Carta de uma esposa (Sheryl Sandberg) após 30 dias do falecimento de seu marido

Carta de uma esposa (Sheryl Sandberg) após 30 dias do falecimento de seu marido

Nota da edição: Imagem de Sheryl Sandberg e seu marido Dave Goldberg, e carta traduzida e republicada com permissão de Sheryl Sandberg.

Sheryl Sandberg, Vice-presidente de operações do Facebook, postou em sua página, no dia 3 de junho de 2015, uma carta e tributo emocionado ao falecido marido Dave Goldberg, presidente executivo do site SurveyMonkey. Dave faleceu no dia 2 de maio de 2015 enquanto em férias com a família no México. Ele se acidentou na academia onde se exercitava e sofreu traumatismo craniano, que resultou em óbito imediato. Abaixo, a tradução do que Sheryl postou em sua página após 30 dias da perda do esposo:

“Hoje é o fim do ‘Sheloshim’, os primeiros trinta dias de luto, por meu amado marido. O judaísmo denomina de ‘Shiva’ um período de intenso luto, que dura sete dias após o enterro de alguém querido. Depois do Shiva, a rotina pode voltar ao normal, mas é o fim do Sheloshim que marca a realização completa do luto por um cônjuge.

Um amigo de infância, que agora é um rabino, recentemente me disse que a oração mais poderosa que ele já leu foi: “não me deixe morrer enquanto ainda estiver vivo”. Eu nunca teria entendido essa oração antes de perder Dave. Agora eu entendo.

Penso que, quando uma tragédia acontece, ela nos apresenta uma escolha. Você pode se render ao vazio que enche seu coração, seus pulmões, tira sua capacidade de pensar ou até mesmo de respirar. Ou você pode tentar encontrar o sentido de tudo isso. Nesses últimos trinta dias, eu fiquei perdida no vazio por muitos momentos. E eu sei que muitos momentos futuros serão consumidos do mesmo jeito por esse mesmo vazio.

Mas, quando eu posso, eu quero escolher a vida e o significado.

E é por isso que eu estou escrevendo: para marcar o fim do Sheloshim e dar de volta um pouco do que os outros têm me dado. Enquanto a experiência de doar é profundamente pessoal, a braveza daqueles que compartilharam suas próprias experiências tem me ajudado a me recolocar nos eixos. Alguns dos que abriram seus corações foram os meus amigos mais próximos. Outros foram totais desconhecidos que compartilharam sabedoria e conselhos publicamente. Então, eu estou compartilhando o que eu aprendi, na esperança de que isso ajude outro alguém. Na esperança de que exista algum sentido para esta tragédia.

Eu envelheci trinta anos nestes trinta dias. Eu estou trinta anos mais triste. Eu me sinto como se fosse trinta anos mais sábia.

Eu ganhei um entendimento bem mais profundo de o que é ser uma mãe, com a agonia que eu senti quando meus filhos gritaram e choraram, e com a conexão que minha mãe teve ao sentir meu sofrimento. Ela tem tentado preencher o vazio na minha cama, me abraçando firme toda noite enquanto eu choro até dormir.

Ela tem lutado para segurar suas próprias lágrimas em lugar das minhas. Ela tem me explicado que a angústia que eu estou sentindo é ao mesmo tempo minha e dos meus filhos, e eu entendi que ela estava certa quando eu vi a dor nos olhos dela.

Eu aprendi que eu nunca vou realmente saber o que dizer para outros que precisam de conforto. Eu acho que eu entendi tudo errado antes; eu tentei afirmar a todo mundo que eu estava bem, pensando que a esperança era a coisa mais confortável que eu poderia oferecer. Um amigo meu com câncer avançado me disse que a pior coisa que as pessoas podem dizer a ele é: “tudo vai ficar bem”. Aquela voz na cabeça dele ficava gritando: “como você sabe que tudo vai ficar bem? Você não entende que posso morrer?”. Eu aprendi nesse último mês que ele estava tentando me aconselhar. A real empatia é, às vezes, não insistir que tudo vai ficar bem, mas saber que provavelmente não vai.

Quando as pessoas dizem para mim “você e seus filhos irão encontrar a felicidade de novo”, meu coração me diz: “sim, eu acredito nisso, mas eu sei que eu nunca mais vou sentir o prazer puro novamente”. Aqueles que têm dito “você irá encontrar um ‘novo normal’, mas nunca será tão bom quanto antes” me confortam mais porque eu sei que eles estão falando a verdade.

Até um simples “como você está?” – na maioria das vezes, perguntado na melhor das intenções – seria melhor substituído por um “como você está hoje?”. Quando me perguntam “como você está?”, eu me esforço e me impeço de gritar: “meu marido morreu há um mês, como você acha que eu estou?”. Quando eu escuto “como você está hoje?”, eu percebo que essa pessoa sabe que o máximo que consigo fazer agora é viver cada dia.

Eu tenho aprendido sobre algumas coisas práticas que importam. Sabemos agora que o Dave morreu imediatamente, mas eu não sabia disso na ambulância. A ida até o hospital foi completamente lenta. Eu ainda odeio cada carro que não deu passagem, cada pessoa que se importava mais em chegar ao seu destino alguns minutos antes do que dar passagem para nós passarmos. Eu notei isso enquanto eu dirigia em diversas cidades e diversos países. Vamos todos sair do caminho! O pai, parceiro ou filho de alguém talvez dependa disso.

Eu tenho aprendido o quão efêmera cada coisa pode ser sentida, e talvez isso seja tudo. Que qualquer que seja o “tapete” em que você esteja, ele pode ser puxado de você sem nenhum aviso. Nos últimos trinta dias eu ouvi de várias mulheres que perderam os maridos que vários tapetes foram puxados. Algumas suportaram e lutaram sozinhas com o sofrimento emocional e a insegurança financeira. Me parece tão errado que nós abandonemos essas mulheres e suas famílias quando elas mais precisam.

Eu tenho aprendido a pedir ajuda, e tenho percebido o quanto de ajuda eu preciso. Até agora, eu tenho sido a irmã mais velha, a diretora de operações, a doadora e a organizadora. Eu não planejei isso, e quando aconteceu, eu não era capaz de fazer a maioria das coisas. Os mais próximos a mim foram os que comandaram tudo. Eles planejaram. Eles arrumaram. Eles me disseram para sentar e me lembrar de comer. E ainda fizeram muito para apoiar a mim e aos meus filhos!

Eu tenho aprendido que a resiliência pode ser aprendida. Adam Grant me ensinou três coisas que são essenciais para a resiliência e que eu posso aprender todas elas. Personalização: admitir que não é minha culpa. Ele me disse para banir a palavra “desculpa”. Para dizer a mim mesma várias e várias vezes que não é minha culpa. Permanência: lembrar que eu não vou me sentir assim para sempre. Que vai ficar melhor. Infiltração: isso não vai afetar cada parte de mim. É a habilidade de permanecer saudável.

Para mim, começar essa transição de voltar ao trabalho tem sido salvadora, a chance de me sentir útil e conectada. Mas eu descobri que mesmo essas conexões mudaram. Muitos dos meus colegas de trabalho têm um olhar de medo quando se aproximam de mim. Eu descobri que eles queriam me ajudar mas não tinham certeza de como fazer isso. “Devo mencionar isso? Não devo falar disso? Se eu falar, o que diabos vou dizer?”. Eu percebi que, para restabelecer a proximidade com meus colegas que sempre foram importantes para mim, eu precisava deixar eles entrarem. E isso significava ser o mais aberta e vulnerável que eu podia.

Eu disse para aqueles com quem trabalho mais que eles poderiam me fazer perguntas honestas, e eu iria responder. Também disse que tudo bem se eles quisessem falar de como eles se sentiam. Uma colega admitiu que estava dirigindo até minha casa frequentemente, em dúvida se entrava ou não. Outro disse que ficava paralisado quando eu estava por perto, preocupado que talvez dissesse a coisa errada. Falando abertamente do medo de dizer e fazer alguma coisa errada. Um dos meus desenhos favoritos de todos os tempos é um elefante na sala do telefone, escrito “isso é o elefante”. Uma vez que enfrentei o elefante, nós pudemos tirar ele da sala. (Nota da edição: a expressão em inglês “elefante na sala” significa quando uma verdade é tão óbvia que não dá para ser ignorada).

Ao mesmo tempo, há momentos em que eu não consigo deixar as pessoas entrarem. Eu fui a uma noite na escola quando as crianças mostram aos pais os desenhos nas paredes das salas de aula. Muitos dos pais, os quais também têm sido muito gentis, tentaram fazer contato ou falar algo que eles pensavam ser confortável. Eu olhava para baixo o tempo todo, para que nenhum deles me olhasse nos olhos, com medo que isso me deixasse pior. Eu espero que eles tenham entendido.

 

Eu tenho aprendido sobre gratidão. A verdadeira gratidão pelas coisas que eu tomava como garantidas antes, como a vida. Como alguém de coração partido, eu olhava para meus filhos todos os dias e agradecia por eles estarem vivos. Eu aprecio cada sorriso, cada abraço. Eu não vejo mais cada dia como garantido. Quando um amigo me disse que ele odiava aniversários e, por isso, não os celebrava, eu olhei para ele em meio a lágrimas: “Celebre seu aniversário, caramba! Você tem sorte de ter cada um deles”. Meu próximo aniversário vai ser muito deprimente, mas estou determinada a celebrá-lo no meu coração mais do que eu jamais celebrei um aniversário antes.

Eu sou realmente agradecida aos muitos que ofereceram sua simpatia. Um colega me disse que sua esposa, quem eu nunca conheci, decidiu mostrar seu apoio indo de volta à escola para obter seu diploma, coisa que ela estava enrolando por anos para fazer. Sim! Quando as circunstâncias permitem, eu acredito, mais do que nunca, em aprender. E muitos homens, alguns que eu conheço e outros que eu sei que nunca irei conhecer, estão honrando a vida de Dave passando mais tempo com suas famílias.

Eu não consigo expressar a gratidão que eu senti à minha família e aos meus amigos que têm feito tanto para me ajudar, e continuam fazendo. Nos momentos brutais quando eu sou preenchida pelo vazio, quando os meses e anos me parecem vazios e intermináveis, só as faces deles me colocam de volta nos eixos. Minha gratidão por eles não tem fim.

Eu estava falando para um desses amigos sobre as atividades de pais e filhos que Dave não está aqui para fazer. Nós pensamos num plano para colocar ele nisso. Eu chorei para ele e disse “mas eu quero o Dave, eu quero a primeira opção”. Ele colocou o braço envolta de mim e disse “a primeira opção não está disponível, então fique satisfeita com a opção B”.

Dave, para honrar sua memória e colocar pra cima seus filhos como eles merecem, eu prometo fazer tudo que eu posso para me satisfazer com a opção B. E mesmo que o ‘Sheloshim’ tenha acabado, eu ainda estarei em luto pela opção A. Como Bono cantou “there is no end to grief… And there is no end to love” (Não há fim para o luto… e não há fim para o amor).

Eu te amo, Dave.”

Fonte indicada Família

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Pessoas que ficam vermelhas facilmente são mais generosas e inspiram mais confiança

Pessoas que ficam vermelhas facilmente são mais generosas e inspiram mais confiança

Se você é do tipo que fica vermelho e sem graça por qualquer coisa, provavelmente não vê isso como uma virtude e às vezes até sente que todo mundo te acha meio bobo (experiência própria aqui), não é? Se for assim, temos duas boas notícias. A primeira é: não só as pessoas não te acham bobo, como ainda te acham mais confiável. E a segunda: na verdade, não se trata de apenas parecer mais virtuoso – um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology (publicação Associação Americana de Psicologia) mostrou que pessoas assim são mais generosas e realmente merecem a confiança dos outros.

“Níveis moderados de constrangimento são sinais de virtude“, disse Matthew Feinberg, um estudante de doutorado em psicologia na Universidade da Califórnia em Berkeley e principal autor do estudo. “Nossos dados sugerem que isso é uma coisa boa, e não algo contra o qual você deve lutar.” Segundo ele, o constrangimento moderado que surge sem ter motivo é uma assinatura emocional das pessoas em quem se pode confiar.

Segundo Feinberg, isso é positivo tanto nos negócios, já que essas pessoas também inspiram maior cooperação dos outros, quanto na vida amorosa: indivíduos que se constrangiam mais facilmente relataram níveis mais elevados de monogamia.

Só não podemos confundir isso com a vergonha exagerada que caracteriza a fobia social, nem com a vergonha decorrente de um erro moral que tenhamos cometido. Essas emoções têm uma natureza diferente. O constragimento que estava sendo estudado vem naturalmente e está associado a pessoas com a consciência limpa que, mesmo sem motivo, ficam sem graça com certas coisas. Os gestos demonstrados são diferentes também: segundo os pesquisadores, enquanto o gesto mais típico de embaraço é olhar para baixo, virado para um lado e cobrindo parcialmente o rosto enquanto sorri ou faz careta, uma pessoa que sente vergonha por algo ruim que tenha cometido normalmente cobre todo o rosto.

Os experimentos

Os resultados da pesquisa foram coletados a partir de uma série de experimentos que usaram depoimentos em vídeo, jogos de confiança econômica e pesquisas para avaliar a relação entre vergonha e sociabilidade. No primeiro experimento, 60 estudantes universitários foram filmados contando momentos embaraçosos, como flatulência em público ou julgamentos incorretos sobre algumas pessoas. As fontes mais típicas de vergonha incluíam achar que uma mulher com excesso de peso estivesse grávida (quem nunca, né?) ou confundir uma pessoa toda desgrenhada com um mendigo. Cada depoimento em vídeo foi classificado com base no nível de constrangimento mostrado.

Os voluntários também participaram do “Jogo do Ditador”, normalmente usado em pesquisas para medir o nível de altruísmo das pessoas. Nesse caso, cada um recebeu 10 bilhetes de rifa e foi-lhes dito que mantivessem uma parte deles para si e dessem o restante a um parceiro. Os resultados mostraram que aqueles que apresentaram maiores níveis de constrangimento deram mais bilhetes para os outros, o que indica mais generosidade.

Pessoas excessivamente confiantes são menos confiáveis?

Em outro experimento, os participantes assistiram a uma cena em que era dito a um ator que ele havia recebido uma pontuação perfeita em um teste. Ele então fazia um gesto deconstrangimento ou orgulho e os voluntários passaram por testes, depois, para mediar o seu nível de confiança no ator com base nessa reação. O resultado? Ter mostrado sinais de constrangimento inspirou mais reações positivas dos espectadores. O estudo descobriu que as pessoas têm mais vontade de se aproximar e se sentem mais confortáveis em confiar em quem fica constrangido facilmente.

Segundo os pesquisadores, a questão que fica e pode ser estudada no futuro é: será que, por outro lado, pessoas excessivamente confiantes inspiram menos confiança? O que você acha?

Por Ana Carolina Prado, via Superinteressante

A morte é um dia que vale a pena viver

A morte é um dia que vale a pena viver

Uma palestra de 18 minutos que já foi vista quase meio milhão de pessoas na qual a médica Ana Cláudia Quintana Arantes afirma que “Medicina é simples, difícil é psicologia”.

Ela fala da dor, da terminalidade e da morte, dando a dimensão vivida por aquele que está sob cuidado paliativo, vivendo os seus últimos dias.

Uma apologia à Vida diante da presença da Morte.

Empreendedorismo: a teologia da contemporaneidade, por Leandro Karnal

Empreendedorismo: a teologia da contemporaneidade, por Leandro Karnal

“O sucesso como responsabilidade e o fracasso como culpa”, eis a teologia do Empreendedorismo. Esta, ao lado da Teologia da Autoajuda e a Teologia da Prosperidade, dita a visão de céu e inferno nos dias de hoje. É o que afirma Leandro Karnal na palestra abaixo.

Inteligente, eloquente e de uma lucidez invejável, ouvir Leandro Karnal é um grande privilégio.

Primavera, uma crônica de Cecília Meireles

Primavera, uma crônica de Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
contioutra.com - Primavera, uma crônica de Cecília Meireles

Drummond afirma que a crônica é um instrumento de registro histórico

Drummond afirma que a crônica é um instrumento de registro histórico

O poeta Carlos Drummond de Andrade, em entrevista concedida em 1994, afirma que a crônica auxilia o historiador a entender a realidade o momento histórico em que a história é contada.

Sempre bem humorado e com uma presença de espírito singular, a fala de Drummond, neste vídeo, mostra-nos um Brasil cujos costumes sofreram modificações e cujas problemáticas sociais foram pouco modificadas.

É sempre bom ver e ouvir o poeta.

O resgate do amor próprio no filme “Shirley Valentine”

O resgate do amor próprio no filme “Shirley Valentine”

Por Octavio Caruso

Filmes com temática feminina são normalmente vistos com preconceito por grande parte dos críticos, com certa razão, já que, na maioria das vezes, abusam dos clichês e apostam no melodrama folhetinesco, resultando em variações daqueles livros românticos de banca de jornal. Para cada comédia romântica verdadeiramente interessante, original e inteligente, existem dez genéricos imediatistas. “Shirley Valentine”, dirigida por Lewis Gilbert, em 1989, é uma dessas ótimas exceções.

O texto esbanja um senso de humor ácido, amparado por uma estrutura deliciosamente farsesca, com o constante uso da quebra da quarta parede. A protagonista, vivida competentemente por Pauline Collins, conversa com o público, uma troca de experiências, já que, em algumas cenas, a personagem parece seguir a resposta do público, como quando recoloca os óculos escuros ao perceber seu marido se aproximando, perto do desfecho. Quase podemos escutar o público feminino na plateia dizendo em tom orgulhoso: “Não desce do salto, Shirley”. E ela sinaliza imediatamente para a câmera que escutou o conselho. Esse diálogo franco com o público-alvo funciona porque é alicerçado em grandes verdades, algo que se estabelece logo na primeira cena, quando vemos a mulher confidenciando sua solidão para a parede de sua cozinha.

A química é irresistível, ficamos encantados com essa pessoa minimizada pelo acúmulo de decisões equivocadas, mas que, como a bonita música-tema cantada por Patti Austin evidencia, ainda busca reencontrar aquela garota que foi outrora, o pássaro que nasceu para voar, porém, desencantado com os sonhos desfeitos, acordou numa manhã e não se reconheceu no espelho de sua gaiola.

Hábitos simples, como dançar e sorrir em uma manhã chuvosa, substituídos implacavelmente no cotidiano por uma postura submissa ao marido, vivido por Bernard Hill, um estranho grosseiro cuja única conexão aparente é a aliança no dedo, fruto de uma antiga decisão inconsequente, um contrato assinado por mãos jovens e que não haviam sido ainda castigadas pela realidade da vida.

A simpatia dela contrasta violentamente com a insensibilidade dele, demonstrando no subtexto uma tremenda resiliência de Shirley. Qualquer mulher na mesma situação já teria se enclausurado na amargura profunda, sem traço de esperança visível no horizonte. O prato simples, ovos com batata frita, que ele agressivamente rejeita no início do filme, é o mesmo que ela oferece aos clientes do restaurante, no terceiro ato, quando já está avançando no processo de reinicialização do seu sistema pessoal, mostrando que sua autoconfiança, primeiro elemento que é dizimado numa relação fundamentada em ofensas gratuitas, não foi abalada por aquele evento. Ela viaja para a Grécia, realizando seu maior sonho, sem utilizar qualquer muleta psicológica, superando até mesmo a indiferença da amiga que a havia convidado.

“Você beijou minhas estrias!”

Shirley utiliza o silêncio como ambientação para refletir sobre suas decisões, aprendendo que deve buscar a satisfação sexual. Quando descobre que seu amante grego, vivido por Tom Conti, é, na realidade, um mulherengo, ela não se sente ofendida. O que importa para ela é que aquele homem a enxergou como a mulher interessante e bela que sempre foi. Como ela afirma assustada, após fazerem amor, ele havia beijado as suas estrias.

Ela chega a invejar a atitude gazeteira e libertária dele, aproveitando cada momento de sua existência. Talvez, Shirley tivesse se tornado uma conquistadora, abraçando as possibilidades apaixonantes da vida, caso não tivesse se prendido tão cedo em um ritual secular de hipocrisia. Essa identificação carinhosa, simbolizada na cena em que ela o flagra passando mais uma cantada em uma turista, é a constatação definitiva da sublimação de sua insegurança.

“Eu não me apaixonei por ele. Eu estou me apaixonando pela ideia de viver”.
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OCTAVIO CARUSO: colunista Conti outra

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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

Blog: Devo tudo ao cinema / Octavio Caruso no Facebook

 

Em algum lugar entre o certo e o errado existe um jardim

Em algum lugar entre o certo e o errado existe um jardim

Por Clara Baccarin

Desde muito cedo na vida aprendemos o nosso nome.

Descobrimos que somos menina ou menino, que gostamos de boneca ou de carrinho, que usamos vestido ou bermuda. Nós vamos aprendendo a vestir os nomes que nos são dados e os nossos gostos e hábitos, assim como vamos aprendendo a pentear os cabelos e a calçar os sapatos.

Aprendemos, desde muito cedo, a nos definir e essas definições vêm do mundo, vêm primeiramente dos olhos alheios. Nós recebemos nomes como se fossem títulos, assegurando-nos um tipo, um modelo dos já existentes e catalogados no mundo.
Nos dão um espaço estabelecido no arquivo que registra as personalidades.

Esses nomes e modelos nos servem de guia para sabermos quem somos, para nos reconhecermos, e para nos proteger das florestas misteriosas do mundo e nos colocar num seguro trilho.

Trilhos tem ponto de partida e ponto de chegada, tem mapas, não tem susto, o caminho já é conhecido e por isso garantido. Nossa família, que nos ama tanto, faz questão de assegurar que nos deu atributos o bastante para entrarmos no trilho e seguirmos sozinhos. Então o coração dos pais pode acalmar: serviço cumprido! O filho segue em viagem calma e bem sinalizada.

A viagem pelo trilho é tão macia, fácil, o trem segue no automático, tudo o que nos é familiar segue no mesmo trilho, e nós só temos que nos deixar levar, e manter nossa identidade à mão, saber quem somos pelos nomes e modelos que fomos recebendo desde que nascemos.

Acontece de em algumas fases da vida, algo dentro de nós nos incomodar e então decidimos que precisamos agregar outros nomes e modelos à nossa definição de nós mesmos para ver se expandimos nossa experiência.

Tomamos a decisão de mudar de trilho, entrar em um outro que segue por caminhos mais ‘iluminados’ ou interessantes e que nos dão outras visões de mundo. Então nossos nomes vão crescendo, agora temos estilo, gostos diferentes, somamos experiências, somamos livros na estante, títulos de pós-graduação, amigos no facebook e viagens pelo mundo. Nos tornamos uma pessoa grande, enorme, cheia de nomes e qualidades.

Nós aprendemos a seguir um trilho, nós aprendemos a mudar de trilho, nós aprendemos a enfeitar nossos trilhos e a congregar novos valores a eles, mas nós nunca aprendemos a sair dos trilhos, a mudar verdadeiramente.

Nós não exploramos a nós mesmos debaixo desse monte de entulho de nomes. O que passamos a ser é uma casca, rasa. Somos o que nos define, somos um estereótipo, somos uma máscara pré-moldada de modelo antigo e já não sabemos quem somos sem ela, e já ne sabemos como tira-la.

Nós nunca mudamos verdadeiramente até tirarmos as máscaras e sairmos dos trilhos e entrarmos no nosso desconhecido familiar ou na origem de nós mesmos.

Mas, para que faríamos isso? Para que quebrar uma bonita máscara? Para que romper o caminho comodista?

Eu não sei por que, e não sei para quê.

Só sei que viver assim, sem nunca sair do trilho, parece um viver de quem só fica nas margens das próprias possibilidades, só vive uma vida emprestada, rotulada e trivial. Viver assim me parece um esquecimento de si mesmo.

Há uma criatividade imanente querendo explodir. Há uma alma inquieta, aventureira, que quer vasculhar-se, que sempre se enamorou mais das visões das janelas dos trens que enquadravam as inúmeras possibilidades de ser lá fora.

Há uma criatividade que quer transbordar e quebrar as molduras de qualquer nome e ir além (ou aquém) de qualquer formato pré-estabelecido, que seja político, religioso, intelectual…

Há uma vontade de respirar e fazer da vida um desentulhar e um desatar de laços e trilhos e nomes.

Há uma vontade de ver o mundo sem juízo de valores, de ouvir o silêncio que surge da mente vazia de quem já não briga consigo mesmo porque não conquistou mais títulos e pedaços de papel.

Há uma vontade de aliviar a si mesmo do peso de tantos rótulos e se permitir se definir com tudo que há no mundo, desde o que já foi registrado até o que ainda nem tem nome.

Estereótipos delimitam a vastidão da alma humana.

Todos nós somos rios represados, que já não sabem mais correr e abrir caminhos, livres.

A criatividade me libertou um pouco. O pensamento criativo me fez querer reinventar a vida de forma inaugural. E me fez finalmente aceitar que não, eu não tenho que escolher um nome, um lado, um polo, um partido.

Sou louca e santa, joio e trigo, isso e aquilo, tudo e nada. Eu danço conforme eu sinto (e de olhos fechados).

Eu não tenho que entrar num trilho. Mas em cada esquina que eu passo, nesse eterno caminho entre a lucidez e a loucura, alguém tem um nome para me dar, um rótulo, daqueles banalizados, captados no primeiro olhar. Daqueles que olham para minha cara de boba e já entendem de que tipo eu sou.

Mas hoje eu só queria dizer que definir é delimitar. E que entre o certo e o errado, eu escolho o caminho inexplorado.

Ou como disse Rumi:
‘Em algum lugar entre o certo e o errado existe um jardim. Te encontro lá.’

Os birrentos cibernéticos

Os birrentos cibernéticos

Por Gustl Rosenkranz

Tenho lido e escutado muito que a faixa etária média do usuário do Facebook tem aumentado. Os mais jovens estão buscando outras redes sociais, enquanto os adultos (pre)dominam cada vez mais. Poderíamos até pensar que esse aumento da idade provocasse então uma elevação do nível de maturidade, mas não é isso que constato. Tenho mais a impressão de estar dentro de um enorme jardim de infância virtual.

Imagine crianças brincando. Elas pegam um cobertor e duas cadeiras, fazem uma “casinha” com isso e supõem que é um castelo. Essas crianças vão levar essa brincadeira a sério e acreditar realmente que estão em um castelo medieval, com rei, rainha, bobo da corte, cavaleiros andantes e tudo que se tem direito. Isso, no mundo das crianças, é algo maravilhoso e útil, pois as crianças precisam da fantasia para se prepararem para a vida real dos adultos. Pois bem, agora imagine pessoas adultas fazendo o mesmo, não com cadeiras e cobertor, mas em um mundo virtual, em uma rede social, como no Facebook: essas pessoas adultas constroem também aqui seu mundo fictício, sua “ilha da fantasia”, expondo aquilo que acreditam ser, identificando-se com os folclores e mitos que acham bons. Até aí tudo bem, mas a coisa começa a ficar problemática quando algumas dessas pessoas começam a levar a “brincadeira” a sério demais, acreditando nesses folclores e mitos virtuais e naquilo que expõem de si. O que acontece então é a mesma coisa como no jogo das crianças: um quer ser o rei do castelo, mas outros também querem, até o “bobo da corte” acha que o rei deveria ser ele. Uma menina é escolhida como princesa, mas ela prefere ser rainha, e a discussão é levada com a seriedade de crise mundial. As crianças resolvem o assunto de alguma forma, alguns ficam satisfeitos, outros não gostam, uns ficam embirrados, outros choramingam, xingam, uns se jogam no chão, esperneiam  e se negam a aceitar “as regras do jogo”. E é triste constatar: há adultos que se comportam da mesma maneira!

Não é isso que vemos diariamente? Gente levando tudo a sério, como se fosse vida verdadeira, gente egocêntrica, que acha que tudo gira em torno de sua pessoa (o egocentrismo de crianças é necessário e saudável – até certo ponto. Já o egocentrismo de adultos é para mim um desvio preocupante!), gente que fica embirrada quando não consegue o que quer, quando se declara rei ou rainha, mas não é aclamado(a) pelo “povo”, quando sua forma de “brincar sua fantasia” não é aceita e aplaudida por alguém. Às vezes, rola briga e gente imatura sai zangada, reclamando, e procura seus “amigos” para choramingar e lamentar: <<Olha gente como fui maltratado(a)! Quis ser rei/rainha e brilhar aqui no castelo (Facebook), mas fulano disse que eu só presto para ser dragão>> – coisa que fulano nem disse, mas isso torna a coisa mais dramática e acentua o papel de vítima. <<Consolem-me, por favor!>>. São formadas então fracções e coligações e o “dragão” volta com seu “exército” de embirrados, pronto para atacar quem quer que seja, por lealdade ao “amigo(a)” e por gostar de uma briguinha. E o ataque (infantil) começa: “Você não pode ser rei, pois seu nariz é torto!”, “você não pode ser rainha, pois mais parece uma bruxa”, “você não pode ser cavaleiro, pois mais parece um cavalo”. E a infantilidade continua, continua, continua… E rende, rende, rende, já que, como no mundo real das crianças birrentas, só se quer uma coisa: ter razão, custe o que custar! E, se não for por bem, então vai na birra…

Se alguém acha que estou exagerando, que pare um pouco para ler determinados posts e comentários pelo Facebook afora. Muitas vezes, falta qualquer objetividade, adultos discutem realmente como se fossem crianças embirradas, críticas são imediatamente tomadas como ofensas pessoais, que são devolvidas então como insulta pesada, os fatos são torcidos, a hostilidade é grande e, quando se junta a capacidade de abstração infantil com a prepotência adulta, o controle é muitas vezes perdido e qualquer forma de civilidade e qualquer capacidade de diálogo desaparecem. Pessoas adultas se comportam de uma forma infantil, imatura, cobram sua liberdade de opinião, mas não aceitam que os demais têm o mesmo direito. Qualquer opinião alheia é recusada, exceto quando se trata de um elogio, de alimento para uma autoestima baixa.

Se não fosse a sobriedade de alguns, realmente adultos, que conseguem discernir entre o mundo real e virtual e sabem se comportar adequadamente nos dois, o Facebook poderia ser visto como um verdadeiro hospício!

Não, não estou querendo aqui criticar o Facebook, redes sociais ou mesmo a internet. Não é isso. Como em tudo, há vantagens e desvantagens e sei muito bem usufruir das vantagens do mundo virtual. Só reflito aqui “em voz alta” sobre o comportamento de certos usuários, sobre a forma como muitos usam determinadas ferramentas e sobre o que se encontra por trás disso.

O mundo virtual não é para mim realmente virtual, já que por trás de cada perfil há uma pessoa real. A internet não é (ainda) totalmente controlada por máquinas. Ela é feita por pessoas e o mundo virtual, em minha opinião, é um espelho do mundo real. Mesmo que sejamos mais extremos na internet (por nos acharmos protegidos por uma suposta anonimidade?), os rastros que deixamos aqui é reflexo do que nos move e preenche ou que nos prende e esvazia no mundo real.

Portanto, não creio que essas animosidades de “birrentos cibernéticos” sejam algo “da internet”. Quem se comporta assim ou assado virtualmente é porque se comporta do mesmo jeito no mundo real (ou gostaria, mas não tem coragem ou espaço para isso). Toda essa hostilidade e toda essa infantilidade que vemos por aqui tem sua origem em vaidade, orgulho, frustração, amargura, complexos, limitações reais. A coisa vai tão longe que blogueiros famosos (por exemplo, Leonardo Sakamoto – Por que fechei meu blog para comentários) não permitem mais comentários em seus posts, alegando que eles perdiam muito tempo moderando a “loucura” de certas pessoas, que só comentavam para polemizar, reclamar, insultar e hostilizar, sem nada oferecer, sem nada construir.

Penso que ainda vamos precisar de algum tempo até aprendermos a lidar corretamente com o mundo virtual e com seus desvios e loucuras. Observando a velocidade com que o mundo digital tem se desenvolvido nas últimas décadas, compreendo que ainda estejamos deslumbrados com uma tecnologia que se encontra engatinhando. Acredito que a internet se desenvolverá ainda mais no futuro próximo, tornar-se-á ainda mais poderosa e sua presença em nossas vidas será ainda maior. Só espero que possamos desenvolver também técnicas adequadas para lidar com as excrescências, pois a internet, mesmo sendo uma benção na vida do homem moderno, tem seu lado negativo, para não dizer perverso. Mas creio que o melhor caminho para encerrar ou pelo menos reduzir comportamentos imaturos e hostis na internet seria o de (re)educar urgentemente as pessoas no mundo real, pois acho que é isso que falta. E isso se recebe em casa, na escola e no meio social real de cada um, não na internet.

A cadela e o menino – Um breve olhar sobre raças

A cadela e o menino – Um breve olhar sobre raças

Por Lúcia Costa

Semana passada, enquanto voltava do trabalho, vi uma cadela de uma raça que desconheço.

Ela usava brinco, tiara e uma coleira onde estava gravado seu nome. Era conduzida por uma mulher de óculos escuros e um terninho branco bem ajustado ao corpo. As duas entraram em um Pet Shop e a dona lhe comprou ração de variados sabores: carne, peixe, frango, legumes… Ainda comprou uma escova de dente e um creme dental especial para sua estimada companhia peluda. Depois, entraram em uma camionete. A cadela colocou a cabeça na janela do banco do passageiro e saiu sentindo o ar que batia em seus pelos devidamente tosados. Serenava levemente e a mulher fechou os vidros do veículo para não desmanchar o penteado canino.

Também vi, na semana passada, uma criança de uns cinco anos. Eu reconheço sua raça; é a minha raça.

Ela estava com a mãe em uma parada de ônibus. Falaram alguma coisa ao motorista, que as olhou com ternura e mandou que entrassem pela porta traseira. Era um menino e estava molhado pelo sereno leve que caía. Estava sujo, descalço e queria que a mãe lhe comprasse um cachorro-quente. Exigia. Gritava. A mãe pedia, quase cochichando, que falasse baixo, pois estava “me matando de vergonha, menino”.

A mulher pedia.  Implorava. O pequeno se cansou. Entreteu-se lambendo o sal de um esgotado saco de pipoca. Rasgou-o, ferozmente, e percorreu com a língua todo o interior da embalagem. Depois pediu água. A mãe lhe segredou baixinho que esperasse chegar em casa. Ele chorava alto e pedia. Implorava.

Eu desci do ônibus e vi uma cadela de uma raça, que desconheço…

Pessoas famosas com temperamento forte

Pessoas famosas com temperamento forte

Aqui são descritas pessoas com temperamentos fortes e especiais e outras já com diagnóstico de bipolaridade. Em todos os casos, analisa-se como esse temperamento pode ter sido influente em seu sucesso.

Por Diogo Lara

ALGUMAS PESSOAS FAMOSAS ILUSTRAM a diversidade de expressões que o temperamento forte pode assumir, tornando-as mais evidentes na sociedade. Muitas provavelmente manifestaram a bipolaridade, mas quero enfocar seus temperamentos especiais. Não faltaram personagens e ídolos do século XX que tiveram, além da exuberância, trajetórias meteóricas para o sucesso e fins trágicos e também precoces. Entre os artistas, Elvis Presley e Marilyn Monroe nos Estados Unidos; no Brasil, Elis Regina, Cazuza, Renato Russo, por um triz não foi Herbert Vianna para citar alguns. Pode-se afirmar que suas características de intensidade emocional, criatividade e sensualidade, entre outras, favoreceram sua projeção, mas vieram acompanhadas de outros comportamentos, como uso de drogas, atividade sexual não segura ou aventuras ousadas demais.

Em um documentário recente sobre Elvis, palavras como sensualidade e sexy foram tão pronunciadas quanto seu próprio nome. Surgiu jovem, sorriso fácil, à vontade sob os holofotes e as câmeras, totalmente entregue
tanto em canções animadas quanto nas românticas, dançando de uma maneira tão extravagante que faria qualquer outro parecer ridículo, criando moda e quebrando tabus, com o brilho hipertímico no máximo. Transou com inúmeras fãs. Com o passar dos anos, foi ficando pesado no humor e no corpo, instável. Destruiu-se com 40 e poucos anos. A trajetória de Marilyn não foí muito díferente. Lógico que o fato de os dois serem muito bonitos contribuiu para o estrelato, mas o que os fez diferentes das outras centenas de rostinhos bonitos ou vozes afmadas era a atítude naturalmente brilhante e o magnetismo que emanavam, comum em muitas pessoas com o perfil bipolar.

Quem viu não esquece Elís Regína cantando Arrastão, com os braços girando como uma hélice, pronta para decolar, Assim, de cara, na estréía para o grande público, uma guria! Como Elvis, tinha a versatilidade de produzir naturalmente o tom emocional certo para cada músic.  Suas interpretações comoviam e contagíavam. Mimetizava o próprio humor, provavelmente ciclotímico, indo do paraíso ao inferno em minutos. Suas opiniões eram fortes e decididas, não se importava com o juízo que fizessem, condizendo com o apelido de Pimentinha. Passou por inúmeros cortes de cabelo, vários estilos de vestir e alguns homens. Excedeu-se nas drogas e teve fim aos 40 e poucos anos- não fosse pelo seu temperamento talvez isso não tivesse ocorrido, mas provavelmente também não teria sido a grande Elis.

Renato Russo e Cazuza tinham o dom da poesia original e instigante e o brilho para interpretá-la musicalmente em sua plenitude. ambos morreram devido ao mesmo tipo de conduta insegura. Os dois também pareciam expressar a chamada pansexualidade, ou seja, o que vier vem bem se der o clique certo. Cazuza encarnava francamente o perfil hipertímico, enquanto Renato Russo parecia puxar para o padrão ciclotímico, mais nebuloso, rebelde e turbulento. Já foi demostrada, sem grande surpresa, a alta frequencia de pessoas de espectro bipolar infectadas sexualmente por vírus sexualmente transmissíveis, como o HIV, que vitimou ambos.

Ayrton Senna não suportava ver ninguém à sua frente. Sentia-se bem a 300 km por hora. Pilotava no limite, um limite desenhado e desafiado por anos de dedicação e sensibilidade para os detalhes. Quando perdia, a culpa era sempre do carro ou de algum inepto que não sabia pilotar, nunca sua – mas com este potencial de ataque e conquista, quem precisa de mecanismos de defesa psicológicos evoluídos? Tinha fortes atributos de persistência: redobrava a dedicação, o planejamento e a concentração para a próxima prova. Foi uma pessoa marcada pela intensidade afetiva, o carisma e as conquistas.

Herbert Vianna, certamente um dos grandes talentos musicais brasileiros das últimas décadas, acidentou-se voando de ultraleve. Podemos nos pergumax o que leva pessoas como ele a correr certos riscos. Para entender, só usando a lógica da novidade, da aventura, do diferente e da emoção, que não à toa coexistem nos gênios e nos criadores.

Vários outros talentos artísticos, alguns com histórias mais trágicas e conturbadas que outros, poderiam ser citados e analisados, como Picasso, Dalí, Mick Jaegger, Janis Joplin, Rita Lee… cada um com expressões particulares do universo de seus temperamentos marcantes.

Na linha dos empreendedores, um exemplo é Jack Welch,  presidente por vários anos General Electric. Considerado um dos maiores executivos de todos os tempos, revolucionou a empresa, desburocratizou-a, quebrou regras e dogmas. Comandou negócios tão diversos como a produção de eletrodomésticos, canais de tevê e satélites. Era excepcionalmente franco, impaciente, competitivo, ousado, odiava burocracia, adorava festas e comemorações e tinha um pensamento tão rápido que chegava a atrapalhar sua fala.

Pessoas famosas com bípolaridade

Não faltam exemplos de pessoas que, além do temperamento forte, têm (ou tiveram) bipolaridade em algum grau. Pelo estigma que o transtorno de humor bipolar ainda carrega na sociedade pode se compreender por que muitos evitam divulgar seus sintomas ou tratamentos.

Na literatura, Agatha Christie, Virginia Woolf, Ernest Hemingway, Edgar Allan Poe, Graham Greene, Hans Christian Andersen. Na poesia, T. S. Eliot, Walt Whitman. No Rock, Axl Rose (vocalista do Guns n´Roses), Kurt Cobain (ex vocalista do Nirvana). No jazz, o pianista Thelonius Monk. Na música erudita, Tchakosvky e Mozart. No cinema, Robin Williams, Jim Carrey e Elizabeth Taylor. Nas artes, Paul Gauguin e Vincent van Gogh, revelados inclusive pela intensidade das cores de seus quadros. Vale dizer que não é requisito ser bipolar para ser artista, mas vários estudos apontam que a presença de bipolaridade é bem mais frequente entre artistas do que na população geral. Outros bipolares entre famosos personagens da história: o filósofo Platão e o cientista Isaac Newton. Na política, Winston Churchill, Abraham Lincoln e Ulysses Guimarães.

O temperamento forte e uma provável bipolaridade leve parecem ter contribuído para a projeção e o sucesso da cantora de ópera Maria Callas e o chef francês Bernard Loiseau. Ambos tinham a emoção aflorada, grande entusiasmo, humor exaltado e a busca da perfeição como características marcantes, além de um estilo próprio de atuar que revolucionou suas áreas. Ambos viveram suas apoteoses até a quarta década de vida e morreram cedo, ela aos 54 e ele aos 52 anos. Loiseau, em poucas semanas, foi invadido por uma grande turbulência do humor acompanhada de extrema negatividade, que era o oposto de seu perfil até então hipertímico. Suicidou-se com um tiro de espingarda. Sua maior preocupação era manter a extrema qualidade e originalidade de pratos de seu restaurante La Côte  d´Or, que havia sofrido uma leve queda de cotação em um guia de restaurantes.

Diogo Lara é médico psiquiatra, professor e pesquisador em neurociências.

O texto acima é fragmento do seu livro “Temperamento Forte e Bipolaridade: dominando os altos e baixos de humor.

Elogio da paixão

Elogio da paixão

Por Marcela Picanço

Sei que, pelo menos uma vez na vida, alguém já disse que não queria me ver nunca mais. Alguns até resistiram aos meus caprichos e se fecharam, outros não conseguiram ficar nem uma semana sem mim.

Acho engraçado pensar que as pessoas têm medo de mim. Sempre afirmam que eu não sirvo para nada além de fazer sofrer, perder a cabeça, levar à loucura. Mas, convenhamos: essa é a minha função. Durante a paixão ardente, eu sei que cada um de vocês sente a minha plenitude. Eu gosto de ver isso nas pessoas, quando estou com elas. Gosto de vê-las secando de desejo, sentindo fome, sede, uma vontade absurda e inexplicável por dentro. Quando estou aí dentro, é a melhor sensação que vocês já sentiram. Podem admitir.

O problema vem depois. Muitos odeiam quando eu vou embora rapidamente, outros se questionam quando eu chego sem avisar, outros piram quando eu apareço queimando por dentro. A verdade é que ninguém vive sem mim. Pode tentar fugir, mas um dia eu vou encontrá-lo e você vai se render. Pode ser criança, jovem, adulto ou velho. Não me importo com idade, sexo, religião, cultura ou etnia. Não tenho preconceito nenhum e sempre arranjo um jeito de me fixar em seu peito. Apertando, apertando, apertando cada vez mais. Uma dor boa. Um frio na barriga, um sorriso no rosto, uma cabeça no mundo da lua.

Um vírus. É exatamente isso que eu sou. Um vírus, uma doença. Já reparou que, quando as pessoas estão apaixonadas, elas têm os mesmo sintomas? Vem, incomoda, aflora e passa. A diferença entre o que sou e uma doença é que a doença é um incômodo ruim, eu sou um incômodo bom. Às vezes, nem sou um incômodo. Isso depende de cara, organismo, ou melhor, de cada tipo de alma ou de cabeça.

Alguns são fracos e eu parto-os ao meio. Outros são fortes e me curtem até o ultimo momento. Também como um vírus, eu venho em diferentes intensidades, já que um mesmo vírus não entra duas vezes no mesmo corpo. É como se existissem vários eus e, por isso, uma paixão nunca é igual à outra.

Não precisa ter medo de mim. Fugir da paixão, fugir do amante. Eu não vou machucá-lo tanto. Eu passo e vou embora, prometo. Quanto mais você me evitar, mais desastrosos serão os sintomas quando eu encontrá-lo. Eu posso deixar sequelas, mas, se você aprender a lidar comigo, elas serão cada vez menores, juro.

Eu posso demorar um pouco para sair de você, mas isso também depende de cada organismo. Alguns sentem falta de mim, choram para me ter logo por perto e outros choram para que eu me afaste. Geralmente, auqeles que me desejam são os que já passaram por muitas coisas e precisam de mim para aliviar o estresse do dia a dia, afinal, eles sabem que uma hora eu vou embora. Já os outros, que têm medo de me encontrar, acham que eu vou ficar cravada no coração por um bom tempo, impedindo-os de viver. Isso só acontece se você me permitir, mas é uma opção perigosa, que não costuma ser eterna, porque eu vou embora algum dia. Talvez quem fique depois seja o meu companheiro, o amor. Muitas pessoas nos confundem, mas confesso que somos bem diferentes. Tem vezes em que eu o apresento, outras vezes ele me apresenta às pessoas e isso acaba causando um mal entendido. Às vezes, andamos lado a lado, mas não somos o mesmo.

Sei que já magoei muitos, mas não foi por mal. Todo mundo passa por isso de se apaixonar e uma das minhas características é fazer sofrer, angustiar. Mas o sofrer de paixão faz bem para a alma, é a certeza que vocês têm de que estão vivos e têm a capacidade de amar – tem coisa mais incrível que isso?

Vejo alguns de vocês com uns lemas esquisitos de não se apegar a ninguém, de ser uma pessoa fria, arrasadora de corações. Qual é o problema de vocês? Não adianta fugir e achar que podem me controlar, porque não o vão. Se vocês se adaptarem ao meu estilo de vida, vai ser muito mais fácil. Desapaixonar-se também é uma arte, tão intensa quanto se apaixonar. Como tudo na vida, você aprende a lidar com a situação. Concordo que dá um pouco de trabalho, mas, quando você realmente não me quiser mais ao seu lado, eu vou embora. Não insisto em algo que não é mais tão proveitoso. E você deveria fazer o mesmo. Quanto mais rápido eu vier, mais rápido eu vou embora, e a minha saída você pode controlar algumas vezes. Só algumas.

Ando junto com a loucura, com a ausência de pensamento, com o impulso. Faço cegar, ficar à flor da pele, sensibilizo. Não gosto do bom senso. Gosto de ver vocês perdendo a cabeça. O mais legal é ver tudo isso acontecer e vocês ainda manterem o sorriso pregado no rosto, como se fossem todos bobos. Sei que todos vocês falam mal de mim, mas, no fundo, sabem que o meu amigo mais próximo é a felicidade e, esta sim, anda sempre comigo.

Não adianta negar. Quando estou com vocês, sentem-se completos. Correspondidos ou não, eu tapo um buraco, eu cubro o vazio, eu ilumino o dia. Eu costumo dizer que movo montanhas, faço as pessoas fazerem coisas, sem pensar, duas vezes. Essa é a maior sensação de liberdade que existe: falar e fazer o que quiser na hora em que quiser, sem pensar. É um alívio tão grande dentro de vocês, uma paz interna. Sou uma das únicas coisas que causa esse sentimento nas pessoas e, isso sim, é uma vida agradável. Vocês, porém, estão sempre em busca da felicidade, ou seja, sempre em busca de mim, porque sou eu quem pode lhes proporcionar isso.

Eu vou ser sempre uma coisa indecifrável, meio louca, diferente de todos os outros estados de espírito, mas é por isso que sou sempre tão temida e desejada, uma coisa fora do comum, porque sou o elemento que está mais perto da magia que vocês tanto procuram por aí. É mágica. Aparece e, de repente, some sem explicação. Sou, assim, uma magia.

Um erro grave que vocês cometem falando de mim é dizer que eu só vivo entre os humanos. Vocês podem me encontrar em todos os lugares. Estou entre os animais, as plantas, os elementos da natureza, os objetos, os objetivos de vida, os sonhos. Posso fazer vocês se apaixonarem por qualquer coisa que passe alegria.

Vocês vão sempre estar cheios de vida enquanto eu estiver por perto e estarei sempre voltando para vocês. Sou um parasita, preciso de vocês e do mundo para sobreviver e aplicar minhas funções. Mas sou um parasita do bem, afinal, já disse todos os benefícios que eu causo. Trago o amor, o sentido da vida. Esse, sim, é o sentimento mais puro, que não pede nada em troca. Mas ele precisa de mim pra existir, para se propagar por aí. Deu para entender agora a minha importância?

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Cena do filme “O Diário de uma Paixão”

15 curiosidades sobre Fernando Pessoa

15 curiosidades sobre Fernando Pessoa

Criado na África do Sul, o poeta português tinha no inglês a sua segunda língua. Seus primeiros poemas foram publicados em inglês. O primeiro livro em português só sairia uma década depois.

Das quatro obras que Fernando Pessoa publicou em vida, três são em inglês.

Além de poeta, Pessoa trabalhou como tradutor, jornalista, crítico literário, editor, publicitário e até inventor. Ele também arranjava tempo para exercer o ativismo político.

Fernando Pessoa tinha o hábito de escrever sob diversos pseudônimos, cada um com um estilo e uma biografia próprios. Ente os pseudônimos adotado estão Ricardo Reis, Alberto Caieiro e Álvaro de Campos.

A popularidade de Pessoa teve início após a sua morte. Pessoa morreu em 1 935, mas sua poesia só despertou o interesse do público a partir da década de 1 940. Seus poemas só foram traduzidos para outros idiomas depois de sua morte.

O poeta era muito amigo de outros dois grandes nomes da poesia portuguesa: Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro. A intensa correspondência com Sá-Carneiro, só foi interrompida com o suicídio do amigo.

Coisa que Pessoa não conseguia ver era um lápis sem ponta. Antes de escrever, ele costumava apontá-los. Consta também que o grande poeta português também mantinha o hábito de escrever em pé.

Ao chegar algumas horas atrasado em um encontro com o escritor português José Régio, o poeta declarou ser Álvaro de Campos e pediu perdão por Fernando Pessoa não poder comparecer ao encontro.

Pessoa gostava bastante de astrologia. Ele tinha mania de fazer mapas astrais de amigos, parentes, conhecidos e até de personalidade históricas.

Dizem que Fernando Pessoa foi o responsável pela introdução do planeta Plutão (recentemente rebaixado para a categoria dos planetas-anões) nos mapas astrológicos.

Fernando Pessoa mantinha também um grande interesse pelo esoterismo, maçonaria e fraternidade Rosacruz. Admirava também o mago britânico Aleister Crowley.

O maior desejo da poetisa brasileira Cecília Meireles durante visita a Portugal era conhecer Fernando Pessoa. O poeta, porém, não compareceu ao encontro e deixou Cecília na espera por quase duas horas. Ao voltar ao hotel, ela topou com um livro e uma carta de pessoa. Nele, o gênio português pedia desculpas por não ter ido ao encontro. O motivo? Os astros diziam que os dois não podiam se encontrar naquele dia.

Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática. Em seu atestado de óbito, no entanto, consta “obstrução intestinal” como causa da morte.

Em 2008, o o Bureau Internacional das Capitais da Cultura revelou ser Fernando Pessoa uma das 50 personalidades mais influentes da cultura europeia, ao lado de Da Vinci, Mozart e Einstein.

Existe na cidade do Porto uma universidade chamada Fernando Pessoa, em homenagem a esse grande poeta da língua portuguesa.

Fonte: Mais curiosidade

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João Beja
Portugal

Sobre o direito de sermos mulheres para casar

Sobre o direito de sermos mulheres para casar

Por Jéssica Bórnia

Soa-me muito estranho essa gente que ainda cria estereótipos para definir mulheres que simplesmente sonham em casar, construir uma família e serem donas de casa. Julgam e menosprezam tal escolha como um “ar” de deboche e caracterizam essas mulheres como se fossem uma minoria digna de pena e sem valor algum.

Tais pré – conceitos não deveriam pertencer a uma sociedade que se diz tão liberal e de mente aberta há tudo que vivemos nos dias atuais. Não dá pra achar que todas essas mulheres são iguais por terem apenas a mesma escolha de vida ou viverem na mesma condição. E digo mais, serem chamadas de “amélias”, submissas, puras, ingênuas não as torna piores e nem melhores que ninguém.

Esqueça essa historinha que donas de casa precisam necessariamente pertencer a uma sociedade que não estudou, não trabalhou ou se quer possui uma carreira. Jogue fora a ideia de que elas não se cuidam, não fazem o cabelo, unha e são ignorantes com assuntos de maquiagem. Abandone essa imagem. Elas não são submissas a vida que levam e aos companheiros que possuem.

Conheço tantas mulheres casadas, com famílias e donas de casa que possuem uma personalidade forte, marcante e são independentes. Que amam seus companheiros, seus filhos e tudo que fazem no seu dia-a-dia. Todas tiveram a sorte de encontrar alguém com quem pudessem realizar seus sonhos e viver a vida que tanto desejaram.  Elas não são diferentes daquelas que são solteiras, moram sozinhas e vivem com seu cachorro.

Porque vou te dizer uma coisa: Deus me livre ser uma mulher fria, sem sonhos e sem amor. Prefiro o estereotípico de “Amélia” e viver a minha vida de forma plena e feliz, a ser uma pessoa vivendo uma vida vazia e cheia de falsas alegrias apenas por causa de uma sociedade que ainda não se livrou de pensamentos pequenos e preconceituosos.

Mas veja bem, uma escolha de vida jamais poderá definir se uma pessoa é melhor ou pior que a outra, mesmo porque, nossas escolhas podem mudar a qualquer momento, depende principalmente daquilo que vai fazer seu coração bater mais forte, sempre.

Por isso, seja uma mulher que encara os desafios da sua vida e defenda seus sonhos com unhas e dentes. Se quiser casar, construir uma família e viver plenamente para seu marido, casa e filhos, lute por isso.  Nunca abandone seus sonhos e sua felicidade por nada e nem ninguém.  Afinal somos aquilo que desejamos e nos tornamos aquilo que construímos.

contioutra.com - Sobre o direito de sermos mulheres para casarJessica Bórnia

Uma jovem apaixonada pela vida e pelo amor de ser mãe. Leitora de tudo aquilo que engrandece o coração. Dramática, neurótica, impulsiva. Otimista de carteirinha. Acredita no poder da fé, das amizades e de um grande amor. Apaixonada por historias com finais felizes. Aprendiz de blogueira

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