Deixe Sangrar

Deixe Sangrar

Complico, reclamo e deixo doer. Não pretendo me abdicar do meu lado humano para me tornar um não sei o que. Não cegarei meus olhos para dizer que está tudo bem ou melhor, enquanto o mundo está desabando ao meu redor. Muito menos irei sorrir e atuar, quando o mundo estiver desabando dentro de mim. Deixarei a elegância para as passarelas quando minhas emoções pedirem para borrar os olhos. Não é que elas mandem em mim, simplesmente não vejo sentido em negar uma parte da minha existência para atender a um certo imperativo de felicidade ditado não sei por quem nem para quê. Não é que eu queira mergulhar na minha tristeza até me afogar, mas vamos combinar, senti-la faz parte da vida.

Não vou colocar salto alto para fazer alguém pensar que estou por cima, embora também não esteja por baixo – estou por dentro, lá no fundo, descansando dos apuros no covil duro no qual se transformou, neste momento, a minha alma. Também não recusarei minhas lembranças das coisas boas que acabam de partir, muito menos trairei meus sonhos, ou apagarei os acontecimentos fictícios produzidos pela minha imaginação. Ela deve estar tentando resolver o que não compete à razão. Deixe-a assim.

Andarei por aí distraída, me orientando por sinais verdes e vermelhos, olhando o cinza do asfalto enquanto penso e o azul do céu para esvaziar meus pensamentos. Observarei cada pássaro pensando no quanto seria bom poder voar, e que ainda que eu tivesse asas, o peso do acontecido agora me pressionaria tão intensamente contra o chão, que meus passos deixariam rastros de rachaduras. Ando rachando as durezas e deixando no maleável esculturas vazadas dos meus pés inquietos. É que outro dia eu estive flutuando em levezas, e talvez por inveja, aqueles que não a podiam despertar em si, resolveram me encher de esperanças obesas, que ingenuamente aceitei, e agora, será assim, até que caminhe o suficiente para me livrar de todo esse excesso.

Não forçarei minha face a nada, nem expressão de farra, nem expressão de dor. Estarei íntegra em cada momento, deixarei fluírem minhas cores, guardarei as lágrimas para os quartos e os banheiros, só porque é assim que eu sou. E quando ficar embriagada, escreverei cartas que nunca serão enviadas, poemas que depois serão apagados, e mandarei mensagens pelo vento, apenas para não te dar o gosto de ouvir minha voz nem em pensamento. Falarei dos meus pessimismos e das minhas decepções, assim como outrora – e certamente, como voltarei a fazer; falei dos meus sonhos e dos meus amores.

Continuarei amando. Derramando amor pelo mundo, sorrindo pela chuva, pelas nuvens sempre em fuga pelo céu, pelos pássaros cantando às 17 horas em pleno centro sujo da cidade como se fossem um despertador para a vida. Continuarei sorrindo pelas flores que nascem fora de época, e pelas que nascem no tempo certo também. Cantarei gargalhadas pelas besteiras fúteis da internet, pelas passagens cômicas perspicazmente elaboradas pelos meus miolos tortos de tanto mudarem de lugar, pelas sacadas sutis no sarcasmo e na ironia de certos autores.

Não me envergonharei mais pelas palavras dispensadas, fossem doces ou amargas – eram sinceras, pelos olhares trocados, pelas incoerências e confusões. Não cobrarei por culpa, nem me sentirei culpada. É apenas como as coisas são. Quando somos abençoados com um sentimento intenso, podemos por um momento viver como figuras divinas, seres mágicos que como tudo podem, simplesmente se entregam, arriscam, permitem-se embriagar com o elixir das experiências fantásticas, dessas peculiaridades das coisas compartilhadas sem a intervenção das usuais barreiras neuróticas.

Mas como não se pode ficar para sempre nesse torpor, e como há todo um “lá fora” que vem nos perturbar, seja pelas experiências mortas que nos assombram, seja pelas vozes sábias que nos aconselham sem nunca seguir a direção da própria língua, logo contaminamos nossa fonte de afetos honestos com dúvidas e exigências curriculares: “Porque para estar ao meu lado tem que…”, retumbavam verbalizantes seus passos para trás. Só que não tenho vocação para preencher requisitos. Não estou procurando por uma profissão disfarçada de paixão.

Porque para me acompanhar neste caminho no qual me arrisco, é preciso ter vontade de seguir e ter coragem de sangrar. E só. Algo como ser assumidamente e apaixonadamente humano.

Segurança íntima

Segurança íntima

Que medo que dá, e esta emoção nos toma conta a cada momento. Já nem sabemos mais medo de quê, porque tudo parece ameaçador nesses tempos incertos. O certo é que ele espreita: podemos cair, bater, ser atacados, roubados, adoecer. Algo pode nos fazer mal, ou a alguém que amamos. Podemos perder as coisas que conquistamos, a caro custo. O medo é uma fera indomada para a qual não ousamos olhar de frente. Sentir-se totalmente em segurança é uma utopia. Não temos saída. Do nascimento à morte, da manhã à noite, os riscos são constantes e tudo é um grande ciclo de apostas.

Mergulhados nas incertezas do mundo e na nossa condição de impotência diante desta emoção que tanto nos perturba, vamos buscando as rotas de fuga, que podem melhorar ou piorar ainda mais nossa condição frágil de seres humanos. Afinal, fugir é muito mais fácil do que encarar o monstro de frente ou, eventualmente, convidá-lo para um amistoso chá. Antes do encontro com nossos horrores internos, já começamos a imaginar o massacre, então corremos sem pensar, sem rumo, para longe de nós mesmos.

A fuga constante de algo que sequer conseguimos desenhar no pensamento, também nos desgasta e fere. A busca de algum alívio acaba custando muito caro a nós e aos nossos. Não há saída. Viver exige coragem. Rezamos, pedimos pela sorte, barganhamos os prazeres da vida, negociamos as saídas que tragam algum fôlego para seguir. Mas o cansaço chega, o temor é destilado e toma conta das emoções, transformando pensamentos em doenças. Precisamos, enfim, buscar alguma proteção de nós mesmos. Porque atacamos o próprio coração, tão precioso, na busca desesperada de alívio.

Ansiosos, deprimidos, ou com alguma das dezenas de doenças mentais fabricadas no mundo contemporâneo, buscamos soluções junto às autoridades que, sobrecarregadas, falham vez após outra. A Segurança Pública torna-se uma piada neste caos, afinal, claramente não funciona. Além de inseguros, estamos revoltados com os outros, focados no que poderia vir de fora para nos salvar. E não vem.

Pois bem, e se pudéssemos, enfim, buscar nas entranhas de nossas emoções, este encontro corajoso com nossos monstros? E se talvez, numa tentativa desesperada, mas corajosa, buscássemos uma negociação com esses bichos terríveis do pensamento? Seria possível então, no embate, perceber que o tamanho do medo é bem maior que os riscos efetivos. Acredite, o monstro pode diminuir diante de um olhar firme e lúcido dos fatos.

E que tal tentar obter a segurança diante da certeza de que nada pode ser controlado? Afinal, as pessoas são incontroláveis, o mundo gira o tempo todo e o tempo é veloz. Pairando em meio a tudo isso, não há certezas. Mas pode haver paz, na medida em que o medo torna-se um aliado. E no fim,  vamos descobrir que tudo não passa de um sonho. A vida é plástica, tudo passa enfim, e sob os auspícios e olhares brilhantes das estrelas, prosseguimos na aventura sem fim da consciência. Sejamos piedosos então, em nome da frágil condição comum a todos os seres.

Dessas coisas que um homem só compreende quando alguém aprende a chamá-lo de pai

Dessas coisas que um homem só compreende quando alguém aprende a chamá-lo de pai

Meu pai tinha acabado de fazer 19 anos quando eu cheguei por aqui. Vinha ele de um tempo difícil: antes de mim, minha mãe havia dado à luz uma menina, minha irmãzinha, que, desgraçadamente, nasceu e viveu poucas horas. Então, quando completei o primeiro dia de vida, ele deve ter se sentido um sujeito de posse de sua benção.

Nasci no último dia do primeiro mês de 1974. Meu pai, Nivaldo de Jesus Gomes, era pouco mais que um adolescente que já trabalhava desde a infância. Pintor de ofício, dava outras cores às casas de sua cidade alaranjada, Araraquara, e tinha ares e físico de atleta. Vestindo camisetas ilustradas que ele mesmo pintava, corria maratonas no calor generoso da Morada do Sol.

A lembrança mais antiga que eu tenho dele não é bem uma cena. É um sentimento. Eu era então o filho único, muito apegado às mulheres da minha casa – mãe, bisavó, avó, duas tias – e meu pai uma noite me tirou das barras das saias delas e me levou com ele a um lugar que os araraquarenses conheciam como “a quermesse do Carmo”.

A única imagem que guardo dessa noite é a de uma porção de batatinhas sobre uma mesa de plástico. O resto é só um punhado de sensações: susto com o primeiro rojão, pavor com a sequência infinita de estouros da queima de fogos, medo de que aquilo não acabasse nunca, desespero de criança que chora. E alívio quando meu pai me botou nos ombros e fugiu comigo dali.

Ele me salvou! Minha lembrança mais antiga do meu pai é o sentimento de ter sido salvo por ele de uma guerra.

Hoje, muitos anos e tantas guerras depois, continuo fechando os olhos quando um rojão estoura. Meu filho João é assim também. Avesso a barulho, explosões, trovoada, gritaria. E eu vivo atento a cada chance que a vida me dá de acudi-lo do foguetório.

Compreendi, entre meia dúzia de outras coisas, que não há urgências profissionais, reuniões inadiáveis, compromissos da vida prática tão importantes quanto o chamado silencioso de um filho. Por mais que a crise econômica, a ameaça de desemprego, o aquecimento global, a invasão extraterrestre nos ponham medo, nada preocupa tanto quanto a febrinha de nada que visita nossos pequenos em qualquer terça-feira à noite. Não há dinheiro que pague estar perto dos nossos quando o rojão estoura. E acho no fundo que esse amor é o que nos salva.

Peço a Deus que sigamos assim. Por perto. Dispostos, atentos, esforçados, calorosos. Com ânimo para pintar a sala ou correr uma maratona. Ora mais distantes, ora mais próximos. Mas sempre por perto. E que nunca nos falte um bocado de amor e uma porção de batatinhas.

Feliz Dia dos Pais, minha gente!

Do vinil aos fones de ouvido

Do vinil aos fones de ouvido

Quatro horas da manhã. O som emitido pelo despertador sinaliza que meu dia começou. A música se faz presente na minha vida já daí, desse despertar matinal. Depois ela segue meus ouvidos quando pego o ônibus com destino à faculdade. Duas horas de duração de viagem são preenchidas pela minha playlist eclética. A trilha serve para passar o tempo, isso quando ela consegue vencer minha batalha interna entre ouvir a música ou me deixar cair no sono quase incontrolável.

Vivi numa época em que a música saia de um CD. Meus pais já são da época em que a música era gravada em fitas cassetes. Meus avós já são da época do vinil. E a vida é esse ciclo. Uma vitrola em que as pessoas são como discos ritmados organicamente, em constante movimento, mas que um dia para de girar e então troca-se de disco. E a música tem dessas coisas! Esse despertar de uma nostalgia desde a canção de ninar quando ouvimos ainda bebê, até aquela trilha que embala o primeiro amor ou até mesmo aquela canção que marca as noites de solidão — sofrência!

Hoje a música, tecnicamente falando, já é um padrão de arquivos de áudio, também conhecido como mp3. Cabe aqui, cabe acolá, cabe dentro do radinho do Zé da padaria até no meu celular! Essa é a magia da música, a universalidade de se fazer som em diferentes ritmos, melodias, lugares, tempos e povos. Cada nota emitida é capaz de arrancar lágrimas, de abrir sorrisos, de levar à outra dimensão. E me vem à memória o pensamento de uma amiga que diz que a música por si só tem o poder de transcender. “Quase um orgasmo musical!”, brinca a gente.

Mas esse jeito fácil de possuir determinada música é bem diferente de alguns tempos atrás. Velhos tempos! Antes quando escutávamos uma música, geralmente na rádio, o desejo de tê-la nos preenchia. Logo vinha a vontade de conseguir um CD com aquela canção. O gosto de escutá-la várias e várias vezes trazia a sensação de que naquele momento aquela música marcava o instante. E isso resultou na nostalgia de hoje, na lembrança de está brincando no meio da sala enquanto minha tia varria a casa escutando aquela canção tocada no rádio. Para ela o rádio era o entretenimento das manhãs, a trilha sonora dos afazeres domésticos.

Aí veio minha adolescência e com ela as espinhas, os dramas juvenis e o auge do mp3. A música agora poderia ser compactada e colocada tanto em CDs virgens, quanto nos celulares, em iPods, no computador, enfim, acompanhou os passos da tecnologia. E acompanhou também os meus passos, melhor dizendo, os meus ouvidos, nas tardes fazendo deveres do colégio, nas férias na casa da prima, nas noites de crises existenciais. A música permeia entre o novo e o antigo, o high-tech e o retrô. Todavia acima de tudo ela não fica velha, mas sim eterniza gerações.

Encontro um baú musical. Abro e me deparo com: Anos 50, o rock de Elvis Presley e a bossa nova de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Anos 60 e 70, a popularidade dos Beatles e o nascer da MPB, bem como dos movimentos punk, hippie, black power e com eles enraizada a música que lhes representa. Anos 80 e 90, o grunge de Nirvana e o pop de figuras como Madonna, Michael Jackson e Cindy Lauper. E dos anos 2000 para cá vêm se propagando os mais diversos ritmos, as mais variadas sonoridades e estilos, desde o funk ao indie, desde o pagode ao folk. Muito disso eu não vivi, não naquele tempo, não naquele instante. Contudo hoje posso colocar meus fones de ouvidos e transcender para qualquer momento, posso navegar nas ondas sonoras de cada um desses ritmos, independente de idade, pois o magnifico da música é que ela não tem data de validade.

Por André Luís

“André Luis é um jornalista em formação e metido a escritor. Maldito clichê. Sentimental às avessas, amante de música, livros, filmes, séries e outras coisinhas a mais. Pode ser encontrado no facebook: https://www.facebook.com/andre.anddy e no e-mail: [email protected]. “

Sobre a paixão por viajar

Sobre a paixão por viajar

Viajar é uma paixão!

Quem gosta de viajar, quem está sempre viajando ou com a próxima ideia de viagem na cabeça, sabe que viajar pode servir para tudo isso (e mais um pouco):

Viajar serve para quebrar o comodismo que cega os dias. Para renovar as energias, romper a rotina, mudar o ritmo, para se desligar de tudo, desacelerar. Viajar serve para respirar.

Viajar serve para sair da bolha, para perceber outros modos de enxergar o mundo, tentar compreende-los e entender que a sua visão de mundo também é relativa.

Viajar é um ótimo exercício de respeitar as diferenças.

Viajar serve para mudar o corpo e a alma, para perder os medos, para passar apertos e ver como você lida com imprevistos no caminho. Viajar serve para desapegar, para ver que o que é supérfluo pode virar peso e atrapalhar a caminhada.

Viajar serve para experimentar sabores, texturas, para quebrar conceitos, para descobrir maravilhas que você nem imaginava.

Viajar pode servir para aprender novas línguas, para aprender a se comunicar de diferentes formas, com diferentes pessoas, de diferentes culturas, classes, idades…

Viajar serve para silenciar.

Viajar serve para ler um livro inteirinho de uma vez só.

Viajar serve para olhar paisagens pela janela e ir longe em um pensamento, tentando assimilar o que aconteceu na vida e no atropelo dos dias não deu tempo de entender. Viajar serve como auto análise, ou análise em grupo, quem sabe… Viajar também serve para não pensar em nada, admirar o que a vista alcança e onde os pés tocam. Viajar serve para fazer trilha. E também serve para se perder numa cidade grande e desconhecida.

Viajar serve para ver as belezas do mundo e as realidades encobertas.

Viajar serve para perder a identidade (nem que seja temporariamente) e para deixar de ser entendida, para sentir o gosto bom de ser estrangeira – livre e desprotegida. E para se tornar uma criança de novo, aprendendo a decodificação do mundo do começo. E perder a própria personalidade por não conseguir se fazer entender, ou aprender a lindeza da linguagem corporal e conseguir revelar a própria alma pelo olhar.

Viajar serve para aprender a entender almas pelo olhar.

Viajar serve para esquecer – uma pessoa, uma história, uma dor…. Viajar serve para lavar a alma, para sair de um ciclo vicioso, para interromper o destino e (des)construir a própria história. Para colorir a existência, limpar o pensamento, mudar de assunto e desvendar caminhos alternativos. Viajar serve para finalizar. Viajar serve para recomeçar.

Viajar pode servir para se apaixonar, para mergulhar em algo sem regras, para descobrir outros olhares, para sentir à flor da pele novas sensações, encontrar outro colos, outras falas, outras amizades.

Viajar serve para fazer amigos, amigos de andanças, amigos que seguem nessa viagem e depois partem, amigos que ficam pra vida toda.

Viajar serve para reencontrar amigos antigos, amigos perdidos por aí. Viajar também serve para levar o melhor amigo junto e estreitar os laços.

Viajar serve para passar a limpo, ou para começar outro capítulo desse livro chamado vida. Para celebrar o novo, e para dar valor ao velho.

Viajar serve para sentir saudades de sua terra, de sua gente, de seu país, de sua comida, de sua família, de quem você é no seu amado (e nem sempre fácil) círculo.

Viajar serve para se perder e se encontrar. Viajar serve para se resgatar ou se reinventar.

Viajar serve para ter vontade de voltar

Ou, quem sabe, de ficar (na estrada).

A Loucura de ser Pai nos Dias de Hoje

A Loucura de ser Pai nos Dias de Hoje

Quando me pediram pra escrever sobre a experiência de ser pai, fiquei com medo de dar uma resposta daquelas que filho dá quando você pergunta como foi a escola: legal. E como foi o passeio?  Legal. A visita ao médico? Legal. E como foi que você caiu e ralou o joelho? Legal.

Fico olhando para a barriga onde meu filho cresce e várias coisas me passam pela cabeça. Não sei se foram os filmes de alien, mas caramba! Essa foi a melhor solução que a natureza encontrou? Deixar ele crescendo ali, dentro de outra pessoa? Sério? Às vezes eu acho que até ovo seria mais negócio. Eu nem ia me importar se tivesse que ajudar a chocar. Era só me dar um livro e tava tudo certo.

Tem gente que me olha com espanto quando fica sabendo que vou ser pai, mas só alguns têm a coragem de fazer a pergunta: Nossa, mas você não acha meio loucura trazer uma pessoa pra esse mundo? Do jeito que ele anda? Acho que eu sou incorrigivelmente otimista ou sei lá, vai ver que eu acredito mesmo nessa história de que não somos nós que escolhemos ter filhos e sim, eles que escolhem ter pais. Não sei mesmo, mas eu prefiro acreditar que ainda dá pra vir pra esse mundo, que ele ainda tem chance de ser habitável.

contioutra.com - A Loucura de ser Pai nos Dias de HojeE tem muita coisa ainda por fazer. Nem todas as peças estão escritas, nem todas as músicas estão compostas, nem todas as pontes estão construídas e nem todas as grandes descobertas já foram feitas ou as grandes invenções inventadas. Ainda temos pensamentos para serem transformados e novas fases nesse jogo para serem alcançadas.

Ao mesmo tempo, quando a gente olha para um mundo de corrupção, destruição e intolerância, sempre se levanta o questionamento: vale a pena perpetuar essa espécie? Uma espécie que vira o rosto quando está em segurança e um predador ataca os que estão desprotegidos, no meio da planície? Que canibaliza de várias maneiras os membros mais fracos do bando? Que na maior parte das vezes se comporta como um vírus que destrói o seu hospedeiro? Vale a pena insistir nisso?

Sei lá, eu meio que teimosamente acho que sim, mas ao mesmo tempo sei que é a visão parcial de alguém que já é pai de alguém e que espera a chegada de outro alguém para breve. E essa espera gera um amor tão grande, tão incomensurável, que nubla qualquer arremedo de razão, por mais que eu tente me colocar numa distância racional que me permita fazer uma análise minimamente fria. Mas não tem jeito. Só de escrever esse parágrafo, pensando nos dois, meus olhos já se encheram de lágrimas. Pequena pausa pra respirar.

Voltei. É uma droga, quando somos derrotados por nós mesmos e a gente não consegue segurar nem uma emoção boba, mas é isso, é essa a matéria de que somos feitos. Ainda acho que dá pra acreditar numa geração que pode vir e começar uma outra época, melhor que essa. Não vou descrever como eu acho que poderia ser, todo mundo pode imaginar os lugares-comuns de sempre e customizar essa utopia de acordo com as suas inclinações. Podem ficar à vontade, porque nisso a imaginação de cada um deve ser estimulada. Vai que, se todo mundo sonhar junto, ainda que sonhos diferentes, alguma melhora acontece?

Além de louco, podem me chamar de ingênuo ou sonhador (é só usar o espaço pra comentários aí embaixo), mas eu acho que as coisas estão melhorando, que têm melhorado.

Tem bastante corrupção? Tem, mas eu acredito que é o começo de uma melhora. Dá pra imaginar você chegar na década de 70 ou 80 e dizer que os presidentes de grandes empreiteiras seriam presos? Ou que a cúpula de um partido poderia ser presa enquanto este mesmo partido estivesse no poder? E taí, tá acontecendo.

Tem muita violência? Pra caramba, já que temos Taliban, Estado Islâmico, Al-Qaeda, Boko Haram e, por aqui, os personagens da nossa guerra civil. Mas já foi pior, acredite. É só colocar tudo em uma perspectiva histórica e sair daquele comentário-padrão de “não sei onde esse mundo vai parar” a cada crime que é eleito para receber a atenção da mídia.

Eu sei que sempre tem a chance de tudo piorar, claro, e os avanços são lentos e pequenos. Para cada grande livro que é escrito, existem milhões de comentários raivosos mal-digitados nos sites de notícia. Para cada grande invenção que chega pra ajudar a humanidade, milhões de pequenos atos que a atrasam são praticados. Mas é como tem sido e temos continuado a marcha, trazendo na bagagem Mozart, Shakespeare e Einstein, enquanto tentamos resolver os grandes estragos causados por um Hitler. Ou os pequenos, causados por quem jogou uma garrafinha de plástico na rua ontem e que vão se tornar imensos, quando somados. Vamos caminhando e encontrando formas de melhorar a caminhada.

Talvez a tecnologia venha nos salvar de nós mesmos, ao invés do que profetizam todos os filmes de ficção científica e até o bom-senso. Todos nós trazemos a corrupção e a violência de berço, incrustados no nosso código genético. É fruto do nosso instinto de sobrevivência, de preservação, que um dia foi decisivo pra gente sobreviver no meio dos tigres-dentes-de-sabre. Mas acho que as coisas mudaram um pouco nos últimos milhares de anos e já dá pra gente começar a pensar em abrir mão dessa herança. A razão pode assumir o lugar desse instinto e através dela é que poderemos sobreviver nessa nova selva. Pra isso, temos que olhar para nós mesmos e identificar as nossas próprias doses de corrupção e violência. Na maior parte das vezes, elas são controladas, mas só precisam de um ambiente propício pra florescer. Talvez seja esse o papel da tecnologia e da razão, o de diminuir cada vez mais o tamanho e a quantidade destes ambientes propícios. Claro que isso vai cobrar o seu custo em outras áreas, mas não é assim que tudo funciona?

Bom, acho que acabei falando mais que só um “legal”. Mas no caso da experiência de ser pai, talvez seja mesmo mais o caso de falar menos e sentir mais. E no máximo, dizer que é legal. É muito legal.

Que bom que você já está por aqui, João Gabriel. E seja bem-vindo, Diogo. Tomara que eu possa mostrar pra vocês que esse mundo também pode ser legal. E vamos ver o que a gente pode fazer juntos, pra deixar ele ainda mais legal.

Poema do Padre Fábio de Melo, em homenagem aos pais

Poema do Padre Fábio de Melo, em homenagem aos pais

Quando o sol ainda não havia cessado seu brilho,
Quando a tarde engolia aos poucos
As cores do dia e despejava sobre a terra
Os primeiros retalhos de sombra
Eu vi que Deus veio assentar-se
Perto do fogão de lenha da minha casa
Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça
E buscou um copo de água no pote de barro
Que ficava num lugar de sombra constante.
Ele tinha feições de homem feliz, realizado
Parecia imerso na alegria que é própria
De quem cumpriu a sina do dia e que agora
Recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe.
Eu o olhava e pensava:
Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom chegar a essa hora da vida
Em que tenho direito de ter um Deus só pra mim.
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos,
Puxar a caneta do seu bolso
E pedir que ele desenhasse um relógio
Bem bonito no meu braço
Mas aquele homem não era Deus,
Aquele homem era meu pai
E foi assim que eu descobri
Que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus
Revela-me Deus com seu
Jeito infinito de ser homem

Padre Fábio de Melo

Por sapatos (e amores) que não machuquem

Por sapatos (e amores) que não machuquem

Amores são como sapatos: os melhores são os que machucam. Quanto mais nas alturas eles nos elevam, mais duro é voltar a ter os pés no chão quando a festa termina.

Não é bem assim.

De que adianta viver rodeada de scarpins salto 15 se eles não foram feitos para dançar a noite inteira? E a história se repete. É descer do salto e andar de pés descalços sujeita a cacos de vidros no chão. Pois, é melhor correr o risco de se cortar do que parar de dançar, não é?

Sapatos (e amores), também precisam ser do número certo. Os maiores são frouxos, sobra muito espaço vazio, abandonam os pés e se fazem perder pelo caminho. Os menores apertam, sufocam, fazem sangrar e causam feridas pela falta de liberdade. De ambos os jeitos, exigem cuidado demais a cada passo para evitar tropeços no primeiro paralelepípedo. Dificultam a caminhada. Tornam impossível pegar a estrada e seguir adiante.

Não adianta se contentar com o “quase serviu”. Sapatos, assim como amores, não mudam seu jeito de ser só porque nos apaixonamos por eles.

Sapatos (e amores) precisam ser confortáveis, companheiros para enfrentar a caminhada junto. Precisam nos encorajar a trilhar um caminho leve, sem dor. Alguns se desgastam com o tempo, outros cedem e se rompem. Tudo bem. Aquele sapato (ou seria amor?) simplesmente não serve mais.

A busca hoje é esta. Por sapatos e amores que não machuquem e que nos levem cada vez mais longe.

Texto de Luiza Garmendia

Fonte: Entenda os homens

Viviane Mosé, filósofa brasileira, classifica a cobertura da imprensa brasileira de “pobre e simplista”

Viviane Mosé, filósofa brasileira, classifica a cobertura da imprensa brasileira de “pobre e simplista”

Em entrevista ao programa Observatório da Imprensa, na TV Brasil, a doutora em Filosofia Viviane Mosé comentou sobre o discurso hegemônico adotado pela mídia brasileira em relação à atual situação política e econômica do país. Para ela, a falta de uma abordagem mais aprofundada em relação a esses assuntos cria um debate “pobre e simplista”.

“Nós não temos uma notícia sobre o perigo da instabilidade econômica mundial, da situação da Europa, da situação dos Estados Unidos, da China e o que significa o Brasil ali. Então, a crise brasileira é vista isoladamente. Ela não tem contexto. Mas, espera aí, o papel da imprensa não é dar contexto a esse debate?”, questionou.

Mosé criticou ainda a forma com que a imprensa tradicional seleciona as reportagens que serão publicadas. Ela afirma que os avanços do país deixam de ser noticiados para evitar passar uma boa imagem do governo. “Além de um problema cognitivo e intelectual grave, é partidário, é gueto, é sectário”, alertou sobre o posicionamento dos veículos de comunicação. “O que representa esse governo pode ser discutido eternamente, mas existe um fato: nós temos alguém no governo e o país precisa caminhar”, completou.

Fonte: Geledés

Meus secretos amigos

Meus secretos amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles… Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles!

Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos, mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure.

Às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles e me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos.

“A gente não faz amigos, reconhece-os.” (Garth Henrichs)
*
Texto de Francisco PAULO SANT’ANA (Porto Alegre, 15 de Junho de 1939) é um jornalista e escritor brasileiro.

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet
Quem sabe?

Ontem descobri na página de um amigo o artigo que reproduzirei abaixo. O autor, português, discorre sobre como se comportam as pessoas que passam os dias procurando erros de grafia em textos alheios numa suposta superioridade. Aqui, por exemplo, nós reconhecemos que erramos muito. O problema é que quem escreve ou faz suas colocações sobre os erros, na maioria das vezes, apresenta profundo desdém e deprezo por textos que apresentam algum tipo de erro e acabam desvalorizando todo um texto e trabalho do site. Outras vezes, polidamente a pessoa indica a falhas por duas ou três vezes antes de oferecer seus serviços profissionais em uma atitude de delicadeza claramente manipulatória. E tem os piores que são grosseiros e ainda oferecem seus serviços. Só um masoquista para contratar um tipo desses, né.

Agora, ajudar por ajudar, falando com educação e respeito e sem querer nada em troca são casos raríssimos. Seria maravilhoso que mais pessoas nos corrigissem apenas por gentileza.

Apresento o texto com o qual me identifico profundamente. E, se a carapuça se ajustar à alguém, espero que pelo menos sirva de reflexão.

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet

Por Raiden, do blog Ritual do Habitual

Não existe grupo mais irritante na Internet que o composto por aquelas pessoas que patrulham, incansavelmente, redes sociais, fóruns de discussão, blogs, etc. à procura de erros gramaticais. Estes cavaleiros da linguística, estes cruzados de Camões, pensam estar a fazer um serviço à humanidade ao retificar palavra após palavra, sem se aperceberem que o spell check faz o seu trabalho automaticamente e que, se existe um erro gramatical, ele existe por alguma razão — mesmo que esta razão seja tão fraca como não se levar muito a sério o que se escreve.

contioutra.com - Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet
Sieg heil!

O que torna estes nazis da gramática particularmente irritantes é o facto de terem razão. Isto faz com que o aborrecimento de quem é corrigido seja ilógico. Afinal, se formos corrigidos, devíamos até agradecer à pessoa, certo? Devíamos pedir desculpa por ter ferido as retinas de tão alta referência linguística como certamente é este estranho que emerge das profundezas da Web, com a sua caneta vermelha metafórica, e que nos risca um afiado “X”, também metafórico, no que quer que estejamos a tentar comunicar.

Mas nós não somos pessoas totalmente lógicas, pois não? Nós temos emoções, caraças! E as nossas emoções perguntam-nos: “quem é que este gajo pensa que é?”

O problema destas mentes brilhantes é que escondem as suas verdadeiras e egoístas razões atrás de um conceito que é, geralmente, defendido: a coerência gramatical.

Antes sequer de pensarmos nas tais razões, vamos só pensar noutra coisa durante um momento, está bem? Quem é que inventou a gramática? Será que foi algum iluminado, há milhares de anos atrás, que comeu uns cogumelos que não devia, teve a trip da sua vida, e viu um mundo em que ninguém se atreveria a fugir a um conjunto de regras completamente estáticas — regras essas que ele escreveria detalhadamente algures, assim que aquele coelho da Páscoa gigante parasse de olhar para ele de lado?

Claro que não! A linguagem é orgânica, é feita pelas pessoas. A linguagem foi criada como uma ferramenta, nada mais. Muitos “erros” gramaticais deram origem a novas palavras ou a palavras mais simples que usamos agora sem questão. Só com variações na norma é que qualquer evolução é possível.

A linguagem é uma das últimas coisas não institucionais que podemos usufruir, povo! Revoltemo-nos pelo nosso direito de cometer erros!

O facto de, ultimamente, ser o governo que decide como a linguagem evolui, deixa-me, portanto, aborrecido. Está-se a decidir, de uma forma artificial, como evolui uma inteira língua comum — a nossa maneira de trocar ideias mais antiga ( sim, sim, a subida do TSU também é grave).

Mas, sim, infelizmente, poucos sabem do conceito de evolução linguística. É mais fácil ir ao Google confirmar se realmente se tem razão antes de corrigir um infeliz qualquer — o que nos leva de volta às razões egoístas que referi em cima.

Caros corretores compulsivos: vocês não querem saber minimamente da manutenção da linguagem. Vocês não querem saber se eu corrijo o que escrevo ou não. Vocês sabem bem que corrigir alguém na Internet é inútil. A verdadeira razão que vos leva a corrigir os outros é a pequena sensação de controlo que ganham com isso: “Ah, sou mais inteligente que este rapaz que não conheço de lado nenhum porque ele cometeu um erro que eu consegui identificar, lol, rofl, me gusta, true story, epic win! xDxD”

A sério? Tudo isto por uma sensação vazia de superioridade? Espero que valha a pena.

É só a impressão com que fico de vocês. Claro que pode ser um mecanismo de defesa primitivo para me sentir melhor com o facto de ter cometido um erro. Quem sabe?

contioutra.com - Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet
Quem sabe?

E é isto que me irrita — saber que o meu erro está a fornecer prazer mesquinho a alguém, mas não poder responder porque essa pessoa até tem alguma razão. Daqui em diante, limitarei-me a linkar este post — efetivamente dando a minha opinião sobre o assunto e fazendo publicidade desavergonhada.

As forças que nos movem – Flávio Gikovate

As forças que nos movem – Flávio Gikovate

As forças que nos moveram e nos movem são de dois tipos: as que nos afastam das dores e sofrimentos e as que nos geram prazer.

Muitas das nossas ações foram direcionadas para a atenuação da sensação de desamparo. Assim, nos agrupamos para nos sentirmos aconchegados.

O desejo sexual, a vaidade e a curiosidade intelectual são alguns mecanismos de prazer que movem nossa espécie.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução deste material.

Para estarmos mais perto uns dos outros

Para estarmos mais perto uns dos outros

Um dia estaremos mais perto uns dos outros. Não importa quando e nem como. Mas nós seremos mais próximos do que somos hoje.

Nesse dia, estaremos para além de qualquer classificação superficial. Seremos mais que certos ou errados, pobres ou ricos, brancos ou pretos ou vermelhos e amarelos, homens ou mulheres, novos ou velhos. Mais que tudo isso, seremos simples pessoas mais próximas.

Ainda que distantes na geografia, guardaremos em nós a lembrança ou o desejo do encontro. E o encontro nada mais será que um pedido assentido e sincero de compreensão. Encontrar será a prática simples de pensar em alguém e querer nada senão compreendê-lo e aceitá-lo.

Viveremos perto o suficiente para nos vermos, nos ouvirmos e nos sentirmos ali. Próximos o bastante para dividir nossas alegrias e nossas dores, para seguir os caminhos de cada um sem nos perder de vista. Íntimos a ponto até de nos afastarmos quando preciso, em respeito à nossa necessidade humana da solidão que de quando em vez nos empurra para o claustro.

Entre tantas respostas e ponderações absolutas e julgamentos e certezas tão comuns desse mundo, estaremos juntos para nos fazer perguntas sem esperar respostas. Apenas nos perguntaremos coisas à toa, pelo puro e simples exercício de falar e ouvir. Mais ouvir do que falar.

Em longas conversas de manhã, sentados no sol de um banco de praça, nossos livros sobre o colo esperando atenção, relembraremos sem saudade os tempos frios em que nos tornamos duros estranhos. Riremos juntos de nossos ódios superados, nossas pendengas ridículas e desconfianças daninhas. E de tão boas, nossas conversas se estenderão sem pressa e sem culpa pela tarde e pela noite, até o mundo amanhecer de novo em cada dia seguinte.

Até lá, as histórias de uma gente que aprendeu a viver separada demais, uns contra os outros, fazendo do conjunto da vida uma imensa guerra campal, gritalhona e infértil serão nada além de velhas narrativas de barbárie e estupidez. Peças de um museu inexistente. Sombras de uma guerra em que os vencedores celebravam sua superioridade sem se dar conta de que, no fim do jogo, todas as peças sempre voltam para a caixa.

Então, façamos um trato. De hoje em diante, teremos um longo caminho rumo ao encontro. Assim, passo a passo, pisaremos novas ruas, tomaremos rumos desconhecidos e aprenderemos a compreender o óbvio: tudo o que nos acontece hoje são sinais de alerta. Alguém está a nos advertir que devíamos passar mais tempo juntos, ficar mais perto uns dos outros, tomar sol, apanhar vento, esperar a lua que se esconde por trás das nuvens.

Em todos os sentidos, de todas as formas, você e eu e todos nós seremos uma só vizinhança afetiva, moradores de um só quarteirão amoroso. Perto ou longe, não importa, seremos simples pessoas mais próximas, afeitas e dispostas a fazer da vida um longo e sincero gesto de amor ao outro.

É que um dia, se Deus quiser, estaremos mais perto uns dos outros.

Valorize quem está ao seu lado.

Valorize quem está ao seu lado.

Em uma floricultura, enquanto um senhor escolhe um vaso de violetas para esposa, chega um jovem e começa a selecionar e comprar um bouquet suntuoso e outros presentes para o que seria, na suposição de todos os presentes, uma jovem namorada. O senhor olha com certo desdém para o jovem e diz: “Espere 30 anos”, indicando que, com o tempo o interesse por grandes demonstrações de afeto diminuiria em proporções.

Na cena seguinte, enquanto vai embora, o senhor entende o motivo dos presentes do jovem e a mensagem do vídeo fica clara:

Veja:

 Fonte do vídeo: Legendadus

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