Sapiossexualidade : Quando a libido é estimulada pela admiração intelectual

Sapiossexualidade : Quando a libido é estimulada pela admiração intelectual

O prefixo da palavra tem origem do latim sapien, que significa inteligência. Inclusive temos uma palavra em nosso vocabulário que já podia dar noção do que se tratava, mas infelizmente nem é tão utilizada assim: sapiência.

A sapiossexualidade é a atração sexual que uma pessoa sente pela inteligência , visão de mundo e toda a bagagem cultural de outra pessoa. É importante dizer que uma pessoa sapiossexual não se importa, portanto, com o gênero da pessoa pela qual ela está atraída. Ela sente atração pela inteligência e conhecimento que a pessoa tem, independente do sexo da pessoa.

Isso não significa que todos os sapiossexuais repudiem beleza ou não achem seus parceiros bonitos. A atração vem da inteligência, o que não elimina outros aspectos da pessoa.

A terminologia foi supostamente criada por Darren Stalder, que afirma ter inventado a expressão em 1998. O termo só pegou mesmo, no entanto, a partir de 2008, graças, em parte, à escritora erótica Kayar Silkenvoice, que criou o domínio Sapiosexual.com em 2005.

Silkenvoice afirma nunca ter feito sexo ruim. Porque ela é atraída a pessoas inteligentes, crê que essas pessoas são mais inteligentes até mesmo na cama. Elas não partem do princípio que sabem do que o outro gosta, e adoram ganhar conhecimento. Sendo assim, querem aprender o que faz o seu parceiro feliz, descobrir como tornar o sexo o melhor possível.

Fonte indicada: Enfu

A transformação das crianças-lagarta

A transformação das crianças-lagarta

Hoje, ao invés de um texto mais pautado nas teorias psicológicas, gostaria de dividir com vocês uma das histórias que vivi e acompanhei durante a minha trajetória profissional, e que ainda faz com que eu possa realmente acreditar em uma mudança significativa em crianças e jovens que passam por situações de vulnerabilidade social através de uma ação empática e criativa.

Há quase 10 anos, idealizei e desenvolvi com alguns amigos, um projeto que tinha como objetivo, através da arte da animação, melhorar a autoestima e estimular a inclusão digital de crianças de uma ONG que eu já conhecia como estagiária quando cursava a faculdade de Psicologia.

A empreitada durou um ano e inicialmente o que víamos, eram crianças que não acreditavam em si mesmas, em seus talentos e habilidades. Que desconfiavam dos adultos, especialmente quando eles a elogiavam ou acreditavam em seu potencial.
Certo dia, estávamos fazendo uma atividade na área externa da casa e de repente algumas crianças começaram a se alvoraçar em volta de algum bicho que havia surgido ali… me lembro delas exclamando:

– Mata! Mata! – Que bicho feio! – Credo, que nojo!

Quando me aproximei para ver o que era, percebi que era uma lagarta! Sua cabeça era bem maior que o resto do corpo e isso dava a ela, um jeito ainda mais monstruoso e desengonçado. Sentei ao lado das crianças e pedi para elas pararem um pouquinho para me escutar antes de matarem o “monstro”.

Foi então que contei para elas a história da lagarta e da borboleta. De que aquele bicho aparentemente feio e esquisto, era na verdade um ser em pleno processo de transformação. Que em breve, ele sentiria a necessidade de parar de comer e rastejar e que então, se colocaria em alguma àrvore ou parede e ali faria um cásulo. Depois de um tempo, ele ficaria totalmente diferente, seu corpo diminuiria e cresceriam asas em suas costas. E elas aumentariam tanto que sua força romperia o cásulo e ela sairia voando, mas agora como uma linda borboleta.

Quando terminei minha história, percebi ao meu redor um silêncio que não era corriqueiro. As crianças pareciam encantadas com aquela possibilidade de transformação. Algumas não acreditavam na minha história…mas, aí outras diziam: “A tia sabe!”
E então, ocorreu uma reviravolta! De condenada à sentença de morte, a “largata-monstra” passou a ser protregida, admirada, fotografada e celebrada!

A história passou, voltamos ao nosso trabalho e pouco a pouco fomos vendo as mudanças começarem a acontecer em nossas crianças. Elas não só passaram a aceitar os elogios que vinham de nós, como se mostravam mais participativas, autoconfiantes e afetivas.

Foi então que nos demos conta que, ao final de um ano de trabalho, outra reviravolta havia acontecido: nossas crianças tinham conseguido viver o símbolo da transformação dentro de si! Foram verdadeiros meninos e meninas-lagartas, que após um longo processo de reconhecimento dos próprios talentos, da assimilação de novos conhecimentos, da possibilidade de serem reconhecidas e aceitas por um Outro apesar das aparências e, também, de se aceitarem e se autocuidarem, se transformaram em lindas borboletas prontas para alçar novos voos, agora com sonhos e inspirações.

Faz anos que não tenho notícias das minhas crianças-borboletas. Mas, desejo do fundo do coração que as mudanças que viveram durante àqueles nossos encontros tenham perdurado dentro delas e que hoje, suas almas sejam livres e batam asas mundo a fora para realizar seus potenciais de vida.

Quanto a mim, posso afirmar que essa experiência me transformou para sempre! Guardo em mim cada um de seus rostinhos, cada aprendizado e especialmente a esperança de que podemos fazer muito mais para construir o mundo que tanto idealizamos! Basta que olhemos para além das aparências, que acreditemos nos potenciais encobertos e que nos engajemos verdadeiramente em ações que valorizem a vida, ao invés de sentenciarmos à morte quem ainda está em franco processo de crescimento e evolução.

“Teu riso”, um poema de Pablo Neruda capaz de tirar o fôlego de quem ouve ou lê

“Teu riso”, um poema de Pablo Neruda capaz de tirar o fôlego de quem ouve ou lê

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

 

Obras de Frida Kahlo em São Paulo a partir de 27 de setembro.

Obras de Frida Kahlo em São Paulo a partir de 27 de setembro.

Com curadoria de Teresa Arcq, a exposição Frida Kahlo- conexões entre mulheres surrealistas no México, revela uma intrincada rede que se formou no México, no início do século passado, tendo como eixo fundamental a figura de Frida Kahlo.

A mostra conta com cerca de 100 obras de 16 artistas mulheres, nascidas ou radicadas no México. Cerca de 20 pinturas de Frida serão mostradas pela primeira vez no Brasil, proporcionando um amplo panorama de seu pensamento plástico.

Exposição Frida Kahlo- conexões entre mulheres surrealistas no México

ONDE: Instituto Tomie Ohtake

QUANDO: DE 27 SETEMBRO A 10 JANEIRO 2016.

ENDEREÇO:  Avenida Faria Lima, 201.

Compre seu ingresso aqui

O que NÃO dizer a uma pessoa em processo de luto

O que NÃO dizer a uma pessoa em processo de luto

Por Nazaré Jacobucci, especialista em Luto

“O silêncio também fala, Fala e muito! 

O silêncio pode falar mesmo quando as palavras falham”. (Osho)

O luto é um processo normal de elaboração diante de um rompimento de um vínculo. Este processo se iniciará por perdas reais e/ou simbólicas, ou seja, cotidianamente nós passamos por este processo e ele será vivenciado por toda a nossa existência. Contudo, o luto fica mais em evidência após a morte de um ser humano.

Possivelmente, neste exato momento, você conheça alguém que esteja vivenciando um processo de luto. Como na nossa sociedade moderna pouco falamos ou se quer pensamos sobre a morte, então, em muitas situações, não sabemos o que dizer ou até mesmo como agir diante de um enlutado. Muitas vezes, as palavras são absolutamente ineficazes e, às vezes, no desejo de querer confortar a pessoa enlutada, podemos dizer coisas que, na verdade, podem piorar a situação.

Quando estamos diante de um enlutado devemos ter muito cuidado com as palavras, pois a necessidade de dizer algo pode ser mais constrangedora que o silêncio. Uma palavra dita inadequadamente pode ter um impacto devastador para alguém que está vivenciando um momento de extrema fragilidade. Na minha prática clínica ouvi muitos pacientes comentarem sobre frases que lhes foram ditas e que não lhes ajudaram em nada. Ao contrário, muitos expressaram tristeza e até mesmo raiva por essas frases. Por isso, preparei uma lista de frases para que possamos refletir sobre o que não dizer a um enlutado.

– Quando uma pessoa morre após um longo período de internação por doença sem possibilidade de cura:

“Pelo menos ele(a) agora não está mais sofrendo” – “Ele(a) agora está num lugar muito melhor que nós” – “Deus sabe sempre o que faz” – “Tudo nesta vida tem uma razão” – “Deus não nos dá tristezas que não possamos suportar” – “Ele(a) já tinha idade viveu bastante”…

Estas frases, eu as escuto desde criança e são muito marcantes. Por gentileza, esqueça as frases clichês no seu próximo funeral.

– Quando uma mãe e/ou pai perdem um filho e estes possuem outros filhos:

” Pelo menos você tem outros filhos” – “Vocês são jovens e ainda poderão ter outros filhos” – “Agora ele é uma estrelinha no céu” – “Seja grato(a) por ele ter estado em suas vidas, mesmo que por pouco tempo” – “Ele(a) agora será mais um anjinho no céu”…

Um dos lutos mais difíceis de serem elaborados é quando os pais perdem um filho. Então, imaginem o que é ouvir estas frases durante o processo de luto. Para esses pais um outro filho jamais substituirá aquele que morreu.

– Quando um homem ou uma mulher torna-se viúvo e/ou viúva:

“Você é jovem com certeza encontrará outro companheiro(a) – “Hoje em dia tem muitos viúvos(as) em busca de alguém”…

Cuidado, pois a pessoa que acabou de perder seu companheiro(a) ao ouvir estas frases pode achar que você está insinuando que aquela pessoa que morreu não era tão amada e pode ser facilmente substituída.

– Quando transferimos para o tempo a solução de todos os problemas:

“O tempo cura todas as dores” – “Isso leva tempo, mas não se preocupe, vai passar”…

Sim, o tempo é algo importante. Até mesmo nós terapeutas, quando atendemos um enlutado, precisamos saber há quanto tempo aquele paciente está em processo de luto. Mas precisamos compreender que, quando uma pessoa perde alguém querido, a vida demora um certo tempo para voltar ao normal. Ao ouvir estas frases o enlutado pode ter a impressão de que há um prazo de validade para a sua dor e que precisam se recuperar logo. Contudo, pode ser que algumas pessoas demorem uma eternidade para se recuperarem da perda que tiveram.

– Quando queremos encorajar uma pessoa a voltar para vida cotidiana:

“Bola para frente, você precisa sair de casa” – “Você sempre foi tão forte” – “Para de chorar, ele(a) não fica feliz com isto de lá onde ele(a) está”…

Certamente, ao dizer estas frases a pessoa está querendo de alguma forma encorajar o enlutado a retomar seu cotidiano. Mas elas podem ser prejudiciais para a elaboração adequada do luto. O enlutado pode sentir-se inibido de demostrar a sua dor e isto pode causar complicações psíquicas futuras. Talvez neste momento de profunda dor o enlutado queira mostrar a todos o quão ele também é frágil e que possui fraquezas. O enlutado precisa expressar a sua dor.

– Quando há comparações:

“Sei exatamente o que você está sentindo, pois aconteceu comigo” – “Não sei se serve de consolo, mas o meu caso foi bem pior que o seu, porque…” – “Nossa, eu chorava o dia inteiro”…

Cada pessoa é única e cada qual sente e percebe as situações do cotidiano de uma maneira. Posso afirmar que nunca alguém saberá exatamente o que o outro está sentindo. O enlutado pode achar que a pessoa está menosprezando a sua dor.

– Quando há curiosidade:

“Mas, exatamente como ele morreu? ” – “Me disseram que ele(a) morreu de maneira trágica, como foi?”…

Não existe nada mais inapropriado do que alguém ficar perguntando os detalhes sobre como a pessoa morreu ao enlutado. Neste momento, caso o enlutado queira falar sobre o ocorrido, apenas ouça. Não faça perguntas apenas para satisfazer a sua curiosidade.

Não tenho dúvidas de que as pessoas dizem as frases citadas acima com as melhores das intenções, pois a maioria não sabe o que dizer num momento de morte. Com certeza, estar ao lado de um enlutado não é uma tarefa fácil, mas devemos ter muito cuidado com as palavras ao tentarmos “amenizar” a dor de uma perda.

Com efeito, se você estiver com dificuldade de expressar seus sentimentos em palavras, então, diga apenas o necessário – “Eu sinto muito pela sua perda, meus sentimentos”. Às vezes, um forte abraço pode “dizer” mais que mil palavras. Eu penso que uma frase interessante seja: “O que eu posso fazer para ajudá-lo?”. Pois, quando a pessoa está em processo de luto, muitas vezes, não tem condições psíquicas para pensar nas coisas básicas do cotidiano. Então, colocar-se à disposição para alguns afazeres do dia-a-dia pode ser de grande valia para seu amigo e/ou familiar enlutado.

O importante é que o enlutado se sinta acolhido em seu momento de dor, apenas isto.

contioutra.com - O que NÃO dizer a uma pessoa em processo de luto

Nazaré Jacobucci

Possuo graduação em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especialista emcontioutra.com - O que NÃO dizer a uma pessoa em processo de luto Psicologia Hospitalar pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto pelo 4 Estações Instituto de Psicologia. Atuando principalmente nos seguintes temas: Psicóloga Clínica, Avaliação Psicológica, Intervenção em Perda e Luto e Medicina Paliativa. Atualmente resido na Inglaterra. Estou aprimorando meus conhecimentos em Tanatologia, Perdas e Luto (Grief and Bereavement).

Conheça mais trabalhos da autora em seu blog Perdas e Luto.

Vivemos com muita graça

Vivemos com muita graça

Somos como qualquer povo, universais, curiosos, criativos e não nos contentamos com o óbvio de cada dia. Gostamos do prazer que surpreende nas situações mais simples; sabemos amar de graça e com a graça de um povo risonho e alegre; causamos e chamamos atenção quando pisamos em solos estrangeiros; somos fogos cruzados que brilham nos campos de batalha; entendemos e provamos do poder transformador da arte, do fazer, da expressão que nos ampara na fé que temos na vida. Buscamos um espaço mais generoso dentro desse universo tão nosso.

Dizem muito por aí que o brasileiro gosta da boa vida, passar férias no exterior e esbanjar com o supérfluo. Feriado, então, nem se fala, alguns dariam até parte da vida por um. Muitos também irão bater nessa tecla falando em “vagabundagem”, estereotipando a coisa com rótulos banais. E a essa altura, alguns reclamam da falta de direitos básicos, do analfabetismo, da imitação ao modelo norte-americano e europeu, culpando essas faltas e imitações como justificativas do nosso atraso cultural. Com humor ou não, vale pesar como usufruímos do nosso lazer aliado ao trabalho, somados aos nossos prazeres.

Mas não há nada mais chato quando ouvimos a expressão correr solta do tal do “jeitinho brasileiro” – jargão batizado de convicções e certezas que só existem na cabeça de quem fala -, aí viramos a casaca e buscamos nos impor como um povo digno e trabalhador como qualquer outro que ajuda a manter a harmonia e funcionamento de um país.

Abandonando os rótulos e estereótipos, deixando-os onde devem estar – no submundo da ignorância – merecemos muito mais que estes discursos dominantes nas formas de poderes corrosivas vigentes em nossa sociedade se anulem, e que possamos buscar o real sentido do nosso lazer nesse país tão vasto em cultura, sorrisos, acolhidas e alegrias reconhecidas em todas as partes do mundo. Ficamos alegres e nos sentimos valorizados com a nossa identidade.

Que há roubalheiras, falsos sonhos e mentiras espalhados por todos os cantos não há como negar, o melhor que temos a fazer é assumir nossas fragilidades. Porque também temos a força impulsiona nossas lutas e conquistas. E necessitamos lutar por alguns planos inacabados dentro dos sonhos, para não irmos embora daqui com a sensação de que a chance que nos foi dada não foi suficiente para sermos um pouquinho felizes dentro de apenas uma vida reservada para nós.

Lazer e boa vida, quem não os deseja que atire a primeira pedra. Temos consciência da situação mundial, dos migrantes, da escassez de água, da falta de emprego adentrando as casas das famílias, do submundo das drogas, da violência extrema praticada de forma gratuita contra os mais indefesos, da fome que mata milhões de pessoas diariamente, da ausência de altruísmo e justiça entre os semelhantes, da falta de amor entre os seres humanos. São questões universais que necessitam de uma compreensão universal do humano e que não admitem pensarmos trancafiados em rótulos ou câmaras de gás.

Não somos preguiçosos alheios, infames, despreocupados. Somos, acima de tudo, humanos criativos que se equilibram na frente da vida com dois pés e duas mãos, e às vezes até nos falta um desses membros e aí buscamos alternativas que nos coloquem de pé no mundo. Bem que poderíamos abstrair todos esses julgamentos vergonhosos que vêm sobretudo das manipulações políticas e da burocracia de mentiras que hoje ganharam as rédeas das vida e cultura brasileira. Não podemos aceitar ser um povo submisso neste país tão rico e vasto, o maior da América do Sul.

Talvez estejamos em busca de vivenciarmos algo como o ócio criativo que o sociólogo italiano Domenico de Masi nos abriu as portas do seu pensamento, a fim de analisarmos melhor como podemos colocá-lo em prática com as nossas fontes de recursos naturais e humanos. Inteligência temos de sobra. Esse ócio criativo não é ficar sem fazer nada e de pernas pro ar o tempo que quiser – não podemos confundir – é sobretudo um estado de exercitar e direcionar nossa mente em trabalhos que exigem a criatividade aliada ao prazer. Abrir espaços isentos de culpas para transformar nossa genialidade numa forma mais livre e desimpedida de viver.

Dica de Livro: Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios

Dica de Livro: Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios

Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios e outras sandices crônicas é o sexto livro de André J. Gomes. Lançado pela Editora Nova Alexandria, o livro tem 34 crônicas publicadas originalmente na Internet, em portais como o CONTI outra e Bula.

O prefácio é do escritor João Anzanello Carrascoza, duas vezes premiado com o Jabuti. Algumas das crônicas superaram um milhão de visualizações na rede. “Os textos tratam do amor de uma forma mais ampla, o amor pelo trabalho, pelo movimento de um dia depois do outro, pelos filhos, a família, a saudade, os lugares em que estivemos e em que sonhamos estar”, conta André J. Gomes.

Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios e outras sandices crônicas é o quinto livro de André na Editora Nova Alexandria, que também tem quatro títulos infantis do autor em seu catálogo.

Em 2014, André J. Gomes lançou também a coletânea Cartas de Amor a toda gente, pela Editora Lumos, de Curitiba.

Confira uma conversa com ele:

– Quando e por que você começou a escrever?

Eu sempre achei bonito o trabalho de escrever. Sou de Araraquara, uma cidade muito quente e muito bonita no interior de São Paulo. Antes de me alfabetizar, eu me lembro de passar um tempo deitado de barriga no chão fazendo rabiscos com uma caneta sobre o jornal, imitando o gesto de escrever. Riscava a folha inteira e perguntava à minha avó, à minha bisavó, à minha mãe ou à minha tia o que estava escrito. E elas “liam” o que eu tinha feito. Inventavam ali na hora. Depois, aprendi a ler e escrever e fazia paródias para as músicas que tocavam no rádio. Também passava horas copiando num caderno os textos da cartilha da escola. Escrever me deixava tranquilo. Depois passei a ter a impressão de que a gente escreve para se sentir menos só. Para dividir com alguém ali fora o que passa aqui dentro da gente. A gente escreve e abre a porta para quem passa.

– Quais são seus autores preferidos?

Gabriel Garcia Márquez, Ernest Hemingway, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Machado de Assis, Marcos Rey, Jack Kerouac, Jerome David Salinger, Franz Kafka e tantos outros super-heróis e seus superpoderes de empurrar a gente pra frente com a força de um tropeção.

– E livros?

Cem Anos de Solidão, O Amor nos tempos do cólera, O Velho e o Mar, Por quem os sinos dobram, O Verão e as Mulheres, O Amor acaba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Memórias de um gigolô, On the Road, O apanhador no campo de centeio, A Metamorfose, O Processo e muitos outros.

– O que lhe dá mais prazer: ler ou escrever?

Ler e reler dá prazer, angústia, medo, saudade, alegria, coragem, tristeza, insegurança, vontade de aprender o que a gente não sabe, viajar a lugares que a gente não conhece. Escrever dá tudo isso em doses mais altas.

– Você é adepto de e-readers? O que pensa sobre a “guerra” e-books x livros impressos?

Sim, eu leio muito e-book. Gosto muito do formato, mas tenho mais livros em papel ainda. E acho que se toda guerra fosse assim, em que dois lados “disputam” a preferência dos leitores, incentivando todo mundo a consumir livros no papel ou na tela, o mundo estaria um pouquinho melhor.

– Como surgem as suas crônicas?

São histórias, lembranças, divagações e desejos sinceros sobre o amor, as pessoas e a experiência amorosa. Tenho uma vontade infantil de ver isso publicado, mostrar à minha mãe, à minha avó e às minhas tias em Araraquara e pedir para elas lerem os meus rabiscos.

– Que dicas você pode dar para quem está começando a se aventurar no universo literário agora?

São os mesmos conselhos que as minhas avós me deram e que eu também sigo com o coração cheio de festa. Elas diziam que a gente precisa cuidar direitinho do que tem. Do trabalho, da família, do amor, do sonho. Na literatura, como em todas as áreas, uma dedicação canina nos dá no mínimo a sensação de que estamos tentando honestamente. E a vida é isso mesmo, né? É o conjunto das nossas tentativas honestas.

– E o que o inspira como autor?

Eu sou um sujeito que trabalha desde muito cedo. Meu primeiro emprego com carteira assinada foi aos 15 anos, em um cartório no centro de São Paulo. Eu era office-boy e passava o dia na rua. Fazia o serviço rapidinho pra sentar nos ônibus e ler. Quando caminhava nas ruas do centro ou na avenida paulista, aprendi que ler e andar a pé são atividades incompatíveis e descobri o prazer de olhar as pessoas. Olhava com curiosidade, inveja, medo, dó, desejo, alegria. Eu olhava. Então, olhar os outros e ler no ônibus representavam a quase totalidade das minhas atividades na adolescência durante o dia. Por outro lado, eu cresci numa família de trabalhadores braçais. Meu pai é um honrado pintor de paredes até hoje, minha mãe sempre foi uma empregada doméstica dedicada, assim como minha tia paterna, que foi das pessoas mais importantes da minha infância. Minha bisavó, com quem convivi até os 11 anos, e minha avó paternas, donas de casa que em algum momento trabalharam em casas de outras famílias. Também tenho um tio marceneiro e inúmeros outros parentes operários. Então, eu também sou um trabalhador braçal. Tenho dois empregos. Trabalho em agência de propaganda durante o dia e dou aula em faculdade à noite. Escrever vem dessa aventura de todo dia e de olhar o que acontece aqui e ali. Sigo observando a vida. Olho, ouço, anoto e tento dividir honestamente o que passa aqui dentro com quem está por perto. Esse movimento, a vida, as pessoas, as conversas com o meu filho, o que nos falta e o que nos sobra, tudo isso me dá uma vontade louca de contar tudo para alguém. Aí eu vou escrevendo as minhas cartas, meus manifestos. São as minhas cartas de amor que escrevo para Deus e todo mundo.

Para conhecer os livros de André J. Gomes, clique aqui.

“Acontecerá algo terrível antes de se encontrar um equilíbrio.” Migração e refugiados, por Umberto Eco

“Acontecerá algo terrível antes de se encontrar um equilíbrio.” Migração e refugiados, por Umberto Eco

A entrevista era sobre livros, sobretudo o dele que estava para sair, e aconteceu num tempo em que esta crise de refugiados que nos entrou pelas notícias já existia mas sem o impacto destes dias – transformados pela imagem do naufrágio da humanidade simbolizado num menino morto numa praia. A entrevista dele ao Expresso era sobre livros, mas Umberto Eco falou sobre mais – incluindo este tema que o preocupa há muito, o da migração e dos refugiados. Recuperamos o que ele enunciou em abril agora que estamos despertos para uma tragédia que se estende não há dias nem semanas, mas há meses e quase anos. É uma reflexão dura: ” A Europa irá mudar de cor. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue”. Mas também com fé no outros homens – nos que estão e nos que vêm: “A migração produz a cor da Europa”

Era abril quando entrevistamos Umberto Eco no seu apartamento em Milão. Atendeu o intercomunicador e abriu a porta de casa, revelando a sua alta figura e a cordialidade que seria uma constante durante a conversa. De eterno cigarro apagado entre os dedos – desistiu de fumar mas não se desfez do gesto – ofereceu café e sentou-se na sua poltrona de cabedal. Falámos da infância, da escrita, de jornalismo – central em “Número Zero“, o novo romance que saiu em maio em Portugal. Mas falámos também da Europa e dos longos processos migratórios que a configuraram. Para Eco, estamos a atravessar um deles e não será um caminho fácil nem desprovido de desafios. Eis alguns excertos da entrevista.

1. CULTURA NÃO QUER DIZER ECONOMIA

“Desde a juventude que sou um apoiante da União Europeia. Acredito na unidade fundamental da cultura europeia, aquém das diferenças linguísticas. Percebemos que somos europeus quando estamos na América ou na China, vamos tomar um copo com os colegas e inconscientemente preferimos falar com o sueco do que com o norte-americano. Somos similares. Cultura não quer dizer economia e só vamos sobreviver se desenvolvermos a ideia de uma unidade cultural.”

2. UM GRANDE ORGULHO

“Quando atravesso a fronteira sem mostrar o passaporte e sem ter de trocar dinheiro, sinto um grande orgulho. Durante dois mil anos, a Europa foi o cenário de massacres constantes. Agora, esperemos um bocado: mesmo que o mundo hoje seja mais veloz, não se pode fazer em 50 anos o que só fomos capazes de fazer em dois mil. E mesmo indo nessa direção, não sei como os países europeus poderão sobreviver: estão a tornar-se menos importantes do que a Coreia do Sul, e não apenas do ponto de vista industrial. Culturalmente, está-se a traduzir mais livros lá do que em França.”

3. A COMISSÃO DAS PESSOAS SÁBIAS

“Entidades nacionais como Portugal ou Itália tornar-se-ão irrelevantes se não fizerem parte de uma unidade maior. Mas nada disto se constrói em pouco tempo. O problema da Europa é estar a ser governada por burocratas. Uma vez, uma instituição europeia – não me recordo qual – decidiu criar uma comissão de pessoas sábias. Estava lá Gabriel García Márquez, Michel Serres e eu próprio. Os outros convidados eram burocratas europeus. Cada reunião servia para discutir a ordem de trabalhos da reunião seguinte. Aquilo era o retrato da Europa: pessoas a governarem uma máquina autorreferencial. Porém, é o que temos. É como a democracia segundo Winston Churchill: um sistema horrível, mas melhor do que os outros.”

4. UM PROCESSO QUE CUSTARÁ IMENSO SANGUE

“Estou muito preocupado, não por mim, mas pelos meus netos. Escrevi-o há 30 anos: o que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: ‘Desejo-te que vivas numa era interessante’. Nós estamos a viver numa era interessante.”

5. A ÉTICA DA REPÚBLICA

“Não se deve perguntar porque haverá derramamento de sangue: é um facto. Vejamos a França. É o caso típico de um país que acreditou poder absorver a migração. Porém, por um lado, impôs logo aos migrantes a ética da República; e, por outro, arrumou-os nos bairros remotos. É muito raro encontrar um migrante a viver ao lado de Notre-Dame.” NUNO BOTELHO

6. INTEGRAÇÃO E ÓDIO

“Porque é que um muçulmano em França se torna fundamentalista? Acha que isso aconteceria se vivesse num apartamento perto de Notre-Dame? A sua integração não foi completa nem poderia ser. De novo, é um facto. A migração a longo prazo pode produzir integração mas a curto prazo não, e a não-integração produz uma reação, que pode ser de ódio.”

7. NO SENTIDO EM QUE HITLER NÃO ERA A CRISTANDADE

“O inimigo é sempre inventado, construído. Precisamos dele para definir a nossa identidade. A extrema-direita italiana acredita que são os ciganos ou os migrantes pobres, ou o Islão em geral, ainda que o Islão possa assumir muitas formas. Ora, o Estado Islâmico não é o Islão, no sentido em que Hitler não era a cristandade.”

8. RESPOSTA: NÃO

“A Idade Média não existe, porque tem dez séculos. É uma construção artificial. De qualquer forma, vemos que é uma época de transição entre dois tipos de civilização. E provavelmente – falávamos de migração – estamos numa era de transição, que é sempre difícil. A questão é: houve alguma era que não fosse de transição? Resposta: não. Mas houve momentos em que cada um vivendo no seu país não se apercebia de que havia uma transição a acontecer no mundo.”

9. CHAMA OS BOMBEIROS

“Qual o papel do intelectual hoje? Não dar muitas entrevistas! [risos] Falando a sério, penso que é duplo. Primeiro, é dizer o que as outras pessoas não dizem. Não é dizer que há desemprego em Itália. Segundo, não é resolver os problemas imediatos, é olhar para a frente. Se um poeta está num teatro e há um incêndio, não se põe a recitar poemas: chama os bombeiros. Pode é escrever sobre incêndios futuros.”

10. PERDA DO PASSADO

“É impossível pensar o futuro se não nos lembrarmos do passado. Da mesma forma, é impossível saltar para a frente se não se der alguns passos atrás. Um dos problemas da atual civilização – da civilização da internet – é a perda do passado.”

Fonte indicada: Expresso

O livro “A lista de Bergoglio” comprova: quem cala nem sempre consente

O livro “A lista de Bergoglio” comprova: quem cala nem sempre consente

Os regimes ditatoriais há muito envergonham a humanidade. Há alguns anos, precisamente a partir de 1976, a Argentina passou por esse vexame.

Nesse tempo, um jovem padre jesuíta teve que escolher entre três caminhos:

Primeiramente, ele poderia aliar-se à ditadura, valendo-se da via escolhida por grande parte da Igreja argentina.

Em segundo lugar, poderia declarar-se frontalmente contrário à ditadura militar que se instalara em seu país, colocando em perigo não só a sua vida como as vidas dos integrantes da ordem religiosa pela qual era responsável.

Mas havia ainda uma terceira via. Esse padre poderia, valendo-se de superior perspicácia, silenciar-se, aparentando neutralidade aos generais, e propiciar o salvamento de dezenas de vidas que estariam sob a mira do regime, acusadas de subversivas e comunistas.

Ele escolheu a terceira opção.

Trata-se do argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco. A história desse período de sua vida é narrada no livro “A lista de Bergoglio“, escrito por Nello Scavo, publicado pela Paulinas Editora.(No Brasil, o livro é editado pelas Edições Loyola) O prefácio é do pacifista e ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Nobel da Paz em 1980. O prefaciador, um dos grandes perseguidos pela ditadura argentina, afirma: “Bergoglio contribuiu para ajudar os perseguidos“.

O livro traz diversos depoimentos de pessoas que foram salvas pelo Papa Francisco, revelando, ainda, singularidades sobre a vida do Pontífice, enquanto discorre sobre as barbáries praticadas pelos militares, descrevendo detalhadamente as torturas a que eram submetidos os presos políticos.

A título de exemplo, menciono aqui o militante uruguaio Gonzalo Mosca que, em 1977, ativista de esquerda, era procurado pelos militares argentinos e seria morto ali mesmo na Argentina ou mandado para o país de origem onde seria morto pela ditadura de lá. Um conhecido de Bergoglio lembrou-se dele e solicitou sua ajuda. Mesmo desconhecendo o Mosca, Bergoglio prontificou-se a ajudar. Recebeu-o em Buenos Aires e transportou-o, em seu carro, por mais de 50 quilômetros, até a Casa San Miguel dos Jesuítas, onde este ficou escondido até que Bergoglio organizasse a rota de sua fuga do país.

Ao lado dessa extrema generosidade, o cavalheirismo. Alicia Oliveira, a primeira mulher a tornar-se juíza na Argentina e que passou a ser perseguida pela ditadura militar e foi despedida do cargo, afirma: “Fiquei sem emprego. Quando soube que me tinham despedido, Jorge enviou-me um esplêndido ramo de rosas”.

Sergio e Ana, casal que também foi salvo por Bergoglio, eram voluntários em uma comunidade de extrema pobreza, em Buenos Aires, e recebiam recorrentes visitas de Bergoglio. Sergio recorda que:“Lembro-me de quando Jorge ia à minha barraca de chapas e de terra batida. Ficava alguns dias em retiro espiritual. Era um daqueles momentos que se percebia que ele não era pessoa de conversas e leituras teológicas debaixo de uma ventoinha. Era um homem de missão. Ouvia os pobres, observava-os na sua miséria e nos ímpetos. Mergulhava na sua realidade, no sofrimento das pessoas, entrava na profundidade dos seus corações para, depois, voltar a subir transmitindo a sua mensagem de esperança.”

O livro consegue elucidar ainda toda a contradição criada com relação a ter ou não o então padre Bergoglio entregue dois de seus subordinados à ditadura, ficando cabalmente evidenciado que o atual papa não só não entregara os padres como agiu de modo decisivo para a libertação destes, solicitando audiências ao general que os mantinha cativos e ameaçando denunciar tal situação ao Vaticano.

No mais, revela um “homem-orquestra“, como citado por Juan Scavonne, amigo do Papa e um dos expoentes da Teologia da Libertação: “homens como ele, no sentido de que podem tocar vários instrumentos de uma só vez“. E prossegue recordando que certa vez, Bergoglio “escreveu um artigo à máquina, depois, lavou a roupa interior, depois acolheu um fiel para uma conversa de direção espiritual“.

A personalidade do homem cujos olhos penetram a alma do mundo não foi forjada no silêncio dos monastérios ou na leitura exaustiva dos teólogos. O livro mostra que ele se fez nas batalhas cotidianas, sempre ao lado dos fracos e oprimidos. Sempre a serviço dos menores.

Quem cala nem sempre consente. Os olhos, não as palavras, são o espelho da alma. E os atos, estes sim, refletem a força de nossos ideais. Calar e agir: esta foi a decisão de Bergoglio que nos garantiu a preservação da vida de tantos, incluindo a dele, a do nosso amado Papa Francisco.

Encontre “A lista de Bergoglio” aqui.

Uma dor chamada Angústia

Uma dor chamada Angústia

Sabe de uma coisa? Não sou super-herói e nem preciso ser. Sou humano, sou frágil e preciso de ajuda. Não sei de tudo e nunca saberei. Às vezes me canso e ando devagar. Preciso de um pouco de água, olhar o céu e recuperar o fôlego. Não sou do tipo que reclama, mas têm horas em que não tem jeito. Parece que o chão vai desabar, procuro um apoio e não encontro. Sinto dor, a dor da angústia. Dor que me consome.

Sei muito pouco sobre a vida, mais do que devia, menos do que preciso. Caminhos sinuosos sempre aparecem. Caminhos no plural para a singularidade que sou. Então, o que escolher? Para onde ir? Ser o que sonharam para mim? Ou aquilo que arde dentro do peito e que grita com a mais alta visceralidade?

Não sei, já disse, não tenho respostas para tudo. Consulta o Aurélio. Não, não faz isso. Existem significados para além dos olhos. Mas a dor continua, é incessante. Existem estradas cheias de pessoas que caminham de forma igual, sem diferença. Devo seguir, ir junto com a manada. Devo estar seguro, com tantos assim ao redor. Não é possível que todos eles estejam enganados.

Ah! Sinto um incômodo. Ah! Sinto a dor, agora mais forte. Ah! Por que tenho que sentir? Preciso de ar, preciso sair da manada, preciso de mim. Meu coração grita, mas não consigo entendê-lo. Talvez não queira ouvi-lo. Talvez as vozes que ecoam da estrada sejam mais fortes. Sou fraco, falta-me coragem para fechar os sentidos para aquilo que não pulsa no coração.

Vejo outra estrada, com muitas pessoas. Elas sorriem, devem estar felizes. Quero também essa felicidade, quero sorrir. Então, passo a segui-las. Mas que estranho, ainda não consigo sorrir. Na verdade, esses sorrisos me incomodam. Entro em pânico, tento sair, corro o mais rápido que posso, mas elas tentam me segurar. Elas são fortes, rasgam a minha roupa, me arranham e me ferem. Mas consigo sair.

Agora, estou sozinho. Recupero o fôlego. Sinto-me feliz por estar fora do caminho da felicidade. Agora, estou sozinho e com ferimentos. Não tenho remédios para passar. Deixo-os com o tempo, para que possa curar-lhes. Agora, estou sozinho e tenho que continuar. Há inúmeras estradas, não sei qual seguir. Muitas delas estão cheias de pessoas. Algumas com pessoas ainda mais sorridentes e felizes.

Penso comigo: será que não mereço um pouquinho dessa felicidade? Como queria apenas um abraço que me confortasse e me fizesse esquecer que existem tantos caminhos. Mas estou só e sozinho preciso seguir. O sol já está se pondo, não resta muito tempo, logo irá anoitecer. Sinto a dor, mais forte do que antes. Fico paralisado. A dor aumenta e deito no chão. Tenho, como companheiro, o sol, testemunha de uma dor que me toma por inteiro.

A noite chega e, com ela, a escuridão. A dor fica mais fraca, consigo ficar de pé. Olho em volta, penso, mas não enxergo muito bem. Escuto vozes que passam por um caminho e que dizem ser este o melhor. Escuto outras vozes, em outro caminho, que repetem a mesma coisa, e, portanto, não consigo diferenciá-las.

Percebo que há um caminho em que não há ninguém, exceto uns vaga-lumes que o iluminam. Decido seguir os vaga-lumes. Vou caminhando em à medida que caminho, a dor diminui. Sinto o meu coração, não agitado, mas terno. Não há outras pessoas, nem vozes, tampouco sorrisos. Mas existem vaga-lumes que iluminam suficientemente o lugar. Consigo ver o céu, estrelado e com uma lua que parece brilhar só para mim.

Sinto-me forte, revigorado. Meu coração fala e consigo ouvi-lo. Ainda estou só, sem pessoas felizes dizendo o caminho que devo seguir, mas sinto a minha própria companhia. Sinto que talvez não sirva para seguir uma manada. Sinto que minha razão é muito distante. Sinto que o meu coração guia-me e nele devo confiar.

A dor, esta não desaparece. Caminhos continuam existindo. Vozes são multiplicadas como a areia da praia. Mas, apesar disso, o meu coração fala e, somente nos caminhos dos vaga-lumes, eu consigo ouvi-lo. Ele diz coisas que somente eu entendo. Diz coisas inadequadas. Diz coisas que me afastam mais e mais da manada. Mas o sigo, sem medo, pois ainda que erre, estarei sendo eu.

As vozes não entendem e por isso me chamam de louco. Eu sigo o meu caminho. Às vezes me canso e ando devagar. Preciso de um pouco de água, olhar o céu e recuperar o fôlego. Não sou tipo que reclama e não reclamo. Tenho um coração como amigo e vaga-lumes que ajudam a iluminar o caminho. Pode parecer pouco e que seja. É o suficiente. Pois o final da estrada chegará e, quando chegar, se precisar voltar, saberei que cada pegada naquela estrada é minha.

Só o que está morto não muda

Só o que está morto não muda

Há muitos anos, quando a internet era discada, vi um vídeo com o poema “Mude”, de Edson Marques. Não me lembro onde nem quem me mostrou, mas a mensagem eu nunca esqueci. Foram muitos anos no esquecimento até que eu pudesse resgatá-lo em minha memória (que já não é das melhores) e hoje acordei com ele em mente. Porque se eu tinha medo de mudança, pelo menos desse mal não sofro mais. E acho que aprendi tarde até sobre a impermanência da vida, mas aprendi. Talvez foi por isso quando meu chefe anunciou a mudança de nome da escola onde trabalho, após 25 anos, não me surpreendi. Fiquei feliz por trabalhar com uma equipe tão corajosa, audaz e capaz.

“Só o que está morto não muda”. Nos últimos anos mudei absolutamente tudo na minha vida, foi um período de desconstrução que veio com a força de um vulcão, se existe algum simbolismo com a tal idade de Cristo, hoje acredito nele, essa mudança começou aos 33 anos.

Mas engana-se quem acha que mudar é fácil. Ninguém muda e sai ileso. Para mudar tive que perder muita coisa e eu perdi a mais dolorida das perdas: meus pais. Perdi meu pai, mãe e avô, me desfiz de crenças antigas e medos absurdos que me paralisavam. O bom de desconstruir-se é que podemos escolher terreno mais propício para (re)construir alicerces que sejam mais duradouros. Mas, quando eles desmoronarem, pois isso também mudará, sei que posso recomeçar em qualquer lugar, porque o mais importante que é todo esse aprendizado, esse sim não muda, carrego para sempre em mim.

Mudar exige esforço, mudar exige uma sede inesgotável de querer ser quem se deseja e trabalhar para isso. Exige uma força para agarrar a vida pelas mãos e acreditar que darei conta do que vier. Exige dizer não para o que me parece pouco. Exige não me acomodar ou contentar-me com menos do que desejo. Exige fé. Exige entrega. Exige confiança nas forças do Universo e nas minhas próprias forças. Exige abraçar o vazio, o desconforto, as frustrações e a solidão. Exige ser forte e não ceder à carências. Porque sim, todos nós estamos carentes (de muita coisa) e sempre estaremos. Mudar exige dizer não. Muitas e repetidas vezes. Fazer escolhas mais saudáveis, mudar de opinião, seguir em frente, tentar, errar, tentar novamente, cair, levantar, cair novamente.

Por isso não me admiro que tanta gente tenha medo de mudar. A vida fora da zona de conforto é mesmo assustadora. Nenhuma mudança é “smooth”, mas enquanto estivermos vivos, mudar é inevitável. Só quem está morto não muda. Mudar exige uma flexibilidade que eu não sabia que era capaz de ter. Eu nunca entendi o conceito de resiliência, parece algo que se molda e é capaz de voltar a sua forma original, eu não quero voltar a minha forma original, quero continuar mudando, crescendo, errando, evoluindo, respirando. Mudar é estar vivo.

Só o que está morto não muda, mudar exige vida. E enquanto eu respirar, enquanto estiver viva, pretendo sempre, mudar.

Mude- de Edson Marques –Interpretação Antônio Abujamra

Mude

Mas comece devagar, porque a direção
é mais importante que a velocidade.
Mude de caminho, ande por outras ruas,
observando os lugares por onde você passa.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Descubra novos horizontes.

Não faça do hábito um estilo de vida.

Ame a novidade.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
Busque novos amigos, tente novos amores.
Faça novas relações.
Experimente a gostosura da surpresa.
Troque esse monte de medo por um pouco de vida.
Ame muito, cada vez mais, e de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, de atitude.

Mude.
Dê uma chance ao inesperado.
Abrace a gostosura da Surpresa.

Sonhe só o sonho certo e realize-o todo dia.

Lembre-se de que a Vida é uma só,
e decida-se por arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação, um trabalho mais prazeroso,
mais digno, mais humano.
Abra seu coração de dentro para fora.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.

Exagere na criatividade.
E aproveite para fazer uma viagem longa,
se possível sem destino.
Experimente coisas diferentes, troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você conhecerá coisas melhores e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, a energia, o entusiasmo.

Só o que está morto não muda!

Edson Marques

Como devemos agir se nossos parceiros são egoístas? Por Flávio Gikovate

Como devemos agir se nossos parceiros são egoístas? Por Flávio Gikovate

Muitos são os mais generosos que acreditam que, através do seu exemplo, serão capazes de alterar as condutas mais egoístas de seus parceiros.

Os mais generosos se esmeram, dedicam-se cada vez mais à medida que os egoístas reclamam e exigem mais atenção; o intuito é transformá-los.

A realidade nos ensina o contrário: pessoas egoístas que convivem com parentes ou parceiros generosos vão se tornando mais e mais egoístas!

A conduta generosa, ao invés de funcionar como exemplo, colabora com a acomodação do egoísta ao seu estilo de viver: a busca de facilidades.

Ao contrário do que se imagina, o convívio de anos entre egoístas e generosos exacerba o modo de ser de cada um e as diferenças só crescem!

Para que generosos e egoístas possam vir a se assemelhar é essencial que os generosos renunciem ao seu modo de agir e aprendam a dizer “não”.

O egoísmo tende a desaparecer à medida em que não existam pessoas que se deixem parasitar: os generosos precisam rever o modo de se conduzir.

Aqueles que desejam, com sinceridade, contribuir para que os egoístas consigam evoluir devem lutar com muita garra pelo fim da generosidade!
Para mais informações sobre Flávio Gikovate

Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução deste material.

Mais livros de Flávio Gikovate

Como reconhecer e lidar com um manipulador

Como reconhecer e lidar com um manipulador

Há indivíduos que conseguem mudar conscientemente o seu entorno a fim de obter benefícios próprios e que, sem dúvida, afetam os outros (família, amigos, colegas de trabalho, etc.). É preciso conhecer bem o perfil dessas pessoas para não cair em suas armadilhas. É claro que queremos ser felizes e que tudo acabe bem, mesmo estando diante de um manipulador, mas há momentos em que é melhor se afastar.

É muito tênue a linha entre uma pessoa que pede ajuda e uma que manipula o outro para obter retornos. Neste último caso, ela busca o próximo como um objeto, uma mercadoria, uma coisa, um recurso para aproveitar. São egoístas e usam métodos diferentes para convencer o outro, como por exemplo a ilusão, a pressão e o engano.

Existem diferentes razões pelas quais um homem ou uma mulher é manipulador/a. Por exemplo, conveniência, medo ou autoafirmação. Preferem o caminho mais curto, as mentiras, as promessas que não cumprem, a chantagem, o suborno, etc. Pulam os procedimentos para alcançar o sucesso com facilidade. “Não seja tão certo”, “Ninguém vai notar”, “É mais rápido desta forma”, são algumas de suas frases favoritas.

Estas são algumas dicas que podem ajudá-lo a reconhecer um manipulador:

A mentira: ele tem uma grande capacidade de mentir, é um especialista nisso. Pode torcer a realidade e levá-la para onde ficará “melhor”. Ouça com atenção para perceber que mente para todos, do parceiro ao garçom, passando por um cliente ou vendedor da loja. Se você disser algo, sua resposta será falar mal do recentemente “enganado”.

Ocultar coisas: pode esconder informações pessoais, como seu número de telefone ou o endereço, ou desconversar ao ter que responder sobre suas ações, pensamentos, opiniões, etc. Por outro lado, querem saber tudo sobre você, de seus afetos à sua profissão. Os melhores podem conseguir que o outro confesse muito sem perceber.

A adulação: trata-se de uma das habilidades mais interessantes do manipulador. Ele sabe fazer isso muito bem. Descobre o que faz você se sentir especial para ganhar sua confiança. Não se deixe enganar por aqueles que adulam muito facilmente as pessoas sem conhecê-las, porque não será com motivos desinteressados.

– A promessa: é uma das armas favoritas. Por exemplo, se é um homem que acabou de conhecer uma mulher irá lhe dizer que se casarão, terão filhos, viajarão pelo mundo, etc. É assim que começa o seu modo de agir. Tenha cuidado, porque você pode acabar seriamente ferido emocional e psicologicamente por isso.

Os favores: a princípio, o manipulador geralmente ajuda em tudo que pode, como se fosse algo compulsivo, que não pode parar. Vai agradar, ajudar, levará você para casa, consertará algo em sua casa. Mas espere, porque eles vão saber pedir no momento certo, pois essa é apenas uma estratégia. Os presentes e favores nunca foram 100% sem interesse.

A emoção: é outro recurso que um manipulador usa com experiência através de veia emocional. É que os sentimentos, quando são intensos, não nos permitem agir ou pensar com clareza. Usa o medo e a culpa para pressionar os outros quando querem algo em troca. “Olha o que você fez”, “Eu nunca o tratei tão mal”, “Por que você não me ligou?”. Também pode assustar com sinais como “Não faça isso”, “Não será bem sucedido”, etc.

A sombra: não apenas esconde informações sobre sua privacidade, mas também desaparece onde não há luz para poder analisar melhor a vítima. É até possível que utilize outras pessoas para procurar dados de sua próxima presa (outro manipulado). Não é uma pessoa honesta, nem transparente nem responsável. Do nada, começa a espalhar fofocas sobre alguém, enredar as pessoas em suposições, exagerar os fatos, colocar alguns “ingredientes” próprios em um relato, etc.
Você deve prestar atenção aos sinais quando se repetem. Não quer dizer que porque um jovem que você nunca tinha visto antes diga que você usa um vestido bonito é uma manipuladora. Nem que se um colega de trabalho não lhe conta sobre sua vida privada o torne um. Mas se o comportamento ocorre com frequência, é melhor você ficar o mais longe possível dessa pessoa.

É que, mais cedo ou mais tarde, ele conseguirá que você faça o que ele quer, podendo causar danos aos seus entes queridos ou a pessoas que você não conhece.

Se você descobriu um manipulador em seu círculo íntimo (família, amigos, trabalho, escola, bairro), proteja os outros que possam ficar sob suas garras. Fique longe, mesmo que isso signifique uma grande dor para você. Procure estar sempre em paz e tranquilo com ele, porque você não sabe como ele pode agir.

Provavelmente a melhor opção seja ficar longe dessa pessoa. Se você tem confiança suficiente até pode ajudá-la a procurar ajuda profissional. Se ela se recusa a ver que tem um problema ou lhe trata mal quando você menciona o assunto, não pressione. Todos nós podemos amadurecer e mudar com o tempo mas, em muitos casos, precisamos aprender a aceitar a ajuda.

Obs: Note que as características de manipulação descritas acima são todas também muito encontradas em psicopatas. Ou seja, esteja atento ao momento certo de evitar pessoas que possuem comportamentos desse tipo pois mantê-las por perto pode ocasionar sérios danos pessoais e profissionais.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

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PRECISA DE AJUDA?

Você chegou até o final do texto e se identificou com alguma dessas situações?

Um processo psicoterápico pode fazer a diferença na sua vida nesse momento.

Indicamos: Josie Conti- psicóloga. Saiba mais aqui.

Como você consegue enxergar só pelos olhos?

Como você consegue enxergar só pelos olhos?

Antônio da Silva Costa nasceu em Parnaíba, cidade do interior do Piauí. Sua mãe, desde cedo, alertava seus professores. “Esse menino tem um problema sério de manhosidade. Não quer nada com nada. Só pensa em assistir tevê, principalmente filmes desses antigos, e ficar na janela vendo as moças passarem.”

Ela estava certa. Esta era a rotina de Antônio quando criança e adolescente. Não gostava de futebol, preferia correr na estrada. No bairro, todos o conheciam. Aonde ele passava, parava e contava histórias, conversava, sempre carregou um bom número de ideias pra entregá-las a quem estivesse disposto a ouvi-lo.

Começou a trabalhar, aos 16 anos, numa mercearia. Arrumava as prateleiras, tirava a poeira do chão, vendia, contava as moedas, dava troco. Do salário parte era pra ajudar na comida de casa, parte para realizar o sonho de sua vida. Ser fotógrafo.

Um ano depois, finalmente, ele achou conseguir metade do que precisava. Ninguém o ouvira reclamar. Sabia que para ter sua primeira máquina seriam necessários três anos de economia.

Errou, foram quatro anos. Finalmente comprou os equipamentos. Demorou mais uns meses até aprender a usá-los. A primeira foto foi da mãe cozinhando o baião de dois. Surgiram convites e Antônio tornou-se o fotógrafo oficial das festinhas da Paróquia.

Na mercearia, conheceu uma mulher. Ela não falava. Muda de infância, Vanessa Francisca Bezerra, encantou Antônio que a convidou para ser sua modelo. Após Vanessa, vieram outras modelos. E mais outras. Com a primeira modelo, Antônio casou-se.

A fama do fotógrafo se espalhou e ele foi convidado a participar de um evento em São Paulo. Lá, quando pegou sua máquina para registrar um rosto que lhe chamara atenção, o rosto disse:

– Como você pode ser fotógrafo sendo cego?

Cego? O que é cego? Pensou Antônio. Logo, mais questionamentos. Antônio foi descobrindo que não enxergava como os outros. Nunca foi tratado como diferente, pensava que todos viam as coisas pelos ouvidos e pelas mãos.

A mãe e sua esposa muda, que só sabia lhe dizer sim com um toque nos olhos, confirmaram também.

Antônio riu, riu, riu.

Hoje, quando lhe questionam, como pode ser cego e fotógrafo, ele, num sotaque de resistência, responde:

– Como você consegue enxergar só pelos olhos?contioutra.com - Como você consegue enxergar só pelos olhos?

Nota do autor: Conto inspirado em Evgen Bavcar

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