Decisão poética: Índia proibe encarceramento de pássaros

Decisão poética: Índia proibe encarceramento de pássaros

“Tenho claro em minha mente que todos os pássaros têm os direitos fundamentais de voar nos céus e que os seres humanos não têm o direito de mantê-los presos em gaiolas para satisfazer os seus propósitos egoístas ou o que quer que seja”, declarou o Juiz Manmohan Singh.

A decisão foi tomada em relação a um caso no qual diversos pássaros foram resgatados de um homem chamado Md Mohazzim, que afirmava ser tutor dos animais mas a ONG People for Animals indicou que ele mantinha-os em pequenas gaiolas e vendia-os para obter lucro. Após as aves terem sido capturadas, o tribunal de primeira instância devolveu os pássaros para Mohazzim, levando a ONG a apelar da decisão em uma instância superior.

O outro tribunal emitiu a decisão, comentando que “esta corte tem a opinião de que realizar o comércio de pássaros é uma violação aos seus direitos. Eles merecem compaixão. Ninguém está se importando se eles foram vítimas de crueldade ou não, apesar de uma lei que diz que as aves têm o direito fundamental de voar e não podem ser engaiolados, e terão de ser soltos no céu. Pássaros têm direitos fundamentais que incluem o direito de viver com dignidade e não podem ser submetidos à crueldade por ninguém, incluindo a reivindicação feita pelo respondente (Mohazzim)”.

As autoridades de Nova Delhi, bem como Mohazzim, foram notificados sobre a decisão do tribunal e a sua resposta é solicitada até dia 28 de maio.

Esta não é a primeira vez que a Índia age no sentido de reconhecer os animais como seres sencientes com direitos fundamentais. O tribunal superior do país baniu os shows com golfinhos cativos em 2013, argumentando que eles têm um alto nível de inteligência que possibilita considerá-los “pessoas não humanas”. A produção de cosméticos testados em animais, o sacrifício de animais em rituais religiosos, o foie gras e as rinhas de cães também são proibidos no país, a fim de proteger os direitos básicos dos animais.

 

Fonte: Criciuma News

Assim é

Assim é

Por Tatiana Nicz

Ok aqui vai uma grande verdade sobre sentimentos: sentimento não é algo que apenas brota, assim do nada. Sentimento não responde aos comandos da racionalidade. Psicólogos, psiquiatras e estudiosos tentam por séculos (em vão) entender o que motiva, inspira, move um ser humano; quais são as razões por trás do amor; por que gostamos de quem gostamos; ou ainda, por que não gostamos de quem não gostamos. Mas não dá para ficar explicando o que sentimos.

Eu acho que a turma do “politicamente correto” e os ensinamentos de Jesus, Buda, Lamas e afins criaram um monte de gente frustrada com esse papo de amar o próximo e ter compaixão. Sim, tudo isso é muito lindo, em teoria. Seria bom se pudéssemos amar todo mundo, mas sério, sinto em desapontar as Madres (e Padres) Teresas de plantão, não dá. E aliás, retiro o que disse, não seria bom não, o mundo seria um saco. E acho um saco também tentar plagiar, fingir, bloquear ou fabricar sentimentos, seja através de remédios, mentiras e falsidades. Não adianta, sentimento não se fabrica, nem pirateia e arriscaria em dizer que também não se compra (apesar de alguns acreditarem que sim).

Tem gente que a gente não consegue gostar, pode ser por coisas banais, tipo o perfume, o jeito de falar, ou pode ser por motivos mais compreensíveis. E o contrário também existe, existem pessoas que a gente ama, simplesmente porque ama. E existem aqueles amores que transcendem as intempéries do tempo, da distância e de qualquer racionalização e que mesmo que a gente não queira mais amar, ainda assim amamos. E não se engane, não tem como amar igual pessoas diferentes, cada pessoa amamos ou odiamos, ou amamos e odiamos de um só jeito.

Um dos filmes que mais gosto é o “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, eu, assim como muitos, também coleciono histórias de amor que gostaria de esquecer. Por muito tempo achei que seria bom se existisse mesmo um procedimento onde pudéssemos apertar a tecla “delete” assim como fazemos online. Mas um dia finalmente entendi que sentimentos não brotam e também não morrem.Eles se transformam, transmutam, expandem ou encolhem, mas não desaparecem simplesmente assim como os amigos no mundo virtual. Bloqueie, delete, apague. Eles permanecem vivos. Portanto é preciso senti-los. Inclusive os “ruins”.

Então aprendi a aceitá-los. As brigas e mal entendidos, dramas e corações partidos que colecionei; os amores mal acabados, as histórias de amor que não tiveram um bom desfecho, as boas e más escolhas, os encontros e desencontros, aquela história mal resolvida e que não adianta, não terá resolução (tudo bem, fica para uma próxima vida…). Talvez nem todos os finais sejam felizes como nos contos de fadas, mas isso também vai depender da leitura que fazemos deles.

Nesse tempo aprendi também a respeitar aqueles que não me querem bem, não faz mal, as pessoas têm esse direito, afinal é um mundo livre (é o que dizem). Aprendi a aceitar também que nem todos vão gostar de mim e não gostarão, mesmo que eu mude de perfume ou o tom de voz. Assim como eu também não gosto de alguns (pô, foi mal aí Jesus!).

Pois é, sentimentos não brotam, por mais que você se esforce, assim como, nem com o maior esforço do mundo, alguns não morrem. Portanto a única solução é senti-los. E se tem uma coisa que aprendi nesses anos de vida é que para o que sentimos não tem bloqueio, nem tecla “delete”, não tem “desfazer amizade (sentimento)”. Sentiu? Sinta.

Por mais que tentemos apagar o passado ou esquecer alguém, tem lembranças que permanecem latentes, nos assombrando, esperando um momento de descuido para entrar por entre as frestas daquela porta que chaveamos com toda a nossa vontade. Pelas gavetas empoeiradas as lembranças surgem, seja numa música que invade os nossos ouvidos, ou em uma frase, talvez naquele álbum antigo de fotos, em uma carta perdida em meio aos livros, quem sabe em um sonho. Elas vêm assim mesmo, de repente, sem avisar.

E é mesmo nessa pequena fração de tempo do “de repente” que vivemos a eternidade que habita no que muito sentimos. Nessa hora, quando a saudade bate, quando as lembranças vêm, a única saída é sentir, sentir muito, sentir até o fim; sentir enquanto elas insistem em serem sentidas. Mesmo que doa nos ossos, na carne, no peito. O medo, a raiva, a tristeza, a alegria, o amor existem para serem sentidos.

Então mesmo que pareça “errado” gostar ou não gostar de alguém, ainda assim, permita-se. Então sinta. Sinta muito. Isso é algo somente teu, não diz respeito à mais ninguém (nem mesmo à pessoa por quem sentimos). Porque as dores nos fazem mais fortes e os amores nos fazem melhores.

Um dia li uma frase que me marcou muito, uma boa reflexão para a vida: “as pessoas vão esquecer o que você fez, as pessoas vão esquecer o que você disse, mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir”.

Por bem ou por mal, sinto muito, mas assim é.

13 coisas para se lembrar se você ama uma pessoa com problemas de ansiedade

13 coisas para se lembrar se você ama uma pessoa com problemas de ansiedade

Dizemos que a ansiedade é adoecedora quando ela atrapalha a rotina e as relações sociais de uma pessoa de maneira frequente e significativa como, por exemplo, se a pessoa deixa de fazer coisas de que gostava muito, porque se perde com os planejamentos ou mesmo com pensamentos deturpados sobre possíveis acontecimentos tentando prevenir o futuro de maneira exagerada e podendo chegar até a paralisação por imaginar possibilidades trágicas. Quando as coisas chegam a esse ponto, é necessária, inclusive, a intervenção de profissionais especializados como psicólogos e/ou psiquiatras.

Abaixo, uma tradução adaptada de um texto bastante relevante sobre maneiras de lidar com pessoas amadas que sofrem de ansiedade. Vale conferir.

13 coisas para se lembrar se você ama uma pessoa com problemas de ansiedade

Por Jake MacSpirit

Lidar com a ansiedade é algo realmente difícil, você não acha? E essa dificuldade não acontece apenas com as pessoas que a possuem em uma quantidade exagerada, mas para todos os que convivem com ela.

Conviver com extremos é emocionalmente desgastante para todos os envolvidos e, quem está física e emocionalmente ligado a uma pessoa muito ansiosa, com certeza terá muito de sua atenção e energia desviadas para as demandas criadas por antecipação.

Mudanças de planos, evitações em diversas situações, planejamentos exagerados, necessidades emocionais que variam conforme se intensifica a ansiedade. Sendo que, se a ansiedade sair do controle, a administração da convivência pode se tornar complexa.

Para lidar com isso de maneira mais consciente, redigi 13 coisas para você se lembrar na convivência com alguém que você ama, mas que é muito ansioso.

1. Eles são mais do que apenas a sua ansiedade

Ninguém gosta de ser definido por um único atributo de si mesmo. Se você realmente quiser ser solidário com alguém com ansiedade, lembre-o de que você aprecia o indivíduo por trás da ansiedade. Reconheça que ele é mais do que apenas a sua ansiedade.

2. Eles podem se cansar facilmente

A ansiedade é desgastante. Parece que, de maneira geral, as únicas pessoas que entendem realmente o quanto a ansiedade pode ser cansativa são pessoas que também sofrem de ansiedade. A ansiedade faz com que as pessoas vivam em estado de alerta, estejam sempre tensas. O corpo está sempre preparado para reações rápidas, como se algo fosse acontecer e esse estado de constante alerta causa fadiga. (Sabe quando brincamos e dizemos que parece que um trem nos atropelou?)

Pense em uma semana em que você esteve realmente sobrecarregado e estressado. Naqueles dias em que você já acorda pensando quando terá uma pausa. Pois é, assim são os dias das pessoas muito ansiosas.

3. Eles podem ficar facilmente sobrecarregados

Seguindo na linha de raciocínio do tópico anterior,  a pessoa que permanece em estado de alerta constante pode se sentir totalmente devastados por causa disso. Eles estão atentos a tudo o que está acontecendo ao seu redor. Cada ruído, cada ação, cada cheiro, cada luz, cada pessoa, cada objeto. Para alguém que vive num estado de hiper-alerta, uma situação que não parece grave (por exemplo, várias pessoas falando em um mesmo quarto) pode fazer sua cabeça a girar.

Quando você pensar em incentivar alguém com ansiedade para ir a algum lugar, basta ter em mente que os estímulos que você gosta podem facilmente ser esmagadores para eles. Certifique-se de que eles sabem que podem sair e que são capazes de fazê-lo a qualquer momento.

4. Eles são bem conscientes de que sua ansiedade é muitas vezes irracional

Estar consciente da irracionalidade dos próprios pensamentos não impede que eles aconteçam.

Uma das piores coisas sobre a ansiedade é o quão consciente sua própria irracionalidade pode ser. Lembrar que os pensamentos são irracionais não ajuda – quem sofre com a ansiedade já sabe disso. O que qualquer pessoa doente precisa  é de compaixão, compreensão e apoio – muito raramente eles precisam de conselhos sobre o quão irracional e sem sentido é sua ansiedade.

5. Eles podem falar sobre como se sentem (basta que você ouça)

Sofrer com sintomas patológicos da ansiedade não impede a pessoa de se expressar ou comunicar. (A menos que eles estejam em uma crise de pânico.)

6. Eles não precisam de alguém constantemente perguntando “Você está bem?”, principalmente se for um caso em que a pessoa apresente sintomas de pânico

Pense comigo, quando você vê alguém em pânico e você sabe que essa pessoa sofre com ansiedade, você realmente precisa perguntar: “você está bem?”

Você já sabe a resposta. Seu coração está batendo um milhão de milhas por hora, suas mãos estão suando, sentem aperto no peito, seus membros estão vibrando de toda a adrenalina e sua mente acaba afundado “luta ou fuga” resposta do sistema límbico (área responsável pelas emoções no cérebro). Honestamente? Parte deles provavelmente acha que eles está morrendo. Então, ao invés de perguntar “Você está bem?” Tente algo um pouco mais útil e construtivo. Bons exemplos seriam:

“Lembre-se de sua respiração”
“Lembre-se <inserir qualquer técnica que já ajudou antes antes>”
“Você gostaria de que eu o ajudasse a ir a algum lugar mais silencioso / seguro / mais calmo?”
“Eu estou aqui se precisar de mim.”
“Você está entrando em pânico, isso não vai durar. Você já passou por isso antes e acabou. Logo vai acabar de novo.”
E, se eles pedirem para que você os deixe sozinhos, deixe-os. Eles são experientes em lidar com sua ansiedade; deixá-los passar por isso sozinhos pode ser uma opção pessoal.

7. Eles apreciam que você se mantenha próximo,

Quem sofre com sintomas ansiosos sabe o quanto a convivência com sua própria pessoa pode ser difícil e, quando bem vindo, seu apoio não passará desapercebido.

8. Eles podem achar que é difícil “deixar para lá”

Em um ansioso, mais do que em pessoas com uma ansiedade bem regulada, o cérebro normalmente se esforça para fazer ligações entre uma lembrança traumática e a situação atual  e é isso que os deixa hiper-alertas.

Quando o cérebro fica preso neste ciclo em uma ansiedade prolongada, deixando de lado praticamente qualquer coisa pode ser uma tarefa difícil. Pessoas com ansiedade nem sempre conseguem  “deixar para lá”, seu cérebro não vai deixá-las, por isso, a luta é sempre tão grande para mudar de foco.

9. Eles podem encontrar muita dificuldade para conseguir mudanças (mesmo que esperem por elas)

Todo mundo tem uma zona de conforto, ansiosos ou não. Sair de sua zona de conforto pode ser difícil para qualquer um, por isso, para as pessoas com ansiedade isso pode ser ainda mais desafiador.

Apenas lembre-se de ter um pouco mais de paciência e compreensão para aqueles com ansiedade. Eles estão tentando, eles realmente são.

10. Eles não estão (sempre) te ignorando intencionalmente

Parte de gerenciamento de ansiedade está no controle do monólogo interior que vem com ela. Às vezes, isso pode ser um ato que demanda muita atenção. As coisas mais banais podem desencadear padrões de pensamentos obscuros para aqueles que lidam com a ansiedade. Se de repente eles se desligam da conversa, há uma boa chance de que estejam pensando sobre algo que acabou de ser dito ou mesmo que eles eles estejam tentando acalmar seus pensamentos. Ambos demandam imensa concentração.

Eles não estão ignorando você intencionalmente. Eles estão apenas tentando não ter um colapso mental na sua frente. Você não precisa perguntar “você está bem?” E você, especialmente, não precisa perguntar  sobre o que você acabou de dizer. Se é importante, tente gentilmente trazê-lo de volta ao assunto quando ele estiver mais atento.

Sua mente pode ser uma zona de guerra, às vezes. Eles vão cair fora das conversas inesperadamente e eles vão se sentir mal para fazê-lo se perceberem. Tranquilize-os de que você compreende e garanta que eles já entendeu a essência do que foi discutido, especialmente se o assunto envolver lidar com alguma responsabilidade ou compromisso.

11. Eles não estão sempre presentes

Como mencionado no ponto anterior, eles não são sempre presente em uma conversa, mas não são só conversas que podem desencadear essa reação. Eventos diários podem fazer com que a pessoa se perca em contemplação em algum ponto ou outro, mas para aqueles com ansiedade quase tudo pode servir como um gatilho contemplativo. Eles vão recuar para as profundezas de sua mente com bastante regularidade e provavelmente você vai notar a expressão vaga em seu rosto.

Gentilmente incentive-os a voltar à realidade regularmente. Lembre-os sobre onde eles estão e sobre o que estão fazendo (não literalmente, eles estão ansiosos – eles não têm perda de memória de curto prazo).

12. Eles nem sempre veem a ansiedade como uma limitação (nem devem!)

Não há problema em ser uma pessoa ansiosa. A ansiedade é uma característica humana relacionada a nosso direcionamento de atenção, energia e segurança.

Lembre-se que parte de sua personalidade é a ansiedade.

13. Eles são incríveis!

Assim como todas as pessoas na Terra, eles são incríveis! (É por isso que você os ama, certo?) É muito fácil ficar focado na desgraça e tristeza de qualquer problema, especialmente os que envolvem a saúde mental, mas parte da superação é lembrar da grandiosidade que veio antes e virá após a remissão do excesso dos sintomas.

Mantenha isso em mente e toda a sua experiência pode ser muito mais fácil – em seguida, novamente, não pode ser qualquer um. Nós somos seres humanos únicos. O que funciona para um pode não funcionar para outro, mas há uma coisa que sempre funciona: compaixão amorosa. Se você não aproveitar nada do presente artigo, apenas lembre-se do que sente pela pessoa querida que sofre e tenha compaixão.

Por Jake MacSpirit

Do original: 13 Things to Remember If You Love A Person With Anxiety

Traduzido e adaptado por Josie Conti exclusivamente para o CONTI outra.

“A vida não faz o menor sentido”, diz haitiano que vivenciou terremoto

“A vida não faz o menor sentido”, diz haitiano que vivenciou terremoto

Por Gabriela Gasparin

Quando encontrei o haitiano Jean Fritznel Pétcion, de 40 anos, na calçada da Avenida Paulista, ele havia se mudado para São Paulo há dois anos para estudar e trabalhar, após seu país ser devastado pelo terremoto em 2010 que deixou mais de 200 mil mortos. O motivo era óbvio: ele me disse que as condições no Haiti seguiam muito difíceis, mesmo após a ajuda financeira de vários países.

Eu o abordei sem saber de sua história, ao sair para comprar um livro. Jean também tinha ido à livraria e saía do local quando resolvi abordá-lo aleatoriamente para perguntar o sentido da vida, como costumo fazer às vezes.

Quando Jean me disse que era haitiano, eu logo lembrei do terremoto que destruiu aquele país. Ele contou que, por sorte, não perdeu nenhum familiar ou amigo na tragédia. Recordou que trabalhava em seu cibercafé na hora do incidente e saiu correndo. Sua esposa estava na escola que dava aulas, mas também não foi ferida. Ele revelou, contudo, que o cibercafé ficou completamente destruído.

contioutra.com - “A vida não faz o menor sentido”, diz haitiano que vivenciou terremoto
“Por que todo mundo vem ao mundo e depois de um tempo todo mundo vai embora?”

“A vida está muito difícil lá, mas não falta dinheiro. Depois do terremoto, o país recebeu bastante dinheiro da mão de muitos países como o Canadá, Estados Unidos, da França, do Brasil também. Só que o Haiti tem um problema de governo, as pessoas só querem saber de entrar dinheiro, tem gente que ganha muito dinheiro no Haiti e tem gente que ganha muito pouco”, explicou.

Sua esposa e sua filha de 10 anos ainda vivem lá. Os planos dele é trazê-las para o Brasil, mas não pretende viver para sempre em solo brasileiro. “Estou num programa de residência para entrar no Canadá com minha família. O Brasil é bom, mas o Canadá é melhor que o Brasil.” Na opinião dele, apesar de o Brasil estar entre as maiores economias do mundo, as condições de vida e de trabalho são melhores no Canadá. Jean me disse que sente muita falta da esposa e da filha e não vê a hora de viver com elas novamente.

Em São Paulo, ele estuda Tecnologia em Redes e dá aulas de inglês e francês. “O governo do Brasil me deu visto permanente para eu vir aqui. Quando eu cheguei, o governo me deu uma bolsa para fazer Tecnologia em Redes, eu fiz Ciências da Computação no Haiti por quatro anos.”

‘A vida não tem sentido’

Quando perguntei a ele o sentido da vida, recebi uma resposta rara: ele disse que pensa muito sobre isso e até agora não chegou a conclusão alguma:

“Muitas vezes eu me pego pensando, ‘por que estou aqui no mundo?’ Eu nasci, depois de um tempo eu vou morrer, então a vida para mim não tem sentido. Eu é que pergunto a você, por que eu vim no mundo? É muito complicado!”

E continuou: “para mim, a vida não tem sentido. Por que todo mundo vem ao mundo e depois de um tempo todo mundo vai embora?”, afirmou. “Estou aqui e depois de 20 anos, 25, 30, 40 anos, eu posso não existir mais.”

Por conta desses pensamentos, disse que tem buscado melhorar suas condições de vida. “Tem gente que não pensa nisso. Estou pensando para melhorar a minha vida, com Jesus Cristo, com as pessoas, porque estou aqui hoje e depois de 40 anos eu não tenho certeza se vou estar.”

Vidaria é um projeto parceiro Conti outra.

Leia mais histórias como essa em Qual o sentido da vida?

Uma visão espiritual da não maternidade

Uma visão espiritual da não maternidade

Por Adriana Abraham

Há algumas semanas, estávamos eu e uma colega de trabalho conversando sobre a minha experiência da não maternidade e eis que surge uma frase que, mesmo sem intenção, manifestou em mim a vontade de escrever o presente depoimento.

– Não é a mesma coisa. Amor de mãe é diferente.

A frase acima foi dita em resposta a minha afirmação de que a maternidade poderia ser exercida em favor dos sobrinhos, dos filhos de amigos, namorados, maridos e até mesmo em favor dos filhos de completos desconhecidos.

Ora, se não é a mesma coisa então o que é? Seria um sentimento inferior, produzido a partir da frustração de não estar cumprindo o papel que a natureza determinou a nós mulheres? Os nossos sentimentos seriam diferentes dos sentimentos das outras mulheres?

Se fossemos uma classe distinta de mulheres, como no sistema de castas da Índia, seríamos as “Párias”. Segmento que se encontra fora do sistema de castas. Essas seriam as mulheres que, em algum momento de suas vidas, contrairiam ou não matrimônio, união estável ou qualquer outro tipo de relacionamento íntimo, não tendo gerado filhos dessas relações. Assim, as párias se dedicariam aos filhos dos outros, nutrindo até sentimentos profundos, em busca de um substituto para a sua não maternidade.

Em nossa sociedade a mulher se sente pressionada a justificar a ausência de uma prole, especialmente se já tem uma idade avançada. A expressão de surpresa no rosto das pessoas quando afirmo que não tive filhos me intriga. Avançamos em tantos aspectos, mas ainda hoje discriminamos nossas colegas, amigas, parentes, como se fosse ilegal não ter tido filhos.

Existem tantas circunstâncias que podem levar uma mulher a não ter filhos, como por exemplo: opção pela não maternidade, questões financeiras, emocionais ou até físicas.

Poderíamos então, retomando a reflexão quanto ao amor de mãe, partir da seguinte premissa: Estar biologicamente programada para a maternidade não garante amar incondicionalmente seu (s) filho(s).

Isso me levou a pensar em todas as escolhas que realizei durante meus quarenta e cinco anos que de alguma forma me conduziram a não maternidade. Mesmo que em algumas ocasiões não intencionalmente.

Eu sempre tive uma curiosidade enorme por conhecer outras culturas, viajar, morar em outros países, ser livre para mudar meu destino a qualquer momento, sem maiores consequências. Lembro claramente de optar pela não maternidade aos vinte e poucos anos por não querer interromper um fluxo criativo que me impelia a me movimentar em direção ao desconhecido.

Por volta dos trinta e poucos anos, apesar de ainda sentir esse chamado para o desconhecido, busquei relacionamentos que me possibilitariam exercer a maternidade da forma tradicional. Era fácil abrir mão da maternidade aos vinte e poucos quando a estrada da vida estava só começando. Só que nessa época senti uma inesperada urgência que muitas vezes me levou a estabelecer relacionamentos inadequados para mim, porém perfeitos para o projeto maternidade.

Aos quarenta e poucos anos, em face da aproximação do limite biológico do meu corpo, cheguei a considerar uma produção independente ou mesmo uma adoção como muitas mulheres fazem. Porém, eu sabia que essa não era exatamente a minha vontade. Queria fazer esse projeto junto com alguém especial. Um companheiro com o qual compartilharia as alegrias e também os desafios de trazer um filho ao mundo.

Então, algo inesperado aconteceu. Na verdade não tão inesperado, pois esse processo já tinha se iniciado alguns anos antes, fruto de uma profunda reflexão originada da frustração em não ter conseguido realizar a maternidade da forma como eu concebia ideal.

Estou falando de uma mudança de visão acerca da maternidade. Uma visão que acredito ser espiritual. O exercício da maternidade pode ser muito mais amplo do que a maioria das mulheres percebem. O amor incondicional de uma mãe por seu filho pode ser perfeitamente experimentado por uma mulher que não tenha gerado a criança no seu sentido biológico. Pensem nas mulheres que adotam seus filhos. O amor que uma mãe adotiva sente por seu filho seria diverso do que sente uma mãe biológica?

Pensemos na representação do amor maternal nos relatos bíblicos. Não seria Maria a mãe de todos? Ou só de Jesus? Porque não podemos amar como as demais mães, mesmo que por um breve momento. Um olhar doce para uma criança abandonada na rua, apenas uma palavra carinhosa trocada com o filho de um amigo, um abraço forte nas sobrinhas e puff! Eis que surge o amor incondicional desvinculado da ligação exclusivamente maternal.

Se eu desisti de ser mãe? Não. Apenas descobri, após sofrer muito, que já venho exercendo a maternidade de uma forma mais ampla. Não espero mais ter um filho para, a partir daí, descobrir o que é o amor de mãe.

Quem acredita ser esse sentimento apenas o destinado aos seus filhos, ainda não experimentou o amor maternal. Que é incondicional. Não se trata apenas de compaixão pelo próximo. É AMOR no seu sentido pleno.

Amor de mãe é realmente diferente, agora eu sei.

Amar- Marília Pêra recitando Carlos Drummond de Andrade

Amar- Marília Pêra recitando Carlos Drummond de Andrade

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade

Marília Pêra em uma produção do Instituto Moreira Salles_ IMS

Necrológio dos desiludidos do amor- Fernanda Torres recita Drummond

Necrológio dos desiludidos do amor- Fernanda Torres recita Drummond

Necrológio dos Desiludidos do Amor
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia…

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.

Carlos Drummond de Andrade, in ‘Brejo das Almas’

*Participação da atriz Fernanda Torres no vídeo do Instituto Moreira Salles em homenagem ao Carlos Drummond de Andrade.

As palavras não ditas e seu efeito nos relacionamentos afetivos

As palavras não ditas e seu efeito nos relacionamentos afetivos

Por Adriana Abraham

As palavras não ditas nos acompanham indefinidamente, como uma melodia desarmônica, causando sofrimento a todos os que se aproximam de nós.

O “diálogo” inacabado com alguém que já não faz mais parte do nosso convívio dificulta que sejam estabelecidas relações saudáveis com os demais. Como ouvir quem está diante de nós se constantemente estamos ocupados conversando com outra pessoa que não está presente fisicamente, mas permanece em nossos pensamentos de forma obsessiva?

Quando não temos a oportunidade de expressar a nossa verdade no momento desejado, seja por qualquer motivo, nos tornamos reféns de um diálogo inacabado. Tal fato ocorre com frequência nos relacionamentos afetivos. Saímos de uma discussão ou até mesmo de uma simples conversa com o parceiro e já engatamos num monólogo que nos acompanhará, em algumas infelizes circunstâncias, por toda a vida. Algumas vezes não dá nem tempo de chegar ao elevador. Muitas vezes a discussão ou conversa nem foi devidamente processada.

Em tempo de comunicações instantâneas perdemos a habilidade de nos comunicar com clareza. Preferimos, então, guardar as “palavras ditas” para quando não estivermos na presença do parceiro. Em algumas circunstâncias por acreditar que não seremos ouvidos, respeitados ou até mesmo acolhidos em nossas colocações.

Caminhamos para uma sociedade na qual os casais se expressarão claramente sobre suas necessidades mais íntimas somente quando estão sozinhos, com os amigos ou com o terapeuta.

Aqueles que ousarem desafiar essa regra serão chamados, no mínimo, de carentes. Ter liberdade suficiente para se expressar dentro de um relacionamento, não pode ser confundida com dependência emocional. Isso não significa dizer tudo o que pensa ou até mesmo omitir a verdade com a intenção de manipular ou ferir o parceiro. Isso é crueldade na sua forma mais bruta.

É fato que desde o nascimento buscamos formas hábeis de nos comunicarmos com quem nos cerca. Descobrimos o choro como forma primária de obter o que desejamos. Nesse sentido, negligenciar nossa necessidade básica de comunicação em nome da manutenção de um relacionamento íntimo, mesmo que esse nos cause sofrimento intenso, nada acrescenta ao futuro da relação, tampouco ao crescimento individual de cada parceiro.

O medo de se expor perante o parceiro, de confiar sua fragilidade ao outro, entra na equação como um componente vertiginoso. Ninguém quer sair de um relacionamento “por baixo”.

Preferimos engolir o que é impossível de digerir e depois sofrer os efeitos físicos, psíquicos e principalmente espirituais dessa decisão.

Se a verdade nos libertará, nas palavras do mestre Jesus, o que temos a temer? Uma relação construída sobre bases reais não esmorece diante do primeiro conflito.

Lya Luft, em seu livro “O silêncio dos amantes”, descreve um casal no qual “(…) as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos”. Então, se as palavras que deveríamos ter dito, no momento em que deveríamos ter dito, não forem devidamente expressas, elas apodrecerão lentamente dentro de nós.

Assim, que tenhamos coragem de expressar nossa verdade, de forma digna e no momento adequado, de tal sorte que as palavras ditas simplesmente transcendam, ou seja, que não pertençam mais ao parceiro que as proferiu e sim ao relacionamento de ambos. Que essas palavras posam ajudar a tornar a relação mais consistente, transparente e real. Que não sirvam para outro fim além de transformar a escuridão em luz.

Mantra:

“Que as minhas palavras sejam ouvidas, respeitadas e acolhidas”.

Publicado originalmente em http://www.nowmaste.com.br/

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Carta de uma esposa (Sheryl Sandberg) após 30 dias do falecimento de seu marido

Carta de uma esposa (Sheryl Sandberg) após 30 dias do falecimento de seu marido

Nota da edição: Imagem de Sheryl Sandberg e seu marido Dave Goldberg, e carta traduzida e republicada com permissão de Sheryl Sandberg.

Sheryl Sandberg, Vice-presidente de operações do Facebook, postou em sua página, no dia 3 de junho de 2015, uma carta e tributo emocionado ao falecido marido Dave Goldberg, presidente executivo do site SurveyMonkey. Dave faleceu no dia 2 de maio de 2015 enquanto em férias com a família no México. Ele se acidentou na academia onde se exercitava e sofreu traumatismo craniano, que resultou em óbito imediato. Abaixo, a tradução do que Sheryl postou em sua página após 30 dias da perda do esposo:

“Hoje é o fim do ‘Sheloshim’, os primeiros trinta dias de luto, por meu amado marido. O judaísmo denomina de ‘Shiva’ um período de intenso luto, que dura sete dias após o enterro de alguém querido. Depois do Shiva, a rotina pode voltar ao normal, mas é o fim do Sheloshim que marca a realização completa do luto por um cônjuge.

Um amigo de infância, que agora é um rabino, recentemente me disse que a oração mais poderosa que ele já leu foi: “não me deixe morrer enquanto ainda estiver vivo”. Eu nunca teria entendido essa oração antes de perder Dave. Agora eu entendo.

Penso que, quando uma tragédia acontece, ela nos apresenta uma escolha. Você pode se render ao vazio que enche seu coração, seus pulmões, tira sua capacidade de pensar ou até mesmo de respirar. Ou você pode tentar encontrar o sentido de tudo isso. Nesses últimos trinta dias, eu fiquei perdida no vazio por muitos momentos. E eu sei que muitos momentos futuros serão consumidos do mesmo jeito por esse mesmo vazio.

Mas, quando eu posso, eu quero escolher a vida e o significado.

E é por isso que eu estou escrevendo: para marcar o fim do Sheloshim e dar de volta um pouco do que os outros têm me dado. Enquanto a experiência de doar é profundamente pessoal, a braveza daqueles que compartilharam suas próprias experiências tem me ajudado a me recolocar nos eixos. Alguns dos que abriram seus corações foram os meus amigos mais próximos. Outros foram totais desconhecidos que compartilharam sabedoria e conselhos publicamente. Então, eu estou compartilhando o que eu aprendi, na esperança de que isso ajude outro alguém. Na esperança de que exista algum sentido para esta tragédia.

Eu envelheci trinta anos nestes trinta dias. Eu estou trinta anos mais triste. Eu me sinto como se fosse trinta anos mais sábia.

Eu ganhei um entendimento bem mais profundo de o que é ser uma mãe, com a agonia que eu senti quando meus filhos gritaram e choraram, e com a conexão que minha mãe teve ao sentir meu sofrimento. Ela tem tentado preencher o vazio na minha cama, me abraçando firme toda noite enquanto eu choro até dormir.

Ela tem lutado para segurar suas próprias lágrimas em lugar das minhas. Ela tem me explicado que a angústia que eu estou sentindo é ao mesmo tempo minha e dos meus filhos, e eu entendi que ela estava certa quando eu vi a dor nos olhos dela.

Eu aprendi que eu nunca vou realmente saber o que dizer para outros que precisam de conforto. Eu acho que eu entendi tudo errado antes; eu tentei afirmar a todo mundo que eu estava bem, pensando que a esperança era a coisa mais confortável que eu poderia oferecer. Um amigo meu com câncer avançado me disse que a pior coisa que as pessoas podem dizer a ele é: “tudo vai ficar bem”. Aquela voz na cabeça dele ficava gritando: “como você sabe que tudo vai ficar bem? Você não entende que posso morrer?”. Eu aprendi nesse último mês que ele estava tentando me aconselhar. A real empatia é, às vezes, não insistir que tudo vai ficar bem, mas saber que provavelmente não vai.

Quando as pessoas dizem para mim “você e seus filhos irão encontrar a felicidade de novo”, meu coração me diz: “sim, eu acredito nisso, mas eu sei que eu nunca mais vou sentir o prazer puro novamente”. Aqueles que têm dito “você irá encontrar um ‘novo normal’, mas nunca será tão bom quanto antes” me confortam mais porque eu sei que eles estão falando a verdade.

Até um simples “como você está?” – na maioria das vezes, perguntado na melhor das intenções – seria melhor substituído por um “como você está hoje?”. Quando me perguntam “como você está?”, eu me esforço e me impeço de gritar: “meu marido morreu há um mês, como você acha que eu estou?”. Quando eu escuto “como você está hoje?”, eu percebo que essa pessoa sabe que o máximo que consigo fazer agora é viver cada dia.

Eu tenho aprendido sobre algumas coisas práticas que importam. Sabemos agora que o Dave morreu imediatamente, mas eu não sabia disso na ambulância. A ida até o hospital foi completamente lenta. Eu ainda odeio cada carro que não deu passagem, cada pessoa que se importava mais em chegar ao seu destino alguns minutos antes do que dar passagem para nós passarmos. Eu notei isso enquanto eu dirigia em diversas cidades e diversos países. Vamos todos sair do caminho! O pai, parceiro ou filho de alguém talvez dependa disso.

Eu tenho aprendido o quão efêmera cada coisa pode ser sentida, e talvez isso seja tudo. Que qualquer que seja o “tapete” em que você esteja, ele pode ser puxado de você sem nenhum aviso. Nos últimos trinta dias eu ouvi de várias mulheres que perderam os maridos que vários tapetes foram puxados. Algumas suportaram e lutaram sozinhas com o sofrimento emocional e a insegurança financeira. Me parece tão errado que nós abandonemos essas mulheres e suas famílias quando elas mais precisam.

Eu tenho aprendido a pedir ajuda, e tenho percebido o quanto de ajuda eu preciso. Até agora, eu tenho sido a irmã mais velha, a diretora de operações, a doadora e a organizadora. Eu não planejei isso, e quando aconteceu, eu não era capaz de fazer a maioria das coisas. Os mais próximos a mim foram os que comandaram tudo. Eles planejaram. Eles arrumaram. Eles me disseram para sentar e me lembrar de comer. E ainda fizeram muito para apoiar a mim e aos meus filhos!

Eu tenho aprendido que a resiliência pode ser aprendida. Adam Grant me ensinou três coisas que são essenciais para a resiliência e que eu posso aprender todas elas. Personalização: admitir que não é minha culpa. Ele me disse para banir a palavra “desculpa”. Para dizer a mim mesma várias e várias vezes que não é minha culpa. Permanência: lembrar que eu não vou me sentir assim para sempre. Que vai ficar melhor. Infiltração: isso não vai afetar cada parte de mim. É a habilidade de permanecer saudável.

Para mim, começar essa transição de voltar ao trabalho tem sido salvadora, a chance de me sentir útil e conectada. Mas eu descobri que mesmo essas conexões mudaram. Muitos dos meus colegas de trabalho têm um olhar de medo quando se aproximam de mim. Eu descobri que eles queriam me ajudar mas não tinham certeza de como fazer isso. “Devo mencionar isso? Não devo falar disso? Se eu falar, o que diabos vou dizer?”. Eu percebi que, para restabelecer a proximidade com meus colegas que sempre foram importantes para mim, eu precisava deixar eles entrarem. E isso significava ser o mais aberta e vulnerável que eu podia.

Eu disse para aqueles com quem trabalho mais que eles poderiam me fazer perguntas honestas, e eu iria responder. Também disse que tudo bem se eles quisessem falar de como eles se sentiam. Uma colega admitiu que estava dirigindo até minha casa frequentemente, em dúvida se entrava ou não. Outro disse que ficava paralisado quando eu estava por perto, preocupado que talvez dissesse a coisa errada. Falando abertamente do medo de dizer e fazer alguma coisa errada. Um dos meus desenhos favoritos de todos os tempos é um elefante na sala do telefone, escrito “isso é o elefante”. Uma vez que enfrentei o elefante, nós pudemos tirar ele da sala. (Nota da edição: a expressão em inglês “elefante na sala” significa quando uma verdade é tão óbvia que não dá para ser ignorada).

Ao mesmo tempo, há momentos em que eu não consigo deixar as pessoas entrarem. Eu fui a uma noite na escola quando as crianças mostram aos pais os desenhos nas paredes das salas de aula. Muitos dos pais, os quais também têm sido muito gentis, tentaram fazer contato ou falar algo que eles pensavam ser confortável. Eu olhava para baixo o tempo todo, para que nenhum deles me olhasse nos olhos, com medo que isso me deixasse pior. Eu espero que eles tenham entendido.

 

Eu tenho aprendido sobre gratidão. A verdadeira gratidão pelas coisas que eu tomava como garantidas antes, como a vida. Como alguém de coração partido, eu olhava para meus filhos todos os dias e agradecia por eles estarem vivos. Eu aprecio cada sorriso, cada abraço. Eu não vejo mais cada dia como garantido. Quando um amigo me disse que ele odiava aniversários e, por isso, não os celebrava, eu olhei para ele em meio a lágrimas: “Celebre seu aniversário, caramba! Você tem sorte de ter cada um deles”. Meu próximo aniversário vai ser muito deprimente, mas estou determinada a celebrá-lo no meu coração mais do que eu jamais celebrei um aniversário antes.

Eu sou realmente agradecida aos muitos que ofereceram sua simpatia. Um colega me disse que sua esposa, quem eu nunca conheci, decidiu mostrar seu apoio indo de volta à escola para obter seu diploma, coisa que ela estava enrolando por anos para fazer. Sim! Quando as circunstâncias permitem, eu acredito, mais do que nunca, em aprender. E muitos homens, alguns que eu conheço e outros que eu sei que nunca irei conhecer, estão honrando a vida de Dave passando mais tempo com suas famílias.

Eu não consigo expressar a gratidão que eu senti à minha família e aos meus amigos que têm feito tanto para me ajudar, e continuam fazendo. Nos momentos brutais quando eu sou preenchida pelo vazio, quando os meses e anos me parecem vazios e intermináveis, só as faces deles me colocam de volta nos eixos. Minha gratidão por eles não tem fim.

Eu estava falando para um desses amigos sobre as atividades de pais e filhos que Dave não está aqui para fazer. Nós pensamos num plano para colocar ele nisso. Eu chorei para ele e disse “mas eu quero o Dave, eu quero a primeira opção”. Ele colocou o braço envolta de mim e disse “a primeira opção não está disponível, então fique satisfeita com a opção B”.

Dave, para honrar sua memória e colocar pra cima seus filhos como eles merecem, eu prometo fazer tudo que eu posso para me satisfazer com a opção B. E mesmo que o ‘Sheloshim’ tenha acabado, eu ainda estarei em luto pela opção A. Como Bono cantou “there is no end to grief… And there is no end to love” (Não há fim para o luto… e não há fim para o amor).

Eu te amo, Dave.”

Fonte indicada Família

contioutra.com - Carta de uma esposa (Sheryl Sandberg) após 30 dias do falecimento de seu marido

Pessoas que ficam vermelhas facilmente são mais generosas e inspiram mais confiança

Pessoas que ficam vermelhas facilmente são mais generosas e inspiram mais confiança

Se você é do tipo que fica vermelho e sem graça por qualquer coisa, provavelmente não vê isso como uma virtude e às vezes até sente que todo mundo te acha meio bobo (experiência própria aqui), não é? Se for assim, temos duas boas notícias. A primeira é: não só as pessoas não te acham bobo, como ainda te acham mais confiável. E a segunda: na verdade, não se trata de apenas parecer mais virtuoso – um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology (publicação Associação Americana de Psicologia) mostrou que pessoas assim são mais generosas e realmente merecem a confiança dos outros.

“Níveis moderados de constrangimento são sinais de virtude“, disse Matthew Feinberg, um estudante de doutorado em psicologia na Universidade da Califórnia em Berkeley e principal autor do estudo. “Nossos dados sugerem que isso é uma coisa boa, e não algo contra o qual você deve lutar.” Segundo ele, o constrangimento moderado que surge sem ter motivo é uma assinatura emocional das pessoas em quem se pode confiar.

Segundo Feinberg, isso é positivo tanto nos negócios, já que essas pessoas também inspiram maior cooperação dos outros, quanto na vida amorosa: indivíduos que se constrangiam mais facilmente relataram níveis mais elevados de monogamia.

Só não podemos confundir isso com a vergonha exagerada que caracteriza a fobia social, nem com a vergonha decorrente de um erro moral que tenhamos cometido. Essas emoções têm uma natureza diferente. O constragimento que estava sendo estudado vem naturalmente e está associado a pessoas com a consciência limpa que, mesmo sem motivo, ficam sem graça com certas coisas. Os gestos demonstrados são diferentes também: segundo os pesquisadores, enquanto o gesto mais típico de embaraço é olhar para baixo, virado para um lado e cobrindo parcialmente o rosto enquanto sorri ou faz careta, uma pessoa que sente vergonha por algo ruim que tenha cometido normalmente cobre todo o rosto.

Os experimentos

Os resultados da pesquisa foram coletados a partir de uma série de experimentos que usaram depoimentos em vídeo, jogos de confiança econômica e pesquisas para avaliar a relação entre vergonha e sociabilidade. No primeiro experimento, 60 estudantes universitários foram filmados contando momentos embaraçosos, como flatulência em público ou julgamentos incorretos sobre algumas pessoas. As fontes mais típicas de vergonha incluíam achar que uma mulher com excesso de peso estivesse grávida (quem nunca, né?) ou confundir uma pessoa toda desgrenhada com um mendigo. Cada depoimento em vídeo foi classificado com base no nível de constrangimento mostrado.

Os voluntários também participaram do “Jogo do Ditador”, normalmente usado em pesquisas para medir o nível de altruísmo das pessoas. Nesse caso, cada um recebeu 10 bilhetes de rifa e foi-lhes dito que mantivessem uma parte deles para si e dessem o restante a um parceiro. Os resultados mostraram que aqueles que apresentaram maiores níveis de constrangimento deram mais bilhetes para os outros, o que indica mais generosidade.

Pessoas excessivamente confiantes são menos confiáveis?

Em outro experimento, os participantes assistiram a uma cena em que era dito a um ator que ele havia recebido uma pontuação perfeita em um teste. Ele então fazia um gesto deconstrangimento ou orgulho e os voluntários passaram por testes, depois, para mediar o seu nível de confiança no ator com base nessa reação. O resultado? Ter mostrado sinais de constrangimento inspirou mais reações positivas dos espectadores. O estudo descobriu que as pessoas têm mais vontade de se aproximar e se sentem mais confortáveis em confiar em quem fica constrangido facilmente.

Segundo os pesquisadores, a questão que fica e pode ser estudada no futuro é: será que, por outro lado, pessoas excessivamente confiantes inspiram menos confiança? O que você acha?

Por Ana Carolina Prado, via Superinteressante

A morte é um dia que vale a pena viver

A morte é um dia que vale a pena viver

Uma palestra de 18 minutos que já foi vista quase meio milhão de pessoas na qual a médica Ana Cláudia Quintana Arantes afirma que “Medicina é simples, difícil é psicologia”.

Ela fala da dor, da terminalidade e da morte, dando a dimensão vivida por aquele que está sob cuidado paliativo, vivendo os seus últimos dias.

Uma apologia à Vida diante da presença da Morte.

Empreendedorismo: a teologia da contemporaneidade, por Leandro Karnal

Empreendedorismo: a teologia da contemporaneidade, por Leandro Karnal

“O sucesso como responsabilidade e o fracasso como culpa”, eis a teologia do Empreendedorismo. Esta, ao lado da Teologia da Autoajuda e a Teologia da Prosperidade, dita a visão de céu e inferno nos dias de hoje. É o que afirma Leandro Karnal na palestra abaixo.

Inteligente, eloquente e de uma lucidez invejável, ouvir Leandro Karnal é um grande privilégio.

Primavera, uma crônica de Cecília Meireles

Primavera, uma crônica de Cecília Meireles

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
contioutra.com - Primavera, uma crônica de Cecília Meireles

Drummond afirma que a crônica é um instrumento de registro histórico

Drummond afirma que a crônica é um instrumento de registro histórico

O poeta Carlos Drummond de Andrade, em entrevista concedida em 1994, afirma que a crônica auxilia o historiador a entender a realidade o momento histórico em que a história é contada.

Sempre bem humorado e com uma presença de espírito singular, a fala de Drummond, neste vídeo, mostra-nos um Brasil cujos costumes sofreram modificações e cujas problemáticas sociais foram pouco modificadas.

É sempre bom ver e ouvir o poeta.

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