Amor de mãe

Amor de mãe

Por Adriane Sabroza

Hoje me peguei pensando sobre que tipo de amor é esse, o das mães…

Um amor já falado, cantado e contado de tantas formas, na tentativa, diria eu, em vão, de tentar defini-lo. Mas, afinal que tipo de amor será esse?

Talvez seja um amor do tipo inesquecível…

Quando nos tornamos mães, a emoção do parto e a sensação de ter pela primeira vez o nosso bebê nos braços é mesmo avassaladora.  Ainda que eu tente, não consigo pensar em outra palavra para melhor descrevê-la. Também pudera, só quem já viveu um tórrido romance sabe

como é angustiante a espera pelo primeiro encontro. As fantasias sobre como será e os inúmeros ensaios sobre as possíveis conversas, ajudam a conferir ao momento do primeiro encontro uma emoção única e torná-lo inesquecível.

Não há a menor dúvida que o nascimento de um filho é um grande marco, um verdadeiro divisor de águas na nossa vida. Nada mais será como antes. Não me refiro aqui às noites mal dormidas ou à preocupação constante, que passa a ser, de uma hora para outra, a nossa mais nova amiga de infância. Falo de um sentimento louco, sem tamanho, de um querer bem sem fim, que passa de uma hora pra outra a fazer parte das nossas vidas. Algo que não é passageiro, mas definitivo, algo que veio pra ficar e que muda você para sempre.Talvez seja um amor do tipo que muda você para sempre…

Talvez seja um amor do tipo amor à primeira vista…

Que mãe ao olhar o seu filho pela primeira vez não teve a certeza de que sentiu algo jamais experimentado antes? Algo como um sinal, uma sensação de deja vu, só possível entre aqueles que se reconhecem. Não só as mães biológicas, mas as que escolhem seus filhos também vivem esta mesma sensação. Algo assim como um encontro de almas, escrito nas estrelas e que só pode ser lido com o coração, nos dando a sensação de estar vivendo um verdadeiro amor à primeira vista.

Difícil mesmo definir este amor. Talvez seja uma mistura de todos acima ou ainda de outros mais. Talvez essa definição não seja, nem mesmo, importante ou necessária. Talvez seja só um amor de mãe. Amor de mãe talvez seja a melhor definição para este amor sem limites, que não se explica com palavras, mas que transborda a cada nova conquista, a cada abraço apertado, a cada sorriso sem jeito, a cada dança desengonçada, a cada cara suja de chocolate, a cada sim, a cada não. Um tipo de amor de que só as mães são capazes e que só elas entendem, sem necessidade de maiores explicações.

Interpretação de Texto na Internet e Rouanet, de novo

Interpretação de Texto na Internet e Rouanet, de novo

Por Fabio Brandi Torres

Tava pensando em escrever essa semana sobre alguma coisa um pouco menos polêmica, como a redução da maioridade penal, mas como a última coluna – Sobre Marietas, Jôs e Rouanet – acabou gerando alguns mal-entendidos, resolvi voltar ao tema. Ou desviar um pouco dele, não sei, vamos ver como esse texto vai ficar. Ainda tô me encontrando por aqui.

Mas vamos lá. É meio chato explicar piada, tira totalmente a graça, mas, dependendo do texto, às vezes é preciso. E o culpado pode ser o autor, o leitor ou um combinado dos dois. Nessa coluna da semana passada, por exemplo, eu começava com alguns comentários retirados de uma página do Facebook, com ofensas dirigidas à Marieta Severo. Quando escrevi, achei que estava claro que aquelas não eram palavras minhas. Depois, vi que mais de um leitor achou que faziam parte do texto e aquelas eram as minhas opiniões sobre a Marieta. Apesar de lá pelo meio eu falar sobre a origem dos comentários, achei que a forma como o começo estava estruturado deixava algumas dúvidas e fiz algumas alterações no primeiro parágrafo, pra deixar tudo mais claro. Acho que resolveu.

Outro ponto comentado, foi que eu não expliquei como a Lei Rouanet funciona. Não era esse o objetivo do texto, que era falar de arremesso de pedras virtuais. Mas aproveitando, vai aqui um breve resumo:

A Lei Rouanet é de dezembro de 1991 e é um mecanismo de renúncia fiscal. Isso quer dizer que o governo abre mão de uma porcentagem dos impostos de uma empresa, para que esse dinheiro seja investido em cultura. A empresa – não o governo – faz isso escolhendo projetos para patrocinar que foram aprovados junto ao Ministério da Cultura, que por esse mecanismo não libera dinheiro diretamente para um artista. Se você ler em algum lugar que um artista recebeu alguns milhões do governo via Rouanet, passe a desconfiar da fonte. É uma tentativa de se construir uma mentira inteira com meias ou poucas verdades. O que o Ministério faz é aprovar o projeto dessas pessoas, no valor que estiver orçado. Depois de aprovado, entra a segunda parte da história, geralmente a mais difícil, que é quando o artista tem que ir bater na porta das empresas e pedir patrocínio.

contioutra.com - Interpretação de Texto na Internet e Rouanet, de novoEssa é a grande reclamação contra a Rouanet, principalmente no próprio meio artístico, já que ela transforma gerentes de marketing em gestores culturais. Eles passam a ter o poder de escolher aqueles que serão patrocinados com dinheiro público. São eles que decidem, não o governo. Colocando de outra forma: o gerente de marketing de um banco ou de uma montadora de veículos é quem vai decidir que show ou que espetáculo é que vai ser patrocinado com dinheiro público. Dinheiro público, relembrando, porque um valor que a empresa pagaria para o governo, na forma de impostos, é usado para o patrocínio.

A insatisfação vem do fato de que isso gera o que alguns chamam de concorrência desleal. Se uma empresa tiver que decidir entre apoiar a peça de um grupo desconhecido de teatro e uma peça do Jô Soares, por exemplo, quem você acha que eles vão escolher? Por outro lado, se não houvesse o incentivo fiscal, a maioria das empresas não abriria a carteira para apoiar peça nenhuma, nem do Jô. Eu disse a maioria, ok? Antes da existência da lei, tinha uma minoria que apoiava, quando achava que um patrocínio poderia reverter em lucro, geralmente institucional. Mesmo com a existência da Lei, proporcionalmente ainda é pequeno o número de empresas que fazem uso desse mecanismo.

Uma opção, defendida por alguns, é que se acabe com a Lei Rouanet e o governo pegue esse dinheiro e monte uma comissão que decida quais projetos apoiar. Aí sim, o dinheiro sairia diretamente do governo para os artistas. O que levantaria outros questionamentos, como os critérios que seriam usados nessas escolhas e aí, sim, abriria essa frente para acusações, de artistas que seriam apoiados para defender o governo. Só lembrando, o MinC já conta com alguns editais que apoiam diretamente os artistas, como o Prêmio Myriam Muniz, por exemplo. Acho que nem Jô nem Marieta já ganharam esse prêmio, mas não pesquisei. Acho que não, porque seria uma forma mais segura de atacá-los, mas como não vi ninguém usando isso, não deve ser o caso.

Como dá pra ver, não existe uma solução ideal. E também dá pra ver que as pessoas que não têm contato direto com a Lei, têm pouca ideia de como ela funciona, o que facilita o seu uso como forma de incitar o ódio contra alguns alvos. É só pesquisar e ver se a pessoa está com um projeto aprovado, ver o valor total e aí sair dizendo que fulano recebeu tantos milhões do governo.

É, acabei ficando mais na Rouanet. Não era a intenção, mas o texto acabou puxando mais pra esse lado e não deixa de ser um bom assunto. Quanto mais se souber desses mecanismos, melhor, tanto para questões de transparência como de manipulação.

E para fechar, não, eu não estou defendendo o governo, outra hipótese que foi levantada a partir da leitura (?) do texto. Nem no da semana passada, nem nesse. Mas estou defendendo Jô e Marieta da acusação ligada à Rouanet. Se você quer acreditar que eles receberam dinheiro, ok, mas não foi por aí. Depois de saber como a Rouanet funciona, não dá mais pra compartilhar um daqueles posts do tipo “ESTÁ PROVADO!!!”.  Quer dizer, até dá, mas não sem ter consciência de que se está ajudando a espalhar mais um boato.

P.S. Momento Teoria da Conspiração: Vocês já pararam pra pensar que, se for verdade que a Marieta recebeu dinheiro pra falar bem do governo, o único lugar em que ela falou foi no programa do Faustão? E isso, depois do apresentador ter levantado a bola. Logo, sem a participação direta dele, em um roteiro muito bem elaborado, isso nunca teria acontecido. Logo, o Faustão também está recebendo dinheiro do governo! Putz! Mais um alvo pras pedras virtuais! Ah, melhor avisar: esse texto contém ironia.

“Os estatutos do homem” e outros dois poemas profundamente humanistas de Thiago de Mello

“Os estatutos do homem”  e outros dois poemas profundamente humanistas de Thiago de Mello

O muro invisível

É inútil minha palavras
ultrapassarem fronteiras
se eu ainda permaneço.

Muro invisível existe
entre o dizer e o fazer
e, talvez, à sua sombra
apenas envelheçamos.

Jamais saberá a relva
quando o orvalho descerá,
e é dádiva da terra
o que amadurece os frutos.

Sou qual ávida planície
esperando vir dos céus
a chuva fertilizante.
Entrementes, vejo flores,
sem saber se as colherei.

Livra-nos

livra-nos dessa sedução voraz
da engrenagem organizada e fria
que nos devora a todos a ternura,
a alegria de dar e receber
o gosto de ser gente e de viver.

É preciso ajudar.
porém primeiro,
para poder fazer o necessário,
é preciso ajudar-me, agora mesmo,
a ser capaz de amor, de ser um homem.
Eu que também me sei ferido e só,
mas que conheço este animal sonoro
que profundo e feroz reina em meu peito.

Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
…………….A Carlos Heitor Cony

Artigo I 
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III  
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança. 

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu. 

        Parágrafo único:  
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino. 

Artigo V  
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa. 

Artigo VI  
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. 

Artigo VII  
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo. 

Artigo VIII   
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor. 

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura. 

Artigo X  
Fica permitido a qualquer  pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco. 

Artigo XI 
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã. 

Artigo XII   
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela. 

        Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor. 

Artigo XIII 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou. 

Artigo Final.   
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Três inesquecíveis poemas de Hilda Hilst

Três inesquecíveis poemas de Hilda Hilst

Dez chamamentos ao amigo
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
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Aquela
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

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Obriga-me
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo, prazer, lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro.
E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Hilda Hilst (1930 a 2004), poetisa brasileira.

A questão feminina e o poder punitivo

A questão feminina e o poder punitivo

Por Bartira Macedo de Miranda Santos

O poder punitivo, como todo poder, pode ser analisado como uma relação de força, um mecanismo de repressão. O poder é aquilo que reprime os indivíduos, ou as classes, fazendo-os se comportarem de determinada forma, e não de outra, e será eficiente na medida em que não precise utilizar a força. Na modernidade, o poder não se exerce pela força da espada, mas pela força da manipulação ideológica, que não constrange, mas convence o indivíduo a, voluntariamente, incorporar determinado sistema de crenças e agir de acordo com elas[1].

As mulheres sempre foram alvo do poder punitivo. Na Idade Média, eram queimadas acusadas de bruxaria. Nas Ordenações, o marido tinha o direito de matar a mulher surpreendida em adultério. Mesmo após a República, as mulheres foram subjugadas pelo poder punitivo (público e privado).

O poder, como uma relação de força, apresenta-se, na sua forma mais extrema, como o poder de matar. E é fato que muitas mulheres ainda hoje estão submetidas ao poder masculino, pois, caso não se comportem da forma esperada, estão sujeitas a receber esta punição: a morte.

A pergunta a ser feita é: o que o Estado tem feito para conter a violência contra a mulher? A esta pergunta nos dedicaremos em outra oportunidade. Por ora, chamamos a atenção para a questão da repressão ao feminino por meio do sistema punitivo. Vamos demonstrar as representações da “mulher” no sistema punitivo por meio da música.

Há duas representações de “mulher” no direito penal e no sistema punitivo como um todo. Uma delas diz respeito à mulher autônoma, senhora de seu destino, indomável, independente, principalmente quanto à sua sexualidade e à disposição do próprio corpo. É, por exemplo, o “eu lírico” da canção “Folhetim”[2]:

Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim

E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim

E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis

Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim

A mulher aqui retratada é um ser que pressupõe estar numa relação de iguais (“Se acaso me quiseres”) e estabelece as regras (“se quiseres, fique sabendo que só digo sim por uma coisa à toa”). Ela aceita mimos, gentilezas, “um sonho de valsa”, mas não está interessada em um provedor, em dinheiro ou casamento. Ela avisa ao interlocutor que lhe dirá meias verdades e o fará vaidoso (é ela que o faz pensar que é o maior). É uma mulher que assume querer uma relação apenas sexual, de momento, sem nenhuma outra pretensão ou expectativa.

A outra figura retratada no imaginário punitivo é a mulher honesta, casta, pura, virgem. É a mulher dependente, submissa, subalterna. É a mulher que age exatamente da forma que lhe é esperada, pois introjetou os saberes e as ideologias que moldam seu modo de ser e de pensar. É a famosa Amélia: “Amélia não tinha a menor vaidade / Amélia que era mulher de verdade”[3]. Na canção de Vinícius, essa mulher possui “uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher / Feita apenas para amar / Para sofrer pelo seu amor / E para ser só perdão”[4].

Essas são duas figuras imaginárias, nenhuma mulher é integralmente uma ou outra, mas são modelos que ajudam a pensar a questão feminina em sua relação com o poder punitivo. A primeira mulher, autônoma e independente, é tratada no Direito Penal como a vítima provocadora, que desafia o sistema e que, quando assassinada, dará ensejo a teses defensivas como “a legítima defesa da honra”, que a colocam como verdadeira causadora do crime. Veja, por exemplo, o julgamento de Doca Street, que matou Angela Diniz. A vítima foi retratada como a “Pantera de Minas” e desqualificada como uma mulher de vida desregrada. Defendido por Evandro Lins e Silva, Doca foi absolvido e o caso virou o livro A defesa tem a palavra[5]. Posteriormente, o júri foi anulado e, submetido a novo julgamento, o réu foi condenado.

Já a segunda figura feminina, a mulher honesta, é a vítima propriamente dita, tratada como um ser frágil, débil, que precisa de proteção. É a mulher que o Código Penal de 1940 colocou como sujeito passivo do crime de “posse sexual mediante fraude”, previsto no então art. 215[6], ou o crime de “atentado ao pudor mediante fraude”[7] (art. 216). Nelson Hungria dizia que mulher honesta é “não somente aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral sexual, é irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu com ominimum de decência exigida pelos bons costumes”[8]. Somente em 15 de agosto de 2009, com a Lei 12.015/2009, a expressão “mulher honesta” foi abolida do Código Penal. Esta mulher, frágil e débil, é a mesma que a Lei Maria da Penha não permite que se retrate livremente do direito de representação contra seu suposto agressor.

O poder punitivo exerce opressão contra as mulheres, de modo que chega a ser invisível a repressão sofrida. A mulher ainda é um ser que tem sua individualidade e sua capacidade de autodeterminação desconsideradas. Esse poder punitivo se manifesta silenciosamente pelo controle da sexualidade feminina. As mulheres são reprimidas por meio de sua sexualidade. Em consequência, o medo de ser “puta” as oprime e molda seu modo de vida. Mulheres com vontade própria não são compreendidas e são tidas como “folha seca”, que “vai onde o vento quer”. Veja, a propósito, a letra da música “Folha Seca”, de Amado Batista:

Fazia um dia bonito quando ela chegou,
Trazia no rosto as marcas que o sol queimou,
Disse que estava cansada sem lugar para ficar,
Tive pena do seu pranto e disse pode entrar.

Como se me conhecesse ela me contou,
Seu passado de aventura
Onde ela passou,
E eu sem nem um preconceito,
Com amor lhe aceitei, um mês e pouco mais tarde,
Com ela me casei.

Mas um dia sem motivos ela me falou,
Vou me embora desta casa e do seu amor,
Pra dizer mesmo a verdade eu nunca te amei,
Por teu pão e tua casa foi que eu fiquei.

Era uma tarde tão triste quando ela partiu,
Na curva daquela estrada ela então sumiu,
Era como folha seca que vai onde o vento quer,
Me enganei quando dizia tenho uma mulher.

A música retrata um homem protetor, salvador: ela estava “perdida”, desamparada e ele a salvou, a acolheu em sua casa. Ela era uma “puta”, tinha um “passado de aventura”, mas mesmo assim ele a aceitou sem preconceito, e mais: casou-se com ela. Um dia, ela resolve ir embora e lhe diz a razão: “eu nunca te amei”, mas para ele isso não é um motivo. Afinal, o que mais uma mulher poderia querer da vida além de um casamento, um homem que lhe desse casa e comida? Ele não consegue vê-la como um ser livre, independente, com autonomia e capacidade de decidir o próprio destino: “Ela é como folha seca que vai onde o vento quer”. Por fim, ele diz “me enganei quando dizia tenho uma mulher”. Ele pensava que tinha uma mulher = submissa, escrava, anulada em suas vontades, subalterna e submissa às vontades do Homem; quase uma coisa, da qual é possível se apropriar. Conclusão: ela era uma “puta” mesmo.

Uma mulher “puta” não é apenas a que faz sexo mediante pagamento (prostitutas ou profissionais do sexo), mas aquela “que dá para quem ela quer”, ou seja, faz sexo com quem decide que fará. Enfim e em suma, é uma mulher que não aceita que o Estado, a família, a igreja ou quem quer seja lhe diga com quem, onde, quando e de que forma manterá suas relações sexuais.

Interessante notar que, tanto uma como a outra, quando a mulher pratica um homicídio, contra seu marido ou companheiro, será julgada tendo em vista a mesma pena prevista para os homens. Elas serão punidas da mesma forma. Não há nenhuma causa de diminuição de pena, nem atenuante que a socorra especificamente.

Por outro lado, a Lei 13.104/2015 introduziu, no ordenamento jurídico-penal brasileiro, a figura do feminicídio, um nome iures dado a uma nova qualificadora do crime de homicídio (art. 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal), fortalecendo o poder punitivo e estabelecendo novas causas de aumento de pena (art. 121, § 7º, Código Penal). No entanto, esta lei resume-se a dizer: “homens, não matem as mulheres”. Esta mensagem talvez diga alguma coisa acerca do nosso estado civilizatório: as mulheres ainda são subjugadas por serem mulheres. Sofrem na pele as agruras do poder punitivo em sua forma mais cruel: a produção da morte. A lei não trouxe nenhum benefício ou empoderamento às mulheres. Antes tivesse regulamentado a prostituição, pois aí sim teria a simbologia de afirmar o poder e o direito de as mulheres disporem do próprio corpo, de sua sexualidade, sua vida e seu destino.

Portanto, percebe-se que a proteção que o sistema penal afirma exercer em prol das mulheres manifesta-se como uma tecnologia discursiva que, alarmando defendê-las, nada mais faz do que complementar a estrutura social opressora e o controle do comportamento feminino por meio da vigilância moral do seu corpo e da sua sexualidade.

Bartira Macedo de Miranda Santos é professora de Direito Penal e Direito Processual Penal da Universidade Federal de Goiás; Pós-doutoranda pela PUC-GO e bolsista Capes.

contioutra.com - A questão feminina e o poder punitivo

[1] Trecho do nosso livro Defesa Social: uma visão crítica. São Paulo, Estúdio Editores.com, 2015, p. 13, Coleção Para Entender Direito. Organizadores: Marcelo Semer e Márcio Sotelo Felippe.
[2] “Folhetim”, composição de Chico Buarque de Holanda, que se tornou conhecida na voz de Gal Costa.
[3] “Ai, que saudade da Amélia”, canção de Mário Lago e Ataufo Alves.
[4] “Samba da benção”, composição de Vinicius de Moraes e Baden Powell.
[5] Evandro Lins e Silva, A defesa tem a palavra: o caso Doca Street e outras lembranças. Há três edições pela Editora Aide, sendo elas de 1980, 1984 e 1991. Recentemente, em 2011, a Editora Booklink reeditou o livro.
[6] Posse sexual mediante fraude
Art. 215. Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude:
Pena – reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único. Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze anos:
Pena – reclusão, de dois a seis anos.
[7] Atentado ao pudor mediante fraude
Art. 216. Induzir mulher honesta, mediante fraude, a praticar ou permitir que com ela se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal:
Pena – reclusão, de um a dois anos.
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de dezoito e maior de quatorze anos:
Pena – reclusão, de dois a quatro anos.
[8] Nelson Hungria, Comentários ao Código Penal, volume 8, p. 143.

A fonte indicada é o site parceiro: Justificando

“O caqui”, uma belíssima crônica de Rubem Alves

“O caqui”, uma belíssima crônica de Rubem Alves

O CAQUI

Gosto muito da Itália. Lá fiz muitos amigos. O que sinto é não saber falar italiano, uma língua tão bonita. Lá, quando vou fazer uma fala, tenho de me valer de um intérprete. De vergonha, pus-me a estudar italiano. Estudo o “Berlitz” antes de dormir.

Pois me convidaram a fazer uma fala num congresso da “Fundação da Carta da Terra.” Carta da Terra é um tipo de “Direitos Humanos”. É um documento lindo, que deveria ser objeto de estudo nas escolas e no Congresso Nacional.

Pediram-me que falasse poeticamente sobre “Jardins”, que é um dos temas que repito sempre. O que é belo deve ser repetido, como os poemas e as músicas. Mas, vocês sabem, existe dentro de mim um Rubem brincalhão… Aí comecei a falar sobre o “Paraíso”, que é o grande sonho de Deus – para aqueles que lêem as Escrituras Sagradas.

Lembrei-me da tela de Dürer em que pintou Adão e Eva, os seres paradisíacos. Adão e Eva, corpos esculturais, cheios de vida. Notei, entretanto, que o pintor cometeu três erros.

Primeiro, ele colocou umbigos na barriga de Adão e de Eva. Por esse erro ele poderia ter ido parar na fogueira. Esse detalhe, Adão e Eva com umbigos é, claramente, uma heresia. Umbigos só existem em seres nascidos de mulheres. Mas Adão e Eva não nasceram de mulheres. Saíram diretamente das mãos do Criador. Portanto, não tinham umbigo.

Segundo erro: Adão e Eva foram pintados ainda no seu estado de inocência. Prova disso está no fato de que as maçãs que têm nas mãos ainda não foram mordidas. Estão inteiras. Portanto, como diz o texto bíblico, eles estavam nus e não se envergonhavam. Assim sendo, não existe razão alguma para que eles sejam pintados colocando o precário galho com uma maçã na ponta sobre as partes mais interessantes do corpo. Eles deveriam estar exibindo despudorada e castamente a sua linda nudez.

E, em terceiro lugar, o pintor pintou a maçã como sendo o fruto tentador, o furto [ Revisor: é “furto” mesmo ]proibido. O que está errado. O fruto proibido tinha de ser um fruto de potência sedutora máxima. O que não é o caso da maçã. A maçã é fruta pudica. Não se despe por vontade própria. Só tira a roupa sob a violência da ponta da faca. E ainda geme quando é mordida. Comer uma maçã é sempre um estupro.

Acho que o fruto tentador só poderia ter sido o caqui. O caqui inteiro é tentação. É só olhar pra ele para que ele diga, vermelho e lascivo: “Me coma, vá…” E basta relar o dedo na sua carne para que ele se dispa e seus sucos vermelhos comecem a escorrer.

As potências eróticas, heréticas, filosóficas e teológicas do caqui estão presentes no poema “O Caqui”, de Heládio Brito:
“O vento, o vento ali.
Mínimo sol por d’entre galhos,
de trás, de frente, álacre, o caqui.
Um ser-aí. Cá, aqui.
Redondo gesto e gesta vegetal
e uma festa de cor, pingo no i.
Bem maior que a pi-tanga,
menor que a manga,
o seu raio (ex)sangra,
dois, vezes o pi.
A pele tranasluz. Si dá.
A carne é mansa. E-d’entro
o hirto centro: sêmen
te do existir e hífen do prazer.
Não vi? E é fruta.
Ou é fruto do inconsciente?
Abrupto estar, não-ser-aíí?
Ou é silêncio ou grito?
Ou é sumo ou suma teológica?
Uma fruta? Fruto-em-si?
Comi? Ou não comi?
E é acre. Doce. Pouca.
Nódoa, travo na boca. E o vento, o vento ali…”

( Oficina, Papirus, p. 11 ).

Foi isso que disse Adão depois de comer o caqui…

No dia seguinte recebi um telefonema de uma pessoa que eu não conhecia. Convidava-me a visitar um prédio que em tempos passados havia sido um mosteiro onde viviam reclusas e castas duzentas freiras. Aceitei o convite e fui na hora marcada. Ele me levou então para o jardim interior do mosteiro e me contou a seguinte história:
“Depois da bomba atômica que matou 200.000 pessoas em Hiroshima e torrou todas as coisas vivas, houve uma árvore que sobreviveu. Era um caquiseiro. Esse caquiseiro passou a ser então, , para o japoneses, um símbolo do triunfo da vida sobre a morte. Os japoneses o tomaram sob seus cuidados, colheram seus frutos, plantaram suas sementes e espalharam suas mudas por muitas cidades do mundo. Uma das cidades agraciadas com essa dádiva fora Brescia, onde estávamos.”

Me apontou então para uma árvore plantada no meio do jardim. Estávamos diante de uma filha ( quem sabe uma neta?) do caquiseiro que sobrevivera à bomba atômica de Hiroshima…

Senti-me como Moisés diante da árvore que se incendiava sem se consumir… Com medo de estar fazendo um pedido impróprio, perguntei-lhe se me seria permitido apanhar três folhas do caquiseiro. Ele disse que sim. Apanhei as folhas. Coloquei-as dentro de guardanapos de papel para desidratá-las. Trouxe-as para Campinas. Pintei-as com verniz para preservá-las do contacto com o ar. A seguir levei-as a uma loja especializada e mandei fazer um quadro.

As folhas estão agora na minha parede. Quem só vê o quadro não entende: as folhas não têm nenhuma beleza especial… Então eu conto a estória…
Passadas duas semanas recebi da Itália um e-mail. Informavam-me que a fundação que cuidava do caqui estava disposta a dar-me uma muda a ser plantada nalgum lugar. Onde? – me perguntei. Não na minha casa. Aquela árvore é um símbolo para o mundo todo. Não num jardim público. Tenho medo dos vândalos. Imaginei então que um bom lugar seria a Fazenda Santa Elisa. Faríamos um jardim cercado por um espelho de água com peixes e plantas aquáticas… E no centro, protegida pelo espelho dágua, a arvorezinha.

As escolas poderiam levar as crianças para visitá-la. E então os professores e professoras lhe contariam a história.

Conheça o Instituto Rubem Alves e participe de seus projetos.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

A pior mãe do mundo!

A pior mãe do mundo!

Por Adriane Sabroza

Quem, desde que seja mãe de uma criança entre três e dez anos de idade nunca ouviu esta frase?

E não adianta disfarçar, porque quando cada palavra dessa ressoa no seu ouvido, tem o peso de uma tonelada jogada sobre a sua cabeça.
Ninguém quer ser a pior mãe do mundo, não é mesmo?

A gente quer ser aquela mãe divertida, legal, pra quem os filhos contam tudo, com quem os amigos dos filhos gostam de estar, a famosa “melhor amiga” dos filhos. Mas, cá estou eu, na difícil tarefa de te lembrar uma coisinha: Você não é a melhor amiga do seu filho, pode até ser uma grande amiga, mas é antes de tudo, mãe.

E ser mãe abrange uma enorme gama de adjetivos que vão desde “a pessoa mais maravilhosa de todo o universo” até “a pior mãe do mundo”. Bem assim, desse jeito.

Porque ser mãe é plural. Mãe abraça, acolhe, ensina, briga, chora, castiga, fala demais, critica, reclama, acalma, corrige, suporta, carrega, amamenta, acarinha, resolve, diverte, faz chorar, diz sim, diz não… ufa! Mãe também cansa. E se cansa… E é por isso que ouvir “você é a pior mãe do mundo” machuca tanto. Afinal, como assim??? Depois de tudo o que eu faço? De todo o meu esforço para dar o meu melhor?

O que a gente esquece, no meio dessa loucura toda que é conciliar a maternidade com tudo o mais que acontece nas nossas vidas, é que ser “a pior mãe do mundo” é requisito fundamental para que sejamos uma boa mãe.

A pior mãe do mundo é aquela que dá limites, muito mais do que presentes. Ela se faz presente num mundo onde, cada vez mais, a educação dos filhos é delegada às escolas, babás ou mesmo ao computador.

A pior mãe do mundo sabe que o comportamento errado sempre gera punição, senão pelos pais, futuramente, pela vida, sem dúvida nenhuma.
A pior mãe do mundo sabe que ao impor limites não receberá elogios ou sorrisos, mas sabe que estes um dia chegarão aos filhos, no tempo correto.

A pior mãe do mundo não teme desagradar, até porque confia na relação de amor que estabelece, simplesmente porque ela está lá.
A pior mãe do mundo sabe a responsabilidade que é educar um filho pra vida e que a maternidade foi escolha sua e consciente, o que não há como negar em pleno século 21, não é mesmo?

A pior mãe do mundo, aliás, como todas as outras, deseja o melhor pro seu filho, só que ela não teme o desagrado, pois entendeu que seu papel não é o de um animador de festas, mas de alguém que também precisa ensinar sobre regras e as consequências por não cumpri-las.
A pior mãe do mundo é aquela que não teme dizer o não, pois sabe que o amor do filho também é incondicional e que mesmo diante dos maiores protestos e até tentativas de transgressão, pois isso faz parte do crescer, o amor ainda estará lá, do mesmo jeito de quando vocês se olharam pela primeira vez e quando ele ainda não sabia que a melhor e a pior mãe do mundo são exatamente a mesma pessoa.

A foto que emocionou o mundo: menino, morador de rua, se vale da luz do McDonald’s para fazer lição de casa

A foto que emocionou o mundo: menino, morador de rua, se vale da luz do McDonald’s para fazer lição de casa

De joelhos no chão com um lápis na mão; um livro aberto e uma “mesa” improvisada.

As imagens emocionaram o mundo ao mostrar uma criança, sem-teto, fazendo sua lição de casa na rua, usando a luz de um restaurante do McDonald’s para conseguir enxergar.

Ele demonstra ser estudioso e se concentra em suas obrigações escolares. Sua casa foi destruída durante um incêndio e a mãe, que é viúva, cuida dele e de um irmão doente.

A foto foi registrada em Manila, capital das Filipinas, pela estudante Joyce Torrefranca.

Estudantes que observaram a cena se sentiram tocados, pois nem sempre possuem a motivação ou vontade em fazer seus trabalhos de casa pedidos durante a aula.

Seu nome é Daniel Cabrera e todas as noites usa a luz do restaurante, mesmo estando por horas, ou dias, em jejum.

Ele comentou: “Apesar da minha situação atual, estou determinado em terminar meus estudos e ser capaz de ajudar minha família”, de acordo com declaração da CBN News.

Rosalina Detuya, uma das professoras de Daniel, disse: “Daniel é uma criança feliz. Ele também é inteligente e realmente participa e responde durante as discussões em classe, ele participa muito”.

Um oficial do bem-estar social do país visitou a família nas ruas para saber o que pode fazer para eles em termos de assistência, para ajudá-los no sustento.
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Fonte indicada: Jornal da Ciência

“Calcanhar de Aquiles”, você conhece a origem dessa expressão?

“Calcanhar de Aquiles”, você conhece a origem dessa expressão?

O mito de Aquiles é um dos mais ricos e complexos – na “Ilíada”, de Homero, ele aparece 292 vezes! Segundo a mitologia, Tétis, mãe de Aquiles, para imortalizá-lo, mergulhou-o nas águas do rio Estige, que tinha o poder de tornar invulnerável o corpo de quem nele fosse banhado. Ao fazer isso, Tétis segurou o filho pelo calcanhar.

E assim o corpo de Aquiles ficou todinho invulnerável, exceto no local onde a mãe o segurou.

Anos depois, Páris leva para Tróia Helena, a mulher de Menelau, rei de Esparta. Pronto, vai começar a Guerra de Tróia, entre gregos e troianos. Aquiles é convidado para integrar a expedição grega vingadora e aceita. Tétis, que conhece o futuro, previne o filho de que a guerra o levará à morte. Aquiles não dá ouvidos à mãe, nem mesmo ao seu último conselho: “Aquiles, meu filho, pelo menos bota uma meia”.

Aquiles vai à luta e, numa batalha, é morto por uma flechada no calcanhar. Daí a expressão “calcanhar de Aquiles”, utilizada para designar o ponto vulnerável de alguém.

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Texto de Reinaldo Pimenta, no livro “A casa da mãe Joana – Curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas” – Editora Campus

Afrobetizar a educação no Brasil

Afrobetizar a educação no Brasil

Por Vanessa Cancian no Namu

No morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro, a psicóloga Vanessa Andrade ouvia com frequência: “Ai tia que cabelo feio” ou então “tia bruxa”. Essa era a reação dos pequenos quando ela passava pelas ruas com seu cabelo afro. Segundo Andrade, isso ocorria porque essas crianças estavam desacostumadas a enxergar a beleza presente no jeito negro de ser. “Isso me doía muito, mas ao mesmo tempo me convocava para uma missão maior de tentar mudar o pensamento dessas crianças”, conta a psicóloga e coordenadora do projeto Afrobetizar.

Quando se trata de identidade, as escolas brasileiras são monocromáticas nos livros e nas histórias. Nossa educação não possibilita que alunos negros encontrem seu caminho e conheçam o lado verdadeiro da vida e da cultura africana presente de forma intensa no Brasil. Com a finalidade de mostrar que outra pedagogia é possível, Andrade iniciou um trabalho intenso de transformação social no Cantagalo.

“O Afrobetizar surgiu da necessidade de trabalhar uma pedagogia diferente, que fizesse com que as crianças descobrissem o próprio corpo através de reconhecer a beleza de ser negro”, diz a psicóloga. Segundo ela, a ideia que coloca professores negros que cursaram ou estão na universidade, realizando projetos de sucesso na vida, tem como intuito trabalhar o protagonismo negro e inverter o processo histórico que sempre colocou o negro como ser inferior em relação ao branco.

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Nosso corpo é nosso território

“Com o tempo tivemos a ideia de fazer ações contínuas com as crianças da comunidade”, conta Andrade, a qual ao lado de Gessica Justino e Aruanã Garcia, forma a equipe de professores que organizam oficinas semanais com as crianças em busca de descontruir preconceitos e fortalecer os saberes que não chegam aos pequenos por meio da escola convencional.
“Eu sempre acreditei que não adianta ficar no blábláblá, é preciso provocar a criança com as sensações e com corpo”, diz a psicóloga. Vanessa Andrade pontua que esse é um projeto que trabalha com corporeidade, mas não aquela que se esgota no movimento de dança ou de capoeira e sim a capacidade de ter consciência e acesso às possibilidades corporais. Isso ajuda essas crianças a assumir espaços nos quais tradicionalmente não estão inseridas.

Ensinar além dos livros

A Lei nº 10.639 de 2003 estabeleceu que a história e cultura afro-brasileira e indígena fossem inseridas na educação do país. Ainda assim, os livros que carregam a informação sobre outros personagens fundamentais para a história e a formação da identidade brasileira chegam a passos lentos nas escolas do Brasil. Para Andrade, existe um esforço para que essa lei seja respeitada, mas falta potencializar a descoberta de metodologias para aplicá-la.

“Não basta dizer para as crianças que é lindo ser negro. Contar quem foi Zumbi e Maria Carolina de Jesus. Essas crianças precisam viver uma experimentação positiva para que elas interiorizem esse sentimento de valorizar a própria cultura”, relata. A psicóloga reconhece a importância de transformação presente na lei, porém, vê também a necessidade de trabalhos que afetem de verdade as crianças e jovens.
“A sensação que eu tenho com relação a essa lei é que há uma corrida para que ela seja aplicada através de livros, mas se não tiver um trabalho além do papel, não adianta”, diz Andrade. Para ela o “letramento corporal” que contemple o campo sensorial e entre no mundo de cada criança é fundamental.

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Projeto no Museu de Favela

O projeto é realizado na sede administrativa do Museu de Favela – MUF. O local foi criado por moradores do Cantagalo e conta a história da origem da favela através de grafites nas paredes das casas das pessoas que vivem ali. No espaço cedido para o Afrobetizar, há cerca de 30 crianças que participam com frequência das atividades.

“O MUF é o primeiro museu a céu aberto criado em uma favela”, conta Andrade. Segundo ela, as pinturas foram feitas para proteger os moradores desse lugar que sofriam com a ameaça de serem retirados de suas casas. Localizado na zona sul do Rio de Janeiro, a ameaça da especulação imobiliária fez com que a população se unisse e utilizasse o museu estratégia como estratégia de sobrevivência nessa região.

Com o passar do tempo, o MUF tornou-se uma referência em grafite e passou a integrar um dos pontos turísticos da cidade maravilhosa. A iniciativa popular é reconhecida como o primeiro museu territorial e vivo sobre memórias e patrimônio cultural de uma favela no mundo.
As fotos da reportagem foram feiras pela equipe do Coletivo Baobá, projeto de comunicação que também trabalha em parceria com o Afrobetizar.

Quer ver mais textos como esse? Acompanhe também o Portal Namu.

Razão e sensibilidade em todos os tempos

Razão e sensibilidade em todos os tempos

Por Patrícia Dantas

O que queremos com nossa quantidade de razão e sensibilidade espalhadas e desconexas em nossos poros de amores, inspirações, loucuras, paixões e de morte?

Se não temos a métrica perfeita para medir toda essa explosão dentro da gente, essa harmonia deixa o ser humano assaltado dentro de si, porque um não se une ao outro; a razão é metódica com os sentimentos, gregária em seu espaço; a sensibilidade é predadora da própria carne, exploradora de cada lugar por onde passa. Ainda hoje parece meio controverso unir razão e sensibilidade.

Jane Austen, nos séculos dezoito e dezenove, pensou a razão e a sensibilidade buscando adaptações necessárias para esses poros e polos humanos. Ela sentiu, talvez, o que os outros sentiam frente a esses dois enigmas poderosos o que muita gente não sabia exprimir ou lutar para chegar a uma liberdade permitida dentro daquela sociedade inglesa provinciana, cheia de normas e exigências morais. Assim, ela deu vida a Razão e Sensibilidade, orgulho e Preconceito, Persuasão, Emma, só para citar alguns dos seus livros.

Escrever sobre essa sociedade romântica, observar a vida das pessoas, comparar os gestos, os papeis, os arranjos permitidos, exigia sobretudo um olhar mais questionador e à frente do seu tempo.
Embora se pagasse uma cara resistência por assumir tal postura, encontrava muitas mentes pensantes sobre essas particularidades que incendiavam a vida de muitas pessoas, principalmente as mulheres que desejavam conquistar mais espaços de liberdade, sem o consentimento das suas famílias.

Estava na hora de começar algumas mudanças: pensando, dialogando, escrevendo, atuando. E tudo isso não passava despercebido, havia questionamentos e um mal-estar barulhento dentro de algumas almas que queriam se libertar e ganhar voz ativa, opinar, assumir uma postura que valesse em qualquer lugar, já não aceitavam mais tão passivamente as regras do jogo.

E em nosso tempo presente, será que temos essa inquietação para a conquista de uma liberdade maior para as sensações e sentimentos que nem sempre entendemos como são tão íntimos e nossos? É razão, é sensibilidade, é o que? Quem merece prioridade dentro das nossas vidas tão cheias de afazeres diários? Nem sempre temos tempo para pensar e fazer a escolha mais sensata frente ao mundo caótico e prático que nos cerca.

Muitos poetas, escritores, filósofos, pessoas e pessoas pensam diariamente nessa abstração de temas que tomam conta do nosso cotidiano acelerado e tantas vezes ausente, que dão origem aos romances e ficções comuns a todos os tempos, com outros vieses, outras conotações, outros meios.

E esse tempo que se apega a nós, trazendo novidades tão cheias de interpretações e compreensões diversas também nos traz outras razões e sensibilidades diante das nossas escolhas.

É somente o meu ato, minha continuidade, o meu olhar que estendo ao outro que podem medir minha presença nesse burburinho caótico e acelerado das horas que refletem nosso ser em algum lugar possível de chegar. Talvez um dia contem como foi esse nosso tempo.
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10 filmes imperdíveis sobre a história da arte

10 filmes imperdíveis sobre a história da arte

Por Octavio Caruso

Como sempre faço, revi todos os filmes e conheci outros, na tentativa de incluir nessa lista dez obras importantes, algumas subestimadas, famosas e valiosos tesouros escondidos, sem ordem de preferência, com breves introduções objetivando o despertar do interesse. Levei em consideração as cinebiografias e roteiros que envolvam pintores, reais e fictícios, ou a arte da pintura.

Sede de Viver (Lust for Life – 1956)

Com direção de Vincente Minnelli, Kirk Douglas, em grande momento, vive Van Gogh, em um roteiro de estrutura linear, que se foca nos conflitos internos do artista, sem romantizar o homenageado, expondo seu gradual abraço na insanidade, com as telas exibidas durante as cenas, um recurso que traz ainda mais elegância ao projeto.

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Frida (2002)

Salma Hayek, em seu melhor trabalho, vive Frida Kahlo, em um roteiro bastante fiel, sem se intimidar com os aspectos mais cruéis dos vários obstáculos que ela superou, sem apelar para o melodrama piegas, e que funciona como uma excelente introdução aos estudos sobre a pintora mexicana. E, emoldurando a trama, uma fotografia impecável de Rodrigo Pietro.

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Os Amantes de Montparnasse (Les Amants de Montparnasse – 1958)

Cinebiografia dirigida por Jacques Becker, que retrata o atribulado último ano de vida do pintor italiano Amedeo Modigliani, vivido pelo francês Gérard Philipe, depois que ele conheceu e se apaixonou loucamente pela colega artista Jeanne Hébuterne. O roteiro se aprofunda no vício dele pelo álcool, atormentado por seus fracassos, a incapacidade de vender suas pinturas a um público que não compreende seu trabalho.

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Agonia e Êxtase (The Agony and The Ecstasy – 1965)

A competente direção de Carol Reed equilibra os excessos histriônicos de Charlton Heston, que vive o pintor e escultor renascentista Michelangelo, com o roteiro focado na eterna disputa entre ele e o Papa Júlio II, vivido por Rex Harrison, enquanto ele trabalhava na pintura do teto da Capela Sistina. A trama tem problemas de ritmo, porém, isso é compensado pelos excelentes diálogos, abordando a relação entre arte e fé, a impossibilidade de domar os instintos de um criador ao delimitar o terreno de sua imaginação.

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Andrei Rublev (1966)

A Rússia do século XV passa por um período turbulento, o povo sofre injustiças e está fragilizado pela fome. Nesse cenário, acompanhamos um pouco da vida do pintor Andrei Rublev, que mais tarde abandonaria seu ofício para dedicar-se a Deus. Um dos melhores trabalhos do diretor Andrei Tarkovski, uma obra-prima intimista do cinema mundial, que somente melhora a cada revisão. “O que hoje é elogiado, amanhã será criticado e depois de amanhã, esquecido. Eu e você seremos esquecidos. Todos serão. Tudo se resume a vaidade e é transitório. Tudo gira num ciclo eterno. Se Cristo voltasse à Terra, seria crucificado novamente”.

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Edvard Munch (1974)

O diretor Peter Watkins, da pérola pouco conhecida: “Privilégio”, comanda a cinebiografia, misto de documentário e ficção, do pintor expressionista norueguês responsável por obras como “O Grito”. A opção de filmar quase sempre em primeiro plano, buscando o que se esconde por trás dos olhos, nas intenções dos atores, explorando camadas de narrativa sobrepostas, oferecendo um retrato visceral da juventude de um artista que, em vida, teve seus trabalhos hostilizados por grande parte do público.

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Basquiat – Traços de Uma Vida (Basquiat – 1996)

O diretor Julian Schnabel, que viria a comandar o ótimo “O Escafandro e a Borboleta”, nos transporta para a década de oitenta, abordando a ascensão meteórica do jovem
grafiteiro Jean-Michel Basquiat (Jeffrey Wright), que foi descoberto por Andy Warhol, no cenário artístico contemporâneo. O roteiro se destaca pela sensibilidade com que retrata o homenageado vanguardista, evidenciando o preconceito racial e os meandros da indústria. “E nunca poderá se explicar para alguém que usa os dons de Deus para escravizar, que você usou os dons de Deus para ser livre”.

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A Bela Intrigante (La Belle Noiseuse – 1991)

O processo criativo do recluso Édouard Frenhofer, pintor fictício vivido por Michel Piccoli, que encontra sua musa renascida na namorada de um colega. Depois de anos de inatividade e falta de inspiração, a jovem revigora sua carreira artística. Obra pouco citada do ótimo diretor Jacques Rivette, que merece ser redescoberta. Não se intimide pela longa duração, quase quatro horas, esse é um daqueles filmes que você irá indicar para seus filhos e netos.

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Cristo Parou em Éboli (Cristo si è Fermato a Eboli – 1979)

Adaptação refinada, dirigida por Francesco Rosi, da obra autobiográfica do pintor Carlo Levi, que relata o período de sua prisão política domiciliar em uma atrasada e remota vila italiana, onde, longe dos intelectuais, incapaz de exercer seu trabalho, o artista irá entrar em contato com hábitos simples, misticismo religioso, e viverá experiências que irão fazer com que ele reavalie sua função na sociedade. Outra obra pouco citada, que, com certeza, entrará na sua lista de filmes favoritos.

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Sonhos (Dreams – 1990)

Nessa última obra-prima de Akira Kurosawa, num dos episódios, intitulado: “Corvos” (referência a “Campo de Trigo com Corvos”), protagonizado pelo diretor Martin Scorsese, um estudante de artes descobre-se dentro do vibrante e, por vezes, caótico mundo dos trabalhos de Vincent van Gogh, durante uma visita a um museu de artes. Num passeio onírico pelas telas, ele encontra o próprio artista e conversa com ele.

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OCTAVIO CARUSO

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Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.

Blog: Devo tudo ao cinema / Octavio Caruso no Facebook

Cansaço – O maior inimigo do sono

Cansaço – O maior inimigo do sono

Por Terezinha Gnoatto

Pode parecer contraditório o que você acabou de ler.

Mas sim, o cansaço tem sido o maior vilão da produtividade e do sono.

Entenda o porquê.

Olhe só esta história.

Há alguns anos, em um desses programas de variedades na TV, um médico estava falando sobre os distúrbios do sono. Foi a primeira e única vez que ouvi alguém fazer uma colocação daquelas.

Em meio a sua fala, comentou que para dormir bem, o corpo precisaria estar descansado.

Ao ouvir isso, a apresentadora, bastante surpresa, interpelou o médico imediatamente, perguntando: “Mas nós não deveríamos dormir justamente para descansar?” – E o médico respondeu que sim, porém explicou que deveríamos estar descansados para que o corpo pudesse cair no sono mais facilmente e alcançar um estado de repouso profundo.

Parece coisa de louco, não é mesmo?

Apesar de estranho, o que o médico quis dizer é: “Não se canse demais.”

Não há dúvida de que na atualidade, os excessos são muitos.

É excesso de trabalho, de compromissos sociais, de viagens, de shoppings, de informação.

Parece que aproveitar a vida tem a ver com envolver-se com alguma coisa, o tempo todo. E descansar? Bem, disso poucos lembram e vão deixando para depois.

Assim, o cansaço só aumenta e os problemas também.

O sono diário é necessário para reparar o corpo, porém quando as pessoas procrastinam a hora de dormir e dormem menos do que deveriam, a fadiga acaba não sendo eliminada totalmente, naquela noite.

E, dia após dia, ela vai se acumulando como poeira em cima de um móvel que não é limpo todo dia. No inicio ela é quase imperceptível, porém em poucos dias é possível ver uma camada fina de pó. Com o tempo, se não for limpo totalmente, forma uma crosta de feia aparência.

Se o corpo não descansa, a “poeira”, tensões que se impregnam em todo sistema, deixa o corpo em condições nada ideais de funcionamento.

O sistema nervoso é um mecanismo que funciona conforme o ritmo da natureza – com períodos de atividade e descanso.

Todo dia o corpo se fadiga pelo desempenho do seu trabalho, o que é normal.  E todo dia essa fadiga deveria ser eliminada com um descanso adequado.

Uma vez que isso não ocorre diariamente, a fadiga se acumula e com o tempo, o corpo não suporta mais e passa a sofrer com a sobrecarga. A produtividade se reduz e o sono demora a chegar.

Por mais incrível que possa parecer, o cansaço gera agitação no sistema nervoso. É assim: o corpo agitado, agita a mente e esta agitada continuadamente, exaure o corpo. E, sem que se perceba, acontece um “toma lá da cá” recíproco. O resultado é cansaço mental e físico, pois a mente influencia o corpo e esse influencia a mente.

É muito comum ouvir pessoas reclamarem de cansaço. Dormem, porém não descansam e outras já têm sérios problemas para dormir.

Dica: Siga o curso da natureza. Após às 18:00, deixe-se levar pela morosidade que o corpo passa a sinalizar.

Tome seu relatório (clique aqui) e veja que anotações você fez.

Se você tem feito coisas demais antes de ir deitar, reavalie.

Estamos aqui para te ajudar a realizar mais, fazendo menos.

Fique em sempre paz!

Meu afetuoso abraço!

Terezinha Gnoatto

P.S1.: A mente sossegada alivia as tensões do corpo. Este, menos agitado, propicia um sono reparador.

P.S2: (Todos os direitos reservados – Registro na Biblioteca nacional)

Reprodução autorizada para a CONTI outra.

Terezinha Gnoatto

contioutra.com - Cansaço – O maior inimigo do sonoUma experiência pessoal sobre o Sono, no inicio de sua carreira corporativa, a levou a pesquisar intensamente o tema e, desvendou conhecimentos incríveis. Desligou-se do mundo corporativo e dedicou-se a projetos para ajudar pessoas a cuidar da própria saúde e bem estar. Fundou a escola do sono como um guia para transformar vidas, um espaço para aprender aquilo que faz bem, com base nas perfeitas leis da natureza.

Para saber mais sobre o tema conheça também o site Escola do Sono

Dos medos da infância ao reconhecimento da dádiva da sensibilidade

Dos medos da infância ao reconhecimento da dádiva da sensibilidade

Por Adriana Vitória

Se existe algo que conheço intimamente é o medo.

Fui uma criança muito forte, mas muito sensível. Em minha meninice sentia-me como se o mundo reverberasse dentro de mim. Tudo era muito barulhento. 

Em casa, eu reagia aos sons que me incomodavam fechando as janelas do meu quarto. Em ambientes sociais como festas, eu ficava incomodada com o excesso de pessoas, os ônibus também me traziam desconforto por causa do barulho do motor.

Eu via as pessoas como seres instáveis, imaginava-as como pequenos vulcões prestes a explodir. Era muito assustador.

Eu tinha medo de tudo, inclusive de sentir medo. A morte, entretanto, eu não temia. Eu a via como um alivio, como uma oportunidade de respirar de novo. 

Não era fácil ter tanta alegria de viver e ao mesmo tempo não querer estar aqui, mas eu vivia e ia aprendendo a lidar com isso, uma vez que ninguém me compreendia.

Aos oito anos, tudo ficou pior. Passei a suar frio e a deixar de comer. Fui para terapia.

Minhas preocupações eram a superpopulação do planeta e saber o que iríamos fazer com tanto lixo. Eu pensava na revolta do povo e na situação das favelas. Enfim, obviamente eu não tinha nenhum coleguinha de escola com quem pudesse partilhar minhas questões. O que eles sabiam de mim é que eu “era louca”. Assim falavam as outras crianças, pois na minha época “só louco” fazia terapia. 

Eu não sabia, mas era uma criança altamente sensível.

As pessoas altamente sensíveis já receberam muitos nomes e conhecem bem a força da incompreensão de quem não vê o mundo com a mesma sensibilidade.

Elas já nascem com essas características diferentes e que não são nem boas e nem más, apenas diferentes. São boas quando bem equilibradas. Nesses casos, os sensíveis percebem o mundo e as outras pessoas com muito mais facilidade, são empáticos e solidários com os sentimentos e necessidades dos outros. Alguns são considerados até sensitivos por perceberem nuances que passam invisíveis aos olhos comuns.

Encontrei minha salvação no contato com a natureza e na terapia. Eu e minha família viajávamos todos os fins de semana e férias para as montanhas. Isso era tudo pra mim. Lá eu gastava horas e mais horas perdida no meio do mato cantando, dançando e fazendo poções magicas.  O retorno era sempre dramático, mas tive que lidar com isso. 

As fases difíceis me acompanharam ao longo de 27 anos, mas eu queria muito da vida e ele não pode me deter.

O medo sempre existiu, é primitivo e todo ser vivo o compartilha conosco. É saudável senti-lo desde que ele só apareça como instinto de sobrevivência: naqueles momentos em que ele nos salva.

Por causa do medo conheci pessoas incríveis, terapias maravilhosas, filósofos, educadores, culturas diversas, mas, principalmente a mim mesma.

Sai de casa cedo, vivi em vários países sem conhecer as pessoas ou a língua local. Durante anos me aventurei por lugares distantes e desenvolvi grande gosto por esse processo de transição, descobertas e constante desapego.

Cresci e aprendi. Aprendi a pedir ajuda, a lidar com meus fantasmas, a lidar com as pessoas, a perceber meus limites, a seguir e respeitar minha intuição. Penso que aprendi a viver. E, vivendo, aprendi que qualquer um pode seguir em frente.  Hoje, com o medo entendido e os limites assimilados, a sensibilidade se fez dádiva.

Adriana Vitória : colunista Conti outra

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Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por  ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem. Página oficial- Adriana Vitória

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