saudações. No ano 397, porém, uma conferência reunida em Cartago proibiu esta forma de saudação entre pessoas de sexos diferentes. A Bíblia, aliás, está cheia de beijos, das mais diversas espécies, desde o beijo traidor de Judas à terna saudação de Jacó a Raquel. A Igreja Católica, por sua vez, em que pese uma série de modificações em seu ritual, principalmente durante as missas, dá ainda um lugar especial ao beijo nas suas cerimônias. Quem é que não conhece o clássico beijo “de anel” dos bispos?

Em reminiscência das recomendações de São Paulo para que os fieis se saudassem com beijos santos (osculo santum), os ritos modernos distinguem ainda o beijo do altar, o beijo da paz, o beijo do anel, da mão e dos pés. O primeiro, como sabemos, continua sendo celebrado na missa. O beijo da paz é aquele que, desde os tempos apostólicos, os cristãos trocavam, durante a missa, em sinal de união e de caridade. Hoje, esse beijo, durante a missa, é um amistoso e cordial, mas caloroso aperto de mão, só raramente seguido de algumas “bicotas” entre casais, filhos, noivos, namorados e demais presentes. Seria bom que os padres insistissem, explicando ao povo da importância desse aperto de mão durante a missa, representando e simbolizando o beijo de antigamente. Após o Papa Francisco, todos estes atos estão mais calorosos.

Durante o primeiro século da Era Cristã, os homens beijavam-se entre si e as mulheres também porque homens e mulheres não estavam juntos durante as cerimônias religiosas. O beijo era então dado na boca e ainda acompanhado da energia do abraço, dividido em vários tipos, às vezes demorados, ora de tempo breve, de que ainda falarei. Só mais tarde é que esse costume foi substituído pelo de se tocarem entre si com a face. A partir do século XIII tal costume foi abolido para os leigos, que se contentavam em beijar o mesmo crucifixo ou placa de metal contendo relíquias sagradas. Hoje, os eclesiásticos dão ainda o beijo da comunhão, dizendo: “Corpo de Cristo, amém”. E os fieis beijam o anel dos bispos quando estes concedem a sua benção. Durante muito tempo, os cardeais conservaram o direito de beijar as rainhas na boca, especialmente na Espanha. Nos tempos de Henrique VIII, nenhuma dama ousaria despedir-se do seu par de baile sem recompensá-lo com um beijo, costume que não poderia ter acabado, que por certo era um beijo afetuoso e cortês, polido e doce.

A guisa de ilustrar, registro o costume de abraçar, amplexo ou abraçamento, no qual, não raro necessário e indispensável, como no costume de beijar, continua mantendo inegáveis fingimentos, ensejando mais beijos, selinhos, bicotas, toquinhos nas costas, mais vezes também fingidos, até o dia em que erradicaremos nossa crônica hipocrisia. Sem adentrar-me nos conteúdos e detalhes do que não sou versado, lembro somente o abraço chamado “tipo padrão” que, segundo a jornalista Nayara Reis, desse Diário (caderno Cidades,09/10/2013), é o que envolve os ombros, os lados da cabeça apertados num contra o outro, e os corpos inclinados para frente sem se tocar absolutamente abaixo do nível dos ombros. O tempo gasto neste tipo de abraço normalmente é breve , uma vez que significa quase sempre “olá” ou “até logo”.

Num país onde nem o abraço consegue se salvar dos preconceitos, é de se pensar no que acontece com o denominado “beijo gay”; notando-se grande repercussão social e o que ainda ocorre com o estranho “beijo lésbico”, em novelas, por exemplo, onde ainda é mais surpreendente o choque é maior, grande frisson, ainda causando mais preconceitos que, de tão fortes e mais vezes anacrônicos, levam as pessoas a confundir um oportuno “beijo artístico” de duas atrizes consagradas da televisão brasileira com o comportamento excessivamente tradicionalista e retrógado, de certos segmentos sociais hipoteticamente religiosos que prosseguem “achando que esses ‘beijos’ ainda teriam (…) o poder de destruir as famílias brasileiras”. Decerto esses moralistas de plantão algum dia descobrirão que “achologia” não é ciência.

Vejam que os cardeais continuam beijando a mão do papa quando da eleição deste. O papa João Paulo II, por exemplo, ao que estou informado, não visitou nenhum país do mundo sem beijar a nova terra logo que descia do avião, ali manifestando a forma mais carinhosa de abençoar o novo país. O argentino Adolfo Perez Esquivel, prêmio Nobel da Paz (1980), não se cansou de beijar, especialmente as crianças pobres, em uma visita que fez ao Brasil? Santo Caio, que ocupou o trono pontifício antigamente (em 238), foi o primeiro papa de que narra a história a receber homenagens dos cristãos com beijos n os pés, de maneira formal e reverenciosa. No lava-pés, durante a Semana Santa, os bispos prosseguem beijando os pés dos fieis católicos. A missa, continua, pois, cheia de beijos, inclusive nas cerimônia de casamento e outras mais.

Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado, MNU, da Academia Goiana de Letras, IHG-GO, UBE-GO, AGI, mestre em história social pela UFG, professor universitário, articulista do DM ([email protected])
Fonte: Diário da Manhã

OBSERVATÓRIO DO MEU ANJO DA GUARDA

OBSERVATÓRIO DO MEU ANJO DA GUARDA

Meu anjo anda meio cansado.
Sentou-se ao pé do meu leito
E dormiu.

O tempo apiedou-se dele
E parou a contagem das horas.

Estática,
Parei de validar os medos.

Um anjo que dorme
Vale mais que mil anjos de pé:
Meu anjo da guarda não vela
O meu anjo
Sonha por mim.

NARA RÚBIA RIBEIRO

Não deixe suas panelas brilharem mais que você

Não deixe suas panelas brilharem mais que você

Não deixe suas panelas brilharem mais do que você!
Não leve a faxina ou o trabalho tão a sério!
Pense que a camada de pó vai proteger a madeira que está por baixo dela.


Uma casa só vai virar um lar quando você for capaz de escrever “Eu te amo” sobre os móveis!
Antigamente eu gastava no mínimo 8 horas por semana para manter tudo bem limpo, caso “alguém aparecesse para visitar” – mas depois descobri que ninguém passa “por acaso” para visitar – todos estão muito ocupados passeando, se divertindo e aproveitando a vida!


E agora, se alguém aparecer de repente? Não tenho que explicar a situação da minha casa a ninguém…
…as pessoas não estão interessadas em saber o que eu fiquei fazendo o dia todo enquanto elas passeavam, se divertiam e aproveitavam a vida…
Caso você ainda não tenha percebido: A VIDA É CURTA… APROVEITE-A!!!

Tire o pó… se precisar…
Mas não seria melhor pintar um quadro ou escrever uma carta, dar um passeio ou visitar um amigo, assar um bolo e lamber a colher suja de massa, plantar e regar umas sementinhas?
Pese muito bem a diferença entre QUERER e PRECISAR !

Tire o pó… se precisar…

Mas você não terá muito tempo livre…
Para beber champanhe, nadar na praia (ou na piscina), escalar montanhas, brincar com os cachorros, ouvir música e ler livros, cultivar os amigos e aproveitar a vida!!!

Tire o pó… se precisar…

Mas a vida continua lá fora, o sol iluminando os olhos, o vento agitando os cabelos, um floco de neve, as gotas da chuva caindo mansamente….
– Pense bem, este dia não voltará jamais!!!

Tire o pó… se precisar…

mas não se esqueça que você vai envelhecer e muita coisa não será mais tão fácil de fazer como agora…
E quando você partir, como todos nós partiremos um dia, também vai virar pó!!!
Ninguém vai se lembrar de quantas contas você pagou, nem de sua casa tão limpinha, mas vão se lembrar de sua amizade, de sua alegria e do que você ensinou.

AFINAL:

“Não é o que você juntou, e sim o que você espalhou que reflete como você viveu a sua vida.”

(Autor desconhecido )

 

13 regras para controlar as emoções em momentos difíceis

13 regras para controlar as emoções em momentos difíceis

Se não entendemos como nossas emoções afetam nossas vidas, e não temos meios para dominá-las, nossos dias podem se transformar em uma montanha russa. Todos nós precisamos saber quais são os nossos gatilhos emocionais – e desenvolver estratégias para evitar que eles sejam acionados – de modo que possamos permanecer equilibrados.

1. Tenha um tempo de desabafo. Arrume um horário semanal para relaxar. Faça o que gosta de fazer – escutar música em volume alto, ir ao campo de futebol, ir a uma festa – para se livrar do estresse de um modo seguro.

2. Recarregue suas baterias. Muitos adultos precisam gastar algum tempo, todos os dias, sem o sentimento de culpa. Chame esse tempo de “tempo de recarga de minhas baterias”. Tire uma soneca, veja TV, ou medite.

3. Escolha algum bom “vício”, tal como exercícios.

4. Compreenda suas mudanças de humor. Saiba que seu humor vai mudar, não importa o que esteja acontecendo à sua volta. Não perca tempo procurando a causa ou alguém para culpar. Foque no aprendizado da tolerância de um mau humor, sabendo que ele também vai passar – e encontre maneiras para fazer com que ele passe logo. Envolva-se em alguma atividade nova, de preferência uma que inclua pessoas – tomar café com um amigo, jogar tênis, juntar-se a um grupo de leitura – ajudará.

5. Imagine cenários para lidar com os inevitáveis tédios. Tenha uma lista de amigos para conversar. Selecione alguns vídeos que sempre lhe dão prazer e que o distraiam. Tenha um saco de pancadas ou um travesseiro pronto para quando tiver uma energia raivosa. Ensaie uma conversa interior, tal como “Você já esteve assim antes. Logo passará.

6.  Espere a depressão depois do sucesso. Muitas pessoas se queixam de sentimentos de depressão depois de um grande sucesso. Isso é por que o estímulo da caça, do desafio ou da preparação se esgotou. A proeza foi realizada.

7. Use intervalos, como se faz com as crianças. Quando estiver enraivecido ou super-estimulado, deixe o local, vá dar uma volta no quarteirão e se acalme.

8. Evite terminar um projeto prematuramente, assim como um conflito, um negócio ou uma conversa. Não abandone a luta tão cedo, mesmo que você queira.

9. Saboreie seus momentos de sucesso. As pessoas têm o mau hábito de se esquecem de seus sucessos.

10. Exercite-se vigorosa e regularmente. O exercício gasta o excesso de energia e de agressividade, acalma a mente, estimula o sistema hormonal e neuroquímico de um modo terapêutico, e alivia e acalma o corpo. Faça da atividade física algo alegre, de modo que você possa aderir a ela para o resto de sua vida.

11. Programe atividades com os amigos. Conserve sua aderência a esses programas com toda a fé.

12. Encontre e se junte a grupos nos quais você seja querido, apreciado, compreendido, desfrutado. Por outro lado, não fique muito tempo onde você não é compreendido ou apreciado.

13. Pratique cumprimentos. Tire um tempo para notar as outras pessoas e falar com elas. Obtenha treinamento social se você achar que precisa disso.

Por Edward Hallowell, M.D., texto adaptado para adultos sem TDAH

Fonte indicada: TDAH Dourados

Venho de Tempos Antigos – Poema de Hilda Hilst

Venho de Tempos Antigos – Poema de Hilda Hilst

Deus: Uma superfície de gelo ancorada no riso.

Venho de tempos antigos. Nomes extensos:
Vaz Cardoso, Almeida Prado
Dubayelle Hilst… eventos.
Venho de tuas raízes, sopros de ti.
E amo-te lassa agora, sangue, vinho
Taças irreais corroídas de tempo.
Amo-te como se houvesse o mais e o descaminho.
Como se pisássemos em avencas
E elas gritassem, vítimas de nós dois:
Intemporais, veementes.
Amo-te mínima como quem quer MAIS
Como quem tudo adivinha:
Lobo, lua, raposa e ancestrais.
Dize de mim: És minha.

Hilda Hilst 

Texto extraído do encarte à edição de “Cadernos da Literatura Brasileira”, editado pelo Instituto Moreira Salles – São Paulo, número 8 – Outubro de 1999.

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Lugares de memórias

Lugares de memórias

Por Ananda Martins

Minha bisavó morava em uma casa simples, mas encantada. Aos fundos, terreiro de terra batida, paredes descascadas e prateleiras de onde pendiam caldeirões ansiosos por comida quente. O fogão era à lenha, que ela mesma buscava e que temperava a comida cujo aroma abraçava a casa toda. Na última vez que a vi, estávamos na sala, os móveis antigos e o piso cansado, ela no sofá contando histórias e eu olhando aquela porta. Aberta o dia todo para quem quisesse entrar, a porta de contorno azul, que mais parecia moldura para o quadro que se formava da mistura de suas plantas com os raios de sol.

Com o cabelo de algodão e a pele feita de linhas, ela me disse do medo que tinha de esquecer os traços que fez. Talvez para não perdê-los, dividiu comigo uma história. Lembrou da época em que, de mãos dadas a outras mulheres, enfrentava a correnteza e atravessava o rio até chegar à praia do coração, onde molhava, ensaboava e depois estendia nas pedras as saias, blusas e vestidos, para que pegassem um pouquinho da luz do sol. Era ali, nas pedras do rio, lavando roupa e se banhando de água pura, que aquelas mulheres construíam um mundo secretamente delas.

Ainda cheios de água do rio, os olhos de minha bisavó voltaram-se ao presente. Ela levantou e caminhou bem devagar até o oratório, de onde pegou uma pedra, a única que guardava daqueles dias. A pedra passou a servir como castiçal (seu centro abrigava o espaço exato para uma fina vela de oração), mas era também o concreto objeto de suas recordações. “Recordar faz a gente feliz porque sabe que o que viveu foi bom”, disse ela com um olhar que eu já não sabia se estava no passado ou no presente, que mais parecia transcender os tempos.

Todo dia vovó Tana ia espreitar a vida da janela. Da janela viu o tempo fazendo os meninos crescerem, os velhos adormecerem, o tempo deixando a rua mudar, ser asfalto, muro, concreto, e nunca mais aquela da gente que andava com os pés descalços para alcançar o caminho do rio. O tempo, que fez do rio um dia seu e daquelas mulheres um lugar que agora só cabe na memória.

Um escritor de quem gosto muito e que vive em uma aldeia bem distante da nossa, disse um dia que o que mais lhe perturbava ao assistir o seu lugar mudar, era saber “que nossa vida era ainda mais frágil e transitória do que aquilo”1. O tempo corre, leva o rio, as casas e os jardins que percorreram nossa infância. Leva talvez um pouco muito importante de nós.

Eu mudei para uma cidade grande, onde os prédios, o asfalto e a imponência desmancham lugares de memórias que nos fizeram ser. Olhando a altura daqueles prédios, talvez eu tenha me esquecido de procurar, entre espaços, um azulejo desbotado ou um desenho antigo por trás da tinta nova, um pouco do chão onde pisaram avós e bisavós. Talvez tenha me faltado conversar um pouquinho mais com ela. Pelo menos mais uma única vez.

Em um tempo novo de acelerações (das máquinas, dos caminhos, da própria vida), vovó Tana ficou em seu lugar, vendo a vida passar através de sua janela. E foi lá que se tornou uma mulher sábia, que aprendeu e soube distribuir amor em gestos simples, não deixando sair de mãos e braços vazios quem em sua casa entrava, buscando um pouco de pão, um tanto de afeto. Na casa contornada de azul, floresceu um amor despido de teorias.

Casa que agora para mim ficará desbotada. Mesmo assim, quero que ela fique. Que não dê lugar a mais um edifício de apartamentos. Que se torne testemunho dos que vieram antes de nós. Que lembre a fragilidade da nossa condição e, ao mesmo tempo, a responsabilidade pelo que construímos. Que, através dela, tenhamos cuidado com a nossa história e possamos nos (re) conhecer. Sem atropelos, preservando e abrindo espaço para o novo.

Ananda, 19 de março de 2015

1 PAMUK, O. Incêdios e Ruínas. In: PAMUK, O. Outras cores: Ensaios e um conto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 89-93.

contioutra.com - Lugares de memórias

Ananda Martins

contioutra.com - Lugares de memóriasMineira, psicóloga, encantada pela escrita e fotografia enquanto formas de experimentação sensivelmente políticas do mundo.

Me explique, bruxo? Onde estiver me explique.

Me explique, bruxo? Onde estiver me explique.

Querido Caio Fernando Abreu, 

Me explique, bruxo? Onde estiver me explique.

Com alguém pode vir morar contigo, dizer que te ama na noite anterior, e sumir de repente sem nenhum arrependimento?

Amor muda de ideia? Amor é leviano? Amor é brincar de destruir?

O que eu digo agora também já está morrendo?

Morrer produz barulho, sei, mas e o barulho de viver? Não dá para ouvir daí?

Como do homem dos sonhos você se torna um homem sem sonho?

Como uma manhã sem falar doía nela e hoje o amanhã sem falar nem provoca ansiedade?

Como alguém não guarda em si o mínimo de autocrítica para refletir as últimas semanas?

Eu dividiria até meu egoísmo com ela. Não ficaria com ele sem partilhar. Como não se fracionar? No momento em que a gente se guarda a gente se perde, não?

Como alguém que ama decide alguma coisa? Logo no amor, Caio. Amor não é adiar? Amor não é humildade?

Vejo que o erro é arrogante, Caio. Como existe soberba na maldade, hein?

Será que foi vingança de relações passadas? Eu era o intervalo de um ódio?

Será que não devia ser sincero, fiel, não podia confessar minhas fraquezas, falar o que temia? Honestidade não combina com amor?

Eu sou garrancho, arredondei a letra no caderno de caligrafia, escrevi entre as linhas de baixo e de cima, bem certinho, você ficaria orgulhoso conhecendo minha pressa, mas só você Caio, só você sabe o enorme sacrifício que é escrever entre as linhas.

Será que a felicidade machuca? Será que a felicidade nunca é suficiente? será que os casais se separam porque acreditam que podem ser felizes sem ninguém? Ou acreditam que podem ser ainda mais felizes do que estão sendo?

Será que a solidão mente o que somos?

Se o afeto sufoca, me diz, então, o que liberta?

Será que é só conhecer uma intimidade que somos empurrados para fora? Será que a pessoa não se gosta nem um pouco para admitir testemunhas? será que sabemos demais, enxerga demais, e nosso corpo é obrigado a desaparecer? Amar é coisa de máfia?

Será que recebemos a culpa por problemas pessoais? Que é mais fácil encerrar a relação do que assumir os medos?

O amor é um mal-entendido, é ilógico, Caio? Estou começando a crer nesta hipótese.

Como alguém pode se entregar loucamente e depois alegar que nada mais tem importância?

Que piração é esta, Caio? Isso também acontece no mundo dos mortos? Ou os mortos são mais estáveis? Ou os mortos são mais confiáveis?

Como alguém faz declaração pública de amor e depois diz que desejava invisibilidade?

Como confiar no silêncio se não há esperança?

Eu fingi que era diferente? Não expressei como era desde sempre, não avisei como funcionava?

Com alguém cultiva os meus amigos e filhos, defende o nosso destino numa hora e na hora seguinte se mostra surda a todo conselho, surda a toda dúvida, surda a toda incerteza?

Como alguém pode jogar a história fora? Por facilidade? Não conheço nada fácil, nem a amizade. Não pode ser.

Será que ninguém mais lê poemas hoje, Caio? Poemas não têm final. O amor não deveria ser como um livro de poesia. Para se ler fora de ordem. Para se ler um pouco por dia. Desprovido de desfecho. Poema é releitura na primeira leitura.

Caio, não suporto que digam que mulher não gosta de homem que se entrega, que temos que o omitir, que temos que jogar. É uma cilada machista, não lhe parece, para justificar a grosseria e a ausência de interesse?

O que será da intensidade longe da doação?

Onde foi parar a delicadeza dela, a ternura de antes? Foi uma miragem?

Onde as pessoas escondem o amor Caio? Onde as pessoas enterram os ossos de suas alegrias?

Como alguém pode ser frio, indiferente, insensível a ponto de usar as frases mais duras e impessoais, sem se importar com o sofrimento que causa?

Como alguém manda mensagens como se estivesse realizando um favor? Que superioridade é esta? Cadê o nervosismo que pede um abraço?

Como alguém não se esforça para retroceder o baque, zerar os meses? Por amor, a gente esquece que nasceu um dia, não é mesmo?

Como alguém não cancela sua atitude? Que obstinação é essa de machucar, e sangrar ruas e lugares prediletos?

Como alguém não sente saudade, não inventa saudade, não cria saudade? É um produto em falta aqui, Caio, pode mandar material? Mande garoa de palavra para recriar saudade, por favor?

Como não retornar pela verdade, seu eu voltaria ainda que fosse uma mentira?

Como não caminhar recuando, se avançar é lembrar?

Como o outro termina sem conversar, termina por terminar, termina de modo cruel o que não havia sinalizado?

Como alguém usa a porta para pisar as mãos, permanece agredindo quem merecia uma fresta de compreensão?

Como alguém afirma que nada muda da noite para o dia e esquece as noites que mudaram seus dias?

Como esse mesmo alguém é outro, já outro, tão ouro que nem sei mais quem fui?

Como não desconfiar do passado, como não imaginar que tudo foi uma mentira?

Como não se sentir usado pelos anjos, corrompido pela dor?

Como, Caio?

Alguém mentiu. Caio, para mim. Para si. E para todos.

Eu não desisto do que falei um dia com todo o coração. Mas sou eu, Caio, sou eu. Não posso exigir isso de ninguém.

Viver é incompreensível.

Um beijo. Cuide-se.

Fabrício Carpinejar, do livro “Me ajude a chorar”

O que aconteceu com a educação no Brasil?

O que aconteceu com a educação no Brasil?

Por Laura Monte Serrat Barbosa

pedagoga, psicopedagoga

Quando me propuseram o tema para este trabalho, vieram-me à mente outras perguntas e, entre elas, a seguinte: “Cadê o índio que estava aqui?”
Esta pergunta me fez lembrar de uma brincadeira infantil que, apesar de um pouco linear, pode nos ajudar a compreender o que aconteceu com a Educação no Brasil.

A brincadeira a que me refiro começava com um toucinho e um gato e acabava da seguinte forma: “Cadê o padre?”, “Tá rezando missa”, “Cadê a missa?”, “Tá no altar”.
Nesta história real, o “padre” aparece um pouco antes.
Se iniciarmos nossa cantilena perguntando “Cadê o índio que estava aqui?”, a sequência pode ser:

– O padre o transformou.
– Cadê o padre?
– Ficou mais de duzentos anos rezandb missa; catequizando índios e pagãos através da alfabetização; fazendo outros padres divulgando uma Educação acadêmica e abstrata.
– E depois dos duzentos anos, onde está o padre?
– Através da figura de um Marquês foi desbancado pelas ideias do iluminismo que assolavam o mundo, seus bens foram confiscados e suas escolas, fechadas.

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As ideias iluministas objetivavam tranferir o poder, passando da Igreja para o Estado. Porém, o Marquês não visou uma reforma  brasileira, e sim uma reforma educacional para a Metrópole (Portugal). Como  não houvesse interesse em equipar a colônia com um sistema educacional eficiente, a suposta reforma foi um fracasso.

Desastre total: sem padres e sem escolas.
Mais cem anos. Com a chegada da chegada da corte Portuguesa ao nosso país, a escola e o sistema educacional entram em voga novamente, só que agora com a intenção de atender às necessidades da nobreza.

Reconstruiu-se a academização; fundaram-se escolas técnicas superiores (principalmente a academia militar); apareceu a primeira escola vocacional; surgiu a primeira imprensa; organizou-se a primeira biblioteca. Tudo isto com objetivo certo: a elitização do ensino. Todos os esforços para a reconstrução da escola gratuita foram em vão; não existiam verbas para isto, pois tudo o que se destinava à educação estava sendo aplicado à educação elitista e acadêmica dos nobres.

Em que época? Pasmem, na época da chamada “Independência do Brasil”, mas que, na realidade, caracterizou-se por ser a independência só de alguns.

A função da escola não era mais a de engrossar as fileiras de fiéis que seguiam os ensinamentos do “padre”, mas sim a de atencer os interesses de uma elite que ficava cada vez mais poderosa.

Proclamada a “Independência”, e sem condições de uma estrutura independente, o império descentralizou a direção e a organização das escolas. Isto resultou em várias aberturas e inúmeros fechamentos de escolas. O abandono, novamente, foi geral.

– Cadê as escolas que estavam aqui – Só sobrou a de D. Pedro II: escola de ensino médio, modelar e elitária.
– Cadê as instalações que estavam aqui?
– Cadê as verbas? E os alunos? Cadê os professores?

O Estado não deu conta; nem tentando dividir as responsabilidades entre a federação e as províncias.
Somente 360 anos depois do descobrimento de nossa cultura indígena, precedido da invasão portuguesa, é que o sistema educacional brasileiro foi aquecido novamente.
– Sabem quem apareceu?
– O padre que, junto com várias ordens religiosas, criou muitas escolas
secundárias para rapazes, e protestantes que criaram escolas mistas.
O Estado não conseguiu se sobrepor à igreja, e o ensino acadêmico, elitizado e abstrato, voltou a reinar como instrumento de ação.
Com a República, veio junto uma enxurrada de reformas e, dentre elas, aquela desejada pelos positivistas da época: a introdição do estudo de ciências na escola primária e secundária, para contrapor-se ao ensino escolástico das escolas religiosas.

É nas décadas de 30 e 40 do século passado que surgiram as primeiras preocupações e chances educacionais reais para as camadas populacionais mais amplas; porém, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, que mobilizou a Educação nacional na época, não contava com a participação direta desta camada da população na conquista dessas chances.

Este foi um período profícuo no sentido administrativo. Foi criado o Ministério da Educação; fundada a primeira universidade brasileira; a Constituição de 1937 previa a responsabilidade do Estado na Educação de crianças e adolescentes e a participação de indústrias e sindicatos na educação e formação profissional dos empregados.

Este início de discussão educacional continuou sendo ampliada nos 20 anos seguintes, quando a população passou a desenvolver consciência, participava das reivindicações, lutava pelos seus direitos. A alfabetização agora não tinha mais a intenção de doutrinação religiosa e passava a ser vista e realizada como instrumento de emancipação da maioria da população brasileira

A discussão educacional era intensa e finalmente, em 1961 culminou com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que, embora incompleta, representava o resultado de muita discussão e possibilitava ao povo opor-se e manifestar sua oposição. A preocupação da lei, entretanto, não era científica, e sim política; continuava desvinculada da realidade e do mundo do trabalho.

Nos discursos políticos, a Educação passava a ter importância; aparecia o incentivo à pesquisa mas, mesmo assim, o distanciamento da realidade ainda existia. Que marca intensa a história deixa! Como é difícil livrar-se do academicismo, do idealizado, do abstrato e descontextualizado!

Os estudantes se mobilizavam; os artistas produziam belas obras que retratavam a presença da oposição, da democratização.
Mas a alegria durou pouco. Embora Paulo Freire estivesse conseguindo um trabalho emancipador, a Revolução de 64 calou os artistas, os educadores, os jovens; o militarismo passou a reinar e mudou o rumo da Educação no pais.

Nesse momento não se tratava de portugueses invadindo a terra indígena, nem de uma metrópole controlando uma colônia. Era uma importação americana de modelos educacionais que objetivavam não mais formarem brasileiros, e sim Americanos do Norte. Os ginásios polivalentes, a estrutura universitária norte-americana sendo implantada aqui, a Lei 5.692 que visava modificações no ensino médio e primário, metodologias e tecnologias “tecnicistas”. Tudo isto resultou numa pergunta:

– Cadê o Brasil que estava aqui?
– Está se transformando em território do norte, embora encontre-se no sul.

– Cadê os brasileiros que estavam aqui?
– Todos em terras distantes, porque aqui não mais podiam falar, escrever, ensinar, compor, pintar etc.

O militarismo interrompeu o processo social que se encorpava e, durante 20 anos, permanecemos no silêncio obrigatório, e no não crescimento educacional. Passamos 20 anos copiando, reproduzindo a nova metrópole, transformando-nos no mais empobrecido “império” que era possível.
Aprendemos a ser robôs, a plastificar tudo que encontrávamos, a promover um ensino em série, a fazer um controle de qualidade de alunos, a excluírmos aqueles que não se transformavam segundo o esperado pelo modelo etc.

Para contrapôr este “engessamento”, surgiam estudos progressistas, que foram retomados após esse período. Continuamos do ponto em que havíamos parado. Administramos os prejuízos e começamos a luta- por uma escola brasileira: mais justa, gratuita, destinada à população como um todo e que tivesse como objetivo principal ensinar o conteúdo historicamente construído. Uma escola que fizesse oposição aos currículos propostos na época da república e àqueles propostos pelas escolas religiosas. Uma escola que acreditasse na construção colmava do conhecimento, na pesquisa, num conhecimento dinâmico que se atualizasse e se transformasse o tempo todo e, sobretudo, uma escola que formasse seres críticos e não reprodutores.

Chegamos aos anos 90 com uma multiplicidade de sistemas educacionais. Tínhamos presentes em nosso cotidiano a escola doutrinária, a escola nova, a tecnicista e a progressista.

Novamente um grande movimento educacional passava a ser realizado. Modificava-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; criavam-se parâmetros curriculares nacionais, a partir de uma discussão mais ampla e de contribuições de outros países; criava-se um modelo de avaliação das escolas; ousava-se mexer no sistema de avaliação, no modelo do vestibular.

Hoje, exagera-se por uma educação cidadã, desgastando um termo que permite à escola conceber uma nova forma de ação que não é só acadêmica, mas também vivencial.
Nesta forma de ensino, é permitido ver que índio que estava aqui foi arrancado daqui e está mais ali, desadaptado e, em muitos casos, infeliz.

Então, o que aconteceu com a Educação no Brasil?
Na realidade, a Educação no Brasil teve muitos donos e intenções muito
diferentes.
No início, o desejo de doutrinação religiosa, o conhecimento posto a favor da Igreja; a seguir, o Estado pretendendo fazer educação sem conseguir, e o conhecimento valorizando um só aspecto: a necessidade da nobreza. Mais tarde, o Estado fez uma primeira tentativa de democratização do ensino: um movimento para colocar o conhecimento ao alcance de todos; entretanto, isto se fez de forma autoritária; depois seguiu com a presença da ciência nos currículos com a intenção de desbancar o conhecimento escolástico e de introduzir uma visão materialista de mundo; impôs a presença da reprodução e do tecnicismo nos sistemas educacionais e o distanciamento da possibilidade de crítica; propôs, nesse momento, o retorno do materialismo, mas de forma diferente: em bases que propagavam um conhecimento historicamente construído.

Permanece o desejo de fazer interdisciplinaridade, de ver o homem como um todo, como ser humano e como parte do universo, cuidando para não perder as especificidades culturais e respeitando o direito de todos à Educação.

Muitas faces, muitos chavões desenvolvidos em cada época; entretanto, com muita dificuldade em termos uma Educação que atenda a todos e que trate o conhecimento como um instrumento de viver, ligado à realidade e relacionado ao trabalho dos homens e das mulheres deste planeta.

Esse texto faz parte da coletânea de reflexões “Psicopedagogia e Aprendizagem”, de Laura Monte Serrat Barbosa. Contato [email protected]

Esta postagem conta com a parceria da Página Educação como prática da liberdade. Você já conhece a página?

As 7 lições que podemos aprender com o bambu japonês

As 7 lições que podemos aprender com o bambu japonês

Existem muitas florestas de bambu espalhadas pelo Japão e seu uso é bastante extenso. Não só no Japão, como também em muitos países, o bambu é considerado uma planta nobre e sagrado. É símbolo da multiplicação e da generosidade. No Japão e na China acredita-se que seu tronco oco, serve de morada aos deuses.

O bambu apesar da sua simplicidade, é uma das árvores mais resistentes que existem. É tão durável quanto o concreto e a sua tração é comparada ao aço. Suas utilidades abastecem diversos setores da economia e da sobrevivência humana, através da alimentação, da produção do álcool, celulose, reflorestamento, artesanato, decoração, movelaria, estruturas, construções, entre outras coisas.

Porém, não são somente suas incontáveis utilidades que podemos extrair do bambu. Ele também é capaz de nos passar verdadeiras lições, as quais podemos muito bem aplicá-los em nossa vida cotidiana e nos tornarmos pessoas melhores e mais realizadas.

O texto abaixo foi adaptado pelo site Japão em Foco e  é  baseado no texto do site Prezentation Zen (em inglês) e também de um trecho do livro “Buscai as coisas do Alto”, páginas 119 à 121, da AUTORIA do Pe Leo, onde ele se baseia em uma antiga lenda que faz parte da filosofia Zen budista e se chama “As 7 verdades do Bambu”.

1° lição: Se curva mas não quebra

contioutra.com - As 7 lições que podemos aprender com o bambu japonêsUmas das principais lições do bambu é em relação à humildade. Mesmo com a mais suave brisa é impressionante notar como os troncos dos bambus balançam. Mesmo estando fortemente enraizado, o bambu se deixa levar pelo movimento do vento, nos mostrando que mesmo com sua fundação sólida, ele é leve e flexível.
Ao se mover com o vento e não lutando contra ele, o bambu nos ensina que a vida flui bem melhor quando levamos a vida com mais tolerância e leveza e pra isso é preciso termos humildade, seja para reconhecer um erro, voltar atrás e pedir desculpas, ou para sermos mais flexíveis e menos duros em relação à vida, à nossa família, às demais pessoas que nos rodeiam e inclusive em relação à nós mesmos.
Isso ocorre graças às suas raízes profundas, que levam anos para serem formadas até que o bambu comece a dar o ar da sua graça. E depois que ele cresce é muito difícil arrancá-lo do chão, pois o que ele tem para cima, ele tem para baixo. Isso também se aplica à nossa vida, pois quando criamos raízes sólidas, menos chance teremos de nos desvirtuarmos dos nossos objetivos e das nossas metas.

2° lição: A fragilidade é somente aparente

O bambu mesmo não sendo frondoso e nem alcançando alturas memoráveis como outras árvores que existem por aí, se mostra forte em relação às condições climatéricas extremas, nos provando que sua fragilidade é somente aparente. É surpreendente notar como ele suporta bravamente invernos e verões extremos e como ainda conseguem se manter em pé, mesmo após um tufão devastador.
Portanto, por mais que você se sinta fragilizado, desanimado e para baixo, não deixe de acreditar na força que existe dentro de você e nem se subestime, achando-se inferior aos outros. Se você acreditar em si e continuar em pé como o bambu, perceberá o quão forte é a sua capacidade de não se deixar derrotar.

3° lição: Vive sempre em comunidade

Os bambus estão sempre unidos uns aos outros e essa lição pode ser aplicada em nossa vida: Ninguém pode ser feliz sozinho e as pessoas precisam uma das outras para se sentirem completas. É preciso aprendermos a cultivar o espírito de grupo e ajudarmos uns aos outros, pois quando as forças se unem, fica bem mais fácil atravessar os obstáculos e adversidades que a vida nos impõe.

Infelizmente nos dias atuais, as pessoas no geral estão se tornando mais individualistas e se distanciando umas das outras. Essa busca incessante pelo isolamento nos faz pensar sobre os valores da amizade e da solidariedade e a lição que o bambu passa é de que sozinhos não somos nada, mas se temos amigos por perto, deixaremos de ser apenas uma gota de água na imensidão do oceano

4° lição: Não se deixar derrotar pelas adversidades

Durante o inverno rigoroso, os bambus chegar a de curvar de tanta neve sobre eles, porém mesmo ficando por tanto tempo envergado, assim que a neve cai ou derrete, o bambu volta ao seu lugar como se nada tivesse acontecido. Como algo que é oco por dentro e aparentemente tão leve, consegue aguentar um fardo tão pesado e ao se livrar dele, voltar majestosamente à sua posição vertical, sem sequelas?

A razão é que o bambu tem por todo seu tronco algo parecido com nós e são eles que dão ao bambu a força e a resistência para suportar todas as suas adversidades. Em nossa vida, os nós podem estar representados através das pessoas que amamos e que estão sempre junto de nós para nos ajudar a enfrentar as dificuldades da vida.

5° lição: Busca a sabedoria no vazio

O interior oco do bambu nos lembra que muitas vezes, enchemos nossos pensamentos com nossas próprias conclusões preconcebidas e com isso não deixamos espaço para mais nada. Não se pode encher um copo se ele já está cheio. Para receber conhecimento, temos que estar abertos à tudo que é novo e diferente.

Portanto, devemos esvaziar nossa mente de tudo que não irá acrescentar nada em nossas vidas e que somente nos faz perder nosso tempo. Quando esvaziamos a mente, retirando todos os preconceitos, orgulhos e medos, nos tornamos mais abertos às possibilidades e às oportunidades de aprender cada vez mais.

6° lição: Cresce sempre e sempre para o alto

O bambu é uma das plantas que mais crescem no mundo, e o melhor – Só crescem para o alto. Pense que assim como o bambu, você também tem um potencial incrível para crescer. Devemos sempre olhar para o alto e seguir adiante com nossas experiências. O céu deve ser nosso limite, assim como o bambu.

Na vida precisamos ter metas e evoluir sempre, mesmo que não se perceba o próprio progresso. O bambu cresce mais rápido em torno da estação chuvosa. Às vezes, podemos também ter “estações” onde crescemos mais e outras “estações”, que crescemos menos. No entanto, é importante que o crescimento seja contínuo.

7° lição: Procura buscar a simplicidade

O bambu tem galhos pequenos e ele nos ensina que não devemos perder tempo criando galhos enormes. Esses galhos seriam as coisas materiais e inúteis, nas quais muitas vezes nos apegamos desnecessariamente, se esquecendo que desta vida, nada disso se leva, a não ser a experiência e a sabedoria que adquirimos ao longo da vida.

Isso significa que não devemos perder tempo com coisas que não nos levarão a lugar nenhum. Ao invés disso, devemos focar em nossas metas e buscar na simplicidade um degrau para a nossa subida. Não será tomando o espaço do outro com seus galhos ou então usá-los para demonstrar “soberba” e “arrogância” que nos trará felicidade.

Às vezes, gastamos muito do nosso tempo tentando mostrar que somos isso ou aquilo, talvez para convencer os outros – e a nós mesmos – que somos dignos de atenção e elogios. Nem nos damos conta que a simplicidade também pode impressionar as pessoas. Que sejamos como o bambu: Simples e útil.

***

contioutra.com - As 7 lições que podemos aprender com o bambu japonêsVocê, assim como nós aqui da Conti outra, é um grande admirador da cultura japonesa?

Acompanhe também o site de origem dessa matéria: o “Japão em Foco

Este Não-Futuro que a Gente Vive

Este Não-Futuro que a Gente Vive

Será que nos resta muito depois disto tudo, destes dias assim, deste não-futuro que a gente vive? (…) Bom, tudo seria mais fácil se eu tivesse um curso, um motorista a conduzir o meu carro, e usasse gravatas sempre. Às vezes uso, mas é diferente usar uma gravata no pescoço e usá-la na cabeça. Tudo aconteceu a partir do momento em que eu perdi a noção dos valores. Todos os valores se me gastaram, mesmo à minha frente. O dinheiro gasta-se, o corpo gasta-se. A memória. (…) Não me atrai ser banqueiro, ter dinheiro. Há pessoas diferentes. Atrai-me o outro lado da vida, o outro lado do mar, alguma coisa perfeita, um dia que tenha uma manhã com muito orvalho, restos de geada… De resto, não tenho grandes projectos. Acho que o planeta está perdido e que, provavelmente, a hipótese de António José Saraiva está certa: é melhor que isto se estrague mais um bocadinho, para ver se as pessoas têm mais tempo para olhar para os outros.

Al Berto, in “Entrevista à revista Ler (1989)”

Via Citador

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