DEZ MANDAMENTOS DO PROFESSOR, por Leandro Karnal

DEZ MANDAMENTOS DO PROFESSOR, por Leandro Karnal

Prof. Leandro Karnal

A sabedoria do mais influente legislador do Ocidente, Moisés, sintetizou uma concepção de mundo em Dez Mandamentos. Como bom educador, o ex-príncipe do Egito sabia que longos códigos são de difícil acesso. Curioso notar que constituições muito breves, como a norte-americana, passam dos dois séculos e constituições prolixas, como todas as brasileiras , caducam em prazos muito curtos.

Inspirados neste exemplo, elaboramos os Dez Mandamentos do Professor. Estes dez mandamentos são fruto de uma experiência particular e não se pretendem eternos ou válidos em qualquer ocasião. Gostaria apenas de fornecer a colegas, como você leitor, uma reflexão particular, que possa ser aprofundada, reinterpretada ou rejeitada de acordo com a sua experiência.

O que me levou a pensar nestes princípios é a mesma angústia que assola qualquer educador: como ser um bom profissional, ensinar, transformar meu aluno e fazer parte desta transformação? Como superar o tédio dos meus alunos, a indisciplina, a irrelevância de algumas coisas que faço e meu próprio cansaço? Como não considerar a sala um fardo e o relógio um inimigo? Como parar de achar que só vivo a partir do fim-de-semana? A partir destes questionamentos, você está permanentemente convidado a adensar ou criticar, fazer seus outros dez ou sintetizar a dois ou três, pois, quem acha que pode melhorar a aula que dá , já começou a viver educação. E quem não acha que pode? Bem, deixa para lá! Ensinar não é a única profissão do mundo…

-PRIMEIRO MANDAMENTO: CORTAR O PROGRAMA!

Quase todas as disciplinas foram perdendo aulas ao longo das décadas anteriores. Não obstante, os programas nem sempre acompanharam estes cortes. Pergunte-se: isto é realmente importante? Este conteúdo é essencial? Não seria melhor aprofundar mais tais tópicos e menos outros? Se a justificativa é a pressão do vestibular, ela não pode ocupar 11 anos de Ensino Médio e Fundamental. Se a justificativa é uma regra da escola ou um coordenador obsessivo, lembre-se: o Diário de Classe sempre foi o documento por excelência do estelionato. A coragem da grande tesoura é essencial. Dar tudo equivale a dar nada. Ensinar a pensar não implica esgotar o conhecimento humano.

-SEGUNDO MANDAMENTO: SEMPRE PARTIR DO ALUNO!

Chega de lamentar o aluno que não temos! Chega de lamentar que eles não lêem, a partir de uma nebulosa memória do aluno perfeito que teríamos sido (nebulosa e duvidosa). Este é o meu aluno real. Se, para ele, Paulo Coelho é superior a Machado de Assis e baile Funk é superior a Mozart, eu preciso saber desta realidade para transformá-la. Se ele é analfabeto devo começar a alfabetizá-lo. Se ele está no Ensino Médio e ainda não domina soma de frações de denominadores diferentes devo estar atento: esta é minha realidade. A partir do zero eu posso sonhar com o cinco ou seis. A partir do imaginário da perfeição é difícil produzir algo. A Utopia, desde Platão e Thomas Morus, tem a finalidade de transformar o real, nunca de impossibilitá-lo.

-TERCEIRO MANDAMENTO: PERDER O FETICHE DO TEXTO!

Em todas as áreas, em especial nas humanas, os alunos são instigados quase que exclusivamente ao texto. Num mundo imerso na imagem e dominado por sons e cores, tornamos o texto central na sala de aula. Devemos estar atentos ao uso de imagens, música, sensorialidades variadas. O texto é muito importante, nunca deve ser abandonado. Porém, se o objetivo é fazer pensar, o texto é apenas um instrumento deste objetivo maior. Há pessoas que pensam e nunca leram Camões e há quem saiba Os Lusíadas de cor e não pense…Lembre-se de que há outros instrumentos. A sedução das imagens deve ser uma alavanca a nosso favor, nunca contra. Usar filmes, propagandas, caricaturas, desenhos, mapas: tudo pode servir ao único grande objetivo da escola: ajudar a ler o mundo, não apenas a ler letras.

-QUARTO MANDAMENTO: POSSIBILITAR O CAOS CRIATIVO.

Fomos educados a um ideal de ordem com carteiras emparelhadas e, mesmo no fundo do nosso inconsciente, este ideal persiste. Qual professor já não teve o pesadelo de perder o controle total de uma sala, especialmente na noite mal dormida que antecede o primeiro dia de aula? Devemos estar preparados para o caos criador e para o lúdico. Alunos andando pela sala, trocando fragmentos de textos ou imagens dados pelo professor, discussões, encenações, o professor recitando uma poesia ou mandando realizar um desenho: tudo pode ser canal deste lúdico que detona o caos criativo. Surpreenda seus alunos com uma encenação, com um silêncio, com um grito, com uma máscara. Uma sala pode estar em ordem e ninguém aprendendo e pode estar com muitas vozes e criando ambiente de aprendizado. Lembre-se o silêncio absoluto é mais importante para nós do que para os alunos. É difícil vencer a resistência dos colegas e da própria escola a isto. Lógico que o silêncio também deve ser um espaço de reflexão, mas é possível pensar que há valor num solo gentil de flauta, numa pausa ou num toque retumbante de 200 instrumentos.

-QUINTO MANDAMENTO: INTERDISCIPLINAR!

Assim mesmo, entendido o princípio como um verbo, como uma ação deliberada. É fundamental fazer trabalhos com todas as áreas. Elaborar temas transversais como o MEC pede e, ao mesmo tempo, libertar o aluno da idéia didática das gavetas de conhecimento. Não apenas áreas afins (como História e Geografia) mas também Literatura e Educação Física, Matemática e Artes, Química e Filosofia. É preciso restaurar o sentido original de conhecimento, que nasceu único e foi sendo fragmentado até perder a noção de todo. O profissional do futuro é muito mais holístico do que nós temos sido até hoje.

-SEXTO MANDAMENTO: PROBLEMATIZAR O CONHECIMENTO.

Oferecer ao aluno o cerne da ciência e da arte: o problema. Não o problema artificial clássico na área de exatas, mas os problemas que geraram a inquietude que produziu este mesmo conhecimento A chama que vivou os cientistas e artistas é transmitida como um monumento inerte e petrificado. Mostrem as incoerências, as dúvidas, as questões estruturais de cada matéria. Mostrem textos opostos, visões distintas, críticas de um autor ao outro. Nunca fazer um trabalho como: “O Feudalismo” ou “O Relevo do Amapá”; mas problemas para serem resolvidos. Todo animal (e, por extensão, o aluno) é curioso. Porém, é difícil ser curioso com o que está pronto. Sejamos francos: se é tedioso ler um trabalho destes, qual terá sido o tédio em fazê-lo?

-SÉTIMO MANDAMENTO: VARIAR AVALIAÇÕES.

Provas escritas são válidas, como a vitamina A é válida para o corpo humano. Porém, avaliações variadas ampliam a chance de explorar outros tipos de inteligência na sala. As outras avaliações não devem ser vistas como um trabalhinho para dar nota e ajudar na prova, mas como um processo orgânico de diminuir um pouco a eterna subjetividade da avaliação.

-OITAVO MANDAMENTO: USAR O MUNDO NA SALA DE AULA!

O mundo está permeado pela televisão, pela Internet, pelos jornais, pelas revistas, pelas músicas de sucesso. A escola e a sala de aula precisam dialogar com este mundo. Os alunos em geral não gostam do espaço da sala porque ele tem muito de artificial, de deslocado, de fora do seu interesse. Usar o mundo da comunicação contemporânea não significa repetir o mundo da comunicação contemporânea; mas estabelecer um gancho com a percepção do meu aluno.

-NONO MANDAMENTO: ANALISAR-SE PESSOALMENTE!

A primeira pessoa que deve responder aos questionamentos da educação é o professor. Somos nós que devemos saber qual o motivo de dar tal coisa, qual a relevância, qual a utilidade de tal leitura. O professor é o primeiro que deve saber como tal ciência transformou a sua vida. Isto implica fazer toda espécie de questão, mesmo as incômodas. Se eu não fico lendo tal autor por prazer e nem o levo aos meus passeios como posso exigir que um jovem ou uma criança o façam? Qual a coerência do meu trabalho? Minha irritação com a turma indisciplinada é uma espécie de raiva por saber que eles estão certos? Minha formação permanente me indica novos caminhos? Estou repetindo fórmulas que deram certo quando eu era aluno há 20 ou mais anos? É necessário um exercício analítico-crítico muito denso para que eu enfrente o mais duro olhar do planeta: o do meu aluno.

-DÉCIMO MANDAMENTO: SER PACIENTE!

Hoje eu acho que ser paciente é a maior virtude do professor. Não a clássica paciência de não esganar um adolescente numa última aula de sexta-feira, mas a paciência de saber que, como dizia Rubem Alves, plantamos carvalhos e não eucaliptos. Nossa tarefa é constante, difícil, com resultados pouco visíveis a médio prazo. Porém, se você está lendo este texto, lembre-se: houve uma professora ou um professor que o alfabetizou, que pegou na sua mão e ensinou, dezenas de vezes, a fazer a simples curva da letra O. Graças a estas paciências, somos o que somos. O modelo da paciência pedagógica é a recomendação materna para escovar os dentes: foi repetida quatro vezes ao dia, durante mais de uma década, com erros diários e recaídas diárias. As mães poderiam dizer: já que vocês não querem nada com o que é melhor para vocês, permaneçam do jeito que estão que eu não vou mais gritar sobre isto (típica frase de sala de aula…) . Sem estas paciências, seríamos analfabetos e banguelas. Não devamos oferecer menos ao nosso aluno, especialmente ao aluno que não merece nem quer esta paciência este é o que necessita urgentemente dela. O doente precisa do médico, não o sadio. O aluno-problema precisa de nós, não o brilhante e limpo discípulo da primeira carteira.

Há alguns anos eu falava de alguns destes princípios e uma senhora redargüiu dizendo que ela fazia tudo isto e muito mais e, mesmo assim, os alunos estavam cada vez piores e com menos resultados. Olhei para esta professora e senti nela o reflexo de meus cansaços também. A única coisa que me ocorreu lembrar é uma alegoria, com a qual encerro este texto:

Na nossa cultura há um modelo de professor: Jesus. A maioria absoluta das pessoas no Brasil é cristã, mas a alegoria serve também para os que não são. Tomemos a história de Jesus independente da nossa orientação religiosa. Comparemos: Jesus teve 12 alunos escolhidos por ele! Eu tenho 30, 60, 100, escolhidos por um rigoroso processo de seleção: inscreveu, pagou, entrou. Jesus teve alunos em tempo integral por três anos: eu tenho por duas ou quatro aulas semanais, por um período mais curto. Os alunos de Jesus deixaram tudo para segui-lo, o meu não deixa quase nada e não quer acompanhar nem meu pensamento, quanto mais minhas propostas existenciais. Fiel aos novo ditames do MEC, Jesus deu um curso superior em três anos. Para quem acredita, Ele fazia milagres, coisa que nós certamente não fazemos naquele sentido. A aula, de Jesus, assim, era reforçada por work-shops. A auto estima e a confiança de Jesus era enorme: o cara simplesmente dizia que era o Filho de Deus, que ressuscitava mortos, andava sobre as águas, passava quarenta dias sem comer e não tinha medo de ninguém. Eu não tenho esta convicção. Melhor: as aulas eram ao ar livre, sem coordenação, sem direção, sem colegas e os pais dos alunos não apareciam para reclamar! Bem, após 3 anos de curso intenso com todos estes reforços, chegou a prova final. Na agonia do Horto os três melhores alunos dormiram, quando o Mestre estava chorando sangue. O tesoureiro da turma denunciou o professor à Delegacia de Educação por 30 moedas. O líder da classe, Pedro, negou que tivesse tido aula por três vezes diante da supervisora de ensino: nunca vi este cara antes… Outros nove fugiram sem dar notícia e não compareceram à prova final: o Calvário. O mais novo e bobinho, João, foi até lá, mas não fez nada para impedir que os guardas matassem o professor. Se considerarmos João , com boa vontade, o único aprovado, teremos uma média de êxito de 8.33%, baixa demais para os padrões das Delegacias de Ensino e alvo de demissão sumária por justa causa. O professor morreu e, para quem acredita, voltou para uma recuperação de férias. Reuniu os reprovados e disse: mais uma chance. Um dos alunos , Tomé, pediu para colocar o dedo no diploma do professor para ver se era de verdade. Primeira pergunta do líder da turma, Pedro: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?” Ou seja, o melhor aluno não aprendeu nada! Esta pergunta mostra o oposto da aula dada, pois ele achou que o curso tinha sido sobre política e, na verdade, tinha sido sobre Teologia… Objetivos não atingidos: 100% ! Novos milagres, mais 40 dias defeedback, apostilas, recuperação, reforço de férias. Final de curso pirotécnico: subiu ao céu entre nuvens e anjos assistentes-pedagógicos disseram que o mestre tinha ido para a sala dos professores eterna e não mais voltaria. O curso estava encerrado, todas as lições tinham sido dadas para aquela nata de 11 homens. O que eles fizeram? Foram se esconder numa casa, todos apavorados. O mestre mandou um módulo auto-instrucional de reforço, o Espírito Santo, um anabolizante. Só então, com uma força externa, eles começaram a entender, e finalmente tiveram aquela famosa reação bovina: HUMMMM…
Bem, eu disse à professora que me questionava: se Jesus teve tantos insucessos apesar de condições tão boas, a senhora quer ser mais do que Ele? Hoje eu diria para qualquer profissional: faça o máximo, mas apenas o máximo, e deixem o resto por conta do resto. A frase parece autista, mas é muito importante. Nós temos um limite: a vontade do aluno, da instituição e da sociedade como um todo. Não transformamos nada sozinhos, mas transformamos. O primeiro passo é a vontade. O segundo começa daqui a pouco, naquela sala difícil, com aquela turma sentada no fundo e naqueles angustiantes dez minutos que você vai levar para conseguir fazer a chamada… Vamos lá?
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A Grande Literatura, por Orhan Pamuk

A Grande Literatura, por Orhan Pamuk

Os romances nunca serão totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar-se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real cuja superfície arranhamos com uma curiosidade tão inquieta.

Quando nos refugiamos num canto, nos deitamos numa cama, nos estendemos num divã com um romance nas mãos, a nossa imaginação passa o tempo a navegar entre o mundo daquele romance e o mundo no qual ainda vivemos. O romance nas nossas mãos pode-nos levar a um outro mundo onde nunca estivemos, que nunca vimos ou de que nunca tivemos notícia. Ou pode-nos levar até às profundezas ocultas de um personagem que, na superfície, parece-se às pessoas que conhecemos melhor. Estou a chamar a atenção para cada uma dessas possibilidades isoladas porque há uma visão que acalento, de tempos a tempos, que abarca os dois extremos.

Às vezes tento conjurar, um a um, uma multidão de leitores recolhidos num canto e aninhados nas suas poltronas com um romance nas mãos; e também tento imaginar a geografia de sua vida quotidiana. E então, diante dos meus olhos, milhares, dezenas de milhares de leitores vão tomando forma, distribuídos por todas as ruas da cidade, enquanto eles lêem, sonham os sonhos do autor, imaginam a existência dos seus heróis e vêem o seu mundo. E então, agora, esses leitores, como o próprio autor, acabam por tentar imaginar o outro; eles também se põem no lugar de outra pessoa. E são esses os momentos em que sentimos a presença da humanidade, da compaixão, da tolerância, da piedade e do amor no nosso coração: porque a grande literatura não se dirige à nossa capacidade de julgamento, e sim à nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro.

Orhan Pamuk

Via Citador

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Esculturas e pinturas compõem peças com efeito 2D e 3D

Esculturas e pinturas compõem peças com efeito 2D e 3D

Nascida em Hiroshima, 1975, Shintaro Ohata é uma artista que retrata delicados momentos da vida cotidiana como se fossem cenas de um filme. Capta diversos tipos de luz em seu trabalho. São lojas de conveniência vistas à noite, estradas em um dia chuvoso e lojas de fast-food. Suas pinturas nos mostram cenários comuns como dramas. Ela também é conhecida por seu estilo característico: a colocação de esculturas na frente das pinturas combinando mundos 2 -D e 3- D.

A seleção de imagens abaixo é proveniente do site Theme Picture.

Para mais imagens visite.

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Aprender o Caminho

Aprender o Caminho

Por Diego Engenho Novo

Eu devia ter nove anos. Aos poucos, todos os garotos da escola foram desaparecendo no portão com as mães pela mão. Naquela manhã, a minha não veio. Eu esperei, esperei tanto e depois que não tinha mais imaginações pra imaginar, nem brincadeiras boas de se brincar comigo mesmo, decidi que já era grandinho o suficiente pra ir embora pra casa, sozinho.

Entrando pela cozinha todo orgulhoso vi minha mãe dar um pulo como se o fogão tivesse dado choque. Bateu a mão na testa e veio correndo me abraçar, ver se estava tudo no lugar – Onde eu ando com a cabeça?! – limpando sujeira nenhuma dos meus braços – Cheguei, mãe – tentando acalmar aquela mulher desesperada – Como você chegou? – Eu vim andando, ué – enquanto ela limpava meu cabelo também de sujeira nenhuma – E você não ficou com medo? – Não, mãe, eu sabia que se eu andasse, andasse, andasse, uma hora eu ia chegar – finalmente arranquei um sorriso dela.

Ok, mães, esquecer o filho acontece. A gente esquece de nós mesmos, não vamos esquecer um filho na escola uma vez na vida? Também não estou fazendo uma apologia a largar a molecada na porta da escola como se fosse um rito de passagem indígena, de jovens que saem sozinhos pra caçar na mata. Aconteceu. Pronto. Mas hoje, quando me lembro da minha carinha sonsa deduzindo que continuar andando simplesmente me levaria ao lugar certo, vejo de quanta sabedoria esse mundo é feito.

Aí está você agora, perdida. Te esqueceram ou te abandonaram? Mudaram a rota do mundo sem avisar que era pra se segurar? Cá estamos nós, atordoados, assustados, com as mudanças, com o desconhecido. É nessa hora que me lembro daquele garoto gorduchinho que sabia que há certos momentos em que o melhor caminho é não se entregar ao medo. Algo muito íntimo segue nos guiando. Pode ser fé, instinto ou mesmo a companhia da doçura da vida.

Naquele dia eu não contei pra ela, mas poucas vezes na vida me senti tão empolgado com algo. Me esquecer na escola foi um dos melhores presentes. Foi naquele dia que descobri que sabia voltar pra casa. É justo nos momentos em que parecemos mais perdidos é que estamos descobrindo o verdadeiro caminho e nossa força inata para trilhá-lo.

Amor que não serve

Amor que não serve

Por Lucy Rocha

Hoje um amigo me ligou aos prantos dizendo que “cansou de lutar”, “cansou de sofrer” e de “fazer tudo por ela” e “só levar porrada”. Ele queria saber o que fazer. Como se eu soubesse…Ainda assim, arrisquei. Eu disse que apenas parasse de idealizar, de inventar dentro da cabeça uma pessoa diversa daquela que ele tem na realidade. Ele me disse que “quem ama não desiste”…E por isso carrega esse “amor” como uma mala pesada e incômoda que não lhe permite avançar.

Bom, já escrevi outras vezes sobre esse “amor” que exige luta e disse com grande conhecimento de causa: isso não é amor. Isso é projeção de suas carências sobre o outro. É por o outro na posição de quem vem para “nos salvar”, “nos cuidar”, porque não sabemos fazer isso por nós mesmos. Daí lembrei de algo que li uma vez, tendo ficado com o seguinte aprendizado:

Querer muito uma pessoa pode nos levar ao engano absoluto. Iniciamos um processo de encaixar aquele outro ser humano em posições que nunca foram dele, que ele nunca desejou ocupar ou nunca mereceu. Pedimos para Deus, para o universo e todos os santos por um SIM em algo que já começou destinado ao NÃO.

É bater o pé, fazer pirraça como criança para conseguir algo que em nenhum momento deu sinal de ser algo bom, positivo, agregador. Essa insistência toda nos deixa míopes, nos impedindo de enxergar que amor tem que ser uma via de mão dupla. Não pode ser difícil, trazer dor, choro, falta. Não pode ser “uma luta” e se for uma luta, não pode ser solitária. Amor não requer que um se humilhe enquanto o outro submete a humilhação. Amor é troca.

Esse amor que se torna uma luta homérica para acontecer nada mais é do que reflexo do ego de quem não desiste de algo que não é para ser apenas porque não está habituado a ouvir NÃO.
Esse amor que humilha e rebaixa é apenas uma fonte de dor infinita. E amor assim não encaixa, não combina, não serve.

Você se descobre maduro quando aprende a distinguir este nobre sentimento de ego, dor, submissão, dependência emocional ou idealização. Você se descobre maduro quando aprende a se despedir com um corte rápido, limpo e indolor de qualquer coisa que não se encaixe na simplicidade, leveza e alegria do que deve ser o amor. O amor que serve.

Lucy Rocha, advogada, personal coach e administratora da página Relações Tóxicas e a Perversão Narcísica.

A reprodução desse material foi autorizada pela autora.

A separação como ato de amor, por Martha Medeiros

A separação como ato de amor, por Martha Medeiros

É sabida a dor que advém de qualquer separação, ainda mais da separação de duas pessoas que se amaram muito e que acreditaram um dia na eternidade deste sentimento. A dor-de-cotovelo corrói milhares de corações de segunda a domingo — principalmente aos domingos, quando quase nada nos distrai de nós mesmos — e a maioria das lágrimas que escorrem é de saudade e de vontade de rebobinar os dias, viver de novo as alegrias perdidas.

Acostumada com esta visão dramática da ruptura, foi com surpresa e encantamento que li uma descrição de separação que veio ao encontro do que penso sobre o assunto, e que é uma avaliação mais confortante, ao menos para aqueles que não se contentam em reprisar comportamentos padrões. Está no livro “Nas tuas mãos”, da portuguesa Inês Pedrosa.

“Provavelmente só se separam os que levam a infecção do outro até aos limites da autenticidade, os que têm coragem de se olhar nos olhos e descobrir que o amor de ontem merece mais do que o conforto dos hábitos e o conformismo da complementaridade.”

Ela continua:

“A separação pode ser o ato de absoluta e radical união, a ligação para a eternidade de dois seres que um dia se amaram demasiado para poderem amar-se de outra maneira, pequena e mansa, quase vegetal.”

Calou fundo em mim esta declaração, porque sempre considerei que a separação de duas pessoas precisa acontecer antes do esfacelamento do amor, antes de se iniciarem as brigas, antes da falta de respeito assumir o comando. É tão difícil a decisão de separar que vamos protelando, protelando, e nesta passagem de tempo se perdem as recordações mais belas e intensas. A mágoa vai ganhando espaço, uma mágoa que nem é pelo outro, mas por si mesmo, a mágoa de se reconhecer covarde. E então as discussões se intensificam e quando a separação vem, não há mais onde se segurar, o casal não tem mais vontade de se ver, de conversar, quer distância absoluta, e aí se configura o desastre: a sensação de que nada valeu. Esquece-se o que houve de bom entre os dois.

Se o que foi bom ainda está fresquinho na memória afetiva, é mais fácil transformar o casamento numa outra relação de amor, numa relação de afastamento parcial, não total. Se os dois percebem que estão caminhando para o fim, mas ainda não chegaram no momento crítico — o de se tornarem insuportavelmente amargos — talvez seja uma boa alternativa terminar antes de um confronto agressivo. Ganha-se tempo para reestruturar a vida e ainda se preserva a amizade e o carinho daquele que foi tão importante. Foi, não. Ainda é.

“Só nós dois sabemos que não se trata de sucesso ou fracasso. Só nós dois sabemos que o que se sente não se trata — e é em nome deste intratável que um dia nos fez estremecer que agora nos separamos. Para lá da dilaceração dos dias, dos livros, discos e filmes que nos coloriram a vida, encontramo-nos agora juntos na violência do sofrimento, na ausência um do outro como já não nos lembrávamos de ter estado em presença. É uma forma de amor inviável, que, por isso mesmo, não tem fim.”

É um livro lindo que fala sobre o amor eterno em suas mais variadas formas. Um alento para aqueles — poucos — que respeitam muito mais os sentimentos do que as convenções.

Martha Medeiros, Doidas e Santas. Porto Alegre: L&PM, 2008.

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Tatiana na Janela

Tatiana na Janela
Cup of coffee with retro camera; Shutterstock ID 158072708

Por Tatiana Nicz

Em 2010 quando o dono do apartamento que eu alugava colocou-o a venda, resolvi voltar para casa do meu pai temporariamente até ter condições para comprar o meu apartamento. Mas, parece que foi em um piscar de olhos que o que era para ser temporário se transformou em um período de cinco anos.

Nesse tempo meus irmãos já moravam em outras cidades, meu pai se mudou para morar com sua mulher e eu decidi ficar. Na época realmente não me importei com isso, era um apartamento bem localizado, totalmente equipado e de custo baixo. A decoração havia sido feita pela minha irmã a pedido do meu pai e, apesar de bonita, não tinha muito a ver comigo, mas eu fiquei. Além disso, todas as coisas que meus irmãos e meu pai não usavam, porém não queriam se desfazer estavam naquela casa. Era muita coisa sem utilidade ou uso e tinha muita coisa minha. E eu decidi que precisava ficar e arrumar aquela desordem.

Dizem que para você saber se a vida de uma pessoa está “nos eixos” você deve olhar para seu guarda-roupa. E eu diria que o inverso também pode valer, ou seja, se você quiser colocar sua vida “nos eixos”, comece por arrumar seu guarda-roupa. Foi por lá que comecei. Aos poucos virei uma profissional de “fazer limpas”. O mais difícil disso tudo é que não é simplesmente pegar tudo e jogar fora, é preciso cautela para olhar coisa por coisa e dar uma destinação correta para tudo.

E de lá para cá passei muitos meses me desfazendo de tudo e organizando a desordem. Gaveta por gaveta, prateleira por prateleira, todas as pastas, os livros, os papéis, aliás muitos papéis. Aproveitei também para limpar meu carro, as bolsas e os bolsos. Estendi para minha vida virtual: álbum de fotos, folders, caixas de e-mail, contas em desuso. Cada canto da minha vida recebeu uma boa limpeza. Nesse período foi bom olhar para o coração, nele também é possível de se acumular mágoas, dores e muita carga extra que também precisam encontrar uma destinação correta.

Em uma parte do processo eu estava tão paranoica que achei que tinha desenvolvido algum tipo de TOC, porque tudo que via eu tinha vontade de doar ou jogar fora. Mas eu entendo, nós somos uma geração de acumuladores. Acho que nunca na história da humanidade o homem acumulou tanto. Nós acumulamos tudo. E não paramos de acumular nunca. E quando prestei mais atenção nisso pude entender porque estamos vivendo em um mundo com tanta desordem.

O processo se intensificou quando finalmente mudei para meu apartamento. Mudança de casa é algo que dá trabalho, porém renovador. E eu estava há meses lidando com a papelada do apartamento, ansiosa para mudar, mas tudo andava meio enrolado, nunca saía, então no dia que meu pai faleceu recebi um e-mail que estava tudo certo para eu pegar as chaves. Era tempo de recomeçar. Quando fiz a mudança me certifiquei de deixar algumas gavetas vazias, porque era um pouco assim que me sentia, porque eu quero deixar espaço para o novo entrar.

Na mesma época que meu pai faleceu minha mãe foi morar com minha irmã em Manaus e por ser uma viagem tão longa, foi com ela muito pouco do que possuía. E eu, que havia acabado de organizar a minha bagunça, me vi novamente cercada de coisas. E não era pouca coisa ou coisas sem importância. Era a vida material da minha mãe. Tudo que ela acumulou estava em minhas mãos. Meu pai sempre me dizia para que eu doasse duas peças de roupa para cada uma que comprasse. Ele era um cara extremamente econômico e organizado. Ainda assim, a gente acumula coisas. E agora, a vida material dele também ficou em minhas mãos.

O problema do que acumulamos não são as bugigangas em si, essas são até fácil de dar destinação, o complexo nos acúmulos são as lembranças que ficam impressas em cada objeto, isso faz com que algumas coisas tenham valor difícil de mensurar. É mesmo um processo dolorido esse de fazer limpas, é como se eu estivesse a desempoeirar o passado, a reviver cada memória, toda nossa história. E no caso das coisas deles, quanta história que ficou impressa e que eu não saberei contar.

É fácil doar os utensílios domésticos e as roupas de cama, mas é difícil encaixotar algumas coisas, como os antigos álbuns de fotos. É fácil doar os copos, mas é duro olhar para os cristais usados em momentos especiais e festas. Eu consegui dar destinação para muitas miudezas, mas ainda não sei o que fazer com os dentes de leite que meu pai guardou em um potinho de filme etiquetado com o nome de cada filho. Eu rasguei muitos papéis, mas me detive ao encontrar por entre as coisas do meu pai a passagem da minha primeira viagem internacional em voo solo.

E por ser algo assim tão minucioso, levei quase dois meses só para esvaziar o apartamento da minha mãe (e ainda não consegui organizar as coisas do meu pai). Hoje finalmente consegui tirar as últimas caixas de lá. Meu coração ficou pequeno e não contive as lágrimas diante daquele apartamento vazio, mas que guarda tanta memória.

Quando eu era pequena meu pai comprou em minha homenagem um quadro chamado “Tatiana na janela”. Eu sempre gostei muito dele. O nome do quadro é bem literal mesmo: uma menina de costas olhando pela janela. A minha infância toda cresci olhando para ele e imaginando o que a Tatiana estava contemplando daquela janela. Quando meus pais se separaram o quadro ficou para minha mãe. Hoje ele é meu. E agora pendurei-o na parede do meu quarto que é para eu acordar todos os dias e contemplar o mundo através da janela de Tatiana; e lembrar sempre que, apesar da pintura me agradar muito, a vida é mesmo feita de momentos e memórias e que as melhores coisas da vida de fato não são coisas.

 

Amores verdadeiríssimos

Amores verdadeiríssimos

Por Patrícia Dantas

Do Amor Veríssimo, do jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo, que se oficializou como uma série no GNT para pessoas loucamente curiosas sobre travessuras do amor, seus encontros e desencontros, parcerias de amantes destinados a provarem das mais sublimes dores e prazeres, surgiu a ideia de arrematar todo esse strip-tease pensando no enlace do que poderiam ser nossos amores verdadeiríssimos.

Em nosso raio X de observações diárias sobre pretensiosos atos e acasos dos incontáveis relacionamentos espalhados pelo mundo, só podemos nos apegar ao sentimento de que o bem mais necessário para suprir a carência dos relacionamentos é o vínculo humano, os laços, a conexão de pensamentos e as sensações pelo outro que nos invadem a qualquer momento.

A doação a alguém do que temos de mais íntimo e nosso, tantas vezes inescapável, por medo ou pudor do desconhecido que ousa conhecer o que não estamos prontos para estilhaçar na frente do outro. É esse o labirinto mais retratado em todas as nossas histórias, que na vida real também acontecem em série, mas não com tomadas tão pontuais e vozes cronometradas em ritmos variáveis ou estáticos. É tudo tão assustadoramente instável!

E não é que esses amores muitas vezes misturam suas doses desproporcionais e instalam em nós ritmos perturbados pelo jogo das suas combinações aleatórias? Misturam encontros casuais e proibidos com a louca vontade do próximo encontro; misturam casais que não estão na mesma vibração com novos roteiros que apimentam o relacionamento; misturam a inconstância dos sentidos com a louca vontade da experimentação; misturam e se misturam como os corpos num só movimento.

Quando ela diz “Toma-me em teus braços por toda a vida!”, ele sabe que suas palavras são profundas e quentes, jamais desperdiçará seu tempo tentando provar mentiras inventadas. E quando ele diz “Não se afaste de mim nem por um segundo!”, ela sabe que não escapará desse amor que veio para ficar sabe-se lá por quanto tempo. É esse o jogo que se faz dessas palavras tão carentes de que eles se abracem e vivam como se fossem um só, dentro da mais densa redoma de vidro blindada.

E quando eles não sabem que os atos podem ser meras ficções criadas por alguma mente cheia de invenções? E quando existe a pura encenação? Eles sabem que logo mais se deixarão, em busca do que acreditaram em poucos minutos ser real. Eles vão em frente, são insistentes, até encontrarem alguém que faça algum sentido, que elevem seus corpos para além das aparências de uma breve encenação que revela todos os sentidos.

Poderíamos imaginar as passagens de um romance escrito para percebermos o quanto na vida real a ficção contada e vivida é bem mais complexa, porque toca na vida de pessoas de verdade, com pele e ossos à mostra, vivendo tudo em carne viva – até nos momentos das aparições invisíveis, necessitando somente da sensação palpável para saber que há algo que pode ultrapassar o corpo livre para sentir em êxtase.

Basta que os amores cheguem até nós, amores de diversas formas e por coisas inimagináveis, mas que consigam arrancar quem verdadeiramente somos de nossas almas, extrapolar e dar cambalhotas por cima dos nossos corpos quando encontrarem a grande sensação do amor que vive incansavelmente e jamais está pronto para morrer sem a graça da coisa conquistada.

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Cena do filme “O leitor”

Sobre o movimento reacionário da vez: boicote ao vídeo de O Boticário

Sobre o movimento reacionário da vez: boicote ao vídeo de O Boticário

Tenho acompanhado aqui o “movimento reacionário da vez”.

Grupos religiosos fazem “motim” contra a publicidade que apresenta casais hétero e casais homo se presenteando no Dia dos Namorados.

Todos sabemos que existem casais homo-afetivos.Todos sabemos que eles se tocam, se beijam, se presenteiam, se namoram, se amam. Por que, eu pergunto, ainda há quem se rebele quando isso é mostrado?

Penso que esses reacionários cerceiam-se não movidos por uma genuína vontade, por uma convicção íntima: cerceiam-se por medo. Por crer que a divindade há de vingar-se trazendo-lhes algum tenebroso castigo. Talvez o eterno fogo do inferno… Então, a pessoa se prende, se limita, e mantem regras de castidade e fidelidade, por medo.

Agir por medo não é mérito, é covardia. Assim, ao ver pessoas que descumprem as regras sendo felizes… amando-se, respeitando-se,  doando-se, vivendo como se não temessem as críticas, as injúrias, as pragas que lhes são rogadas, alguns exacerbam no medo e na covardia e querem punir esses “infratores” fazendo-os invisíveis. Por isso mostrá-los causa tanto terror a alguns. O que mais intriga é o fato de que não é a pura sexualidade homossexual que ofende: o que ofende é a alegria! O que faz com que os reacionários incorram num outro pecado capital: a inveja.

Esses movimentos não são de amor. Não são religiosos. Não são moralistas. São revinditas. São vinganças pessoais que impingimos a quem simplesmente é o que é, enquanto temos que carregar o peso das nossas máscaras e a mediocridade de uma fé que não nos traz nenhuma paz, mas nos incita ao ódio e à exclusão.

Quem conhece a si mesmo e assume integralmente a sua sexualidade, regrando-a ou exercitando-a de acordo com a sua própria consciência, não precisa apedrejar a ninguém. Vive e deixa viver.

Desligue o zoom e ative seu olhar panorâmico

Desligue o zoom e ative seu olhar panorâmico

Por Josie Conti

Diremos da infância em 4 atos:

Ato 1

O bebê, no prefácio de sua existência, olha para si, olha para sua mãe e não sabe onde um termina e onde começa o outro: vê-se TODO.
Quando, num súbito momento, olha para sua mão, depois redireciona o olhar para a mão de sua mãe e ouve ela dizer “MÃO”, percebe que há algo em si e algo no outro. Há duplicidade porque não existe um todo e sim duas pessoas. O bebê descobre que existe pelos olhos do outro que o observam, como um espelho, olhos que lhe emprestam formas identificadoras. Nesse momento, inicia-se algo que acontecerá pelo resto de sua vida: a observação e a comparação.

Ato 2

Se, no olhar do outro, um ser humano descobre existir, é também por esse olhar que ele percebe-se amado. E, naquele momento em que a mãe diz “MÃO” e o bebê balança suas mãozinhas e, imediatamente recebe a total aprovação da figura materna em sorrisos, carinhos e incentivos, identifica inconscientemente que, ao dar ao outro o que ele quer, recebe de volta aprovação e afeto. Descobre-se, nesse momento, que as relações acontecem pela troca.

Ato 3

Bebê sorri, mamãe sorri. Bebê chora, mamãe fica brava. Quando alguns objetos são tocados e manuseados existe aprovação, se o bebê bate no rosto da mãe, ocorre a desaprovação imediata. Iniciam-se, nas relações iniciais com os familiares, os condicionamentos sociais que são esperados e o treino de limites.

Ato 4

Durante toda a infância e processo educacional a criança percebe que existe a valorização de algum atributos em detrimentos de outros. Há socialmente mais reconhecimento de determinadas características físicas, formas de se comportar, bens materiais. E, é nesse contexto, que a criança descobre que, para além da comparação, da repetição e da modelagem inicial, acontece também sentimentos como a rejeição, a vergonha e a inveja.

O que acontece na infância, não fica na infância.

Após o período transacional da adolescência para a vida adulta ajustam-se os alicerces construídos. Definem-se os valores pessoais, as crenças, a maneira de ver a si e ao mundo.

Mas, como foi falado no texto homônimo deste subitem ou em outro intitulado “Pedras da Infância”, nossa história, por mais que amadureçamos, nos acompanha durante toda a vida e, em algum momento, na gangorra das decisões parentais, no amor que recebemos, nos valores que nos transmitiram os mesmo no que pudemos assimilar, detalhes importantes podem ter sido perdidos.

Se uma criança não se sentiu amada ela pode tornar-se um adulto carente, dependente, e não desvencilhar-se de, a todo momento, dar mais do que recebe em busca da aprovação que, momentaneamente, a faz sentir-se amada.

A criança que foi excessivamente punida pode não se sentir suficientemente boa mesmo que atinja sucesso escolar e depois no trabalho.

O adulto, que hoje faz questão de exibir carros importados e roupas de grife pode ser na verdade o menino triste que tinha complexo da roupa puída que foi motivo de chacota por parte de algum colega.

Quanto da inveja oculta que se nutre pelo outro, da fotografia de momentos felizes desesperadamente compartilhada nas redes sociais, não representa um vazio anterior que ainda não encontrou voz em novas representações simbólicas de uma existência significativa?

Para uma vida com mais sentido, mais do que a fixação na falta ou mesmo na ideia de uma felicidade constante, precisamos retomar a necessidade de contemplar a dinâmica da vida com olhos panorâmicos. É necessário entender que a caminhada traz em si um leque de sentimentos e circunstâncias das quais a felicidade é só uma pequena parcela. Precisamos retomar o interesse pela reescrita de uma vida interessante e horizontemente representativa.

E, novamente, assim como fez o bebê, descobrir que do todo há a parte, mas que em cada parte também há o todo.
contioutra.com - Desligue o zoom e ative seu olhar panorâmico

Fé na Humanidade

Fé na Humanidade

Por Elika Takimoto

Hoje fiz uma coisa extremamente inusitada e arriscada: algo que poderia acabar com a minha esperança na humanidade ou fazer com que eu desistisse de minha profissão ou algo que o valha. Coloquei o meu humor em risco. Para quem não sabe, sou professora de física, matéria essa conhecida pela sua aridez, pelo mal estar que a véspera das provas causa nos jovens e pelas piores médias em várias escolas do mundo. Ontem peguei as provas dos meus alunos para corrigir. A intenção era entregá-las hoje para eles e explicar questão por questão no quadro apontando os erros cometidos pela falta de atenção, de habilidade ou pela falta de estudo mesmo. Ao ver aquele monte de testes na minha frente, lembrei-me de minha filha – que é minha aluna desde o ano passado – reclamando do quão chatas são essas aulas em que corrijo a prova em sala de aula. Nara entende que é necessário esse tipo de coisa, mas sempre fez questão de deixar claro que não fica feliz quando é submetida a isso.

É muito desconfortável essa situação, a dizer, ver sua filha reclamando da professora-chata e a professora-chata ser eu mesma. Entendo que a Nara verbalizou algo que reflete o que todos os outros pensam mas, por falta de intimidade, coragem e excesso de noção esses outros nunca me falaram que sou insuportável em determinados dias.

Como fazer com que esse procedimento de correção de prova seja algo super interessante, mega maneraço e giga útil para todos? E se eu entregasse a prova para eles mesmos corrigirem, se avaliarem, pontuarem o que fizeram e darem sua própria nota? Pode isso, Arnaldo, aluno corrigir sua própria prova? Você está louca, Elika? Ainda não sabe que não podemos confiar nos seres humanos? Não sabe que aluno é tudo safado e só quer se dar bem? Vai dar essa responsabilidade para esse bando de adolescentes? Elika, me ouve, esquece isso… vai chover nota dez… Mas… não seria uma boa maneira de todos prestarem atenção na correção e observarem atentos os seus erros e acertos? Há melhor avaliação do que a feita por nós mesmos? Há melhor aprendizado do que enxergarmos com nossos próprios olhos o que e onde erramos? Encarar de frente as nossas deficiências não é uma das melhores formas de amadurecermos? Por que não dar essa oportunidade para eles? Vai que…

Tomei coragem e hoje às sete da manhã estava com uma turma de cinquenta alunos boquiabertos recebendo as provas que fizeram, as instruções de como as corrigiriam e o meu voto de confiança. Primeiro de tudo seria bom que usassem caneta vermelha ou de outra cor diferente da usada na resolução da prova; se houver questão em branco, gente, coloquem ‘NF‘ para eu saber que vocês Não Fizeram; para cada questão que eu resolver no quadro eu apontarei o quanto vale cada etapa dela, portanto, prestem atenção em cada parte da correção; questões objetivas são tudo ou nada, essa é a regra… preparados? Ah! Lembrem-se: eu avalio o que está escrito e não o que vocês sabem, isso é muito importante vocês terem em mente. Observem se com o que vocês escreveram eu consigo avaliar seu aprendizado, certo? Podemos começar?

Que alegria viver!

Os alunos nunca participaram tanto e estiveram  tão atentos às minhas aulas de correção de prova como hoje. As notas? Surpreendam-se: houve notas muito baixas, notas médias e notas muito altas. Super dentro do normal. Ao ver o que eles fizeram com caneta vermelha, vi muitos NFs, ou seja, eles tiveram toda oportunidade de escrever algo na questão que deixaram em branco, mas foram extremamente honestos. Em muitas questões, li na própria correção deles  “lerdo”, “para deixar de ser burro”, “uhuuuullll! acertei!!!!!”, “como errou isso???” e coisas do tipo que qualquer professor tem vontade de escrever para um aluno quando corrige a sua prova, mas é freado pelo crivo da ética e do politicamente correto.

Devo confessar. Como era a primeira vez que fazia isso me precavi. Fotografei todas as provas deles frente e verso e corrigi todas elas antes de que eles o fizessem. Anotei o que pontuei para cada questão. Tive um trabalho muito maior do que teria se tivesse simplesmente corrigido diretamente as provas e feito o que sempre fiz. Nem precisava. Comparei as notas dadas por eles com as minhas e não percebi nenhuma diferença que pudesse apontar como suspeita. Da próxima vez, acho que nem me darei esse trabalho em excesso. Já dizia Gandhi: “Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.” Eu sempre ouvi o indiano com os olhos ao ler essa famosa frase, mas agora passarei a fazê-lo com o meu coração.

Estou mega feliz! Menos com a minha coragem e muito mais por poder testemunhar o caráter dos jovens do meu Brasil.

Leonardo Boff: “A vida tem momentos de sombra e de luz, mas são sempre chances de crescer e irradiar”

Leonardo Boff: “A vida tem momentos de sombra e de luz, mas são sempre chances de crescer e irradiar”

Por Gabriela Gasparin

A vida às vezes nos dá a chance de fazer certas coisas que a gente tem certeza que não tem “gabarito” para tal. Por exemplo: quem sou eu para entrevistar Leonardo Boff sobre Deus e a existência humana? Bom, uma jornalista que estava no lugar certo na hora certa.

O filósofo, teólogo e ecologista fez uma palestra recentemente na minha terrinha, São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lá fui eu, a convite de uma querida amiga, para ouvi-lo falar sobre sustentabilidade.

Para quem não sabe, além de teórico da Teologia da Libertação, Boff é bastante ligado a causas sociais e a questões ecológicas, tendo escrito inúmeros livros sobre ecologia.

E é por isso que, nas palestras sobre sustentabilidade, ele mistura de tudo um pouco. Relaciona numa fala só a teoria da evolução de Charles Darwin com a existência de Deus, citando versículos bíblicos. Fala da importância da circulação de energias positivas no mundo para um futuro mais “esperançador”. Cita o consumismo desnecessário dos dias atuais, que abala a vida no planeta. Fala do respeito ao outro e à natureza. “Sustentabilidade é tudo o que fazemos para garantir a vida sobre a Terra”, sugeriu.

Ao final da palestra, aproveitei o momento em que Boff autografava livros para tirar dele algumas palavras sobre o sentido da vida. É claro que esperei o fim da fila de autógrafos para ter a chance de, meio sem jeito, lançar minha pergunta. Eis a resposta que ele deu:

“Eu acho que o sentido da vida é viver, viver com toda a simplicidade, respeitando a lógica da vida. A vida tem seus momentos de sombra, seus momentos de luz, mas são sempre chances de crescer e fazer a vida irradiar. Nós não vivemos para morrer, nós morremos para ressuscitar, para viver mais e melhor.”

Vida eterna

Esperançoso, ao final da palestra Boff disse crer que a sociedade caminha para uma nova era, em que nos preocupamos cada vez mais com o cuidado com a natureza. Como ele reforça muito a preocupação com a Terra, atentando-se a todos os seres vivos, perguntei a ele se acreditava que a vida é um ciclo eterno que se renova por meio da natureza (uma crença minha, confesso).

E, na minha modesta opinião, a resposta que ele deu sobre “vida eterna” vai, de certa forma, ao encontro da minha ideia – só que em outras palavras. “Eu acho que a vida não é nem material, nem espiritual, a vida é eterna. Por isso o nome principal de Deus, para todas as religiões, é vida, fonte de vida. Então eu acho que [quando a gente morre] nós vamos ao encontro da fonte que nos vai rejuvenescer e nos faz mergulhar nessa vida, para que ela seja mais plena e mais radiante e a gente acabe finalmente nos braços de Deus, que é pai, mãe, vida, bondade. E o Deus vive verdadeiro”, declarou.

E o que é Deus? – perguntei. “Deus é um pai maternal e uma mãe paternal, ele é tudo isso, mas muito mais do que isso, o que nós não podemos dizer, porque será talvez a grande surpresa quando encontrarmos e cairmos nos braços desse Deus, que é essa energia poderosa e amorosa que sempre nos sustenta e nos ama.”

Bom, e a entrevista que ele me deu foi curtinha e acabou por aí… (a sorte foi boa comigo, mas nem tanto, e ele precisou dar outra entrevista!). Empolgada que estava com o tema, aproveitei para rever um depoimento dele no documentário “Eu Maior” (que fala sobre a busca do autoconhecimento). Encontrei um trecho interessante sobre Deus versus o homem.

“O ser humano não tem só fome de pão, que é saciável, mas tem fome de beleza, de transcendência, do infinito. Essa fome não pode ser saciada por nada que existe, ela transcende todas as dimensões”, declarou. “Eu acho que o ser humano só realiza a sua identidade profunda se ele equilibrar e buscar realizar as duas fontes, uma que é saciável e se dá no espaço do tempo, e a outra que é insaciável e se dá pelo espaço da transcendência, da comunhão com o infinito, da abertura para aquilo que nós e as religiões chamamos de Deus.”

Na mesma entrevista, o teólogo comentou sobre a ligação das atitudes do ser humano e seu reflexo à Terra, tema relacionado ao do início deste texto. E termino com essa bela frase para que fique a reflexão em cada um:

“Homem vem de homus, terra fecunda, terra fértil. Se nós estamos doentes, adoecemos a Terra. Se a Terra está doente hoje pela excessiva agressão industrialista, pelo desflorestamento, pelo mal trato que fazemos das águas e dos solos, isso se reflete em nós, na perda do equilíbrio e num mal estar generalizado da cultura. Então, felicidade, saúde do planeta e a saúde do ser humano vão juntas. Não podemos ser felizes num planeta infeliz.”

Vidaria é um projeto parceiro Conti outra.

Leia mais histórias como essa em Qual o sentido da vida?

Não tens dinheiro, mas tens amor e imaginação

Não tens dinheiro, mas tens amor e imaginação

Por Raul Minh’alma

Esta mensagem é para ti, rapaz, que para tentares ganhar um sorriso da tua namorada, precisas de puxar da carteira. Esta mensagem é para ti, rapaz, que para tentares conquistar a mulher dos teus sonhos, a enches de objetos caros e fúteis. Esta mensagem é para ti, rapaz, que por preguiça de pensar em algo romântico e diferente, acabas por te socorrer da tua conta bancária recheada para encantar a tua miúda.

Rapaz, ela não quer objetos, quer momentos. Ela quer algo que fique para sempre no coração dela, não na estante do quarto. Ela quer algo que a faça viajar para outro lugar e não que a faça pensar no lugar onde o colocar. Ela quer-te a ti no mundo dela, não as tuas coisas. Não lhe dês o que qualquer um lhe pode dar, dá-lhe o que só tu lhe podes dar. Dá-lhe amor, dá-lhe confiança, dá-lhe carinho, dá-lhe conforto, faz-lhe uma surpresa! Sê simples, sê sincero, sê romântico, sê apaixonado, sê original!

Certamente já caíste na tentação de lhe oferecer um relógio. Mas nunca caíste na tentação de lhe dar um ramo de flores. Certamente já caíste na tentação de lhe dar uma pulseira da Pandora, ou uma peça para ela. Mas nunca caíste na tentação de lhe dares a tua companhia quando ela mais precisava. Certamente já caíste no ridículo (sim, já nem tentação é) de lhe dar dinheiro para ela comprar uma prenda para ela. Mas nunca caíste na tentação de a convidar a ver o pôr do sol contigo. Rapaz, ela não precisa de algo super elaborado, super caro, ou super qualquer coisa. Ela precisa de algo que seja feito especialmente para ela, com carinho, com amor e com toda a atenção do mundo. Ela precisa da tua mensagem de bom dia todas as manhãs; ela precisa de teu beijo de boa noite todas as noites. Coisas simples que nenhum objeto que lhe possas dar irá substituir.

Mas esta mensagem também é para ti, rapaz, que por não teres dinheiro, achas que
não consegues conquistar aquela rapariga que tanto desejas. Mas sabes uma coisa? Não precisas de ter dinheiro: precisas de ter amor e imaginação. Se não tens dinheiro para lhe dar uma prenda, escreve-lhe um poema. Dá o teu melhor! Não importa se usas as rimas mais fáceis e as palavras mais simples que sabes, mas fá-lo com intenção, fá-lo com carinho e amor. Se não tens dinheiro para a levar a jantar fora, faz tu mesmo o jantar. Talvez tenha um pouco de sal a menos, ou até fique um pouco queimado, mas ela vai saber que o fizeste com amor, que o fizeste por ela e que deste o teu melhor. Se não tens carro para a levar a passear, convida-a para verem as estrelas no teu jardim. Talvez até esteja um pouco de frio nessa noite e o teu cão se lembre de se juntar a vocês e quebrar o clima. Mas mais tarde até se vão rir dessa situação, e ela vai lembrá-la, essencialmente, com amor. Vai lembrar-se que sempre lhe deste o melhor de ti, vai lembrar-se que usavas a cabeça e o coração para compensar o que o teu bolso não tinha, vai lembrar-se que com pouco sempre fizeste muito. E vai lembrar-se porque ficou guardado no coração dela e não numa gaveta ou estante do quarto. Porque o tamanho do teu amor não é definido pelo número que vem na etiqueta.

Nunca te esqueças: o que lhe deres de supérfluo, ela irá guardá-lo no bolso, o que lhe deres de fugaz, ela irá guardá-lo na mão, o que lhe deres de interessante, na memória, e o que lhe deres de eterno… no coração.

Nota da Conti outra: Agradecemos ao autor português Raul Minh´alma por nos enviar esse texto e autorizar a publicação nesse espaço.

Sonhei com você

Sonhei com você

Fabrício Carpinejar

Ninguém resiste a um sonhei com você.
“Sonhei com você” cria uma cumplicidade imediata, uma afinidade súbita. Mudamos o nosso olhar para a conversa e para o interlocutor.

Pode ser trova, pode ser chantagem emocional, mas é um recurso sedutor infalível.

No início da relação ou quando se é apenas amigo, o sonho é uma cantada que desperta a curiosidade.

Você procurará saber o que foi e o que estava fazendo no sonho de outra pessoa.

Mesmo os mais inteligentes e maduros, os mais céticos e descrentes, sucumbem à estratégia.

É um sinal claro de interesse e de disposição para começar algo, já que o inconsciente criou uma memória em comum, uma memória a dois.

Os homens, tarados por sua natureza, imaginam que são sonhos eróticos e crescem seu apelo pelo relato.

Não se dá muita chance quando alguém diz que pensou em você, mas quando diz que sonhou com você muda de figura e ganha toda a nossa atenção. O interrogatório do que aconteceu na mente alheia é inevitável.

Adere-se ao território das verdades secretas, aos símbolos do divã, à esfera mística das casualidades inexplicáveis.

Como contestar um sonho? Não tem como desmentir.

Nem criamos oposição. Queremos, no fundo, sermos sonhados, sermos conduzidos, receber sinais de anjos e de cupidos.

Na paixão, somos supersticiosos, somos místicos. Não marcamos encontros, abrimos cartas de tarô na alma.

Procuramos uma união que seja maior do que nossa força, que seja uma fatalidade, um destino agendado de vidas passadas.

Trata-se de uma facilidade sentimental, para não precisar justificar nossa escolha diante dos amigos e parentes. Pois foi o destino que definiu, não a gente, acabamos nos isentando de nossos gostos e predileções.

Se o sonho serve para estabelecer proximidade, o pesadelo é o elo para recuperar os laços.
Durante a separação, no momento em que perdeu o contato com o ex e a ex e não conta com pretexto para retomar o diálogo, o pesadelo vem como panaceia da saudade.

Do nada, pode mandar uma mensagem que sempre produzirá estrago: “Tive um pesadelo com você. Está bem?”

É óbvio que ganhará resposta. Pelo medo do castigo, da macumba e da maldição, e também porque não há como deixar uma preocupação sobre a saúde no vácuo.

Não perceberá que ela e ele procuram somente notícias de sua condição, é uma pescaria aleatória, com a meta de descobrir qual é o seu estágio de sofrimento.

O objetivo é de menos. O pressentimento, ainda que ruim, demonstra falta e indica uma forte ligação espiritual. Várias reconciliações se deram por um pesadelo falso ou verdadeiro. Não há como se indispor, ainda que a briga tenha sido épica e a ruptura justa.

O pesadelo é o habeas corpus do amor.

contioutra.com - Sonhei com você

Originalmente publicado no Jornal Zero Hora 

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