Poema do Padre Fábio de Melo, em homenagem aos pais

Poema do Padre Fábio de Melo, em homenagem aos pais

Quando o sol ainda não havia cessado seu brilho,
Quando a tarde engolia aos poucos
As cores do dia e despejava sobre a terra
Os primeiros retalhos de sombra
Eu vi que Deus veio assentar-se
Perto do fogão de lenha da minha casa
Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça
E buscou um copo de água no pote de barro
Que ficava num lugar de sombra constante.
Ele tinha feições de homem feliz, realizado
Parecia imerso na alegria que é própria
De quem cumpriu a sina do dia e que agora
Recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe.
Eu o olhava e pensava:
Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom chegar a essa hora da vida
Em que tenho direito de ter um Deus só pra mim.
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos,
Puxar a caneta do seu bolso
E pedir que ele desenhasse um relógio
Bem bonito no meu braço
Mas aquele homem não era Deus,
Aquele homem era meu pai
E foi assim que eu descobri
Que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus
Revela-me Deus com seu
Jeito infinito de ser homem

Padre Fábio de Melo

Por sapatos (e amores) que não machuquem

Por sapatos (e amores) que não machuquem

Amores são como sapatos: os melhores são os que machucam. Quanto mais nas alturas eles nos elevam, mais duro é voltar a ter os pés no chão quando a festa termina.

Não é bem assim.

De que adianta viver rodeada de scarpins salto 15 se eles não foram feitos para dançar a noite inteira? E a história se repete. É descer do salto e andar de pés descalços sujeita a cacos de vidros no chão. Pois, é melhor correr o risco de se cortar do que parar de dançar, não é?

Sapatos (e amores), também precisam ser do número certo. Os maiores são frouxos, sobra muito espaço vazio, abandonam os pés e se fazem perder pelo caminho. Os menores apertam, sufocam, fazem sangrar e causam feridas pela falta de liberdade. De ambos os jeitos, exigem cuidado demais a cada passo para evitar tropeços no primeiro paralelepípedo. Dificultam a caminhada. Tornam impossível pegar a estrada e seguir adiante.

Não adianta se contentar com o “quase serviu”. Sapatos, assim como amores, não mudam seu jeito de ser só porque nos apaixonamos por eles.

Sapatos (e amores) precisam ser confortáveis, companheiros para enfrentar a caminhada junto. Precisam nos encorajar a trilhar um caminho leve, sem dor. Alguns se desgastam com o tempo, outros cedem e se rompem. Tudo bem. Aquele sapato (ou seria amor?) simplesmente não serve mais.

A busca hoje é esta. Por sapatos e amores que não machuquem e que nos levem cada vez mais longe.

Texto de Luiza Garmendia

Fonte: Entenda os homens

Viviane Mosé, filósofa brasileira, classifica a cobertura da imprensa brasileira de “pobre e simplista”

Viviane Mosé, filósofa brasileira, classifica a cobertura da imprensa brasileira de “pobre e simplista”

Em entrevista ao programa Observatório da Imprensa, na TV Brasil, a doutora em Filosofia Viviane Mosé comentou sobre o discurso hegemônico adotado pela mídia brasileira em relação à atual situação política e econômica do país. Para ela, a falta de uma abordagem mais aprofundada em relação a esses assuntos cria um debate “pobre e simplista”.

“Nós não temos uma notícia sobre o perigo da instabilidade econômica mundial, da situação da Europa, da situação dos Estados Unidos, da China e o que significa o Brasil ali. Então, a crise brasileira é vista isoladamente. Ela não tem contexto. Mas, espera aí, o papel da imprensa não é dar contexto a esse debate?”, questionou.

Mosé criticou ainda a forma com que a imprensa tradicional seleciona as reportagens que serão publicadas. Ela afirma que os avanços do país deixam de ser noticiados para evitar passar uma boa imagem do governo. “Além de um problema cognitivo e intelectual grave, é partidário, é gueto, é sectário”, alertou sobre o posicionamento dos veículos de comunicação. “O que representa esse governo pode ser discutido eternamente, mas existe um fato: nós temos alguém no governo e o país precisa caminhar”, completou.

Fonte: Geledés

Meus secretos amigos

Meus secretos amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles… Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Essa mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles!

Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação dos meus amigos, mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não o declare e não os procure.

Às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles e me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamento sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus verdadeiros amigos.

“A gente não faz amigos, reconhece-os.” (Garth Henrichs)
*
Texto de Francisco PAULO SANT’ANA (Porto Alegre, 15 de Junho de 1939) é um jornalista e escritor brasileiro.

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet
Quem sabe?

Ontem descobri na página de um amigo o artigo que reproduzirei abaixo. O autor, português, discorre sobre como se comportam as pessoas que passam os dias procurando erros de grafia em textos alheios numa suposta superioridade. Aqui, por exemplo, nós reconhecemos que erramos muito. O problema é que quem escreve ou faz suas colocações sobre os erros, na maioria das vezes, apresenta profundo desdém e deprezo por textos que apresentam algum tipo de erro e acabam desvalorizando todo um texto e trabalho do site. Outras vezes, polidamente a pessoa indica a falhas por duas ou três vezes antes de oferecer seus serviços profissionais em uma atitude de delicadeza claramente manipulatória. E tem os piores que são grosseiros e ainda oferecem seus serviços. Só um masoquista para contratar um tipo desses, né.

Agora, ajudar por ajudar, falando com educação e respeito e sem querer nada em troca são casos raríssimos. Seria maravilhoso que mais pessoas nos corrigissem apenas por gentileza.

Apresento o texto com o qual me identifico profundamente. E, se a carapuça se ajustar à alguém, espero que pelo menos sirva de reflexão.

Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet

Por Raiden, do blog Ritual do Habitual

Não existe grupo mais irritante na Internet que o composto por aquelas pessoas que patrulham, incansavelmente, redes sociais, fóruns de discussão, blogs, etc. à procura de erros gramaticais. Estes cavaleiros da linguística, estes cruzados de Camões, pensam estar a fazer um serviço à humanidade ao retificar palavra após palavra, sem se aperceberem que o spell check faz o seu trabalho automaticamente e que, se existe um erro gramatical, ele existe por alguma razão — mesmo que esta razão seja tão fraca como não se levar muito a sério o que se escreve.

contioutra.com - Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet
Sieg heil!

O que torna estes nazis da gramática particularmente irritantes é o facto de terem razão. Isto faz com que o aborrecimento de quem é corrigido seja ilógico. Afinal, se formos corrigidos, devíamos até agradecer à pessoa, certo? Devíamos pedir desculpa por ter ferido as retinas de tão alta referência linguística como certamente é este estranho que emerge das profundezas da Web, com a sua caneta vermelha metafórica, e que nos risca um afiado “X”, também metafórico, no que quer que estejamos a tentar comunicar.

Mas nós não somos pessoas totalmente lógicas, pois não? Nós temos emoções, caraças! E as nossas emoções perguntam-nos: “quem é que este gajo pensa que é?”

O problema destas mentes brilhantes é que escondem as suas verdadeiras e egoístas razões atrás de um conceito que é, geralmente, defendido: a coerência gramatical.

Antes sequer de pensarmos nas tais razões, vamos só pensar noutra coisa durante um momento, está bem? Quem é que inventou a gramática? Será que foi algum iluminado, há milhares de anos atrás, que comeu uns cogumelos que não devia, teve a trip da sua vida, e viu um mundo em que ninguém se atreveria a fugir a um conjunto de regras completamente estáticas — regras essas que ele escreveria detalhadamente algures, assim que aquele coelho da Páscoa gigante parasse de olhar para ele de lado?

Claro que não! A linguagem é orgânica, é feita pelas pessoas. A linguagem foi criada como uma ferramenta, nada mais. Muitos “erros” gramaticais deram origem a novas palavras ou a palavras mais simples que usamos agora sem questão. Só com variações na norma é que qualquer evolução é possível.

A linguagem é uma das últimas coisas não institucionais que podemos usufruir, povo! Revoltemo-nos pelo nosso direito de cometer erros!

O facto de, ultimamente, ser o governo que decide como a linguagem evolui, deixa-me, portanto, aborrecido. Está-se a decidir, de uma forma artificial, como evolui uma inteira língua comum — a nossa maneira de trocar ideias mais antiga ( sim, sim, a subida do TSU também é grave).

Mas, sim, infelizmente, poucos sabem do conceito de evolução linguística. É mais fácil ir ao Google confirmar se realmente se tem razão antes de corrigir um infeliz qualquer — o que nos leva de volta às razões egoístas que referi em cima.

Caros corretores compulsivos: vocês não querem saber minimamente da manutenção da linguagem. Vocês não querem saber se eu corrijo o que escrevo ou não. Vocês sabem bem que corrigir alguém na Internet é inútil. A verdadeira razão que vos leva a corrigir os outros é a pequena sensação de controlo que ganham com isso: “Ah, sou mais inteligente que este rapaz que não conheço de lado nenhum porque ele cometeu um erro que eu consegui identificar, lol, rofl, me gusta, true story, epic win! xDxD”

A sério? Tudo isto por uma sensação vazia de superioridade? Espero que valha a pena.

É só a impressão com que fico de vocês. Claro que pode ser um mecanismo de defesa primitivo para me sentir melhor com o facto de ter cometido um erro. Quem sabe?

contioutra.com - Pessoas que corrigem erros gramaticais na Internet
Quem sabe?

E é isto que me irrita — saber que o meu erro está a fornecer prazer mesquinho a alguém, mas não poder responder porque essa pessoa até tem alguma razão. Daqui em diante, limitarei-me a linkar este post — efetivamente dando a minha opinião sobre o assunto e fazendo publicidade desavergonhada.

As forças que nos movem – Flávio Gikovate

As forças que nos movem – Flávio Gikovate

As forças que nos moveram e nos movem são de dois tipos: as que nos afastam das dores e sofrimentos e as que nos geram prazer.

Muitas das nossas ações foram direcionadas para a atenuação da sensação de desamparo. Assim, nos agrupamos para nos sentirmos aconchegados.

O desejo sexual, a vaidade e a curiosidade intelectual são alguns mecanismos de prazer que movem nossa espécie.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

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Para estarmos mais perto uns dos outros

Para estarmos mais perto uns dos outros

Um dia estaremos mais perto uns dos outros. Não importa quando e nem como. Mas nós seremos mais próximos do que somos hoje.

Nesse dia, estaremos para além de qualquer classificação superficial. Seremos mais que certos ou errados, pobres ou ricos, brancos ou pretos ou vermelhos e amarelos, homens ou mulheres, novos ou velhos. Mais que tudo isso, seremos simples pessoas mais próximas.

Ainda que distantes na geografia, guardaremos em nós a lembrança ou o desejo do encontro. E o encontro nada mais será que um pedido assentido e sincero de compreensão. Encontrar será a prática simples de pensar em alguém e querer nada senão compreendê-lo e aceitá-lo.

Viveremos perto o suficiente para nos vermos, nos ouvirmos e nos sentirmos ali. Próximos o bastante para dividir nossas alegrias e nossas dores, para seguir os caminhos de cada um sem nos perder de vista. Íntimos a ponto até de nos afastarmos quando preciso, em respeito à nossa necessidade humana da solidão que de quando em vez nos empurra para o claustro.

Entre tantas respostas e ponderações absolutas e julgamentos e certezas tão comuns desse mundo, estaremos juntos para nos fazer perguntas sem esperar respostas. Apenas nos perguntaremos coisas à toa, pelo puro e simples exercício de falar e ouvir. Mais ouvir do que falar.

Em longas conversas de manhã, sentados no sol de um banco de praça, nossos livros sobre o colo esperando atenção, relembraremos sem saudade os tempos frios em que nos tornamos duros estranhos. Riremos juntos de nossos ódios superados, nossas pendengas ridículas e desconfianças daninhas. E de tão boas, nossas conversas se estenderão sem pressa e sem culpa pela tarde e pela noite, até o mundo amanhecer de novo em cada dia seguinte.

Até lá, as histórias de uma gente que aprendeu a viver separada demais, uns contra os outros, fazendo do conjunto da vida uma imensa guerra campal, gritalhona e infértil serão nada além de velhas narrativas de barbárie e estupidez. Peças de um museu inexistente. Sombras de uma guerra em que os vencedores celebravam sua superioridade sem se dar conta de que, no fim do jogo, todas as peças sempre voltam para a caixa.

Então, façamos um trato. De hoje em diante, teremos um longo caminho rumo ao encontro. Assim, passo a passo, pisaremos novas ruas, tomaremos rumos desconhecidos e aprenderemos a compreender o óbvio: tudo o que nos acontece hoje são sinais de alerta. Alguém está a nos advertir que devíamos passar mais tempo juntos, ficar mais perto uns dos outros, tomar sol, apanhar vento, esperar a lua que se esconde por trás das nuvens.

Em todos os sentidos, de todas as formas, você e eu e todos nós seremos uma só vizinhança afetiva, moradores de um só quarteirão amoroso. Perto ou longe, não importa, seremos simples pessoas mais próximas, afeitas e dispostas a fazer da vida um longo e sincero gesto de amor ao outro.

É que um dia, se Deus quiser, estaremos mais perto uns dos outros.

Valorize quem está ao seu lado.

Valorize quem está ao seu lado.

Em uma floricultura, enquanto um senhor escolhe um vaso de violetas para esposa, chega um jovem e começa a selecionar e comprar um bouquet suntuoso e outros presentes para o que seria, na suposição de todos os presentes, uma jovem namorada. O senhor olha com certo desdém para o jovem e diz: “Espere 30 anos”, indicando que, com o tempo o interesse por grandes demonstrações de afeto diminuiria em proporções.

Na cena seguinte, enquanto vai embora, o senhor entende o motivo dos presentes do jovem e a mensagem do vídeo fica clara:

Veja:

 Fonte do vídeo: Legendadus

A evolução do amor é um regressar

A evolução do amor é um regressar

Me parece que evoluir no amor é um ato de regressar, é um ato de compreender que a natureza do amor é tão mais simples do que costumamos acreditar e vivenciar.

Me parece que depois da curva do sofrimento mais profundo, surge a humildade de olhar para o amor como um passarinho e não como um deus.  Nesse momento, começamos a ter a paz de sentir sem bordas. Deixamos de fiscalizar, medir, podar e punir. Simplesmente porque passamos a entender que todos esses poderes são falsas ilusões e na verdade não temos controle nenhum sobre uma pessoa ou sobre um sentimento.

Me parece que o amor nobre chega quando aprendemos a despir-nos das defesas, dos títulos, dos medos e dos orgulhos. E temos a coragem de mostrar nossos olhos transbordando e nosso sorriso aumentando. Temos coragem de expressar a nossa dor e a nossa felicidade em essência, já não temos medos delas, porque compreendemos que ofusca-las é o que causa a verdadeira dor. E também não nos importamos com o papel que estamos fazendo, porque queremos a genuinidade do outro e a nossa mesma acima de tudo.

E passamos a perder as armaduras e a sermos fracos e felizes, assim como as crianças.

Me parece que o amor nobre é uma receita simples, não precisa de muitos incrementos, precisa apenas dos ingredientes certos, de um pouco de cuidado, de sinceridade no olhar, de distração e de leveza. Que amor muito enfeitado e fantasiado pode entrar na graça de se tornar outra coisa para sempre.

Me parece que evoluir no amor é um ato de despolitiza-lo. Porque o amor já vem com a gente, de nascença, e não precisamos de regras e mandamentos para dá-lo forma e sentido. Não precisamos ser obedientes e impor obediência, que amor nobre sabe os seus caminhos.

O amor evoluído dá mais valor ao brilho nos olhos do que aos contratos. Às mãos dadas do que às alianças.  À delicadeza com que tratamos um coração do que à contagem do tempo que agregamos ao lado um do outro.

O amor nobre não entende as regras de ‘não aceito isso’, ‘não perdoo’, ‘agora temos que dar esse passo’, ‘agora temos que ser assim’, ‘agora somos um do outro e devemos respeitar nossos donos’.

O amor nobre escolhe o porto seguro pela facilidade de pousar e voar. Pela boa companhia e pela vontade de crescer e brincar juntos.

Ou como disse Rubem Alves:

‘Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.’

Teoria das pessoas complexas

Teoria das pessoas complexas
01.04.2008 - DIVULGACAO - RS - filme Beijo Roubado, maratona Odeon Petrobras

Haddock Lobo, 1164, apartamento 53, ano de 2015, quinta-feira, 10h30 da noite. Luz fraquinha do abajur iluminando a sala grande e “desmobiliada”. Perto da janela, a congregação das teorias de mesa de bar confabulando sobre a vida de forma geral e sobre os relacionamentos.

M. diz que gosta de seu emprego em SP, que ama a cidade e suas possibilidades. Mas diz que também gostaria de viver em outro lugar, de outra forma, fazer outras coisas. Não sabe o que quer, mas acha que sabe o que não quer. Acredita que o amor existe, mas não tem nada a ver com essa coisa de novela ou de cinema. E fica triste quando nota que a maior parte dos casais que a rodeiam são infelizes e só estão juntos por comodidade.

A. está em crise, pois mudou de profissão. Por que mudou? Também não sabe, só sabe que sentia que não era aquilo que deveria fazer para o resto da vida. A. acredita que ninguém nasceu para ser uma coisa só. Acha triste que tenhamos de nos resumir dessa maneira ao escolhermos uma profissão. A. pensa que as relações amorosas foram feitas para dar errado, mas que, como existe a teoria do caos, também existe as relações duradouras e felizes. Fica triste quando nota nos bares e restaurantes casais sentados sem conversar.

D. ouve apenas. Profissionalmente e em relação a cidade sente-se bem. O que a pega um pouco nos últimos tempos é o fim de sua relação com F. Ela rompeu. Estavam morando juntos, mas ela não estava segura se era aquele o tipo de relação que queria, se ele era o homem para ela. Tinha medo que passasse a vida a conformar-se e não a apaixonar-se. Pensa na música de Chico: Lilly Brown. “Nunca mais romance, nunca, nunca mais feliz”. Casar seria matar a paixão?

M., D., A. Pessoas complexas. Enquanto falavam de suas crises, teorias, possibilidades foram percebendo com felicidade e espanto o quanto eram parecidas em suas frustrações e em suas expectativas. Em seus sonhos e em seus medos. Em seus anseios e inseguranças.

As pessoas complexas raramente sabem o que querem, mas frequentemente sabem o que não querem. É um tipo de gente que não sabe comer a vida pelas bordas e já enfia a colher, com tudo, no meio da sopa. Arriscam queimar a língua, porque sabem que se queimar, passa. Ninguém morre de queimadura na língua, como ninguém morre de coração partido, de dor de cotovelo ou frustração.

As pessoas complexas não conseguem olhar para o mundo e aceitar simplesmente. Elas se questionam o tempo todo tudo. Chatas? Talvez, mas é que não conseguem existir de outro modo.

M., D. e A. estão cansadas do mundinho previsível, das pessoas tão quadradas, das possibilidades pequenas que o mundo lhes oferece. Está certo que a vida nos atende escassamente, disso já sabemos. Mas para uma pessoa complexa é a morte levar a vida a acomodar-se. Fazer as coisas porque vai ser mais confortável ou socialmente aprovado. Não se trata de rebeldia, nem de originalidade. É apenas que um coração complexo pulsa em arritmia, tem um compasso diferente, que se mistura frequentemente ao passo descompassado do mundo e da vida.

As pessoas complexas não acreditam que felicidade seja um carro do ano, um apê “um por andar” ou uma cobertura. Não acham que roupas caras te fazem mais bonita. Não acham bacana ir à balada da moda e nem fazer o que todo mundo faz.

Elas se questionam sobre os relacionamentos, sobre os casamentos. Elas querem se casar, querem se relacionar, mas tem que ser de verdade. Tem que ser com aquele alguém que as veja por dentro, que esteja ali todo corpo, todo presente, pronto para debruçar-se sobre o outro. Pronto para fazer da vida uma descoberta, uma aventura, um lugar sem ontem e sem amanhã. Não precisam de status. Não sabem se a fidelidade é a parte mais importante. Acreditam na lealdade, sobretudo.

Essa gente complexa detesta assuntos burocráticos, relações burocráticas, protocolos, regras sociais, dizer o que convém. São sinceras do fio do cabelo a ponta do dedão do pé. Não dissimulam e detestam mesquinharia.

As pessoas complexas acreditam na vida. Tem fé no amor e nas relações humanas. Elas olham o mundo e enxergam suas limitações, mas também, os seus encantos.

Não têm preconceito. São abertas ao novo. Gostam de experimentar sabores, cores, amores, formas, conteúdos, jeitos, gentes, teorias. São orgânicas. São recicláveis. São sustentáveis.

As pessoas complexas acreditam que as pessoas são o que dizem, o que pensam, o que sentem. Ninguém é o que tem. Aliás, pessoas complexas detestam assuntos como: a casa que eu comprei na praia, o meu salário de R$ 15 mil, o meu carro novo, etc.

Gostam de arte, de gente, de música, de viagens. Amam a liberdade e não sabem viver sem ela.
Respeitam o espaço do outro. Preservam a liberdade do outro. Amam as possibilidades do outro.
Não querem que as pessoas sejam como elas. São traumatizadas por uma sociedade que não as compreende e por isso não exigem do outro nada além do que ele tenha para oferecer.

Gostam de se emocionar com a vida e com o mundo. Nunca se acostumam a ver pessoas morando na rua, crianças pedindo dinheiro no semáforo. Choram com certas cenas da vida e lutam para que o mundo seja um lugar mais justo, mais acolhedor, com mais oportunidades para todos.
Fazem, todos os dias, pequenas revoluções.

Adoram conhecer lugares novos para formarem novas memórias. Conhecer gente nova, para construírem novas histórias. Contudo, carregam o passado, com seus ensinamentos e seus momentos inesquecíveis, sempre bem junto.

Se reconhecem nos lugares e adoram andar em bando. Ficam juntos falando de assuntos complexos ou de bobagens. Mas bobagens sinceras, coisas do bem. Se falam mal de algo é só da rede globo, do big brother, de certos políticos, enfim, de quem merece.

Pensam que a vida é uma só, sem ensaio e sem after. Assim, vivem cada dia como se fosse o único, como se fosse o último.

São pessoas sensíveis, que buscam extrair da vida sua essência e que querem traçar seu próprio destino. Acreditam na construção da felicidade e acreditam que essa não está na conta bancária, nem em um marido ou mulher que os espera em casa, nem em um filho, mas em cada um de nós.

Gente complexa tem alma de poeta mesmo quando nunca escreveu sequer um verso.

Por Aina Cruz. Fonte Indicada: Brasil Post

Em 4 minutos equipe do Minutos Psíquicos explica Divertida Mente

Em 4 minutos equipe do Minutos Psíquicos explica Divertida Mente

No Youtube existe um canal chamado Minutos Psíquicos onde podemos encontrar diversos vídeos ilustrados falando sobre temáticas da área da Psicologia.

Além de indicar o canal, selecionamos para vocês um vídeo especial onde, em pouco mais de 4 minutos, a equipe realiza uma análise sobre a animação Divertida Mente.

As ilustrações são de Ana Paula Oliveira, roteiro e narração de André Rabelo, edição de Pedro Costa e música de Caio Antunes.

As dificuldades de se relacionar – Flávio Gikovate

As dificuldades de se relacionar – Flávio Gikovate

Muitas pessoas não se sentem confortáveis com o convívio social. No caso mais extremo, estão os misantropos, mas há também os tímidos e aqueles que não veem graça em outros seres humanos.

Diante dessa perspectiva, cabe perguntar se o homem é realmente um ser gregário ou se convive com seus semelhantes por conveniência.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

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Síndrome do Pensamento Acelerado explicada por Augusto Cury

Síndrome do Pensamento Acelerado explicada por Augusto Cury

“Um dos principais sintomas verificados na Síndrome do Pensamento Acelerado é a perda geral da capacidade de pensar, de reter informações e, até mesmo, de elaborar tarefas. A seletividade da memória protege a mente contra o congestionamento de pensamentos, imagens e ideias. Ao fazer uma autoanálise, a maioria das pessoas irá perceber que utiliza excessivamente a memória e, por isso, pensa demais e se desgasta de maneira exagerada, podendo desencadear a síndrome.” Augusto Cury

Saiba mais sobre a síndrome em: Síndrome do Pensamento Acelerado

Augusto Jorge Cury é um médico, psiquiatra, psicoterapeuta, doutor em psicanálise, professor e escritor. Ele também é autor da Teoria da Inteligência Multifocal e descobriu a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), ao estudar o pensamento como ciência.

5 poemas extraordinários do moçambicano José Craveirinha

5 poemas extraordinários do moçambicano José Craveirinha

Um homem nunca chora

Acreditava naquela história
do homem que nunca chora.

Eu julgava-me um homem.

Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.

Agora tremo.
E agora choro.

Como um homem treme.
Como chora um homem!

Pena

Zangado
acreditas no insulto
e chamas-me negro.

Mas não me chames negro.

Assim não te odeio.
Porque se me chamas negro
encolho os meus elásticos ombros
e com pena de ti sorrio.

Nem desconfia

Todo o poeta quando preso
é um refugiado livre no universo
de cada coração
na rua.

O chefe da polícia
de defesa da segurança do estado
sabe como se prende um suspeito
mas quanto ao resto
não sabe nada.

E nem desconfia.

Guerra

Aos que ficam
resta o recurso
de se vestirem de luto
…………………………………
Ah, cidades!
Favos de pedra
macios amortecedores de bombas.

Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

José João Craveirinha (Lourenço Marques, 28 de Maio de 1922 — Maputo, 6 de Fevereiro de 2003) é considerado o poeta maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.

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