Uma palestra de 18 minutos que já foi vista quase meio milhão de pessoas na qual a médica Ana Cláudia Quintana Arantes afirma que “Medicina é simples, difícil é psicologia”.
Ela fala da dor, da terminalidade e da morte, dando a dimensão vivida por aquele que está sob cuidado paliativo, vivendo os seus últimos dias.
“O sucesso como responsabilidade e o fracasso como culpa”, eis a teologia do Empreendedorismo. Esta, ao lado da Teologia da Autoajuda e a Teologia da Prosperidade, dita a visão de céu e inferno nos dias de hoje. É o que afirma Leandro Karnal na palestra abaixo.
Inteligente, eloquente e de uma lucidez invejável, ouvir Leandro Karnal é um grande privilégio.
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, em entrevista concedida em 1994, afirma que a crônica auxilia o historiador a entender a realidade o momento histórico em que a história é contada.
Sempre bem humorado e com uma presença de espírito singular, a fala de Drummond, neste vídeo, mostra-nos um Brasil cujos costumes sofreram modificações e cujas problemáticas sociais foram pouco modificadas.
Filmes com temática feminina são normalmente vistos com preconceito por grande parte dos críticos, com certa razão, já que, na maioria das vezes, abusam dos clichês e apostam no melodrama folhetinesco, resultando em variações daqueles livros românticos de banca de jornal. Para cada comédia romântica verdadeiramente interessante, original e inteligente, existem dez genéricos imediatistas. “Shirley Valentine”, dirigida por Lewis Gilbert, em 1989, é uma dessas ótimas exceções.
O texto esbanja um senso de humor ácido, amparado por uma estrutura deliciosamente farsesca, com o constante uso da quebra da quarta parede. A protagonista, vivida competentemente por Pauline Collins, conversa com o público, uma troca de experiências, já que, em algumas cenas, a personagem parece seguir a resposta do público, como quando recoloca os óculos escuros ao perceber seu marido se aproximando, perto do desfecho. Quase podemos escutar o público feminino na plateia dizendo em tom orgulhoso: “Não desce do salto, Shirley”. E ela sinaliza imediatamente para a câmera que escutou o conselho. Esse diálogo franco com o público-alvo funciona porque é alicerçado em grandes verdades, algo que se estabelece logo na primeira cena, quando vemos a mulher confidenciando sua solidão para a parede de sua cozinha.
A química é irresistível, ficamos encantados com essa pessoa minimizada pelo acúmulo de decisões equivocadas, mas que, como a bonita música-tema cantada por Patti Austin evidencia, ainda busca reencontrar aquela garota que foi outrora, o pássaro que nasceu para voar, porém, desencantado com os sonhos desfeitos, acordou numa manhã e não se reconheceu no espelho de sua gaiola.
Hábitos simples, como dançar e sorrir em uma manhã chuvosa, substituídos implacavelmente no cotidiano por uma postura submissa ao marido, vivido por Bernard Hill, um estranho grosseiro cuja única conexão aparente é a aliança no dedo, fruto de uma antiga decisão inconsequente, um contrato assinado por mãos jovens e que não haviam sido ainda castigadas pela realidade da vida.
A simpatia dela contrasta violentamente com a insensibilidade dele, demonstrando no subtexto uma tremenda resiliência de Shirley. Qualquer mulher na mesma situação já teria se enclausurado na amargura profunda, sem traço de esperança visível no horizonte. O prato simples, ovos com batata frita, que ele agressivamente rejeita no início do filme, é o mesmo que ela oferece aos clientes do restaurante, no terceiro ato, quando já está avançando no processo de reinicialização do seu sistema pessoal, mostrando que sua autoconfiança, primeiro elemento que é dizimado numa relação fundamentada em ofensas gratuitas, não foi abalada por aquele evento. Ela viaja para a Grécia, realizando seu maior sonho, sem utilizar qualquer muleta psicológica, superando até mesmo a indiferença da amiga que a havia convidado.
“Você beijou minhas estrias!”
Shirley utiliza o silêncio como ambientação para refletir sobre suas decisões, aprendendo que deve buscar a satisfação sexual. Quando descobre que seu amante grego, vivido por Tom Conti, é, na realidade, um mulherengo, ela não se sente ofendida. O que importa para ela é que aquele homem a enxergou como a mulher interessante e bela que sempre foi. Como ela afirma assustada, após fazerem amor, ele havia beijado as suas estrias.
Ela chega a invejar a atitude gazeteira e libertária dele, aproveitando cada momento de sua existência. Talvez, Shirley tivesse se tornado uma conquistadora, abraçando as possibilidades apaixonantes da vida, caso não tivesse se prendido tão cedo em um ritual secular de hipocrisia. Essa identificação carinhosa, simbolizada na cena em que ela o flagra passando mais uma cantada em uma turista, é a constatação definitiva da sublimação de sua insegurança.
“Eu não me apaixonei por ele. Eu estou me apaixonando pela ideia de viver”.
Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.
Descobrimos que somos menina ou menino, que gostamos de boneca ou de carrinho, que usamos vestido ou bermuda. Nós vamos aprendendo a vestir os nomes que nos são dados e os nossos gostos e hábitos, assim como vamos aprendendo a pentear os cabelos e a calçar os sapatos.
Aprendemos, desde muito cedo, a nos definir e essas definições vêm do mundo, vêm primeiramente dos olhos alheios. Nós recebemos nomes como se fossem títulos, assegurando-nos um tipo, um modelo dos já existentes e catalogados no mundo.
Nos dão um espaço estabelecido no arquivo que registra as personalidades.
Esses nomes e modelos nos servem de guia para sabermos quem somos, para nos reconhecermos, e para nos proteger das florestas misteriosas do mundo e nos colocar num seguro trilho.
Trilhos tem ponto de partida e ponto de chegada, tem mapas, não tem susto, o caminho já é conhecido e por isso garantido. Nossa família, que nos ama tanto, faz questão de assegurar que nos deu atributos o bastante para entrarmos no trilho e seguirmos sozinhos. Então o coração dos pais pode acalmar: serviço cumprido! O filho segue em viagem calma e bem sinalizada.
A viagem pelo trilho é tão macia, fácil, o trem segue no automático, tudo o que nos é familiar segue no mesmo trilho, e nós só temos que nos deixar levar, e manter nossa identidade à mão, saber quem somos pelos nomes e modelos que fomos recebendo desde que nascemos.
Acontece de em algumas fases da vida, algo dentro de nós nos incomodar e então decidimos que precisamos agregar outros nomes e modelos à nossa definição de nós mesmos para ver se expandimos nossa experiência.
Tomamos a decisão de mudar de trilho, entrar em um outro que segue por caminhos mais ‘iluminados’ ou interessantes e que nos dão outras visões de mundo. Então nossos nomes vão crescendo, agora temos estilo, gostos diferentes, somamos experiências, somamos livros na estante, títulos de pós-graduação, amigos no facebook e viagens pelo mundo. Nos tornamos uma pessoa grande, enorme, cheia de nomes e qualidades.
Nós aprendemos a seguir um trilho, nós aprendemos a mudar de trilho, nós aprendemos a enfeitar nossos trilhos e a congregar novos valores a eles, mas nós nunca aprendemos a sair dos trilhos, a mudar verdadeiramente.
Nós não exploramos a nós mesmos debaixo desse monte de entulho de nomes. O que passamos a ser é uma casca, rasa. Somos o que nos define, somos um estereótipo, somos uma máscara pré-moldada de modelo antigo e já não sabemos quem somos sem ela, e já ne sabemos como tira-la.
Nós nunca mudamos verdadeiramente até tirarmos as máscaras e sairmos dos trilhos e entrarmos no nosso desconhecido familiar ou na origem de nós mesmos.
Mas, para que faríamos isso? Para que quebrar uma bonita máscara? Para que romper o caminho comodista?
Eu não sei por que, e não sei para quê.
Só sei que viver assim, sem nunca sair do trilho, parece um viver de quem só fica nas margens das próprias possibilidades, só vive uma vida emprestada, rotulada e trivial. Viver assim me parece um esquecimento de si mesmo.
Há uma criatividade imanente querendo explodir. Há uma alma inquieta, aventureira, que quer vasculhar-se, que sempre se enamorou mais das visões das janelas dos trens que enquadravam as inúmeras possibilidades de ser lá fora.
Há uma criatividade que quer transbordar e quebrar as molduras de qualquer nome e ir além (ou aquém) de qualquer formato pré-estabelecido, que seja político, religioso, intelectual…
Há uma vontade de respirar e fazer da vida um desentulhar e um desatar de laços e trilhos e nomes.
Há uma vontade de ver o mundo sem juízo de valores, de ouvir o silêncio que surge da mente vazia de quem já não briga consigo mesmo porque não conquistou mais títulos e pedaços de papel.
Há uma vontade de aliviar a si mesmo do peso de tantos rótulos e se permitir se definir com tudo que há no mundo, desde o que já foi registrado até o que ainda nem tem nome.
Estereótipos delimitam a vastidão da alma humana.
Todos nós somos rios represados, que já não sabem mais correr e abrir caminhos, livres.
A criatividade me libertou um pouco. O pensamento criativo me fez querer reinventar a vida de forma inaugural. E me fez finalmente aceitar que não, eu não tenho que escolher um nome, um lado, um polo, um partido.
Sou louca e santa, joio e trigo, isso e aquilo, tudo e nada. Eu danço conforme eu sinto (e de olhos fechados).
Eu não tenho que entrar num trilho. Mas em cada esquina que eu passo, nesse eterno caminho entre a lucidez e a loucura, alguém tem um nome para me dar, um rótulo, daqueles banalizados, captados no primeiro olhar. Daqueles que olham para minha cara de boba e já entendem de que tipo eu sou.
Mas hoje eu só queria dizer que definir é delimitar. E que entre o certo e o errado, eu escolho o caminho inexplorado.
Ou como disse Rumi: ‘Em algum lugar entre o certo e o errado existe um jardim. Te encontro lá.’
Tenho lido e escutado muito que a faixa etária média do usuário do Facebook tem aumentado. Os mais jovens estão buscando outras redes sociais, enquanto os adultos (pre)dominam cada vez mais. Poderíamos até pensar que esse aumento da idade provocasse então uma elevação do nível de maturidade, mas não é isso que constato. Tenho mais a impressão de estar dentro de um enorme jardim de infância virtual.
Imagine crianças brincando. Elas pegam um cobertor e duas cadeiras, fazem uma “casinha” com isso e supõem que é um castelo. Essas crianças vão levar essa brincadeira a sério e acreditar realmente que estão em um castelo medieval, com rei, rainha, bobo da corte, cavaleiros andantes e tudo que se tem direito. Isso, no mundo das crianças, é algo maravilhoso e útil, pois as crianças precisam da fantasia para se prepararem para a vida real dos adultos. Pois bem, agora imagine pessoas adultas fazendo o mesmo, não com cadeiras e cobertor, mas em um mundo virtual, em uma rede social, como no Facebook: essas pessoas adultas constroem também aqui seu mundo fictício, sua “ilha da fantasia”, expondo aquilo que acreditam ser, identificando-se com os folclores e mitos que acham bons. Até aí tudo bem, mas a coisa começa a ficar problemática quando algumas dessas pessoas começam a levar a “brincadeira” a sério demais, acreditando nesses folclores e mitos virtuais e naquilo que expõem de si. O que acontece então é a mesma coisa como no jogo das crianças: um quer ser o rei do castelo, mas outros também querem, até o “bobo da corte” acha que o rei deveria ser ele. Uma menina é escolhida como princesa, mas ela prefere ser rainha, e a discussão é levada com a seriedade de crise mundial. As crianças resolvem o assunto de alguma forma, alguns ficam satisfeitos, outros não gostam, uns ficam embirrados, outros choramingam, xingam, uns se jogam no chão, esperneiam e se negam a aceitar “as regras do jogo”. E é triste constatar: há adultos que se comportam da mesma maneira!
Não é isso que vemos diariamente? Gente levando tudo a sério, como se fosse vida verdadeira, gente egocêntrica, que acha que tudo gira em torno de sua pessoa (o egocentrismo de crianças é necessário e saudável – até certo ponto. Já o egocentrismo de adultos é para mim um desvio preocupante!), gente que fica embirrada quando não consegue o que quer, quando se declara rei ou rainha, mas não é aclamado(a) pelo “povo”, quando sua forma de “brincar sua fantasia” não é aceita e aplaudida por alguém. Às vezes, rola briga e gente imatura sai zangada, reclamando, e procura seus “amigos” para choramingar e lamentar: <<Olha gente como fui maltratado(a)! Quis ser rei/rainha e brilhar aqui no castelo (Facebook), mas fulano disse que eu só presto para ser dragão>> – coisa que fulano nem disse, mas isso torna a coisa mais dramática e acentua o papel de vítima. <<Consolem-me, por favor!>>. São formadas então fracções e coligações e o “dragão” volta com seu “exército” de embirrados, pronto para atacar quem quer que seja, por lealdade ao “amigo(a)” e por gostar de uma briguinha. E o ataque (infantil) começa: “Você não pode ser rei, pois seu nariz é torto!”, “você não pode ser rainha, pois mais parece uma bruxa”, “você não pode ser cavaleiro, pois mais parece um cavalo”. E a infantilidade continua, continua, continua… E rende, rende, rende, já que, como no mundo real das crianças birrentas, só se quer uma coisa: ter razão, custe o que custar! E, se não for por bem, então vai na birra…
Se alguém acha que estou exagerando, que pare um pouco para ler determinados posts e comentários pelo Facebook afora. Muitas vezes, falta qualquer objetividade, adultos discutem realmente como se fossem crianças embirradas, críticas são imediatamente tomadas como ofensas pessoais, que são devolvidas então como insulta pesada, os fatos são torcidos, a hostilidade é grande e, quando se junta a capacidade de abstração infantil com a prepotência adulta, o controle é muitas vezes perdido e qualquer forma de civilidade e qualquer capacidade de diálogo desaparecem. Pessoas adultas se comportam de uma forma infantil, imatura, cobram sua liberdade de opinião, mas não aceitam que os demais têm o mesmo direito. Qualquer opinião alheia é recusada, exceto quando se trata de um elogio, de alimento para uma autoestima baixa.
Se não fosse a sobriedade de alguns, realmente adultos, que conseguem discernir entre o mundo real e virtual e sabem se comportar adequadamente nos dois, o Facebook poderia ser visto como um verdadeiro hospício!
Não, não estou querendo aqui criticar o Facebook, redes sociais ou mesmo a internet. Não é isso. Como em tudo, há vantagens e desvantagens e sei muito bem usufruir das vantagens do mundo virtual. Só reflito aqui “em voz alta” sobre o comportamento de certos usuários, sobre a forma como muitos usam determinadas ferramentas e sobre o que se encontra por trás disso.
O mundo virtual não é para mim realmente virtual, já que por trás de cada perfil há uma pessoa real. A internet não é (ainda) totalmente controlada por máquinas. Ela é feita por pessoas e o mundo virtual, em minha opinião, é um espelho do mundo real. Mesmo que sejamos mais extremos na internet (por nos acharmos protegidos por uma suposta anonimidade?), os rastros que deixamos aqui é reflexo do que nos move e preenche ou que nos prende e esvazia no mundo real.
Portanto, não creio que essas animosidades de “birrentos cibernéticos” sejam algo “da internet”. Quem se comporta assim ou assado virtualmente é porque se comporta do mesmo jeito no mundo real (ou gostaria, mas não tem coragem ou espaço para isso). Toda essa hostilidade e toda essa infantilidade que vemos por aqui tem sua origem em vaidade, orgulho, frustração, amargura, complexos, limitações reais. A coisa vai tão longe que blogueiros famosos (por exemplo, Leonardo Sakamoto – Por que fechei meu blog para comentários) não permitem mais comentários em seus posts, alegando que eles perdiam muito tempo moderando a “loucura” de certas pessoas, que só comentavam para polemizar, reclamar, insultar e hostilizar, sem nada oferecer, sem nada construir.
Penso que ainda vamos precisar de algum tempo até aprendermos a lidar corretamente com o mundo virtual e com seus desvios e loucuras. Observando a velocidade com que o mundo digital tem se desenvolvido nas últimas décadas, compreendo que ainda estejamos deslumbrados com uma tecnologia que se encontra engatinhando. Acredito que a internet se desenvolverá ainda mais no futuro próximo, tornar-se-á ainda mais poderosa e sua presença em nossas vidas será ainda maior. Só espero que possamos desenvolver também técnicas adequadas para lidar com as excrescências, pois a internet, mesmo sendo uma benção na vida do homem moderno, tem seu lado negativo, para não dizer perverso. Mas creio que o melhor caminho para encerrar ou pelo menos reduzir comportamentos imaturos e hostis na internet seria o de (re)educar urgentemente as pessoas no mundo real, pois acho que é isso que falta. E isso se recebe em casa, na escola e no meio social real de cada um, não na internet.
Semana passada, enquanto voltava do trabalho, vi uma cadela de uma raça que desconheço.
Ela usava brinco, tiara e uma coleira onde estava gravado seu nome. Era conduzida por uma mulher de óculos escuros e um terninho branco bem ajustado ao corpo. As duas entraram em um Pet Shop e a dona lhe comprou ração de variados sabores: carne, peixe, frango, legumes… Ainda comprou uma escova de dente e um creme dental especial para sua estimada companhia peluda. Depois, entraram em uma camionete. A cadela colocou a cabeça na janela do banco do passageiro e saiu sentindo o ar que batia em seus pelos devidamente tosados. Serenava levemente e a mulher fechou os vidros do veículo para não desmanchar o penteado canino.
Também vi, na semana passada, uma criança de uns cinco anos. Eu reconheço sua raça; é a minha raça.
Ela estava com a mãe em uma parada de ônibus. Falaram alguma coisa ao motorista, que as olhou com ternura e mandou que entrassem pela porta traseira. Era um menino e estava molhado pelo sereno leve que caía. Estava sujo, descalço e queria que a mãe lhe comprasse um cachorro-quente. Exigia. Gritava. A mãe pedia, quase cochichando, que falasse baixo, pois estava “me matando de vergonha, menino”.
A mulher pedia. Implorava. O pequeno se cansou. Entreteu-se lambendo o sal de um esgotado saco de pipoca. Rasgou-o, ferozmente, e percorreu com a língua todo o interior da embalagem. Depois pediu água. A mãe lhe segredou baixinho que esperasse chegar em casa. Ele chorava alto e pedia. Implorava.
Eu desci do ônibus e vi uma cadela de uma raça, que desconheço…
Aqui são descritas pessoas com temperamentos fortes e especiais e outras já com diagnóstico de bipolaridade. Em todos os casos, analisa-se como esse temperamento pode ter sido influente em seu sucesso.
Por Diogo Lara
ALGUMAS PESSOAS FAMOSAS ILUSTRAM a diversidade de expressões que o temperamento forte pode assumir, tornando-as mais evidentes na sociedade. Muitas provavelmente manifestaram a bipolaridade, mas quero enfocar seus temperamentos especiais. Não faltaram personagens e ídolos do século XX que tiveram, além da exuberância, trajetórias meteóricas para o sucesso e fins trágicos e também precoces. Entre os artistas, Elvis Presley e Marilyn Monroe nos Estados Unidos; no Brasil, Elis Regina, Cazuza, Renato Russo, por um triz não foi Herbert Vianna para citar alguns. Pode-se afirmar que suas características de intensidade emocional, criatividade e sensualidade, entre outras, favoreceram sua projeção, mas vieram acompanhadas de outros comportamentos, como uso de drogas, atividade sexual não segura ou aventuras ousadas demais.
Em um documentário recente sobre Elvis, palavras como sensualidade e sexy foram tão pronunciadas quanto seu próprio nome. Surgiu jovem, sorriso fácil, à vontade sob os holofotes e as câmeras, totalmente entregue
tanto em canções animadas quanto nas românticas, dançando de uma maneira tão extravagante que faria qualquer outro parecer ridículo, criando moda e quebrando tabus, com o brilho hipertímico no máximo. Transou com inúmeras fãs. Com o passar dos anos, foi ficando pesado no humor e no corpo, instável. Destruiu-se com 40 e poucos anos. A trajetória de Marilyn não foí muito díferente. Lógico que o fato de os dois serem muito bonitos contribuiu para o estrelato, mas o que os fez diferentes das outras centenas de rostinhos bonitos ou vozes afmadas era a atítude naturalmente brilhante e o magnetismo que emanavam, comum em muitas pessoas com o perfil bipolar.
Quem viu não esquece Elís Regína cantando Arrastão, com os braços girando como uma hélice, pronta para decolar, Assim, de cara, na estréía para o grande público, uma guria! Como Elvis, tinha a versatilidade de produzir naturalmente o tom emocional certo para cada músic. Suas interpretações comoviam e contagíavam. Mimetizava o próprio humor, provavelmente ciclotímico, indo do paraíso ao inferno em minutos. Suas opiniões eram fortes e decididas, não se importava com o juízo que fizessem, condizendo com o apelido de Pimentinha. Passou por inúmeros cortes de cabelo, vários estilos de vestir e alguns homens. Excedeu-se nas drogas e teve fim aos 40 e poucos anos- não fosse pelo seu temperamento talvez isso não tivesse ocorrido, mas provavelmente também não teria sido a grande Elis.
Renato Russo e Cazuza tinham o dom da poesia original e instigante e o brilho para interpretá-la musicalmente em sua plenitude. ambos morreram devido ao mesmo tipo de conduta insegura. Os dois também pareciam expressar a chamada pansexualidade, ou seja, o que vier vem bem se der o clique certo. Cazuza encarnava francamente o perfil hipertímico, enquanto Renato Russo parecia puxar para o padrão ciclotímico, mais nebuloso, rebelde e turbulento. Já foi demostrada, sem grande surpresa, a alta frequencia de pessoas de espectro bipolar infectadas sexualmente por vírus sexualmente transmissíveis, como o HIV, que vitimou ambos.
Ayrton Senna não suportava ver ninguém à sua frente. Sentia-se bem a 300 km por hora. Pilotava no limite, um limite desenhado e desafiado por anos de dedicação e sensibilidade para os detalhes. Quando perdia, a culpa era sempre do carro ou de algum inepto que não sabia pilotar, nunca sua – mas com este potencial de ataque e conquista, quem precisa de mecanismos de defesa psicológicos evoluídos? Tinha fortes atributos de persistência: redobrava a dedicação, o planejamento e a concentração para a próxima prova. Foi uma pessoa marcada pela intensidade afetiva, o carisma e as conquistas.
Herbert Vianna, certamente um dos grandes talentos musicais brasileiros das últimas décadas, acidentou-se voando de ultraleve. Podemos nos pergumax o que leva pessoas como ele a correr certos riscos. Para entender, só usando a lógica da novidade, da aventura, do diferente e da emoção, que não à toa coexistem nos gênios e nos criadores.
Vários outros talentos artísticos, alguns com histórias mais trágicas e conturbadas que outros, poderiam ser citados e analisados, como Picasso, Dalí, Mick Jaegger, Janis Joplin, Rita Lee… cada um com expressões particulares do universo de seus temperamentos marcantes.
Na linha dos empreendedores, um exemplo é Jack Welch, presidente por vários anos General Electric. Considerado um dos maiores executivos de todos os tempos, revolucionou a empresa, desburocratizou-a, quebrou regras e dogmas. Comandou negócios tão diversos como a produção de eletrodomésticos, canais de tevê e satélites. Era excepcionalmente franco, impaciente, competitivo, ousado, odiava burocracia, adorava festas e comemorações e tinha um pensamento tão rápido que chegava a atrapalhar sua fala.
Pessoas famosas com bípolaridade
Não faltam exemplos de pessoas que, além do temperamento forte, têm (ou tiveram) bipolaridade em algum grau. Pelo estigma que o transtorno de humor bipolar ainda carrega na sociedade pode se compreender por que muitos evitam divulgar seus sintomas ou tratamentos.
Na literatura, Agatha Christie, Virginia Woolf, Ernest Hemingway, Edgar Allan Poe, Graham Greene, Hans Christian Andersen. Na poesia, T. S. Eliot, Walt Whitman. No Rock, Axl Rose (vocalista do Guns n´Roses), Kurt Cobain (ex vocalista do Nirvana). No jazz, o pianista Thelonius Monk. Na música erudita, Tchakosvky e Mozart. No cinema, Robin Williams, Jim Carrey e Elizabeth Taylor. Nas artes, Paul Gauguin e Vincent van Gogh, revelados inclusive pela intensidade das cores de seus quadros. Vale dizer que não é requisito ser bipolar para ser artista, mas vários estudos apontam que a presença de bipolaridade é bem mais frequente entre artistas do que na população geral. Outros bipolares entre famosos personagens da história: o filósofo Platão e o cientista Isaac Newton. Na política, Winston Churchill, Abraham Lincoln e Ulysses Guimarães.
O temperamento forte e uma provável bipolaridade leve parecem ter contribuído para a projeção e o sucesso da cantora de ópera Maria Callas e o chef francês Bernard Loiseau. Ambos tinham a emoção aflorada, grande entusiasmo, humor exaltado e a busca da perfeição como características marcantes, além de um estilo próprio de atuar que revolucionou suas áreas. Ambos viveram suas apoteoses até a quarta década de vida e morreram cedo, ela aos 54 e ele aos 52 anos. Loiseau, em poucas semanas, foi invadido por uma grande turbulência do humor acompanhada de extrema negatividade, que era o oposto de seu perfil até então hipertímico. Suicidou-se com um tiro de espingarda. Sua maior preocupação era manter a extrema qualidade e originalidade de pratos de seu restaurante La Côte d´Or, que havia sofrido uma leve queda de cotação em um guia de restaurantes.
Diogo Lara é médico psiquiatra, professor e pesquisador em neurociências.
O texto acima é fragmento do seu livro “Temperamento Forte e Bipolaridade: dominando os altos e baixos de humor.
Sei que, pelo menos uma vez na vida, alguém já disse que não queria me ver nunca mais. Alguns até resistiram aos meus caprichos e se fecharam, outros não conseguiram ficar nem uma semana sem mim.
Acho engraçado pensar que as pessoas têm medo de mim. Sempre afirmam que eu não sirvo para nada além de fazer sofrer, perder a cabeça, levar à loucura. Mas, convenhamos: essa é a minha função. Durante a paixão ardente, eu sei que cada um de vocês sente a minha plenitude. Eu gosto de ver isso nas pessoas, quando estou com elas. Gosto de vê-las secando de desejo, sentindo fome, sede, uma vontade absurda e inexplicável por dentro. Quando estou aí dentro, é a melhor sensação que vocês já sentiram. Podem admitir.
O problema vem depois. Muitos odeiam quando eu vou embora rapidamente, outros se questionam quando eu chego sem avisar, outros piram quando eu apareço queimando por dentro. A verdade é que ninguém vive sem mim. Pode tentar fugir, mas um dia eu vou encontrá-lo e você vai se render. Pode ser criança, jovem, adulto ou velho. Não me importo com idade, sexo, religião, cultura ou etnia. Não tenho preconceito nenhum e sempre arranjo um jeito de me fixar em seu peito. Apertando, apertando, apertando cada vez mais. Uma dor boa. Um frio na barriga, um sorriso no rosto, uma cabeça no mundo da lua.
Um vírus. É exatamente isso que eu sou. Um vírus, uma doença. Já reparou que, quando as pessoas estão apaixonadas, elas têm os mesmo sintomas? Vem, incomoda, aflora e passa. A diferença entre o que sou e uma doença é que a doença é um incômodo ruim, eu sou um incômodo bom. Às vezes, nem sou um incômodo. Isso depende de cara, organismo, ou melhor, de cada tipo de alma ou de cabeça.
Alguns são fracos e eu parto-os ao meio. Outros são fortes e me curtem até o ultimo momento. Também como um vírus, eu venho em diferentes intensidades, já que um mesmo vírus não entra duas vezes no mesmo corpo. É como se existissem vários eus e, por isso, uma paixão nunca é igual à outra.
Não precisa ter medo de mim. Fugir da paixão, fugir do amante. Eu não vou machucá-lo tanto. Eu passo e vou embora, prometo. Quanto mais você me evitar, mais desastrosos serão os sintomas quando eu encontrá-lo. Eu posso deixar sequelas, mas, se você aprender a lidar comigo, elas serão cada vez menores, juro.
Eu posso demorar um pouco para sair de você, mas isso também depende de cada organismo. Alguns sentem falta de mim, choram para me ter logo por perto e outros choram para que eu me afaste. Geralmente, auqeles que me desejam são os que já passaram por muitas coisas e precisam de mim para aliviar o estresse do dia a dia, afinal, eles sabem que uma hora eu vou embora. Já os outros, que têm medo de me encontrar, acham que eu vou ficar cravada no coração por um bom tempo, impedindo-os de viver. Isso só acontece se você me permitir, mas é uma opção perigosa, que não costuma ser eterna, porque eu vou embora algum dia. Talvez quem fique depois seja o meu companheiro, o amor. Muitas pessoas nos confundem, mas confesso que somos bem diferentes. Tem vezes em que eu o apresento, outras vezes ele me apresenta às pessoas e isso acaba causando um mal entendido. Às vezes, andamos lado a lado, mas não somos o mesmo.
Sei que já magoei muitos, mas não foi por mal. Todo mundo passa por isso de se apaixonar e uma das minhas características é fazer sofrer, angustiar. Mas o sofrer de paixão faz bem para a alma, é a certeza que vocês têm de que estão vivos e têm a capacidade de amar – tem coisa mais incrível que isso?
Vejo alguns de vocês com uns lemas esquisitos de não se apegar a ninguém, de ser uma pessoa fria, arrasadora de corações. Qual é o problema de vocês? Não adianta fugir e achar que podem me controlar, porque não o vão. Se vocês se adaptarem ao meu estilo de vida, vai ser muito mais fácil. Desapaixonar-se também é uma arte, tão intensa quanto se apaixonar. Como tudo na vida, você aprende a lidar com a situação. Concordo que dá um pouco de trabalho, mas, quando você realmente não me quiser mais ao seu lado, eu vou embora. Não insisto em algo que não é mais tão proveitoso. E você deveria fazer o mesmo. Quanto mais rápido eu vier, mais rápido eu vou embora, e a minha saída você pode controlar algumas vezes. Só algumas.
Ando junto com a loucura, com a ausência de pensamento, com o impulso. Faço cegar, ficar à flor da pele, sensibilizo. Não gosto do bom senso. Gosto de ver vocês perdendo a cabeça. O mais legal é ver tudo isso acontecer e vocês ainda manterem o sorriso pregado no rosto, como se fossem todos bobos. Sei que todos vocês falam mal de mim, mas, no fundo, sabem que o meu amigo mais próximo é a felicidade e, esta sim, anda sempre comigo.
Não adianta negar. Quando estou com vocês, sentem-se completos. Correspondidos ou não, eu tapo um buraco, eu cubro o vazio, eu ilumino o dia. Eu costumo dizer que movo montanhas, faço as pessoas fazerem coisas, sem pensar, duas vezes. Essa é a maior sensação de liberdade que existe: falar e fazer o que quiser na hora em que quiser, sem pensar. É um alívio tão grande dentro de vocês, uma paz interna. Sou uma das únicas coisas que causa esse sentimento nas pessoas e, isso sim, é uma vida agradável. Vocês, porém, estão sempre em busca da felicidade, ou seja, sempre em busca de mim, porque sou eu quem pode lhes proporcionar isso.
Eu vou ser sempre uma coisa indecifrável, meio louca, diferente de todos os outros estados de espírito, mas é por isso que sou sempre tão temida e desejada, uma coisa fora do comum, porque sou o elemento que está mais perto da magia que vocês tanto procuram por aí. É mágica. Aparece e, de repente, some sem explicação. Sou, assim, uma magia.
Um erro grave que vocês cometem falando de mim é dizer que eu só vivo entre os humanos. Vocês podem me encontrar em todos os lugares. Estou entre os animais, as plantas, os elementos da natureza, os objetos, os objetivos de vida, os sonhos. Posso fazer vocês se apaixonarem por qualquer coisa que passe alegria.
Vocês vão sempre estar cheios de vida enquanto eu estiver por perto e estarei sempre voltando para vocês. Sou um parasita, preciso de vocês e do mundo para sobreviver e aplicar minhas funções. Mas sou um parasita do bem, afinal, já disse todos os benefícios que eu causo. Trago o amor, o sentido da vida. Esse, sim, é o sentimento mais puro, que não pede nada em troca. Mas ele precisa de mim pra existir, para se propagar por aí. Deu para entender agora a minha importância?
Criado na África do Sul, o poeta português tinha no inglês a sua segunda língua. Seus primeiros poemas foram publicados em inglês. O primeiro livro em português só sairia uma década depois.
Das quatro obras que Fernando Pessoa publicou em vida, três são em inglês.
Além de poeta, Pessoa trabalhou como tradutor, jornalista, crítico literário, editor, publicitário e até inventor. Ele também arranjava tempo para exercer o ativismo político.
Fernando Pessoa tinha o hábito de escrever sob diversos pseudônimos, cada um com um estilo e uma biografia próprios. Ente os pseudônimos adotado estão Ricardo Reis, Alberto Caieiro e Álvaro de Campos.
A popularidade de Pessoa teve início após a sua morte. Pessoa morreu em 1 935, mas sua poesia só despertou o interesse do público a partir da década de 1 940. Seus poemas só foram traduzidos para outros idiomas depois de sua morte.
O poeta era muito amigo de outros dois grandes nomes da poesia portuguesa: Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro. A intensa correspondência com Sá-Carneiro, só foi interrompida com o suicídio do amigo.
Coisa que Pessoa não conseguia ver era um lápis sem ponta. Antes de escrever, ele costumava apontá-los. Consta também que o grande poeta português também mantinha o hábito de escrever em pé.
Ao chegar algumas horas atrasado em um encontro com o escritor português José Régio, o poeta declarou ser Álvaro de Campos e pediu perdão por Fernando Pessoa não poder comparecer ao encontro.
Pessoa gostava bastante de astrologia. Ele tinha mania de fazer mapas astrais de amigos, parentes, conhecidos e até de personalidade históricas.
Dizem que Fernando Pessoa foi o responsável pela introdução do planeta Plutão (recentemente rebaixado para a categoria dos planetas-anões) nos mapas astrológicos.
Fernando Pessoa mantinha também um grande interesse pelo esoterismo, maçonaria e fraternidade Rosacruz. Admirava também o mago britânico Aleister Crowley.
O maior desejo da poetisa brasileira Cecília Meireles durante visita a Portugal era conhecer Fernando Pessoa. O poeta, porém, não compareceu ao encontro e deixou Cecília na espera por quase duas horas. Ao voltar ao hotel, ela topou com um livro e uma carta de pessoa. Nele, o gênio português pedia desculpas por não ter ido ao encontro. O motivo? Os astros diziam que os dois não podiam se encontrar naquele dia.
Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática. Em seu atestado de óbito, no entanto, consta “obstrução intestinal” como causa da morte.
Em 2008, o o Bureau Internacional das Capitais da Cultura revelou ser Fernando Pessoa uma das 50 personalidades mais influentes da cultura europeia, ao lado de Da Vinci, Mozart e Einstein.
Existe na cidade do Porto uma universidade chamada Fernando Pessoa, em homenagem a esse grande poeta da língua portuguesa.
Soa-me muito estranho essa gente que ainda cria estereótipos para definir mulheres que simplesmente sonham em casar, construir uma família e serem donas de casa. Julgam e menosprezam tal escolha como um “ar” de deboche e caracterizam essas mulheres como se fossem uma minoria digna de pena e sem valor algum.
Tais pré – conceitos não deveriam pertencer a uma sociedade que se diz tão liberal e de mente aberta há tudo que vivemos nos dias atuais. Não dá pra achar que todas essas mulheres são iguais por terem apenas a mesma escolha de vida ou viverem na mesma condição. E digo mais, serem chamadas de “amélias”, submissas, puras, ingênuas não as torna piores e nem melhores que ninguém.
Esqueça essa historinha que donas de casa precisam necessariamente pertencer a uma sociedade que não estudou, não trabalhou ou se quer possui uma carreira. Jogue fora a ideia de que elas não se cuidam, não fazem o cabelo, unha e são ignorantes com assuntos de maquiagem. Abandone essa imagem. Elas não são submissas a vida que levam e aos companheiros que possuem.
Conheço tantas mulheres casadas, com famílias e donas de casa que possuem uma personalidade forte, marcante e são independentes. Que amam seus companheiros, seus filhos e tudo que fazem no seu dia-a-dia. Todas tiveram a sorte de encontrar alguém com quem pudessem realizar seus sonhos e viver a vida que tanto desejaram. Elas não são diferentes daquelas que são solteiras, moram sozinhas e vivem com seu cachorro.
Porque vou te dizer uma coisa: Deus me livre ser uma mulher fria, sem sonhos e sem amor. Prefiro o estereotípico de “Amélia” e viver a minha vida de forma plena e feliz, a ser uma pessoa vivendo uma vida vazia e cheia de falsas alegrias apenas por causa de uma sociedade que ainda não se livrou de pensamentos pequenos e preconceituosos.
Mas veja bem, uma escolha de vida jamais poderá definir se uma pessoa é melhor ou pior que a outra, mesmo porque, nossas escolhas podem mudar a qualquer momento, depende principalmente daquilo que vai fazer seu coração bater mais forte, sempre.
Por isso, seja uma mulher que encara os desafios da sua vida e defenda seus sonhos com unhas e dentes. Se quiser casar, construir uma família e viver plenamente para seu marido, casa e filhos, lute por isso. Nunca abandone seus sonhos e sua felicidade por nada e nem ninguém. Afinal somos aquilo que desejamos e nos tornamos aquilo que construímos.
Jessica Bórnia
Uma jovem apaixonada pela vida e pelo amor de ser mãe. Leitora de tudo aquilo que engrandece o coração. Dramática, neurótica, impulsiva. Otimista de carteirinha. Acredita no poder da fé, das amizades e de um grande amor. Apaixonada por historias com finais felizes. Aprendiz de blogueira
No final da década de 60, psicólogos americanos resolveram dar início a uma curiosa experiência. Deixaram dois automóveis idênticos abandonados em bairros diferentes do Estado de Nova York, um em bairro nobre e outro na periferia[1]. O resultado não poderia ser diferente. O carro que estava na periferia foi rapidamente depredado, roubado e as peças que não serviam para venda foram destruídas. O carro que estava na área nobre da cidade permaneceu intacto. Mas isso os pesquisadores já poderiam prever. O que eles queriam mesmo comprovar era um outro fenômeno. Com isso, prosseguiram quebrando as janelas do carro que estava abandonado em um bairro rico e o resultado foi o mesmo que aconteceu na periferia: o carro passou a ser objeto de furto e destruição. Com isso, chegaram os pesquisadores, precipitadamente (talvez intencionalmente), a conclusão de que o problema da criminalidade não estava na pobreza e sim no desenvolvimento das relações sociais e na natureza humana.
As bases teóricas dessa constatação veio com a Teoria das Janelas Quebradas, desenvolvida na escola de Chicago por James Q. Wilson e George Kelling. Explica que se uma janela de um edifício for quebrada e não for reparada a tendência é que vândalos passem a arremessar pedras nas outras janelas e posteriormente passem a ocupar o edifício e destruí-lo. O que quer dizer que a desordem gera desordem, que um comportamento anti-social pode dar origem a vários delitos. Por isso, qualquer ato desordeiro, por mais que pareça insignificante, deve ser reprimido. Do contrário, pode ser difusor de inúmeros outros crimes mais graves. Serve as bases daquilo que a sociedade e a alguns setores da mídia hoje defendem: a tolerância zero, que por coincidência também é o nome atribuído a uma teoria desenvolvida tempos atrás pelos mesmos estudiosos da Escola de Chicago.
Essas teorias foram construídas naquela época para serem utilizadas pelo prefeito de Nova York como forma de empregar uma política repressiva e autoritária no combate a criminalidade, como fundamento para combater qualquer comportamento que fuja dos padrões sociais. Essas medidas foram aplicadas junto a um conjunto de fatores que direcionaram para o desenvolvimento social e a limpeza nas ruas de modo que foi capaz de produzir resultados favoráveis.
Na verdade, a tal teoria parece interessante e bastante convincente. Pois, de fato, a desordem gera desordem. Só não se sustenta porque tal construção visa atacar um conflito apontando como solução um problema maior ainda. Visa penalizar com a prisão aqueles que foram gratuitamente sancionados com a falta de estrutura física e social. No Estado de New York funcionava mais ou menos assim: aqueles que sofriam com o vício do álcool, por exemplo, ao invés de serem encaminhados para um tratamento psicológico e médico eram presos. Posso ainda ilustrar com um caso mais extremo, que ficou conhecido como caso Kathy Franklin[2]. A história ganhou repercussão em razão do ato monstruoso incorporado pelo Estado norte americano de algemar uma criança de 6 (seis) aninhos de idade e manda – lá para uma instituição de saúde mental, só porque teria feito “birra com uma professora do primário”. Ouso em dizer que aqui no Brasil funcionaria, inicialmente, mais ou menos assim: mendigos, flanelinhas, catadores de lixo, negros, crianças e adolescentes abandonados por suas famílias se cometessem o mínimo deslize deveriam ir pro xadrez. Afinal, quem mente rouba. Pois, pobreza não é desculpa para criminalidade e quem quer dá um jeito de vencer na vida.
Foi tentando contrapor esse pensamento que os autores Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e Edward Rocha de Carvalho escreveram excelente artigo afirmando o que a teoria norte americana esqueceu de constatar: é que as pedras, às vezes, também vem de dentro e podem ainda atingir os que estão do lado de fora[3]. Esse ponto foi relegado pela teoria porque aqueles que estão do lado de fora não parecem merecer atenção, desde que não façam o revide de jogar a pedra de volta.
Lamentavelmente, nos dias de hoje, o clamor pelo direito penal máximo retrocede até a Teoria das Janelas Quebradas para colocar a punição, a exclusão, o sentimento de vingança coletivo, acima do desejo de ressocializar. Na sociedade que não questiona, deixa-se de lado o que realmente poderia ajudar: tentar entender porque a primeira janela foi quebrada. Efetivamente, é difícil tentar entender algo ao meio de tantas informações prontas, de tantas vozes, mesmo que falando em nome de tão poucas pessoas. É mais fácil, então, reproduzir. E se esse discurso não atrapalhar o meu conforto, mais fácil ainda. Daí que nascem pérolas do tipo: é da natureza do ser humano praticar delitos. Essa é a explicação mais profunda que os meios de controle podem difundir.
É justamente o discurso do jeitinho brasileiro, desse instinto ruim do povo descendente das piores espécies de gente trazidas há mais de 500 anos de Portugal (como se no resto do mundo inteiro não existisse corrupção) que destrói o que há de mais elementar no ser humano: a capacidade de procurar encontrar soluções das mais variadas para os mais variados problemas. É a clássica reprodução de massa que, usando desse determinismo prosaico, cria seres sem capacidade de autodeterminação. Seja porque incute na sociedade o sentimento de abandonar quem já está perdido, seja porque aquele que abandona quem está perdido abandona também sua capacidade de pensar, de refletir e de questionar. Ou ainda, nas palavras de Hanna Arendt “aqueles que condicionam o comportamento de outros tornam-se condicionados pelo próprio movimento de condicionar”[4].
Com base nisso, a sociedade brasileira tende a procurar na lei a solução para todos os problemas. Talvez porque as próprias pessoas que são estratificadas para pensar o direito trocam suas reflexões pela letra fria da lei, quando na melhor das hipóteses aderem a um posicionamento (pensado, diga-se de passagem) consolidado dos tribunais superiores. Talvez porque a maioria dos operadores do direito não são mais pensadores do direito. Porque a construção da justiça só acontece nos tribunais superiores. Lamentavelmente, o sistema jurídico atual induz a isso. A começar pelo concurso público que hoje obriga o candidato a deixar de pensar para passar. Perde-se a consciência crítica. Perde-se a capacidade de desenvolver soluções para os problemas. Nesse viés, não seria extremo lembrar que essa perda de reflexão já levou um dia a prática de terríveis massacres contra a humanidade como o nazismo, a produção de guerras, e outros tantos absurdos cometidos em nome da norma. Mas isso é assunto pra um outro artigo.
Retornando a Teoria das Janelas Quebradas, a pergunta principal é: quem atirou a primeira pedra? Na história da Bíblia, ninguém. Quando Jesus, indagado sobre a Maria Madalena, afirmou que atirasse a primeira pedra aquele que não tivesse pecados ninguém atirou[5]. Os que estavam ali para julgá-la saíram todos, um de cada vez, começando com os mais velhos.Infelizmente a sociedade esqueceu essa lição. Jogam-se pedras o tempo todo. De dentro pra fora e de fora pra dentro. Joga-se pedras quando se defende o caos na periferia. Defende-se que crianças e adolescentes possam ser presos como se fossem adultos e quando se defende o extermínio de quem não se amoldar a norma, através a pena de morte e da prisão perpetua. Há até quem se indigne com bolsas de faculdade para pobres e até com o assistencialismo do auxílio bolsa-escola. Afinal de conta, depois do bolsa-escola ninguém mais quer trabalhar.
O que apedrejadores esquecem de extrair desse contexto é que o caos nunca permanece imóvel. Que acostumar as pessoas com a desordem é transformá-las em instrumentos do crime. E que conflitos que chegam as áreas mais nobres são determinados por uma conjugação de fatores criados normalmente de forma aleatória pela maioria da população. Uso a palavra aleatória para enfatizar determinados atos como resultado da irreflexão ou até da inflexão. Naquilo que para Hanna Arendt residiria em ser banalidade o mal[6]. Cientificamente falando, a sociedade precisa conhecer o efeito da “realimentação do erro”[7], o qual o filósofo e matemático Edward Lorenz chamou de Efeito borboleta. É a noção de que o bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre pode provocar um caos no outro extremo em um pequeno lapso de tempo.
Desta forma, seria irracional usar todas as teorias do direito penal máximo como solução para os males do mundo. Como se fosse possível dissociar o estado de miséria, pobreza e desordem que existe nas periferias da violência nos lugares mais nobres. Querer isolar no cárcere as pessoas que vivem nesse estado sem apresentar meios de modificar a problemática social equivale a caminhar para a construção de um modelo que isola preventivamente todos que estão em um ambiente marginalizado. O que ainda assim não se sustentaria, visto que ficariam os mais abastados sem mão-de-obra para limpar a própria sujeira. O Direito penal máximo, os delitos de acumulação, o sistema da periculosidade, a redução da menoridade penal e muitas outras teses que encontram no encarceramento a solução para a criminalidade, nada mais fazem do que fomentar a produção de mais delitos. Do contrário não haveria reincidência. Basta comparar as estatísticas da superlotação dos presídios com o aumento dos índices de criminalidade.
O direito penal nada mais deve ser do que um instrumento para contenção de abusos por parte do estado, na aplicação de sanções, como defende Zaffaroni[8]. Como defende o Papa Francisco[9], deve o direito penal caminhar lado a lado com o princípio da dignidade da pessoa humana. É preciso que a sociedade possa entender que a pena corresponde a uma tríplice finalidade qual seja, prevenção, retribuição e ressocialização. Não deve servir apenas com instrumento de vingança privada. Por isso, defendo aulas de direito básico, filosofia e sociologia em todas as escolas de nível médio. Mas também defendo que essas matérias de humanística sejam parte obrigatória de um programa de aperfeiçoamento permanente entre juízes, defensores, promotores, procuradores e todos aqueles que manejam o direito posto, para que possam remanejar também o direito pressuposto.
A conveniente intolerância social hoje atinge níveis tão altos que ouso arriscar que Jesus ficaria escandalizado com o tanto de pedras que Maria Madalena receberia. Porque as pedras que quebram as janelas estão por toda parte, inclusive em forma de cisco embaçando a visão de muitos operadores do direito.
Sei que existem inúmeras pedras no meio do caminho. Por isso, enquanto o sistema jurídico não for reformado, enquanto o direito não for construído com a consciência da própria sociedade, as pedras continuarão a serem arremessadas. E quem não tiver pecados que prossiga arremessando!
Monaliza Maelly Fernandes Montinegro é Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; Analista do Seguro Social com formação em Direito; Aprovada no concurso da Defensoria Publica do Estado da Paraíba
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Vivemos tempos frenéticos. A cada década que passa o modo de vida de 10 anos atrás parece ficar mais distante: 10 anos viraram 30, e logo teremos a sensação de ter se passado 50 anos a cada 5. E o mundo infantil foi atingido em cheio por essas mudanças: já não se educa (ou brinca, alimenta, veste, entretêm, cuida, consola, protege, ampara e satisfaz) crianças como antigamente!
O iPad, por exemplo, já é companheiro imprescindível nas refeições de milhares de crianças.Em muitas casas a(s) TV(s) fica(m) ligada(s) o tempo todo na programação infantil – naqueles canais cujo volume aumenta consideravelmente durante os comerciais – mesmo quando elas estão comendo com o iPad à mesa.
Muitas e muitas crianças têm atividades extra curriculares pelo menos três vezes por semana, algumas somam mais de 50 horas semanais de atividades, entre escola, cursos, esportes e reforços escolares.Existe em quase todas as casas uma profusão de brinquedos, aparelhos, recursos e pessoas disponíveis o tempo todo para garantir que a criança “aprenda coisas” e não “morra de tédio”.As pré escolas têm o mesmo método de ensino dos cursos pré vestibulares.Tudo está sendo feito para que, no final, possamos ocupar, aproveitar, espremer, sugar, potencializar, otimizar e, finalmente, capitalizar todo o tempo disponível para impor às nossas crianças uma preparação praticamente militar, visando seu “sucesso”. O ar nas casas onde essa preocupação é latente chega a ser denso, tamanha a pressão que as crianças sofrem por desenvolver uma boa competitividade.Porém, o excesso de estímulos sonoros e visuais, físicos e informativos impedem que a criança organize seus pensamentos e atitudes, de verdade: fica tudo muito confuso e nebuloso, e as próprias informações se misturam fazendo com que a criança mal saiba descrever o que acabou de ouvir, ver ou fazer.
Além disso, aptidões que devem ser estimuladas estão sendo deixadas de lado:
Crianças não sabem conversar
Não olham nos olhos de seus interlocutores
Não conseguem focar em uma brincadeira ou atividade de cada vez (na verdade a maioria sequer sabe brincar sem a orientação de um adulto!)
Não conseguem ler um livro, por menor que seja.
Não aceitam regras
Não sabem o que é autoridade.
Pior e principalmente: não sabem esperar.
Todas essas qualidades são fundamentais na construção de um ser humano íntegro, independente e pleno, e devem ser aprendidas em casa, em suas rotinas.
Precisamos pausar. Parar e olhar em volta. Colocar a mão na consciência, tirá-la um pouco da carteira, do telefone e do volante: estamos enlouquecendo nossas crianças, e as estamos impedindo de entender e saber lidar com seus tempos, seus desejos, suas qualidades e talentos.
Estamos roubando o tempo precioso que nossos filhos tanto precisam para processar a quantidade enorme de informações e estímulos que nós e o mundo estamos lhes dando.
Calma, gente. Muita calma. Não corramos para cima da criança com um iPad na mão a cada vez que ela reclama ou achamos que ela está sofrendo de “tédio”. Não obriguemos a babá a ter um repertório mágico, que nem mesmo palhaços profissionais têm, para manter a criança entretida o tempo todo.
O tédio nada mais é que a oportunidade de estarmos em contato conosco, de estimular o pensamento, a fantasia e a concentração.
Sugiro que leiamos todos, pais ou não, “O Ócio Criativo” de Domenico di Masi, para que entendamos a importância do uso consciente do nosso tempo.
E já que resvalamos o assunto para a leitura: nossas crianças não lêem mais. Muitos livros infantis estão disponíveis para tablets e iPads, cuja resposta é imediata ao menor estímulo e descaracteriza a principal função do livro: parar para ler, para fazer a mente respirar, aprender a juntar uma palavra com outra, paulatinamente formando frases e sentenças, e, finalmente, concluir um raciocínio ou uma estória.
Cerquem suas crianças de livros e leiam com elas, por amor. Deixem que se esparramem em almofadas e façam sua imaginação voar!