Três magníficos poemas de Guimarães Rosa

Três magníficos poemas de Guimarães Rosa

Gargalhada
Quando me disseste que não mais me amavas,
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias…
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri
da inutilidade das torturas predestinadas,
guardadas para nós, desde a treva das épocas,
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo…

Revolta
Todos foram saindo, de mansinho,
tão calados,
que eu nem sei
se fiquei mesmo só.

Não trouxe mensagem
e nem deram senha…

Disseram-se que não iria perder nada,
porque não há mais céu.
E agora, que tenho medo,
e estou cansado,
mandam-me embora…

Mas não quero ir para mais longe,
desterrado,
porque a minha pátria é a minha memória.
Não, não quero ser desterrado,
que a minha pátria é a memória…

Elegia
Teu sorriso se abriu como uma anêmona
entre as covinhas do rosto infantil.
Estavas de pijama verde,
nas almofadas verdes,
os pezinhos nus, as pernas cruzadas,
pequenina,
como um ídolo de jade
que teve por modelo uma princesa anamita.
Tuas mãos sorriam,
teus olhos sorriam,
o liso dos teus cabelos pretos sorria,
e mesmo me sorriste,
e foi a única vez…

Não pude calçar, com beijos os teus pezinhos,
e não pudeste caminhar para mim…
Mas é bem assim que os meus sonhos se possuem.

Poemas de João Guimarães Rosa, do livro “Magma”
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A melhor versão de nós mesmos, crônica de Martha Medeiros

A melhor versão de nós mesmos, crônica de Martha Medeiros

Por Martha Medeiros

Alguns relacionamentos são produtivos e felizes. Outros são limitantes e inférteis. Infelizmente, há de ambos os tipos, e de outros que nem cabe aqui exemplificar. O cardápio é farto. Mas o que será que identifica um amor como saudável e outro como doentio? Em tese, todos os amores deveriam ser benéficos, simplesmente por serem amores.

Mas não são. E uma pista para descobrir em qual situação a gente se encontra é se perguntar que espécie de mulher e que espécie de homem a sua relação desperta em você. Qual a versão que prevalece?

A pessoa mais bacana do mundo também tem um lado perverso. E a pessoa mais arrogante pode ter dentro de si um meigo. Escolhemos uma versão oficial para consumo externo, mas os nossos eus secretos também existem e só estão esperando uma provocação para se apresentarem publicamente. A questão é perceber se a pessoa com quem você convive ajuda você a revelar o seu melhor ou o seu pior.

Você convive com uma mulher tão ciumenta que manipula para encarcerar você em casa, longe do contato com amigos e familiares, transformando você num bicho do mato? Ou você descobriu através da sua esposa que as pessoas não mordem e que uma boa rede de relacionamentos alavanca a vida?

Você convive com um homem que a tira do sério e faz você virar a barraqueira que nunca foi? Ou convive com alguém de bem com a vida, fazendo com que você relaxe e seja a melhor parceira para programas divertidos?

Seu marido é tão indecente nas transações financeiras que força você a ser conivente com falcatruas?

Sua esposa é tão grosseira com os outros que você acaba pagando micos pelo simples fato de estar ao lado dela?

Seu noivo é tão calado e misterioso que transforma você numa desconfiada neurótica, do tipo que não para de xeretar o celular e fazer perguntas indiscretas?

Sua namorada é tão exibida e espalhafatosa que faz você agir como um censor, logo você que sempre foi partidário do “cada um vive como quer”?

Que reações imprevistas seu amor desperta em você? Se somos pessoas do bem, queremos estar com alguém que não desvirtue isso, ao contrário, que possibilite que nossas qualidades fiquem ainda mais evidentes. Um amor deve servir de trampolim para nossos saltos ornamentais, não para provocar escorregões e vexames.

O amor danoso é aquele que, mesmo sendo verdadeiro, transforma você em alguém desprezível a seus próprios olhos. Se a relação em que você se encontra não faz você gostar de si mesmo, desperta sua mesquinhez, rabugice, desconfiança e demais perfis vexatórios, alguma coisa está errada. O amor que nos serve e nos faz evoluir é aquele que traz à tona a nossa melhor versão.

O verdadeiro sentido da vida é sempre nela encontrar um sentido.

O verdadeiro sentido da vida é sempre nela encontrar um sentido.

Por Josie Conti

Victor Frankl (1905-1997) foi um psiquiatra austríaco que, durante a 2ª Guerra Mundial, esteve prisioneiro em Auschwitz. No período em que lá permaneceu, sob condições desumanas, também perdeu alguns dos membros mais importantes de sua família, entre eles, pais e esposa.

Nós, que vivemos nos campos de concentração, podemos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas, ofereceram prova suficiente que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho. (Victor Frankl)

Frankl entendeu, e mais tarde consolidou suas teorias dando forma a “Logoterapia”, que as pessoas que conseguiam identificar ou mesmo criar um sentido que justificasse as suas vidas independente das condições em que vivessem, eram aquelas que tinham a maior probabilidade de sobreviver.

O próprio Frankl tinha três razões para viver: sua fé, sua vocação e a esperança de reencontrar a esposa. Sua história pode ser encontrada no livro “Em busca de sentido”.

Nelson Mandela, um dos maiores líderes mundiais da história, esteve preso durante 27 anos após ter sido condenado, em 1967, por sua luta contra o Apartheid. Em seus anos de cárcere, relatou ter tido como uma de suas grandes fontes inspiradoras, o poema “Invictus”, de Willian Ernest Henley.

INVICTO*
William Ernest Henley

Da noite escura que me cobre,
Como uma cova de lado a lado,
Agradeço a todos os deuses
A minha alma invencível.

Nas garras ardis das circunstâncias,
Não titubeei e sequer chorei.
Sob os golpes do infortúnio
Minha cabeça sangra, ainda erguida.

Além deste vale de ira e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos ameaçadores,
Encontram-me sempre destemido.

Não importa quão estreita a passagem,
Quantas punições ainda sofrerei,
Sou o senhor do meu destino,
E o condutor da minha alma.

* Tradução: Thereza Christina Rocque da Motta

A teoria lacaniana também tem suas bases no sentido da vida, mas, que Lacan chamou “desejo”. Segundo ele, o homem, como ser desejante que é, sempre encontrará forças para continuar impulsionado pelo o que ainda não tem, pelo o que almeja, pela próxima etapa a conquistar. Uma vez conquistado um objetivo, ele logo será substituído por outro e o anterior deixará de ser figura central em sua vida.

Nas artes, o homem também encontra voz para seus desejos, e lá constrói sentidos o tempo todo, inventa, transborda em significados.

Chimamanda Adichie, escritora nigeriana, destacou-se em todo o mundo ao escrever e realizar palestras, alertando-nos para que sempre estivéssemos atentos às versões das histórias que nos são passadas. Ela fala tanto da necessidade de uma leitura pessoal de mundo, como da criação de novas interpretações.

O moçambicano Mia Couto é grande referência na literatura e na sua abordagem de causas sociais que o caracterizam como figura de destaque no cenário mundial, tanto na descrição que faz da realidade do povo africano, quanto em sua capacidade de nos emprestar as lentes necessárias para novas leituras de mundo, novas leituras da África, novos sentidos de mundo.

Não há como falar de comportamento humano sem pensar na arte, sem abordar os aspectos criativos que nos permitem a sublimação, a criação de algo novo a partir de um lugar, onde muitas vezes só há pó. Entretanto, artista consagrado ou sonhador inveterado, parece claro que a energia do homem precisa ser canalizada para algo que lhe forneça um sonho, lhe empreste um significado, um caminho, uma releitura, um objetivo. Formar-se na faculdade, sair da casa dos pais, pagar o aluguel do mês ou criar um poema original, sobreviver até a próxima sexta-feita, tanto faz. Os objetivos podem ser simples ou grandiosos, ter curto ou longo prazo para a possível realização.

Na psicoterapia, por exemplo, uma pessoa encontra maneiras para superar traumas do passado quando entende que uma mesma história pode ser compreendida de novas formas. Descobre maneiras de melhor se adaptar ao mundo, quando opta por caminhos diferentes para situações que sempre repetiam.

Do mais fútil desejo à luta pela sobrevivência em tempos de guerra, há que se ter motivos para continuar. Seja nas telas de um quadro, na interpretação da história da humanidade ou nas páginas de um livro, seja no amor ou na revolta, na busca de uma cura,  na raiva ou até na vingança, o homem há que encontrar maneiras pessoais de seguir, de desejar e de dar sentido a si mesmo. Essa é a maior dádiva do homem. Essa é a maior sina do homem.

A história do rapaz que foi expulso de casa aos 19 anos por gostar de tatuagem

A história do rapaz que foi expulso de casa aos 19 anos por gostar de tatuagem

Por Gabriela Gasparin

“Meu pai me acordou e disse: você está incomodando os moradores desta casa. Então, eu acho que é melhor você arrumar outro lugar para ficar. Eram 6h da manhã. Eu estava com um baita sono… Mas falei ‘beleza’. Levantei, coloquei meia dúzia de coisas na mochila, documentos e artigos pessoais. Roupas, sapato, chinelo. Peguei e levei. Fui embora.”

O tatuador Alexandre Eidi Goto tinha 19 anos quando foi expulso de casa porque os pais dele, de origem japonesa e de cultura bastante rígida, não aprovavam tatuagens. Eu conheci a história dele por um acaso, na sala da minha casa, onde ele esteve com seus equipamentos e tintas para tatuar um amigo meu.

Não deu outra. Aproveitei a visita para entrevistá-lo sobre o sentido da vida. Na conversa, Alexandre me contou que ficou anos sem rever os pais desde que foi expulso de casa. Hoje, aos 23 anos, revelou que a única visita que fez a eles ocorreu recentemente.

O jovem fez questão de nunca mais rever os pais até que se estabilizasse como tatuador. Ele queria provar aos dois que a profissão é como todas as outras, e que não há nada de errado em gostar de tatuagens.

É que os pais dele sempre associaram tatuagem com drogas e crimes: um assunto bastante delicado na família. Alexandre explicou que, ao todo, ele tinha três irmãos – totalizando quatro filhos. Só que um deles já tinha sido expulso de casa no passado (antes de Alexandre) por envolvimento com drogas. Anos depois, os familiares souberam que esse irmão foi assassinado.

“Meu estigma foi esse, ser visto como o próximo da lista a se envolver com drogas”, relatou. “Não faço ideia porque eles fizeram isso. Talvez por receio de ver a história se repetindo.”

Noites na rua

Desde que foi expulso, Alexandre aprendeu de forma bastante dura a se virar sozinho na vida – e na cidade de São Paulo, onde morava na época. Chegou a dormir na rua, encostado em bancos de terminais de ônibus ou dentro de estações de metrô. Passou noites em casas de amigos ou no estúdio de tatuagem onde trabalhava como aprendiz.

“Eu fiquei pulando de galho em galho. Dormia na casa de um amigo aqui, na casa de outro amigo ali. Enfim, eu também comecei a trabalhar numa oficina de máquinas de tatoos [tatuagem] no centro da cidade, no Anhangabaú. Fui me virando como dava”, relatou.

Por um tempo, trabalhou só pelo almoço e moradia. Aí a situação foi melhorando e ele conseguiu pagar o aluguel numa pensão no centro de São Paulo. Ao final de 2014, conseguiu alugar um espaço para montar o próprio estúdio de tatuagem. Só que neste ano ele resolveu interromper por hora os planos de ter o próprio espaço de trabalho para fazer uma viagem à Europa – juntou economias e pretende trabalhar por lá para pagar os gastos.

“Viajar sempre esteve nos meus planos”, disse. “A viagem é no sentido de dar uma volta pelo mundo, ver o que está acontecendo la fora, absorver isso, crescer, retornar e reabrir meu estúdio.”

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‘Eu mostrei para mim mesmo que eu podia’, diz Alexandre

Adolescência no seminário

Na conversa, eu ainda soube de fatos curiosos na vida de Alexandre. Um deles é que o rapaz foi seminarista. Com 13 anos, colocou na cabeça que queria fazer seminário. E foi estudar em um no Paraná, onde ficou até se formar no ensino médio. “Fui tentado a deixar o seminário. É engraçado dizer isso. A gente sempre culpa essas coisas que acontecem com um ‘foi a tentação, o diabo’. Foi o diabo o caramba, fui eu mesmo. Olhei para o lado e vi que não era isso que eu queria.”

Depois disso, ele se formou em Design (contou com a ajuda de uma namorada, tendo em vista que no período que foi expulso de casa ficou completamente sem dinheiro) e chegou a trabalhar em outras empresas antes de começar a ser tatuador.

Desenhos na pele

A paixão pela tatuagem começou aos poucos. O primeiro contato foi com o namorado de uma amiga, que era tatuador. Alexandre lembrou que a primeira tatuagem que fez foi um “raio” em um amigo que aceitou ser “cobaia”. “Era um raio preto chapado, eu lembro que eu tremia mais do que a máquina.”

Na mesma época, ele fez a primeira tatuagem no próprio corpo, em homenagem ao avô que morreu aos 104 anos. O desenho é de ideogramas japoneses que significam: “como uma erva silvestre”. Alexandre explicou que seu avô sofreu e enfrentou muitas dificuldades quando chegou ao Brasil, vindo do Japão. A frase significa o esforço que o avô fez para sobreviver no novo país, já que a erva cresce no meio das adversidades.

Talvez eu nem precisasse explicar que Alexandre adotou o lema do avô para a própria vida. Ele acredita estar conseguido enfrentar as adversidades e lamenta o preconceito que a família tem com a tatuagem, que é o que ele ama e mais gosta de fazer na vida.

No relato, ele chegou a comentar a marcante frase que “matou internamente os próprios pais”, um relato bastante forte, mas que revela o quanto o jovem deve ter sofrido ao se ver expulso de casa. Alexandre, contudo, disse que se considera “orgulhoso”, já que resolveu não voltar mais para casa e buscou cuidar da própria vida sozinho.

Sentido da vida

Para ele, o sentido da vida está justamente no trabalho e em lutar para conquistar os objetivos.

“Meu avô dizia que um homem sem trabalho não é um cara digno, um cara respeitoso. Para mim o meu trabalho sempre foi algo muito importante, a tatuagem, no caso.” E completou: “o sentido da vida está em superar a si mesmo”.

Alexandre afirmou que quando fez a primeira tatuagem, tremendo, chegou a pensar que não conseguiria. Mas tratou a inexperiência como um desafio. “Eu acho que é isso, o sentido da vida é superar a si mesmo. Mostrar não para os outros que você pode, mas mostrar para si mesmo. Eu mostrei para mim mesmo que eu podia.”

Vidaria é um projeto parceiro Conti outra.

Somos mesmo o resultado de nossas escolhas?

Somos mesmo o resultado de nossas escolhas?

Por ElikaTakimoto

Você já deve ter ouvido por aí que vivemos de acordo com as nossas escolhas ou que somos resultado daquilo que escolhemos. Há várias frases como essas compartilhadas ou ditas diariamente por alguém. A despeito de isso parecer algo óbvio e até sábio, esse papo motivacional, a meu ver, é uma grande ilusão. Há grandes possibilidades de que as “nossas escolhas” não sejam exatamente nossas, mesmo quando temos total certeza de que as tenhamos tomado de forma consciente.

Comecei a suspeitar de que a ‘liberdade’ é uma mentira em que acreditamos. Já escrevi sobre isso por aqui. Daí para concluir que a ‘escolha’ é uma ilusão não me custou nada. Nós, como seres humanos, gostamos muito dessa “ideia de liberdade”. Mas será que nós somos completamente autônomos como pensamos ser? No cotidiano, temos a faculdade de realizar ações que, em tese, poderíamos não realizar caso quiséssemos. O que defendo é que esta noção é muito mais complexa quanto parece e que pode ser tão real quanto uma miragem no deserto. Será que temos realmente a faculdade plena de escolher entre esse ou aquele caminho? Estamos inteiramente livres para escolher entre fazer ou não fazer certas coisas? Ouvir que somos livres para escolher isso ou aquilo sempre me incomodou profundamente porque jamais me senti livre e escolhendo nada. Nem profissão, nem marido, nem ter ou não filhos e nem a separação foram me dados como alternativas. Como não?, diria você. Vem comigo que no caminho eu te explico.

Para começar, se acreditamos na ciência, que o universo é previsível e segue um conjunto determinado de regras, ou seja, que cada coisa no universo que temos observado até agora segue algumas diretrizes específicas e nada está isento da influência de forças externas, então, por que nós – os produtos do universo – estaríamos isentos de influências do ambiente? Como fundamentar o livre arbítrio, a vontade que causa algo mas não é causada, numa mente inserida num mundo físico onde nada quebra a regra da causa e efeito?

Ok. A ciência também pode ser um tremendo discurso romântico e subjetivo, mas trazê-la para a discussão nos permite perguntar se e quais forças externas desempenham algum papel na nossa tomada de decisões. E só pelo fato de flertar com a ciência sem sequer aprofundarmos em seus fundamentos já surge a dúvida: será que a razão pela qual a intuição nos diz que temos um livre-arbítrio não seria porque a nossa mente altamente limitada não consegue identificar todos os fatores que afetam a nossa “escolha”?

Diria você: mas eu me vejo escolhendo, por exemplo, em tomar café com açúcar ou com adoçante. É? Vejamos: seja lá qual for a sua “escolha”, considere que ela possa ter acontecido porque a mídia tem mostrado demasiadamente o mal que um ou outro produto faz, que seu paladar não aceita ou um ou outro, que o seu médico aconselhou a diminuir o consumo de um dos dois e por aí vai. Até a mais simples das escolhas conta com fatores que não podemos saber ao certo quais são e muito menos pensar em questioná-los, mas que existem, concordam?

Continuando… Se acreditarmos nas ideias levantadas por Freud, veremos que não agimos de forma livre mas sim conforme nossos impulsos e desejos inconscientes, como se fossemos reféns do mesmos.  Desta forma, acreditamos estar agindo a todo instante conforme queremos e escolhemos sem notar que na verdade, estamos satisfazendo desejos que se encontram em nosso inconsciente. E vejamos como isso faz sentido: o que nos leva a consumir certos produtos, a trabalhar em certas atividades e a nos relacionar com determinadas pessoas? O quanto condicionamos nossos atos aos resultados que estes trarão? O quanto estes resultados que almejamos são construídos pelo meio social em que vivemos? Dito de uma outra forma: se um objeto lançado por nós tivesse consciência do seu movimento não poderia ele se julgar livre para perseverar nesse movimento na medida em que ignorasse por completo o impulso que demos a ele? Em que medida aquele que crê ser livre não é tal e qual uma pedra lançada ao vento que ignora a força que a impeliu?

Se acompanharmos os estudos feitos pela neurociência veremos que atribuir à mente humana alguma liberdade de decisão não condicionada por processos inconscientes parece cada vez mais difícil. Para muitos neurocientistas, o nosso cérebro é um órgão do corpo, como tantos outros, igualmente formado por tecidos e células especializadas, que funcionam conforme nossa constituição bioquímica, reagindo a estímulos internos e externos de maneiras complexas, porém, de certa maneira, previsíveis. A mente é um troço que emerge da atividade do cérebro em conformidade com as leis da física e da química, o que implica em dizer que somos, em certa medida, o que a química de nossos cérebros faz de nós ainda que não sejamos previsíveis totalmente. Cada emoção pode ser associada a processos neurológicos que, por sua vez, podem ser reduzidos a processos bioquímicos que, em última instância, nós não temos controle.

Eu, particularmente, não acho que a mente possa se reduzir aos processos que ocorrem no cérebro. Para mim, a equação seria “cérebro + alguma coisa = mente”, sendo que essa alguma coisa geralmente é algo metafísico, que traria imprevisibilidade para as decisões do indivíduo, quebrando o determinismo do mundo físico. Mas ainda assim não acho que isso implique a existência do livre arbítrio. Sentir nojo de insetos não me parece uma escolha. Sentir-me mal em um determinado ambiente não me parece uma escolha. Sentir-me atraída por alguém não me parece uma escolha. Sentir saudade não me parece uma escolha. Sentir-me sozinha não me parece uma escolha. Sentir-me triste não me parece uma escolha. Sentir seja lá o que for não me parece uma escolha.

Afinal, “o que, então, determina a minha vontade?”, perguntaria você. Eu não sei ao certo, mas se você acha que é você mesmo ou nada, perceba o quanto isso é incoerente: se é você que determina a vontade, isso significa pressupor um “você” de certa natureza que determina necessariamente a vontade. Dizer que “você” determinou sua vontade só faz algum sentido na defesa do livre arbítrio se “você” não é determinado por nada. Porém, o que seria algo que não é determinado por nada? Complicado quando pensamos seriamente a respeito, não?

Ainda na esteira da ciência, pergunto-lhe: uma célula individual tem o livre-arbítrio? E uma bactéria, teria? Ou uma flor? E uma girafa, um cachorro ou um leão, por exemplo – será que eles têm livre-arbítrio? Em que ponto da nossa história essa tão contraditória e ilusória ideia de liberdade para escolher apareceu em nós?

Visto pelo lado religioso, perceberemos como essa ideia surge e a necessidade de que acreditemos nela, afinal, o fundamento do mal e da punição dos pecadores é o livre arbítrio. Que sentido teria mandar para o inferno pessoas cujos pecados não tivessem sido cometidos por vontade própria? Ou pior, sem agentes de vontade livre, a culpa pelo mal no mundo recairia sobre o único ser livre que sobraria: Deus. O fato de a ideia da escolha vir associada a outra de julgamento não é por acaso: a última precisa da existência da primeira. Isso é algo simples de compreender, afinal, quais seriam as consequências para a sociedade, então, se descobríssemos que não existe livre arbítrio? Como a doutrina da condenação e salvação se sustentaria?

Penso que grande parte da infelicidade, da culpa, do arrependimento e da angústia que sentimos é porque nos fazem acreditar que somos livres e que devemos pagar pelas más escolhas. No caso das religiões abraâmicas (cristianismo, islamismo e judaísmo) o impacto da ideia de que não somos livres para escolher seria fatal. Muito complicado, eu sei, acreditar que não escolhemos nada e que não somos culpados por nada. Como lidaremos com a responsabilidade e autonomia pessoal na Moral e no Direito? Como algumas religiões se legitimariam? Como educar nossos filhos sobre o certo e o errado?

Pesquisando aqui, li que em 2008, em um estudo publicado na Nature com o título Determinantes Inconscientes de Decisões Livres no Cérebro Humano, ficou provado que a decisão começa a ser formada no cérebro até 10 segundos antes dele tomar consciência disso. Ou seja, você se prepara inconscientemente pra fazer algo bem antes de sequer se dar conta que está fazendo isso – e bem antes de realizar o movimento de fato. Outros estudos, dessa vez focados na atividade de cada neurônio em vez do cérebro como um todo, mostraram que as células neurais ficavam ativas antes da decisão de apertar um botão, por exemplo.

Tudo bem. Vocês podem dizer que o livre arbítrio é muito mais profundo do que os resultados dessas pesquisas nos induzem a pensar. Em vez de mexer dedos e apertar botões, seria necessária a análise de atividades mais complexas. Concordo com isso, mas ainda assim percebo que mesmo essas tarefas mais abstratas e intelectuais do que propriamente de movimento não são totalmente espontâneas – elas dependem de coisas como carga genética, experiência, traumas de infância etc.

Talvez você acredite tanto nessa ideia de livre-arbítrio e da existência da escolha porque ignora as causas do seu querer. E veja que interessante e paradoxal: quanto mais imaginamos um livre-arbítrio para escolher, mais nos tornamos escravos porque precisamos de regras que limitem, justifiquem e expliquem a liberdade.

Somos o que somos porque, acredito eu, temos uma essência que não controlamos. Talvez, se houver liberdade de fato, esta deva ser compreendida como a proximidade máxima do conhecimento dessa nossa essência (que é ímpar para cada ser), do que nos torna tristes ou mais felizes. Vocês que acham que existe liberdade de escolha perdem o tempo pensando que tudo poderia ter sido diferente e ficam se culpando por caminhos (que não existem de fato) que poderiam ter tomado. É para isso que o livre-arbítrio nos serve. Para condenar e nos culpar.

Mas, então, perguntaria você, se eu não posso escolher como posso ser julgado? Justamente. Eu acho que essa ideia de ‘escolha’ leva diretamente a outras como de julgamento e moral que eu não aceito como objetivas e universais. Mas, continuaria você, se não há certo nem errado, matar, por exemplo, seria lícito? Se estou criticando a escolha, estou dizendo exatamente que quem mata não teve outra alternativa; o que não quer dizer que um assassino não deva ser condenado porque entendo que o ‘mal’ pode ser considerado como aquilo que prejudica o outro.

Perceba o que quero dizer: ainda que eu acredite que não exista o bem e o mal nesse mundo isso não significa que dispenso qualquer valor. Não existir o bem e o mal não quer dizer que não exista o bom e o ruim. Tenho meus valores. O ponto é que penso no ser em si, no que o movimenta, no que o engrandece e o diminui e dispenso um critério exterior e moral para julgar as coisas. Refugiamo-nos naquilo que nos limita, nossa moral nos protege, concordo. Mas friso que isso nos enfraquece e nos tira muitas essências. Quando eu nego essa ordem moral do mundo abro as portas para os devires: permito-me tornar o que sou e a aceitar o outro como ele é. Sem julgamentos.

Compreendo, vale observar, que a liberdade da vontade não poder ser coerentemente pensada através de conceitos (uma vez que, em última instância sempre caímos ou no determinismo ou no acaso) não significa que sua possibilidade esteja negada. Mas não consigo desistir da ideia de que a metáfora da bifurcação e de caminhos escolhidos é uma invenção que só nos serve para nos gerar culpa e medo.

Se entendo que agi mal em uma situação é pelo fato de ter feito uma coisa de uma determinada maneira e ter tido um resultado ruim.  Neste caso, tentarei mudar, digamos, a química de meu corpo ou o meu modo de pensar para que eu seja capaz de agir de uma forma diferente quando submetida a uma situação similar.

Por fim, as consequências de acreditar que não temos escolhas, ou seja, reconhecer que minha mente consciente nem sempre vai originar meus pensamentos, minhas intenções e ações não muda, a meu ver, o fato de que pensamentos, intenções e ações de todos os tipos são necessários para a vida.

Delirei muito? Não tenho culpa se entendo tudo assim.

Um nenhum, por Viviane Mozé

Um nenhum, por Viviane Mozé

Por Viviane Mozé

Foi muito difícil encontrar um lugar a partir do qual pudesse falar ao senhor. Infinitas são as perspectivas que nosso tempo desintegrado nos permite. Desintegrado por tantas razões que não caberiam nesta cartinha. Então, resolvi falar de um lugar comum. O lugar de um homem.

Todo homem é comum mesmo não sendo. O não ser comum do homem parece estar em sua forma própria de ser comum. Em seu jeito singular de sofrer, brincar, envelhecer. Em sua necessidade de construir, simbolizar, criar. Um homem não deixa de ser comum mesmo entre letras, livros, máquinas, sistemas, signos. Um homem é sempre uma trajetória que declina. Que ascende, mas que declina. O comum do homem é sua aparição relâmpago, o seu constituir e o seu perecer. O comum do homem é sua necessidade de dizer, manifestar, inscrever, perpetuar. Ao mesmo tempo sua impossibilidade de permanecer. Todo homem constitui-se na tensão entre viver e morrer, entre dizer e calar, entre subir e descer. Mas por razões extensas e difíceis a história humana parece ter ordenado-se em torno da vontade de não ser.

Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem. Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo.

Mas um homem é sempre maior que um nome mesmo que não queira. E uma outra história foi sendo tecida por trás desse desejo de não ser. Enquanto construía seus mecanismos de não corpo, enquanto se constituía como idéia, pensamento, imagem, a humanidade proliferava em seus excessos contidos, em suas angústias não canalizadas, em suas paixões não vividas, em seus pavores maquiados. E um corpo invertido, nascido de tantos corpos abafados, foi constituindo-se socialmente, foi ganhando força e vida. Uma vida invertida, mas uma vida.

Tóxica, ela foi se alastrando pelas casas, pelas ruas, em forma de morte. A morte negada, as perdas e dores abafadas saíram às ruas reivindicando seu espaço. O que antes esteve circunscrito aos campos de batalha, às margens, aos guetos, agora ganha as escolas, os metrôs, os restaurantes, as praias. Não há mais lugar seguro, carros blindados, condomínios fechados. Agora todos somos igualmente passíveis. Vivemos a democratização da violência. Vivemos o predomínio daquilo que foi por tanto tempo obstinadamente negado.

A violência trouxe-nos de volta a urgência pelo corpo, pela vida, pelo tempo. E apartou-nos de nosso sonho de perenidade, de futuro, de verdade. Agora, todos estamos órfãos de nosso medíocre projeto de felicidade. Agora é preciso viver, temos urgência do instante, precisamos do corpo, mesmo gordo, magro, estrábico. E aqui, de meu lugar comum, de mulher comum, enquanto lavo a louça do café olhando a cor insistente da tarde que passa, me pergunto por quê? Por que não os dias nublados, as dores do parto, os serviços domésticos? Por que não o escuro, o delírio, a solidão? As lágrimas, os espinhos no pé, as quedas?

Dizem que o homem como conhecemos tende a desaparecer. É possível que uma espécie mais forte possa surgir, uma espécie capaz de um dia divertir-se com este nosso hábito demasiadamente humano de negar o inexorável, de controlar o incontrolável, e, não conseguindo, de esconder-se em cápsulas virtuais, em psicotrópicos de ultima geração, em imagens. Um homem que talvez tenha sempre existido pode começar enfim a surgir. Um homem capaz de viver a dor e a alegria de ser mortal, singular, sozinho, comum. Um homem capaz de gritar sua dor impossível. Um homem capaz de cantar. Um homem capaz de viver.

Talvez esta carta seja um dos últimos depoimentos a respeito desta espécie que se envergonha. Espero sinceramente que sim. Que quando letras estas palavras forem somente e meu corpo, que agora por elas vibra, não mais existir, que seja tudo isso somente ruína. Que sejam ruínas os projetos de imortalidade, os corpos mumificados, os rebanhos de pessoas ansiando ser nenhum.

Fonte: Carta Maior

Essa matéria foi uma indicação de nosso parceiro Psique em Equilíbrio

Viviane Mosé é poeta, filósofa e dedica-se à divulgação de filosofia por intermédio de novas linguagens, inclusive a televisiva no quadro “Ser ou não ser?” do Fantástico, na Rede Globo de televisão.

Sincronicidade como especiaria da vida

Sincronicidade como especiaria da vida

Por Adriana Abraham

Quem não conhece alguma história na qual as pessoas foram guiadas ao encontro de eventos que a princípio pareciam desconexos, porém com o desenrolar dos fatos se revelaram mais do que meras coincidências?

O encanto exercido pelo desconhecido é quase desconcertante. Queremos tanto acreditar que um encontro casual com determinada pessoa tem um significado além do mero acaso, que nos cegamos para quaisquer outras possibilidades. Afinal, qual a probabilidade de se esbarrar com a mesma pessoa em locais variados ou em diferentes estágios da vida?

Ora, se vocês moram próximos, têm hábitos e rotinas diários parecidos ou compartilham interesses em comum é bem provável que se esbarrem mais do que gostariam. Nem vale a pena se desgastar com cálculos estatísticos. Isso é fato.

Deixando de lado as probabilidades, vale pensar nesses eventos como uma permissão do universo para experimentar algo inusitado. Quem sabe, uma especiaria a ser usada apenas em ocasiões especiais. Uma semente de cardamomo acrescentada ao café. Por ser pouco comum, instiga o paladar de imediato. Os que a percebem exótica demais não desejam repetir a experiência. Os que se entregam por completo ao seu sabor doce e picante contemplam com ardor a próxima xícara.

Alguns encontros são tão inexplicáveis que nos levam de imediato a rever nossos conceitos sobre o quanto estamos verdadeiramente no controle dos acontecimentos. É certo que só podemos ser guiados em direção a esses encontros se abandonamos nossas expectativas sobre o que deveria ser. Algumas vezes (definitivamente) não é para ser.

Estar em sintonia com alguém que se gosta possibilita que essas situações ocorram com certa frequência. Por outro lado, no momento em que entramos em dissonância com a mesma pessoa a sintonia se perde. Já se deram conta disso?

A razão não ressona, tampouco vibra. Nem a mais rara das especiarias aquece um coração fechado.

Jetsunma Tenzin Palmo, no livro “No coração da Vida”, fala que é preciso ter mais fé no universo. Isso não significa ficar sentado sem nada fazer, afirma. Ela ressalta a importância de não fazermos tudo pessoalmente. Se nos conectarmos com a “energia universal”, as coisas se resolvem por si.

Que deixemos uma parte do trabalho para o universo. E que sejamos contemplados com suas especiarias, se para o nosso bem e dos outros.

Aprender a aprender, por Rubem Alves

Aprender a aprender, por Rubem Alves

A inteligência não é saber as coisas, além disso, amar as crianças não é o suficiente para fazer de alguém um educador. É preciso querer ensinar o mundo a elas.

Eis uma fala incrível de Rubem Alves.

Trailer do DVD – Aprender a Aprender – integrante da coleção Rubem Alves – ATTA Mídia.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

“Todo preconceituoso é covarde. O ofendido precisa compreender isso”, afirma Mário Sergio Cortella

“Todo preconceituoso é covarde. O ofendido precisa compreender isso”, afirma Mário Sergio Cortella

Por Patrícia Zaidan, do MdeMulher

O filósofo e doutor em educação Mario Sergio Cortella, 61 anos, começa a entrevista dizendo: “Hoje, o Boko Haram matou cem pessoas no norte de Camarões… Todo dia há notícias assim”. O grupo fanático que ele menciona tenta fazer da Nigéria, vizinha de Camarões, uma república islâmica. E usa a barbárie para suplantar a marginalização política, econômica e social a que fora relegado pelos últimos governos. Essa facção sanguinária se tornou conhecida do público ao sequestrar 200 meninas nigerianas numa escola, em 2014. Muitas foram estupradas. Disputam o noticiário, as degolas de civis por outro bando de radicais, o Estado Islâmico e, ainda, os rescaldos do atentado ao semanário francês Charlie Hebdo, com a rejeição generalizada aos que professam o islamismo, a religião maometana que não prega o ódio muito menos a matança.

Dialogamos com o mestre que fez carreira na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sobre esses eventos mundiais e sobre os problemas locais que causam angústia. Entre eles, a escassez de água e a falta de luz em São Paulo e outros estados, as balas perdidas no Rio de Janeiro – que, só no primeiro mês deste ano, fizeram 30 vítimas. Em um rápido olhar sobre o quadro atual, nota-se um mundo mais rabugento, intolerante, racista e dando mostras de falência de recursos naturais. Assim, a conversa é sobre nossa impotência diante dos fatos que nos oprimem e deixam a sensação de que não podemos fazer nada para mudá-los. “Mas não é para ficar deprimido com as coisas que nos perturbam”, provoca o paranaense em seu escritório, na capital paulista. “É preciso lembrar que todas essas coisas são criações nossas, da humanidade. E devemos refletir sobre elas se quisermos um futuro mais equilibrado e saudável.” Cortella lança neste mês Educação, Convivência e Ética: Audácia e Esperança! (Cortez), livro que, como suas palavras aqui, ajuda na travessia destes tempos difíceis.

Como o seu livro entra nesse panorama de inquietação e incerteza?
Ele fala em audácia e esperança, sobre a formação de valores e a recusa à fatalidade. Nosso tempo se caracteriza por coisas bem perturbadoras. Uma delas é o tsunami informacional. Há uma torrente cotidiana de eventos, que chegam de diferentes fontes e veículos, e nos preocupam para além das nossas possibilidades de agir. Temos ciência das coisas e nada podemos fazer, o que gera angústia e impotência. Até pouco tempo atrás, uma notícia ruim envolvia somente a sua comunidade imediata. Você ia lá prestar solidariedade ou saciar a curiosidade. Não é mais assim. No entanto, do ponto de vista da violência, é preciso lembrar que o mundo está muito menos violento que no século 20 e em toda história. Dados epidemiológicos e estudos sociais provam isso. O que ocorre é que somos mais notificados hoje, além de haver uma rejeição maior à violência.

Há episódios mais veiculados na mídia, e de uma forma que leva à comoção. O ataque aos chargistas do Charlie Hebdo, na França, impactou mais os brasileiros do que as notícias sobre as polícias militares terem matado 1,7 mil jovens negros no nosso país em 2013 ou sobre 30 feridos por balas perdidas no Rio só em janeiro. Por que a dor do vizinho não nos mobiliza tanto?
Ela me obrigaria a agir e tomar uma decisão ética. Torna-se fácil prestar solidariedade a um movimento social no Sudão ou ficar com pena de uma vítima de explosão no Iraque. É bem mais simples do que lidar com o menino acampado na porta do meu prédio.

Isso exigiria mais do que consciência tranquila por devotar compaixão ao povo do Sudão. Não é?
Exato. A realidade à minha porta me impeliria a uma ação. Não é qualquer adesão meramente virtual. Tem sido comum alguém postar, nas plataformas digitais, um convite para uma passeata. As pessoas dão um like, mas não vão lá. Pensam que participaram. Assim como se sentem engajadas ao assinar um manifesto qualquer ou comprar a camiseta escrita Je Suis Charlie. A transformação de atos em bits, a virtualização das coisas ocupa várias circunstâncias da vida. É importante, mas não resolve tudo. Madre Tereza de Calcutá tem esta frase imbatível, que captura o conteúdo da sua pergunta: “Difícil é amar o próximo. Amar quem está longe é muito fácil”. A ideia do que seja o próximo é complexa. Temos a notícia sobre o que acontece no entorno de casa, mas não nos envolvemos. No fundo, isso também provoca certo desconforto. Embora esse mal-estar não afete a todos. Muitos, neste momento, estão mais preocupados com quem ficará na casa do Big Brother Brasil.

A sensação de desconforto atinge do mesmo modo os jovens e os mais velhos?
A minha geração tinha uma causa: acabar com a opressão. Dos 20 anos aos 30, sob a ditadura, queríamos democracia, liberdade de expressão e de culto, desejávamos escolher os próprios caminhos, uma sexualidade nada amarrada, uma conduta feminina que não fosse secundarizada. A geração atual não vive esses bloqueios nem tem grandes batalhas. A maior das batalhas hoje é a ambiental. Mas não interessa tanto aos novos, porque a minha geração não erotizou a ecologia. Conseguimos erotizar um jeans, um carro, uma balada, uma cerveja… Mas não a causa do meio ambiente. Ela não se tornou um desejo.

Por que a juventude não se preocupa com o fim dos recursos naturais?
Eles deveriam pensar nisso. Mas é uma causa abstrata. Ninguém via o problema da água até poucos meses atrás. Agora temos que tomar providências. A ecologia fala de algo que ao jovem não interessa, que é o futuro. Essa não é uma má geração, ao contrário, tem censo de urgência, é criativa e disponível para uma série de interfaces. Mas vive o dia como se fosse o único. Por quê? Os mais velhos disseram a eles: “Vocês não terão futuro, não haverá emprego, ar puro, segurança”. Os pais também vivem repetindo que os filhos não tiveram infância, não souberam brincar e subir em árvores, como eles. Ora, quem acredita que não tem futuro nem teve passado só enxerga a alternativa de viver o presente até o esgotamento. “Aproveite o dia”, é o lema atual. Grandes causas, como o fim da homofobia e da violência doméstica, demoram. Leva-se tempo para conquistá-las.

 

Em um bairro paulistano, moradores fizeram refém um funcionário da Eletropaulo. Disseram que ele só sairia dali se a luz voltasse. Em um condomínio, também da capital paulista, moradores andam pondo o ouvido na parede para fiscalizar quanto tempo demora o banho do vizinho, quantas vezes ele dá descarga ou lava a roupa. Isso pode gerar truculência? Acirra os ânimos e cria um clima de desconfiança? Ou é aceitável?
No caso do refém, é um esgotamento de paciência. O usuário diz à empresa, ali representada pelo funcionário: “Não aguento mais ficar no escuro. Não posso ouvir a mensagem gravada informando que o serviço será prestado em seis horas, depois em oito e, mais tarde, em dez horas”. O cidadão já foi enganado demais. A atitude é perfeitamente compreensível, embora possa caracterizar até cárcere privado. Quanto ao controle do banho, penso que a escassez deve se tornar um tema coletivo. Falta de água é grave. Isso é que acirra os ânimos. Num transatlântico, se a terceira classe afundar, a primeira afunda junto. Tomar conta do vizinho é o primeiro passo para organizar uma reação conjunta à falta de água. Se um denuncia o outro por desperdício – e deve haver multa para isso -, não está sendo dedo-duro, mas cuidando do bem de todos. A medida não pode, porém, se tornar uma atividade persecutória, na qual alguém assume uma autoridade que não tem e passa a fazer daquilo uma cruzada. Seria perigoso.

Os autores das ações radicais, no terrorismo, têm entre 20 e 30 anos. Eram crianças no atentado às Torres Gêmeas, em 2001, e, de lá para cá, enfrentaram preconceito e islamofobia. Viram os muçulmanos se tornarem mal recebidos no mundo, com dificuldade de entrar em diferentes países e as mulheres serem proibidas de usar o véu nas escolas. Outro dado: na França, 70% dos presos são muçulmanos. A maioria morava na periferia e, sem estudo e trabalho, cometeu pequenos ou médios delitos. O Estado falhou com eles. Qual é a sua análise sobre as duas coisas?
Não estão presos por serem muçulmanos, e sim porque são estrangeiros pobres, de uma minoria excluída, encostados nas bordas das grandes cidades da Europa. A cadeia deve estar cheia de indígenas, em Dourados (MS); de mexicanos, na fronteira com a Califórnia, nos Estados Unidos; e de sem-terra em áreas de conflito agrário no Brasil. O problema é a exclusão. O jovem muçulmano na França é muito assemelhado ao da periferia das nossas grandes cidades. A arma na mão, no nosso país, é respeito e dinheiro imediato. Na França, é o terror que oferece reconhecimento a esses meninos. Alguns islâmicos entendem o suicídio (caso do homem-bomba) como martírio. Esses jovens se dão importância desse jeito. O propósito dá sentido à vida. De certo modo, eles se ressentem do preconceito no mundo todo, não só na Europa. O véu é problema aqui também. Em Foz do Iguaçu (PR), quem estiver com ele não tira carteira de motorista. A rejeição, porém, não é de natureza religiosa. Uma muçulmana da elite usa o véu onde quiser e é até imitada. Outra coisa é a falta de trabalho para os garotos. Na Arábia Saudita, por exemplo, a economia é restrita ao petróleo, não tem indústria, comércio. Eles vão para o Exército ou cedem ao apelo de psicopatas que recrutam para o terrorismo. Mas eu não tenho uma visão catastrófica do mundo atual. Há muito mais estados com democracia do que antes. Na ausência dela, coloca-se um nível de vitamina mais elevado no terror, caso do Irã e do Iraque, em comparação com a França.

Na democracia, a liberdade de imprensa é imprescindível. Debates após o atentado ao Charlie se deram em torno do limite do direito de expressão. Pode-se ser livre e causar dor no outro?
Não deve haver limite para a liberdade de expressão. E ela não causa dor. Ali ocorreu um excesso de sensibilidade. Quando eu era menino, meu pai dizia: “Se te xingarem na rua e você for aquilo, então não é xingamento, é verdade. E, se você não for, não é contigo”. Logo, se tenho uma religião e alguém tripudia com meus símbolos, não levo em conta. Não tem a ver comigo, mas com quem fez a piada. Pena dele. A grande encrenca do fanatismo é tomar como ofensa a postura do outro. Se quer ser imbecil, seja. Eu não assinaria o Charlie Hebdo. Aquela escatologia não interessa mais. O humor inteligente está na base da recusa ao preconceito. Algo como: “Não ria de mim, ria comigo”.

As pessoas estão agressivas na internet. Ali, há todo tipo de insulto, o que abala os ofendidos. Reagir ao preconceito, dessa forma, não parece tão simples.
Todo preconceituoso é covarde. O ofendido precisa compreender isso. O preconceito tem duas fontes: a covardia e a tolice. O intolerante em relação a etnia, cor da pele, orientação sexual, religião e extrato econômico tem medo de ser o que é. Ele só se eleva quando rebaixa o outro. Necessita ver que o outro não serve e não presta para ele poder valer alguma coisa. É um fraco que teme aquele que não é igual e se sente ameaçado por ele. Além disso, ser preconceituoso é ser burro e tonto.

Hoje, há passeata para tudo. O psicanalista Contardo Calligaris escreveu que levar crianças a uma manifestação de rua parece perigoso. Mas não levar o filho é mais perigoso para o seu futuro e o seu espírito. Eles devem participar?
O omisso é cúmplice. Os pais que escondem do filho temas importantes estão furtando dele a completude na formação – e tendem a fazer da criança uma vítima de um sistema que pode ser maléfico. A família deve discutir temas sociais, sim. Se ela decide não ir à rua, deve explicar o porquê. Há pais que dizem: “Não me meto em política”. Ao agir assim, já se meteram. Isso é nocivo.

 

Quando símbolos fortes, que serviam de balizadores para a sociedade, se enfraquecem, aumenta a sensação de impotência. Exemplos: a Universidade de São Paulo (USP) vive uma crise financeira e científica e também moral, por ter abrigado o estupro de alunas por colegas sem que isso fosse apurado. A maior empresa pública, a Petrobras, está envolvida em escândalos e corrupção. Por que isso mina nossas forças?
Mexe com a gente porque são nossos símbolos de poder. Mas estão surgindo outros ícones, como comunidades que se conectam em blogs para cooperar; dentistas que se juntam para atender sem cobrar; instituições como Doutores da Alegria, que vão brincar com crianças em hospitais. Conheço desembargadores, em São Paulo, que saem do tribunal, colocam o nariz de palhaço e vão entreter doentes. São novos marcadores.

O que é preciso fazer para entender este momento da humanidade que vivemos?
Os chineses acham que devemos lidar com a história e não com o momento. Você só compreende o hoje se olha a história no seu desenvolvimento. É bom recordar o que falavam as avós: “Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe”. Portanto, nada de desespero. Problemas agudos se dissolvem no tempo. Os efeitos colaterais não são insuperáveis; podemos lidar com eles. É bom lembrar que devemos ter cuidado num mundo multifacetado, multicultural e multidiverso. Por isso, não podemos nos fechar em grupos exclusivos – só católicos, só gays, só muçulmanos -, o que leva à política do gueto e dilui a ideia de humanidade. Acabar com hinos nacionais também seria bom. Em geral, dizem: “Pega, esfola, estripa, arranca, mete a espada”. Temos de enxergar uma sociedade global e interconectada. Não pelo digital e pelo econômico somente, mas pela antropologia. Ou seja, pela convivência humana. E que cada um seja capaz de olhar o outro como o outro, não como o estranho. Homens e mulheres são diferentes, não desiguais. Brancos e negros são diferentes, mas devem ter os mesmos direitos.

O papa Francisco tem opinado em conflitos entre judeus e árabes, entre nações fortes e sociedades pobres, sempre na defesa da paz e da autonomia política dos povos. Repudia o terrorismo, mas critica o insulto à fé. Denuncia que o mundo é machista com as mulheres e prega respeito aos gays. Até provocou com a frase: “Sejamos revolucionários”. Muitos dizem que é o maior estadista do momento. Concorda?
Ele cumpre uma grande tarefa. Traz à tona questões difíceis. Não mexerá na doutrina, mas no campo da moral. Ele prega o acolhimento dos excluídos. Diz “Seja revolucionário” no limite que o cristianismo romano entende como revolução. A inspiração em Jesus ou São Francisco de Assis é boa para os jovens. O papa é uma expressão de alegria. Trata temas sérios de modo leve, não é carrancudo, não olha de cima. Assumiu o papel de defesa da paz onde há conflito. Ele me faz lembrar Benedito Spinoza, filósofo judeu que propõe a ética da alegria. É algo que precisa entrar na nossa rotina. Não quer dizer que a sociedade deva seguir no vício do hedonismo, buscar o prazer em tudo o que faz, seguir na lógica de que a vida é uma festa e não requer esforço. Isso degrada nossa capacidade, que deixa de construir algo um pouco mais forte.

Recém-nascidos dormem em caixas de papelão, na Finlândia – conheça a beleza e o simbolismo dessa prática

Recém-nascidos dormem em caixas de papelão, na Finlândia – conheça a beleza e o simbolismo dessa prática

E se cada bebê que chegasse a este mundo recebesse a mesma caixa para começar sua jornada na vida? Hoje em dia você vê todos esses altos preços ridículos das lojas de recém nascidos, berços que custam o olho da cara e roupinhas que servem apenas como símbolo de status. No outro extremo do espectro, vemos mães que mal podem se dar ao luxo de comprar fraldas de pano ou os itens básicos necessários para ques os pequenos venham ao mundo com um pouco de dignidade e cuidados elementares. Na Finlândia eles fazem coisas diferentes.

Não importa de que cor seja, a quantidade de dinheiro que seus pais tenham, ou onde vivem. Cada mulher grávida na Finlândia recebe uma caixa que inclui os seguintes elementos:

-Colchão, capa de colchão, lençol, capa de edredom, cobertor e colcha.
-A própria caixa em realidade é utilizada como um berço.
-Traje para a neve, gorro, luvas isolantes, e botinas.
-Vestido e macaquinhos com capuz.
-Meias, luvas gorro de lã.
-Camisetas, babygrows compridos e leggings em cores e padrões unissex.
-Toalha de banho com capuz, uma tesoura de unhas, escova de cabelo, escova de dentes, — termômetro de banho, creme troca fraldas, toalha.
-Jogos de fraldas de pano e lenços de musselina.
– Álbum de fotografias e brinquedos para a dentição.
– Sutiãs acolchoados e camisinhas
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O melhor de tudo isto? Tudo isto é totalmente grátis. As “caixas de bebê” são fornecidas pelo governo para ajudar a garantir a segurança e bem-estar de todas as crianças recém-nascidas.

Um recente relatório mostrou que as mães finlandesas são as mais felizes do mundo e a caixa de bebê certamente tem algo a ver com isso, já que possibilita que as novas mamães estejam menos estressadas, especialmente nas primeiras semanas pós-parto.

Sabendo que a “caixa de bebê” tem todo o enxoval necessário, podem concentrar toda sua atenção para dar ao recém-nascido o carinho e cuidados que ele precisa. Isso certamente causou um enorme impacto nas mães finlandesas, fazendo com que a caixa tenha se tornado uma tradição.

A taxa de mortalidade de recém-nascidos costumava ser extremamente elevada na Finlândia por volta da década de 1930. De fato, morriam 65 em cada 1.000 bebês. Foi por isso que as autoridades da área de saúde decidiram fazer alterações nos programas sociais para garantir que a segurança e o bem-estar dos recém-nascidos fossem atendidos.
Após a distribuição destes geniais kits de maternidade em 1938 tudo começou a mudar. Hoje a Finlândia tem uma das taxas de mortalidade infantil mais baixas do mundo. Não é à toa que a Fundação Save The Children nomeou a Finlândia como o “O melhor lugar para ser mãe de todo o planeta”

Assim, na Finlândia, ao menos simbolicamente, todos aqueles que chegam ao mundo recebem o mesmo berço, como se desde pronto se ensinasse uma das maiores verdades da existência. A de que, embora cada um seja único, na essência, todos somos iguais. Todos somos um só.

Fonte indicada : Metamorfose Digital

O sono sem sonhos

O sono sem sonhos

Já teve pesadelos? Claro que sim, pelo menos quando era criança. Não há quem relate que nunca teve pesadelos.

Você sabia que o melhor sono é o sono sem sonhos? Um dia eu disse isso a uma amiga e ela, com ar de espanto, disse: “Eu sempre ouvi dizer que quem não sonha enlouquece!”

Qual das informações estaria correta?

Você vai tirar sua própria conclusão ao ler o artigo.

Por que hoje você vai saber uma coisa muito legal sobre o movimento da mente e entenderá porque é possível dormir e não sonhar ou, pelo menos, não ter sonhos terríveis ou pesadelos.

Primeiro, vamos navegar um pouco pelos caminhos científicos.

A ciência anuncia que o sono é uma atividade cerebral. E a palavra “atividade” demonstra que as ondas cerebrais jamais cessam e que, a rigor, o cérebro nunca descansa.

Até hoje, para explicar o estágio do sono, usa-se referências de uma importante descoberta do estudante americano Eugene Aserinski, na década de 50.

Ao espiar crianças adormecidas, ele descobriu que os olhos delas se mexiam rapidamente em determinados intervalos.

O estudante levou a informação ao seu professor que desconfiou e foi checar, pois  isso seria notável demais para nunca ter sido percebido.

De fato, o fenômeno já havia sido percebido antes, porém não lhe havia sido dada a devida importância.

O professor então confirmou o fenômeno, que a partir de então passou a se chamar de “movimento rápido do olho”, conhecido como REM (Rapid Eye Movement, em inglês). Notou também que, justamente no estágio do sono, o aparelho de eletroencefalograma apontava uma oscilação das ondas cerebrais, muito parecida com o de alguém em vigília – estado desperto.

Desde então, sabe-se que as medidas em Hertz – unidade de frequência em níveis ultrafinos – demonstram que as oscilações das ondas em estado de vigília são de 30 Hertz por segundo. Em estado de sonho, verifica-se a mesma oscilação – 30 Hertz por segundo. Ou seja, o estado de sonho tem níveis de atividade cerebral igual ao estado desperto.

A tabela abaixo, resultado de estudos, comprova isso. O quadro mostra medidas das ondas cerebrais nos diferentes estados de consciência – vigília, sono e sonho.

  1.  Estado de vigília – Acordado – 30 Hz
  2. Estado do Sono
    • Sono leve – 4 a 12 Hz – 70% menor
    • Sono Médio – 4 a 7 Hz – ritmo ainda menor
    • Sono Profundo – 0,1 a 4 Hz – ondas Delta, muito lentas.
  3. Estado de Sonho – 30 HZ = vigília
  • Obs: Hz = Hertz é 1 ciclo por segundo – 30 Hz são 30 ciclos por segundo, unidade de frequência derivada do SI (sistema internacional de unidades) para frequência em termos de ciclos por segundo. Uma medida de frequência entre níveis hiper finos.

Agora, imagine como é a atividade mental quando há pesadelos ou sonhos de muita ação. Um tumulto só. O corpo não descansa. As condições mentais são totalmente desfavoráveis.

Inclusive, as pessoas que sonham muito ou tem pesadelos frequentemente relatam sentir um cansaço enorme durante o dia. O que faz sentido.

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Conclusão: Quando sonha, o corpo não está em estado de repouso.

Melhor é o sono sem sonhos.

Se a ciência diz que o cérebro nunca para, então teríamos que pensar o que faz o cérebro se manter em atividade e o porquê!

Aqui vão algumas informações complementares para que você tire suas próprias conclusões.

O que manteria o cérebro em atividade em todos os estados, seja sono, sonho ou vigília?

Seria a mente?

Vejamos:

Registros muito antigos indicam que o estado de vigília é mantido principalmente pelos sentidos. Não sei dizer se tem alguma referência parecida nos estudos modernos. Acredito que sim. Não cheguei a confirmar.

Enfim, de fato, o corpo e os sentidos são retirados da atividade durante o sono, mas a mente não é dominada por ele. Ela fica desperta em si própria sempre.

Se a mente fosse abstraída de sua função em algum estado de consciência, certamente seríamos retirados da vida também. A mente seria o próprio Ser, um instrumento da alma, o elemento mantenedor da vida.

Faz sentido para você?  Para mim faz.

Por quê?

Todos nós sabemos que a mente influencia o corpo diretamente, Prova disso é a característica psicossomática das doenças.

Moral da história: a lógica.

Tanto em estado de vigília como em estado de sono, a mente precisa estar calma e estável para que benefícios máximos sejam extraídos.

Se durante o dia, sua mente está sossegada, sua atividade fica bem mais fácil, tranquila e assertiva.

A mente confusa e agitada não favorece ações bem sucedidas.

No estágio do sono, seria a mesma coisa.

Uma noite tranquila seria decorrência do estado mental, também tranquilo.

Se, em estado desperto, você tem que conviver com situações de tensão quase que constantes, pelo menos, deveria deixar-se tranquilizar algumas horas antes de ir para a cama.

No entanto, a boa qualidade do sono começa já de manhã, ao acordar.

Assim, como é seu dia, será sua noite. Dia agitado, noite agitada, porque a mente está agitada.  E então, dá-lhe pesadelos! A mente influencia o corpo e o corpo influencia a mente.

Descobriu onde está o mistério do sono sem sonhos?

Ter uma mente tranquila e descansada com a mínima agitação possível.

Uma dica: Nunca veja seu corpo como um elemento dissociado de nada, muito menos de sua mente.

O corpo é um elemento complexo demais para ser entendido em partes separadas. A física indica que tudo está interligado com tudo o mais. Então, aceitando isso, passamos a considerar a interação entre corpo e mente.

Meu afetuoso abraço!

Terezinha Gnoatto

Texto reproduzido com a autorização da autora.

Terezinha Gnoatto

contioutra.com - O sono sem sonhosUma experiência pessoal sobre o Sono, no inicio de sua carreira corporativa, a levou a pesquisar intensamente o tema e, desvendou conhecimentos incríveis. Desligou-se do mundo corporativo e dedicou-se a projetos para ajudar pessoas a cuidar da própria saúde e bem estar. Fundou a escola do sono como um guia para transformar vidas, um espaço para aprender aquilo que faz bem, com base nas perfeitas leis da natureza.

Para saber mais sobre o tema conheça também o site Escola do Sono

Zero – animação que prova que a marginalização é uma atitude de pouco valor

Zero – animação que prova que a marginalização é uma atitude de pouco valor

Forte e comovente animação.

Como pode algo ser criado do nada? Esse é o tema do curta de animação em stop-motion “Zero” (12min32seg), nome do personagem principal que nasceu com este número numa sociedade dominado por gente positiva como “3” ou “4”. Com mais de 15 prêmios e indicações, entre eles vencedor do 2010 LA Shorts Fest for Best Animation e Shorts Film Festival for Best FX, “Zero” se diz a história “de um zero oprimido num mundo de números que descobre que através de determinação, coragem e amor, nada pode ser verdadeiramente algo”. O filme foi criado e dirigido pelo casal Christopher e Christine Keseloz.

Fonte indicada Capacitar Brasil.

Inspirando amor, exalando compaixão

Inspirando amor, exalando compaixão

Por Adriana Abraham

Queria tanto poder escrever sobre o amor com a desenvoltura de alguns escritores. Como se fosse a atividade mais corriqueira a ser realizada. Acordar cedo num domingo preguiçoso, logo após abrir o computador pensando em desafiar a inspiração e pronto: surgiria um novo texto. Não aconteceu. Pensei então num motivo plausível para não se deixar arrebatar por um tema tão importante. Olhei para minha estante e vi um livro com o título sugestivo de “Como abrir o coração”.

Nesse livro, Chagdud Tulku descreve um coração aberto como aquele que possui a capacidade de sentir compaixão por todos os seres. Todos nós possuímos essa capacidade, isso é fato. A questão é quando nos deparamos com o amor nos relacionamentos íntimos. Se a motivação desse amor for o egoísmo, isso significa que amamos com o coração fechado? Exemplo clássico desse dilema seria:

– Eu amo até determinado ponto. Se ficar muito difícil eu arrumo outro parceiro que se acomode aos meus desejos.

Essa questão fica ainda mais arenosa quando nos deparamos com um relacionamento que terminou de forma dolorosa. Uma mentira ou traição desfazendo a confiança depositada na relação.

Paulo Mendes Campos escreveu um livro intitulado “O amor acaba”. Considerando o título apenas em seu aspecto literal, poderíamos afirmar que se o amor realmente acabasse seria um alívio para os românticos de todo gênero. O término de uma relação amorosa ocasionaria a dissolução imediata dos sentimentos originados durante a constância da relação. Seria tão estéril como o encerramento de uma conta bancária.

Seria ótimo também se a teoria de Darwin se aplicasse ao amor. Só os melhores sentimentos sobreviveriam às intempéries cotidianas, como crises financeiras, problemas de saúde, de ordem emocional etc. O que fosse frágil se dissolveria, retornando ao emaranhado de energia que circula pelo planeta.

Infelizmente isso não funciona dessa forma. A verdade é que o relacionamento acaba e o amor fica. O que fazer então nessa situação que por vezes vem acompanhada de sentimentos negativos?

É certo que a meditação vem sendo amplamente utilizada como uma poderosa ferramenta de transformação pessoal. Por que então não aproveitar os benefícios dessa prática após uma separação que tenha gerado sofrimento?

Chagdud Tulku ensina uma meditação chamada contemplação do sofrimento, onde somos convidados a refletir intensamente sobre as causas de nosso sofrimento sob ângulos diferentes, considerando as nossas experiências de vida. Após essa reflexão, devemos deixar a mente descansar e permitir aflorar a compaixão por todos os seres que sofrem.

Qualquer uma, dentre as técnicas de meditação atualmente disponíveis, seria válida. O importante seria transmutar o amor em compaixão pelo parceiro. Um verdadeiro desafio ao nosso ego.

Assim, que nunca nos falte inspiração para o amor. E se por acaso essa faltar, que inspiremos amor e exalemos compaixão até ela voltar.

Porque não há como impedir o voo daquele que aprendeu a voar

Porque não há como impedir o voo daquele que aprendeu a voar

Por Adriane Sabroza

É, um dia os filhos vão alçar voos em que você não irá participar.
Ao menos, não da mesma forma de antes.
Chega uma hora em que o voo solo torna-se uma necessidade.
Uma comprovação de que se é capaz, de que se foi um bom aprendiz, de que já é possível voar.
E você vai estar lá, de qualquer forma, mas não mais como antes.
Não mais dando impulso ou segurando as asas, mas vai estar assistindo, talvez até de longe, o voo de seu passarinho.
E poderá ver, de um ângulo talvez nunca imaginado, que esse voo solo também te fascina, porque é fruto de tudo que lhe foi ensinado.
E neste momento em que o pássaro finalmente deixa o chão, você verá que o voo não é só dele, assim como não é a vitória e nem a emoção.
Afinal você esteve lá o tempo todo, em tantos ensaios, vibrando a cada tentativa e agora pode testemunhar não mais o ensaio, mas o vôo, a vida.
Pois é chegada a hora do pássaro deixar o seu ninho.
Ele precisa voar outros ares, experimentar coisas novas e, claro, vai deixar muita saudade.
Mas, acredite, ele volta. Volta mais forte, mais livre, mais filho.
Porque agora já sabe que aprendeu o caminho.
Virou pássaro, deixou de ser passarinho.
E você verá neste voo um pouco de você, se reconhecendo a cada batida de asa, seja ao sol ou à luz do luar.
Porque esse voo também é seu, daquela que lhe ensinou a voar.

                                                             Adriane Sabroza

contioutra.com - Porque não há como impedir o voo daquele que aprendeu a voarPsicoterapeuta por paixão e opção, mãe de três meninas lindas, minha maior realização e, nas horas vagas, aprendiz de escritora, sem nenhuma pretensão.

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