Moça do laço de fita

Moça do laço de fita

Moça do laço de fita

 

Um homem  fez seu sapato

de veludo com marfim

vestiu-se em pele bem fina

banhou-se em flor  de  jasmim

 

Saiu pela rua escura

com seu rastro perfumado

envolveu uma mocinha

gastando palavreado

 

Chamou-a até sua casa

fez-lhe jardim, mesa e cama

mostrou-lhe do amor segredos

da paixão mostrou a chama

 

Já vinha raiando o dia

e a maquiagem finda

mandou que a moça voltasse

pois não era amor ainda

 

A moça chorou três dias

na cama ela esmoreceu

lamentava aquela noite

amor que nasceu num breu

 

amor de escuro pintado

vestido tão bem vestido

engano de amor maquiado

amar o desiludido

 

Moça de fita vermelha,

não passe naquela rua

pois o amor disfarçado

quer apenas te ver nua

 

Não quer teu laço de fita

nem sorrir ao lado teu

também não quer tua boca

quem te quer assim sou eu

Lúcia Costa

Em algum lugar por aí, tem alguém pensando em você com ternura

Em algum lugar por aí, tem alguém pensando em você com ternura

Repare. Em algum lugar, de alguma sorte, alguém está fazendo uma coisa boa por nós. Talvez você nem note. Mas tem alguém compensando nossa truculência, atenuando a dureza do mundo, nivelando a vida por cima. Tem alguém levando à frente a compaixão divina num gesto de bondade simples, à toa. Alguém de coração disposto e mãos ativas. Tem, sim. Em algum lugar por aí, tem alguém pensando em você com ternura.

De repente, vem um sentimento breve de calma. Um silêncio bom entre tanto grito, um remanso imprevisto no corre-corre, estio na tempestade, trégua na guerra. Sensação inesperada e inexplicável de que tudo vai dar certo. Não é nada, não. É só alguém, em algum canto, fazendo algo bonito por nós.

A avó que recorda com grande saudade quando éramos pequenos. Os pais que falam de nós com carinho até aos desconhecidos. Os velhos professores que nos comparam em silêncio a seus alunos de hoje, quase dizendo “ahh… como fulano era bom” ou “no tempo do sicrano era outra coisa”.

O amigo distante que assiste a um filme antigo e nos relembra em dolorida mudez, machucado de lembranças do tempo em que éramos novos e próximos, um sorriso imenso nos olhos de choro. As almas boas que nos bendizem pelas costas. As criaturas justas que nos dão sua palavra e cumprem o que prometem, os cães e os gatos que nos oferecem a barriga em festa. Aquela gente que nos ama sem mais o quê.

Quando alguém nos faz uma coisa bela, o mundo entra nos eixos. Temos todos o direito a receber afagos e o dever de redistribuí-los. De atravessar o mundo partilhando beleza e ofertando decência até chegar enfim aos braços que nos cabem e ao abraço em que cabemos.

A beleza é a matéria-prima de todo ofício honesto. É o que nos resta e o que nos sobra. Às cantoras e aos cantores, às atrizes e aos atores e artistas de todo gênero, alguém no escuro da plateia dispara seu aplauso comovido de fé e alegria sem ser visto, e comprova o quanto é bonito retribuir a quem nos dá seja lá o quê.

Aos operários e aos médicos, guardas noturnos e secretárias, pintores e cozinheiras, juízes e manobristas, marceneiros e esportistas e a toda gente sob o céu há de existir gratidão e conforto antes, durante e depois da lida.

Há de haver beleza em cada “obrigado”, “por favor”, “pois não” e outras gentilezas essenciais esperando quem os diga.

E quem os diz é alguém fazendo algo bonito pela mera volúpia bondosa de nos abrir os braços. Nos pontos de ônibus, no trânsito parado, nas salas de espera ou na solidão do quarto escuro, aguardamos todos quem nos faça uma coisa bela. E assim, na espera, compreendemos enfim nossa responsabilidade de fazer e espalhar beleza, nosso mais poderoso e sublime ofício nessa vida.

Advertência! Esta pessoa é contraindicada para consumo.

Advertência! Esta pessoa é contraindicada para consumo.

Por relações com mais amor e menos utilidade. Não sejamos objeto, não sejamos instrumento, não sejamos meio para ninguém. Dos afetos honestos, cada encontro é um fim em si mesmo. É no esvaziamento dos excessos acumulados pelo medo da solidão, que nos damos conta de que, quem realmente nos tem apreço, é justamente quem menos precisa de nós.

As relações humanas nunca foram puras. Não entremos naquela de dizer de antigamente. Talvez antes houvesse apenas uma convenção social que legitimasse certas obrigações entre as pessoas. Em tempos onde quase tudo pode, vale o julgamento de cada um para determinar o que vai e o que fica.

Parar para pensar no que e em quem queremos em nossa vida pode ser algo muito doloroso. A segurança e o conhecimento de si são imprescindíveis. Aceitar o risco do erro. Porque não somos justos. Não temos como ser justos. Criamos ideais como justiça e liberdade que transcendem em demasia nossas limitações. Mas dentro do possível, ficam algumas observações, dessas que até podem enganar por algum tempo, mas nunca passam batidas.

A insustentável conveniência do ser nos ensina, desde sempre, que estar só é algo ruim. Do sentimento infantil de dependência, acabamos carregando a carência para pretensa maturidade, esta incapacidade de estar só, mesmo que estar acompanhado signifique estar na pior das companhias. E como basicamente nenhuma relação tende a ser equilibrada por sua natureza, pela natureza desigual e diversificada que nos é intrínseca, acaba-se por estar sempre em uma posição ou de domínio ou de submissão, cada qual com sua fragilidade e sua dominação, ambos aglutinados na fraqueza de temer agir diante da questão: vale a pena?

Sejam nas relações amorosas, familiares ou de amizade, há situações que revelam explicitamente o papel que exercemos na vida das pessoas. Há aqueles que só nos procuram quando estão cheios de problemas, porque temos bons ouvidos; os que nos procuram quando precisam encobertar uma furada; ou os que estejam afim apenas de dar uma boa trepada (e não encontraram ninguém diferente para fazê-lo, desses tipos que te ligam de madrugada); há ainda os que estão sempre a postos quando você está na pior, talvez para ter ao menos neste momento a sensação de que a vida deles não é tão ruim assim; ou aqueles que te rastreiam quando está na “boa”, mas aqui não no sentido de estar bem consigo mesmo, mas de estar com grana, com popularidade e outras coisas que interessam ao que é convencionalmente valorizado. Dos mais rasgados, há os que buscam por elogios, alugando-te como a um palco para encenar suas façanhas.

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Tracey Emin. Don’t Just Fuck me. Love me. 1997

Quantos despretensiosos te procuram apenas para dar um “oi”, simplesmente porque gostam de você? Estes são raros e aparecem pouco, pois desprovidos de carência, confiam mais em sua presença marcante do que em sua presença frequente. Não é aquele amigo que desaparece quando começa a namorar, e te procura depois da primeira briga para afogar as mágoas. Nem aquele que te procura todos os dias para reclamar da vida, e que nunca pode fazer absolutamente nada por si mesmo, por que é “coitado” demais. Não é a pessoa que te liga para agenciar alívio para as suas carências, isto, depois de ser chutada por meia dúzia.

É mais aquela pessoa que tem um tempinho no meio da rotina avassaladora, e te convida para um café rápido, só para atualizar as novidades, matar as saudades do seu sorriso, te olhar nos olhos e dar um abraço, até que possam curtir um momento extenso de fato. Paradoxalmente, valemos mais para quem não precisa de nós e ainda assim nos procura. Quem não precisa de um amigo a mais, de um ouvido extra, de alguém para pagar a cerveja ou apresentar um pretendente. Quem simplesmente, aparece por querer bem. Estes exalam perene presença, não se extinguem nas barreiras do tempo e do espaço, o vigor do laço perpetua contatos em pensamento.

Dessas relações que nos consomem, que nos tiram a solidão para nos encher de lixos banais, que desmerecem nossas pequenas conquistas, que dizem estar felizes por nós com sangue nos olhos, que nos tratam como um vaso sanitário para aliviar suas merdas. Dessas relações outlet, esvaziam-se aqueles que se percebem inapropriados para consumo. Quando nos percebemos menos como objetos e mais como seres humanos, a solidão deixa de ser desengano, para ser espaço pleno de recepção de tudo o que nos alimenta a existência, em detrimento dos detritos da mesquinharia daqueles que desejam apenas tirar uma casquinha.

“Transformamos problemas cotidianos em transtornos mentais”, admite ex-diretor do Manual Diagnóstico e Estatístico

“Transformamos problemas cotidianos em transtornos mentais”, admite ex-diretor do Manual Diagnóstico e Estatístico

Allen Frances (Nova York, 1942) dirigiu durante anos o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM), documento que define e descreve as diferentes doenças mentais. Esse manual, considerado a bíblia dos psiquiatras, é revisado periodicamente para ser adaptado aos avanços do conhecimento científico. Frances dirigiu a equipe que redigiu o DSM IV, ao qual se seguiu uma quinta revisão que ampliou enormemente o número de transtornos patológicos. Em seu livro Saving Normal (inédito no Brasil), ele faz uma autocrítica e questiona o fato de a principal referência acadêmica da psiquiatria contribuir para a crescente medicalização da vida.

No livro, o senhor faz um mea culpa, mas é ainda mais duro com o trabalho de seus colegas do DSM V. Por quê?

Fomos muito conservadores e só introduzimos [no DSM IV] dois dos 94 novos transtornos mentais sugeridos. Ao acabar, nos felicitamos, convencidos de que tínhamos feito um bom trabalho. Mas o DSM IV acabou sendo um dique frágil demais para frear o impulso agressivo e diabolicamente ardiloso das empresas farmacêuticas no sentido de introduzir novas entidades patológicas. Não soubemos nos antecipar ao poder dos laboratórios de fazer médicos, pais e pacientes acreditarem que o transtorno psiquiátrico é algo muito comum e de fácil solução. O resultado foi uma inflação diagnóstica que causa muito dano, especialmente na psiquiatria infantil. Agora, a ampliação de síndromes e patologias no DSM V vai transformar a atual inflação diagnóstica em hiperinflação.

Seremos todos considerados doentes mentais?

Algo assim. Há seis anos, encontrei amigos e colegas que tinham participado da última revisão e os vi tão entusiasmados que não pude senão recorrer à ironia: vocês ampliaram tanto a lista de patologias, eu disse a eles, que eu mesmo me reconheço em muitos desses transtornos. Com frequência me esqueço das coisas, de modo que certamente tenho uma demência em estágio preliminar; de vez em quando como muito, então provavelmente tenho a síndrome do comedor compulsivo; e, como quando minha mulher morreu a tristeza durou mais de uma semana e ainda me dói, devo ter caído em uma depressão. É absurdo. Criamos um sistema de diagnóstico que transforma problemas cotidianos e normais da vida em transtornos mentais.


Com a colaboração da indústria farmacêutica…

Os laboratórios estão enganando o público, fazendo acreditar que os problemas se resolvem com comprimidos.
É óbvio. Graças àqueles que lhes permitiram fazer publicidade de seus produtos, os laboratórios estão enganando o público, fazendo acreditar que os problemas se resolvem com comprimidos. Mas não é assim. Os fármacos são necessários e muito úteis em transtornos mentais severos e persistentes, que provocam uma grande incapacidade. Mas não ajudam nos problemas cotidianos, pelo contrário: o excesso de medicação causa mais danos que benefícios. Não existe tratamento mágico contra o mal-estar.

O que propõe para frear essa tendência?

Controlar melhor a indústria e educar de novo os médicos e a sociedade, que aceita de forma muito acrítica as facilidades oferecidas para se medicar, o que está provocando além do mais a aparição de um perigosíssimo mercado clandestino de fármacos psiquiátricos. Em meu país, 30% dos estudantes universitários e 10% dos do ensino médio compram fármacos no mercado ilegal. Há um tipo de narcótico que cria muita dependência e pode dar lugar a casos de overdose e morte. Atualmente, já há mais mortes por abuso de medicamentos do que por consumo de drogas.

Em 2009, um estudo realizado na Holanda concluiu que 34% das crianças entre 5 e 15 anos eram tratadas por hiperatividade e déficit de atenção. É crível que uma em cada três crianças seja hiperativa?

Claro que não. A incidência real está em torno de 2% a 3% da população infantil e, entretanto, 11% das crianças nos EUA estão diagnosticadas como tal e, no caso dos adolescentes homens, 20%, sendo que metade é tratada com fármacos. Outro dado surpreendente: entre as crianças em tratamento, mais de 10.000 têm menos de três anos! Isso é algo selvagem, desumano. Os melhores especialistas, aqueles que honestamente ajudaram a definir a patologia, estão horrorizados. Perdeu-se o controle.

E há tanta síndrome de Asperger como indicam as estatísticas sobre tratamentos psiquiátricos?

Esse foi um dos dois novos transtornos que incorporamos no DSM IV, e em pouco tempo o diagnóstico de autismo se triplicou. O mesmo ocorreu com a hiperatividade. Calculamos que, com os novos critérios, os diagnósticos aumentariam em 15%, mas houve uma mudança brusca a partir de 1997, quando os laboratórios lançaram no mercado fármacos novos e muito caros, e além disso puderam fazer publicidade. O diagnóstico se multiplicou por 40.

A influência dos laboratórios é evidente, mas um psiquiatra dificilmente prescreverá psicoestimulantes a uma criança sem pais angustiados que corram para o seu consultório, porque a professora disse que a criança não progride adequadamente, e eles temem que ela perca oportunidades de competir na vida. Até que ponto esses fatores culturais influenciam?

Os melhores especialistas, aqueles que honestamente ajudaram a definir a patologia, estão horrorizados. Perdeu-se o controle.
Sobre isto tenho três coisas a dizer. Primeiro, não há evidência em longo prazo de que a medicação contribua para melhorar os resultados escolares. Em curto prazo, pode acalmar a criança, inclusive ajudá-la a se concentrar melhor em suas tarefas. Mas em longo prazo esses benefícios não foram demonstrados. Segundo: estamos fazendo um experimento em grande escala com essas crianças, porque não sabemos que efeitos adversos esses fármacos podem ter com o passar do tempo. Assim como não nos ocorre receitar testosterona a uma criança para que renda mais no futebol, tampouco faz sentido tentar melhorar o rendimento escolar com fármacos. Terceiro: temos de aceitar que há diferenças entre as crianças e que nem todas cabem em um molde de normalidade que tornamos cada vez mais estreito. É muito importante que os pais protejam seus filhos, mas do excesso de medicação.

Na medicalização da vida, não influi também a cultura hedonista que busca o bem-estar a qualquer preço?

Os seres humanos são criaturas muito maleáveis. Sobrevivemos há milhões de anos graças a essa capacidade de confrontar a adversidade e nos sobrepor a ela. Agora mesmo, no Iraque ou na Síria, a vida pode ser um inferno. E entretanto as pessoas lutam para sobreviver. Se vivermos imersos em uma cultura que lança mão dos comprimidos diante de qualquer problema, vai se reduzir a nossa capacidade de confrontar o estresse e também a segurança em nós mesmos. Se esse comportamento se generalizar, a sociedade inteira se debilitará frente à adversidade. Além disso, quando tratamos um processo banal como se fosse uma enfermidade, diminuímos a dignidade de quem verdadeiramente a sofre.

E ser rotulado como alguém que sofre um transtorno mental não tem consequências também?

Muitas, e de fato a cada semana recebo emails de pais cujos filhos foram diagnosticados com um transtorno mental e estão desesperados por causa do preconceito que esse rótulo acarreta. É muito fácil fazer um diagnóstico errôneo, mas muito difícil reverter os danos que isso causa. Tanto no social como pelos efeitos adversos que o tratamento pode ter. Felizmente, está crescendo uma corrente crítica em relação a essas práticas. O próximo passo é conscientizar as pessoas de que remédio demais faz mal para a saúde.

Não vai ser fácil…

Certo, mas a mudança cultural é possível. Temos um exemplo magnífico: há 25 anos, nos EUA, 65% da população fumava. Agora, são menos de 20%. É um dos maiores avanços em saúde da história recente, e foi conseguido por uma mudança cultural. As fábricas de cigarro gastavam enormes somas de dinheiro para desinformar. O mesmo que ocorre agora com certos medicamentos psiquiátricos. Custou muito deslanchar as evidências científicas sobre o tabaco, mas, quando se conseguiu, a mudança foi muito rápida.

Nos últimos anos as autoridades sanitárias tomaram medidas para reduzir a pressão dos laboratórios sobre os médicos. Mas agora se deram conta de que podem influenciar o médico gerando demandas nos pacientes.

Há estudos que demonstram que, quando um paciente pede um medicamento, há 20 vezes mais possibilidades de ele ser prescrito do que se a decisão coubesse apenas ao médico. Na Austrália, alguns laboratórios exigiam pessoas de muito boa aparência para o cargo de visitador médico, porque haviam comprovado que gente bonita entrava com mais facilidade nos consultórios. A esse ponto chegamos. Agora temos de trabalhar para obter uma mudança de atitude nas pessoas.

Em que sentido?

Que em vez de ir ao médico em busca da pílula mágica para algo tenhamos uma atitude mais precavida. Que o normal seja que o paciente interrogue o médico cada vez que este receita algo. Perguntar por que prescreve, que benefícios traz, que efeitos adversos causará, se há outras alternativas. Se o paciente mostrar uma atitude resistente, é mais provável que os fármacos receitados a ele sejam justificados.

E também será preciso mudar hábitos.

Sim, e deixe-me lhe dizer um problema que observei. É preciso mudar os hábitos de sono! Vocês sofrem com uma grave falta de sono, e isso provoca ansiedade e irritabilidade. Jantar às 22h e ir dormir à meia-noite ou à 1h fazia sentido quando vocês faziam a sesta. O cérebro elimina toxinas à noite. Quem dorme pouco tem problemas, tanto físicos como psíquicos.

Fonte: El Pais

8 crianças que abalaram o mundo

8 crianças que abalaram o mundo

O Portal Aprendiz contou a história de 7 crianças que foram protagonistas de mudanças significativas no mundo: Anne Frank, Malala Yousafzai, Adora Svitak, Mozart, Severn Cullis-Suzuki, Samantha Smith e Louis Braille.

Nós aqui do CONTi outra achamos a seleção excelente e adicionamos mais uma, mas não menos importante criança que ajudou a mudar o mundo: Ruby Bridge

Anne Frank

Em 31 de março de 1945, morria aos 15 anos de tifo e subnutrição, no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, uma jovem judia chamada Annelies Marie Frank, ou Anne, para os amigos e familiares. Duas semanas depois, os prisioneiros do campo seriam libertados pelas forças aliadas.

Antes de ser presa e deportada para o campo de concentração com sua irmã, Anne viveu escondida das tropas nazistas por 25 meses num pequeno sótão conhecido como Anexo Secreto, em Amsterdã. A experiência ficou registrada em seu diário, que foi entregue meses depois do fim da guerra ao seu pai Otto Frank, que decidiu publicá-lo.

O diário feito livro se transformou num dos mais reconhecidos e pungentes relatos do terror nazista. O olhar jovem e observador da menina que sonhava em ser jornalista foi traduzido para mais de 68 línguas e se tornou um testamento do sofrimento, das vidas perdidas e do que a História não pode repetir.

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Malala Yousafzai

9 de outubro de 2012. Ao sair da escola, a estudante paquistanesa Malala Yousafzai, à época com 15 anos, estava prestes a embarcar no ônibus de volta para casa quando foi alvejada com tiros por membros do Talibã, grupo fundamentalista que é contra a educação feminina.

Malala foi escolhida como alvo pois era a autora do blog “Diário de uma estudante paquistanesa” desde 2009, quando tinha 11 anos. Publicava textos sobre a sua vontade de estudar em um país onde, só por ser mulher, a dificuldade do acesso à educação era ainda maior. Escrito sob um pseudônimo, o nome de Malala rapidamente se tornou conhecido, já que a garota não tinha receio em defender publicamente a educação de mulheres.

Após sobreviver ao ataque, Malala se tornou ativista e transformou-se num símbolo da causa pela educação feminina no mundo. Seu prestígio é tamanho que a paquistanesa acaba de receber o Prêmio Nobel da Paz de 2014. “Este prêmio é para todas as crianças cujas vozes precisam ser escutadas”, afirmou.

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Adora Svitak

Aos seis anos, Adora Lily Svitak ganhou um notebook de sua mãe e passou a escrever histórias. No total, foram mais de 300 pequenos textos que a criança queria publicar. Ao invés de ouvir “espere até ficar mais velha”, os pais incentivaram a pequena autora a lançar o livro “Flying Fingers” (Dedos voadores).

Desde então, a menina dá palestras em centenas de escolas – tanto para alunos como educadores – sobre a importância da literatura e da escrita. Em 2010, quando tinha 12 anos, deu uma palestra no TED e foi aplaudida de pé. “Nós crianças ainda sonhamos com a perfeição”, afirmou Adora.

Para ela, o mundo precisa de mais ideias infantis: criatividade, ideias arrojadas e principalmente otimismo. “Adultos precisam ouvir e aprender com as crianças, confiar e esperar mais de nós”, acredita a jovem escritora.

Mozart

Nascido em 1756, o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart tinha apenas cinco anos quando começou a se destacar tocando teclado, violino e, claro, criando músicas. Seu talento era tanto que, mesmo tão precoce, chamou a atenção da realeza européia e se apresentou em diversas cortes do continente.

A crítica musical considera Mozart um dos maiores compositores da história. Não é por menos: ele produziu mais de seiscentas obras, tornando-se uma referência na música erudita e influenciado diretamente o futuro da música. Requiem é uma de suas composições mais famosas.

Severn Cullis-Suzuki

A menina que calou o mundo por cinco minutos. Foi assim que a canadense Servern Cullis-Suzuki ficou conhecida em 1992, quando, aos 12 anos, fez um discurso duro e emocionante direcionado aos delegados e chefes de Estado que participavam da Rio-92, conferência que debatia o futuro do meio ambiente.

Aos nove anos, a canadense fundou a Organização das Crianças para o Meio Ambiente (ECO), grupo dedicado a aprender e ensinar outros jovens sobre as causas ambientais. Foi assim que a garota arrecadou dinheiro para participar da conferência.

“Sou apenas uma criança, mas ainda assim sei que se todo o dinheiro gasto em guerras fosse investido em soluções para o meio ambiente e também na redução da pobreza, que lugar maravilhoso a Terra seria!”, afirmou à época, para espanto dos presentes. “O que vocês estão fazendo com o mundo me faz chorar a noite.”

Disponível no YouTube, o vídeo do discurso que abalou o mundo tem mais de 28 milhões de acessos.

Samantha Smith

“Caro Senhor Andropov, meu nome é Samantha Smith. Eu tenho dez anos de idade. Parabéns pelo seu novo trabalho. Eu tenho me preocupado com a Rússia e os Estados Unidos entrarem em uma guerra nuclear”. Assim começava a carta que uma jovem de dez anos, nascida na cidadezinha de Manchester, no Maine, enviou para o líder sovético Yuri Andropov, em 1982. “Deus fez o mundo para nós vivermos juntos e não para brigarmos”, encerrava.

A carta foi publicada no jornal russo Pravda e alguns meses depois ela recebeu uma longa resposta de Andropov, que tornou a jovem Samantha uma porta-voz instântanea das crianças pela paz mundial. Ela visitou a Rússia, conheceu suas crianças e reparou que eram muito parecidas com ela. Se tornou uma pessoa pública notória em ambos os países e foi considerada “A Mais Jovem Embaixadora dos EUA”.

Escreveu livros sobre sua visita, atuou em filmes e programas de TV e viajou pelo mundo conhecendo crianças de diversas realidades. Até que, tragicamente, em 1985, morreu em um acidente de avião, deixando um legado breve e inspirador. Afinal, se tornar um símbolo comum de gregos e troianos, ou russos e americanos, em plena Guerra Fria, não era uma tarefa fácil.

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Louis Braille

“Se os meus olhos não me deixam obter informações sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra forma.”

O método Braille é hoje difundido por todo o mundo como a principal forma de leitura para deficientes visuais. A série de pontilhados em relevo permite, pelo tato, uma rápida e fácil compreensão de longos textos. Mas você sabia que ele foi inventado por um jovem?

Em 1809, com 10 anos, Louis Braille ganhou uma bolsa de estudos de um prestigioso instituto para cegos na França, após se destacar numa escola comum. Aos 12, começou a se dedicar, com a ajuda de um capitão reformado, na formulação de um sistema simplificado de escrita, que viria se tornar o método Braille, concluído quando tinha apenas quinze anos. Ainda adolescente, começou a dar aulas no Instituto onde estudava.

Após 200 anos, o Braille permanece praticamente inalterado e seus mais ágeis leitores conseguem ler até 200 palavras por minuto. A invenção, no entanto, só foi amplamente reconhecida dois anos após a morte de Braille, em 1852. Antes disso, foi proibida no mesmo instituto onde foi inventado, o que não impediu em nada que os jovens, em segredo, continuassem a aprender e aperfeiçoar o método.

Ruby Bridge

Em 1960, a Suprema Corte americana ordenou que todas as escolas públicas do país cessassem a segregação racial e passassem a integrar alunos negros em suas salas de aula. Neste contexto, a família da garota Ruby Bridges decidiu matriculá-la em um colégio “All White” de Nova Orleans, chamado William Frantz. Seu pai era relutante, mas a mãe disse que a mudança era necessária não apenas por uma melhor educação para sua filha, mas também para “dar um passo a frente à todas as crianças afro-americanas”.

Temendo algum tipo de represália, seus pais pediram escolta da polícia local, para que Ruby pudesse ir à escola em segurança.

Para surpresa (nem tanto) da família, a polícia da cidade recusou o pedido, e disse que não ajudaria na segurança da garota. Com isso, a presença dos oficiais federais foi solicitada e, assim, a menina pôde caminhar de sua casa até à escola. Chegando no colégio, uma multidão de pais enfurecidos protestavam contra a presença da negra no colégio.

Quando perceberam que a inclusão da garota no colégio era inevitável, os pais dos alunos brancos resolveram entrar no colégio e retirar seus filhos do local; os professores também se recusaram a ensinar a garota. Barbara Henry, uma jovem docente, foi a única que se mostrou disposta a ser professora de Ruby e, com isso, a criança resolveu continuar no colégio, mesmo com tantas manifestações contra.

Durante todo o ano letivo, Ruby era ensinada em uma classe que só tinha ela como aluna.

Nos primeiros dias conviveu com ameaças de morte, inclusive por funcionárias do colégio, que ameaçavam envenenar sua comida. Os agentes federais decidiram que a garota só poderia consumir alimentos trazidos de casa pela própria aluna. Outra funcionária colocou uma boneca negra em um caixão de madeira e protestou com ela fora da escola.

A família de Bridges sofreu com todo este processo: seu pai perdeu o emprego, e seus avós (que eram meeiros no Mississippi) foram desligados de suas terras. O acontecimento, porém, possui alguns bons exemplos. A comunidade negra, com alguns poucos integrantes brancos opostos ao racismo, tentaram ajudar. Um vizinho conseguiu outro emprego para seu pai. Além disso, algumas famílias brancas continuaram a enviar seus filhos ao colégio. (fonte)

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Você se lembrou de outras crianças que mudaram o curso da história? Escreva sobre ela para nós nos comentários.

10 filmes sobre a loucura e outros transtornos mentais

10 filmes sobre a loucura e outros transtornos mentais

Talvez muita gente não saiba, mas a loucura é inspiradora. Seja em filmes, livros ou pinturas, a loucura costuma ser um dos temas mais retratados. Talvez isso se deva ao fato de ela sempre ter sido envolvida por uma aura mística/marginal/violenta, dependendo da fase da história. E além da loucura propriamente dita, também temos os outros transtornos, como o autismo e a depressão, por exemplo, que também costumam ser bastante representadas.

1.    Bicho de Sete Cabeças

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Neto (Rodrigo Santoro), um adolescente de classe média, leva uma vida normal até o dia em que seu pai o interna em um manicômio após encontrar um baseado no bolso do seu casaco. Incompreendido pelo pai conservador, Neto é apenas um adolescente em busca de liberdade, que experimenta a vida e tem algumas rebeldias. Com a relação difícil e a falta de conhecimento, a internação acabou sendo a saída mais fácil para os pais. Fácil para eles, mas o inferno para o jovem, que passa a viver a dura e desumana realidade dos hospícios, onde as pessoas são violentadas em um cotidiano que beira a miséria. Uma jornada pelo inferno que é a vida manicomial, esse filme é exemplo quando o tema é a forma de tratamento cruel dessas instituições de internamento.

 2.    Bem me quer, mal me quer

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Angélique (Audrey Tautou) é uma artista plástica que desenvolve uma paixão desmedida por Loic (Samuel Le Bihan), um médico cardiologista casado e bem sucedido. Diante desse contexto e de alguns outros eventos, os amigos de Angélique tentam fazer com que ela esqueça o médico, mas nada disso consegue diminuir os sentimentos da jovem. Ela persiste na ideia de que Loic a ama, transformando seu amor em uma perigosa obsessão. Esse filme é daqueles que enganam à primeira vista, mas trazem a reviravolta. Esse longa fala de um transtorno mental chamado de Erotomania ou Síndrome de Clérambault que, de um modo geral, pode ser definida como a convicção delirante de alguém que acredita que a outra pessoa, geralmente de classe social mais elevada, está secretamente apaixonada por ela.

3.    O Solista

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Baseado em uma história real, o filme conta a história de Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), um esquizofrênico que mora nas ruas de Los Angeles e toca violino e violoncelo. Atraído pelo som do violino, o jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) se aproxima e surge aí uma relação entre eles. Com o objetivo inicial de fazer uma matéria sobre Nathaniel, vemos que o relacionamento vai além disso, chegando a, porque não dizer, uma amizade. Por falar de música e de alucinações – que são sintomas da esquizofrenia de Nathaniel-, o filme estimula e emociona, principalmente nas cenas em que o músico está tocando. De um modo geral, é um bom filme para compreender melhor a esquizofrenia.

4.   Adam

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Adam sits on front stoop, Beth comes to talk

Esse filme conta a história de Adam (Hugh Dancy), um rapaz estranho e desajeitado que acabara de perder o pai. Após conhecer a nova moradora do apartamento de cima, Adam descobre em Beth uma nova forma de viver, despertando nele um sentimento totalmente novo. Nele, Beth (Rose Byrne) descobre um rapaz bondoso, fascinado por astrologia, mas com sérios problemas em se relacionar com as outras pessoas. Adam tem um tipo de autismo chamado Síndrome de Asperger, e através da delicadeza do filme podemos compreender um pouco melhor a vida de quem tem essa síndrome.

5.   Dá Para Fazer

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O que acontece quando um sindicalista cheio de ideias avançadas assume a direção de uma cooperativa de doentes mentais? Essa é a história base do filme. Nello (Claudio Bisio) assume a direção da cooperativa formada por ex-pacientes dos manicômios que foram fechados na Itália pela Lei Basaglia, que aboliu os hospitais psiquiátricos. Ao longo da história, acompanhamos a tentativa de Nello de implantar no local uma prática que substitua o assistencialismo por um trabalho de verdade, através do qual os pacientes tenham participação nos lucros de seu próprio trabalho. A questão é que existem as especificidades de cada paciente, já que cada um deles tem um transtorno específico. O filme é delicado e trata a questão com um pouco de humor, comovendo quem assiste e abordando uma temática atual, já que vemos no Brasil esse movimento de fechamento dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outros serviços.

6.   Um Novo Despertar

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Walter Black (Mel Gibson) é presidente de uma indústria de brinquedos, mas se encontra em um quadro de depressão. Por causa disso, ele está cada vez mais distante da esposa, Meredith (Jodie Foster) e dos filhos, Porter (Anton Yelchin) e Henry (Riley Thomas Stewart). A situação fica crítica quando Walter é posto para fora de casa pela esposa, fazendo com que ele comece a ter ideias suicidas. Certo dia, a caminho do hotel, Walter encontra no lixo um fantoche de Castor que acabará se tornando a nova técnica para ajuda-lo a se tratar da depressão. Ao longo do filme, vemos o desenrolar da história e a fuga da realidade através da criação de um personagem incorporado na figura do castor surge como um recurso de Walter para enfrentar a depressão. Porém, vemos também as implicações que isso acaba trazendo.

7.   Precisamos Falar Sobre o Kevin

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Conhecido por retratar um caso de perversão sem floreios e disfarces, esse filme conta a história de uma mãe e o seu difícil relacionamento com o filho primogênito. Eva (Tilda Swinton) lida com sentimentos diversos em relação à maternidade, além do sentimento de culpa por causa dos atos de seu filho, Kevin (Jasper Newell/Ezra Miller). Além disso, o filme retrata também o desenvolvimento de Kevin, na tentativa de explicar e justificar os seus atos, mostrando os motivos que podem ter o levado a ser como ele é. De um modo geral, Precisamos Falar Sobre Kevin ilustra bem um caso de perversão, além de retratar a importância dos pais na vida de uma criança.

8.   Cisne Negro

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Considerado um drama psicológico, esse filme conta a história de Nina Sayers (Natalie Portman), uma bailarina que tem na dança a sua vida. Nina mora com a mãe, que é bailarina aposentada e estimula a ambição profissional da filha. Certo dia, o diretor artístico da companhia decide substituir a bailarina principal na apresentação de abertura da temporada e Nina é a sua primeira escolha. Após isso, Nina passa a considerar as outras bailarinas como concorrentes, inclusive Lily (Mila Kunis), que é a que mais impressiona o diretor. Para a apresentação de O Lago dos Cisnes, deverá ser escolhida uma bailarina que seja capaz de interpretar tanto o Cisne Branco, com inocência e graciosidade, quanto o Cisne Negro, que representa a malícia e a sensualidade. A busca por essa dualidade acaba causando um conflito na mente de Nina, que busca obsessivamente aperfeiçoar o seu cisne negro. Diante de tudo isso, vemos a sua sanidade desaparecer.

9. Uma Mente Brilhante

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Baseado em um fato real, Uma Mente Brilhante fala sobre o gênio da matemática John Nash (Russell Crowe), que ganhou fama no mundo acadêmico após formular um complexo teorema aos 21 anos de idade. Por causa da sua habilidade com a matemática, Nash começa a trabalhar secretamente para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A partir daí, sentindo-se sempre perseguido, Nash põe em perigo a sua carreira e o seu casamento, pois aí começam os seus delírios e alucinações. Anos mais tarde, ele foi diagnosticado com esquizofrenia e deu início a sua luta contra a doença, reintegrando-se lentamente à sociedade e chegando a ser premiado com o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel. Esse também é um bom filme para ilustrar um caso de esquizofrenia.

10.   Geração Prozac

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Elizabeth (Christina Ricci) é uma menina comum que viu seus pais se divorciarem muito cedo e cresceu sob os cuidados da mãe. Aos dezenove anos, consegue uma vaga no curso de Jornalismo na universidade de Harvard. Porém, Lizzie – como é chamada – acaba desenvolvendo uma profunda depressão e se dedica a noites de trabalho sempre regadas a drogas e bebidas. Além disso, sua instabilidade emocional afeta seu relacionamento com as pessoas. Diante de todo esse contexto, Elizabeth decide procurar ajuda profissional e marca uma consulta com a Dra. Diana Sterling (Anne Heche), que lhe receita o antidepressivo Prozac. Nesse filme, além da depressão, é possível também ver a relação do paciente com o remédio e a medicalização tão comum ainda nos dias atuais.

Por Luciana. Fonte indicada Revista 21

Dona Jura e a memória

Dona Jura e a memória

Limão, terra, bola. Se não me engano, eram essas as palavras que minha avó foi convidada a guardar na memória durante uma de suas tantas consultas geriátricas. Já faz alguns meses que seus lapsos preocupam a família. Meu mais recente espanto foi quando me telefonou apenas para confirmar o restaurante do almoço de domingo, cancelado com ênfase na véspera. Quis lembrá-la de nossa conversa, dos detalhes que atenuavam aquele domingo carente de filho ou de neta, mas temia descobrir que nada daquilo se mantivera com ela. Preferi o silêncio.

Está acontecendo de modo bastante discreto, é verdade, mas minha avó aos poucos se ausenta desse mundo que compartilhamos. É um misto de poesia e tristeza observar aquilo que fica, que por alguma razão é escolhido para permanecer, delineando um fio de vínculo sutil entre ela e as pessoas. As mangas, por exemplo. Há alguns meses, ganhou centralidade na conversa do café da tarde o meu gosto por mangas. Desde então, e apesar de mim ou da verdade, receberam o rótulo de fruta preferida da neta e encontram-se, invariavelmente, entre suas compras da semana. Às vezes, quando já estou na porta do elevador, ela arregala os olhos e acena para que eu espere. É um saco plástico. Desenrolo o embrulho que fez na pressa, e lá está mais uma manga.

Lembranças remotas ora se solidificam, ora se reinventam. Ficamos sem saber se virão com certo frescor ou maior intensidade, se é que virão. Mencionamos alguns primos já idos e ela sorri no volume alto. A dor do filho perdido há décadas, no entanto, se mostra a cada dia mais insuportável. Nesse processo, descubro também a versão pontiaguda de minha avó. Disposta a deslindar antigos emaranhados de dor, exercita uma mordacidade que antes não cabia em seu repertório por demais vovozinha. “Lá quando tu era guri e decidiu morar nos Estados Unidos, foi por que teu irmão morreu? Eu lembro que tinha dois filhos e de repente um dia não tinha mais nenhum.” Essa foi para meu pai, numa terça-feira qualquer, acompanhada de biscoitos doces.

Imagino aquele domingo sem almoço, após uma ligação embaraçosa, como um dia difícil para minha avó. Não porque sempre haja almoço de domingo. Pelo contrário, não tem havido almoço algum. É que domingo sempre foi dia de ver a Dona Jura, que é como costumamos chamá-la, em tom jocoso. Íamos, os quatro lá de casa (e aí termina a família), passar o final do dia com ela e meu avô. Com frequência, a encontrávamos deitada no quarto sem uma única luz a entrar. Parecia que aos domingos ela se lembrava de sofrer, de fazer seu eterno luto. Na sala, assistíamos todos ao programa do Faustão e um pouco do Fantástico. Sem o volume, escolha do meu avô, como todas as outras na casa. Eu esperava os intervalos para ir até a cozinha abrir as portas daquele que denominei armário das guloseimas. Lá estavam todos os doces e salgadinhos preferidos meus e do meu irmão. Não esquecia nenhum, um domingo sequer.

Faz uns dias, empreendemos uma nova visita dominical. Meu pai, separado. Meu irmão, em passagem breve pela cidade. O Faustão, graças a Deus, continua em silêncio. No entanto, disputa espaço com algumas missas transmitidas ao vivo. Na dúvida, migramos para a cozinha. As guloseimas dos netos, encabeçadas, é claro, pelas mangas, são hoje mais saudáveis e estão na geladeira ou sobre a mesa. Durante o café, Dona Jura, que hoje se esquece de sofrer deitada, não lembra o lugar onde meu irmão mora, mas sim que seu tempo não está entre os mais longos. Reivindica bisnetos.

No desejo um tanto controverso de acelerar e estancar o tempo daquele café, que não deve se reproduzir, não naquelas condições, abro o jornal para completar as palavras cruzadas em família. Decerto meu irmão, meu pai e eu mesma esqueceremos de vasculhar discretamente nossos telefones. Dona Jura comenta que naquele jornal os aniversariantes são homenageados em uma página com suas fotos. Está segura de que no próximo trinta e um de maio, dia de seus oitenta e três anos, terá sua foto publicada nessa página. Paramos qualquer atividade, temos um assunto comum. Perguntada sobre como isso aconteceria na prática, não hesita: o entregador da noite virá pedir seu retrato. Mas olha, vou dizer, me traz de volta amanhã mesmo!

A escolha refletida de um retrato que mereça ir para o jornal ainda deve ocupar suas manhãs e tardes até os fins de maio, apesar de nossas risadas e explicações a respeito da improvável solicitação do entregador. Dona Jura lembrou-nos, no anacronismo de sua fantasia, que ainda gosta de ser lembrada. A nós, que tínhamos mesmo esquecido, talvez por excesso de zelo, de reparar naquela senhora, naquilo que ainda lhe é vivaz, que a mantém Dona Jura. Nosso lapso era tanto mais grave que o de minha avó, que ao final da consulta não guardava desimportâncias como terra, bola, limão, mas correu a comprar mangas frescas antes que chegassem as cinco horas.

A crônica acima é de autoria de Lolita Campani Beretta, a neta tão carinhosamente presenteada com mangas.

Ela se passou por homem durante 42 anos para poder trabalhar e sustentar a filha

Ela se passou por homem durante 42 anos para poder trabalhar e sustentar a filha

Há 42 anos, a egípcia Sisa Abu Daooh deixou de lado os vestidos, a maquiagem e os cabelos longos. Quando seu marido morreu, ela se viu sozinha, com uma filha para criar, em um país em que, na época, mulheres não podiam trabalhar. A decisão foi bastante óbvia (e corajosa!): para conseguir um emprego e poder sustentar a filha, Sisa decidiu se passar por homem.

Na cidade de Luxor, ela trabalhou por mais de 7 anos na construção civil, realizou pesados trabalhos braçais – com os quais conseguia ganhar pouco mais de 1 dólar por dia -, sentou nos cafés e rezou ao lado de homens, vestindo sua tradicional túnica, conhecida como galabeya. Durante todo esse tempo, apenas sua filha, alguns familiares e vizinhos sabiam do segredo, segundo o NY Times.

Hoje, aos 64 anos, trabalhando como engraxate e orgulhosa por ter conseguido criar sua filha de forma digna, Sisa decidiu revelar sua real identidade publicamente. Não, ela não pretende voltar a usar roupas femininas ou deixar o cabelo crescer – esta ainda é uma forma conveniente de evitar situações em que o machismo impera.

contioutra.com - Ela se passou por homem durante 42 anos para poder trabalhar e sustentar a filha
Foto © Bryan Denton/NY Times
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Foto © Bryan Denton/NY Times

Entretanto, ela teve medo quando a polícia egípcia começou uma forte onda de repressão contra homossexuais, travestis e transgêneros. Sisa fez questão de deixar claro que o uso das roupas masculinas nada tem a ver com sua sexualidade e o esforço da dupla identidade para superar uma sociedade machista lhe garantiu até mesmo uma condecoração oficial.

A ação de Sisa para que ela e sua filha sobrevivessem é incrível. Contudo, ela é apenas uma em um país que ainda sofre muito com preconceito de gênero – hoje, apenas 26% das mulheres egípcias trabalham, contra 79% dos homens. Para o Egito, infelizmente, condecorar uma mulher que precisou passar 42 anos se fingindo de homem é mais fácil que propor ações para combater a cultura machista.

Fonte indicada Hypeness

Quando você me deixou, meu bem.

Quando você me deixou, meu bem.

Era uma vez uma bela princesa que vivia em um palácio por volta do século V A.C. Uma noite, enquanto dormia serenamente com o filho ao seu lado, foi abandonada por seu marido sem nenhuma explicação. Um ato mundano que não teria maior relevância não fosse o tal marido o próprio Siddhartha Gautama, o “Buddha”.

Os relatos históricos afirmam que Buddha precisava se desapegar de tudo o que o prendia aos desejos do corpo e da mente e por isso decidiu partir sozinho. Nesse ponto, poderíamos até cogitar semelhanças entre esse fato e aquele ocorrido no conto clássico do cigarro. Uma noite, o marido saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou para casa. A diferença é que a intenção de Buddha ao abandonar o seu lar era alcançar a iluminação e, a partir disso, nos agraciar com seus ensinamentos acerca da origem dos sofrimentos humanos e principalmente como eliminá-los.

Pensando bem, Buddha retornou ao Palácio e reencontrou a princesa Yashodhara e seu filho. Ele foi prontamente perdoado por sua família, ainda segundo os relatos. Logo após, ela também buscou o caminho espiritual. Afinal, Yashodhara tinha outra escolha?

Sendo mulher e vivendo sob um sistema patriarcal arcaico, seria quase impossível para a princesa encontrar o “caminho do meio” fora do confinamento do palácio. Logo, seria possível que o sofrimento imposto pela ausência de seu grande amor tenha promovido em Yashodhara as mesmas transformações internas que levaram o Buddha à iluminação?

No livro “Joias Raras do Ensinamento Buddhista”, que traz uma coletânea de artigos organizada por Ricardo Sasaki, há uma passagem na qual se esclarece que a palavra Buddha significa despertar. Assim, ao abandonar seu lar de forma abrupta Buddha promoveu mudanças na realidade de sua esposa mesmo que tal fato não tenha sido premeditado. Ao buscar o seu caminho espiritual longe do palácio, ele também abriu uma porta para que Yashodhara se libertasse da ilusão que a cercava.

Dito isso, quem são as nossas “Yashodharas” contemporâneas? Quais suas escolhas após a dura constatação do abandono por iniciativa de seus parceiros? Dizem que sempre temos uma escolha frente aos desafios apresentados pela vida. Podemos nos entregar a um sofrimento sem fim ou buscar forças para transformar aquele momento em uma nova etapa de vida (muitas vezes bem melhor que a anterior).

Chico Buarque, em uma de suas famosas composições, profetiza “Olhos nos olhos, quero ver o que você faz. Ao sentir que sem você eu passo bem demais”. Se as Yashodharas de hoje ainda não passam bem demais, pelo menos estão melhores do que na companhia de homens que não desejam estar ao lado delas. Seja a motivação de caráter nobre ou não.

Ficamos mais abertos para receber as bênçãos em nossas vidas quando aceitamos os acontecimentos difíceis sem resistência. Não foi o próprio Buddha que nos presenteou com o conceito de impermanência? Nada dura para sempre. Nem mesmo o sofrimento.

Freud de boteco: como os conceitos do psicanalista se popularizaram?

Freud de boteco: como os conceitos do psicanalista se popularizaram?

Setenta e cinco anos após a morte do psicanalista Sigmund Freud, conceitos e frases que ele criou estão hoje profundamente arraigados na cultura popular.

Como o jargão freudiano se popularizou dessa forma?

Existe o Freud da literatura médica – o homem barbudo que fundou a psicanálise. O Freud que é constante fonte de debate entre acadêmicos.

Depois existe o outro Freud, o Freud da mesa de bar. Aquele que você talvez mencione quando falar de um sonho, ou de um ato falho, ou de alguém que é meio apegado à mãe.

Complexo de Édipo. Negação. Id, ego e superego. Libido. Retenção anal. Mecanismo de defesa. Símbolo fálico. Projeção. Não é só a terminologia de Freud que se espalhou pelo léxico popular – o próprio nome Freud virou um adjetivo.

Nenhum outro intelectual do século 20 pode competir com Freud. Nem o filósofo Jean-Paul Sartre, nem o físico Albert Einstein.

Críticos de cinema raramente citam o filósofo Michel Foucault ou a escritora existencialista Simone de Beauvoir. Mas todo mundo sabe – ou pelo menos pensa que sabe – o que você está querendo dizer quando menciona Freud. O inconsciente. Repressão sexual. Sonhos. Problemas com mãe e pai.

“Você não precisa ler Freud para viver em um mundo onde Freud é importante – ou para pensar de forma freudiana”, diz Stefan Marianski, do Freud Museum, em Londres.

Basta consumir cultura popular produzida a partir de meados do século 20.

Freud escrevia muito bem e ilustrou seus livros sobre psicanálise com referências ao trabalho de grandes artistas, entre eles William Shakespeare, Fiódor Dostoiévski e Leonardo da Vinci.

No entanto, para o psicólogo Oliver James, autor do livro Love Bombing, “a razão pela qual Freud se tornou uma figura tão importante na nossa cultura é que ele foi trazido para a cultura popular pelo cinema”.

Começando em 1945, com o suspense inspirado na psicanálise Quando Fala o Coração, de Alfred Hitchcock, a história do cinema está repleta de referências a Freud.

Talvez o diretor que mais tenha contribuído para a disseminação de frases e conceitos freudianos seja o norte-americano Woody Allen.

No início do filme Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), por exemplo, ele diz: “Nunca tive uma fase de latência”. (O termo “fase de latência” é usado por Freud para descrever um intervalo no desenvolvimento da sexualidade infantil, geralmente identificada entre os seis e dez anos de idade.)

O pensamento freudiano também pode ser identificado no relacionamento entre pai e filho em Guerra nas Estrelas: O Império Contra-ataca e emDe Volta para o Futuro.

O filme “é basicamente o complexo de Édipo”, diz Marianski. “Na verdade, a lógica de De Volta para o Futuro é a mesma de Psicose“.

Depois, você tem os romances de de Virginia Woolf e James Joyce, que usam uma técnica literária baseada no conceito freudiano de fluxo de consciência. Salvador Dali e os surrealistas. Os Sopranos e Frasier.

Também o filme Um Método Perigoso, de 2011, estrelado por Viggo Mortensen, no papel de Freud. Ou qualquer outro filme envolvendo lembranças reprimidas, sonhos ou uma personagem com impulsos incestuosos.

Vale dizer que muitas dessas ideias não são uma representação fiel, no sentido acadêmico, do pensamento de Freud. A distância entre o Freud de boteco e aquilo que Freud realmente disse tende a ser grande.

Muito do que Freud pensava – especialmente no que diz respeito à sexualidade infantil – era considerado, no tempo em que ele era vivo, radical e perigoso. Os aspectos mais difíceis de seu trabalho raramente eram discutidos pela mídia.

“Acho que a maioria de nós tem apenas uma vaga – e talvez defensivamente vaga – noção do que Freud está realmente dizendo”, diz o acadêmico Nicholas Ray, que ensina Freud na Leeds University.

“Até porque, na cultura popular o trabalho dele com frequência é diluído, para que se torne mais palatável, para reduzir sua complexidade – e sua dificuldade – e para transformá-lo em uma fantasia aconchegante e tranquilizadora”.

Ou seja, no final do filme, a lembrança reprimida é recuperada, a heroína adquire o auto-conhecimento e a audiência ganha um final satisfatório.

Freud pode ser incompreendido e suas ideias representadas de forma errônea, mas não há como negar que sua obra continua sendo objeto de fascínio.

Isso é ainda mais impressionante quando se leva em conta que muito do que ele escreveu foi suplantado por pesquisas posteriores.

E que, em certos círculos acadêmicos, suas teorias foram ferozmente atacadas – especialmente por feministas, que consideram conceitos como a “inveja do pênis” misóginos, e acusam Freud de ignorar evidências de que alguns de seus pacientes haviam sofrido abuso na infância.

Freud ainda tem seus adeptos – entre eles, o psicólogo e escritor britânico Oliver James, que diz que suas teorias sobre sonhos, o inconsciente e a influência dos primeiros anos de vida na formação de um indivíduo ainda são válidas.

Marianski, do Freud Museum, admite, no entanto, que Freud “é lido hoje principalmente em departamentos de humanidades”.

O filme “é basicamente o complexo de Édipo”, diz Marianski. “Na verdade, a lógica de De Volta para o Futuro é a mesma de Psicose“.

Depois, você tem os romances de de Virginia Woolf e James Joyce, que usam uma técnica literária baseada no conceito freudiano de fluxo de consciência. Salvador Dali e os surrealistas. Os Sopranos e Frasier.

Também o filme Um Método Perigoso, de 2011, estrelado por Viggo Mortensen, no papel de Freud. Ou qualquer outro filme envolvendo lembranças reprimidas, sonhos ou uma personagem com impulsos incestuosos.

Sigmund Freud 1856-1939

Neurologista austríaco e fundador da psicanálise, tido como um dos mais influentes – e polêmicos – pensadores do Século 20.

Nascido em Freiberg, Morávia (hoje Pribor, na República Tcheca)

Sua família se mudou para Leipzig e depois para Viena, onde Freud estudou medicina

Desenvolveu uma teoria segundo a qual o ser humano possui duas pulsões inatas, a sexual e a de morte. Essas duas pulsões opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam ser controladas através da educação. A situação de não poder dar vazão a essa energia gera no indivíduo um estado de tensão interna que necessita ser resolvido.

Sua obra mais importante, A Interpretação dos Sonhos, foi publicado em 1900. Nele, sonhos são explicados em termos de desejos e experiências inconscientes

Em 1923, ele publicou O Ego e o Id, propondo um novo modelo estrutural para a mente humana, dividido entre o “id”, o “ego” e o “superego”

Em 1938, logo após a anexação da Áustria pelos nazistas, Freud partiu de Viena para Londres, onde morreu no ano seguinte. Fonte: BBC History

 

6 pessoas ficam amigas na escuridão. Quando as luzes se acendem, todas ficam chocadas

6 pessoas ficam amigas na escuridão. Quando as luzes se acendem, todas ficam chocadas

“Rótulos são para latas, não para pessoas.”

Essa é a premissa de uma nova campanha da Coca-Cola que bombou no Oriente Médio e tem se espalhado para o resto do mundo.

A marca tem se empenhado em promover uma vida sem pré-julgamentos baseados em aparências e primeiras impressões. Para isso, seis pessoas totalmente diferentes e com estilos de vida distintos são convidadas para sentarem-se numa mesa, numa sala completamente escura.

O resultado é impressionante e proporciona uma série de reflexões morais em meio à intensa discussão de valores, princípios, igualdade e preconceito.

Fonte: Best of Web

Não mexa com o meu cabelo

Não mexa com o meu cabelo

Entendemos que o racismo e o preconceito são males arraigados em nossa sociedade. Esses males, muitas vezes, usam a capa da invisibilidade, valendo-se da omissão de muitos dentre aqueles que bem os enxergam.

Contudo, é preciso colocar às claras tanto a existência e a recorrência de tais condutas, como ainda dar voz aos injustamente ofendidos, de sorte que se façam ouvir e se unam na busca do respeito a que fazem jus.

Vimos o relato abaixo, em forma de desabafo, em uma rede social e, com a devida autorização, aqui o reproduzimos, na esperança de dias melhores.

“Estávamos no aeroporto em Brasilia, voltando para o RJ,passamos rápido por uma lanchonete já na área de embarque,uma.criança branca lisa e loira toda de rosinha estava com o lanche na mão… Ela olhou para a Elis e gritou: “Cabelo feioooo…” Gritou bem alto.
Eu e o meu marido olhamos para ela bem sérios e ela abaixou a cabeça.

A Elis não olhou e seguiu sem falar nada, só apertou a minha mão.

Sentamos, e eu perguntei se estava tudo bem, ela não quis falar, só me abraçou.
O pai ficou revoltado e queria que ela falasse o que estava sentindo ou que ela respondesse. Ele queria voltar lá e procurar os pais da criança.

Não dá… Não deu…

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Essa é a bela Elis!

Somos pais presentes, enegrecidos… Conversamos sobre racismo com as nossas filhas desde sempre.
E mesmo assim ficamos sem ação.
Ela só tem 4 anos… É toda estilosa, descolada e esperta…porém o racismo e preconceito fazem isso com a gente.

Eu queria muito entrar em seu peito e retirar aquele nó que só o racismo faz… Aquele aperto, misturado com vergonha.
Ela não esperava aquele grito…ela não está acostumada com isso.
Ela veio sem falar nada, dormiu a viagem toda.
Ainda não toquei no assunto, porém sinto que o trabalho precisa ser mais firme.

Pais: Seus filhos, mesmo que pequenos, já são vítimas do racismo.
É resistência diária… É conversa…É leitura…É representação

Isso será para sempre… Não é vitimismo, infelizmente é a nossa realidade.

*A menina tinha uns 3 anos..com certeza reproduz o que ouve em casa ou na escola.

Continuaremos empoderando,encrespando e resistindo.”

Texto de Renata Morais.

Lições que o convívio com crianças nos proporciona

Lições que o convívio com crianças nos proporciona

Feliz daquele que convive com as crianças. Elas precisam de tão pouco para serem felizes e são capazes de fazer de uma banalidade um grande acontecimento. Talvez por isso estejam mais perto de Deus. Elas nos mostram que a felicidade pode estar nas pequenas coisas, basta que nos disponhamos a ver. Mais do que isso, são um verdadeiro GPS, estão ali, o tempo todo a nos indicar o caminho, tão mais simples e mais fácil do que pensávamos, mas que nem sempre estamos prontos para enxergar. Sábias as crianças…
Quando a coisa aperta, fogem para o mundo da fantasia, repleto de fadas, princesas e duendes, pois de sapos o mundo real já está cheio.

Ah as crianças… são seres realmente especiais, se adaptam tão facilmente às mudanças, brigam e fazem as pazes com a maior facilidade e tudo isso porque parecem saber que tudo é realmente passageiro. Como a dor de um machucado que logo passa com o beijinho da mamãe.

Vendo as minhas filhotas fantasiadas, brincando, me ponho a pensar que filhos são aquelas pessoinhas com poderes mágicos que Deus coloca na nossa vida para que possamos aprender muitas lições, como essas que estão a seguir:

Lição no. 1: Tudo passa, especialmente depois de um bom sorvete de creme;

Lição no. 2: Cada dia é um recomeço seja porque você terá que falar as mesmas 300 coisas que falou ontem novamente ou porque independente de você ter dado uma bronca ou colocado de castigo, eles estão lá , prontos pra te abraçar;

Lição no. 3: Você é realmente alguém especial, pois mesmo quando acorda descabelada e com a camiseta mais esfarrapada, eles te dizem o quanto você está linda;

Lição no. 4: A vida é muito melhor quando compartilhada e amigos a gente faz onde quer que vá, seja na fila do banco, na aula de ballet, no clube, no prédio que a gente mora ou no baú de brinquedos;

Lição no. 5: Os medos são feitos pra serem respeitados, mas também enfrentados, de preferência de mãos dadas com alguém que a gente ama, na pontinha dos pés e com as luzes acesas;

Lição no. 6: A motivação faz a gente vencer qualquer desafio. Não acredita nisso? Dá uma lembrada na última vez que saiu para as compras na véspera de Natal…;

Lição no. 7: Tudo tem seu outro lado: ficar doente é péssimo, mas deixar de ir à aula e ficar vendo TV agarradinho com a mamãe é tudo de bom;

Lição no. 8: Os banhos não foram feitos somente pra gente ficar limpinho e cheiroso, mas para brincar de piscina, dar banho em bonecas, fazer penteados malucos com espuma e, principalmente, cantar, de preferência bem alto e desafinado;

Lição no. 9: A gente precisa de muito pouco pra se divertir, piquenique no parque, acampamento na sala e guerra de travesseiros podem gerar boas risadas e, o melhor, são de graça;

Lição no. 10: As lições que a gente aprende na vida não valem de nada se não forem colocadas em prática e divididas com as pessoas a quem amamos.

Obrigada filhotas por tudo que vocês me ensinam, mesmo sem saber!

Sabedoria fugaz

Sabedoria fugaz

Nunca tivemos tantas informações à nossa disposição como hoje em dia. As informações praticamente voam diante de nossos olhos, passando rapidamente, como um foguete, como um cometa, às vezes até como um fatasma. Na verdade, somos literalmente inundados com posts de tudo quanto é tipo, o tempo todo, numa velocidade rasante.

Vemos um artigo interessante e gostamos (ou não!), curtimos (ou não!), compartilhamos (ou não!). Pode ocorrer de um texto muito sábio ser admirado por muitos, que então o comentam e elogiam, e esse texto fica nos centros das atenções, mas por quanto tempo? Alguns dias, algumas horas ou mesmo somente alguns minutos? Na verdade, somente até aparecer o próximo texto sábio (ou mesmo nada sábio, mas que chama atenção por algum outro motivo!). E é assim que vivemos e nos alimentamos de uma sabedoria fugaz, que agora tem importância, mas que já perde o destaque ou até mesmo a validade dentro de pouco tempo. E aquela sabedoria tão destacada agora já cai no esquecimento antes mesmo de ser entendida e refletida. Sim, é isso mesmo: falta reflexão! Nos vemos confrontados com uma inflação de informações, que nos entope de “sabedoria”, mas do que vale uma sabedoria se ela não chega a ser refletida? Do que ela vale mesmo se sua existência já tem as horas contadas mesmo antes de poderem ser digeridas completamente? E que sentido faz isso?

Indago, então, se isso tudo nos torna realmente mais sábios, se isso tudo nos traz realmente algum enriquecimento ou se tudo isso simplesmente não só serve de álibi para nossa ignorância, só serve de enfeite para nossa falta de conhecimento e de interesse profundo por alguma coisa…

Sento-me e escrevo estas palavras, sabendo que sua vida será curta, sabendo que elas talvez nem cheguem a viver realmente, já que sua existência no mundo virtual dependerá de fatores que eu, como autor, não posso controlar. Se publico o que escrevo num momento raro de vácuo cibernético, poderei talvez despertar o interesse de muitos, mas se no mesmo momento correr a notícia da morte de um cantor sertanejo ou um vídeo de um cachorro tocando violão, será que alguém dará alguma importância real ao que escrevo? Provavelmente não.

Não é de se admirar então que autores publicam freneticamente conteúdos diversos, tentando acompanhar o Main Stream, na esperança de acertarem pelo menos uma vez e terem então um pouco da atenção da comunidade virtual. E ficam felizes quando conseguem, sim, finalmente algo seu no centro, algo seu sendo visto por tanta gente, sua sabedoria sendo curtida, comentada e compatilhada, quanta emoção!!! Mas só até que PUFF!, ela se evapora, de repente, sumindo no mar de ex-atrações, se perdendo no buraco sem fundo que são os bancos de dados de redes sociais…

Sabedoria fugaz, efêmera, que chega rápido e passa rápido, sabedoria gasosa, que já não pode nem ser segurada, muito menos refletida, sim, um álibi para nosso desinteresse, um álibi para nossa indiferença, um álibi para nossa falta de introspecção e para nossa perda de capacidade de se prender por muito tempo a qualquer coisa que seja.

E pergunto novamente: isso faz sentido?

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