Depressão: um enfrentamento insuportável com a verdade

Depressão: um enfrentamento insuportável com a verdade

A depressão é uma forma muito particular e avassaladora daquilo que corriqueiramente chamamos a dor de viver. Juntamente com a angústia e a dor propriamente dita, é uma constelação de afetos tão familiar que, como escreve Daniel Delouia, dificilmente conseguimos classificá-la entre os quadros clínicos da psicopatologia. À dor do tempo que corre arrastando consigo tudo o que o homem constrói, ao desamparo diante da voragem da vida que conduz à morte – que para o homem moderno representa o fim de tudo – a depressão contrapõe um outro tempo, já morto: um “tempo que não passa”, na expressão de J. Pontalis.

O psiquismo, acontecimento que acompanha toda a vida humana sem se localizar em nenhum lugar do corpo vivo, é o que se ergue contra um fundo vazio que poderíamos chamar, metaforicamente, de um núcleo de depressão. O núcleo de nada onde o sujeito tenta instalar, fantasmaticamente, o objeto perdido – objeto que, paradoxalmente, nunca existiu.

A rigor, a vida não faz sentido e nossa passagem por aqui não tem nenhuma importância. A rigor, o eu que nos sustenta é uma construção fictícia, depende da memória e também do olhar do outro para se reconhecer como uma unidade estável ao longo do tempo. A rigor, ninguém se importa tanto com nossas eventuais desgraças a ponto de conseguir nos salvar delas. Contra este pano de fundo de nonsense, solidão e desamparo, o psiquismo se constitui em um trabalho permanente de estabelecimento de laços – “destinos pulsionais”, como se diz em psicanálise – que sustentam o sujeito perante o outro e diante de si mesmo.

Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões. Amamos: a vida, os outros, e sobretudo a nós mesmos. Estamos condenados a amar, pois com esta multiplicidade de laços libidinais tecemos uma rede de sentido para a existência. As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar nisso o tempo todo; é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente.

A depressão é o rompimento desta rede de sentido e amparo: momento em que o psiquismo falha em sua atividade ilusionista e deixa entrever o vazio que nos cerca, ou o vazio que o trabalho psíquico tenta cercar. É o momento de um enfrentamento insuportável com a verdade. Algumas pessoas conseguem evitá-lo a vida toda. Outras passam por ele em circunstâncias traumáticas e saem do outro lado. Mas há os que não conhecem outro modo de existir; são órfãos da proteção imaginária do “amor”, trapezistas que oscilam no ar sem nenhuma rede protetora embaixo deles. “A depressão é uma imperfeição do amor”, escreve Andrew Solomon, autor de “O demônio do meio-dia”, vasto tratado sobre a depressão publicado nos Estados Unidos e traduzido no Brasil no final de 2002. Faz sentido, se considerarmos o sentido mais amplo da palavra amor.

Durante cinco anos, Solomon dedicou-se a pesquisar a depressão: causas e efeitos, tratamentos, hipóteses bioquímicas, estatísticas. Recolheu histórias de vida de dezenas de pessoas que passaram por crises depressivas – “nunca escrevi sobre um assunto a respeito do qual tantos tivessem tanto a dizer”. A estas, acrescentou sua própria história – o trabalho no livro foi uma forma de reação ao longo período em que ele próprio passou por sérias crises depressivas. Um período em que, nas palavras do autor, “cada segundo de vida me feria”.

A julgar pelos números recolhidos por Solomon em relatórios da divisão de saúde mental da Organização Mundial de Saúde – o DSM-IV – esta ferida acomete a um número cada vez maior de pessoas no mundo, e particularmente nos Estados Unidos. 3% da população norte americana sofre de depressão crônica – cerca de 19 milhões de pessoas, das quais 2 milhões são crianças. A depressão é a principal causa de incapacitação em pessoas acima de cinco anos de idade. 15% das pessoas deprimidas cometerão suicídio. Os suicídios entre jovens e crianças de 10 a 14 anos aumentaram 120% entre 1980 e 1990. No ano de 1995, mais jovens norte-americanos morreram por suicídio do que de da soma de câncer, Aids, pneumonia, derrame, doenças congênitas e doenças cardíacas.

Esta forma de mal estar tende a aumentar, na proporção direta da oferta de tratamentos medicamentosos: há vinte anos, 1,5% da população dos Estados Unidos sofria de depressões que exigiam tratamento. Hoje este número subiu para 5%. Sincero adepto dos tratamentos farmacológicos, que segundo ele salvaram sua vida, Andrew Solomon acaba por se perguntar se a doença cresce com o desenvolvimento da medicina ou se a indústria farmacêutica produz as doenças para os remédios que desenvolve, do mesmo modo que outros ramos industriais criam mercados para seus produtos.

Insight sem inconsciente?

A contribuição das terapias medicamentosas no tratamento das doenças mentais é inegável, e o analista, assim como outros “terapeutas da fala” no dizer de Solomon, não pode dispensá-la. “O Prozac não deveria tornar o insight dispensável,”, diz Robert Klitzman, da Universidade de Colúmbia, citado pelo autor. “Deveria torná-lo possível”.

Mas qual o insight possível, capaz de produzir efeitos sobre a subjetividade, em uma cultura onde as práticas de linguagem se impõem fortemente de modo a apagar o sujeito do inconsciente? As histórias de pacientes depressivos enumeradas por Andrew Solomon centram-se ao redor da perspectiva única do vitimismo. As pessoas se deprimem porque não suportam o que foi feito a elas. Acidentes, perdas traumáticas, abandonos, violência, abuso sexual na infância; é de fora para dentro que a vida psíquica se impõe àqueles que sofrem de mal estar.

É óbvio que a rede de proteção do psiquismo pode ser rompida pelas irrupções traumáticas do real; mas as “desgraças da vida” recaem sempre sobre um sujeito, incidem sobre uma posição desejante e são rearticuladas pelas formações do inconsciente, que são formações da linguagem. Do ponto de vista do vitimismo, a cura da depressão consiste na eliminação de todo traço de “má notícia” que advenha do inconsciente. A psiquiatria e a indústria farmacêutica aliam-se a este ponto de vista. “Assistimos a um conluio curioso entre a descrição psiquiátrica e a própria queixa do deprimido”, escreve Delouia. “A ignorância a respeito do psíquico “une o fenômeno depressivo com a parafernália nosográfica da psiquiatria”.

O autor não deixa de ser crítico em relação a esta perspectiva. “Nós patologizamos o curável. Quando existir uma droga contra a violência, ela será encarada como uma doença”. Também é crítico em relação ao ideal de remoção química de toda a dor de existir. No entanto, a ingenuidade a respeito da realidade psíquica prevalece até mesmo em relação à sua própria crise depressiva. Filho de uma mulher ativa e absorvente, que mais tarde ele próprio pode perceber como depressiva, Andrew Solomon participou, junto com o pai e o irmão, do suicídio assistido da mãe, vítima de câncer no ovário aos 58 anos. Depois dessa morte, dramática e intensamente estetizada, a fantasia de suicídio ocorre aos outros membros da família. No ano seguinte, Solomon inicia uma análise com uma mulher que lhe lembra a mãe, e propõe a ela um pacto incondicional: não abandonarão o tratamento até o “fim”, sob nenhuma condição. Mas alguns anos depois,a analista anuncia ao dedicado analisando que vai deixar o trabalho. Aposentadoria por tempo de serviço…

No tempo de análise que lhe resta, Andrew Solomon não entende por que vai entrando em depressão cada vez mais grave, até que a própria analista concorda em que ele busque auxílio psiquiátrico. A análise “termina” pouco depois, e ele atravessa um ciclo de depressões gravíssimas. A inabilidade da analista de Solomon quanto ao manejo da transferência diante de um quadro de luto melancólico salta aos olhos do leitor familiarizado com a psicanálise. Não é sem razão que ele escreve, anos mais tarde, que a psicanálise seja “hábil para explicar, mas não eficiente para mudar” os quadros depressivos.

A julgar pelo relato de Solomon, seu tratamento psicanalítico foi baseado na reconstituição da vida infantil, em busca de um causalidade psíquica que, de fato, pode ter valor explicativo mas não produz nenhuma intervenção sobre o psiquismo vivo e ativo no sujeito adulto. Pierre Fédida, em seu livro sobre a depressão, adverte sobre os riscos de se buscar a evocação de um “acontecimento real que se supõe empiricamente traumático: a vivência infantil – essencialmente inatual na fala associativa – recebe assim uma positividade patogênica, na forma de uma atualidade passada”. O “infantil” que interessa à psicanálise não é o do passado, rememorado pelo eu, mas o que se manifesta ao vivo na transferência, nas demandas dirigidas ao analista. Como a analista de Solomon não se deu conta da relação entre a proposta de uma análise incondicional feita por ele, o amor pela mãe e o pacto de morte que o uniu a ela? Como não se deu conta da relação entre a crise depressiva de seu analisante e o anúncio burocrático de sua “aposentadoria”?

O livro de Solomon não oferece nenhuma contribuição decisiva para o conhecimento da depressão, mas lança uma luz importante sobre as relações entre a emergência epidêmica dessa forma de mal estar e os modos de subjetivação predominantes na cultura norte-americana. Em uma sociedade onde as formações discursivas apagam o sujeito do inconsciente, em que a felicidade e o sucesso são imperativos superegóicos, a depressão emerge – como a histeria na sociedade vitoriana – como sintoma do mal estar produzido e oculto pelos laços sociais. O vazio depressivo, que em muitas circunstâncias pode ser compensado pelo trabalho psíquico, é agravado em função do empobrecimento da subjetividade, característico das sociedades consumistas e altamente competitivas. A “vida sem sentido” de que se queixam os depressivos só pode ser compensada pela riqueza do trabalho subjetivo, ao preço de que o sujeito suporte, amparado simbolicamente pelo analista, seu mal estar. A eliminação farmacológica de todas as formas de mal estar produz também, paradoxalmente, o apagamento dos recursos de que dispomos para dar sentido à vida.

Artigo de Maria Rita Kelh

Imagem de capa: Reprodução

Conheça 9 mitos sobre o amor

Conheça 9 mitos sobre o amor

1 – Homens dão mais valor à parte física das mulheres e as mulheres ao status social dos homens
Homens e mulheres continuam repetindo essa máxima, tal qual um mantra. Mas um estudo da Universidade de Northwestern’s Weinberg, nos Estados Unidos, mostra uma realidade bastante diferente. Com a pesquisa, que envolveu o acompanhamento de 163 jovens durante 30 dias, descobriu-se que, embora boa parte acreditasse na premissa de que homens e mulheres têm prioridades diferentes na hora da conquista, na prática, ambos os sexos agem de forma idêntica. “A beleza é a característica mais desejada, tanto para os homens quanto para as mulheres”, explica o professor Eli Finkel, um dos autores do estudo. A questão do status social fica em segundo plano até entre as mulheres. “O primeiro canal de comunicação é sempre o da aparência física”, lembra a psicóloga Lídia Weber, que ministra o curso “Relacionamento Amoroso: Teoria e Pesquisa”, na Universidade Federal do Paraná. A partir daí, são estabelecidas camadas secundárias de avaliação. E, como se essas semelhanças já não fossem suficientes, o estudo mostrou ainda que, quando homens e mulheres partem para a conquista, os critérios de seleção de um parceiro, ou parceira são praticamente iguais. Nesse sentido, o mito de que as mulheres seriam mais seletivas também cai por terra.

2 – Relações proibidas são mais empolgantes

O frio na barriga do encontro proibido com o ser amado pode ser uma delícia, mas não por muito tempo. Pelo menos é o que demonstra uma pesquisa da Universidade da Geórgia (EUA), de 2005, em que foi constatado que relacionamentos de difícil manutenção, como casos extraconjugais, ou interraciais e interreligiosos, parecem perigosamente interessantes no começo. Mas, com o tempo, manter o segredo é mais trabalhoso e estressante do que divertido. Segundo o estudo, os casais se submetem a esse tipo de relação simplesmente porque não querem contar para a família e os amigos sobre o relacionamento, não porque tenham atração pelo segredo. “Mas as desvantagens a pessoa só vai perceber depois. A paixão é um processo irracional. Se a gente fosse absolutamente racional, não se apaixonaria nunca”, afirma Sônia Eva Tucherman, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria do Rio de Janeiro.A psicóloga Mariana Chalfon, especializada em casamentos interreligiosos, explica que, ao apaixonar-se, o indivíduo pode estar buscando inconscientemente características das quais precisa. “Os opostos se atraem por esse motivo, para tentar fazer com que a pessoa integre esses conteúdos”, afi rma. “Desde o primeiro momento a diferença pode gerar stress, mas isso não é necessariamente ruim. Só resta saber se o casal vai ter força para passar por esse momento e se essa relação vai se tornar madura ou não”, diz Mariana. A psiquiatra Sônia concorda: “À medida que você vai entrando em contato com o ser amado,passa a vê-lo inteiro. É nessa hora que perde a graça e muitas paixões acabam, como se tivessem caído do 50º andar de um prédio.” Ou seja, Romeu e Julieta tinham grandes chances de não serem felizes para sempre, afinal.

3 – Relação com mulheres feministas é mais difícil

O rompimento dessa crença começa na derrubada do estereótipo da feminista: a mulher solteira, feia, lésbica, excessivamente combativa e incapaz de manter um relacionamento romântico. Isso está longe de ser verdade. Laurie Rudman e Julie Phelan, psicólogos da Universidade de Rutgers, nos EUA, derrubaram esse clichê consagrado a partir da década de 60 e provaram que as relações com feministas são mais tranquilas do que com as outras mulheres. Foram avaliadas a combinação de qualidade na relação, equidade de gêneros, estabilidade e satisfação sexual. De maneira geral, elas são mais seguras, mantêm uma vida sexual mais satisfatória e seus relacionamentos têm menos altos e baixos, sendo relações inclusive mais românticas. Para a antropóloga Mirian Goldenberg, autora de “Toda Mulher é meio Leila Diniz”, o fenômeno se aplica, principalmente, a mulheres independentes economicamente. “São muito mais exigentes na escolha de um parceiro e seguras de suas escolhas.”

4 – O romance e a paixão desaparecem com o tempo

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A evolução da paixão para o amor maduro não precisavir acompanhada de um esfriamento da relação conjugal. A conclusão é dos pesquisadores Bianca Acevedo e Arthur Aron, da Universidade da Califórnia (EUA). Depois de analisar 27 estudos que envolveram mais de seis mil entrevistados – 17 levantamentos feitos com jovens em relações fugazes e outros dez feitos com homens e mulheres casados há pelo menos uma década –, eles perceberam que existe um meio-termo entre paixão arrebatadora e marasmo conjugal. Batizado por eles de amor romântico, esse sentimento requer esforço para ser construído, mas pode ser mantido por tempo indeterminado. “A transição é um momento crítico”, diz o sexólogo Joaquim Zailton Motta, do Grupo de Estudos sobre o Amor de Campinas (SP). Alguns conseguem. Dorli Kamkhagi, psicogeriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, tem casos de casais de 80 anos que se preocupam em manter a chama do sexo acesa. “O companheiro é o norte na vida de quem já criou filhos, construiu uma história e agora quer aproveitar.”

5 – O fim de um relacionamento é mais difícil para quem ainda está apaixonado

Quem ama sofre mais com o fim do relacionamento, certo? Errado. Essa foi uma das conclusões de Eli Finkel, coautor do estudo da Universidade de Northwestern’s Weinberg (EUA), que avaliou o grau de sofrimento esperado e real de casais em processo de separação. Para isso, sua equipe acompanhou 26 pessoas em relacionamentos durante 38 semanas de altos e baixos. Onde houve rompimentos, a expectativa de sofrimento registrada duas semanas antes da data do fim foi comparada ao sofrimento real nas quatro semanas subsequentes ao término da relação. O parceiro que imaginava que mais ia sofrer, de modo geral, foi o que superou mais rápido o término. A antropóloga Telma Amaral, da Universidade Federal do Pará, acredita que a expectativa de uma dor insuportável pode ajudar a amenizar a angústia real. “O cenário terrível imaginado, perto de uma realidade menor, diminui o impacto, o sofrimento”, afirma.

6 – O convívio antes do casamento prepara o casal para a vida conjugal

Ao contrário do que indica o senso comum, morar junto para testar se o relacionamento dá certo pode não ser o melhor caminho para a felicidade. De acordo com o estudo do ano passado da Universidade de Denver (EUA), conduzido pelos psicólogos Galena Rhoades, Scott Stanley e Howard Markman, casais que dividem o mesmo teto antes de oficializarem a relação têm mais chances de se divorciar e registram uma percepção de relacionamento menos satisfatória do que os que esperaram pelo grande dia. Para a psicóloga Mariana Chalfon, de São Paulo, um dos motivos pode ser a ausência do ritual. “A passagem que o casamento simboliza tem uma força maior do que as pessoas imaginam. Existe uma mobilização social cheia de símbolos que reforça esse impacto.” De acordo com o estudo, casais que passam a morar junto sem um comprometimento mais enfático com o casamento podem acabar continuando na relação por comodismo. Uma das razões levantadas pela pesquisa é que seria mais difícil terminar o relacionamento quando se divide a mesma casa
antes do casamento. Outro problema subjacente que os pesquisadores encontraram é que casais que precisam “testar” a relação em geral já sabem ter algum problema que pode detonar a relação com o tempo.

7 – Biologicamente, os homens não foram feitos para a monogamia

Um estudo conduzido pela equipe do geneticista sueco Hasse Walum, do Karolinska Institute, em Estocolmo, aponta o contrário. Ao acompanhar 552 pessoas em relacionamentos bem estabelecidos, descobriu-se que, quanto menos cópias o homem tem de um gene específico, batizado de RS3 334, maior a propensão de viver uma vida satisfeita com a monogamia. O gene funciona da mesma maneira com a capacidade que temos de confiar uns nos outros: quanto menos cópias, mais confiantes, e, quanto mais cópias, mais desconfiados somos. “Mas não faz sentido limitar a discussão ao plano biológico”, explica Lídia Weber, professora de psicologia da Universidade Federal do Paraná. “Evolutivamente, se nosso objetivo fosse apenas espalhar material genético, seríamos todos polígamos.” Boa parte das sociedades não aceita o comportamento em larga escala e a monogamia se tornou uma importante ferramenta de organização social. “Nós, humanos, até temos o desejo da poligamia, mas optamos pela monogamia em prol de um objetivo maior, como a constituição da família”, exemplifica a terapeuta de casais Marina Vasconcellos.

8 – Para os homens, masculinidade se afirma com vigor físico e sexual

O modelo de homem que exibe sua virilidade por meio do corpo e da sexualidade está caducando. Esses fatores podem ainda ser importantes, mas não são mais suficientes. Um estudo publicado pelo inglês “Journal of Sexual Medicine” feito com 27 mil homens em oito países – incluindo o Brasil – mostrou que fatores como autoconfi ança, firmeza de caráter e controle sobre a própria vida ganharam mais importância na afirmação da identidade masculina. Para sorte das mulheres, esse novo homem está cada vez menos egoísta nos relacionamentos e se preocupa cada vez mais, em todos os planos, com o bem-estar da companheira. Em todas as nacionalidades, boa saúde, uma vida familiar harmoniosa e um relacionamento prazeroso com a esposa ou parceira era mais importante para a qualidade de vida do que preocupações materiais ou puramente sexuais. A antropóloga carioca Mirian Goldenberg, autora de “Toda Mulher é meio Leila Diniz”, comprova que a mudança é bem-vinda. “As mulheres esperam, e até mesmo exigem, que os homens mudem seus comportamentos, no que diz respeito ao relacionamento amoroso, mas também na forma de se vestir e se cuidar”, afirma.
9 – Brigas e críticas minam o casamento
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“Só o amor volta para brigar, para perdoar”, disse Carlos Drummond de Andrade. Apesar de parecer maluquices de poeta, a ideia de que as discussões fazem parte dos relacionamentos saudáveis ganhou respaldo da ciência. Dois estudos da Universidade de Michigan (EUA), de 2008, mostram que brigar pode ajudar a resolver conflitos e aproximar o casal. Quando a raiva é suprimida em nome de uma suposta estabilidade da relação, o que acontece é justamente o contrário. Há, inclusive, consequências físicas para quem opta por abafar os conflitos. O mesmo estudo, que ouviu 192 casais durante 17 anos, apontou que, em relações em que os parceiros não expressam a raiva, a chance de uma morte prematura, devido ao stress, duplica se comparada à de pessoas que expressam seus sentimentos, mesmo que isso resulte em briga. Só não vale todo tipo de briga. “As críticas podem ser feitas, mas têm que ser entendidas como algo que leva ao crescimento. É preciso discutir sem ser intolerante, sem intransigência”, afirma Antonio Carlos Amador Pereira, da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O psicólogo arrisca até dizer que esse diálogo pode ficar acalorado. “Desde que não haja violência, seja verbal, seja física.

Fonte indicada: Isto É

7 lições que as pessoas normalmente aprendem da forma mais difícil

7 lições que as pessoas normalmente aprendem da forma mais difícil

Por Chris Ayres

Há certas coisas que acontecem em nossas vidas e nos perguntamos o porquê. Nossos erros e acertos, nossas decepções, fracassos ou vitórias nos moldam e nos fazem a pessoa que somos. Mas algumas coisas, a grande maioria de nós aprende, muitas vezes, apanhando.

1. Ninguém é perfeito

Sempre haverá alguém melhor que você. Por mais que você ache que domina alguma profissão, matéria, habilidade ou situação, você poderá se surpreender e estar enganado em algum momento. Não se compare, apenas faça o seu melhor.

Sempre haverá alguém que lhe decepcionará. Seus pais, professores, pastores e amores são humanos falíveis, e isso não tem problema, pois você também é. Enquanto estivermos vivos, decepcionaremos alguém, então, faça seu melhor e não seja tão duro com os outros ou consigo mesmo.

2. Viva de acordo com suas possibilidades

Enquanto está trabalhando, poupe para os dias difíceis. Mais cedo ou mais tarde, se você não é uma pessoa econômica ou mesmo se o é, dependendo da situação, estará amarrado em dívidas que tirarão sua paz e seu sono, causando problemas na família e casamento, destruindo o futuro de seus filhos e mesmo em sua saúde.

Aprenda a viver dentro do orçamento. É melhor uma vida simples do que a falsa pompa do débito acumulativo.

3. Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje

Declare seus sentimentos por seus pais, amigos, filhos e amores enquanto estão vivos. Não cultive o arrependimento de não ter tido tempo de ser gentil a alguém, ou de ter dito ou passado mais tempo com aquela pessoa que não está mais aqui. Aproveite cada oportunidade de fazer o dia de alguém melhor, de pedir perdão, de sorrir e abraçar.

Todos nós morreremos, então, não perca tempo. Amanhã pode ser tarde demais.

4. Antes sozinho do que mal acompanhado

Devemos ser amigos de todos, ajudar e perdoar constantemente, mas relacionamentos abusivos ou amizades tóxicas onde você é o único a ajudar, muitas vezes tirando a pessoa da lama, ajudando com tudo, e a pessoa lhe usa, abusa e suga suas energias, e ainda difama e inveja, mais cedo ou mais tarde lhe trarão mais decepções que aprendizado.

Aprenda a colocar de lado a negatividade, cortando da sua vida o que não presta. Da mesma forma, se você é o que está reclamando de tudo e de todos, você provavelmente é o que está criando o drama. Respire fundo, arrependa-se, peça perdão, faça a restituição do erro, e recomece. Você irá até respirar melhor.

5. O mundo dá voltas

Esta é uma verdade absoluta. Você pode errar hoje, e aqueles que lhe condenam e debocham, terão o lembrete mais cedo ou mais tarde em seu próprio infortúnio, naturalmente, e infelizmente, às vezes, com consequências à própria família. Da mesma forma, aqueles que julgam serão julgados na mesma medida.

Não defina as pessoas por seus erros, porque a vida lhe trará a resposta bem rápido. Arrependa-se e viva uma vida plena a ponto de olhar para trás, e saber que fez tudo o que podia, e tratou os outros como gostaria de ser tratado.

6. Forme sua própria opinião sobre pessoas e assuntos

Em algumas fases da vida, as pessoas nos influenciam, mas todos chegamos a algum ponto onde precisamos deixar de nos influenciar ou parar de acreditar no que dizem, mesmo que essas pessoas tenham poder, fama ou fortuna, pois muitas vezes, os prejudicados podem ser nós mesmos.

Não apenas acredite no que dizem sobre algo ou alguém. Faça sua parte em conhecer a pessoa ou situação e tire suas próprias conclusões sabendo ouvir ambas as partes. Há uma lei universal que diz que você deve procurar a pessoa em particular e resolver um problema que tiver com ela diretamente. Não espalhe mentiras ou histórias que você não conhece os dois lados ou mesmo que os conheça. Se não tiver nada de bom a dizer sobre alguém, apenas cuide de sua própria vida, e lembre-se: “tire a viga do teu olho antes de reparar no cisco do olho do teu irmão”. (Mateus 7:1-5)

7. Todas as suas experiências são para seu próprio bem

Você pode estar se sentindo massacrado neste momento, mas, se escolher fazer o certo, tudo será para seu próprio aprendizado e durará apenas um momento. A verdade virá, o momento difícil passará, mesmo uma tragédia trará experiências a sua vida que você não teria de nenhuma outra forma, e você conseguirá sobreviver a qualquer situação que parece não ver a luz no final do túnel neste momento, muitas vezes com bênçãos em dobro. O Senhor sempre vê tudo e perante Ele a misericórdia e a justiça não falharão.

Acredite, busque uma visão mais elevada, suas bênçãos estão reservadas e são intransferíveis. Coloque sua casa em ordem. Retire de sua vida o que não agrega. Jamais perca sua fé. Seja paciente e reconheça as bênçãos em meio às provações. Depois, sorria para os céus e agradeça.

A maioria destas lições somos mestres na teoria, e quando nos acontecem, parecemos negar o poder que a vida tem de nos ensinar. Nada acontece por acaso e tudo é para nosso aprendizado. Seja grato pelas provações e pelas bênçãos, e transforme sua vida, um dia de cada vez.

Fonte indicada: Familia

5 filmes sobre o fim da infância

5 filmes sobre o fim da infância

Um dos momentos da vida mais dificeis de serem retratados com honestidade, o fim da infância já foi alvo de algumas obras cinematograficas muito respeitosas e verdadeiras. O cinéfilo mais exigente sente-se premiado na mega sena online, quando se dá conta do que acabou de assistir.

Aqui segue uma pequena lista com alguns dos mais belos e sensíveis filmes que a sétima arte já produziu sobre um tema tão espinhoso e subjetivo, já que este momento pode acontecer de uma maneira diferente com cada pessoa.

Lucas – A Inocência do Primeiro Amor

Filme que marca a estreia de Winona Ryder em longas e é um dos primeiros trabalhos de Charlie Sheen e de Cory Haim, ator de sucesso nos anos 80, falecido em 2010 devido a uma overdose. Lucas é um garoto inteligente que se apaixona por uma menina mais velha, recém chegada na sua escola.

Ponte para Terabitia

Um dos protagonistas da trilogia Jogos Vorazes, Josh Hutcherson  dá vida ao garoto Jesse que deixa sua imaginação voar ao lado da amiga Leslie. Ele aprende que a vida é muito menos criativa do que ele gostaria que fosse.

O Labirinto do Fauno

Uma fábula assustadora para crianças. Apesar do tema aparentemente infantil, foi feito para adultos. Mostra a pequena Ophélia tentando cuidar de sua mãe, infelizmente confiando nas pessoas erradas para isso.

As Vantagens de Ser Invisível

A história é sobre uma turma um pouco mais velha, mas fala sobre socialização, perdas, tendências suicidas, troca de colégio, tudo o que é tão difícil quando se está na adolescência.

O Menino e o Mundo

Animação nacional sobre um garoto que foge de casa para procurar o pai e descobre todas as coisas que o mundo pode oferecer, de bom e de mau.

Uma seleção heterogênea, mas que vale a pena conferir!

Você conhece outros que merecems em mencionados? Conte-nos nos comentários.

Ilustrações homenageiam garoto encontrado morto na Turquia; veja imagens

Ilustrações homenageiam garoto encontrado morto na Turquia; veja imagens

O menino sírio Aylan Kurdi, encontrado morto em uma praia na Turquia, tem recebido uma série de homenagens na internet. Através das redes sociais, ilustrações vêm sendo veiculadas mostrando Aylan com asas de anjos, dormindo e em cenários lúdicos.

A foto de Aylan Kurdi sendo carregado por um policial virou símbolo da crise migratória que atinge a Europa. O garoto se afogou na quarta-feira (2) Bodrum, na Turquia, enquanto tentava, junto com a família, chegar à Grécia. Veja alguns das homenagens:

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Fonte indicada: Mapele News

A desimportância destinada aos abandonados do mundo começa a mostrar seus efeitos

A desimportância destinada aos abandonados do mundo começa a mostrar seus efeitos

Por Elder Dias

As mortes de milhares nas águas do Mediterrâneo em poucos meses são um indicativo: a fuga do continente esquecido não vai parar. O mundo invisível, pobre e miserável está cobrando a fatura

Era o início do mês de maio de 1994. Uma grande tragédia abalava o mundo. Um país inteiro nunca mais seria o mesmo depois de um evento que ocorria de forma tão dura e traumática, atingindo em cheio um povo já sofrido por causa dos muitos males vividos na pele durante séculos e séculos de colonização.

Se o pensamento viajou até a figura de Ayrton Senna, se enganou. De fato, a morte do brasileiro, tido por muitos como o maior piloto de corridas de todos os tempos, foi um acontecimento trágico. Causou comoção não só no Brasil, mas também, de modo um tanto surpreendente, no Japão, onde também era tido como uma figura querida — os nipônicos se identificaram com ele por causa dos títulos a bordo de uma McLaren impulsionada por motores Honda. A Europa, coração da Fórmula 1, também sentiu o baque, até porque outro corredor, o austríaco Roland Ratzenberger, morrera um dia antes, no treino para o fatídico GP de San Marino, em Ímola, na Itália.

Por mais que tenha sido dolorosa para os brasileiros e os amantes do automobilismo, a morte do ídolo nacional foi uma fatalidade. Con­sequência dos perigos do esporte que escolheu. Ironia do destino, ele era um dos que mais se preocupavam com a segurança dos carros e, com Ratzenberger, foi um dos pilotos a perder a vida após 18 anos sem nenhuma morte assombrar a modalidade — o último acidente fatal tinha sido em 1986, quando o italiano Elio de Angelis, por coincidência o primeiro companheiro de Senna na equipe Lotus, morreu em treinos particulares da Brabham no circuito de Paul Ricard, na França.

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Bote com superlotação transporta refugiados rumo à Europa: para sobreviver, encara-se o risco alto de outra forma de morrer

Mas o que realmente estava em andamento como horror mundial naquele momento ocorria não na Europa, mas na África subsaariana. Em Ruanda, já havia quase um mês, a etnia hutu caçava seus rivais tutsis, em uma matança que duraria cem dias e deixaria ao fim 800 mil mortos. Uma média de 8 mil por dia. Contando todo o tempo de conflito e as hordas de refugiados em êxodo — o que acabaria por causar mais mortes, colaterais —, a população do país se reduziria em 2 milhões na primeira metade dos anos 90.

O olhar do mundo para a África só se deu quando o conflito alcançou o auge. Durante anos houve a preparação para o massacre que haveria de ocorrer. Mais do que isso, foram usadas verbas de fundos internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), para financiar o massacre, conforme ficou apurado posteriormente. Sem controle nem atenção do Ocidente, os gastos no que era para ser um “programa de ajuste estrutural” serviram para a compra de armas diversas, entre elas facões, enxadas, machados e martelos. Tudo para que os hutus pudessem estar seguros de que realmente massacrariam os rivais tutsis .

Quando tudo já estava consumado, no auge da matança a notícia do horror chegou à Europa e aos Estados Unidos. Documentos só disponibilizados duas décadas depois dariam conta de que cerca de duas semanas após o início do genocídio, em 6 de abril, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, sabia de tudo que se passava em Ruanda, mas as informações foram abafadas: a Casa Branca já havia decidido não intervir. Quase 20 anos depois, Clinton fez um tardio mea-culpa, dizendo que poderia ter salvado pelo menos 300 mil vidas se tivesse tomado uma atitude em tempo hábil. Um caso de confesso crime humanitário por omissão? Talvez. O certo é que nunca será algo que passará por qualquer tribunal penal internacional.

A África não é a Europa nem a América (entenda-se “America”, como os estadunidenses costumam chamar seu país). Também não é a Ásia nem a América Latina, lugares de segunda categoria, mas nos quais repousa um interesse maior dos protagonistas do planeta. É um continente que caminha a passos largos para um exaurimento completo de seus recursos. Mais e mais pessoas morrem na África; as que querem sobreviver procuram principalmente a Europa.

Mas o fato é que o Ocidente (outra expressão que, no fim das contas, serve para dizer a respeito do mundo considerado “civilizado” mais do que do todo do hemisfério ao oeste de Greenwich) parece sempre ser “pego de surpresa” com notícias como a que se segue. Eis que no meio da madrugada, surge da TV o áudio com uma voz de timbre e ritmo já conhecidos:
“Um minuto de silêncio pelas vítimas do Mar Mediterrâneo. Quase seis horas de reunião e algumas divergências sobre como salvar as pessoas no mar. As verbas para as operações Triton, da União Europeia, e Posseidon, da Grécia, serão triplicadas. Os líderes decidiram que os países não serão obrigados a acolher imigrantes, mas devem ajudar quem está na linha de frente, como a Itália. A Grã-Bretanha ofereceu um navio e helicópteros, desde que ninguém vá para o Reino Unido. Quanto aos possíveis bombardeios aos barcos dos traficantes de seres humanos, só com a aprovação da ONU, declarou a primeira-ministra alemã, Angela Merkel. O premiê italiano, Matteo Renzi, anunciou que, na segunda-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, estará em Roma para discutir a crise. O número de barcos navegando em direção ao sul da Itália diminuiu. Hoje chegaram quase 300 imigrantes à Sicília em botes. Os europeus também defenderam uma ação política e diplomática mais forte na África. Querem colaborar com os líderes africanos para tentar impedir a partida dos imigrantes.”

O texto (e a voz nele) era da correspondente Ilze Scamparini, para a matéria no “Jornal da Globo” de quinta-feira, 23 — na verdade apresentado na madrugada do dia seguinte —, à qual o apresentador William Waack fez uma abertura citando o número de “quase 2 mil” refugiados africanos mortos nas águas do Mar Mediterrâneo quando tentavam entrar na Europa. Só este ano. E estamos em abril. Uma pergunta a se fazer aqui, então: quantas vidas africanas precisam ser sacrificadas para merecer o olhar ocidental?

Entretanto, é preciso esclarecer que nem só africanos compõem a triste estatística. A travessia do Mediterrâneo serve a muita gente que não tem mais nada a perder, ou que perderia ainda mais se ficasse no lugar de origem: são pessoas que em grande maioria fogem de zonas de conflito, o que ocorre atualmente em grande escala principalmente na Síria e na Líbia, de forma mais aguda, e em vários pontos do continente africano, de modo mais crônico. O transporte dos refugiados é feito em botes ou barcos precários e superlotados, sem qualquer segurança e comandados por traficantes de humanos que se põem a navegar por lucros tão indignos quanto milionários. O passeio tem custo alto (pode chegar a mais de R$ 10 mil por cabeça) e risco tão grande quanto: a estimativa da ONU de que 21 mil pessoas empreenderam a aventura este ano diz que a possibilidade de morrer no trajeto está na casa de uma para 10.

contioutra.com - A desimportância destinada aos abandonados do mundo começa a mostrar seus efeitos
Sebastião Salgado: trabalho que forçou maior atenção à África |

Um brasileiro mais “herói”

Muitos chamam até hoje Ayrton Senna de “herói nacional”. Quem assistiu ao especial dos 50 anos de jornalismo da Rede Globo, semana passada, pode ouvir novamente essa expressão da boca de um de seus maiores propagadores, o narrador e dublê de falastrão Galvão Bueno.

Senna, pelo menos em vida, não foi herói algum. Um grande profissional no que fazia, mas longe de ser um redentor. O Instituto Ayrton Senna, criado por sua irmã, Viviane Senna, após sua morte, esse sim, tem um idealismo respeitável. Mas enquanto Senna fazia sua carreira nas pistas, outro brasileiro, o fotógrafo Sebastião Salgado, trabalhava de forma quase anônima mundo afora, especialmente em localidades pouco atraentes aos meios de comunicação, para registrar e denunciar crimes contra a humanidade.

Salgado pode ser visto como herói? Antes de ser considerado redentor, seu trabalho precisa ser entendido como o de um operário. Em 1984, quando Senna iniciava sua carreira, o mineiro de Aimorés iniciava a produção de “Sahel”, seu documento fotográfico sobre os horrores da guerra e da fome na África. Ele voltaria ao continente nos anos 90, para registrar refugiados de áreas de conflito, como fez em Ruanda e no Congo. Suas fotos contribuíram para que o mundo enxergasse aqueles dramas e forçaram ações.

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Campo de refugiados do conflito em Ruanda, nos anos 90: após 20 anos, situação do continente segue dramática e sem sinais de mudança para melhor

Em 2014, o olhar de Salgado virou filme. De observador passou a observado, pela lente do diretor alemão Wim Wenders, que dirigiu “O Sal da Terra”, documentário sobre a vida do fotógrafo que acabou sendo bastante laureado. Entre as temáticas que o brasileiro explorou na vida, o continente mais pobre e esquecido do globo sempre ganhou destaque. Polemizado por tratar com plasticidade a verdadeira tragédia humana, Salgado mostrou que a exposição de seres humanos cuja existência e sofrimento são desimportantes aos olhos do mundo pode incomodar.

A verdade que fica e cala fundo é simples: circulando pela Terra, pelo país, pela cidade, há vidas mais importantes e menos importantes. Há tragédias maiores e menores, dependendo com quem ocorram. A morte de uma só pessoa pode parar um país inteiro, como a de Ayrton Senna em 1994, ou a da princesa Diana, três anos depois. Por outro lado, a morte de centenas de milhares de seres humanos, ou quatro naufrágios de grande porte no mesmo mar em uma semana causam menos muito mobilização midiática do que a queda proposital de um avião. Sabe-se que o mórbido interessa; o que assusta é que a morbidez precise preencher pré-requisitos para ser divulgada.

A fuga da África não vai parar de ocorrer. Será preciso cada vez mais força à Europa para estancar a hemorragia do continente negro e de outras partes desfavorecidas do mundo, que padecem de falta água, de pão e de paz. O mundo invisível, pobre e miserável está cobrando a fatura.

Fonte: Jornal Opção

Desapegue, abra caminho, mostre a saída, despeça-se bem e deixe ir.

Desapegue, abra caminho, mostre a saída, despeça-se bem e deixe ir.

A gente se apega. Se apega e muito, tanto que não sabe soltar a mão do filho quando ele quer (e precisa) andar sozinho, não sabe soltar o sorriso quando o mau humor já até foi, não quer soltar a raiva quando ela já nem está mais lá, não larga o missa inteira de ladainhas e reclamações, mesmo quando ninguém está mais disponível para ouvir, não deixa ir o rancor, mesmo quando mais nenhum sentido ele faz…

O tempo de segurar junto do peito é real, tudo o que a gente passa na vida é para realmente ser vivido, doendo ou não, é o que molda a gente, o que faz a forma única e inconfundível de cada um. Mas tudo, absolutamente tudo, até a própria vida só dura um tempo, depois passa. Quando começa a esfriar, a acalmar, dissipar, atenuar, é preciso saber o momento de soltar, deixar ir. Deixar ir a tristeza, a raiva, as desilusões, mas também as risadas, os afetos, as promessas. Deixar ir é um ato inteligente, honesto, justo. Às vezes tudo volta. Outras, não volta nunca.  E assim é, às vezes nós voltamos, outras, jamais.

Como um elástico, a gente estica até onde ele vai, mas depois esgarça, perde a forma, ou pior, volta a nós com tal violência que deixa marcas doloridas. Saber o momento de largar é proteção e alívio. É garantia de mãos livres para alcançar e tocar no que tiver vontade.

Seja o que for, se já está passando, desapegue, abra caminho, mostre a saída, despeça-se bem e deixe ir.  Ao invés de conviver às turras com o que ansiava por ir embora,  decrete o fim da estadia. Sacuda as colchas, bata os tapetes, coloque os travesseiros no sol,  desfaça as tensões,  ajeite a postura, aproveite a porta aberta e siga sua vida. E mantenha por perto somente o que não estiver de passagem.

Discurso proferido por Mia Couto ao receber o título Doutor “Honoris Causa”, pela Universidade Politécnica de Maputo

Discurso proferido por Mia Couto ao receber o título Doutor “Honoris Causa”, pela Universidade Politécnica de Maputo

O livro que era uma casa. A casa que era um país

Por Mia Couto

Todos os povos amam a Paz. Os que passaram por uma guerra sabem que não existe valor mais precioso. Sabem que a Paz é um outro nome da própria Vida. Vivemos desde há meses sob a permanente ameaça do regresso à guerra. Os que assim ameaçam devem saber que aquele que está a ser ameaçado não é apenas um governo. O ameaçado é todo um povo, toda uma nação.

Pode não ser este o momento, pode não ser este o lugar. Mas é preciso que os donos das armas escutem o seguinte: não nos usem, a nós, cidadãos de Paz, como um meio de troca. Não nos usem como carne para canhão. Diz o provérbio que “sob os pés dos elefantes quem sofre é o capim”. Mas nós não somos capim. Merecemos todo o respeito, merecemos viver sem medo. Quem quiser fazer política que faça política. Mas não aponte uma arma contra o futuro dos nossos filhos. É isto que queria dizer, antes de dizer qualquer outra coisa.

Que me seja perdoado este empolgado introito. Que me seja perdoada a falta de etiqueta que deveria começar por saudar a presença do Presidente da República, o Presidente Jacinto Filipe Nyussi. Na verdade, Excelentíssimo Presidente, talvez eu tenha adiado esse momento porque um escritor não deveria nunca declarar-se sem palavras. Na verdade, sabendo da sua intensa e preciosa ocupação, eu não encontro palavras para lhe agradecer a honra da sua presença.

O que quero dizer é saudar o seu apelo para repensarmos o modo como nos concebemos como povo e como nação. Queremos ser parte desse esforço, queremos aprender a ser um país que não exclui, um país plural e diverso. Queremos ajudar a construir uma nação que assume, sem medo, as suas diferenças. Esta nova atitude pode ser a cura para uma espécie de autismo de que vínhamos padecendo. Quero saudar a presença do Presidente Joaquim Chissano, é um prazer imenso revê-lo.

É difícil imaginar quanto, mesmo ouvindo, podemos ser surdos. Seletivamente surdos. Escutamos os que nos são próximos, escutamos os que nos obedecem, escutamos o que nos agrada ouvir. Escutamos os do nosso partido, escutamos sobretudo quem não nos critica. Tudo o resto não existe, tudo o resto é mentira, tudo o resto é calúnia. Tudo o resto é proferido pelos “outros”. E é quase um paradoxo: porque se ocupam páginas inteiras dos jornais a dizer que os “Outros” não devem ser ouvidos. Gastam-se horas de programação radiofónica e televisiva para dizer que os outros não disseram nada. Esses “outros” que querem questionar o que fazemos, esses outros são “estranhos”, a caminho mesmo de serem “estrangeiros”. A verdade, porém, é que ninguém pode anular a existência desses “outros”. Ninguém pode negar que são moçambicanos. Ninguém pode saber se têm razão se não deixarmos que falem livremente. Esta é a grande lição do Presidente Nyussi que entendeu reconciliar uma nação apartada de si mesma. É ele que nos lembra que esses que dizem “não”, são da mesma família dos que dizem “sim”. Esta é uma mesma família que dispõe de uma única casa. Não existe outro lugar, não existe outro destino senão este que dá pelo nome de Moçambique.

Digo tudo isto sem qualquer embaraço. Porque todos nós, a começar por si, Senhor Presidente, queremos fugir da pratica da bajulação. Com a sua atitude de abertura e simplicidade, o Presidente sugere uma outra relação, mais próxima, mais verdadeira. Apesar de tudo, é fácil imaginar que junto a Vossa Excelência já se criou um cortejo de aduladores. Felizmente, veio da sua parte um sinal de alerta: assim que tomou posse, o Presidente Filipe Nyussi começou a receber gente que não batia palmas, gente que tinha interrogações e levantava críticas. Os seus ministros estão a fazer o mesmo, estão a escutar os que pensam diferente, estão a sentar-se com os que deixaram de ser ministros, estão a aprender desses outros que estavam condenados à condição de já terem sido alguém. Parece pouco perante os gigantescos problemas que enfrentamos. Mas esta forma de lidar com as pessoas pode sugerir uma outra forma de lidar com os grandes os desafios.

Por tudo isto queria muito dizer-lhe: muito obrigado, Senhor Presidente. Muito obrigado por nos ter devolvido a nossa dimensão de família. Muito obrigado por ter reabilitado o nosso estatuto de moradores na mesma casa. Durante muito tempo fomos conduzidos a construir fronteiras que nos separavam em pequenas nações dentro da grande Nação moçambicana. Durante muito tempo houve quem sugerisse que havia categorias de moçambicanos, uns mais autênticos que os outros. Ainda hoje sobrevive em alguns esse olhar de polícia de identidades. Ainda hoje há quem avalie os outros pela cor da sua pele, pela cor da tribo, pela cor do seu partido. Ainda hoje, há os que, em lugar de discutir ideias, atacam pessoas. E ainda prevalecem os que, em lugar de procurar soluções, procuram modos de esconder os problemas. Toda esta cosmética foi sendo feita em nome da unidade e do patriotismo. Toda esta encenação de normalidade é uma herança que pedia uma resposta firme. Esta resposta foi trazida por si. Sem grandes proclamações, mas de um modo firme e continuado. Conhecemos hoje essa sua mensagem: podemos ter os recursos que tivermos. Não disso é tão promissor como o nosso património humano feito de tanta gente tão diversa.

O Presidente está a criar uma dinâmica que é bem mais do que uma nova política. É uma nova cultura. E esta cultura pode marcar uma diferença em toda história de Moçambique. Parabéns por quanto já acendeu como esperança, parabéns pelo seu modo paciente, sem recurso ao autoritarismo, sem uso da demagogia fácil. Parabéns pelo caminho iniciado para devolver à política a sua dimensão ética e humana.

Magnífico Reitor, Professor Doutor Lourenço do Rosário

Dizem que os escritores são donos das palavras. Não são. As palavras, felizmente, não tem dono. Às vezes, sinto pena que assim seja. Porque se tivesse esse poder eu o aliviaria das formas de tratamento que são bem mais pesadas que estas minhas novas vestimentas.

Na verdade, o Professor Doutor Lourenço do Rosário não precisa do lustro de um título seja ele qual for. Lourenço do Rosário conquistou um lugar de respeito não apenas na academia mas na sociedade moçambicana como um homem empenhado com a sua gente e com a sua pátria. E essa autoridade moral que vem exercendo na sua função de mediador das conversações no Centro de Conferências Joaquim Chissano. Sabemos como é difícil encontrar, entre nós, personagens capazes de reunir tão amplo consenso. Somos uma nação que foi convidada a assumir-se em dualidades extremas. Os que defendem a lucidez da isenção foram sempre olhados com desconfiança.

As suas recentes palavras são um alerta para quem se esquece que o país não pertence a nenhum partido. Eu vou reproduzir essas suas palavras com o risco de o estar a citar por via dos jornais (e os jornais são mais criativos do que qualquer escritor). O Professor terá dito: “No fundo, o partido da oposição está a revelar a sua pretensão em cumprir aquilo que a gíria popular chama de “chegou a nossa vez”.

Traduzindo as suas palavras na linguagem da oralidade que Professor Rosário tão bem conhece o resultado poderia ser assim: é que para uns, a política é uma panela. É preciso comer muito e rápido porque a colher é muito disputada e a refeição pode durar pouco. Para outros, contudo, a política ainda é a nobre arte de servir os outros, a política ainda é a missão de colocar acima de tudo os interesses de todos. Possivelmente quem tanto reclama contra a partidarização não está contra o princípio em si mesmo. Quer, sim, partidarizar a dois. Não me importa o nome dos partidos. A minha questão não é tanto de ordem política que, para isso, pouca vocação me resta. É uma objecção de natureza moral. Importa-me como cidadão que persista, em alguns dirigentes moçambicanos, a ideia de que Moçambique é um quintal privado. Um quintal cujo destino é ser parcelado, conforme interesses e conveniências.

Permita-me Senhor Reitor que, apesar da solenidade deste acto, o trate pelo qualificativo mais honroso que conheço que é o de “professor”. Não existe outro título que a mim mais me honre. Durante anos, dei aulas em diferentes faculdades em Maputo. Ainda hoje, passados quase dez anos, esses meus alunos passam por mim e tratam-me por professor. Não podem imaginar o quanto isso me comove e quanto receio não ter tamanho para encher aquela palavra. Professor não é quem dá aulas. É quem dá lições. Não é aquele que vai à escola ensinar. É aquele cuja vida é uma escola.

Pois o nosso Professor Lourenço do Rosário chamou-me há uns meses para me comunicar que a Universidade Politécnica me tinha escolhido para receber este grau académico. Ele confessou que receava que eu não aceitasse esta distinção. Não sou uma pessoa de títulos, nem de honrarias. Mas não fui capaz de dizer que não. Por causa da pessoa que me falava, por causa da instituição que ele representava. Ainda tive coragem de lhe perguntar: mas a cerimónia vai ser com protocolos de fardas, discursos e chapéus? E ele respondeu laconicamente: vai ter que ser. E aquele “vai ter que ser” não deixava espaço para negociação.

Demorei meses a me habituar à ideia desta tão solene solenidade. Quando pensava que já me tinha conciliado com o fantasma das vestimentas, aconteceu um pequeno e infeliz incidente. É que tive a triste ideia de mostrar aos meus netos fotografias de uma outra cerimónias de doutoramento. E um deles, entusiasmado, perguntou: mas, avô, vais ter que vestir estas saias compridas? Pois eu quero aproveitar este momento para tranquilizar a minha querida companheira, a Patrícia, que está ali sentada e dizer-lhe o seguinte: Patrícia, por baixo destas longas saias continua a estar um homem de calças.

Quero falar ainda de Luis Bernardo Honwana, o meu padrinho. A palavra “padrinho” ganhou nos dias de hoje uma conotação deslustrosa e, a partir de agora, haverá mesmo, meu caro Luís Bernardo, quem te peça para dares um jeito e arranjes umas vestimentas para algum amigo carente de títulos. Quero dizer, no entanto, que, no teu caso, me reencontro plenamente naquilo que é a etimologia da palavra “padrinho” que é o guia e de norteador. Na verdade, há muito que o Luís Bernardo, sem o saber, vem cumprindo esse papel de modelo na minha actuação como escritor e como pessoa. É preciso repetir aqui o quanto nós, escritores moçambicanos, somos devedores a Luís Bernardo. O que ele nos deixou como legado é bem mais do que ele escreveu. É uma espécie de manifesto inaugural, uma instauração de caminhos que nós depois viemos a trilhar. Luís Bernardo Honwana, José Craveirinha, Noémia de Souza e o João Dias foram os primeiros 4 vértices dessa construção de vozes que, a um certo momento proclamaram: nós queremos escrever a história com a nossa própria caligrafia. Luís Bernardo, bem sei que és avesso a estes tratos: mas eu não posso deixar de expressar a minha infinita gratidão por seres quem és: uma figura tutelar e inspiradora na escrita, na vida e no pensamento.

Há aqui algo que devo ainda revelar: comecei a trabalhar como jornalista exatamente no mesmo jornal em que LBH se havia iniciado também como repórter. Esse jornal chamava-se a TRIBUNA. Aquele foi um tempo muito curioso porque havia um jogo de descobertas. Havia um jornalismo que andava à procura do seu próprio país; mas havia também um país que andava à busca de um jornalismo que fosse seu. E essa dupla procura pedia um jornalismo feito paredes meias com a literatura. Não foi por acaso que não apenas o Luís Bernardo mas José Craveirinha, Rui Knopfli, Carneiro Gonçalves e o Luis Carlos Patraquim foram todos eles jornalistas e escritores. Eu devo muito a essa gente, a esse ambiente de inconformismo que reinava na redação dos jornais. Recordo o primeiro dia que me apresentei na redacção e fui chamado por alguém que eu venerava como poeta e que era o Rui Knopfly. E ele perguntou: queres ser jornalista? E antes mesmo de eu responder ele passou-me uma folha de papel. Nessa folha estava reproduzida uma frase de um cantor norte americano chamado Frank Zappa. E a frase dizia o seguinte: “o jornalismo de hoje consiste em colocar jornalistas que não sabem escrever, entrevistando pessoas que não sabem falar, para pessoas que não sabem ler. ” Foi um bom começo de profissão.

Lembrou Luis Bernardo Honwana os meus pais. E estou grato por essa lembrança que faz justiça à história da minha família. Tudo o que sou vem daí, aquela é nascente do meu Tempo e do tempo dos filhos, dos netos e dos que vierem depois. O mundo em que nasci e me fiz homem alimentava-se do preconceito. Criava muralhas para separar e graduar as raças. As muralhas não ofendiam apenas os que ficavam do lado de lá. Os do lado de cá, convertiam-se eles mesmos em estereótipos. Éramos, de um e do outro lado, diminuídos pelo medo e pelo desconhecimento. Acreditamos que o efeito dos preconceitos raciais e tribais é o de tentar desvalorizar uma outra raça. E isso é verdade. Esses preconceitos resultam também numa outra pérfida consequência que é a negação da existência de pessoas singulares, cada uma com a sua identidade própria. Eis o que faz o racismo, o sexismo e o tribalismo: cada pessoa deixa de ser uma criatura única, passando a ter a identidade do seu grupo. Deixa-se de ter um rosto, uma voz, uma alma: passamos a ser identificados por um rótulo geral: os negros, os brancos, os matsuas, os macuas, os do Norte, os do Sul. Fala-se de alguém e há uma voz que diz: ah, já sei como ele é, conheço esses tipos.

Caros amigos

Irei falar sobre a erosão dos valores morais e de como pode um escritor ajudar na reabilitação do tecido moral da sociedade.

Escolhi este tema porque não conheço ninguém que não se lamente da perda de valores morais. Este é um assunto sobre o qual temos um imediato consenso nacional. Todos estão de acordo, mesmo os que nunca tiveram nenhum valor moral. E até os que tiram vantagem da imoralidade, até esses, depois de lucrarem com da ausência de regras, se queixam que é preciso travar a falta de decoro.

Um dos caminhos que nos pode ajudar a resgatar essa moral perdida pode ser o da literatura. Refiro-me à literatura como a arte de contar e escutar histórias. Falo por mim: as grandes lições de ética que aprendi vieram vestidas de histórias, de lendas, de fábulas. Não estou aqui a inventar coisa nenhuma. Este é o mecanismo mais eficiente e mais antigo de reprodução da moralidade. Em todos os continentes, em todas as gerações, os mais velhos inventaram narrativas para encantar os mais novos. E por via desse encantamento passavam não apenas sabedoria mas uma ideia de decoro, de decência, de respeito e de generosidade.

Há certa de trinta anos atrás Graça Machel – que era então Ministra da Educação – convocou um grupo de escritores para lhes dizer que estava preocupada. Estou preocupada, disse ela, estamos a ensinar nas escolas valores abstractos como o espírito revolucionário, do patriotismo, o internacionalismo. Mas não estamos a ensinar valores mais básicos como a amizade, a lealdade, a generosidade, o ser fiel e cumpridor da palavra, o ser solidário com os outros. E ela pediu-nos que escrevêssemos histórias que seriam publicadas nos livros de ensino. Graça Machel tinha a convicção que uma boa história, uma história sedutora, é mais eficiente do que qualquer texto doutrinário.

Eu queria ilustrar o poder das histórias com dois pequenos exemplos. Nestes próximos momentos partilharei convosco duas vivências e o modo como essas experiências produziram em mim duradouras lições.

O primeiro episódio – uma nação à procura de um hino

Ainda há pouco entoamos nesta sala o Hino Nacional. Este hino tem uma história e eu estou ligado a essa história. Aconteceu assim: no início da década de 80, Samora Machel decidiu que o Hino Nacional então vigente deveria ser mudado. Ele tinha razão: a letra era mais um louvor à própria Frelimo do que de uma exaltação da nação moçambicana. Estávamos ainda longe do multipartidarismo, mas Samora tomou essa decisão. E nessa maneira que era a sua, “requisitou” 4 poetas e 5 músicos e fechou-os numa moradia na Matola com a incumbência de produzirem não uma, mas várias propostas de hinos. Eu era um dos 4 poetas. Eram tempos de guerra, a única coisa que havia nas lojas eram prateleiras vazias. Todos os dias saímos de casa com uma única obsessão: o que trazer para comer para a nossa família. Pois, nessa altura, de repente, estávamos numa casa com piscina, rodeado de mordomias e servidos de comida e bebida. Confesso que nos primeiros dias ficamos de tal modo fascinados que pouco trabalhávamos. Quando, a meio da tarde, escutávamos as sirenes dos carros dos dirigentes nós corríamos para o piano e improvisávamos um ar de grandes cansaços. Ao fim da tarde, eu e os meus colegas entregávamos às nossas esposas que nos vinham visitar, recipientes com a comida que cada um de nós tinha poupado durante o dia. E foi assim que, ao fim de uma semana, produzimos uma meia dúzia de hinos que foram ensaiados por um grupo coral e apresentados a uma comissão avaliadora. Havia duas propostas que mereciam a nossa preferência: uma delas era esta que agora é o nosso hino nacional, a Pátria Amada. A outra era baseada numa composição do maestro Chemane e tinha um estribilho que dizia: “Pátria de heróis! Levanta a tua voz! Viva Moçambique, povo unido, A estrela do amanhã brilhará!” O grupo coral que apresentou esta proposta em vez de Pátria de Heróis cantava: “Pátria de arroz” e a proposta ficou esquecida.

O que sucedeu é que, por razão que desconheço, a iniciativa de Samora não teve seguimento. Samora morreu, o grupo de artistas foi desfeito e cada um de nós voltou para a bicha à espera do repolho e do carapau. E nunca mais nos lembramos do que havíamos feito.

Uma década depois, o novo parlamento pluripartidário procurava um novo hino nacional. E eu fiz parte de um grupo de trabalho criado pela Assembleia da República. Esse grupo juntava pessoas apontadas pelo Partido Frelimo e pela RENAMO. Devo dizer que trabalhamos de facto juntos, num ambiente de concórdia tal que nos esquecíamos de que representávamos duas forças rivais. Fizemos dois concursos públicos mas as propostas recebidas eram todas elas muito fracas. O falecido Albino Magaia publicou então um artigo relembrando os hinos que, dez anos antes, um grupo de artistas havia criado. E foi assim que se resgataram esses registos quando estávamos nos últimos dia de trabalhos da assembleia. Escolhemos o Patria Amada com algumas dúvidas. O que não havia dúvida, porém, era que se o hino não fosse aprovado naquele dia, ter-se-ia que esperar pela próxima sessão meses depois. E aquela era uma questão de enorme sensibilidade e urgência.

Pois nesses derradeiros momentos, os colegas da RENAMO colocaram objecções sobre algumas passagens da letra. Para dizer a verdade, a maior parte dessas objeções tinha sentido. porque alguns dos versos daquela letra eram realmente marcados pelo tempo de revolução. Já não se exaltava nenhuma força política. Mas falava-se de proletários, falava-se no Sol vermelho. Pedi ao grupo de trabalho uns minutos e, ali num quarto ao lado, alterei as passagens que suscitavam polémica. Foi ali que surgiu o “Sol de Junho”, por exemplo, para substituir o Sol Vermelho. E o hino foi aprovado pelo grupo e transferido para debate entre os deputados.

Curiosamente uma das passagens que suscitou mais objecções foi essa que diz “Nós juramos por ti Moçambique, nenhum tirano nos irá escravizar”. Alguns deputados achavam que aquilo não devia estar ali. Porque, segundo eles, nunca teríamos em Moçambique a ameaça de um tirano. Todos os países do mundo podem sofrer essa eventualidade. Nós, não. Não imagino como se pode sustentar essa certeza. Subsiste a ideia ingénua que nós, moçambicanos, estamos, por qualquer razão divina, acima dos comuns mortais. Mas nós somos humanos e existirão entre nós aqueles, que na ganância do mandar, já são tiranos antes mesmo de conquistarem o Poder. Ainda bem, caros amigos, que essa estrofe não foi retirada. Há muitos modos de ser tirano. Há vários modo de ser escravo. E é bom que o nosso hino nos encoraje a não aceitar nenhum forma de tirania ou de escravatura.

Segundo episódio – O não discurso de Samora

No Quarto Congresso da Frelimo, em 1983, fui designado como responsável do Gabinete de Imprensa. Nós, os jornalistas, ficávamos confinados a um compartimento envidraçado, numa espécie de aquário suspenso sobre a grande sala. Na altura, nós já produzíamos emissões de televisão para além, é claro, da rádio e dos jornais. Logo no inicio dos trabalhos, Samora Machel subiu ao pódio para usar da palavra. Trazia consigo o Relatório do Comité Central que era, à maneira dos partidos revolucionários, um documento volumoso. Assim que começou a ler, Samora teve uma breve hesitação, colocou os papéis na bancada e falou de improviso. Foi um improviso breve mas o que ele disse foi, para mim, mais importante e mais duradouro que o extenso relatório do Comité Central. Inclinado sobre o pódio, como se ganhasse a proximidade de uma confidencia, Samora convertei a solene Sala de Congressos num espaço com intimidade familiar. E falou do seu sentimento de estranheza ao ver-se como um ex-guerrilheiro agora rodeado de facilidades, cercado pelas obrigações protocolares e de segurança de um palácio presidencial. E disse mais, falou daquilo que ele chamou das “balas doces do inimigo”. Referia-se às formas mais subtis de sedução e de corrupção que, no seu entender, eram mais perversas que as verdadeiras balas. E ele interrogou-se se os seus companheiros estariam preparados realmente para esse embate, se estavam preparados para enfrentar as balas de açúcar. A sala estava suspensa naquela confidência. A rádio e a televisão transmitiam em direto aquele desabafo do Presidente. E escutavam-se não só as palavras mas os silêncios e a respiração inquieta do presidente. Naquele momento, um oficial do protocolo entrou na Gabinete de Imprensa e entregou-me um papel com uma instrução rabiscada que dizia: interrompam imediatamente a transmissão. Aquilo foi, para mim, um balde de água fria. Porque me parecia, como jornalista e como cidadão, que estava ali a acontecer tinha um alcance didático que não poderia ser recuperado se perdêssemos a transmissão. Mas havia naquele bilhete uma ordem que eu não tinha modo de refutar. Ocorreu-me uma pequena manobra de diversão. Eu queria apenas uns minutinhos adicionais. Quem sabe o Presidente não usasse mais que esses minutos? E escrevi o seguinte nas costas no bilhete: desculpe, não entendo bem a assinatura, não se importa de identificar melhor, afinal é o Presidente quem está falar…. Dobrei muito lentamente a folha e pedi ao mensageiro do protocolo que fosse de volta. Aquele vai e vem deu-me tempo para que o presidente terminasse o seu improviso em transmissão direta.

De toda a minha carreira de onze anos de jornalismo talvez tenha sido este o momento maior. Porque estava ali um dirigente de uma nação que se despia do seu estatuto infalível e partilhava não uma certeza, mas a confissão de uma insegurança, de um fragilidade. Estava ali não um líder revolucionário discursando em voz alta, mas um homem dobrado pela angústia e murmurando dúvidas sobre o quanto valera a pena toda a sua luta.

Durante um intervalo desse mesmo congresso tive a oportunidade de me sentar com um grupo de veteranos da luta de libertação nacional. E eles foram relatando como saíram clandestinamente do país para se juntarem à luta nacionalista. Alguns desses homens confessaram que o principal motivo da sua fuga não era a libertação da pátria. O que os movia a sair de Moçambique era poderem estudar. E quando, na Tanzania, receberam a notícia que, em vez de estudar, iriam combater esses militantes foram assaltados por dilacerantes dúvidas. Alguns pensaram em desertar e fugir dos campos de treino. Foi isto que confessaram. E eu pensei que havia mais coragem naquela confissão, do que em toda a sua arriscada odisseia. Aquelas pequenas histórias humanizavam a narrativa solene e oficial que apresenta a epopeia dos nacionalistas como um desfile de super-homens. Afinal, o ninguém nasceu herói. Ele cresceu, teve duvidas, sentiu medo. A bravura maior não está no modo como combateu aos outros. A grande coragem está no combate interior, esse que fazemos para nos superar a nós mesmos.

Falei-vos há pouco dessa proposta de hino chamada Pátria de heróis que foi entoada como Pátria de Arroz. Lembro-me que, na altura, até gostei do equívoco dos cantores, porque me vieram à memória as palavras de Albert Camus quando recordava a Argélia onde ele nasceu e dizia: “Pobre do país que precisa de heróis”.

Naquela altura achei que talvez fosse preferível uma pátria de arroz a uma pátria de heróis. A verdade é que a nossa epopeia nacional foi apropriada por um discurso vazio de exaltação patrioteira.

O resultado é que as nossas ruas e praças estão recheadas de nomes de heróis. A esses heróis, porém, falta-lhes rosto, falta-lhe voz, falta-lhes vida. Herdámos uma história heroica de heróis sem história. Só temos a História com H maiúsculo. Faltam-nos as pequenas histórias, falta-nos os pequenos episódios que seduzem a imaginação e sustentam a memória.

Caros amigos

Um dia destes, um jovem funcionário propôs-me o pagamento de um suborno para emitir um documento. Aquilo não correu bem porque ele, num certo momento, reconheceu-me e recuou nos seus propósitos.

Para se redimir o jovem explicou-se da seguinte maneira:

– Sabe, senhor Mia eu gostava muito de ser uma pessoa honesta, mas falta-me o patrocínio.

Não será exatamente o patrocínio que nos afasta da honestidade. O que nos falta é criar uma narrativa que prove que a honestidade vale a pena. Houve quem confundisse o combate contra a pobreza absoluta pelo combate pela ganância absoluta. Sugeriram-nos que a auto estima pode ser resolvida pela ostentação do luxo.

Uma certa narrativa quer ainda provar que vale a pena mentir, que vale a pena roubar, e que vale a pena tudo menos ser honesto e trabalhar. Aliás, a palavra “trabalho” suscita fortíssima alergias. Pode-se ter negócios, pode-se ter projetos. Mas ter um trabalho isso é que nunca. Que o trabalho leva muito tempo e, além disso, dá muito trabalho. Mas, no fundo, todos sabemos: enriquecer rápido e sem esforço só pode ser feito de uma maneira: roubando, vigarizando, corrompendo e sendo corrompido. Não existe, no mundo, inteiro, uma outra receita.

Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco desempenho académico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem referências morais. Estamos empenhados em assuntos como o empreendedorismo como se todos os nossos filhos estivessem destinados a serem empresários. Ocupamos em cursos de liderança como se a próxima geração fosse toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em preparar os nossos filhos em serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do seu país, bons cidadãos do mundo.

Escrevi uma vez que a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui promovido..,) . Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas. Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos vídeo-clips que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem.

É preciso remar contra toda essa corrente. É preciso mostrar que vale a pena ser honesto. É preciso criar histórias em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi escolhido não foi o mais arrogante mas o mais tolerante, aquele que mais escuta os outros. Histórias em que o herói não é o lambe-botas, nem o chico-esperto. Talvez essa histórias sejam o tal patrocínio que faltou ao nosso jovem funcionário.

Tudo isto é urgente e imperioso. Porque nós estamos na eminência de desacreditar de nós mesmos. Todos nós já escutámos de alguém a seguinte desistência: não vale a pena, nós somos assim. Nós somos cabritos à espera de ser amarrados num qualquer pasto. Estamos a aprender a desqualificarmo-nos. Estamos a replicar o racismo que outros inventaram para nos despromover como um povo de qualidade moral inferior.

E vou terminar partilhando um episódio real que foi vivido por colegas meus. Depois da Independência, um programa de controlo dos caudais dos rios foi instalado em Moçambique. Formulários foram distribuídos pelas estações hidrológicas espalhadas pelo país. A guerra de desestabilização eclodiu e esse projeto, como tantos outros, foi interrompido por mais de uma dúzia de anos. Quando a Paz se reinstalou, em 1992, as autoridades relançaram esse programa acreditando que, em todo o lado, era necessário recomeçar do zero. Contudo, uma surpresa esperava a brigada que visitou uma isolada estação hidrométrica no interior da Zambézia. O velho guarda tinha-se mantido ativo e cumprira, com zelo diário, a sua missão durante todos aqueles anos. Esgotados os formulários, ele passou a usar as paredes da estação para registar, a carvão, os dados hidrológicos. No interior e exterior, as paredes estavam cobertas de anotações e a velha casa parecia um imenso livro de pedra. Ao receber a brigada o velho guarda estava à porta a estação, com orgulho de quem cumpriu dia após dia: acabou-se o papel, disse ele, mas o meus dedos não acabaram. Este é o meu livro. E apontou para a casa.

E esta é a história com que termino.

Por Mia Couto

A educação deve ser pensada durante a vida inteira’, diz Zygmunt Bauman

A educação deve ser pensada durante a vida inteira’, diz Zygmunt Bauman

“Nosso sistema educacional é um poderoso mecanismo de, cada vez mais, reproduzir os privilégios entre gerações”, diz Zygmunt Bauman em entrevista ao jornal O Globo. Criador do conceito de modernidade líquida, forjada pelas relações efêmeras do presente, o célebre filósofo fará uma conferência magna no encontro Educação 360, no dia 12 de setembro, no Rio de Janeiro. Nesta entrevista, ele reflete sobre o aprendizado e os desacertos da sociedade em relação ao ensino. Leia abaixo:

Qual a diferença entre educar na era pré-moderna e na modernidade líquida dos dias atuais?
Zygmunt Bauman: Muita coisa se transformou no trabalho dos professores. Como o educador E. O. Wilson observou, “estamos nos afogando em informação e, ao mesmo tempo, famintos por sabedoria”. A cada dia, o volume de novas informações excede milhões de vezes a capacidade do cérebro humano de retê-las. A mudança da sociedade moderna de sólida para um estágio líquido coincide, segundo a terminologia de Byung-Chul Han (teórico sul-coreano), com a passagem da “sociedade da disciplina” para a “sociedade de desempenho”. Esta última é, principalmente, a sociedade de desempenho individual e da “cultura de afundar ou nadar sozinho”. Mesmo indivíduos emancipados descobrem que eles mesmos não estão à altura das exigências da vida individualizada.

Então, é preciso mudar esse pensamento individualizado?
Zygmunt Bauman: Nosso sistema educacional é um poderoso mecanismo de, cada vez mais, reproduzir os privilégios entre gerações. Nos Estados Unidos, 74% dos estudantes que frequentam as universidades mais competitivas vêm das famílias mais ricas, e 3%, das mais pobres. Além disso, muitas escolas e universidades induzem à fácil ideologia de que empregos bem remunerados são os únicos objetivos da universidade. Esses são apenas uns dos desafios, erros e negligências da educação contemporânea.

E como será no futuro?
Zygmunt Bauman: Uma coisa certa é que, num cenário líquido, rápido e de mudanças imprevisíveis, a educação deve ser pensada durante a vida inteira. O resto vai depender de nossas escolhas dentro do que é possível para essa obrigação. E deixa eu enfatizar que esse “nós” que faz as escolhas não é limitado aos profissionais de educação. Para citar Will Stanton (professor australiano), que nos mantém alerta de que há muitos que pretendem ensinar nossos filhos apenas a obedecer: “Devemos aceitar autoridade como verdade em vez da verdade como autoridade”. Ele ainda diz: “O que é a mídia mainstream se não outra plataforma de ‘educação’ defendendo a autoridade como verdade? Nós sentamos em frente ao noticiário noturno e escutamos âncoras e repórteres nos dizendo o que pensar, a quem apontar nossos dedos, porque nosso país precisa ir para a guerra e com o que a gente deve se horrorizar”. Considere ainda o tremendo impacto da indústria da publicidade em nós mesmos ou no que as crianças aprendem ou no que elas foram levadas a esquecer. Por exemplo, crianças não nascem inseguras. A publicidade é que as deixa apavoradas com o que as outras pessoas pensam delas.

O sucesso mundial das redes sociais é um produto da modernidade líquida ou aspecto transformador dela?
Zygmunt Bauman: As duas coisas. Nós estamos seduzidos pelos recursos das mídias digitais por causa do nosso medo de sermos abandonados. Mas uma vez imerso na rede de relações on-line, que tem uma falsa ideia de ser facilmente manuseada, nós perdemos ou não adquirimos habilidades sociais que poderiam (e deveriam) nos ajudar a extirpar as causas dos medos que vêm do mundo off-line. Assim, as redes sociais são, simultaneamente, produto da modernidade líquida e a sua válvula de escape.

O senhor afirma que o fato de a educação superior não garantir mais ascensão social é um problema para a educação tal qual conhecemos. Qual a solução para esse problema?
Zygmunt Bauman: Ascensão social é uma sinfonia, não um canto gregoriano monofônico. A educação superior é apenas um dos muitos sons que se fundem na melodia, e um dos muito poucos instrumentos que contribuem para sua evolução. Nós configuramos o problema e torcemos por soluções, como o ensino superior, porque alguns desses “nós” que se preocupam, pensam e escrevem sobre o problema têm ensino superior e passaram anos sendo ensinadas que vivemos em uma “sociedade do conhecimento” que continua sendo transformada pelo tipo de conhecimento definido, armazenado e distribuído por universidades. Isso não é necessariamente correto — pelo menos até quando isso permanecer sem ressalvas. O que nós percebemos como ascensão social é um rio cuja trajetória resulta de vários afluentes. Mais e mais pessoas por trás das mudanças sociais que chamamos de “ascensão” desistiram da universidade ou nunca entraram nela.

Em seu novo livro, “A riqueza de poucos beneficia todos nós?”, o senhor reflete sobre as desigualdades sociais. Qual é o papel da educação nesse contexto?
Zygmunt Bauman: O sistema universitário de hoje foi incorporado pela economia de mercado capitalista. Ele serve como um outro mecanismo na reprodução de privilégios e aprofundamento das desigualdades sociais. Como diz Fareed Zakaria (escritor americano), enquanto um rapaz de 18 anos da Califórnia recebia a melhor educação possível nos anos 60 “sem qualquer custo”, no ano passado os alunos precisavam pagar uma taxa de matrícula de US$ 12.972 se tivessem nascido no estado; se não, o valor sobe para US$ 22.878 (sem incluir custo de moradia e alimentação; o valor total do momento da matrícula até o diploma ficaria perto de US$ 50 mil por ano para não residentes). Poucos entre os milhões de pais amorosos e cuidadosos têm possibilidades de garantir um valor dessa magnitude.

Por BRUNO ALFANO
Fonte indicada: O Globo

Dica de livro: Como curar suas feridas emocionais

Dica de livro: Como curar suas feridas emocionais

Informações Técnicas

Autor(a): Guy Winc
Título: Como Curar Suas Feridas Emocionais
Subtítulo: Primeiros Socorros para a Rejeição, a Culpa, a Solidão, o Fracasso, e a Baixa Autoestima
ISBN: 9788543101033
Páginas: 272
Editora: Sextante
Ano: 2014
Onde encontrar: Submarino, Saraiva, Cultura

 

Acostumado a ver seus pacientes sofrendo por problemas emocionais, o terapeuta Guy Winch se perguntava se haveria uma forma de ajudá-los a aliviar essa dor antes que ela se tornasse mais grave, como um kit de primeiros socorros psicológicos a que pudessem recorrer para superar as decepções do dia a dia.

Assim, debruçando-se sobre as pesquisas científicas mais atuais no campo da psicologia, ele desenvolveu técnicas práticas para ajudar seus pacientes a lidar sozinhos com algumas das adversidades emocionais mais comuns: culpa, rejeição, fracasso, perda, pensamentos obsessivos, baixa autoestima e solidão.

contioutra.com - Dica de livro: Como curar suas feridas emocionais
Neste livro, ele apresenta os melhores tratamentos para cada um desses males psicológicos, mostrando como identificá-los, como vencê-los e até mesmo quando é necessário largar o livro e procurar ajuda profissional.

Com uma abordagem bem-humorada e realista, Como curar suas feridas emocionais traz diversos estudos de caso que vão fazer o leitor se identificar e descobrir que atitudes tomar em sua própria vida.

E, o mais importante: vai mostrar que até as dores mais intensas, quando vistas de outra perspectiva, podem trazer ensinamentos fundamentais para a jornada rumo à felicidade.

Onde encontrar: Submarino, Saraiva, Cultura

Ela dança como se não houvesse ontem – sobre  demência e Alzheimer

Ela dança como se não houvesse ontem – sobre  demência e Alzheimer

Ela lembrava de todas compras que precisava fazer naquele dia. Também lembrava das notas que eu precisava tirar para passar de ano. Ela lembrava de uma malcriação feia que eu fiz e a magoou muito, em uma noite de Natal. E lembrava que a conta do telefone iria vencer no dia 16. E por toda a vida foi assim, a mulher que foi a minha referência,  que trabalhava fora, que cuidava da casa, era vaidosa e bem cuidada, bastante religiosa e faladeira como toda geminiana é. Herdei o signo dela, mas nem tanto a memória. Preciso ter tudo anotado e rabiscado depois de cumprido.

Hoje, ela ainda lembra de mim, mas me recebe com um sorrisão e fala alto: Minha mamãe chegou! Não lembra mais a mulher que foi, não lembra quem é direito, não lembra de quase nada. Hoje só gosta de dançar. E dança muito. E quase não dançava quando era mais nova, quando lembrava de tudo. Era sisuda, brava,  não tinha conversa mole com ela.

Um dia, ela esqueceu uma coisa. No outro, falou uma bobagem que fez todos rirem. E a mulher sisuda aos poucos foi se desfazendo, e dessa mulher agora quase nada resta. Em seu lugar, mora uma criança de 86 anos, que dá risada quando se dá conta que está de fraldas, que abraça e beija qualquer pessoa que queira seu carinho, que esqueceu e fez todos esquecerem de quem ela realmente já foi.

No começo foi muito difícil, quase impossível suportar. Inúmeras tentativas de trazê-la de volta. Mas de onde para onde? E ela olhava com os olhos perdidos, sem nada entender. E todos sofriam. Mas o tempo passa, a doença avança, e a gente finalmente entende que a guerra acabou. E não é uma guerra propriamente perdida. É acabada mesmo, porque um dos lados simplesmente deixou de lutar e aceitou, e aprendeu a conviver com as mudanças que o lado mais forte imputou. Nós, os parentes, a torcida,  é que demoramos mais do que deveríamos para perceber o tratado de paz que a vida impôs.

A mulher que me conhece melhor do que ninguém, hoje por vezes me desconhece, não mora mais conosco, precisa de cuidados, mas a cada visita eu conheço uma mulher nova, mais infantil, mais inocente. E em todas essas mulheres, eu me reconheço um pouco. Continue dançando, Mãe!

Qual a sua zona cinza?

Qual a sua zona cinza?

Por Sylvio Ribeiro

Você se considera flexível desde que as coisas sejam feitas do seu jeito e é mais fácil nevar em Recife do que convencer você a fazer o que não está afim. Agora responda, com que frequência você faz concessões com o único objetivo de pegar leve, deixar a vida te levar pelo menos 2 horinhas de um sábado à noite?

Falo com tanta convicção porque todos nós somos assim, uns menos outros sempre, mas somos assim, e se não estivermos atentos, nos tornaremos pessoas chatas, amargas e que deixará escapar pequenos grandes momentos da vida.

No verão deste ano, eu tive uma das melhores férias da minha vida. Não viajei para Europa ou conheci uma cidade diferente no Brasil, eu fui para a minha cidade natal com a mulher da minha vida. Pela primeira, vi a minha família reunida em sua totalidade. Minha mãe com seus três filhos, dois genros, uma nora e dois netos. Havia dois anos que eu não via minha irmã mais nova e era a primeira vez que a minha namorada visitava a cidade. Um dos primeiros passeios que fizemos foi visitar um parque ecológico que levamos mais de 2 horas para chegar. Chegamos famintos e como e como era de se esperar, todos os pratos eram com peixe, camarão ou frango. Como vegetariano, normalmente eu teria ficado indignado e me alimentaria apenas de arroz. Mas vendo que não tinha outra alternativa e estava rodeado das pessoas que mais amo e só vejo uma vez por ano, pedi um vatapá (prato típico feito com dendê, camarão e folhas. Não é o mesmo servido na Bahia).

queles camarões foram os únicos pedaços de carne que eu ingeri em anos (e estavam deliciosos, admito). Essa exceção, ou concessão que você faz em determinada circunstância é o que os americanos chamam de gray area. Achei o termo “zona cinza” interessante desde a primeira vez que li em um livro do Jonathan Safran Foer. Interessante, mas não dei bola. Tempos depois pesquisando sobre isinglass (um componente animal presente em algumas cervejas) encontrei uma blogueira americana falando sobre a sua zona cinza Novamente, continuei não dando bola.

O que acontece quando um vegetariano convicto ama uma onívora inveterada? A 3ª Guerra Mundial! É um restaurante que não tem nada sem carne, um churrasco entre amigos que faz você levar comida de casa, uma receita que precisa ser modificada e por aí vai. Foi então que comecei a pensar na minha zona cinza, porque essas situações incomodavam ela e, consequentemente, a mim. Quais concessões eu poderia fazer, esporadicamente, que não comprometesse as minhas crenças nem o meu relacionamento? Eu poderia comer um pedaço de peixe a cada 2 meses, não poderia? Iria morrer por isso? (O The New York Times inaugurou uma nova coluna semana passada, chamada The Flexitarian, abordando justamente essa flexibilidade alimentar.) Decidi que não comeria carne vermelha e evitaria o frango, mas peixe e camarão eu abriria exceção de vez em quando. Também passei a permitir o uso de caldo de galinha quando ela cozinha. Cintos e sapatos de couro continuarão na zona cinza, devido a sua alta durabilidade. Para a blogueira americana, marshmallows faziam parte da sua zona cinza, para mim não. Você pode achar tudo isso uma besteira, mas todo mundo tem convicções que são uma tremenda besteira para os outros. E já que provavelmente você não é vegetariano, então pense na zona cinza como uma pergunta: O que você se permite fazer?

As zonas cinzas estão diretamente ligadas às nossas convicções. Acho importante termos um estilo musical definido, um jeito de vestir próprio e sem dúvida ter opinião própria é fundamental. Mas ninguém suporta alguém chato que não muda de ideia, não cede, não abre uma exceção sequer. Ter zonas cinzas ajudam você a ser mais flexível sem abrir mão dos seus gostos e convicções, elas definem até onde você pode ir. Por exemplo, se eu não gosto de pagode, mas se todos os meus amigos estiverem indo em uma ocasião especial, não vale à pena?.

Precisamos de convicções tanto quanto precisamos de flexibilidade, seja na alimentação, na música, no trabalho, no relacionamento. Precisamos nos esforçar para ver o lado positivo das coisas que não gostamos, isso é realmente difícil, mas um dos maiores valores que o ser humano pode ter. As últimas ditaduras do mundo estão caindo, vivemos em uma época onde há espaço para todos, e não é divertido ficar trancafiado no nosso mundinho se recusando a experimentar o que os outros têm de bom. Permita-se. Essa é a palavra da vez. Seja flexível, é a única maneira de garantir que você não vai quebrar.

Fonte indicada: Pequeno Guru

10 maneiras simples de economizar dinheiro este mês

10 maneiras simples de economizar dinheiro este mês

Um dinheirinho extra para passar o mês é o desejo de todo mundo, mas conseguir esse verdadeiro milagre é o que pouca gente consegue.

Ter um controle sobre os gastos é fundamental, mas controlar o desejo de comprar qualquer coisa é tão importante quanto. Não basta você registrar todos os seus gastos se não controlar o impulso de comprar algo que lhe chame a atenção.

Algumas atitudes podem sim ajudar a fazer uma economia e ter um dinheirinho a mais na mão para tornar aquele sonho real.

Veja o que você pode fazer a partir de agora:

1. Pechinche

Não é vergonha nenhuma chorar um desconto quando você precisar comprar alguma coisa. Hoje em dia até é muito mais comum as pessoas não concordarem com o preço de venda e negociarem um certo desconto pelo produto ou serviço. Qualquer que seja o valor pechinchado você já terá feito uma economia.

2. Marmita

Se você trabalha ou estuda os gastos com alimentação fora de casa devem fazer parte de seu orçamento mensal, e você bem sabe que o valor deste tipo de despesa é alto. Sendo assim, opte pela velha e antiga marmita, além de consumir produtos saudáveis com tempero caseiro você também sentirá a diferença em seu bolso.

3. Gastos desnecessários

Pense, pra que ter um pacote de televisão completo com todos os canais se você nem consegue ao menos ter tempo para sentar e assistir a um jornal na TV aberta? Será realmente que faz sentido manter este tipo de despesa? E seu pacote de telefonia celular, está adequado ao seu tipo de uso? Pare para pensar e adeque sua vida com suas necessidades reais.

4. Planeje suas compras

Evite sair para o mercado com fome, ao contrário, planeje um cardápio semanal e leve uma lista ao mercado das coisas necessárias para que você possa cumprir seu cardápio. Assim você vai ver como o valor gasto com despesas de supermercado vão diminuir.

5. Economize

Já parou para pensar em quantas saídas de carro você faz que são mal planejadas? Se você planejar melhor o seu dia poderá percorrer menos quilômetros e gastar menos combustível economizando um pouco mais com este tipo de despesa.

6. Produtos de limpeza

É possível sim economizar com este tipo de produto. Da próxima vez que for limpar sua casa se atente para aqueles produtos que são caros, mas que fazem o mesmo efeito de um mais simples. Água Sanitária e cloro são produtos que podem muito bem ser usados para limpar banheiros e cozinhas sem que você gaste horrores com produtos que prometem a mesma eficiência.

7. Água e luz

Evite o gasto desnecessário, reduza o tempo de banho, junte mais peças de roupas antes de colocá-las para lavar na máquina, apague as luzes quando sair do ambiente

8. Abuse de frutas e verduras da estação

Monte seu cardápio usando as frutas e verduras de acordo com a época, assim você vai conseguir um bom preço por estes itens e ainda por cima vai se alimentar muito bem.

9. Verifique o preço de quantidades maiores

Muitas vezes a compra de coisas em menor quantidade encarece o produto ainda mais, um bom exemplo disso são as aves. Se você optar por comprar apenas o peito ou a coxa de um frango pagará igual ou até mais caro do que consumir o frango inteiro. Ser um bom observador pode lhe render uma economia agradável.

10. Tenha um cofrinho

Faça uma meta de depositar toda semana uma quantia definida em seu cofrinho a fim de guardar dinheiro. Isso vai se tornar um hábito, um bom hábito e vai conseguir um bom dinheiro ao final de um ano.

Por Renata Finholdt, Via Família

Dica de livro: Vi-Venes Primeiro

Dica de livro: Vi-Venes Primeiro

Título: Vi-Venes Primeiro
Autor: Venes Caitano
Editora: Independente
Gênero: Quadrinho
Número de páginas: 130
Formato: 21,5 x 24cm
Preço de capa: R$ 40,00 – Frete grátis para todo Brasil

“Acho que todo cartunista possui o ímpeto de gerar discussão e reflexão, seja apelando para o humor, sarcasmo ou mesmo para a poesia. Falo sobre o cotidiano.” Venes Caitano

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Com percepção e singularidade, o cartunista Venes Caitano, nascido no Tocantins e agora residindo nas Minas Gerais, desenha suas estórias com delicadeza e aconchego, elementos decisivos a qualquer bom diálogo com pretensões de continuidade.

“O ser humano é único, mas se repete em tantas coisas, tantas vezes, que se reconhece cada vez menos,. É esse ponto que tento explorar.” Venes Caitano

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Em 2013, Vi-Venes estreou na internet, uma série de estórias em quadrinhos contadas em tirinhas retangulares, cuja temática sustenta-se no personagem principal: o leitor! Com humor leve, proporciona diversas leituras sobre as relações humanas e cotidianas. Cabe em qualquer olhar e às vezes faz morada em muita gente.

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Após dois anos, a leveza da pintura aquarelada visualizada através de pixels, voltou a virar tinta: a série de tiras ganhou versão impressa em coletânea independente, intitulada de Vi-Venes Primeiro. O primeiro livro do autor foi realizado com cuidado e afago para ampliar seu contato com o público e também com o mercado de quadrinhos. O material traça uma linha do tempo de suas criações em tirinhas e conta com uma seleção das publicações de janeiro de 2013 a julho de 2014, bem como ilustrações inéditas e desenhos de quando era criança.

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