As 5 coisas que seus filhos irão se lembrar sobre você

As 5 coisas que seus filhos irão se lembrar sobre você

Minha esposa Ashley e eu acabamos de ter nosso quarto bebê. Ter um bebê novo em casa me fez sentir mais nostálgico do que o habitual e eu tenho refletido sobre minha própria infância. Eu tenho pensado sobre as memórias que se destacam em minha mente e eu penso sobre as memórias que eu quero que meus próprios filhos tenham. Eu quero ser intencional em cada momento precioso.

Jerry Seinfeld brinca dizendo que, “O único propósito dos bebês é nos substituir! É por isso que suas primeiras palavras são, ‘Mamãe, Papai… Tchau tchau.'”

É uma piada engraçada, mas também um lembrete importante de que a vida é curta e nosso tempo com nossos filhos está passando rápido. Com isso em mente, eu quero tirar o maior proveito de cada minuto e criar o tipo de legado que irá perdurar por muito tempo depois que eu tiver ido embora. Este não é um pensamento mórbido, mas sim uma forma importante de manter o foco no que mais importa a cada minuto que temos com nossos filhos.

Como pais, temos a tendência de nos estressar com coisas que nem são tão importantes. Nossos filhos provavelmente não vão se lembrar de cada detalhe da decoração de nossa casa, ou o quão perfeito nosso jardim era, nem se nossa geladeira estava abastecida com nomes de marcas ou produtos genéricos. Vamos nos concentrar no que realmente importa. Se você quer saber o que seus filhos vão se lembrar sobre você, aqui está:


5 coisas que seus filhos vão se lembrar sobre você:

1. As vezes em que você fez com que sentissem segurança (ou insegurança)

Há uma vulnerabilidade e uma necessidade de proteção no coração de cada criança. Seus filhos vão lembrar daqueles momentos que você perseguiu os monstros debaixo de sua cama ou os acalmou depois de um pesadelo, mas eles também irão se lembrar das vezes em que o seu temperamento tornou-se o monstro que eles temiam. Nossos filhos provavelmente vão nos ver irritados algumas vezes, porque isso faz parte da vida, mas faça sua missão de vida fazer seus filhos sempre se sentirem seguros e protegidos quando estiverem com você.

2. As vezes em que você deu a eles toda sua atenção

Crianças medem o seu amor principalmente pela quantia de atenção que damos a elas. As vezes em que você para o que está fazendo para participar do chá da tarde ou sair para jogar bola ou pular em uma cama elástica serão memórias gravadas em suas mentes e corações para sempre. Reserve tempo para fazer as pequenas coisas com seus filhos, porque no final, esses vão ser os momentos mais importantes.

3. A forma como você interage com seu cônjuge

Nossos filhos estão formando suas opiniões sobre o amor em grande parte observando como tratamos nosso marido ou esposa. Esforce-se para ter o tipo de casamento que os torne animados para se casar algum dia. Dê-lhes a segurança que vem de ver sua mãe e pai em um relacionamento sério e amoroso um com o outro.

4. Suas palavras de incentivo e as de crítica

O coração de uma criança é como cimento fresco e a impressão feita no início da vida vai endurecer ao longo do tempo. Elas irão basear seu senso de identidade, capacidade e até mesmo autoestima, em grande parte nas palavras que você diz a elas naqueles anos de formação. Parte do nosso trabalho como pais é corrigir e disciplinar, mas mesmo ao corrigir, deixe que suas palavras sejam cheias de amor, incentivo e reforço positivo.

5. Suas tradições familiares

As crianças adoram espontaneidade, mas elas também têm uma profunda necessidade de previsibilidade. Elas vão recordar com muito carinho as “tradições” que você estabelecer, seja uma noite de filmes (ou jogos) em família toda semana, um lugar para o qual vocês viajam regularmente em família, a maneira como vocês celebram aniversários e eventos especiais ou qualquer outra tradição especial. Seja intencional ao criar algumas tradições que eles irão querer passar para seus próprios filhos algum dia.

Por Dave Willis, fonte indicada: Família.com

Como Drummond, vamos de mãos dadas

Como Drummond, vamos de mãos dadas

Não me canso de achar estranho como alguns casais se comportam quando se trata de compromisso. A facilidade com que a fila anda e com que se troca de parceiro(a) é rápida para muitos que conheço. E essas mesmas pessoas costumam reclamar da falta de sorte no amor.

Talvez o desprendimento e a forma como a mídia e a sociedade encaram os novos relacionamentos influenciem em muitas escolhas e que mergulhar em um relacionamento é algo profundo e muitas vezes, doloroso.

Acredito que estamos nessa vida em sociedade para compartilhar, ensinar e aprender. E que seja bem difícil alcançar nossos objetivos sozinhos. Quando sentimos grande tristeza, alegria, raiva, remorso… enfim, todos os dias nós, de acordo com o caminhar do relógio atraímos diversos sentimentos para o lado de dentro. Nossas vivências precisam ser divididas, exteriorizadas, porque precisamos estar leves para caminhar. A presença do outro é estímulo para novos passos, para o outro dia, para o trabalho, para a vida.

Alguns prometem demais. Prometem o que não podem cumprir. Outros não se suportam tempo suficiente para descobrir a cumplicidade e as afinidades que poderão vir a existir. Há aqueles que repudiam o dar as mãos por confundir com exposição ou imposição. O estar junto é estar por livre arbítrio, por vontade, por desejo de estar perto e dividir os momentos não é dominar o outro. Dividir é servir de fortaleza nos momentos de tormenta, ultrapassando os ventos fortes e as tempestades, é ser o amigo que tem abertura para falar o que precisa ser dito e também para ouvir. É se deleitar com os prazeres mais simples, e por que não com os mais ousados?

Não precisa durar para sempre, só precisa ser sincero. Não precisa se transformar em outra pessoa, só vai funcionar se você for você.

Porque felizmente nós temos a capacidade de não esquecer aquilo que nos fez bem, mesmo que hoje faça parte do passado. Assim será eterno, mesmo sem o nosso querer.

Há pouco estava conversando com uma amiga e ela me contava de mais uma desilusão amorosa afirmando que as pessoas que se aproximam dela estão sempre cheia de problemas e isso a incomoda. Infelizmente, todos nós temos problemas e passamos por dificuldades. Então eu sugeri que se ela está à espera do par que não carregue nenhum tipo de turbulência seria melhor que ela parasse de procurar. E digo o mesmo para mim e para qualquer pessoa que não consiga enxergar nada de bom no outro. Permanecer de mãos dadas é difícil. Quando elas estão friinhas e cheirosas são maravilhosas, todavia as mãos também podem coçar, suar, apertar. As luvas podem proporcionar certo conforto, entretanto, você não terá o mais importante: o sentir. E aí, se for trocar de mãos todas as vezes que elas te importunarem é melhor que as mantenha livres.

Todavia, penso como Drummond, acho que será menos pesado e mais gratificante se formos de mãos dadas, em todos os sentidos, com todos os amores.

Por Márcia Rios

Fonte indicada: O POVO online

Por que buscar a psicoterapia?

Por que buscar a psicoterapia?

Por Lilian Marin Zuchelli e Marcela Alice Bianco

A psicoterapia é um processo que se desenvolve através de uma relação especial entre paciente e psicoterapeuta e que possibilita uma transformação e ampliação da consciência do paciente acerca de sua vida e das questões para as quais necessita encontrar respostas, por meio de um exame sistemático da vida interna do paciente.

A busca pela psicoterapia está diretamente relacionada à existência de um incômodo, insatisfação, dor, angústia ou sofrimento, o qual se manifesta através de diferentes sintomas (ansiedade, depressão, estresse, fobias, distúrbios alimentares; pouca adaptação ao meio, reações desajustadas, etc.) e com o qual a pessoa (ou sua família ) não consegue encontrar sozinha uma resolução eficaz.

Por meio do processo psicoterápico o indivíduo acaba se deparando com a complexidade de sua situação a qual não mais é somente identificada com o sintoma, mas com questões muito mais profundas como: perda da identidade, perda do sentido da vida, sentimentos profundos de rejeição, entre muitos outros aspectos.

É um processo único e individual, cujos objetivos e alcance dependerão das necessidades e potencialidades (conscientes e inconscientes) de cada paciente em específico, num dado momento de sua vida.

É de extrema importância que a pessoa que busca uma terapia encontre um terapeuta que se prontifique a ajudá-lo, por meio de uma relação genuína, interessada, sigilosa e acolhedora.

É através dessa relação de confiança e empatia que o terapeuta poderá auxiliar o paciente a encontrar suas próprias respostas e despertar suas forças curadoras.

Autoria

contioutra.com - Por que buscar a psicoterapia?Lilian Marin Zuchelli – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana pela PUC-SP. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Institiuto Sedes Sapientiae. CRP: 06/23768

 

 

contioutra.com - Por que buscar a psicoterapia?Marcela Alice Bianco – Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae. CRP: 06/77338

A diferença entre o ignorante e o arrogante

A diferença entre o ignorante e o arrogante

Ignorar é desconhecer. Ser um ignorante, ao contrário do tratamento pejorativo do termo, não é nenhum defeito. O problema é quando a pessoa toma gosto na definição e não tem nenhum interesse em evoluir, mas, aí a conversa muda e, da ignorância, caminha-se para a arrogância.

Enquanto o ignorante pode ser simples e manter traços de pureza até infantil, o arrogante é esnobe, desfaz do outro e adorna-se em armaduras que o protegem da realidade. Lá dentro, por trás do vil metal, um frágil ser preso respira assustado, teme ser descoberto.

O arrogante tem mania de achar que todo mundo que não pensa ou tem os mesmos gostos que ele é ignorante. Mas, o maior problema desse tipo de comportamento é que, enquanto o ignorante pode facilmente aprender, o arrogante vive estagnado em suas verdades, padece isolado em seu pedestal e é doente crônico de vaidades. Arrogância é ignorância incurável, doença gravissíma e que pode até matar. Mata de desgosto quem convive com o tipo!

No final das contas, o ignorante não sabe que pode ser belo e o arrogante ainda não percebeu que é feio.

Só a morte desperta os nossos sentimentos, por Albert Camus

Só a morte desperta os nossos sentimentos, por Albert Camus

Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.

É assim o homem, caro senhor, tem duas faces. Não pode amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro. Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.
É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!

Albert Camus, in ‘A Queda’

A menina que adorava contar histórias

A menina que adorava contar histórias

Era uma vez … (uma história sobre alguém que adorava contar histórias tem que começar assim, não é mesmo?) a menina que adorava contar histórias.

Uma menina simples, mas bem esperta, que sabia que as palavras eram como tesouros escondidos. E que, por isso, quando alguém as encontrasse, elas seriam capazes de modificar o mundo, tornando-o melhor, mais interessante, menos enfadonho e multi colorido.

E assim ela decidiu fazer. Dedicaria um tempo de sua vida a escavar palavras, a encontrar aquelas que melhor exprimissem o siginificado pretendido, as que melhor vestissem a sua imaginação. Porém, ela sabia que esta tarefa não seria fácil, pois as palavras, por vezes, têm vontaqde própria… mas sabia também que se fosse diferente, não estaríamos tratando de um verdadeiro e valioso tesouro.

E assim ela seguiu seu caminho, em meio a tantas palavras que encontrava: antigas, conhecidas de longa data, bem como por entre as palavras novas, que acabara de desvendar o significado. Todas as palavras realmente exercíam um fascínio sobre ela. Gostava do som, daforma e do que podiam expressar. Entendia que elas eram a ferramenta para se construir as mais preciosas pontes, aquelas que nos levam ao coração do outro e que por este motivo, eram tão preciosas. Sabia também que a comunicação é algo muito complexo, que se apresenta de várias maneiras, podendo gerar inúmeras confusões. Então, sabendo do cuidado que a tarefa exigia, se esforçava ainda mais para encontrar a melhor palavra e evitar uma palavra mal dita, que, se mal compreendida, poderia colocar tudo a perder.

As histórias para ela eram a mais pura diversão. Eram como sonhos no meio da noite e, quer refletissem a realidade ou não, nunca escapariam do seu verdadeiro propósito, que ela acreditava ser acessar ao coração. Além da escolha das palavras, ela tão bem sabia, seria necessário dosar a emoção, pra que a história coubesse dentro do peito e pudesse ser levada com a gente pra onde e quando necessário, sendo ela própria a nossa melhor companhia nos momentos de solidão.

Ela tinha um plano e nele as histórias seriam muitas, diferentes e também malucas, sofridas ou engraçadas, de diversos formatos e tamanhos, com a única preocupação de por pra fora o que vai dentro, de  limpar a nuvem de sentimentos que pode nublar a mente em alguns momentos e de nos fazer voar. Pra bem longe, pra perto, sei lá …achava mesmo que voar é sempre bom, pra qualquer lugar!

E ela decidiu assim, que contaria muitas coisas, e que, pra isso, teria sempre à mão o seu imenso baú de palavras, para que no momento certo pudesse acessar, travestindo-as de qualquer emoção que quisesse repartir. Teria histórias de criança, de bicho e de gente grande, todo tipo de historia, tantas quais fosse possível, pois o repertório da vida é infinito, assim como a nossa capacidade de sonhar.

Em algum momento, ela já sabia disso, suas histórias ganhariam vida e o fato dela tê-las contado, seria somente um mero detalhe. A história tomaria a forma de quem a escutasse, do jeitinho que a pessoa imagnasse, tornando-se assim também pro outro, um tesouro mais que precioso. E a partir daquele momento, a história não seria mais sua e sim, daquele que a guardasse, com novas palavras e personagens, como se fosse algo totalmente novo, dependendo de quem a escutasse. Cada hstória, independente do conteúdo, seria capaz dessa ligação , de unir mundos tão diferentes pela via da emoção.

E se um dia lhe faltasse história ou se as palavras a abandonassem? Inventaria um plno b, com os recurso que encontrasse. Lançaria mão do gesto, do desenho ou da música para impedir que não houvesse história. Para garantir que de um jeito ou de outro, o sentimento pudesse ser expresso,  a emoção compartilhada e para que os outros saibam que, inependente de uma história ser boa ou não,  sempre vale a pena compartilhá-la.

Filha de Rubem Alves relata que as cinzas do pai se fizeram seiva de um ipê amarelo

Filha de Rubem Alves relata que as cinzas do pai se fizeram seiva de um ipê amarelo

Por Paulo Silas

Era uma manhã gelada quando o escritor Rubem Alves partiu para o Centro Médico de Campinas com destino à Avenida da Saudade 1.004, a câmara do município. Isso foi há exato um ano. O endereço não necessariamente era o da sua casa – talvez, fosse do povo. O plenário da Câmara, entretanto, se tornou a sua sala, recebeu os amigos, parentes e outras pessoas que o admiravam. Lá, foram ditas – reservadamente aos mais íntimos – suas últimas palavras, cravadas em uma carta. Logo depois, em 14 de setembro, suas cinzas foram carregadas até um jardim. Um lindo ipê amarelo as acolheu.

Apresento a você, leitor – com a devida autorização – um texto inédito da filha de Rubem, Raquel Alves, escrito ao fim daquele 14 de setembro, data em que família e amigos do escritor se reuniram para celebrar a vida:

“E ele ficou encantado

Ele sempre contou – e gostava de falar isso – que tinha conquistado tudo o que conquistou e tinha se tornado o que se tornou porque tudo o que havia planejado para a sua vida deu errado. Se tivesse dado certo, teríamos nos despedido de um clérigo ou de um pianista. Mas com a morte não assim. Tudo saiu de acordo como ele sempre sonhara.

No dia e local combinados, estávamos todos lá. Só os mais queridos. Família e amigos, aqueles que valem como irmãos, companheiros de uma vida toda. Não para chorar a despedida, mas para celebrar a vida. A seleção de poesias para serem lidas estava feita, de acordo com o gosto dele. Ivan Vilela chegou com sua viola para que a poesia não fosse só lida mas também ouvida. A cova e muda do ipê amarelo nos aguardavam. E a caixa de mogno que guardava as cinzas, sobre a mesinha, ensaiava um leve ar de solenidade interrompida pelo barulho das folhas das árvores e o crepitar do mato seco sob nossos passos.

Era a primeira vez que estávamos sem o nosso mestre de cerimônias. Quem iria ler o quê? Quem começaria? Fizemos um trato enquanto ensaiávamos interromper aquele silêncio desconfortável de quem aguarda não se sabe o quê, um sabiá decidido anunciou em alto e bom tom que era hora de começar. Ivan nos deliciou com sua viola e, em seguida, meu irmão começou a ler “Vou plantar uma árvore”, autoria de nosso pai. Começaram a preparar a muda para ser plantada e tiraram de dentro da caixa um saco transparente com cinzas. Eu assistia à cena e me indagava em silêncio como seria que as espalharíamos… Ainda não havia entendido se eram sagradas demais para serem tocadas ou não.

Buraco aberto, muda no lugar, Sérgio com sua decisão de primogênito enfiou a mão no saco e começou a adubar a muda com aquilo que algum dia tinha dado vida ao meu pai. Não, não tinha como ser fúnebre aquilo tudo. Era pura poesia e encantamento. Estávamos celebrando a vida e o amor, plantando a esperança de continuarmos num mundo bonito. Em seguida, Marcos, eu e quem quisesse realizar o desejo de Rubem Alves.

Terminando o plantio do ipê amarelo, entendi na carne a grandiosidade da simplicidade. Não haveria nada mais simbólico e supremo que plantar uma arvora para celebrar a vida, sem nenhuma palavra rebuscada, apenas aquilo que nos tocava a alma. Ao tocarmos as cinzas, deixamos de lado toda a nossa vaidade e todo o nosso orgulho, despimo-nos do que nos é desnecessário para encarar frente a frente, ali nas nossas próprias mãos, a efemeridade da vida.Um dia a morte nos tocará também e cabe a nós decidirmos se queremos ser árvores ou lajes de concreto. Vai da alma de cada um.

Entre sorrisos e emoção lemos a Cecília Meireles, o Fernando Pessoa e o Vinícius de Moraes. Até mesmo não estando mais entre nós, ensinou-nos a beleza da vida. Tempus Fugit; Carpe Diem. Amém.”

Artigo publicado no Jornal de Limeira, no dia 19 de julho de 2015 e foi aqui reproduzido com o consentimento do repórter Paulo Silas, a quem agradecemos.

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

Quero sentir a beleza do que é recíproco

Quero sentir a beleza do que é recíproco

Assistindo, recentemente, (e pela milésima vez), ao filme Diário de uma Paixão, me pego comovida com a linda história de amor que ele conta, mas, principalmente, tomada por um friozinho gostoso na barriga ao testemunhar a química, a vontade incontrolável que um tem do outro. Me pego querendo tudo isso.

Quero sentir a beleza do que é recíproco. Ser capaz de espreguiçar minha alma, de aguçar meus sentidos e descobrir novas sensações enquanto mãos me contornam, sem pressa, como quem decora minha pele.

Quero barulho de motor ecoando na minha janela de madrugada, anunciando a chegada daquele que não pôde esperar até amanhã para saciar a sede da presença. Quem ama não espera o amanhã, pois sabe que há uma eternidade que o separa do agora.

Quero a leveza e o cuidado com os detalhes que permitem que as palavras vazem, sem tanta ponderação; que os silêncios abriguem magia e conforto; que o abraço seja remédio.

Quero querer tanto a ponto de perder o eixo, de ser hipnotizada pelo sorriso, viciada no beijo; e saber que o outro carrega a mesma loucura, fazendo-me sentir desejada até os ossos, para que eu seja capaz de derramar, da forma mais pura, todo o afeto que cabe em mim.

Acredito que o que me cativa na história dos personagens Allie e Noah não é especificamente a dificuldade, a oposição dos pais e a doença na velhice, mas a pureza de um sentimento que, independentemente das situações enfrentadas, fica estampado no corpo deles, me lembrando que – ainda que se trate de uma ficção -, ele existe, ele é real, e que, grata que sou por poder senti-lo, não me demorarei onde ele não é pleno e jamais deixarei de fantasiá-lo e persegui-lo.

Ser grato é ter um pacto de reciprocidade com a vida

Ser grato é ter um pacto de reciprocidade com a vida

Era meio dia. Um sol causticante fazia doer os meus pés, dando a sensação de que o solado do meu sapato já havia derretido. A cidade estava apressada. Daí a poucas horas teríamos a transmissão de um jogo da seleção brasileira de futebol e todos corriam para as suas casas ou procuravam algum estabelecimento onde pudessem ver a partida.

No meio da praça, um pregador de cabelos brancos dizia, aos berros, uma qualquer coisa sobre o amor de Deus e a salvação eterna. Seu discurso, bem como a sua existência, pareciam ser ignorados pelos transeuntes e talvez a indiferença só não fosse total pelo incômodo causado pelos gritos do pregador, em razão dos quais alguns franziam a testa.

Também eu tive a intenção primeira de passar por ele a passos largos. Era quase a hora do jogo e certamente o tom do seu discurso não me era muito agradável. Mas, como sempre me acontece, alguma estranha força fez com que eu parasse diante dele, fitando-o por um ou dois minutos. Ao final desse breve tempo, abri um sorriso, inclinei a cabeça como se agradecesse, e segui em frente.

Saí da praça e já havia caminhado mais de meio quarteirão quando ouvi alguém me gritar:

– Moça, por favor, moça! Espera!

Eu me viro e estava ali o pregador. Aquele senhor olhou fixamente nos olhos, estendeu-me a mão com uma flor pequenina, colhida furtivamente no canteiro da praça, e disse:

– Obrigado, moça. Muito obrigado.

O segundo “obrigado” saiu a custo, com a voz já embargada, enquanto uma lágrima discreta lhe corria pelo rosto.

Surpresa com a dádiva, eu inclinei novamente a cabeça, agradeci, sorri e prossegui a caminhar em direção à minha casa. Essa cena passou diversas vezes na tela da minha memória até que cheguei à conclusão de que não há nenhuma muralha, nenhum escudo, nenhum armamento, nada que nos faça mais protegidos e mais fortes do ter a alma envolvida e permeada pela gratidão.

Ser grato é ter um pacto de reciprocidade com a Vida. Só conseguem celebrar esse acordo aqueles que já alcançaram a compreensão de que toda e qualquer experiência é uma oportunidade de crescimento espiritual e de fortalecimento moral, porque propicia-nos o autoconhecimento.

A cada momento, teremos motivos de sobra para esconjurar a vida, achincalhar a existência, maldizer os circunstantes… Mas, se escolhermos o prisma da gratidão, essas mesmas circunstâncias nos darão oportunidade de agradecer pela dádiva de estarmos vivos, de alegrarmo-nos e maravilharmo-nos na constatação de que existimos como sermos únicos e fantasticamente dotados de percepções, possibilidades, habilidades, sonhos e sentimentos ímpares.

Aquele humilde pregador poderia estar ofendido com o mundo que o ignorava, poderia estar decepcionado com a falta de fé das pessoas, poderia julgar-se ofendido, desprezado, não amado, mas a sua alma estava blindada.

A gratidão é uma blindagem que só pode ser traspassada por flechas de ternura, por dardos de uma gratidão de infindável magnitude para que a pessoa, de ternura e gratidão ferida, se faça ainda mais forte. Ainda mais protegida contra frieza e da ingratidão do mundo que a cerca.

PS.: A flor que recebi ainda a guardo como marcador de página de um livro de cabeceira. Sempre que a olho, a minha alma, em prece, agradece. Simplesmente agradece. Não importa a quem ou porquê…

Você não tem que tentar tanto…

Você não tem que tentar tanto…

A rádio toca a música “Try” da cantora pop americana Colbie Caillat e me faz pensar sobre o papel do esforço nos relacionamentos interpessoais (de todos os tipos). Eu, como muita gente que conheço, já me vi fazendo muito esforço para que algumas pessoas gostassem de mim. Era um comportamento tão recorrente que o revisitei algumas vezes em consultório.

Encontrei muita coisa na raiz desse meu “esforço”, algumas causas são bem pessoais, outras são mais generalizadas. Acho que o principal ponto é que é difícil lidar com a rejeição, ninguém gosta de sentir-se rejeitado. Nós, enquanto seres humanos e sociais que somos, precisamos de conexão para viver tanto quanto precisamos de ar, é puro instinto de sobrevivência. É inerente ao ser humano esse desejo de pertencimento. Nós queremos fazer parte de algo maior que nosso próprio umbigo, desejamos fazer parte de um grupo, sempre. Portanto, é de nossa natureza buscar isso em (quase) todos os encontros que a vida nos proporciona. Mas, nem sempre essa conexão acontece da maneira como desejamos e quando isso acontece  nos vemos inundados de sentimentos como frustração e rejeição que são de fato extremamente desconfortáveis. Então em uma nobre tentativa de evitar esse sentimento, nos esforçamos.

contioutra.com - Você não tem que tentar tanto...

Eu tenho uma personalidade expansiva e ao longo da vida consegui fazer boas conexões com os outros, me considero uma pessoa de muitos e bons amigos. Comunicativa e alegre, sempre transitei bem por entre as diversas “tribos”. Na formatura do primeiro grau subi ao palco para receber o troféu de “mais alto astral” da turma. Na formatura da faculdade subi novamente ao palco para fazer o discurso em homenagem aos colegas. Eu sempre fui boa em fazer amigos. Por isso, não me acostumei a lidar com frequência com esse sentimento de rejeição, mesmo assim ele já existiu, em diversos momentos, por motivos, que às vezes soube identificar, outras não.  Se nem sempre consigo identificar o que gera tal desconexão, o que sei afirmar com certeza é que ele é muito frustrante.

Acredito que a questão do esforço seja meio confusa para nós porque somos uma sociedade que cultiva demasiadamente um sistema de meritocracia. Enquanto na própria escola, desde muito cedo, somos ensinados que se nos esforçarmos bastante conseguiremos um bom emprego e teremos muito sucesso, infelizmente (ou felizmente) nos relacionamentos não é bem assim que funciona. Não existe sistema de meritocracia para o coração ou pelo menos, não deveria existir. Repare a natureza, nada nela acontece através de esforço. É tudo muito orgânico.

A verdade é que nem sempre conseguimos explicar porque gostamos ou não de alguém. Mas, independente disso, os melhores relacionamentos são provenientes de encontros que são fluídos, acontecem sem esforço algum. Um bom relacionamento é aquele que vem de graça, sem dívidas ou fiados, onde existe um certo equilíbrio entre o dar e receber.

Com um olhar mais atento, passei a perceber um comportamento manipulador por trás dessa máscara de “muito legal”. A pessoa que está sempre querendo agradar os outros, fazendo esforço, sendo muito prestativa, boazinha ou legal é também muito manipuladora. Geralmente são pessoas inseguras que têm muito medo da rejeição. Compreensível. Mas, são manipuladoras no sentido que, de tanto esforço feito, é privado do outro o direito de simplesmente não gostar de tal pessoa ou não querer conexão com ela. E quando, mesmo com esforço, a conexão não acontece, o vilão sempre é o outro, afinal “depois de tudo que eu fiz por/para você?”. Geralmente o outro não pediu que fosse feito nada por/para ele, mas ele leva a culpa e a má fama mesmo assim.

Hoje, como conheço essa máscara consigo ficar mais atenta, quando vejo que estou me esforçando muito para que o outro me “enxergue” eu simplesmente paro tudo. É um direito do outro não querer abrir esse canal para conectar-se comigo. Independente de qual seja o motivo. E eu preciso aprender a lidar com esse sentimento de frustração da melhor maneira possível, pois é a maior prova de respeito que posso dar para o outro (e para mim): o direito que ele tem de não querer conexão comigo. Ponto final.

E quando isso acontece é importante também não levar para o lado pessoal. Para isso também preciso deixar de lado o ego e aprender a me dar menos importância. Nem tudo está relacionado à minha pessoa, nem sempre foi algo que eu fiz, nem sempre o problema sou eu, às vezes é o outro. Na verdade existem ene motivos que podem levar uma pessoa à não querer fazer tal conexão comigo. E é perda de energia preciosa e tempo viver de achismos ou deduções, mas o que posso fazer para preservar a minha alma e meu coração nesse processo tão frustrante, é saber identificar quando estou recebendo nada ou muito pouco e quando é a hora de parar de tentar. Simplesmente parar de me esforçar e deixar estar. Deixar livre, deixar ir.

You don´t have to try so hard.

Escute a música:Colbie Caillat – Try

Um filme para Woody Allen

Um filme para Woody Allen

“A vida do outro é para ser olhada e compreendida. E tantas vezes ocorre o contrário: ela é virada do avesso, perscrutada e mal falada, incompreendida”. Foi meu pensamento num daqueles cafezinhos que vamos à tardinha para arejar a mente. Gosto de aproveitar todos os espaços e todas as pessoas, a qualquer momento.

Há dias não olhava nos olhos toda aquela gente que passa por mim na rua, não chegava tão próximo, não via seus movimentos, nem sentia seus cheiros atravessando a fatia do vento quando passam roçando em meus braços. Era gente nova, jamais vista antes nas calçadas.

Parei por alguns segundos, como se anulasse qualquer presença diante de mim, e pensei: “…gosto tanto de imaginar a vida das pessoas… “. Talvez seja por isso mesmo que eu goste tanto de ouvir e guardar as histórias como se fossem minhas. É a forma mais crua que encontro de me olhar e sentir quem sou. Perguntar sobre o que gosto e o que não gosto.

Outro dia uma amiga me falou sobre essa mania de olhar a pessoa e imaginá-la como é em seu mundo particular: “Um bando de estranhos! Não me interessa a vida deles. ” – confessou, já um pouco irritada quando lhe falei que a vida de cada pessoa daria um filme magnífico nas mãos de Woody Allen.

“Ele sim, desvendaria cada mundo de forma leve e profunda ao mesmo tempo. Daria minha vida para ele fazer um filme, não sei onde eu iria parar, mas pagaria para ver! ” – disse a ela, sem pensar muito naquela confissão que ouvia há poucos minutos.

Essa história de olhar o outro, de criar ficções a seu respeito, de inventar, dar vida a seres que nem sequer existem no universo real é um acontecimento fantástico na vida de qualquer ser humano capaz de tal proeza. Experimente assistir uma palestra ou falar com um escritor de ficção, só para ver até onde a inventividade dele pode chegar. Não terá limites, nem para o escritor, nem para você, que estará totalmente envolvido.

É através desse outro que muitas vezes está a grandeza do que não se pode sentir. Ali está a própria imensidão, o inexato, o ambíguo, o mistério. E é muito mais difícil invadir uma pessoa quando ainda não se sabe por onde entrar em si mesmo.

A certa altura é um labirinto humano, algo como caminhar e os passos serem inalcançáveis. Onde estará esse tal caminho? Para onde devemos ir? Onde encontrar o caminho para buscar o outro dentro da gente?

Esse outro que sou e que tantas vezes se confunde com a minha imagem verdadeira. Tenho receio dessas faces anônimas que vou topando pelo caminho e me provocam com risos de confissão: “Você sou eu. É assim, exatamente como sou.” Não é tão fácil entregar assim nossa natureza ou parte do que somos. É complexo, desconcertante. Ficamos a par da descoberta do que não desejamos: obviedades.

Queremos ser únicos e ter uma história de vida tão interessante quanto a daqueles filmes woodyallianos dos anos setenta, que chegam hoje até nós ainda com ares de novidade. É assim que queremos expor nossa vida, contar nossas histórias ao mundo: para arregalarem os olhos, abrirem as bocas e eriçarem os pelos.

Saio do café atordoada. Há muitos dias não via tanta gente. Dobro a esquina e continuo pensando. Paro. Olho disfarçadamente em direção ao café, como se lá, todas as pessoas que vi, se amontoassem e desejassem contar suas histórias de uma só vez.

VENDE-SE TUDO, por Martha Medeiros

VENDE-SE TUDO, por Martha Medeiros

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.

Outra mãe que estava ao meu lado comentou:

– Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.

– Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.

O resto, eu vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.

Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém a parecesse. Sentados no chão.

O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite, era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante.

Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.

Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu.
No penúltimo dia, ficamos somente com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.

No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo.

Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto isto, que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que elas estiveram presentes na minha vida.

Desejo para essa mulher, que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos, a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha dois anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.

Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.

Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza:

“Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir”. É melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.

São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.

Martha Medeiros

Crônicas, parte da herança deixada por Rubem Alves

Crônicas, parte da herança deixada por Rubem Alves

Crônicas, fotos, simplicidade e saudade. Esses são alguns dos itens físicos e afetivos do acervo pessoal que o escritor, teólogo, psicanalista e educador Rubem Alves deixou, segundo a filha caçula dele, Raquel Alves. De Campinas (SP), onde vive, a arquiteta concedeu entrevista ao Hoje em Dia, e diz que assumiu de vez a direção do instituto que leva o nome do pai dela. O local será adaptado para abrir as portas ao grande público, a exemplo de outras instituições mundo afora que perpetuam a mensagem de escritores.

Mineiro de Boa Esperança, Rubem Alves morreu há seis meses, aos 80 anos, em um hospital em Campinas em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Raquel diz que os textos inéditos deixados pelo pai ainda estão sendo analisados. Porém, ela acredita que o material contém escritos pré-existentes, que foram remanejados por Rubem. A família planeja outras publicações, ainda em sigilo.

Raquel lembra que o pai começou a escrever as histórias infantis inspirado nas dores que ela sofria. “Nasci com lábio leporino. Ele escrevia para me acalentar. ‘A Operação de Lili’, ele leu para mim quando eu estava num pré-cirúrgico. Ele via que eu estava com medo e a história brotava”. “A Menina e o Pássaro Encantado’ é outro livro feito para mim, pois ele viajava muito. Como fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, antes de eu nascer, meu pai já tinha muito vínculo por lá e já era respeitado e reconhecido, por isso, era sempre convidado para dar cursos”, lembra.

Raquel tinha 6 anos e chorava muito reclamando a ausência do pai. “Diante da ligação que tínhamos, nasceu esse livro, para que ele me explicasse a saudade”. “Em 1959, me casei e vieram os filhos Sérgio e Marcos. Em 1975, nasceu minha filha Raquel. Inventando estórias para ela, descobri que eu podia escrever estórias para crianças”, declarou o escritor mineiro, certa vez. A partir dessas temáticas de amor e simplicidade é que os livros de Rubem foram conquistando leitores mundo afora. Até agora, estima-se que o escritor tenha vendido mais de 3 milhões de exemplares, dos 138 títulos publicados. Os livros dele estão em 12 países.

“Simplicidade. Essa é a espinha-dorsal de todo legado que ele deixou. Meu pai escrevia aquilo que o coração pedia”, diz Raquel. Em um dos mais conhecidos textos de Rubem, o escritor sintetiza esta “simplicidade” diante da vida pela fala do garoto de uma escola, reproduzida para para ele, pela professora do menino: “Mas a melhor resposta à pergunta ‘quem é Rubem Alves?’ foi um menininho que deu: ‘Rubem Alves é um homem que gosta de ipês amarelos'”.

Veja a entrevista na íntegra:

A vida já se acalmou depois da morte do seu pai?

Uma parte, sim. Mas a parte sentimental ainda não. Ainda preciso aprender a viver o dia a dia sem ele. Segunda-feira (19/01) fez seis meses da morte dele. A partida do meu pai foi uma transformação aqui no Instituto Rubem Alves. Ainda contávamos com a ajuda dele. A gente tem material para trabalhar, só que quando ele faleceu, tudo mudou. O Instituto não é mais a representação dele. Agora, é a personificação, a continuidade dele.

Você largou definitivamente a arquitetura para cuidar do Instituto?

Definitivamente é muito forte. Eu, agora, estou aqui. Foi um processo natural. Antes de ele falecer, eu dividia as duas atividades, a presidência com a arquitetura.

Você tem mais dois irmãos homens mais velhos, com outras profissões, mas o fato de você ter assumido o instituto sozinha denota alguma relação específica sua com a obra de Rubem Alves?

Tem toda relação. Foi o meu nascimento que, vamos dizer, fez a transformação do meu pai. A partir do meu nascimento que ele começou a escrever para valer. Até então ele escrevia de forma acadêmica. Então ele começou a escrever aquilo que dizia respeito ao coração. E quando alguém escreve assim, muda a linguagem. Esta foi a grande transformação.

O Drummond também tinha uma ligação afetiva inexplicável com a filha dele…

E eu uma ligação inexplicável com meu pai também.

Seus irmãos nunca ficaram com um pouco enciumados com a relação sua com seu pai?

(Risos). Não, não… Quando eu nasci, meus irmãos já eram adolescentes, 14 e 16 anos. Já era uma outra natureza. A atenção que eu tinha era específica para a minha idade, e eles tinham a atenção deles.

E você pegou um pai já maduro…

Claro. Isso faz toda a diferença. Ele já tinha 42 anos. Eu nasci com lábio leporino. Tive os meus desafios de cirurgia. Sei lá quantas… O meu pai começou a escrever as histórias infantis inspirado nas minhas dores de criança. Ele escrevia para me acalentar. “A Operação de Lili”, ele leu para mim quando eu estava num pré-cirúrgico. Ele via que eu estava com medo e a história brotava…

É bonito isso…

É bonito, sim. “A Menina e o Pássaro Encantado” é outro livro que nasceu assim. Ele viajava muito. Ele fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos, antes de eu nascer, por isso, ele já tinha muito vínculo por lá. Quando eu nasci, ele já era respeitado e reconhecido naquele meio e, por isso, era sempre convidado para dar cursos. Ele passava dois três meses lá como professor convidado. Eu tinha 6, 7 anos, imagine? Eu chorava muito diante de toda a ligação que a gente tinha. Por isso, nasceu este livro para que ele me explicasse a saudade.

E estas histórias foram conquistando milhões de pessoas mundo afora.

Eu não gosto de falar que ele partiu, falo que ele “se encantou”. A gente vai ter saudade eterna, mas as histórias dele ainda estão aqui. Agora não sou apenas eu aquela menina, mas todos leitores que o amam. O status de “a menina” deste livro, eu reparto com o mundo inteiro.

São quantos títulos?

Foram 138 livros. Mas, agora, disponíveis no mercado, são 90. Ele vendeu mais de 3 milhões de livros.

Ele deixou algum livro inédito?

Isso ainda a gente não sabe responder. Ficou um material no computador dele, que ele dizia que era inédito, mas o nosso palpite é seja algum remanejamento. São crônicas. Esse material ainda está em análise.

É verdade que ele estava escrevendo uma biografia?

Havia um plano para outra pessoa escrever, mas a editora cortou.

E o acervo do seu pai?

Vai ficar aqui no Instituto. A gente está aqui para consolidar a história dele. Livros, gravações e objetos pessoais estão aqui. O que a gente tirou do apartamento e já está tudo aqui, incluindo os livros da biblioteca particular dele, com autores que influenciaram o pensamento dele, os poetas que ele amava. Ele já tinha feito uma triagem deste livros. Sobrou somente aquilo que era essencial para o coração dele.

O seu pai tinha muita simplicidade para escrever, mas ele chegou a ser criticado por isso, como se fosse uma literatura menor.

Esta é a palavra-chave: a simplicidade. Esta é a espinha-dorsal de todo legado que ele deixou, do pensamento, da linguagem e do humanismo dele. É o que eu falei, ele escrevia aquilo que o coração dele pedia. Ele não entrava em nenhum “ismo”. Essas pessoas parecem que têm a necessidade de catalogar e ele não tinha estilo. O estilo dele era o do coração. Ele estava preocupado com a essência.

Vocês pretendem abrir o Instituto para visitação, como se fosse um ponto turístico em Campinas?

Nós pretendemos ter visitas para o público, sim, até com oficinas, porém, mais para frente. Pelo menos daqui um ano e meio.

A exemplo da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre?

Isso mesmo. A ideia está sendo lapidada. Ele tinha a preocupação do que iria acontecer com a obra dele. Parece que ele partiu sossegado sabendo que a obra dele iria continuar. Há algumas fotos pessoais que estou guardando para quando o Instituto for aberto ao público.

A fonte indicada é um site cujo conteúdo sempre recomendamos em virtude da seriedade e coerência: Hoje em dia

Dica de livro: Sete Vezes Rubem (Fruto do trabalho de uma década, esta obra reúne sete livros de Rubem Alves publicados pela Papirus entre 1996 e 2005.)

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar

“Para quando eu me for”, um texto para quem não tem medo de se emocionar

Morrer é uma surpresa. Sempre. Nunca se espera. Nem mesmo o paciente terminal acha que vai morrer hoje ou amanhã. Na semana que vem talvez, mas apenas se a semana que vem continuar sendo na semana que vem.

Nunca se está pronto. Nunca é a hora. Nunca vamos ter feito tudo o que queríamos ter feito. O fim da vida sempre vem de surpresa, fazendo as viúvas chorarem e entediando as crianças que ainda não entendem o que é um velório (Graças a Deus).

Com meu pai não foi diferente. Na verdade, foi mais inesperado. Meu pai se foi com 27 anos, a idade que leva muitos músicos famosos. Jovem. Moço demais. Meu pai não era músico nem famoso, o câncer parece não ter preferência. Ele se foi quando eu ainda era novo, descobri o que era um velório justamente com ele. Eu tinha 8 anos e meio, o suficiente pra sentir saudade pelo resto da vida. Se ele tivesse morrido antes, não haveriam lembranças. Nem dor. Mas também não haveria um pai na minha história. E eu tive um pai.

Tive um pai que era duro e divertido. Que me colocava de castigo com uma piadinha pra não me magoar. Que me dava um beijo na testa antes de dormir. Hábito esse que eu levei para os meus filhos. Que me obrigou a amar o mesmo time que ele e que explicava as coisas de um jeito melhor que a minha mãe. Sabe? Um pai desses que faz falta.

Ele nunca me disse que ia morrer, nem quando já estava deitado cheio de tubos. Meu pai fazia planos para o ano que vem mesmo sabendo que não veria o próximo mês. No ano que vem iríamos pescar, viajar, visitar lugares que nenhum de nós conhecia. O ano que vem seria incrível. Eu vivi esse sonho com ele.

Acho, tenho certeza na verdade, que ele pensava que isso daria sorte. Supersticioso. Pensar no futuro era o jeito dele se manter otimista. O desgraçado me fez rir até o final. Ele sabia. Ele não me contou. Ele não me viu chorar a sua perda.

E de repente o ano que vem acabou antes de começar.

Minha mãe me pegou na escola e fomos ao hospital. O médico deu a notícia com toda a sensibilidade que um médico deixa de ter com os anos. Minha mãe chorou. Ela também tinha um pingo de esperança. Como disse antes, todo mundo tem. Eu senti o golpe. Como assim? Não era só uma doença normal dessas que a gente toma injeção? Pai, como eu te odiei. Você mentiu pra mim. Não fiquei triste, pai, fiquei com raiva. Me senti traído. Gritei de raiva no hospital até perceber que meu pai não estava lá pra me colocar de castigo. Chorei.

Mas aí meu pai foi meu pai de novo. Trazendo uma caixa de sapato debaixo dos braços, uma enfermeira veio me consolar. Dentro, dezenas de envelopes lacrados com frases escritas onde deveriam ficar os nomes dos destinatários. Entre as lágrimas e os soluços não consegui entender direito o que estava acontecendo. E então a mesma enfermeira me entregou uma carta. A única fora da caixa.

“Seu pai me pediu pra entregar essa pessoalmente e te dizer pra abrir. Ele passou a semana inteira escrevendo tudo isso e disse que era pra você. Seja forte.” Disse a enfermeira com um abraço.

contioutra.com - "Para quando eu me for", um texto para quem não tem medo de se emocionar
Por smallblackcat/shutterstock

PARA QUANDO EU ME FOR dizia o envelope que ela me entregou. Abri.

Filho,

Se você está lendo eu morri. Desculpa, eu sabia.

Não queria te dizer que ia acontecer, não queria te ver chorar. Parece que consegui. Acho que um homem prestes a morrer tem o direito de ser um pouco egoísta.

Bom, como eu ainda tenho muito pra te ensinar, afinal você não sabe de nada, deixei essas cartas. Você só pode abrir quando o momento certo chegar, o momento que eu escrevi no envelope. Esse é o nosso combinado, ok?

Eu te amo. Cuida da sua mãe, você é o homem da casa agora.

Beijo, pai.

PS: Não deixei cartas para sua mãe, ela já ficou com o carro.

E com aqueles garranchos, afinal naquela época não era tão fácil imprimir como é hoje em dia, ele me fez parar de chorar. Aquela letra porca que uma criança de 8 anos mal entendia (eu, no caso) me acalmou. Me arrancou um riso do rosto. Esse era o jeito do meu pai de fazer as coisas. Que nem o castigo com uma piadinha para aliviar.

Aquela caixa se tornou a coisa mais importante do mundo. Proibi minha mãe de abrir, de ler. Mas elas eram minhas, só pra mim. Sabia decorado todos os momentos da vida em que eu poderia abrir uma carta e ler o que meu pai tinha deixado. Só que esses momentos demoraram muito pra chegar. E eu esqueci.

Sete anos e uma mudança depois eu não tinha ideia de onde a caixa tinha ido parar. Eu não lembrava dela. Algo que você não lembra não faz falta. Se você perdeu algo da sua memória, você não perdeu. Simplesmente não existe. Como dinheiro que depois você acha no bolso da bermuda.

E então aconteceu. Uma mistura de adolescência com o novo namorado da minha mãe desencadeou o que meu pai sabia que um dia aconteceria. Minha mãe teve vários namorados, sempre entendi. Ela nunca casou de novo. Não sei ao certo o motivo, mas gosto de acreditar que o amor da vida dela tinha sido meu pai. Mas esse namorado era ridículo. Eu sentia que ela se rebaixava pra ele. Que ele fazia pouco da mulher que ela era. Que uma mulher como ela merecia algo melhor do que um cara que ela tinha conhecido no forró.

Me lembro até hoje do tapa que veio acompanhado da palavra “forró”. Eu mereci, admito. Os anos me mostraram isso. Na hora, enquanto a pele da minha bochecha ardia, lembrei da minha caixa e das minhas cartas. De uma carta em específico que dizia PARA QUANDO VOCÊ TIVER A PIOR BRIGA DO MUNDO COM A SUA MÃE.

Corri para o quarto e revirei minhas coisas o suficiente para levar outro tapa na cara da minha mãe. Encontrei a caixa dentro de uma mala de viagem na parte de cima do armário. O limbo. Procurei entre os envelopes. Passei por PARA QUANDO VOCÊ DER O PRIMEIRO BEIJO e percebi que havia pulado essa, me odiei um pouco e decidi que a leria logo depois, e por PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE, uma que eu esperava abrir logo, logo. Achei o que procurava e abri.

Pede desculpa.

Eu não sei o motivo da briga e nem quem tem razão. Mas eu conheço a sua mãe. Então a melhor maneira de resolver isso é com um humilde pedido de desculpas. Do tipo rabinho entre as pernas.

Ela é sua mãe, cara. Te ama mais do que tudo nessa vida. Sabe, ela escolheu parto normal porque alguém disse que era melhor pra você. Você já viu um parto normal? Pois é, quer demonstração de amor maior que essa?

Pede desculpa. Ela vai te perdoar. Eu não seria tão bonzinho.

Beijo, pai.

Meu pai passava longe de um escritor, era bancário, mas as palavras dele mexeram comigo. Havia mais maturidade nelas do que nos meus quatorze anos de vida. O que não era muito difícil por sinal.

Corri para o quarto da minha mãe e abri a porta. Já estava chorando quando ela, chorando também, virou a cabeça pra me olhar nos olhos. Não lembro o que ela gritou pra mim, algo como “O que você quer?”, mas lembro que andei até ela e a abracei, ainda segurando a carta do meu pai. Amassando o papel já velho entre os meus dedos. Ela me abraçou de volta e ficamos em silêncio por não sei quantos minutos.

A carta do meu pai fez ela rir alguns momentos depois. Fizemos as pazes e conversamos um pouco sobre ele. Ela me contou umas manias estranhas que ele tinha, como comer salame com geleia de morango. De algum modo, senti que ele estava ali. Eu, minha mãe e um pedaço do meu pai, um pedacinho que ele deixou naquele papel. Que bom.

Não demorou muito e li PARA QUANDO VOCÊ PERDER A VIRGINDADE.

Parabéns, filho.

Não se preocupa, com o tempo a coisa fica melhor. Toda primeira vez é um lixo. A minha foi com a puta mais feia do mundo, por exemplo.

Meu maior medo é você ler o envelope e perguntar da sua mãe antes da hora o que é virgindade. Ou pior, ler o que eu acabei de escrever sem nem saber o que é punheta (você sabe, não sabe?). Mas isso também não será problema meu, não é mesmo?

Beijo, pai.

Meu pai acompanhou minha vida toda. De longe, sim, mas acompanhou. Em incontáveis momentos suas palavras me deram aquela força que ninguém mais conseguia dar. Ele sempre dava um jeito de me arrancar um sorriso em um momento de tristeza ou de clarear meus pensamentos num momento de raiva.

PARA QUANDO VOCÊ CASAR me emocionou, mas não tanto quanto PARA QUANDO EU FOR AVÔ.

Filho, agora você vai descobrir o que é amor de verdade. Vai descobrir que você gosta bastante da sua mulher, mas que amor mesmo é o que você vai sentir por essa coisinha aí que eu não sei se é ele ou ela. Sou um cadáver, não um vidente.

Aproveita. É a melhor coisa do mundo. O tempo vai passar rápido, então esteja presente todos os dias. Não perca nenhum momento, eles não voltam mais. Troque as fraldas, dê banho, sirva de exemplo. Acho que você tem condições de ser um pai tão incrível quanto eu.

A carta mais dolorida da minha vida foi também a mais curta do meu pai. Acredito que ele sofreu para escrever aquelas quatro palavras o mesmo que eu sofri por ter vivido aquele momento. Demorou, mas um dia eu tive que ler PARA QUANDO SUA MÃE SE FOR.

Ela é minha agora.

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Por Olena Yakobchuk/shutterstock

Uma piada. Um palhaço triste que esconde o choro por trás do sorriso de maquiagem. Foi a única carta que não me arrancou um sorriso, mas entendi a razão.

Eu sempre respeitei o combinado com meu pai. Nunca li nenhuma carta antes do momento certo. Tirando PARA QUANDO VOCÊ SE DESCOBRIR GAY, claro. Nunca acreditei que o momento de ler essa carta chegaria, então abri muitos anos atrás. Ela foi uma das mais engraçadas, por sinal.

O que eu posso dizer? Ainda bem que morri.

Deixando as brincadeiras de lado e falando sério (é raro, aproveita). Agora semimorto eu vejo que a gente se importa muito com coisas que não importam tanto. Você acha que isso muda alguma coisa, filho?

Não seja bobo, seja feliz.

Sempre esperei muito pelo próximo momento. Pela próxima carta. Pela próxima lição que meu pai tinha pra me dar. Incrível como um homem que viveu 27 anos teve tanto pra ensinar pra um senhor de 85 como eu.

Agora, deitado na cama do hospital, com tubos no nariz e na traqueia (maldito câncer), eu passo os dedos por cima do papel desbotado da última carta. PARA QUANDO SUA HORA CHEGAR o garrancho quase invisível diz.

Não quero abrir. Tenho medo. Não quero acreditar que a minha hora chegou. Esperança, lembra? Ninguém acredita que vai morrer hoje.

Respiro fundo e abro.

Oi, filho, espero que você seja um velho agora.

Sabe, essa foi a carta mais fácil de escrever. A primeira que eu escrevi. A carta que me livrou da dor de te perder. Acho que estar perto do fim clareia a cabeça pra falar sobre o assunto.

Nos meus últimos dias eu pensei na vida que eu levei. Na minha curta vida, sim, mas que me fez muito feliz. Eu fui seu pai e marido da sua mãe. O que mais eu poderia querer? Isso me deu paz. Faça o mesmo.

Um conselho: não precisa ter medo.

PS: Tô com saudade.

Por Rafael Zoehler, via Medium.

Artigo reproduzido com autorização

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