Vou tentando me encontrar

Vou tentando me encontrar
Por Adriana Vitória
Ele é maravilhoso ! Temos muito em comum ! Ela adora meus filhos ! Ele é bonzinho ! Ela é legal ! Ela é divertida ! E por aí vai …

Essas são algumas das muitas expressões que tenho ouvido ao longo dos anos. Alguns meses, semanas ou até, dias depois a coisa muda:

Ele é um egoísta ! Ela é muito chata, não gosta de fazer nada que eu gosto ! Ele não suporta meus filhos! Ela é pão dura ! E seguem as lamentações quase como refrões.
É o fim ! Mais um ! E a fila, que mais parece a de um banco, segue em frente aumentando cada dia mais a frustração.
A solidão anda incomodando cada vez mais, e na tentativa de resolver a questão, tenho visto muita gente, cada vez mais deprimida e desesperançada,  se apaixonando pelo primeiro(a) que aparece e logo desaparece, como na música de Altemar Dutra, “Você não me Ensinou a te Esquecer”:

“E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro”

Ou nesse:
“Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho”

E termina:
“Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar

Na tentativa de denunciar o abandono, acabamos nos denunciando. A música deixa claro que o indivíduo esta em busca de si mesmo.

Linda música ! Linda e melancólica.
A verdade é que, a solidão só aparece para aqueles que não suportam o vácuo, aqueles momentos tão necessários em que estamos cara a cara conosco, nossos medos, ansiedades e necessidades, então partem em busca de um lugar “seguro”, aquele que nos distancia de tudo que mais tememos, nós mesmos.
Nunca entenderam que, este contato é fundamental para desmistificar nossos fantasmas, descobrir nossas qualidades, nos transformar, tomar fôlego e pegar a estrada novamente, renovados e mais maduros.
Não há mágica no ciclo da vida, é a única forma de crescer.As eternas frustrações seriam evitadas se parássemos de tentar nos encontrar no outro e no outro, fugindo de nós mesmos, iludidos e refugiados em “casamentos” ou “sociedades” amargas com pessoas que mal conhecemos. E como poderíamos se nem nos demos a chance de sabermos quem somos e o que de fato queremos ?Seguimos sabotando a nós mesmos com a ilusão de que o próximo irá proporcionar a felicidade tão desejada e o amor tão esperado. A angustia só termina quando paramos para nos apreciar, arrumar a bagunça e seguir em frente.Quantos de nós, hipocritamente,  não acham graça daqueles que passam anos sozinhos sem querer sair com qualquer um ? Como diz o ditado: “Antes só do que mal acompanhado.”

Muito se perde ao longo dos anos com esta recusa, incluindo nosso tempo de vida desperdiçado com quem não tem nada em comum conosco. Se perdem as oportunidades de se ser feliz profissionalmente e até de encontrar quem de fato seria, o amor da nossa vida.

Não confundam tudo isto com amor. O amor não julga e nem cobra porque não precisa, ele sabe a quem pertence.
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Todos ambicionam a paz. Que fazes para sustentá-la?

Todos ambicionam a paz. Que fazes para sustentá-la?

Na tarefa da paz

Todos ambicionam a paz. Raros ajudam-na.
Que fazes por sustentá-la?
Recorda que a segurança dos aparelhos mais delicados depende, quase sempre, de
parafusos pequeninos ou de junturas inexcedivelmente singelas.
Não haverá tranqüilidade no mundo, sem que as nações pratiquem a tolerância e a
fraternidade.
E se a nação é conjunto de cidades, a cidade é um agrupamento de lares, tanto quanto o
lar é um ninho de corações.
A harmonia da vida começará, desse modo, no íntimo de nossas próprias almas ou toda
harmonia aparente na paisagem humana será sempre simples jogo de inércia.
Comecemos, pois, a sublime edificação no âmago de nós mesmos.
Não transmitas o alarme da crítica, nem estendas o fogo da crueldade.
Inicia o teu apostolado de paz, calando a inquietação no campo do próprio ser.

Emmanuel

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Papa Francisco revela leitura do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire

Papa Francisco revela leitura do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire

Conforme noticiado pela Revista Fórum, há algum tempo, o Papa Francisco recebeu, no Vaticano, a viúva do Pedagogo Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire,  em encontro privado que durou cerca de 40 minutos.

A audiência fora solicitada viúva e ocorreu há cerca de um mês para pedir ao Bispo de Roma que intercedesse junto aos sacerdotes de sorte a trazerem a público as cartas que lhes foram escritas por Paulo Freire acerca da Teologia da Libertação (corrente latino-americana que defende que a igreja deve estar sempre voltada às necessidades dos menos favorecidos).

Solicitou, ainda, que fossem abertos os arquivos do Vaticano para que se pudesse pesquisar a possível influência do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, nos pontificados a partir de 1970, data de sua publicação.

A viúva de nosso notável pedagogo e grande humanista obteve uma notícia que revela, de pronto, a grandeza da obra de Freire e sua repercussão junto à Igreja Católica: o Papa Francisco revelou ter lido o livro “Pedagogia do Oprimido”.

O livro mencionado por Francisco e todos  os demais livros de Paulo Freire podem ser baixados gratuitamente, no Acervo Paulo Freire.

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O desconhecido

O desconhecido

Por Patrícia Pinheiro

Sabe, um dia desses, em um desses momentos únicos, em que mergulhamos na infinitude de nossos pensamentos e parecemos esquecer do resto do mundo, minha mente me fez a seguinte pergunta: o que dá sentido a vida?

O que nos faz ter a vontade de levantar todo dia pela manhã e abrir a janela, mesmo quando o sol insiste em não aparecer?

Talvez seja uma ousadia, e até mesmo bobagem da minha parte tentar desvendar esse mistério, mas acredito que a resposta dessa pergunta pode ser resumida em apenas uma palavra: o desconhecido.

Já parou para pensar se nossa vida fosse um livro escrito, a partir do qual teríamos acesso não só aos grandes, como aos pequenos acontecimentos de nosso dia a dia?

Sendo assim, você levaria o guarda chuva ao sair de casa, pois saberia que a chuva viria, mas não desfrutaria da sensação única que é sentir ela escorrendo pelo seu corpo.

Você não tomaria as decisões erradas, mas também não teria a chance de adquirir o amadurecimento que, muitas vezes, só elas são capazes de nos fornecer.

Você não escolheria se apaixonar e se envolver com alguém que, segundo seu livro, irá te fazer sofrer, porém não traria consigo lindas lembranças dos momentos que dividiram juntos.

Mas não. Felizmente não é assim. Somos convidados cada dia a ir deitar sem saber o que esperar do dia de amanhã.

E é isso, esse total mistério e infinitude de possibilidades que nos dá, se não o sentido, a vontade de viver.

Tudo bem, a vida pode até ser um livro, mas somos nós quem pegamos o lápis e o preenchemos a cada dia com nossas constantes descobertas daquilo que, até então, era desconhecido.

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Conheça o trabalho de street art hiper-realista que surge da água

Conheça o trabalho de street art hiper-realista que surge da água

Sean Yoro é um artista havaiano que, mesmo morando em Nova Iorque, mantém parte de seu trabalho criativo sobre uma prancha de surfe. Para isso ele realiza pinturas de “street art” em murais de concreto que foram construídos dentro da água.

As figuras femininas surgem, então, também da água e o artista explora seus reflexos em um efeito tridimensional hiper-realista.

Convido-os para conhecer o seu trabalho.

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Conheça mais sobre o artista em seu website HULAInstagram.

Racismo, linchamento e meias – verdades

Racismo, linchamento e meias – verdades
Desde o ano passado, episódios de racismo contra jogadores de futebol têm sido frequentes. Em meados de 2014 um caso, relatado abaixo no texto, chamou a atenção devido a maneira como a torcedora do Grêmio foi identificada e perseguida após sua manifestação racisca. Em abril de 2015 a pôlemica foi reacesa quando o jogador Elias do Corinthians sofreu o mesmo tipo de insulto. Convido-os para refletir sobre o tema e o posicionamento das pessoas frente a situações como essas.

Racismo, linchamento e meias – verdades

Por Ana Flávia Velloso

Os jornais dão notícia do incêndio criminoso na casa da torcedora que chamou o goleiro do time adversário de “macaco.” O linchamento, que antes era moral, passou às vias de fato. Não se trata de minimizar o conteúdo racista da palavra usada. Mas é a história toda que se deve contar, pois, como me ensinou meu pai, pior do que a mentira é a meia verdade.

O insulto ocorreu num estádio de futebol, onde gramados e arquibancadas têm o hábito de testemunhar impropérios. Por que tanta comoção em torno de seis letrinhas proferidas num contexto tão, digamos, específico?

Psicanalistas costumam evocar a inclinação do indivíduo a se exaltar com feitos que ele próprio identifica como potencial fraqueza sua. É como se pela indignação pudéssemos expurgar o mal que habita nossa própria alma. Segundo essa lógica, a crítica voraz seria um meio de exorcizar nossos demônios, promovendo a equação simples: ele, malvado, eu, que o reprovo e repudio, bonzinho.

Hannah Arendt, ao presenciar o julgamento de Adolf Eichmann, expressou a opinião de que aquele homem, visto como a encarnação do mal, não passava de um burocrata. Ele seria, para ela, a personificação daquilo que chamou de a “banalidade do mal”, ou seja, de uma ideologia criminosa que permeava as estruturas de um Estado, de uma sociedade, de uma cultura.

A notável pensadora alemã, de origem judaica, foi mal interpretada. Acusaram-na de assumir a defesa do criminoso nazista. Hannah Arendt foi alvo de uma espécie de linchamento intelectual. Também pudera. Tocava ela num ponto nevrálgico. Sua tese era impalatável aos judeus, que buscavam, na condenação de Eichmann, uma catarse de sentimentos com os quais se tornava difícil conviver. Identificar o mal numa pessoa e aniquilá-la deve ser menos penoso que vislumbrar a injustiça como difusa, sem rosto, sem nome.

A sociedade ocidental, por sua vez, tão ciosa dos valores elevados que propagava naquele pós-guerra, pode ter sido insuportável a ideia de que a barbárie pudesse ter se disseminado também em suas bases, e de que ela própria teria sido cúmplice do horror que então censurava com veemência. A todos, quem sabe, teria parecido uma boa saída detonar os símbolos, acreditando que com as suas cinzas evaporava-se uma aberração, purgavam-se os crimes cometidos contra a humanidade.

Pergunto-me se o alvoroço criado pelo racismo – se é que houve mesmo manifestação de racismo – da jovem torcedora não se produziu por termos sido obrigados a confrontar um de nossos maiores flagelos. Talvez os julgadores mais severos tenham bem presente na memória o fato de que até outro dia alguns clubes brasileiros barravam abertamente a entrada de negros, que expressões pejorativas para designar os afrodescendentes, não faz muito tempo, eram articuladas impunemente, e ainda o são, hoje, em voz baixa. Talvez, enfim, seja um ódio racial inconsciente, convertido em insuportável culpa, que a sociedade brasileira queira arrancar de suas vísceras mediante atos de hostilidade dirigidos a uma pessoa determinada, escolhida no meio da multidão para purgar seus pecados.

Sigmund Freud mencionou a escolha de bodes expiatórios como o mais primitivo dos mecanismos de defesa do ser humano. É aquele gesto corriqueiro de descontar no outro as próprias frustrações e rancores. A sublimação seria o mais bem sucedido daqueles mecanismos. Sublimamos quando extraímos do sofrimento o poder de criar, como escrever um poema ou pintar um quadro. No âmbito coletivo, a agressão está longe de ser a forma mais evoluída de expressar boas intenções.

Gilberto Freyre escreveu, nos anos trinta, Casa Grande e Senzala. Se não podemos produzir obra-prima semelhante sobre as origens da discriminação racial em nossa sociedade, que tenhamos, pelo menos, ânimo para ler o livro, coragem para examinar nossas consciências e nos contarmos uma verdade inteira, e não cortada ao meio, por mais infame que ela nos pareça.

“O porto de Maputo é a minha varanda”, por Álvaro Taruma

“O porto de Maputo é a minha varanda”, por Álvaro Taruma

Já começaram a cacarejar os galos ainda que tomados pela timidez, há pouco tempo eram os cães a latir para dentro da minha insónia, mas não era para espantá-la, era um latido de amor; um amor canino que só dois cães vadios podem conceber. Afinal a insónia é uma cadela a evadir-se do quintal do sono. É um sonho que não nos quer sonhando a dormir.

Deixemos então a noite dormir e acordemos nós e a tarefa da escrita. São 04 horas e 13 minutos, de um madrugador inverno, o quarto é ainda escuro a não ser o fino clarão dos olhos das lagartixas de pele parda que se arrastam pelas paredes. Lá fora um camião desenrola-se no extenso lençol de nevoeiro, e vai grunhindo pela estrada batida a caminho do cais. Vejam que não é necessária a insónia para não se dormir. Há gente que trabalha a esta hora. Há gente cujo ofício se confunde com o das estrelas.
No cais, o camião vai ensopar-se de camarão; dois barcos o esperam, dois barcos cansados de arrastar o mar para dentro das suas redes, dois barcos que gritam, impacientes, as suas buzinas, cortando o desenlace silencioso da madrugada.

Quase nada circula por aqui, a estas alturas, excepto os cães e os felinos que atravessam pelo tecto da casa, os galos confusos com o fuso horário, e agora o gingado do motor do camião. É mesmo pacata esta minha Catembe que me perpassa o olhar nocturno.
Não muito distante, do outro lado da baía, chega-me imponente a cidade, monumental e antiga, como um dado sobre o dedo, resvala a sua carne de luz que preenche de brilho o trilho que percorre sua dura arquitectura de pedra; as melodias da incandescência vão subindo lentas pelo rubro telhado, e dissipam-se ao longe, entre as paredes de madeira e zinco, enquanto um grito corta a noite na exaustão do porto que trabalha.

O porto de Maputo é minha varanda! Todas as tardes navios chegam carregados de velhos fardos de sonhos, de roupa velha, da também velha Europa, que se renova no peito nu de um irmão africano; e de carros reciclados para embarcar o desejo motorizado da nossa classe média, e sua gula, dos vinhos, dos perfumes, e do charme de desconhecidos boullevards, que os vejo atravessar nossas globalizadas ruas. Mas daqui outros navios partem disparados, carregadíssimos de ouro, rubis, carvão mineral, camarões, chá, cornos de rinoceronte, tabaco, petróleo, algodão e um sei lá de coisas que me perturbam o sono.

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Álvaro Fausto Taruma é poeta, contista, e cronista (moçambicano), tendo publicado vários textos em jornais, revistas e blogues, entre outros espaços dedicados a literatura. É formado em Ensino de Português pela Faculdade de Línguas (actual ECLA) da Universidade Pedagógica. É também formado em Sociologia e Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas, exerceu funções no Secretariado Técnico de Administração Eleitoral. Actualmente está ligado a área de Educação

Prospecção, um profundo e belo poema de Miguel Torga

Prospecção, um profundo e belo poema de Miguel Torga

Procurar as riquezas dentro em nós: seria este o principal objetivo da Vida?

Prospectar-se: seria este o ato de obediência ao “Conhece-te a ti mesmo”?
Abaixo, o poema de Torga, leva-nos a esta profunda meditação.

Prospecção

Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.

Miguel Torga

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“Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”, por Rubem Alves

“Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”,  por Rubem Alves

Quero contar para vocês a estória que mais tenho contado – não aconteceu nunca, acontece sempre. Um homem muito rico, ao morrer, deixou suas terras para os seus filhos. Todos eles receberam terras férteis e belas, com a exceção do mais novo, para quem sobrou um charco inútil para a agricultura. Seus amigos se entristeceram com isso e o visitaram, lamentando a injustiça que lhe havia sido feita. Mas ele só lhes disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.”

No ano seguinte, uma seca terrível se abateu sobre o país, e as terras dos seus irmãos foram devastadas: as fontes secaram, os pastos ficaram esturricados, o gado morreu. Mas o charco do irmão mais novo se transformou num oásis fértil e belo. Ele ficou rico e comprou um lindo cavalo branco por um preço altíssimo.

Seus amigos organizaram uma festa porque coisa tão maravilhosa lhe tinha acontecido. Mas dele só ouviram uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No dia seguinte seu cavalo de raça fugiu e foi grande a tristeza. Seus amigos vieram e lamentaram o acontecido. Mas o que o homem lhes disse foi: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.”

Passados sete dias o cavalo voltou trazendo consigo dez lindos cavalos selvagens. Vieram os amigos para celebrar esta nova riqueza, mas o que ouviram foram as palavras de sempre: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.” No dia seguinte o seu filho, sem juízo, montou um cavalo selvagem. O cavalo corcoveou e o lançou longe. O moço quebrou uma perna. Voltaram os amigos para lamentar a desgraça. “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá”, o pai repetiu. Passados poucos dias vieram os soldados do rei para levar os jovens para a guerra. Todos os moços tiveram de partir, menos o seu filho de perna quebrada. Os amigos se alegraram e vieram festejar. O pai viu tudo e só disse uma coisa: “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá…”

Assim termina a estória, sem um fim, com reticências… Ela poderá ser continuada, indefinidamente. E ao contá-la é como se contasse a estória de minha vida. Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja uma condenação final. As vitórias se desfazem como castelos de areia atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo.

Enquanto a morte não nos tocar, pois só ela é definitiva, a sabedoria nos diz que vivemos sempre à mercê do imprevisível dos acidentes. “Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.”

Conheçam o Instituto Rubem Alves e participem de seus projetos.

Os sete pecados de nosso sistema de educação forçado

Os sete pecados de nosso sistema de educação forçado

Educação forçada: como o termo prisão, esse termo soa pesado. Mas, se temos uma escolaridade obrigatória, então temos educação forçada. O termo obrigatório, se ele tem qualquer significado, significa que a pessoa não tem escolha quanto a isso.

A reflexão que vale é a seguinte: seria a educação forçada – e a consequente prisão de crianças – uma coisa boa ou uma coisa ruim?

Aqui estão algumas das razões para se acreditar que é uma coisa ruim, em uma lista com os “sete pecados” do nosso sistema de educação forçada:

1. Negação de liberdade com base na idade.

Para prender um adulto, precisamos provar, em um tribunal de direito, que a pessoa cometeu um crime ou é uma séria ameaça para si mesma ou aos outros. Ainda assim, encarceramos crianças e adolescentes na escola apenas por causa de sua idade: este é o mais flagrante dos pecados da educação forçada.

2. A promoção de vergonha, por um lado, e arrogância, por outro.

Não é fácil forçar as pessoas a fazer o que elas não querem. Nós não usamos a palmatória, como professores faziam antigamente, mas contamos com um sistema de controle incessante, classificação e ranking das crianças em comparação com os seus colegas. Nós, assim, distorcemos os sistemas emocionais humanos de vergonha e orgulho para motivar as crianças a fazer o trabalho. As crianças são colocadas a se sentir envergonhadas se tiverem um desempenho pior do que os seus colegas e orgulho se tiverem um melhor desempenho. Vergonha leva alguns a abandonar, psicologicamente, o esforço educacional e a se tornar palhaços de classe (não muito ruim), ou valentões (ruim), ou abusadores e traficantes (muito mau). Aqueles que são colocados a sentir orgulho excessivo das realizações rasas que fazem eles ganharem um A (ou 10) e honrarias podem tornar-se arrogantes, desdenhosos dos outros comuns que não se saem tão bem em testes; desdenhosos, portanto, dos valores e processos democráticos (e este pode ser o pior efeito de todos).

3. Interferência com o desenvolvimento da cooperação e nutrição.

Nós somos uma espécie intensamente social, concebida para a cooperação. As crianças naturalmente querem ajudar os seus amigos, e até mesmo na escola elas encontram maneiras de fazer isso. Mas o nosso sistema baseado na competição de classificação e graduação de estudantes trabalha contra a unidade cooperativa. Além disso, a divisão de idades forçada que ocorre na própria escola promove a concorrência e bullying e inibe o desenvolvimento de nutrição. Ao longo da história humana, as crianças e adolescentes aprenderam a serem atenciosos e prestativos através de suas interações com as crianças mais jovens. O sistema escolar graduado em idade os priva de tais oportunidades.

4. Interferência com o desenvolvimento da responsabilidade pessoal e auto-direção.

As crianças são biologicamente predispostas a assumir a responsabilidade por sua própria educação. Elas brincam e exploram de formas que lhes permitem aprender sobre o mundo físico e social em torno delas. Elas pensam sobre o seu próprio futuro e tomam medidas para se preparar para isso. Confinando as crianças na escola e em outras atividades de adultos, e preenchendo seu tempo com tarefas, os priva das oportunidades e tempo que eles precisam para assumir suas responsabilidades. Além disso, a mensagem implícita e às vezes explícita do nosso sistema de escolaridade obrigatória é: “Se você faz o que é dito para se fazer na escola, tudo vai funcionar bem para você”. As crianças que caem nisso podem parar de assumir a responsabilidade por suas próprias educações. Elas podem assumir falsamente que alguém tenha descoberto o que elas precisam saber para se tornar adultos bem sucedidos, então elas não têm que pensar nisso. Se suas vidas não funcionam tão bem, elas tomam a atitude de uma vítima: “A minha escola (ou pais ou sociedade) me falhou, e é por isso que a minha vida é toda ferrada.”

5. Relacionar aprendizagem com medo, repugnância e trabalho forçado.

Para muitos estudantes, a escola gera intensa ansiedade associada com a aprendizagem. Os alunos que estão aprendendo a ler e são um pouco mais lentos do que o resto se sentem ansiosos sobre a leitura na frente dos outros. As provas geram ansiedade em quase todos que as levam a sério. Ameaças de fracasso e vergonha associada à insuficiência geram enorme ansiedade em alguns. O princípio psicológico fundamental é que a ansiedade inibe a aprendizagem. A aprendizagem ocorre melhor em um estado brincalhão, e a ansiedade inibe a ludicidade. A natureza forçada da escolaridade transforma a aprendizagem em trabalho. Os professores até chamam isso de trabalho: “Você deve fazer o seu trabalho antes de você poder brincar”. Assim, aprender, algo que crianças biologicamente anseiam, torna-se uma labuta – algo a ser evitado sempre que possível.

6. Inibição do pensamento crítico.

Presumivelmente, um dos grandes objetivos gerais da educação é a promoção do pensamento crítico. Mas apesar de todo esforço que os educadores se dedicam a esse objetivo, a maioria dos estudantes – incluindo a maioria dos “estudantes de honra” – aprendem a evitar pensar criticamente sobre seus trabalhos escolares. Eles aprendem que sua função na escola é obter notas altas em testes e que o pensamento crítico apenas desperdiça tempo e interfere. Para conseguir uma boa nota, você precisa descobrir o que o professor quer que você diga e, em seguida, dizer isso. O sistema de classificação, que é o principal motivador no nosso sistema de educação, é uma força poderosa contra o debate honesto e pensamento crítico em sala de aula.

7. Redução da diversidade de competências, conhecimentos e formas de pensar.

Ao forçar todos os alunos através do mesmo currículo padrão, podemos reduzir as suas oportunidades para seguir caminhos alternativos. O currículo escolar representa um pequeno subconjunto das habilidades e conhecimentos que são importantes para a nossa sociedade. Neste dia e época, ninguém pode saber mais do que um pedaço de tudo que há para saber. Por que forçar todo mundo a aprender a mesma coisa? Quando as crianças são livres – como já observado em escolas alternativas e homeschooling (educação em casa) – elas tomam caminhos novos, diferentes e imprevisíveis. Elas desenvolvem interesses apaixonados, trabalham com afinco para se tornar especialistas em áreas que as fascinam, e, em seguida, encontram maneiras de ganhar a vida através da prossecução dos seus interesses. Os alunos forçados através do currículo padrão têm muito menos tempo para perseguir seus próprios interesses, e muitos aprendem bem a lição de que seus próprios interesses não contam; o que conta é o que é medido em testes das escolas. Alguns superam isso, mas muitos não o fazem.

Fonte: Psychology Today, Notícias Alternativas

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“Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.”

“Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.”

A pipoca

Rubem Alves

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.

Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida…). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé…

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

“Morre e transforma-te!” — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á”.A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira…

“Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu”.

 

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Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

Queremos um relacionamento e não um pai para o nosso filho

Queremos um relacionamento e não um pai para o nosso filho

Por Jéssica Bórnia

Primeiro de tudo e mais importante: Parem com essa ideia ridícula que as mães solteiras  querem a todo custo construir uma família e por isso procuram desesperadamente alguém. Isso não passa de uma ideia construída por preconceitos machistas da sociedade que ainda vivemos.

Ter um filho não as torna menos atraentes,  ou mais problemáticas. Ter um filho não dificulta um bom papo e uma boa companhia. Ter um filho não é um empecilho e muito menos um problema para você conhecê-la melhor. Ter um filho não muda o caráter, os gostos, o cheiro, a beleza. Ter um filho não muda quem ela é. Muda apenas o coração dela. Ela aprende a amar como muitos ainda não sabem.  Ter um filho não é sinônimo da busca incessante de alguém que venha para ocupar o papel de pai e completar uma família. Não da pra julgar alguém simplesmente por ter um filho e colocar isso como barreira para viver algo que nem se sabe como será.

As mulheres, assim como os homens também, buscam um relacionamento que venha para somar e mudar suas vidas. Aquela pessoa que mexa com seus sentidos e sentimentos. Que chegue para finalmente ficar. Que some, mude e construa. Queremos uma família, um aconchego, um amor. Nada mais que isso. É preciso quebrar preconceitos e julgamentos, é preciso arriscar, sem medo, sem receio.

Por isso, entenda de uma vez por todas, mães solteiras NÃO querem um pai para seus filhos, elas querem um relacionamento assim como qualquer um.  Deixe que da educação e da criação dos filhos elas mesmas cuidam, pois admiravelmente – em minha opinião – elas são incrivelmente capazes de serem mães e pais ao mesmo tempo. Elas não precisam de um homem que venha e faça – ou tente- um papel fantasioso de pai e marido ideal, elas precisam de AMOR, só isso.

Estar com uma mãe solteira é mais do que simplesmente assumir um relacionamento qualquer, é preciso muita coragem para assumir o amor por uma mulher assim. E se você já deixou escapar uma dessas pelo simplesmente medo de “não querer tanto compromisso” e não se “sentir preparado para ser pai”, meu profundo sentimento de pena por você não ter tido a capacidade de ser maior e melhor que tudo isso. Aos que encararam os sentimentos e deixaram pra trás aqueles preconceitos mesquinhos, meus parabéns, tenho certeza que não se arrependeram e viveram momentos incríveis.

Por isso meus queridos, pelo amor de Deus, se você se apaixonar por uma mulher dessas, esqueça essa historinha pra lá de ultrapassada e agarre com todas as forças essa grande oportunidade. Viva. Ame. Se jogue e depois me conte se valeu a pena.

contioutra.com - Queremos um relacionamento e não um pai para o nosso filho

contioutra.com - Queremos um relacionamento e não um pai para o nosso filhoJessica Bórnia

Uma jovem apaixonada pela vida e pelo amor de ser mãe. Leitora de tudo aquilo que engrandece o coração. Dramática, neurótica, impulsiva. Otimista de carteirinha. Acredita no poder da fé, das amizades e de um grande amor. Apaixonada por historias com finais felizes. Aprendiz de blogueira

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Você viu o tempo passar?

Você viu o tempo passar?

Por Marcela Alice Bianco

AH O TEMPO! Quantas vezes o sentimos escorrer entre os dedos das mãos? Quantas vezes gostaríamos que ele passasse mais depressa ou que nunca passasse? Quantas vezes sentimos vontade de aprisioná-lo para eternizar um único momento? Mas a experiência do tempo é algo que nos acompanha ao revés do nosso desejo.

Desde que nascemos, o tempo é um dos grandes regentes da nossa vida. De antemão, precisamos de um tempo para nascer. Nossa gestação e nascimento é nossa primeira lição sobre o Tempo. É necessário um prazo para estarmos prontos para a vida, para que cada parte do nosso corpo se constitua e mature adequadamente. Caso isso não ocorra há risco de vida. Assim como as borboletas, que necessitam de um tempo vivendo como lagartas e depois encasuladas, nós também precisamos estar prontos para nossa metamorfose!

A desdém dessa nossa primeira aula sobre o tempo, há quem passe a vida acelerado, preocupado com o porvir. Tentativa de nascimento prematuro, sem perceber que ainda não é chegada a hora! Mas não conseguem respeitar o tempo e com isso permanecem ansiosos.

A ansiedade se relaciona diretamente com a forma como lidamos o tempo. Nela vivemos pré ocupados com o futuro. Tentamos mentalmente determinar todas as variáveis do evento que está para acontecer. E isso nos corrói por dentro, de modo que chega a doer o estômago. Ao querer acelerar o tempo, aceleramos os batimentos cardíacos, a respiração… todo nosso corpo ressoa nossa ansiedade. Mas quando é finalmente chegada a hora, o processo ocorre à revelia de muitas das coisas que fantasiamos e nos preocupamos. Mas como é difícil tolerar essa ideia de ausência de controle, não é mesmo?

Para isso precisamos recuperar um senso primordial de CONFIANÇA NA VIDA. Nos despir da insegurança e da ideia de que podemos controlar as coisas. Entender que a vida é um processo, e que assim como o nascimento, tem um propósito e um sentido que se revelará para nós durante seu curso e não antes da passagem.

Como menciona o Psiquiatra Junguiano Carlos Byington,os pais ensinam aos filhos como é a vida, relatando-lhes as experiências pelas quais passaram. Os mitos fazem a mesma coisa num sentido muito mais amplo, pois delineiam padrões para a caminhada existencial através da dimensão imaginária”. Assim, podemos recorrer aos mitos para compreender a questão do tempo. E eis que apresento a vocês dois deuses e três senhoras do destino relacionados na mitologia grega.

O primeiro deus é KRONOS, Senhor do tempo e das estações. Relaciona-se ao tempo linear e cronometrado. Ele nos traz a noção do tempo cronológico e sequencial e, consequentemente, devorador. Tempo que corre e que caminha para um fim. Podemos pensar que, quando ficamos ansiosos e preocupados com o tempo que ainda não chegou é como se percebêssemos a presença de KHRONOS pairando sobre nós e então respondemos ao medo do desconhecido em toda a extensão do nosso ser.

 O segundo deus é KAIRÓS, deus do tempo oportuno. Filho de Zeus e de Tykhé (divindade relacionada a fortuna e prosperidade), era um jovem calvo que possuía um único cacho de cabelos na testa. Esse deus era conhecido por ter uma agilidade incomparável, sendo que enquanto corria só era possível agarrá-lo pelo cacho, estando assim de frente a ele.  E isso durava apenas o instante de sua passagem, sendo impossível persegui-lo e trazê-lo de volta. Assim, Kairós simboliza o tempo da oportunidade. Momento potencial sentido quando realmente estamos PRESENTES! Uso esse termo para determinar aquele instante em que realmente sentimos o que estamos vivendo e somos invadidos pela experiência. Corpo e alma apenas no AGORA: tempo certo e definitivo, criativo e especial.

No desenrolar entre esses dois tempos é tecida a TEIA DA VIDA, pelas senhoras do destino, conhecidas como MOIRAS na mitologia grega e que são as tecelãs dos fios da vida na roda da fortuna. Nona inicia o trabalho e tece o fio da vida, Décima cuida de sua extensão e caminho e Morta corta o fio. Tarefa que nem mesmo Zeus, deus dos deuses ousava intervir. E assim, a história de cada um vai sendo formada, com seus pontos altos e baixos, de maneira circular e não linear, mas que ao mesmo tempo segue para um fim.

No encontro com essas divindades aprendemos que não somos detentores do tempo e do destino. Nosso tempo é finito e precisamos estar preparados para aproveitar as oportunidades no momento em que elas chegarem. Precisamos estar prontos.  E é com esse olhar e objetivo que devemos trilhar nossa jornada existencial. Afinal, quando o jardim está florido e bem cuidado as borboletas chegam!

3 encantadores poemas de Mário Quintana

3 encantadores poemas de Mário Quintana

A Rua dos Cataventos

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

 

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

 

Os Poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…

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Mário Quintana

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