“As sem-razões do amor”, afinal, por que explicar o que está acima de toda e qualquer razão?

“As sem-razões do amor”, afinal, por que explicar o que está acima de toda e qualquer razão?

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

(Poema publicado no livro “Amar se aprende amando” Rio de Janeiro: Record. 1985.)

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“O Impossível Carinho”, num transbordar de ternura

“O Impossível Carinho”, num transbordar de ternura

O Impossível Carinho

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor_
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manoel Bandeira 

 Poema publicado no livro “Os Melhores Poemas de Manuel Bandeira”, de Org. Francisco de Assis Barbosa, 1984.

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Elena Karneeva

 

Hoje tomei a decisão de ser eu, por Fernando Pessoa

Hoje tomei a decisão de ser eu, por Fernando Pessoa

Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.

Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.

Fernando Pessoa, ‘Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação’

Via Citador

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Pintura em azulejos com base no retrato de Fernando Pessoa realizado por Almada Negreiros – Salão Nobre da Universidade Fernando Pessoa, Porto – PORTUGAL

Se me esqueceres, poema de Pablo Neruda

Se me esqueceres, poema de Pablo Neruda

Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Pablo Neruda, in “Poemas de Amor de Pablo Neruda”

Via Citador 

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Vincent Van Gogh

Sobre Viver , por Diego Engenho Novo

Sobre Viver , por  Diego Engenho Novo

Por Diego Engenho Novo

Para sobreviver, abra os olhos. Para viver, acorde. Logo em seguida, levante-se. Mas se o plano é viver, dê para si aqueles cinco minutinhos preciosos. Para sobreviver, limpe-se. Se está vivo, banhe-se cantando algo que te lembra infância. Escove bem os dentes, seja rápido, mas incisivo. Se prefere viver, faça caretas, desmascare as rugas novas, desmascare a si mesmo. Você pode sentir o cheiro e as cores das coisas que come, ou se contentar em respeitar as calorias. Quem vive, alimenta também a alma. Quem sobrevive, come.

Seja bom em alguma coisa na vida ou somente arrume um trabalho. Para sobreviver, seja prático. Para viver, prefira ser verdadeiro. Tenha piripaques pouco antes das reuniões. Reunião não é coisa de gente que vive. Mande mensagens durante o dia. Se você é sobrevivente, envie cobranças: de organização, de afeto, de dinheiro emprestado. Se você está vivo, prefira frases assanhadas, dê bom dia para um amigo que você nem sabe se mantém aquele mesmo número antigo, passe trotes inofensivos para a pobre da sua mãe, como dizer que o Palmeiras perdeu, e depois riam juntos.

Para sobreviver, vá sempre ao mesmo bar em que você já conhece as pessoas, o atendimento e o cardápio de cor. Se você está vivo será atraído por portinhas e turista da cidade em que sempre viveu. Quem sobrevive tolera gente que incomoda, porque sabe que um dia vai precisar delas. Quem vive incomoda quem só o tolera e não tem muito tempo para discutir quem tem o carro melhor. O carro melhor é o seu, ora bolas! Leve a gente pra passear.

Quem sobrevive, tem uma imagem a zelar. Quem vive, é livre dela. Quem sobrevive, mantém o curso da vida mesmo relativamente infeliz. Quem vive, jamais sobreviveria com a desconfiança de que lá na frente pode acabar não sendo feliz. Tem casamento que sobrevive. Mas amor, a gente sabe bem: ninguém sobrevive um amor. Amor a gente vive. E assim será: quem sobrevive, é. Quem vive, está. Quem sobrevive, tem. Quem vive, dá. Quem sobrevive, se culpa. Quem vive, perdoa-se. Quem sobrevive, busca a beleza, mas só quem vive a encontra.

Grandma (Oma), animação sobre o processo de superação da morte da avó

Grandma (Oma), animação sobre o processo de superação da morte da avó

Grandma (Oma) é um curta de animação, dirigido por Karolien Raeymaekers, que retrata a história de uma menina que tem de dominar o seu medo em relação à iminente perda da sua avó que está gravemente doente.

Permeada por delicadeza e um toque de suspense, a animação mostra as sutilezas da relação única entre avó e neta e o fantasma da morte e da perda.

Sozinha a criança enfrenta o luto em um processo de desbravamento do ciclo da vida. É preciso encarar o medo para que as sombras se dissipem e o sol volte a brilhar.

Josie Conti

Grandma (Oma) from Cartoon Brew on Vimeo.

E quando a família não consegue cuidar do seu ente querido em casa?

E quando a família não consegue cuidar do seu ente querido em casa?

Por Marcela Alice Bianco e Josie Conti

Em algum momento da vida de nossas famílias precisaremos lidar com o adoecimento e a dependência temporária ou permanente de um de nossos entes queridos. Tal evento configura-se como um período de crise, o qual exige adaptação às novas demandas individuais e familiares como um todo. A primeira decisão a ser tomada é quem irá assumir os cuidados e se isso ocorrerá dentro ou fora do ambiente familiar.

Momento permeado por uma variedade de sentimentos, que, dependendo de como a família está estruturada, pode ser mais ou menos estressante. Cuidar de um outro ser humano exige um grau de desprendimento que nem todos são capazes de ter, ora por características pessoais, ora por falta de disponibilidade.

“A evolução da doença leva todos ao limite, roça todos os sentimentos e chega a colocar em causa alguns afetos. A perda de dignidade é obscenamente evolutiva e depressa chega ao ponto da ruptura. O internamento é tão inevitável quanto doloroso, tão necessário quanto adiado ao limite.”
Sónia Bigodes, em “O meu pai tem Alzheimer”

Diferentemente do que ocorria no passado, em que as famílias eram maiores e o cuidado mútuo entre os membros era algo comum e cultivado geração após geração, vivemos um momento de diminuição do tamanho das famílias, com papéis mais dinâmicos e flexíveis, sendo que a mulher que antes assumia o cuidado da família, também está, na maioria das vezes, no mercado de trabalho. Múltiplas questões que afetam a disponibilidade para o cuidado e que limitam o número de cuidadores em momentos de crise.

Assim, muitas vezes, quando a família assume inicialmente o cuidado de alguém doente, a responsabilidade recai sobre um ou poucos membros, que são chamados de cuidadores principais.

Estes dividem as responsabilidades sobre o cuidado físico, emocional e material do dependente, em detrimento de suas próprias necessidades individuais. Quando esse cuidado é intenso e transcorre ao longo dos anos é que os cuidadores principais se percebem, em algum momento, cansados, estressados e exauridos em sua capacidade de cuidar.

Quando alguém adoece não há datas e “O tempo se torna opressivo quando a liberdade acaba e nossa esperança deixa de existir. Quando vivemos naquele tipo de infelicidade diária, começamos a pensar que o tempo nos oprime.” filósofo Mauro Maldonato, falando sobre o tempo.

As dificuldades encontradas no papel do cuidador surgem de diversas fontes: isolamento social dentro e fora da família, perda de liberdade, privacidade e tempo de lazer; necessidade de adaptação do ambiente doméstico ou até mudanças de moradia; conflitos familiares em consequência do papel do cuidador e da situação de cuidado; exigências do doente ou dos demais familiares; insegurança em relação ao cuidado oferecido (se é correto ou não) e falta de informações sobre a duração do comprometimento assumido, que pode perdurar até o falecimento de quem está sendo assistido.

“Para quem cuida, a maioria das necessidades pessoais passa para o segundo plano. São raríssimos os casos onde é possível dividir as funções entre pessoas próximas e manter alguma qualidade de vida. Também pode existir a intensificação de conflitos de relacionamento quando o doente e o cuidador já não tinham uma relação pessoal amistosa. Ao contrário da simplificada ideia do doente como vítima, há o contraponto de aspectos psiquiátricos que podem ser agravados pela limitação e pela revolta com relação à dependência e à nova situação de necessidade cuidados. Um doente pode escravizar toda uma família e torná-la, em diferentes aspectos, tão doente quanto ele.”

Nestes períodos, seria necessário avaliar quais os recursos pessoais e financeiros disponíveis para lidar com a situação. De um lado é possível lançar mão de estratégias de enfrentamento dentro da própria família. A contratação de um cuidador formal para auxiliar os cuidados no domicílio, a redistribuição dos cuidados entre os membros da família, o investimento no autocuidado para diminuir o estresse e manter um maior nível de qualidade de vida, a busca por informações e conhecimentos que auxiliem no cuidado. Entretanto, a urgência das circunstâncias e a cronicidade da doença podem fazer com que esse pensamento estratégico nunca seja colocado em prática. O mais comum é que um ou dois membros da família assumam desmedidamente todas as responsabilidades, tendo como resultado um processo cumulativo de desgaste e exaustão.

Quando, entretanto, as necessidades de cuidado físicos e emocionais extrapolam as capacidades  de um núcleo familiar, existe a real necessidade de avaliar a possibilidade de terceirizar os cuidados, por meio de instituições especializadas que podem ser um caminho que os familiares encontram para oferecer o suporte necessário ao familiar dependente.

Cuidar é um ato de amor, reconhecer os próprios limites também. E, com o passar do tempo, abrir mão de ser o cuidador pode ser a maior gentileza de alguém para consigo mesmo e para com o doente. Atos assim evitariam maus tratos dentro da casa e a total deterioração das relações.

No imaginário social, esta decisão é, muitas vezes, permeada de crenças e tabus que precisam ser discutidos mais abertamente, evitando reações preconceituosas ou sentimentos de culpa e remorso dos familiares que tomam essa decisão.

As clínicas destinadas aos cuidados, sendo os asilos ou clinicas de repouso, ainda são estigmatizadas por nossa cultura e, mesmo na mídia, como acontece com outras matérias, o enfoque é sempre para situações isoladas de maus tratos e negligência. Os aspectos saudáveis como a assistência 24 horas, uma equipe de enfermagem que trabalha em turnos e o tratamento humanizado nunca são veiculados. E nem é preciso dizer que o mesmo pensamento acontece com relação às instituições psiquiátricas.

Inúmeras pesquisas mostram que o estresse do familiar afeta negativamente a própria saúde e a qualidade dos cuidados oferecidos ao dependente. Cuidadores estressados e desgastados ou que não possuem os recursos necessários para atender as necessidades da tarefa podem agravar a situação do doente ao invés de contribuir para sua saúde.

Inúmeras pesquisas mostram que o estresse do familiar afeta negativamente a própria saúde e a qualidade dos cuidados oferecidos ao dependente. Cuidadores estressados e desgastados ou que não possuem os recursos necessários para atender as necessidades da tarefa podem agravar a situação do doente ao invés de contribuir para sua saúde.

 

Em alguns casos, a determinação da família pela institucionalização é taxada como negligência, falta de amor, zelo ou vontade dos familiares em cuidar do ente adoecido. Porém, precisamos pensar que, apesar de realmente haver descaso e abandono em certezas situações, muitas famílias, ao contrário, tomam essa decisão exatamente por desejarem o melhor ao familiar dependente. Ter a coragem e disposição para procurar ajuda externa pode ser também um ato de amor!

Clínicas de qualidade são abertas à visitação familiar em qualquer horário e algumas delas possuem até sistema de monitoramento por câmera que os familiares podem acessar de suas casas. A família deve ter claro, também, que colocar o familiar em uma instituição não precisa afastá-lo do contato frequente.

Quando inseridos em instituições sérias e eficientes, realmente comprometidas com o bem-estar e a qualidade do suporte oferecido, o ser cuidado pode receber um tratamento e acolhimento necessários para a manutenção da sua vida, com preservação do afeto e dos vínculos familiares além de ser inserido em atividades grupais e terem contato com outras pessoas que vivem situações semelhantes podendo ampliar seus vínculos sociais e de afeto.

E nesse processo de cuidado fora da família, podemos encontrar verdadeiros “anjos da guarda”. Pessoas que possuem o dom de cuidar com dedicação, carinho e técnica. Que oferecem ao paciente e a família o acalanto e o alívio num momento de profunda dor e crise.

Nos últimos meses de vida, quando os cuidados com o meu tio em casa tornaram-se muito complexos e as relações afetadas pelo desgaste e pela personalidade forte dele, a opção por internação em uma Clínica foi a melhor decisão que pudemos tomar. Nunca é fácil e há a necessidade de uma fase de transição e adaptação, mas a vinculação progressiva de meu tio com os profissionais e os cuidados que ele obteve na Clínica Recanto dos Anjos, de Atibaia, interior de São Paulo, foi impressionante. Além da amizade com os donos e funcionários, a quem, mesmo com a dificuldade causada pelo quadro de demência que se instalara, memorizava os nomes.

Meu tio, após nossas visitas de domingo e segunda, faleceu na terça feira nos braços da enfermeira Bete, uma das que ele mais estimava e que o tratava com imenso carinho.  Outro amigo que fez foi o Gê, a quem ele chamava o tempo todo e que o levava para fumar dois cigarros por dia (o vício de uma vida e que provocou seu câncer). Mesmo sendo ex fumante, o Gê, o acompanhava, ajudou-o a reduzir a quantidade de cigarros significativamente e conversava com ele por longos períodos. Em uma das últimas visitas que fizemos neste mês, Gê o carregou nos braços para levá-lo até o hospital, em um ato carinhoso que muitos filhos não são capazes de fazer por seus pais. E isso sem mencionar os demais nomes dos outros profissionais amigos que tão bem nos acolheram nesse período de nossa jornada.  Josie Conti

A esses profissionais cuidadores transmitimos nossa mais profunda admiração e respeito.

E aos familiares que precisam terceirizar os cuidados de um ente querido por amor e zelo, que se sintam acolhidos em suas decisões e amparados em suas angústias e sofrimento. Que não precisem sentir remorso ou culpa pela decisão tomada, pois ela nasceu do mais profundo sentimento de que era o melhor a se fazer.

E, para finalizar, um lindo texto que recebemos ontem a noite…

Uma carta ditada pela alma, por Isabel Sottomayor

Em dada altura da vida, raras vezes, o corpo começa a efetuar desconexões com a alma; quase imperceptíveis. Começa nas pequenas torturinhas de memorização dos ondes, dos quems e dos quandos.

Rigores pouco importantes.

Tão pouco que ninguém se importa. Ou repara ….muito. Apenas eu, no meu ego de super-eficiente, na sua intensificação, por um lado me irrito, mais irascível que estou, com a minha alma, sem saber que a culpa é do meu Corpo, por outro lado, me zango com os outros, com medo que encontrem defeitos na minha Alma, seguindo esse meu preconceito, já como defesa.

Sim, pois ao confundir já, então, a causa com a consequência e, essa, com a circunstãncia, produz-se a imagem de que tudo é apenas temporário.

Mas se permanecesse temporário, faria algo…

A permanência significa, no meu caso, um avanço de estado, ou seja, o meu gradual esquecimento das urgências anteriores, tal como os ondes…. Em simultãneo com o reconhecimento doloroso, pelos outros, dessas ocorrências, são o primeiro dado oficial que temos da separação do Corpo e da Alma. Por culpa do Corpo. Antes, parecia-me que algo de grave se passava de fora para dentro. Mas isso era no início.

Quando afinal era de dentro para fora.

E talvez não fosse tão grave, mas definitivamente não era desejado nem previsto.

A leitura médica fala numa escada descendente. Limite de anos.

Desconforto e sintomas habituais.

Isso é o que se passa com o Corpo e os seus órgãos.

Depois há a Alma!

Carta em que Fernando Pessoa esclarece a origem de seus heterônimos

Carta em que Fernando Pessoa esclarece a origem de seus heterônimos

A genialidade com que Fernando Pessoa teria criado os seus heterônimos, bem como a riqueza poética havida em cada um deles, sempre intriga e instiga-nos à compreensão. A explicação abaixo é do próprio Pessoa e certamente será esclarecedora.

[Carta a Adolfo Casais Monteiro – 13 Jan. 1935]
Caixa Postal 147
Lisboa, 13 de Janeiro de 1935.

“Meu prezado Camarada:

Muito agradeço a sua carta, a que vou responder imediata e integralmente. Antes de, propriamente, começar, quero pedir-lhe desculpa de lhe escrever neste papel de cópia. Acabou-se-me o decente, é domingo, e não posso arranjar outro. Mas mais vale, creio, o mau papel que o adiamento.

Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que nunca eu veria «outras razões» em qualquer coisa que escrevesse, discordando, a meu respeito. Sou um dos poucos poetas portugueses que não decretou a sua própria infalibilidade, nem toma qualquer crítica, que se lhe faça, como um acto de lesa-divindade. Além disso, quaisquer que sejam os meus defeitos mentais, é nula em mim a tendência para a mania da perseguição. À parte isso, conheço já suficientemente a sua independência mental, que, se me é permitido dizê-lo, muito aprovo e louvo. Nunca me propus ser Mestre ou Chefe-Mestre, porque não sei ensinar, nem sei se teria que ensinar; Chefe, porque nem sei estrelar ovos. Não se preocupe, pois, em qualquer ocasião, com o que tenha que dizer a meu respeito. Não procuro caves nos andares nobres.

Concordo absolutamente consigo em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz com um livro da natureza de «Mensagem». Sou, de facto, um nacionalista místico, um sebastianista racional. Mas sou, à parte isso, e até em contradição com isso, muitas outras coisas. E essas coisas, pela mesma natureza do livro, a «Mensagem» não as inclui.

Comecei por esse livro as minhas publicações pela simples razão de que foi o primeiro livro que consegui, não sei porquê, ter organizado e pronto. Como estava pronto, incitaram-me a que o publicasse: acedi. Nem o fiz, devo dizer, com os olhos postos no prémio possível do Secretariado, embora nisso não houvesse pecado intelectual de maior. O meu livro estava pronto em Setembro, e eu julgava, até, que não poderia concorrer ao prémio, pois ignorava que o prazo para entrega dos livros, que primitivamente fora até fim de Julho, fora alargado até ao fim de Outubro. Como, porém, em fim de Outubro já havia exemplares prontos da «Mensagem», fiz entrega dos que o Secretariado exigia. O livro estava exactamente nas condições (nacionalismo) de concorrer. Concorri.

Quando às vezes pensava na ordem de uma futura publicação de obras minhas, nunca um livro do género de «Mensagem» figurava em número um. Hesitava entre se deveria começar por um livro de versos grande — um livro de umas 350 páginas — , englobando as várias subpersonalidades de Fernando Pessoa ele mesmo, ou se deveria abrir com uma novela policiária, que ainda não consegui completar.
Concordo consigo, disse, em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz, com a publicação de «Mensagem». Mas concordo com os factos que foi a melhor estreia que eu poderia fazer. Precisamente porque essa faceta — em certo modo secundária — da minha personalidade não tinha nunca sido suficientemente manifestada nas minhas colaborações em revistas (excepto no caso do Mar Português parte deste mesmo livro) — precisamente por isso convinha que ela aparecesse, e que aparecesse agora. Coincidiu, sem que eu o planeasse ou o premeditasse (sou incapaz de premeditação prática), com um dos momentos críticos (no sentido original da palavra) da remodelação do subconsciente nacional. O que fiz por acaso e se completou por conversa, fora exactamente talhado, com Esquadria e Compasso, pelo Grande Arquitecto.

(Interrompo. Não estou doido nem bêbado. Estou, porém, escrevendo directamente, tão depressa quanto a máquina mo permite, e vou-me servindo das expressões que me ocorrem, sem olhar a que literatura haja nelas. Suponha — e fará bem em supor, porque é verdade — que estou simplesmente falando consigo).

Respondo agora directamente às suas três perguntas: (1) plano futuro da publicação das minhas obras, (2) génese dos meus heterónimos, e (3) ocultismo.

Feita, nas condições que lhe indiquei, a publicação da «Mensagem» , que é uma manifestação unilateral, tenciono prosseguir da seguinte maneira. Estou agora completando uma versão inteiramente remodelada do Banqueiro Anarquista, essa deve estar pronta em breve e conto, desde que esteja pronta, publicá-la imediatamente. Se assim fizer, traduzo imediatamente esse escrito para inglês, e vou ver se o posso publicar em Inglaterra. Tal qual deve ficar, tem probabilidades europeias. (Não tome esta frase no sentido de Prémio Nobel imanente). Depois — e agora respondo propriamente à sua pergunta, que se reporta a poesia — tenciono, durante o verão, reunir o tal grande volume dos poemas pequenos do Fernando Pessoa ele mesmo, e ver se o consigo publicar em fins do ano em que estamos. Será esse o volume que o Casais Monteiro espera, e é esse que eu mesmo desejo que se faça. Esse, então, será as facetas todas, excepto a nacionalista, que «Mensagem» já manifestou.

Referi-me, como viu, ao Fernando Pessoa só. Não penso nada do Caeiro, do Ricardo Reis ou do Álvaro de Campos. Nada disso poderei fazer, no sentido de publicar, excepto quando (ver mais acima) me for dado o Prémio Nobel. E contudo — penso-o com tristeza — pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!
Creio que respondi à sua primeira pergunta.

Se fui omisso, diga em quê. Se puder responder, responderei. Mais planos não tenho, por enquanto. E, sabendo eu o que são e em que dão os meus planos, é caso para dizer, Graças a Deus!

Passo agora a responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos. Vou ver se consigo responder-lhe completamente.
Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriarmente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos — felizmente para mim e para os outros — mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo — os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher — na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas — cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem — e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia…

Isto explica, tant bien que mal, a origem orgânica do meu heteronimismo. Vou agora fazer-lhe a história directa dos meus heterónimos. Começo por aqueles que morreram, e de alguns dos quais já me não lembro — os que jazem perdidos no passado remoto da minha infância quase esquecida.

Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos). Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar.

Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou, antes, o meu primeiro conhecido inexistente — um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era, não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas… Coisas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida — ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.

Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem suponho que sou. Dizia-o, imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura — cara, estatura, traje e gesto — imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto vejo… E tenho saudades deles.

(Em eu começando a falar — e escrever à máquina é para mim falar — , custa-me a encontrar o travão. Basta de maçada para si, Casais Monteiro! Vou entrar na génese dos meus heterónimos literários, que é, afinal, o que V. quer saber. Em todo o caso, o que vai dito acima dá-lhe a história da mãe que os deu à luz).

Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis).
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro — de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente… Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.

Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos — a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.

Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia eu puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria.

Quando foi da publicação de «Orpheu», foi preciso, à última hora, arranjar qualquer coisa para completar o número de páginas. Sugeri então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema «antigo» do Álvaro de Campos — um poema de como o Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o Opiário, em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro. Foi dos poemas que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalização que tive que desenvolver. Mas, enfim, creio que não saiu mau, e que dá o Álvaro em botão…

Creio que lhe expliquei a origem dos meus heterónimos. Se há porém qualquer ponto em que precisa de um esclarecimento mais lúcido — estou escrevendo depressa, e quando escrevo depressa não sou muito lúcido — , diga, que de bom grado lho darei. E, é verdade, um complemento verdadeiro e histérico: ao escrever certos passos das Notas para recordação do meu Mestre Caeiro, do Álvaro de Campos, tenho chorado lágrimas verdadeiras. É para que saiba com quem está lidando, meu caro Casais Monteiro!

Mais uns apontamentos nesta matéria… Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Alvaro de Campos. Construi-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos — o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma — só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.

Como escrevo em nome desses três?… Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis — ainda inédita — ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso).

Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.

Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo (escreveu o poeta). Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Extrema do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeiro de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente — o que é facto — que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1881. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a ordem) trechos de Rituais que estão em trabalho.

Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.

Abraça-o o camarada que muito o estima e admira.

Fernando Pessoa

Conheça o trailer do documentário sobre Nina Simone que estréia em junho

Conheça o trailer do documentário sobre Nina Simone que estréia em junho

Nina Simone foi uma grande pianista, cantora e compositora americana. O nome artístico foi adotado aos 20 anos, para que pudesse cantar Blues, nos cabarés de Nova Iorque, Filadélfia e Atlantic City, escondida de seus pais, que eram pastores metodistas. “Nina” veio de pequena (“little one”) e “Simone” foi uma homenagem à grande atriz do cinema francês Simone Signoret, sua preferida.

Nina Simone, quando jovem foi impedida a ingressar em um conservatório de música na Filadélfia também se destacou e foi perseguida por abraçar publicamente todo tipo de combate ao racismo. Seu envolvimento era tal, que chegou a cantar no enterro do pacifista Martin Luther King. Casada com um policial nova-iorquino, Nina também sofreu com a violência do marido, que a espancava. E tudo isso, dizia ela, que tinha acontecido, as portas tinham se fechado, por ser negra.

Depois de fracassar na tentativa de ser uma grande concertista através do conservatório, Nina ficou algum tempo em Nova Yorque até ir para Atlantic City, e lá trabalhando como pianista em um bar foi obrigada a cantar para não perder o emprego, e tocar piano era o que ela fazia. Então se tornou Nina Simone, como se batizou naquela ocasião. Cantou músicas clássicas e imortalizou hits como “Feeling Good”, “Aint Got No – I Got Life”, “I Wish I Know How It Would Feel To Be Free”, e “Here Comes The Sun”, além de “My Baby Just Cares For Me” que gravou e apareceu numa propaganda de perfume francês.

Em um breve contato com sua obra, aqueles que não conhecem percebem logo a diversidade de estilos pelos quais Nina Simone se aventurou, desde o gospel, passando pelo soul, blues, folk e jazz. Foi uma das primeiras artistas negras a ingressar na renomada Juilliard School of Music, em Nova Iorque. Sua canção “Mississippi Goddamn” tornou-se um hino ativista da causa negra, e fala sobre o assassinato de quatro crianças negras numa igreja de Birmingham em 1963.

Nina esteve duas vezes no Brasil, gravou com Maria Bethânia e seu último show ocorreu em 1997 no Metropolitan. Era uma intérprete visceral, compositora inspirada e tocava piano com energia e perfeição. Morreu enquanto dormia em Carry-le-Rouet em 2003. (Wikipédia)

Produzido pela Netflix e dirigido pela cineasta Liz Garbus, o documentário “What Happened, Miss Simone?” narra a brilhante e tumultuada vida da cantora Nina Simone, que teve uma carreira de quase 50 anos e se destacou por sua marcante voz contralto, por sua personalidade explosiva e pelo talento como pianista.

O filme já foi exibido nos festivais de Sundance, Berlim e no brasileiro É Tudo Verdade. A Netflix anunciou em março que o documentário estreia no serviço de streaming no dia 26 de junho deste ano. (Cinema com Rapadura)

Veja o trailer legendado:

SAÚDE MENTAL, uma sábia reflexão de Rubem Alves

SAÚDE MENTAL, uma sábia reflexão de Rubem Alves

Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.

Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maikóvski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh se matou. Wittgenstein se alegrou ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakóvski suicidou.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.

Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as ideias se comportam bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado, nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!), ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, que tenha a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa…

Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idiotas de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. É claro que nenhuma mamãe consciente quererá que o seu filho seja como Van Gogh ou Maiakóvski. O desejável é que seja executivo de grande empresa, na pior das hipóteses funcionário do Banco do Brasil ou da CPFL. Preferível ser elefante ou tartaruga a ser borboleta ou condor. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego. Mas nunca ouvi falar de político que tivesse stress ou depressão, com exceção do Suplicy. Andam sempre fortes e certos de si mesmos, em passeatas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.

Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas se chama hardware, literalmente coisa dura e a outra se denomina software, coisa mole. A hardware é constituída por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. A software é constituída por entidades espirituais – símbolos, que formam os programas e são gravados nos disquetes.

Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos, o cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo espirituais, sendo que o programa mais importante é linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.

Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.

Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e acessórios, o software, tenha a capacidade de ouvir a música que ele toca, e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta, e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei, no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.

A beleza pode fazer mal à saúde mental. Sábias, portanto, são as empresas estatais, que têm retratos dos governadores e presidentes espalhados por todos os lados: eles estão lá para exorcizar a beleza e para produzir o suave estado de insensibilidade necessário ao bom trabalho.

Dadas essas reflexões científicas sobre a saúde mental, vai aqui uma receita que, se seguida à risca, garantirá que ninguém será afetado pelas perturbações que afetaram os senhores que citei no início, evitando assim o triste fim que tiveram.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente perigosos. Já o roque pode ser tomado à vontade, sem contra indicações. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do Dr. Lair Ribeiro, por que arriscar-se a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. A saúde mental é um estômago que entra em convulsão sempre que lhe é servido um prato diferente. Por isso que as pessoas de boa saúde mental têm sempre as mesmas ideias. Essa cotidiana ingestão do banal é condição necessária para a produção da dormência da inteligência ligada à saúde mental. E, aos domingos, não se esqueca do Sílvio Santos e do Gugu Liberato.

Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, ao invés de ter o fim que tiveram os senhores que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já não mais saberá como eles eram.
(Provavelmente escrito em 1994)

Conheça o Instituto Rubem Alves e participe de seus projetos.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

Jogando luz sobre o Alzheimer, no filme “Para Sempre, Alice”

Jogando luz sobre o Alzheimer, no filme “Para Sempre, Alice”

Por Octavio Caruso

Se, por um lado, o roteiro do filme é estruturado como um projeto televisivo exploitation da década de noventa, há de se aplaudir a coragem na escolha do tema, que precisa realmente ser discutido, ele precisa estar nos holofotes. Com exceção de “Amor”, de Michael Haneke, “O Filho da Noiva”, de Campanella, e “A Separação”, de Asghar Farhadi, o Alzheimer normalmente é utilizado com excesso de melodrama, um recurso pouco elegante, apelativo.

“Para Sempre, Alice”, do diretor Richard Glatzer, não chega a entrar nessa categoria, por pouco, porém, é vítima de uma utilização minuciosamente calculada, o que dá a impressão de que trata a doença como força motriz banal para um gradual crescendo de suspense, buscando lágrimas, algo que se poderia esperar, por exemplo, de uma telenovela mexicana.

O filme acerta ao retratar os vários estágios da doença, a desorientação, as distorções visuais, a reação dos familiares, como o marido, vivido por Alec Baldwin, que prefere fingir crer que não há nada de errado, como forma de mascarar sua preocupação. Outro ponto importante que é salientado, o fato de que, diferente do senso comum, o estereótipo que se limita aos devastadores estágios finais, o Alzheimer já passa a ser uma árdua batalha desde a averiguação inicial dos sintomas, que causam no indivíduo uma perda total de autoestima, os primeiros passos de uma jornada solitária por uma longa estrada cada vez mais escura.

A atuação de Julianne Moore, que vive uma professora de linguistica que começa a perceber estar esquecendo as palavras, acompanha a proposta folhetinesca da condução da trama, porém, em pequenos momentos, muito discretos, ela demonstra grande inteligência, como quando, no início do filme, ela, em um discurso público, enfatiza sua preocupação exagerada com cada sílaba proferida, enriquecendo, em subtexto, a fragilidade do roteiro.

Essa atitude diz muito sobre a personalidade dela, e, especialmente, sobre a importância psicológica de sua formação profissional, enquanto alicerce principal de sua segurança. Ao perceber os primeiros sinais da doença, ela perde sua confiança, desaba, já que todos os elementos externos, família, amigos, são coadjuvantes de luxo em sua vida. Moore preenche com essas sutilezas o histórico de sua personagem, que o filme se limita a revelar, de forma canhestra e convencional, em flashbacks bucólicos.

O filme acerta ao retratar os vários estágios da doença, a desorientação, as distorções visuais, a reação dos familiares, como o marido, vivido por Alec Baldwin, que prefere fingir crer que não há nada de errado, como forma de mascarar sua preocupação. Outro ponto importante que é salientado, o fato de que, diferente do senso comum, o estereótipo que se limita aos devastadores estágios finais, o Alzheimer já passa a ser uma árdua batalha desde a averiguação inicial dos sintomas, que causam no indivíduo uma perda total de autoestima, os primeiros passos de uma jornada solitária por uma longa estrada cada vez mais escura.

O medo usualmente faz com que as pessoas temam tocar no assunto, o que é sempre prejudicial. Quanto mais filmes e livros forem feitos sobre o tema, maiores serão as chances de que, num futuro próximo, as vítimas tenham um problema a menos para se preocuparem: a ignorância da sociedade.

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Conheça também:  Uma Arte, poema de Elizabeth Bishop citado no filme “Para sempre Alice”

OCTAVIO CARUSO

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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

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O menino que carregava água na peneira

O menino que carregava água na peneira
Bordados Dumont

O poeta Manoel de Barros é de uma ternura imensurável. Quando fala de crianças, da infância, da sua iniciação na arte de ver a poesia do mundo, nos ínfimos e talvez desprezíveis seres, ele consegue superar-se a si mesmo…

É hora de conhecer ou de matar a saudade de um menino muito especial:

Ele carregava água na peneira e se fez amar por seus despropósitos.

Eis o poema:

.

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

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A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

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A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Manoel de Barros

O “peixe de ferro da sorte”: receita médica para a cura da anemia

O “peixe de ferro da sorte”: receita médica para a cura da anemia

Eis mais uma prova de que nas coisas simples podem estar escondidas soluções para muitos problemas da humanidade.

Christopher Charles, médico canadense, criou um peixinho de ferro que, mesmo cabendo na palma na mão, é capaz de nadar em incontáveis refeições por todo o mundo e pode significar um grande avanço na erradicação da anemia.

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O peixe custa, em média, R$ 80 e já faz parte do cotidiano  de milhares de famílias no Camboja — país assolado pela desnutrição infantil há anos — e agora pretende “nadar” nas refeições de todo o planeta, resolvendo o problema da deficiência de ferro de muitas outras nações.

Chamado de “peixinho de ferro da sorte”, é muito simples utilizar o peixe: basta fervê-lo junto aos outros alimentos, nas refeições. A quantidade de ferro liberada do peixe é a dose necessária a ser consumida diariamente por crianças e adultos. 

Qual o futuro da família? – Flávio Gikovate

Qual o futuro da família? – Flávio Gikovate

O clã familiar diminui à medida que o individualismo avança.

Nesse sentido, os vínculos se sustentam em virtude de sinceros prazeres no convívio, beneficiando as relações de amizade, que se dão por escolhas, em detrimento às relações familiares.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

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Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br


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