O coração é um velho colecionador

O coração é um velho colecionador

Ela reconhecia quando era hora de fazer a tão adiada faxina no coração.
Era quando a necessidade de fluir se tornava mais forte do que os apegos.
Era quando um cheiro estranho começava a ser notado.
E aquele som que antes era melodia, agora já não soava bem.
Ou quando o conforto dos entulhos causava uma falta de ar.
E quando vinha aquela sensação de aperto – tudo tão cheio e inútil.
Tudo tão presente e distante.
‘Às vezes a gente está tão cheio que está vazio.’
Ela sabia
‘Às vezes a gente está tão vazio que está cheio.’
Ela queria

As faxinas no coração eram sempre tão adiadas, porque o coração é um velho colecionador.
Cheio de compaixão, tem dó de jogar fora uma moeda antiga – quem sabe volte a ter valor! Sofre ao se desfazer daquele pássaro empalhado, mesmo sabendo que hoje em dia ele só voa na imaginação.
O coração empoeirado e entulhado antes de ser faxinado sofre por dois lados- 1. por saber que ficará novo e limpo, ele tem medo do vazio. 2. por saber que vai perder o que um dia o encheu de vida.

Quem faz a faxina no coração é a cabeça. Organizada, trabalhadeira, caprichosa. Sem dó passa o pente fino em todas as artérias. Ela quer deixar no coração o que ainda faz sentido, e só. Prática essa cabeça. Ela sabe que em duas semanas o coração estará novinho em folha, pronto pra outra.

O coração aceita a situação, afinal precisa respirar de novo. Ele quer, agora, ficar mais amigo da cabeça, quer fazer faxinas em curtos prazos.

Mas será que vai ser sempre a mesma sina? Assim que ele ver a vastidão de seus átrios e ventrículos – espaçosos, frescos – voltará ao velho vício de colecionar belezas?

‘Sim’, responde a cabeça, ‘assim como qualquer coração funcionando em seu perfeito estado’.

O coração não quer funcionar em perfeito estado de coração, ele quer ser cérebro. Se ele for cérebro, ele não precisa se encantar, sentir, sofrer, viver e morrer.

Diz a sensata cabeça ‘todo coração que se quer cérebro é covarde e tolo. Como seres que têm asas e ficam rastejando. Por medo, não alcançam as mais altas expressões da vida.’

‘Você, meu caro amigo, é um coração em bom estado de coração, só precisa aprender a aceitar as mortes.’

O coração sabe aceitar, ele só está cansado de acompanhar os ciclos da vida.

Mas o coração velhinho agora decidiu que vai ter um design moderno, tudo clean – agora aqui só entra quem tomar cuidado.

‘Você me avisa cabeça, me abre os olhos?’

E a cabeça respira e diz
‘Se eu tivesse o poder de conhecer os intransponíveis universos dos outros corações, meu amigo, eu te diria.’

‘Mas não sou eu que te protejo ou desprotejo, é a vida.’

Dica de livro: O poder do agora- Eckhart Tolle

Dica de livro: O poder do agora- Eckhart Tolle

Nós passamos a maior parte de nossas vidas pensando no passado e fazendo planos para o futuro. Ignoramos ou negamos o presente e adiamos nossas conquistas para algum dia distante, quando conseguiremos tudo o que desejamos e seremos, finalmente, felizes. Mas, se queremos realmente mudar nossas vidas, precisamos começar neste momento. Essa é mensagem simples, mas transformadora de Eckhart Tolle: viver no Agora é o melhor caminho para a felicidade e a iluminação. Combinando conceitos do cristianismo, do budismo, do hinduísmo, do taoísmo e de outras tradições espirituais, Tolle elaborou um guia de grande eficiência para a descoberta do nosso potencial interior. Este livro é um manual prático que nos ensina a tomar consciência dos pensamentos e emoções que nos impedem de vivenciar plenamente a alegria e a paz que estão dentro de nós mesmos.

Informações Técnicas

Autor(a) Eckhart Tolle
Título O Poder do Agora
Autor Eckhart Tolle
Editora Sextante
ISBN 8575420275
Páginas 224
Edição 1
Tipo de capa Brochura
Ano 2002
Assunto Crenças-Auto-Ajuda
Idioma Português

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Encontre o livro O poder do agora no Submarino 

Nada acontece por acaso? – Flávio Gikovate

Nada acontece por acaso? – Flávio Gikovate
(Sao Paulo,SP. .03.2008. h. Foto Eduardo Knapp/Folha Imagem) Digital SP01829 2008 Caderno Equilibrio. Foto do psicoterapeuta Flavio Gikovate, no quintal de seu consultorio na Rua Estados Unidos. Gikovate esta lancando livro sobre o tema AMOR

As pessoas se sentem mais seguras quando identificam nos acontecimentos um processo de causa, efeito e finalidade, já que um mundo de incertezas pode ser bastante incômodo.

Segundo o psicanalista, Carl Gustav Jung, há coincidências que são fruto do mero acaso e outras que são chamadas de significativas, ou seja, são altamente improváveis de acontecerem.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução deste material.

Mais livros de Flávio Gikovate

Leandro Karnal – Ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente

Leandro Karnal – Ser louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente

As 4 histórias descritas no filme argentino “Relatos Selvagens” do diretor argentino Damián Szifron são, o mínimo, perturbadoras.

É a partir delas que o historiador Leandro karnal traça uma análise da sociedade contemporânea.

História, filosofia, psicanálise e muito bom humor caminham juntos nessa fala de 14 minutos.

Confiram e não deixem de ver o filme.

A generosidade com os erros alheios

A generosidade com os erros alheios

Ideia de jerico. É uma expressão popular usada para rotular uma ideia, geralmente de autoria de outra pessoa, na qual obviamente não se bota muita fé. Em 1943, o presidente da IBM achou que lançar um computador comercialmente era uma ideia digna desse selo, quando disse a frase que ficou famosa: “Penso que no mundo há talvez mercado para cinco computadores”. Claro que tem que se levar em conta o contexto da época, quando um computador era um trambolho que ocupava uma sala inteira. Mas ainda assim, acho que dava pra ele ter sido mais otimista. Bill Gates foi por um caminho parecido, quando declarou que “640 kb de memória é mais do que suficiente para qualquer um”. Mas era o começo dos anos 80 e de lá para cá as coisas mudaram muito, para sorte do próprio Gates, já que se ele estivesse certo, provavelmente não teria a fortuna que tem hoje.

Outro bem habilitado a liderar o campeonato de bolas fora, foi o Diretor do Departamento de Patentes dos Estados Unidos, que em 1899 achava que o seu próprio departamento deveria ser extinto, já que “tudo que podia ser inventado, já foi”.

Por falar em campeonato, existe um prêmio especialmente dedicado para aqueles que, ao retirarem seus próprios genes do mercado, contribuem para a evolução da humanidade. Como não poderia deixar de ser, é o Prêmio Darwin (Darwin Awards), que homenageia aquelas pessoas que morreram vítimas de suas próprias ideias, provando que não tinham a inteligência como uma característica genética particularmente forte. Para dar uma ideia, um dos vencedores resolveu fazer um bungee jumping caseiro, comprando as cordas e fazendo todos os cálculos que achou necessários. Ele só esqueceu de levar em conta que as cordas se esticavam e o resultado já dá pra imaginar.

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Também tem o ladrão que resolveu colocar fogo em uma van que havia roubado, mas fez isso enquanto ainda estava dentro dela. A porta travou e ele não conseguiu sair a tempo.
Ou a dona de casa que resolveu subir no telhado para arrumar a antena da televisão, enquanto um ciclone se aproximava e o vento na região batia nos 170 km/h. São muitos vencedores e todas as histórias são reais, o que prova mais uma vez que a realidade sempre supera a ficção.

Num primeiro momento, a ideia do prêmio parece um pouco cruel, se a gente levar em conta que se está celebrando a morte real de pessoas igualmente reais. Mas, se a gente pensar bem, ele tem o objetivo de nos levar a rir da humanidade em geral e de nós mesmos em particular, afinal, todo mundo já teve algum momento na vida em que esteve perto de virar um sério candidato ao prêmio, não teve? Não? Só eu? Sério? Nenhuma vez? Sabe aquelas, em que a ideia pareceu boa na hora e depois você descobriu o tamanho da encrenca, se salvando por pura sorte? Não? Acontece com todo mundo, vai. Não mesmo? Nenhuma vez, mesmo sem grandes consequências? Ok, se você tá dizendo…

Mas ter esses momentos não deveria ser vergonha nenhuma, até cientistas sérios acabam realizando pesquisas risíveis, o que motivou a criação de outro prêmio, o Ig Nobel, uma paródia do Nobel que a cada ano elege dez categorias que abrangem pesquisas ou criações reais, publicadas em jornais e revistas de renome científico. São trabalhos que, segundo o slogan do prêmio, “primeiro fazem rir e, depois, pensar”. A premiação de 2014 teve grandes momentos, como na categoria de Neurociência, em que os vencedores conduziram uma pesquisa que analisava o cérebro de pessoas que viam o rosto de Jesus em torradas. Ou na de Física, em que se mediu a fricção entre um sapato e uma casca de banana, depois entre a casca de banana e o chão, tudo isso no momento em que uma pessoa pisa na casca de banana. Ou a minha preferida, a categoria Ciência no Ártico (eles adaptam as categorias de acordo com os premiados), onde a pesquisa conduzida pelos cientistas Eigil Reimers e Sindre Eftestøl investigou a forma como as renas reagem a humanos disfarçados de ursos polares. Como manda o prêmio, ri primeiro, depois pensei, e aí ri mais ainda.

Assim como acontece no Darwin, é tudo verdade, mas ao contrário do que acontece lá (por contioutra.com - A generosidade com os erros alheiosmotivos óbvios), muitos dos ganhadores do Ig Nobel comparecem à cerimônia de entrega do prêmio, provando que bom humor é tudo e que, até mesmo na Ciência, não é preciso se levar tão à sério. No site, dá para ver a premiação do ano passado, assim como a lista de todos os ganhadores dos últimos 24 anos.

Todo mundo pode errar uma previsão, dar uma bola fora ou investir grande parte da vida conduzindo uma pesquisa que prova que os cachorros preferem se alinhar ao eixo Norte-Sul do campo geomagnético da Terra ao urinar e defecar. Ok, a última só vale para os pesquisadores que venceram a categoria de Biologia no Ig Nobel de 2014, mas ninguém está livre de fazer uma opção errada na vida.
Talvez vá doer menos reconhecer a mancada e conseguir rir dela. Outro efeito colateral desse riso, pode ser passar a olhar com mais generosidade os erros alheios. Afinal, aposto que nunca passou pela cabeça de todos que já ganharam um Darwin que eles seriam merecedores dessa honraria. E lá estão eles, desfrutando dessa glória eterna enquanto o Prêmio (e o site) existirem. Salve Darwin e o bom humor!

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“O desafio do analista é permanecer humanista”

“O desafio do analista é permanecer humanista”

Quando o antigo já não existe mais e o novo ainda não se estruturou é que se criam os monstros, segundo Leopold Nosek, da Federação Psicanalítica da América Latina.

A seguir, os melhores momentos da entrevista.

O mundo atual é muito fragmentado, a análise ajuda a dar unidade para pensamentos e sentimentos?

O paciente continua um ser humano. Só precisa ser lembrado disso. É um trabalho de recuperação. Não vivemos de construções velhas, portanto é impossível um analista estar ouvindo a mesma coisa. Nossos sentimentos pedem sempre novos versos.

Dê um exemplo.

As canções de ninar. São todas iguais. Falam de monstros, não de sossego. Porque a criança tem o medo e o horror dentro dela. E quando encontra uma representação, se sente entendida. Quando se adquirem palavras para o conflito e para a dor, aquilo se circunscreve. Deixa de ser infinito e adquire um tamanho. A partir daí, monta-se a equação e pode-se lidar com isso. Uma boa análise não resolve as equações, mas ajuda a montá-las. E, às vezes, isso é o mais difícil. “A cuca vem já já, papai foi pra roça, mamãe foi trabalhar”. É uma equação de desamparo.

O ser humano continuou igual, enquanto o mundo sofreu um avanço tecnológico imenso?

Em qualquer idade nos encontramos em transição. Sempre foi assim. Mas, agora, a velocidade é assombrosa. Outro dia, um adolescente me falou uma coisa interessante: que John Lennon nunca tinha visto um computador.

Quando um paciente tem alta, quem define isso: ele ou o analista?

Não creio em alta. A alta não faz parte da minha ideia analítica. A cura é uma ideia médica e se baseia em sintomas. O que existe são momentos de desenvolvimento que promovem emancipação. Tem muita gente que quer se aprofundar em si mesmo. Por outro lado, para quem faz análise, esse tipo de exercício reflexivo é vital. Não há como evitar.

Existe quem consiga fazer essa reflexão sozinho?

De fato não criamos nada em isolamento. Prefiro dizer que há pessoas que fecham a porta para esse tipo de prática. Muitas possuem uma dificuldade de olhar para sua interioridade. São pessoas que estão sempre em ação, impedindo o contato com o mundo onírico. Outros têm uma cegueira para o que é conflitivo, contraditório e escuro. O que sabemos sobre a análise é que aquele que a faz fica um pouquinho melhor na comparação com ele mesmo. E esse pouco melhor é inestimável. A família e as pessoas ao lado notam. Claro que, como tudo, análise depende de sorte. De achar a companhia certa para tanto. Nelson Rodrigues dizia que sem sorte você não chupa nem picolé porque vai cair no seu sapato.

A rapidez e a competição da atualidade contribui para o aumento da angústia?

Vivemos transformações importantes. Acostumamo-nos a lidar com um aparelho eletrônico e já temos que lidar com um novo. Existe hoje um paradoxo. Vamos viver mais de oitenta anos, mas ficaremos obsoletos profissionalmente, muitas vezes, com 40, 50 anos. Isso gera uma grande insegurança. Há uma enorme concentração de recursos materiais e de expediente para o trabalho para se produzir. Isto influencia nosso modo de viver. Por exemplo, os bancos vão se preocupar com suas ações e não com as hipotecas e o destino dos mutuários. Será que as grandes corporações farmacêuticas são diferentes?

E qual a consequência disso?

Falta tempo para o ser humano olhar para a própria humanidade. Não conseguimos construir um acervo onírico, uma personalidade. Sonhar e adquirir um repertório cultural, poético, requer tempo. É isso que necessitamos para dar conta da vida. É um desafio dos analistas de hoje, muito diferente da época do Freud. O sofrimento atual é de outra ordem. A do vazio. O indivíduo sofre, mas não articula um discurso. Quem tem pânico, por exemplo, sequer sabe diferenciar se o sofrimento é psíquico ou corporal. E crescem doenças como a anorexia, obesidade e a bulimia, que há 40 anos eram uma raridade.

O que é anorexia?

Ausência de desejo. Não se sente fome, não há vida sexual. Porque o desejo é visto pelo anoréxico como um perigo de destruição interna. Ele não tem acervo para dar conta. Isso é o desafio para o analista. Como trata-se de um discurso que não se organiza, é impossível realizar o que os analistas faziam antigamente – presente no imaginário popular –, de atribuir significados inconscientes ao que o paciente fala. É necessário a criação de novas narrativas, novos sonhos.

E como o analista reage em uma situação como essa?

Colocar o analista em questão. Estamos diante de um mundo novo. Que implica em novo corpo, sexualidade, ética e moralidade. Além de um sistema jurídico que terá que se adaptar a tudo isso. Em um mundo onde as coisas estão cada vez mais técnicas, o desafio para o analista é permanecer um humanista.

Com o avanço das drogas psiquiátricas, o paciente é o que ele toma?

Claro que não. Comemoramos as novas medicações, são um progresso. Entretanto, há um exagero. As pessoas não podem mais ficar tristes. Crises e os lutos são grandes oportunidades de transformação, de inventividade, desenvolvimento. Se você não tem tempo do luto, as pessoas tornam-se descartáveis. Como viver sem perdas? O importante é dar um destino criativo para elas.

Onde entra a análise?

As pesquisas mostram que uma terapia, de ordem verbal, aliada a medicação, funciona melhor do que só o remédio. Isso é consenso em psiquiatria também. No entanto, existe uma predileção por sucesso rápido. Costuma-se dizer que a psicanálise é demorada. O que ocorre é que entramos em um processo de desenvolvimento. Se a análise for boa você sente os benefícios desde o primeiro encontro.

Como se manter são ?

Eu nem pretendo isso. Não me apresento assim. Não tenho cara de são e não faço a menor questão de ser. E não sei mais do que a pessoa que está lá comigo. Só tenho um ouvido disciplinado para aquilo. Para ser analista, tem que ter problemas suficientes para não conseguir ficar quieto.

Como o senhor vê o crescimento dos fundamentalistas no mundo?

Quando eu comecei, a angústia dos pais era que os filhos estavam virando revolucionários. Hoje, se preocupam porque os filhos estão virando fanáticos. Com o a falta de tempo para construir um acervo que dê conta da sua humanidade, o indivíduo apela para as receitas prontas.

Em qualquer época?

Em tempos de transformação. Quando o velho não existe mais e o novo ainda não se estruturou, criam-se os monstros, dizia Antonio Gramsci. São momentos em que ainda não há um novo sonho, uma referência poética. Em épocas como essa, em que não existe tempo de esperar até que se organize um novo sonho, uma nova referência poética e cultural, é que as pessoas se socorrem de coisas estabelecidas.

Outra discussão é sobre a esfera do público e do privado. Mudou com a internet?

Sim. O Facebook e similares, por exemplo. As pessoas acreditam que estão expondo a intimidade ali. Mas, na verdade, não. Mudou o critério de intimidade. O que é íntimo, de verdade, as pessoas não mostram.

Por quê?

Porque quando é íntimo é conflituoso. O sexo pode ser íntimo para uma pessoa e não para outra. E parte da graça do sexo é que é tremendamente conflituoso e angustiante. Senão, seria como comer bife. O medo da perda, da invasão, do excesso, estão sempre aí. O número de fantasias, medos e expectativas que acompanham a sexualidade é enorme, e aí é que está a graça.

O que é a felicidade?

Essa felicidade da qual se fala é uma bobagem (risos). Uma coisa é viver criativamente, viver bem. Viver feliz é um sonho infantil. A ideia de não ter conflitos, problemas, é uma negação da realidade. Isso não é viver feliz, é ter uma anestesia para uma parte da vida. Uma pessoa que acredita nisso não vive as crises dos filhos, as questões amorosas, os lutos. Pensa em soluções. Chamo essas pessoas de “solucionáticas”.

Para resumir, qual o maior desafio para o analista hoje?

Cada vez mais o tratamento é bipessoal. Na sala de análise tudo pode acontecer virtualmente. O analista tem que ser corajoso e participativo. Ter audácia. Tem que ter o conhecimento. Esta é a sua ética. Estamos todos em questão, o paciente, o analista e a análise. Cabe a brincadeira “vamos olhar seus problemas de frente: pode se deitar”. /MARILIA NEUSTEIN E SR

Fonte indicada: Blogs Sonia Racy

Leia mais sobre o autor e  seus pensamentos no livro: Albúm de Família – Imagens Fontes e Ideias da Psicanálise em São Paulo

Perseverança

Perseverança

Jogo a minha rede no mar da vida e às vezes, quando a recolho, descubro que ela retorna vazia.

Não há como não me entristecer e não há como desistir. Deixo a lágrima correr, vinda das ondas que me renovam, por dentro, em silêncio: dor que não verte, envenena. O coração marejado, arrumo, como posso, os meus sentimentos.

Passo a limpo os meus sonhos. Ajeito, da melhor forma que sei, a força que me move. Guardo a minha rede e deixo o dia dormir.

Com toda a tristeza pelas redes que voltam vazias, sou corajosa o bastante para não me acostumar com essa ideia. Se gente não fosse feita pra ser feliz, Deus não teria caprichado tanto nos detalhes. Perseverança não é somente acreditar na própria rede. Perseverança é não deixar de crer na capacidade de renovação das águas.

Hoje, o dia pode não ter sido bom, mas amanhã será outro mar. E eu estarei lá na beira da praia de novo…

Texto de Ana Jácomo

Estamos no comando das nossas atitudes

Estamos no comando das nossas atitudes

Quanto mais tempo eu vivo, mas eu me dou conta do impacto da atitude na vida.

Atitude, para mim, é mais importante que fatos. Ela é mais importante do que o passado, do que a educação, do que o dinheiro, do que as circunstâncias, do que o fracasso, do que os outros pensam, dizem ou fazem. É mais importante do que a aparência, dom ou habilidade. Ela fará prosperar ou ruir uma empresa… uma igreja… uma casa.

O extraordinário é que todos os dias temos a chance de escolher como vamos encarar aquele dia. Nós não podemos mudar nosso passado… não podemos mudar o fato de que as pessoas agirão de determinada maneira.

Nós não podemos mudar o inevitável. A única coisa que podemos fazer é continuar no único caminho que temos; esta é nossa atitude. Estou convencido que a vida é 10% o que acontece comigo e 90% como eu reajo a isso.

E assim é com você… estamos no comando das nossas atitudes.

Texto de Charles Swindoll

A lenda e a origem do filtro dos sonhos

A lenda e a origem do filtro dos sonhos

Filtro dos sonhos é um amuleto típico da cultura indígena norte-americana que, supostamente, teria o poder de purificar as energias, separando os “sonhos negativos” dos “sonhos positivos”, além de trazer sabedoria e sorte para quem o possui.

Também chamado de “Caçador de sonhos”, “Espanta pesadelos” ou “Catasonhos”, o dreamcatcher – nome original em inglês do filtro dos sonhos – é considerado um símbolo dos costumes e da cultura indígena norte-americana.

No entanto, os primeiros filtros dos sonhos surgiram na tribo dos Ojibwa, que habitavam a região dos grandes lagos da América do Norte. Os membros desta tribo acreditavam que uma das principais missões das pessoas durante a vida era a de decifrar os sonhos, pois acreditavam que traziam importantes mensagens sobre o funcionamento da natureza, do universo e da vida.

Os Ojibwa acreditavam que durante a noite o ar se enchia de sonhos e energias, boas e más, sendo o filtro dos sonhos, como o próprio nome sugere, uma proteção contra as energias e sonhos negativos.

O filtro dos sonhos consiste em um círculo, tradicionalmente feito com fibras de um salgueiro-chorão e revestido com tiras de couro, ao qual são amarrados vários fios, formando uma espécie de teia de aranha com uma abertura circular no centro. Uma pena de ave (preferencialmente de coruja, por significar “sabedoria”) é colocada debaixo da teia, assim como outras penas e adereços. A pena simboliza a respiração e o ar, elemento essencial para a vida.

Os sonhos bons (aqueles que possuem mensagens importantes) teriam a capacidade de passar pelo circulo formado no centro da teia, enquanto que todas as energias malignas ficariam presas nos fios da teia.

A tradição ainda sugere que o filtro dos sonhos seja colocado em um lugar que receba luz solar, pois todos os sonhos negativos que supostamente estariam presos nos fios da teia, ao receberem os raios do sol desapareceriam.

Devido ao simbolismo que este amuleto contém, atualmente muitas pessoas costumam fazer tatuagens com imagens do filtro dos sonhos, como uma forma de conseguir proteção.

Lenda do Filtro dos Sonhos
Existem várias lendas que envolvem a criação do filtro dos sonhos, porém, uma das mais conhecidas fala de um velho xamã que teria subido no cume de uma montanha para encontrar sabedoria.

Chegando ao topo, encontrou IKTOMI, um espírito mágico com a forma de uma aranha, que teria tecido uma teia com pelos de cavalo em volta de um aro feito de cipó, ao mesmo tempo que ensinava ao xamã importantes conhecimentos sobre o nascimento, a morte e as energias boas e más que existem espalhadas pelo ar.

De acordo com a lenda, a aranha teria dito ao xamã: “Se você trabalhar com forças boas, será guiado na direção certa e entrará em harmonia com a natureza. Do contrário, irá para direção que causará dor e infortúnios”.

IKTOMI ensinou o índio a usar as boas energias e sonhos recebidos através deste amuleto para ajudar o seu povo a conquistar os seus objetivos, ouvindo e prestando atenção nas visões, sonhos e ideias que transmitiam.

Para o xamanismo, o filtro dos sonhos serve como uma mandala para inspirar a criatividade, imaginação e ajudar a transformar todos os sonhos e objetivos em realidade.

Fonte: Significados.com

“Convivência”, um vídeo que mostra as consequências da discriminação

“Convivência”, um vídeo que mostra as consequências da discriminação

Este vídeo nos mostra, de forma cômica, um grupo de pássaros que, desarmonizados entre si, encontram um rival contra quem se unem por um único motivo. O outro é diferente.

Vale uma boa reflexão.

Poemas inesquecíveis de Ferreira Gullar

Poemas inesquecíveis de Ferreira Gullar

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

 

Subversiva

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

Dica de livro: Solidão. A Conexão com o Eu

Dica de livro: Solidão. A Conexão com o Eu

Estar sozinho não é estar solitário. A relação entre casamento e felicidade. A criatividade como fonte de prazer e satisfação. Os gênios e a solidão.

Sinopse

Solidão: a conexão com o eu busca mostrar que a ideia de que a felicidade só é encontrada no casamento é um mito relativamente recente na História da humanidade.

Analisa o perfil psicanalítico de personagens históricos que tiveram uma vida feliz sem jamais terem se casado e afirma que a felicidade é um bem individual que pode ser encontrada em diversas atividades humanas, como o trabalho, a arte ou o lazer.

Coloca também a sobrecarga da expectativa no relacionamento como um mal para todos os relacionamentos e afirma a capacidade do indivíduo de manter-se sozinho como um fortalecimento psicológico importante até mesmo para prepará-lo para viver com alguém.

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Ficha técnica

  • Origem:  NACIONAL
  • Editora:  BENVIRA
  • Idioma:  PORTUGUÊS
  • Edição:  1
  • Ano de Edição: 2009
  • Ano:  2015
  • País de Produção: BRASIL
  • ISBN:  9788502131453

Encontre:

Saraiva

Cultura

‘Eu Maior’: uma reflexão sobre a vida do ponto de vista de especialistas

‘Eu Maior’: uma reflexão sobre a vida do ponto de vista de especialistas

Fiquei sabendo do documentário “Eu Maior”, que reflete questões como autoconhecimento, sentido da vida e felicidade, depois que alguns amigos, gentilmente, lembraram de mim e me mandaram links sobre o filme.

Assisti e gostei. Mas o filme não é exatamente como eu imaginava.

Vale muito a pena assistir artistas, filósofos, cientistas, líderes políticos, espirituais e comunitários refletindo sobre a vida. Mas senti que faltou colocar a vida “comum”, do dia a dia, para falar (veja o filme ao final do texto).

Achei que faltou colocar mais “gente como a gente”, o povão, pessoas pobres mesmo (financeiramente falando), visões de mundos conflitantes etc.

Sempre que perco meia horinha falando com gente humilde, que trabalha demais e nem sempre conseguiu chegar aonde queria, saio com a impressão que aprendi “horrores” sobre a vida. A impressão que tive é que o documentário só traz gente “de sucesso”…

Não é que eu não acho importante ouvir o que os especialistas têm a dizer, muito pelo contrário. Só achei que faltou dar uma equilibrada mesmo.

Obviamente, contudo, gostei bastante dos depoimentos do “Eu Maior” e aproveitei para destacar algumas frases que falavam exclusivamente sobre o sentido da vida:

Rubem Alves – Escritor

“Uma vez um aluno me pediu uma entrevista, chegou na minha casa e me fez essa pergunta: ‘como é que o senhor se preparou, como é que o senhor planejou a sua vida para chegar aonde chegou?’ Eu percebi logo que ele me admirava, que queria o mapa do caminho e eu disse a ele, ‘eu cheguei aonde cheguei porque tudo o que planejei deu errado. Então eu sou escritor por acidente. Já fui outras coisas, já fui professor de filosofia, já fui teólogo, já fui pastor. Agora eu sou um velho.”

Flávio Gikovate, psiquiatra

“Eu vi uma frase de um autor francês entrevistado por algum veículo da imprensa que dizia assim, a vida não tem sentido nenhum, mas não é proibido dar-lhe algum. Então esse acho que é um pensamento ao mesmo tempo libertário e ao mesmo tempo que dá seriedade à ideia da vida. Quer dizer, a vida é um projeto individual, e nisso talvez eu seja mais anarquista do que vinculado a qualquer outra doutrina, enfim, é um projeto individual em que você tenta construir uma história para você. Uma história que na minha cabeça é norteada por valores da ordem moral, eu sou muito zeloso desse aspecto da condição humana. E ter também alguma ideia de crescimento pessoal. Então quer dizer, o sentido da vida é a gente sair 80 anos depois da chegada um pouquinho melhor do que entrou.”

Paulo de Tarso Lima, médico

“Acho que o sentido da vida é a expressão da sua integralidade. Quem sou eu, onde está a minha expressão aqui? E tentar viver isso, seja lá do tamanho que for. Acho que é essa reflexão de chegar num momento que o ser é mais importante que o fazer apenas, o fazer te ajuda a sustentar o ser, mas ser é base do processo. Então acho que isso á uma busca de autoconhecimento.

“Tem um ditado que está comigo já faz muito tempo que é, ‘tudo um dia será nada, e esse nada será o tudo que tanto procuramos encontrar’. Eu não sei da onde veio isso, mas isso está na minha vida há muitas décadas. Eu estou tentando entender até hoje esse ditado.”

Richard Simonetti, autor espírita

“A gente aprende que estamos aqui na terra com uma finalidade específica, que envolveria a nossa evolução. Se alguém me perguntar o que você está fazendo na terra, a gente aprende que estamos aqui para evoluir, superando as nossas limitações, as nossas dificuldades e problemas de relacionamento. Enfim, crescer espiritual, moral e intelectualmente. Então eu diria que a finalidade da vida, o objetivo da vida, o sentido da vida para mim seria isso, o empenho de evoluir sempre.”

Bárbara Abramo, astróloga

“O sentido da vida varia de acordo com a época a vida, o sentido da vida para mim já foi lutar por uma causa, depois foi amar um homem, depois cuidar das filhas, às vezes tudo isso junto, com algo em primeira instância, mas hoje em dia o sentido da vida é… A vida já tem um sentido, é diferente para mim hoje, hoje o viver é o sentido.”

A liquidez de quem escreve

A liquidez de quem escreve

Eles aparecem e ganham vida de forma natural e comum. Já estão todos aqui. Vêm de uma só vez, mas ainda não se apresentaram. Acontecem, são como gente de verdade, muito reais. Jogados ao mundo como personagens, para que as pessoas os experimentem. Todos. Preciso expô-los, reinventá-los, atirá-los para fora de mim, dar-lhes vida nos cenários da imaginação.

Papel e caneta na mão. Ou notebook para quem já se acostumou com a musiquinha legal do toc-toc/ toc-toc-toc/ toc/ ritmados, seguros e velozes como o pensamento. Eles logo vêm. Eles que são meus personagens.

É estranho montar, construir elencos diversos em que eles ficam tão desorganizados como uma família-problema, passam por momentos complexos e vão se encaixando nas situações da vida. Não há fórmulas ou artifícios para se organizar todos eles dentro de um universo ainda imaginário, porque eles são ambíguos em suas essências, viajantes na pretensão ousada da vida.

E eles, quando nos pegam, quase sempre desprevenidos dentro da gente, é melhor corrermos para buscar o entendimento de como se organizam com tamanho tato dentro de outro ser. Eles podem nos escapar e nunca mais voltarem. Mas precisamos deles para descobrir nossas verdades encobertas.

Esses nossos segundos elementos que possuem suas próprias companhias à disposição – e é sempre difícil conviver com nós mesmos dentro da gente -, como eles sabem fazer tudo isso, criar algo com tanta sede de vida? Não sabemos. É um truque inato. Estamos caminhando junto com eles. É o ato de nos vermos como realmente somos.

Está agora tudo anotado, como num caderninho antigo que temos o maior prazer ao abrir depois de um certo tempo de mudanças em nossas vidas, a casa nova, o novo amor, a nova vida reinventada. É isso: enredos, personagens soltos, ambientações, traços físicos e psicológicos, longas caminhadas dentro de cada ser-personagem, tudo intercalado com nossos momentos de criação e vivência de todos os nossos atos. Temos o hábito de gritar ou nos calarmos por completo diante das grandes descobertas.

E para quem me deu a ideia – da criação de um banco de dados intempestivo, cruel, fascinante e devastadoramente humano de personagens –já está aqui e agora como a minha maior invenção de todos eles; ele será o homem em busca do seu tempo, sempre andando com uma câmera na mão, captando o fragmento do seu momento nem sempre visível.

Para ele, alguma coisa, algo estranho como sombras dançantes aparecem em suas fotografias em preto e branco. Ele as revira, de lá para cá, olha-as sob a luz forte e artificial, mas nada deduz da liquidez estranha que ali persiste. Ele segue o movimento leve das suas mãos misturadas aos seus passos apressados diante do seu olhar captando toda a atmosfera ao redor. E onde foram parar as suas marcas? As marcas reais do seu coração mirando o infinito? Nem ele sabe. Está tão impregnado desse mundo que só ele percebe.

Nota: A imagem de capa é uma homenagem ao filme “A menina que roubava livros

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