As melhores coisas da vida

As melhores coisas da vida

Há pessoas que dizem tintim por tintim quais são as melhores coisas da vida! Elas sim, são pessoas que não encontram dificuldade em fazer uma lista bem enorme e invejável de tudo o que lhes causa conforto, prazer, bem-estar, felicidade.

Esmiúçam a vida com alegria, sorriem ao falar, e não questionam tanto suas realidades, que são inúmeras passarelas de sentimentos, sensações e vivências cheias de significados. Preferem tirar o lado bom, puro e belo das circunstâncias. Viver sempre assim é como passar pela vida sem ver o mundo de perto, enxergar as pessoas, ver, mas não como elas realmente são, pelo menos por um dia na vida.

Deixar se abandonar em função do outro, nem que seja por alguns minutos, causa mais que incertezas, e muitas vezes os desfechos são perigosos, corre-se o risco de não querer voltar atrás, para a outra vida que deixamos à nossa espera.

Pensando bem e dando passos largos para o futuro, nosso mundo hoje se confunde entre o real e o virtual, temos infinitas opções de colocar nosso universo pessoal em prática, é só escolher. E, na maioria das vezes, temos consciência das nossas escolhas, ainda que não concordemos com nosso interior. Ele é um fato, complexo, infindável, cheio de trechos escorregadios que pisamos todos os dias. Ele também nos oferece liberdades que custam caro.

E como seria mesmo estar livre, como condição, independente de tudo que nos cerca, até mesmo da suprema obsessão que nos apavora e cerceia quando olhamos para a vida do outro que nos consome com suas histórias? É como se houvesse uma pausa para a felicidade dentro da gente, não basta viver, é necessário muito mais sentir o que se vive.

Sou uma dessas pessoas, que vive, sente, olha o lado bom da vida todos os dias, mas tenho uma consciência que lateja perante o outro, tento investigar, como se pudesse adentrar a pessoa e fosse viver sua vida por alguns segundos, consigo senti-las tão de perto, tão intimamente, que por vezes tenho urgência em me afastar do mundo simplesmente para compreender que espécie de furacão passou sobre minha cabeça, me enrolando na nuvem de poeira desconhecida.

Deixo-me passar por novas personagens, permito que gritem dentro de mim, que esperneiem pela vida lá fora, faço cada brinde valer a pena, mas não posso esquecer o outro, quem vive, inventa, sobrevive ao caos e tenta chegar lá a qualquer custo.

Invisíveis

Invisíveis

Eu estava ocupada demais com a minha vidinha, quando o Sami desperdiçou em mim um sorriso de reencontro. Passei por ele de carro, e não o percebi. Um convite no Facebook foi a maneira que ele achou de retomar o contato. “Oi, lembra de mim? Trabalhei no Edifício “X”, eu era o porteiro”. E eu pensei comigo, “mas que diacho, tem que aceitar até o porteiro hoje em dia…”, aborrecida por não lembrar de onde ele criou certo vínculo. Foi quando ele lembrou “te levei para o hospital aquela vez que você passou mal no estacionamento, lembra? Como você está?”. A ficha caiu. O Sami foi a alma boa que me colocou no carro, de camisola, quando tentei ir sozinha ao hospital, no meio de um ataque de pânico, porque meu namorado da época achou que eu só estava tendo um “chilique”. O Sami viu além do chilique.

O contato do Sami me fez pensar em todas as pessoas que se tornam invisíveis com o tempo. Uma vez, no meio de uma briga com o mesmo namorado, fui novamente parar no hospital com o braço torcido – o dono da minha afeição puxou uma máquina fotográfica da minha mão, quando a alça engatou no meu pulso e meu cotovelo estralou ao contrário. Cheguei à emergência aos prantos, acredito hoje, que mais de assustada do que de dor. Como alguém que eu gostava tanto era capaz de me causar medo? O médico tentou me acalmar dizendo que meu braço estava bom, e que eu só estava nervosa. Ainda assim, engessou o braço por três dias. Talvez querendo assustar meu agressor, talvez porque não pudesse engessar meu coração – esse sim, quebrado aos pedaços. Aquele médico viu além do meu braço.

A Maria trabalhou anos na minha casa. Ela acordava 2h antes que eu, para garantir que eu ia acordar na hora pra escola, ter café da manhã pronto e caminhar comigo, a longínqua meia quadra até o ponto de ônibus, percurso que meu pai nunca me deixou fazer sozinha. A Maria sempre esteve em casa, enquanto minha mãe e pai trabalhavam. Ela me viu virar mocinha, quando aos 13 anos meu corpo decidiu que eu devia “virar mulher”, me deu uma bolsa de água quente para a minha primeira cólica e disse que eu ia ter que começar a me cuidar. Eu fui amada e criada pelos meus pais, e também pela Maria. Hoje, a Maria não trabalha mais conosco. Quando encontra comigo ou com o meu irmão na rua, nos abraça, aperta, elogia, apresenta aos amigos como “seus filhos”. Ela é convidada para todos os eventos importantes da família – formaturas, aniversários e possivelmente será uma das mais orgulhosas da igreja quando eu subir num altar. Mas a Maria nunca almoçou com a gente na mesma mesa. Na hora do almoço, a Maria era invisível.

Logo que comecei a trabalhar na empresa da família, me fizeram usar uniforme, como todas as mulheres da empresa. Os homens do administrativo e comercial não usavam uniforme, apenas as mulheres. “Para se darem o respeito, e não aparecerem de minissaia” escutei de alguém uma vez. Ora bolas, não acreditava que precisava de uniforme pra me dar respeito. Certa vez, visitando a empresa de meu tio, sócio do meu pai, ele entrou na sala, cumprimentou meu pai e me pediu um café. Achei graça e disse “oi tio!”, quando ele virou-se assustado, me olhou de novo e se deu conta que a garota de uniforme era a sobrinha dele – “desculpa minha querida, não te reconheci de uniforme”, alegou. Não é que ele não havia me reconhecido – ele não havia me enxergado. Para ele, de uniforme, eu era invisível. Não sosseguei até eliminar o uniforme feminino da empresa. Nunca vi um peito de fora ou uma minissaia. Eu entendi que o medo era o que poderia acontecer se os homens da empresa passassem a nos enxergar. Eles preferiam que fossemos invisíveis.

Quando fui morar em Londres, meu primeiro emprego não foi na grande corporação que coloquei no meu currículo – foi num café. Eu era barista, garçonete e faxineira de um pequeno café em Belsize Park, um bairro imponente em Hampstead Town. Foi neste café que aprendi a diferença entre as pessoas que enxergam e as que não enxergam quem as serve. Algumas pessoas separavam alguns minutos do dia pra tomar café e perguntar como estava a minha família no Brasil, pediam licença, agradeciam, sorriam e me olhavam nos olhos. Sabiam meu nome. Outras me viam todos os dias, mas nunca me enxergavam. Lembro-me da ginástica que fazia para servir o chá com um teapot fervente nas mãos por cima de ombros e cabeças que nunca se esquivaram para me dar espaço. Na hora do chá, eu era invisível.

Em certa ocasião, servia uma moça e sua filha, quando a janela do estabelecimento ficou tomada de paparazzis. A moça que eu servia – com uma carinha de quem havia abusado de certa dose de drogas e rock n’ roll – era Kate Moss, depois de muito tempo percebi. Fechei a cortina do café tapando a visão dos paparazzis, depois servi um chá verde à modelo e um muffin de raspberry para a filha dela, que tinha as sardinhas mais bonitinhas que já vi. Ela sorriu agradecida, tudo que ela queria naquele momento era ser invisível. E eu a vi além da fama. Ali ela só queria ser a mãe daquelas sardinhas que devoravam o muffin de raspberry.

Não me lembro de jamais ter desrespeitado alguém baseado na condição de quem serve ou quem é servido. Sempre respeitei toda forma de atendimento. Sou daquelas pessoas que dá bombons a frentista de posto de gasolina e que dedica longos minutos conversando com porteiros. Mas nada me ensinou mais na vida do que servir aos outros. Reconheço hoje que muitas vezes me faltou humildade – não para reconhecer a importância destas pessoas na minha rotina – mas para enxergá-las além do seu trabalho. Hoje eu já não deixo ninguém tirar meu prato da mesa, sem eu mesma alcançá-lo e agradecer. Sempre penso na garota com o teapot fervendo nas mãos lá em Londres.

Quando penso na minha carreira, que hoje envolve atendimento a clientes, e no rumo que quero dar pra ela, me vem na cabeça o café em Belsize Park. “Você quer voltar pra Europa pra limpar privadas?”, meu pai pergunta sentado na sua cadeira de diretor. Sorrio pra ele sabendo que ele nunca vai entender que foi limpando a privada dos outros, que eu entendi quanta merda outras pessoas tiveram que limpar/arrumar/corrigir por mim. E que isso não faz de mim alguém mais importante, mas obrigatoriamente deveria fazer de mim mais humana. Pensei nas pessoas que são obrigadas a vestirem branco em clubes de elite. Na Maria, e em todas as pessoas que deixam os próprios filhos em casa para cuidar dos filhos dos outros. Gente que auxilia em nossas atividades. Pensei nos sorrisos que são ignorados na rua, vindos de pessoas que deveriam ser lembradas. Que não deveriam ser invisíveis.

Adicionei o Sami no Facebook – ele que fez mais por mim do que muita gente que está lá na minha lista de “amigos”. Contei a ele que estava melhor de saúde, e que tinha me curado do câncer que era aquele tal namorado. Ele ficou feliz, e disse que continuava atenciosa e gentil. Ele não tinha ideia da gentileza que fez por mim ao se fazer enxergar. Ele me lembrou de que ninguém deve ser invisível.

Texto de Antônia Macchi
Fonte indicada: Antônia no Divã

É preciso ir embora

É preciso ir embora

Ano passado, na festa de despedida de uma amiga, ouvia calada e com atenção seu dolorido discurso sobre o quanto ela se preocupava com a decisão de ir embora. Dizia se preocupar com a saudade antecipada da família, com a tristeza em deixar um amor pra trás e com a dor de se afastar dos amigos. Ela iria embora para Londres com tantas incertezas sobre cá e lá, que o intercambio mais parecia uma sentença ao exílio.

Dentre dicas e conselhos reconfortantes de outras amigas, lembro-me de interromper a discussão de forma mais fria e prática do que gostaria:

“Quando você estiver dentro daquele avião, olhar pra baixo e ver todas estas dúvidas e desculpas do tamanho de formigas, voltamos a falar. E você vai entrar naquele avião, nem que eu mesma te coloque nele.”

Ela engoliu seco e balançou a cabeça afirmativa.

Penso que na época poderia ter adoçado o conselho. Mas fato é que a minha certeza era irredutível, tudo que ela precisava era perspectiva. Olhar a situação de outro ângulo, de cima, e ver seus dilemas e problemas como quem olha o mundo de um avião. Óbvio, eu não tirei essa experiência da cartola. Eu, como ela, já havia sido a garota atormentada pelas dúvidas de partir, deixando tudo pra trás rumo ao desconhecido. Hoje sei que o medo nada mais era do que fruto da minha (nossa) obsessão em medir ações e ser assertiva. E foi só com o tempo e com as chances que me dei que descobri que não há nada mais libertador e esclarecedor do que o bom e velho tiro no escuro.

Hoje a minha amiga não tem mais dúvida. Celebra a vida que ela criou pra ela mesma lá na terra da rainha, onde eu mesma descobri tanto sobre minha própria realeza. Ironicamente – e também assim como eu – ela aprendeu que é preciso (e vai querer) muitas vezes uma certa distancia do ninho. Aprendeu que nem todo amor arrebatador é amor pra vida inteira. Que os amigos, aqueles de verdade, podem até estar longe, mas nunca distantes. Hoje ela chama o antigo exílio de lar, e adora pegar um avião rumo ao desconhecido. Outras, como eu, e como ela, fizeram o mesmo. Todas entenderam que era preciso ir embora.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você entenda que você não é tão importante assim, que a vida segue, com ou sem você por perto. Pessoas nascem, morrem, casam, separam e resolvem os problemas que antes você acreditava só você resolver. É chocante e libertador – ninguém precisa de você pra seguir vivendo. Nem sua mãe, nem seu pai, nem seu ex-patrão, nem sua pegada, nem ninguém. Parece besteira, mas a maioria de nós tem uma noção bem distorcida da importância do próprio umbigo – novidade para quem sofre deste mal: ninguém é insubstituível ou imprescindível. Lide com isso.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você veja que você é muito importante sim! Seja por 2 minutos, seja por 2 anos, quem sente sua falta não sente menos ou mais porque você foi embora – apenas sente por mais tempo! O sentimento não muda. Algumas pessoas nunca vão esquecer do seu aniversario, você estando aqui ou na Austrália. Esse papo de “que saudades de você, vamos nos ver uma hora” é politicagem. Quem sente sua falta vai sempre sentir e agir. E não se preocupe, pois o filtro é natural. Vai ter sempre aquele seleto e especial grupo que vai terminar a frase “Que saudade de você…” com “por isso tô te mandando esse áudio”; ou “porque tá tocando a nossa música” ou “então comprei uma passagem” ou ainda “desce agora que tô passando aí”.

Então vá embora. Vá embora do trabalho que te atormenta. Daquela relação que você sabe não vai dar certo. Vá embora “da galera” que está presente quando convém. Vá embora da casa dos teus pais. Do teu país. Da sala. Vá embora. Por minutos, por anos ou pra vida. Se ausente, nem que seja pra encontrar com você mesmo. Quanto voltar – e se voltar – vai ver as coisas de outra perspectiva, lá de cima do avião.

As desculpas e pré-ocupações sempre vão existir. Basta você decidir encarar as mesmas como elas realmente são – do tamanho de formigas.

Fonte indicada: Antônia no Divã

Quando envelhecer, quero ser velha

Quando envelhecer, quero ser velha

Sempre tive verdadeira paixão pela figura do velho sábio ou da velha sábia das histórias. Aquela personificação da sabedoria, de cabelos brancos, serena ou ranzinza, não importa, sempre cheia de charadas, histórias e conselhos escondidos nas mangas de lã, para acalmar e orientar os impetuosos e ingênuos espíritos jovens e inexperientes. Os magos e bruxas eremitas, o professor soturno e silencioso, o mestre, a sacerdotisa, o avó, a avó, o misterioso dono da loja de souvenires. Heróis das palavras sensatas, das armadilhas de trocadilhos, dos enigmas de esfinge, da simplificação de coisas que pareciam complexas. A palavra velhice se associa para mim a uma paixão pelo que foi moldado no tempo pela experiência, carrega a ardileza da montanha que tem suas formas trabalhadas pelo vento e ouviu dos ruídos eólicos as estórias murmuradas de todos os cantos, e sensibilizada por esta mesma vibração os conta no silêncio noturno, à luz da lua, para o mundo.

Também as coisas velhas me despertam os afetos, casas, cidades, fotografias, objetos que contam segredos e casos, não sobre o passado, mas sobre uma trajetória confusa, labiríntica, cheia de repetições, dramas e reviravoltas, essa trajetória obtusa do tempo que chamamos de História. As tradições, as vivências ancestrais, as crenças, tudo o que foi se transformando até chegar à nossa existência e que já encontramos como está – nós ainda crus da amplitude do universo, quando revividas pelo contato com as trajetórias que desconhecemos, nos revela tanto sobre nossa condição emergente, sobre o que chamamos de presente, que nos liberta da prisão ilusória de que o relógio anda para frente, quando na verdade caminha em círculos. Nos liberta, depois, da trajetória circular do relógio e nos joga para um voo ao infinito de possibilidades.

Quando criança, imaginei-me em todas as fases da maturação: sonhei cabelos coloridos de tinta na adolescência, amores à mil, diversões infinitas, muita quebração de cabeça e já beirando à juventude, errante em busca de evolução; imaginei-me jovem adulta, deixando os cabelos em paz, já em algum lugar do caminho desencontrado da vida, angariando conquistas, liberdade, um voar de pipa, com as rabiolas para equilibrar os rumos; imaginei-me adulta em meia idade, digladiando com o tédio, avaliando os trajetos, questionando as escolhas, querendo mudança e estabilidade, perplexa em perceber que já naquela idade ainda não estava certa dos rumos do querer, com uma mão alimentando as dúvidas e com a outra cumprindo as responsabilidades; imaginei-me velha, com andar calmo e lento, cabelos brancos e longos ao vento, com aquela beleza singular de quem preservou apenas o essencial da vaidade, para dar espaço ao tudo mais oferecido pela sabedoria das experiências vividas no tempo, que só tempo qualquer um pode ter, mas experiência é o que faz da vida viva. Imaginei-me tornada velha sábia, e não idosa sábia, ou qualquer coisa do gênero.

O politicamente correto veio interromper meu sonho. O desrespeito e desvalorização do velho se tornou um problema de semântica e não de cultura, de comportamento ou de ideologia. Já não se pode ser velho em paz, adolescência eterna é pregada, com requintes de adultice coaching. Nada mais de deixar as rugas falarem a linguagem das telas e das esculturas, mensagem silenciosa e profunda que ninguém parece entender nesses tempos de plastificação do rosto e do corpo – clínicas de estética como um sucateado retrato de Dorian Gray. Também já não diz mais nada a experiência, que estes gênios de ontem já nascem sabendo, e sabem mesmo tanto, só não sei se sabem do que importa. Nada de histórias contadas ao pé do fogão a lenha, ou nas fogueiras de acampamento, na hora de dormir – desenhos da Disney, democraticamente para todos, nos ensinam a viver. Nada de conselhos ou enigmas, todas as respostas se encontram em algum lugar da internet. Nada de mestres, a figura do sábio confundida com a figura do ditador nos instaurou o medo, e todos deveremos reinventar a roda, e todos deveremos reinventar apenas a roda. Viveremos apenas de roda, que o resto, o que for diferente desse objeto que nos colocou à 100 Km por hora, já não importa.

Eu no entanto, persistindo em meu romantismo com a vida, continuo nesse caminho, sonhando que caso sobreviva, veja cada fio de cabelo recebendo as cores da lua, o corpo cedendo à gravidade e a mente se libertando dela. Não quero ser reconhecida pelo meu acúmulo de idade – idosa, não! Quero ser velha. E sábia, talvez me venha com o mérito das experiências que intento, livre do constrangimento das minhas aventuras amorosas, dos meus tropeços ingênuos, das minhas secretas ilicitudes juvenis, dos meus contrassensos. Mais que sobrevivente, quero ser vivida, e então poderei ir tranquila, deixando a vida com um sorriso nos lábios comprimidos de tantas expressões emitidas. Ditar lacônicas charadas da labuta para deixar a liberdade tecer as redes daqueles que se iniciaram na aventura de viver, projetando apenas indícios dos nós.

Quero ser o que não fui e tudo o que fui, juventude alegre e tranquila na alma, enriquecida poção de eternidade das qualidades controversas que ingeri em minhas lidas. Quero ser velha querida, como me foram as velhas e velhos das histórias e alguns mais na vida. E se nunca for lido o meu conto de trajetos confusos, entre passos flutuantes de sonho ou britadores de realismo, eu ainda poderei ser montanha, e narrar os meus contos aos ouvidos da brisa.

Não, tu não te tornas responsável por expectativa alheia nenhuma!

Não, tu não te tornas responsável por expectativa alheia nenhuma!

Escreve aí em teu caderno. “Eu sou livre!”. Só para lembrar. Tu bem sabes, mas não custa repetir. Amar não é ter posse sobre ninguém. Quando te sentires escravizar, manda às favas! Assim, simples, direto e com toda a força. Fecha teus olhos, respira fundo e manda embora todo aquele, aquela e aquilo que te faz mal. Não carece verbalizar, repetir, soletrar em voz alta, gritar e essas coisas tão deliciosas. Diga a ti mesmo, esculhamba o opressor aí dentro primeiro. Aperta o botão vermelho, dá de ombros, dá as costas e vai em frente para longe dessa lama doentia.

Por que carregar esse peso, hein? Para onde? Vai valer de quê? A vida é uma viagem e a mala dos outros não te cabe. Despacha. Expulsa. Demite. Tu és livre, criatura! A maior concentração de idiotas por metro quadrado do mundo está aí mesmo, ao teu redor. Repara. Observa. Tem sempre um cretino por perto, cada vez mais próximo, exalando sua incrível capacidade de invadir o espaço alheio e um hálito estranho a tuas entranhas. Se vacilas, descuida, cochila e permite sem querer uma só aproximação, logo ele terá cravado os caninos em teu pescoço. Estará pendurado em ti, no pleno e livre exercício de seu parasitismo.

Rejeita. Escapa da areia movediça das relações doentias. Percebe o quanto tu, criatura divina que um dia foi amada com honestidade sob a forma de um bebê inocente, frágil, corre agora o risco de ter a vitalidade sugada por um espírito miserável, patológico e paranóico, povoado de expectativas unilaterais. Não te obrigues a agradar quem quer que seja antes de te contentares. Não te encantes com ninguém antes que um amor louco por ti mesmo fortaleça tua alma e dê sentido a cada santo dia.

Acredita. Tu haverás de amar honestamente só aqueles que mereçam o privilégio. Teus amigos, tua família, tua gente e olhe lá. Esses estarão contentes com o quinhão de amor e dedicação que tu lhes der, seja qual for o tamanho disso. Ao resto, tu deves nada, nada! Quanto àqueles que não entenderem, que se danem! Danem-se com todas as letras e ferros. Porque a nós nada está garantido mesmo senão a danação absoluta. E se te permitires afagar o ego de outro antes de mais nada, está escrito que também irás te danar mais cedo!

Manda longe aqueles que te “amam” sob a condição de que faças exatamente o que de ti esperam. Porque se ousares fazer diferente, se te atreveres a seguir tua própria vontade, sem nada conceder ao capricho alheio, rapidamente te odiarão com a mesma fúria com que hoje te adoram.

Desiste. Desiste de agradar a Deus e todo mundo. Afaga antes a ti mesmo e, se Deus quiser, o mundo todo será teu. Então poderás escolher o que queiras dele e a ele devolver o que puderes.

Cuidado com quem te cobra coerência, perfeição e generosidade. Atenção a quem te julga egoísta por valorizares a vida que te foi dada. Geralmente, é um cínico despejando em ti os defeitos que não suporta saber em si mesmo.

Olho vivo na turma do olho gordo, tão boazinha e viciada em sentir pena dos outros para disfarçar e esquecer sua própria miséria.

Evita, evita descaradamente os santinhos e sanguessugas dissimulados, entregues a sua corrida de lesmas. Tu não precisas provar nada a ninguém, não deves nada além das contas que pagas a tão duras penas, nada senão respeito a toda e qualquer criatura honesta que viva sua própria vida e não atrapalhe a dos outros.

Corre. Corre o mais rápido que puderes das malditas expectativas, as suas e as alheias. Expectativas são bichos não domesticáveis, aranhas peludas de mil pernas, escravizando suas vítimas em teias de preconceito para devorá-las no mingau gelado da frustração. Melhor é criar filhos, cachorros, gatos e lembranças.

E sobretudo perdoa. Aprende a perdoar quem te ataca em tua mais óbvia fraqueza: tu és nada além de um ser humano cheio de falhas que ora carece de companhia, ora anseia por solidão. Mas não te esquece: perdoa, sai de perto e segue em frente. Porque o perdão é a tua liberdade com outro nome.

Reconhece então tua fraqueza e cai no sono sem culpa. Quando acordares, serás ainda a mesma criatura imperfeita de sempre, mas terás mais força que nunca para seguir correndo. Em frente, atrás, de lado, não importa. Só o que ainda vale de tudo isso é o puro e simples movimento. Dispensa o peso. Manda embora. Liberta-te. Levanta e voa!

Volte quatro casas!

Volte quatro casas!

E quando tudo estava se ajeitando, aconteceram coisas inexplicáveis que levaram embora as melhores esperanças…

Quando tudo se despedaçou, a vida apresentou novas oportunidades, novos rostos,  rotinas,  hábitos e alegrias…

Quem realmente nunca viveu momentos de euforia, viu seu mundo cair, fez um sucesso inesperado, virou a vida de cabeça para baixo, deixou o dinheiro acabar,  a TV quebrar, o carro enguiçar, a relação esfriar, tudo ao mesmo tempo , indo direto para ou céu, ou caído sem vida no chão?

Acontece sim com todo mundo, várias vezes na vida, e, a cada vez ficamos igualmente perplexos, tentando explicar a coisa toda com teorias tão loucas quanto possíveis, mas o fato é que sempre saímos mais fortes de todo o caos em que estávamos pouco antes. Num segundo distraído, deixamos de fazer parte daquele cenário e já estamos em outro, e aí aparece aquele lampejo da mudança. Alguns dirão: – Finalmente terminou meu inferno astral, ou, ao contrário, – Nessa época tudo de ruim me acontece. Outros não dirão nada, só ficarão gratos, revoltados, inconformados, se achando merecedores.  E tantos outros sentimentos serão válidos, de acordo com a disposição de cada um.  É do jogo, como aceitamos as posições em que estamos no momento.

É preciso aceitar que a vida realmente é tecida por milhões de conjunções possíveis. E, assim como ela, fazemos associações a todo instante, respiramos profunda ou rapidamente, sorrimos ou fechamos a cara. Olhamos para os lados, para trás, para baixo, ou piscamos os olhos e deixamos de ver um lindo sorriso lançado para nós naquele justo instante. Prestamos atenção no que achamos que nos interessa, mas também deixamos passar muitas, muitas outras atenções. É a combinação de escolher e ser escolhido.

O jogo da vida é dinâmico e incontrolável. As peças mudam assim como os humores, as chances, as células do nosso corpo,  o clima, os cabelos, a sorte… E quando passamos por tempos de tormenta significa que algumas combinações não deram certo. E seguimos pois precisamos acreditar nisso para que estejamos com boa disposição para as perfeitas que certamente virão e não durarão o tanto que gostaríamos, como todas as outras vezes.

Tratemos  portanto de soprar os dados e jogar honestamente, buscar e lembrar de tudo o que aprendemos com as derrotas e vitórias anteriores, ficarmos firmes nas péssimas jogadas e vibrar intensamente com as certeiras!

A velha máxima diz: “O que importa é competir”; Mas gosto ainda mais de pensar que existe uma que repete sempre para cada um de nós: Queira vencer, mas antes de tudo, queira estar no jogo, viva o jogo, entenda as mensagens em cada recuada, em cada passada. E volte quatro casas se assim for preciso!

O menino e o cobertorzinho – uma lenda sobre o amor familiar

O menino e o cobertorzinho – uma lenda sobre o amor familiar

Em um país muito longe daqui, onde o frio é forte e impera, todo bebê nasce e já ganha o seu cobertorzinho. Esse cobertorzinho o acompanhará por toda a sua jornada até a idade adulta. O tecido é aconchegante e macio, quente e envolve a criança, sanando suas necessidades de calor e proteção nas noites gélidas e escuras.

O pequeno corte desse tecido de inverno, entretanto, não acompanha o crescimento da jovem alma que rápido se desenvolve. E, tempos depois, já vemos os pezinhos quase descobertos.

Os pais, conhecendo a necessidade dos filhos e a tradição de seus ancestrais, improvisam como podem: cortam pedaços de seus antigos cobertores, e com eles fornecem calor, afeto e história para o ser que cresce. Às vezes, o tecido é velho e puído, mas, tem cheirinho de amor. Em outras, é mais fino, mas, traz cores de alegria. Outras ainda são um pouco mais ásperas e até espetam, mas, a criança sabe que, se achar a posição correta e deitar sobre aquele pedacinho, ele pode ser o mais quentinho.

A criança continua crescendo e lá vêm os avós, tias e primos, cada um com sua contribuição. Vermelho, amarelo, xadrez. Verde, azul e violeta. Por mais simples que seja a família, sempre aparece mais um paninho.

Sob esses tecidos e protegido por eles, a criança cresce forte e segura, assim como acolhe a doação de quem faria qualquer coisa para cuidar dos seus.

Ao anoitecer. vemos uma criança deitada em seu mundo encantado, facetado e multicolorido, onde cada um que podia emprestou um pouco do que tinha.

Um belo dia, sem que ninguém espere ou saiba o momento, aquele que até hoje apenas recebeu, vai até um canto de sua casa e corta um pedaço do seu querido cobertor.

“Pés de galinha”, um texto que dá a dimensão do amor de uma mãe

“Pés de galinha”, um texto que dá a dimensão do amor de uma mãe

PÉS DE GALINHA

“Passei a infância toda
Achando que a minha mãe
Gostava de pés de galinha,
Comia com tanto gosto
Chupava até os ossinhos.
“Ninguém come os pés, são meus”- dizia
Toda a carne dividia
Peito, coxas e titela,
Fígado, coração e muela,
Mas os pés, os pés era só prá ela.
Depois de todos servidos,
Então sentava e comia.
Mas o tempo foi passando,
A criançada crescendo,
Os maiores trabalhando,
A vida foi melhorando.
Depois de uma infância dura
Começamos Ter fartura.
Vi minha mãe na cozinha
Tratando de uma galinha
E ao contrário de outrora
Flagrei aquela velhinha
Jogando os pèzinhos fora
Ao notar o meu espanto
Aquele coração santo
Da minha doce mãezinha
Apressou-se em explicar:
“Nunca gostei do tal do pé de galinha”
É que a carne era tão pouca,
Prá tantas bocas não dava,
E prá você não ficar triste
Eu fingia que gostava.”

Por Bernardo Alves

A geração que tudo idealiza e nada realiza

A geração que tudo idealiza e nada realiza

Demorei sete anos (desde que saí da casa dos meus pais) para ler o saquinho do arroz que diz quanto tempo ele deve ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar “al dente”, muito arroz empapado dizendo que “foi de propósito”. Na minha panela esteve por todos esses anos a prova de que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer, idolatra sem porquê. Sou da geração que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual de instruções ou simplesmente não faz.

Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazemos cada vez menos política na vida (e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies em academias e esquecemos de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendemos compartilhando o post da cerveja artesanal do momento, bebemos mais e bebemos pior.

Entendemos que as BICICLETAS podem salvar o mundo da poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vamos de carro ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim lotamos as filas do drive-thru porque temos preguiça de ir até a esquina comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da geladeira.

Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. Somos uma geração que erra sem medo porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil (e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.

Somos aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode viver do que ama fazer. Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do suor. Somos craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.

Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing. Sabemos que existe gente bem intencionada querendo nos ajudar a crescer no mundo todo, mas ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecemos o nosso sofá que compramos pela internet para os filhos dos nossos amigos pularem.

Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede social. Não nos ligamos mais, não nos vemos mais, não nos abraçamos mais. Não conhecemos mais a casa um do outro, o colo um do outro, temos vergonha de chorar.

Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de não saber lidar com o tempo, de não ter certeza sobre nada. Somos aqueles que escondem os aplicativos de meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de produtividade.

Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não vai ter feito muita coisa porque estava com fome e não sabia como fazer arroz.

Texto de Marina Melz

Fonte indicada: Entenda os Homens

Sou uma mulher de cem anos

Sou uma mulher de cem anos

Sou uma mulher de cem anos. Meu coração é fraco. Choro ao ler um poema e ao ver um menino no semáforo. Não tenho mais medo da morte, mas amo muito a vida. Amo tanto que cuido. Amo tanto que guardo nas mãos, como pintinho indefeso e sem mãe. Amo tanto que rego as minha flores todos os dias e tento regar as flores dos quintais vizinhos.

Sou uma velha sem importância. Tenho vontade de permanecer em silêncio em meio às tantas falas. Não ligo para presentes e conquistas. Os assuntos desse mundo me interessam menos que um sorriso de uma criança. Fujo da realidade olhando um voo de borboleta.

Sou uma senhora aposentada, não sirvo mais para nada. Tenho a pele fina, os ossos frágeis, os olhos cheios de lágrimas, um sorrisinho nos lábios e o pensamento longe. Tudo em mim se distrai, até minha identidade.

Sou uma velhinha sem forças, mas cheia de sentido no olhar. Sentada, tricotando um cachecol para reaquecer os corações. Pronta para a vida, mas não para o mundo.

15 razões pelas quais você provavelmente perderá amigos no Facebook

15 razões pelas quais você provavelmente perderá amigos no Facebook

Muitas pessoas se deslumbram com as possibilidades do Facebook e não pensam nas consequências de postagens que podem gerar desconforto em seus amigos virtuais.

As principais razões das amizades desfeitas no Facebook podem ser enumeradas da seguinte forma:

1. Discussões sobre política

Claro que emitir a sua opinião sobre política pode ser interessante, principalmente se você aprecia estudar a respeito e tem amigos que se interessam pelo assunto. Mas cuidado para não se envolver em discussões infundadas e inoportunas. Essa matéria alerta: “Talvez seja a hora de aceitar que o Facebook é um meio ruim para o debate político”.

2. Discussões sobre religião

Se você não quer ter apenas amigos da sua religião, seja comedido nas postagens religiosas e se precisar conversar sobre elas, não aceite polemizar.

3. Divisão de ideias

A mesma matéria acima divulga um estudo recente da Universidade do Colorado em Denver que concluiu que entre as razões mais citadas para desfazer amizades na rede é a polarização de ideias. As pessoas costumam manter contato com as que tenham pensamentos afins.

4. Postagens repetitivas

Se você postar sempre sobre o mesmo assunto, uma hora o interesse acaba e você será tido como uma pessoa chata e cansativa.

5. Grosseria

Educação é fundamental em toda e qualquer forma de comunicação, inclusive no Facebook. Xingamentos, palavrões e ofensas não são aceitáveis por muitos que preferirão clicar em “desfazer amizade”.

6. Comentários nas postagens dos amigos

Comentar a postagem de alguém deve ter um bom motivo, pois não é conveniente provocar polêmica. Não se esqueça: você não precisa comentar tudo o que lê e se o fizer seja razoável e respeitoso.

7. Postagens pornográficas

Ninguém é obrigado a ficar vendo ou lendo esse tipo de postagem e muitos vão se incomodar e preferir ficar longe.

8. Postagens violentas

Muitas pessoas ainda se comprazem com notícias, fotos e vídeos com conteúdo violento e hostil, mas felizmente, muitos também usam das ferramentas de denúncia do Facebook para eliminar tais postagens e bloquear os que as fazem.

9. Atualizações racistas

Esse tipo de postagem é totalmente inadequado e costuma causar muitos debates desrespeitosos e até mesmo violentos. Aliás, quem se presta a isso dificilmente manterá amigos.

10. Fazer do Facebook um diário

Você posta desde que levanta até que vai deitar, incluindo o “fui” trabalhar, correr, estudar, comer, passear… É muito chato!

11. Manifestações preconceituosas

Claro que você pode manifestar suas opiniões, mas precisa ter cautela com a forma pela qual se expressa. Demonstrar sentimentos hostis, generalizando seres humanos é inaceitável.

12. Exposição contínua de sentimentos

Pode ser que em algum momento você tenha vontade de expor algum sentimento, mas observe se isso pode interessar aos seus amigos, afinal você está escrevendo para que eles leiam, certo?

13. Mudança de interesses

Suas postagens têm a ver com o que você está vivendo, assim se você se casa, ou se separa, ou tem filhos, enfim, quando muda o tipo de postagem pode fazer com que muitos percam o interesse em ter você como amigo.

14. Atualizações arrogantes ou tidas como tal

Segundo esse artigo: “(…) o caráter da relação virtual induz a maior espontaneidade, favorece desencontros, atitudes irreflexivas e mesmo abusos. Nem sempre o bom senso e o respeito prevalecem”.

15. Todo tipo de excesso

As postagens no Facebook favorecem a ilusão e o apelo à aparência e tudo o que é demais fica enfadonho e, notadamente, irreal, assim ser feliz demais, viver deprimido, ostentação ou qualquer tipo de exagero costuma ser um bom motivo para “cortar” amigos na rede.

Bom deixar claro que perder contatos virtuais não é sempre algo ruim, afinal o ideal é interagirmos com pessoas que possuem algum tipo de afinidade conosco.

O Facebook é uma forma muito interessante de reatar e fazer novas amizades, de aprender a entender pontos de vista diferentes, além de promover ideias pessoais e profissionais. Obviamente, a escolha de como usar essa potente ferramenta é de cada um de nós.

Por Suely Buriasco. Fonte indicada Família.com

E você? O que te tira do sério no Facebook?

Três pequeninas crônicas de Eduardo Galeano

Três pequeninas crônicas de Eduardo Galeano

A Justiça nos tempos de Franco

Acima, no alto do estrado, envergando sua toga negra, o presidente do tribunal.
À direita, o advogado.
À esquerda, o promotor.
Degraus abaixo, o banco dos réus, ainda vazio,
Um novo julgamento vai começar.
Dirigindo-se ao meirinho, o juiz, Algonso Hernández Pardo, ordena:
– Faça o condenado entrar.

A mãe e o pai dos direitos civis

Num ônibus que circulava pelas ruas de Montgomery, Alabama, uma passageira negra, Rosa Parks, negou-se a ceder seu assento a um passageiro branco.
O motorista chamou a polícia.
Chegaram os guardas, disseram: lei é lei, e prenderam Rosa por perturbar a ordem pública.
Então um pastor desconhecido, Martin Luther King, propôs, em sua igreja, um boicote contra os ônibus. E propôs assim:
– A Covardia pergunta:
– É seguro?
A Conveniência pergunta:
– É oportuno?
E a Vaidade pergunta:
– É popular?
Mas a Consciência pergunta:
– É justo?
Ele também foi preso. O boicote durou mais de um ano e desencadeou uma maré irrefreável, de costa a costa, contra a discriminação racial.
Em 1968, na cidade sulina de Memphis, um tiro arrebentou o rosto do pastor King, quando ele estava denunciando que a máquina militar comia negros no Vietnã.
De acordo com o FBI, ele era um sujeito perigoso.
Como Rosa. E como muitos outros pulmões do vento.

Malditos sejam os pecadores
No idioma aramaico, que Jesus e seus apóstolos falava,, uma mesma palavra significava dívida e pecado.
Dois milênios depois, os pobres do mundo sabem que a dívida é um pecado que não tem expiação. Quanto mais você paga, mais você deve; e no Inferno está à sua espera com os credores.

Para ler a postagem completa, acesse Justificando

Documentário mostra famílias que escolheram não matricular crianças na escola

Documentário mostra famílias que escolheram não matricular crianças na escola

Na época em que o primeiro filho nasceu, a atriz e cineasta francesa Clara Bellar dividia seu tempo entre o Rio de Janeiro, Paris e Los Angeles. Em vez de decidir por um desses locais para poder matricular o menino na escola, ela e o marido preferiram entender como crianças poderiam aprender de maneira livre e conviveram durante dois anos com famílias que optaram pela não escolarização. O resultado foi uma jornada que é mostrada no documentário “Ser e vir a ser – Vivendo e aprendendo”.

O filme é uma busca pelo “desejo inato de aprender”, conforme define a sinopse de divulgação. Ele explora o conceito de desescolarização (unschooling, na expressão em inglês) e apresenta famílias da Alemanha, Estados Unidos, França e Reino Unido que vivem ou vivenciaram essa experiência, além de ouvir educadores e especialistas no tema. Também é possível ouvir histórias e conhecer jovens que tiveram uma educação livre, porém, mais tarde optaram por ingressar no ensino formal em renomadas universidades. Segundo Clara, que é mãe de uma menina de um ano e um menino de 6, a intenção não é julgar a escola ou tentar apontar um único caminho, mas mostrar que também existem outras possibilidades para aprender. “O importante é informar para que as pessoas possam escolher, cada um para a sua família”, defende.

Confira a seguir alguns trechos da conversa com a cineasta.

Quais foram os primeiros questionamentos que surgiram quando você começou a pesquisar sobre desescolarização?

Quando ouvimos falar pela primeira vez sobre não escolarizar – e não apenas o fato de não ir para uma escola e fazer a escola dentro casa –, não entendíamos como era possível aprender sem a necessidade das coisas serem ensinadas. Estávamos muito formatados e não conseguíamos imaginar fora desse paradigma. Conhecendo as crianças que aprendem de maneira livre, descobrimos que elas aprendem vivendo. Como falou Alan Thomas, professor da Universidade de Londres, durante o filme, tudo o que você precisa para funcionar na sociedade, você vai aprender vivendo. Na verdade, se você vive em uma cultura com livros e coisas escritas nas paredes, no metrô, vai acabar lendo, escrevendo e aprendendo matemática básica – como fazer uma receita para mais pessoas ou dar trocos. Esse tipo de coisa, aprendemos fazendo.

Um dos questionamentos era se os pais precisavam saber de tudo. E na verdade, não. Eu pensava que seria preciso buscar tutores e professores particulares, mas vi que não era exatamente assim. Muito em breve se acham pessoas. Uma aposentada que mora no mesmo prédio pode ficar feliz em partilhar a paixão dela com um jovem. Eles não aprendem a fazer amizade por faixa de idade. Também existe muita troca com outros pais.

De que forma os pais devem estar preparados para isso?

O que os pais [ouvidos durante a produção do documentário] me falaram é que para as crianças aprenderem é preciso viver. O difícil é os pais fazerem um trabalho em si para não criarem muitas expectativas, não colocarem pressão e terem confiança – nas crianças e em si –, o que é muito difícil na vida. Eles reaprendem a ter autoconfiança quando começam a confiar mais nos filhos.

Nas famílias que aparecem no documentário é possível notar uma proximidade com a natureza. Você acredita que a desescolarização tem relação com um estilo de vida próprio?

É muito raro que a desescolarização seja apenas uma opção por uma maneira de instruir os filhos. A vida das pessoas apresenta uma volta para a natureza e a liberdade. Mas muitas pessoas no filme moram na cidade, só que as entrevistas são na natureza porque as crianças passam muito tempo fora. Elas não são presas entre quatro paredes. Quando eu ia conhecer uma família, muitas vezes ela estava fazendo uma atividade fora. Eu até descobri parques públicos em Paris que não conhecia. Foi interessante. Eles têm mais tempo na natureza, é verdade, mas isso não quer dizer que necessariamente moram fora da cidade.

A desescolarização não é possível para qualquer pessoa?

Eu prefiro falar que não é para qualquer um por causa do jeito que a sociedade está organizada. Mas aí existe um problema de sociedade que não tem nada a ver com uma questão de aprendizagem. Se todo mundo seria capaz em uma sociedade natural? Sim. É assim que os mais tradicionais funcionavam. É assim que as pessoas sempre aprenderam: vivendo, olhando, imitando e indo atrás dos seus interesses. Mas na sociedade do jeito em que está, claro que existem pessoas que podem ter alguma situação que não permitiria isso.

Mas eu vejo pessoas que decidiram sair da cidade e ganhar menos no trabalho. Conheci muitas pessoas que viram o filme no cinema na França e me contaram exemplos muito extremos. Uma mãe solteira, com dois filhos adolescentes, contou que eles viveram com 500 euros por mês durante anos. Esse é um exemplo extremo, mas todo mundo poderia. As pessoas reinventam a vida que realmente convém para elas.

As crianças, jovens e adultos não escolarizados que aparecem no documentário apresentam algumas características em comum, como o interesse pelas artes e a criatividade. A educação livre estimula o desenvolvimento dessas habilidades?

Como é falado no filme, toda criança tem essas características de criatividade e imaginação. Você começa uma história e eles inventam o fim. Isso é natural. Eu não acho que a desescolarização desenvolve mais. Mas eu acho que, na maioria das escolas, o fato de os alunos ficarem muitas horas sentados e fazendo o que os outros falam tira uma parte da criatividade. São outras necessidades. São as necessidades da revolução industrial, dessa coisa de escola para todos. Aí você não tem mais muito tempo de imaginação.

As crianças não escolarizadas, pelo menos a partir de observações no documentário, parecem não fazer muita separação entre o tempo do aprendizado e tempo da diversão. Como isso muda a forma de encarar o mundo e encontrar prazer nas coisas que se faz?

A gente não nasce com essa separação. Ela começa na idade em que a gente entra na escola. Minha filha com seis meses parecia que queria andar, e a gente acreditou. Ela estava tão decidida, mas demorou seis meses. Durante esse tempo ela ficou caindo e ficou frustrada, mas era lúdico. Não havia separação: “Agora vou trabalhar e fazer um passo e meio, depois eu vou brincar.” Não. Aprender é brincar; e brincar, o meu trabalho.

As duas coisas mais difíceis que as pessoas aprendem na vida inteira, que são andar e falar, ninguém vai ensinar. “Vamos trabalhar e vamos fazer uma hora de andar. Uma hora de falar português.” Isso não existe. Mas aí chega uma idade, como o Alan Thomas fala, e todo mundo tem que mudar a maneira de aprender. Aí falam “olha, você vai fazer uma coisa que não é sua, mas você vai ter a recompensa e poder brincar depois.” Aí começa a separar. É tão triste.

Alguns especialistas criticam o modelo pela questão da socialização, mas no filme percebemos que as crianças também convivem com outras crianças, jovens e adultos. Como essa mistura de idades diferentes pode enriquecer o aprendizado?

Eu acho que, mais uma vez, entra essa coisa de separação, agora por idades. Como não acontece isso, eu acho que socialização e o isolamento é o primeiro preconceito que cai porque você percebe que é ao contrário. Não é a socialização de estar com 20 crianças que nasceram no mesmo ano, no mesmo bairro (se for o caso de uma escola pública) e da mesma categoria social (se for uma escola privada) onde os pais têm rendas similares. Aí você não tem uma quantia representativa de crianças do seu país.

Um dos pontos que chama bastante atenção no filme é a fala de adultos que tiveram uma educação livre durante a infância e adolescência e, mais tarde, optaram por ingressar no ensino formal em grandes universidades. A desescolarização é um caminho flexível que possibilita entrar e sair dele?

Totalmente flexível. Eu conheço famílias em que um filho vai [para escola] e outro não. Não é uma coisa que você precisa decidir para 12 anos. É um dia de cada vez e o que funciona melhor para a pessoa. Dentro de cada família vai ser diferente para cada criança. Cada criança tem necessidades diferentes.

E como avaliar o aprendizado?

Eu realmente não acho que deve ser avaliado. Tem um fato bem interessante no filme, na cozinha da Naomi [entrevistada no documentário], quando se fala “mas como você sabe que está expondo o suficiente?”. Você vê se a criança está bem. Uma criança que não estaria aprendendo, não estaria bem. Você, como pai, convive com ela e vê se está se desenvolvendo e se está entusiasmada quando acorda de manhã… se está indo à luta. Se [a criança] está, quer dizer que ela está aprendendo o que quer aprender e o que deve aprender. Se você vê que a criança está apagada, aí tem um problema. Se eu tivesse que resumir, unschooling é confiar e escutar uns aos outros. Você conversaria e acharia uma solução. Você veria qual necessidade fundamental da criança não está sendo satisfeita. Você acharia outras maneiras. Mas agora avaliar, não. Quem decide o que vai ser uma matéria?

Eu acho que não só não é necessário, como também não é saudável. Aí que começa perder a autoconfiança. Começa a se comparar com os outros. É uma condicionalidade de dizer que você não é suficiente. Eu adoro uma frase do Einstein que aparece no filme: “Todo mundo é um gênio. Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele vai passa a vida toda acreditando que é estúpido.”

Entrevista originalmente publicada no site Porvir, que promove a produção, difusão e troca de conteúdos sobre inovações educacionais. Via Opera Mundi.

A genialidade de Carl Sagan, no livro “O mundo assombrado por demônios”

A genialidade de Carl Sagan, no livro “O mundo assombrado por demônios”

Abaixo, segue uma mostra da genialidade de Sagan, restando esta muito bem demonstrada no livro O mundo assombrado por demônios. Vale a leitura e a meditação.

“Ele tinha um apetite natural pelas maravilhas do universo. Queria conhecer a ciência. O problema é que toda a ciência se perdera pelos filtros antes de chegar até ele. Os nossos temas culturais, o nosso sistema educacional, os nossos meios de comunicação haviam traído esse homem. O que a sociedade permitia que escoasse pelos seus canais era principalmente simulacro e confusão. Nunca lhe ensinara como distinguir a ciência verdadeira da imitação barata.”

“Os relatos espúrios que enganam os ingênuos são acessíveis. As abordagens céticas são muito mais difíceis de encontrar. O ceticismo não vende bem.”

“Ele simplesmente aceitou o que as fontes de informação mais difundidas e acessíveis diziam ser verdade. Por ingenuidade, foi sistematicamente enganado e ludibriado.”

“O físico britânico Michael Faraday alertou contra a tentação poderosa de procurar as evidências e aparências que estão a favor de nossos desejos, e desconsiderar as que lhes fazem oposição […]. Acolhemos com boa vontade o que concorda com nossas ideias, assim como resistimos com desgosto ao que se opõe a nós, enquanto todo preceito de bom senso exige exatamente o oposto.”

“Como um terremoto que confunde a nossa confiança no próprio solo que estamos pisando, pode ser profundamente perturbador desafiar as nossas crenças habituais, fazer estremecer as doutrinas em que aprendemos a confiar.”

“Essa é uma das razões pelas quais as religiões organizadas não me inspiram confiança. Que líderes dos principais credos reconhecem que suas crenças talvez sejam incompletas ou errôneas, e criam institutos para revelar possíveis deficiências doutrinárias?”

“Um extraterrestre, recém-chegado à Terra – examinando o que em geral apresentamos às nossas crianças na televisão, no rádio, no cinema, nos jornais, nas revistas, nas histórias em quadrinhos e em muitos livros –, poderia facilmente concluir que fazemos questão de lhes ensinar assassinatos, estupros, crueldades, superstições, credulidade e consumismo. Continuamos a seguir esse padrão e, pelas constantes repetições, muitas das crianças acabam aprendendo essas coisas. Que tipo de sociedade não poderíamos crias se, em vez disso, lhes incutíssemos a ciência e um sentimento de esperança?”

“A sedução do maravilhoso embota nossas faculdades críticas.”

“Quanto mais desejamos que seja verdade, mais cuidadosos temos que ser.”

“Aqueles que têm alguma coisa para vender, aqueles que desejam influencia a opinião pública, aqueles que estão no poder, diria um cético, têm um interesse pessoal em desencorajar o ceticismo.”

“Só confie numa testemunha quando ela fala de questões em que não se acham envolvidos nem o seu interesse próprio, nem as suas paixões, nem os seus preconceitos, nem o amor pelo maravilhoso.”

“É impressionante como as emoções podem se acirrar sobre uma questão a respeito da qual conhecemos de fato muito pouco.”

“O medo de coisas invisíveis é a semente natural daquilo que todo mundo, em seu íntimo, chama de religião. Thomas Hobbes, Leviatã.”

“Em nossa vida diária, incorporamos sem esforço e inconscientemente normas culturais que transformamos em coisas nossas.”

“Um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas, por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento. – Francis Bacon, Novum Organon (1620)”

“Uma das lições mais tristes da história é a seguinte: se formos enganados por muito tempo, a nossa tendência é evitar qualquer evidência do logro. Já não nos interessamos em descobrir a verdade. O engano nos aprisionou. É simplesmente doloroso demais admitir, mesmo para nós mesmos, que fomos enganados.”

“Quando aparece alguém que desafia o nosso sistema de crenças, declarando que sua base não é suficientemente boa – (…) – tal fato se torna muito mais do que uma busca pelo conhecimento. Nós o sentimos como um ataque pessoal.”

“Ninguém pode ser inteiramente aberto a novas idéias ou completamente cético. Todos temos que traçar o limite em algum lugar.”

“Conheço muitos adultos que ficam desconcertados quando as crianças pequenas fazem perguntas científicas. Por que a Lua é redonda? (…) ‘Como é que você queria que a Lua fosse, quadrada?’ As crianças logo reconhecem que esse tipo de pergunta incomoda os adultos. Novas experiências semelhantes, e mais uma criança perde o interesse pela ciência. Porque os adultos têm de fingir onisciência diante de crianças de seis anos é algo que nunca vou compreender. O que há de errado em admitir que não sabemos alguma coisa? A nossa auto-estima é assim tão frágil?”

“O que elas querem que seja verdade, elas acreditam que é verdade.”

“Somos viciados em significados.”

“Os estereótipos são numerosos. (…) A interpretação mais generosa atribui esse modo de pensar a uma espécie de preguiça intelectual: em vez de julgar as pessoas pelos seus méritos e deficiências individuais, nós nos concentramos em uma ou duas informações a seu respeito, que depois inserimos num pequeno número de escaninhos previamente construídos. Isso poupa o trabalho de pensar, embora em muitos casos custe o preço de cometer uma profunda injustiça. Com isso, aquele que pensa por estereótipos também fica protegido do contato com a enorme variedade de pessoas, a multiplicidade de maneiras do ser humano.”

Fonte indicada: Fragmentos

Encontre o livro O mundo assombrado por demônios

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