Receita de um amor antigo: “O segredo é ter paciência”

Receita de um amor antigo: “O segredo é ter paciência”

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Cento e um anos de idade. Sete décadas de casados. O segredo, um só: paciência. Para o senhor João Vicente, batizado como João do Espírito Santo, a tolerância é a receita da longevidade e da vida a dois tão duradoura. “Temos que suportar as falhas”, resume o aposentado, que vive em Campinas (SP) com a mulher, Maria Marta Monteiro Vicente, 87, há 43 anos. O casal tem seis filhos, 22 netos, 12 bisnetos e quatro tataranetos.

“Eu estou vivo!”: costuma dizer todos os dias em forma de agradecimento. Completou 101 anos na última sexta-feira (4) e está prestes a celebrar as chamadas Bodas de Vinho, de 70 anos de união com a mesmo mulher. “Sou paciente, dispenso muita coisa. Eu gosto de cumprir o que prometi no altar”, gaba-se João.

Ele lembra de quase nada da infância, apenas as memórias relacionados à juventude na paróquia do Padre Cícero, responsável pelo batismo, e a fuga da Paraíba para tentar a vida, sozinho, e ser soldado da borracha em Rondônia.

Foi em Guajará Mirim (RO), em 1944, que o casal se conheceu. Por intermédio do irmão e sem a bênção da mãe, Maria Marta se casou no ano seguinte com João, na época, 15 anos mais velho que ela. “Ele foi até a minha casa, meu irmão disse a ele que naquele dia eu estava completando 18 anos. Eu estudava em um colégio de freira, ficava em um internato e não tinha a intenção de namorar”, conta Dona Maria.

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Casados há 70 anos, João e Maria Marta contam o segredo da união (Foto: Priscilla Geremias/ G1)

“Fui rápido”
Em 1945, João era policial e, por isso, a mãe de Maria Marta não apoiava o casamento. Mas, um dia, o convite para sair foi aceito. “E antigamente era assim: saiu junto, já tinha que casar”, afirma a aposentada.

“Eu fui rápido, não podia demorar para casar, e ela estava de férias do internato, tinha que casar antes de ela querer voltar para lá”, conta João. O casamento foi simples, na igreja do bairro, sem a presença da mãe de Maria Marta e sem registros. “Naquele tempo não tinha essas coisas de fotos ou álbuns”, diz Maria.

Logo após o casamento, a lembrança mais marcante de João foi o parto que ele realizou do último filho. “Não tinha tempo de levá-la para o hospital, o filho ia nascer ali mesmo. Então, ela foi me dando as coordenadas e eu fiz o parto. Cortei o umbigo, amarrei, tudo o que ela disse, eu fiz, certinho”, conta João. A mãe de Maria Marta era parteira, por isso, ela sabia orientar na hora do parto.

“Vivo e com saúde”
Das recentes lembranças, João se recorda da internação de Maria Marta no início deste ano. A aposentada é cardíaca e passou cerca de um mês e meio no hospital. “Ele ia me visitar todos os dias, pegava na minha mão, que estava inchada, e pedia a Deus para cuidar de mim e me deixar com saúde”, diz Maria Marta.

Os filhos do casal dizem ouvir do pai que ele tem apenas “problemas de velhice”, e garantem que, como João nunca fez uso de álcool ou de cigarro, ele mantém uma boa saúde. “Ele tem apenas as doenças relacionadas à idade”, afirma uma das filhas, Sandra Maria Vicente Wolffi.

Para manter a mente e corpo com saúde, João gosta de contar as histórias da infância, as poucas de que ele se lembra. Não gosta de ouvir música, mas adora ver televisão. “Eu torço pelo São Paulo, então, não importa o dia e o horário do jogo, eu vou assistir”, afirma.

“Paciência e compreensão”
João garante que evita brigas, que é paciente e que cuida da esposa. “O segredo é cumprir o que eu prometi no altar”, diz o aposentado. E Maria Marta faz o mesmo. Segundo Jorge Vicente, um dos filhos do casal, sempre um se preocupou com o outro. “Ainda mais agora com a mamãe doente, a preocupação é ainda maior, os dois tomam remédio, aí, um sempre pergunta aos filhos se o outro já foi medicado, se já comeu…”, diz Vicente.

“Eles fazem de tudo para não brigar, serem bons um com o outro e cumprir a promessa do casamento”, completa Vicente. Os filhos disseram que o pai costumava dizer um ditado popular nordestino que diz “quem comeu a carne, que roa os ossos”, portanto, fazem tudo para ficarem juntos até o fim.

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Casal em festa de formatura de duas netas em Vinhedo, SP (Foto: Jorge Vicente/ Arquivo pessoal)

O casal não consegue definir o que é o amor. O afeto cresceu um pelo outro conforme os anos foram se passando. A demonstração de carinho e cuidado definem o sentimento. “Eu gosto muito dela, amor puro, desejo tudo de bom para ela, principalmente saúde”, diz João. E Maria Marta completa, “eu desejo que ele tenha saúde e volte a andar direitinho e bem”.

“Em um dos aniversário da mamãe, nós preparamos uma homenagem e, como ele não fala muito, deixamos ele de lado. Ele reclamou e disse: ‘eu não vou falar não?!’, e pegou o microfone e fez a declaração mais bonita de todas, nós ficamos emocionados”, conta uma outra filha, Rosália Vicente.

Assim como em todos os anos, desde que estão juntos, o primeiro pedaço do bolo de aniversário de João será para Maria Marta. “Eu gosto disso, porque mostra carinho”, conta a aposentada. “Eles ficam muito tempo sem se beijar, então, nessas datas, dão um selinho e parecem uns passarinhos, ficam muitos felizes”, conta Rosálea.

Fonte indicada: G1

“Cem Anos de Solidão”, uma livro para se ler eternamente

“Cem Anos de Solidão”, uma livro para se ler eternamente

POR EDIVAL LOURENÇO

Não queira tirar uma moral exclusiva ou um sentido único de “Cem Anos de Solidão“. Porque ele é plural e contém todos os sentidos e todas as morais. Seu estágio de conhecimento, seu estado de espírito, suas crenças e ideias dominantes é que vão dar o tom do que se perceber, do que se retirar. No microcosmo chamado Macondo é que a saga dos Buendía-Iguarán se destrinça. Uma sequência de José Arcádio e Aureliano se sucede em profusão, cobrindo um período sintomático de 100 anos. Penso até que a árvore genealógica dessa mítica família seja impossível de se montar, como requer uma obra representativa do realismo fantástico. Mas isso não tem a menor importância. Antes, é mais um charme dessa obra que é tão charmosa, por essas e outras.

Macondo, o cenário onde os fatos se dão, é um pequeno mundo, “um povoado de 20 casas de barro e taquaras, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos”. Por falar em ovo pré histórico, este romance é uma espécie de ovo da realidade que, com a força dos símbolos, dá conta de nos representar, não só o Caribe, não só a Colômbia, não só a América Latina, não só o presente momento, mas o mundo inteiro em todos os tempos com suas contradições, com suas dores, com seus desejos não realizados, por fim, com a monumental solidão que pesa sobre os ombros dos Buendía-Iguarán.

Que, aliás, pesa sobre os ombros de todo ser humano, na condição de mortal e órfão da própria esperança. Penso que mesmo que venhamos a sofrer modificações radicais em nossa estrutura física e mental, mesmo que alcancemos outros patamares de cognição, mesmo que venhamos habitar outros planetas de outras galáxias, a solidão será ainda a nossa marca mais evidente, que nada pode apagar. Por isso “Cem Anos de Solidão” é para ser lido em toda parte e para sempre.

A musicalidade de “Cem Anos de Solidão” é extraordinária, coisa de embalar o espírito, uma sinfonia majestosa feita de frases literárias. Aliás, a musicalidade é tão saborosa que se o texto fosse escrito na língua estranha dos possuídos febris, de forma que o leitor não conseguisse entender uma única palavra, ainda assim valeria a pena ler, só pela sonoridade. E essa sonoridade não aparece só de vez em quando, em momentos mais caprichados, não. Qualquer lugar que você abrir o livro ali vai estar presente um trecho da grande arranjo melódico. Veja a frase de abertura: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aurélio Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou para conhecer o gelo”.

Mas esqueça a sonoridade por um instante. Olhe só o paradoxal da vida encerrada nessa primeira frase. Não há uma situação mais dramática do que se achar postado como alvo diante de um pelotão de fuzilamento. E não há uma ternura maior do que o pai levar o filho para conhecer algo extra, mas ordinário, algo extraordinário, como o gelo num mundo tropical, sem geladeiras. Além da musicalidade divinal, a frase encerra drama e ternura, numa fórmula dolorida, intensa, mas sem lamentação.

Aliás, “Cem Anos de Solidão” teria tudo para ser um romance triste e lamentoso, pois fala da miséria da condição humana da forma mais visceral. Mas não sendo piegas nem gaiato o autor nos conta uma história no fio da navalha, em que a graça levita sobre a dor, o que outra coisa não é senão a própria essência da vida, em sua forma mais destilada e pura, em suas composições de mistério.

Num momento em que a crítica do mundo inteiro aventava a morte do romance nas encruzilhadas do Nouveau Roman, Gabriel García Márquez, feito um mágico de fato e cartola, chegou abrindo um novo e amplo horizonte ao gênero literário. Gênero este consagrado por outro autor de língua hispânica: Miguel de Cervantes, com o seu impagável “Dom Quixote“.

Fonte indicada: Revista Bula

Encontre o livro “Cem anos de Solidão” aqui

3 ações práticas que ajudam a evitar a insônia

3 ações práticas que ajudam a evitar a insônia

Saber a importância de suas tarefas e organizar seus afazeres evitará que a insônia faça parte de sua vida.

Acontecimentos têm provocado fortes choques emocionais que resultam em distúrbios psicorreativos  (reações psíquicas aos acontecimentos, experiências ou pensamentos).

Realmente, o dia a dia destes tempos modernos está repleto de fatos e notícias que deixam qualquer um desconcertado.

Além disso, há o excesso de sensações, a supervalorização da rapidez e da atividade e a negligência da afetividade.

E ainda, entra-se noite adentro, como meio de aumentar o rendimento do trabalho ou para dar conta da agenda sempre lotada.

E aí? Durma com um “barulho” desses, como se diz vulgarmente.

Para influenciar as causas e modificar o efeito destas no organismo, seria prudente, pensar em cultivar um estado fisiológico que reaja de forma diferente frente aos estímulos externos.

Mesmo porque o mundo não vai mudar porque você tem problemas com o sono.

Cito aqui as três principais causas aparentes dos distúrbios do sono por reações psíquicas:

1 – Tarefas não executadas.

2 – Problemas não resolvidos ou que a solução não foi satisfatória.

3 – Sentimentos de culpa

O bom é que sempre há uma solução e se não se encontra a solução, solucionado está. Você não acha?

Então por que se preocupar?

A solução para qualquer problema fica mais próxima quando se pensa numa conduta preventiva e depois corretiva.

Então, para começar a mudar o curso das coisas, faça assim.

a) Classifique as tarefas, não executadas, em importantes e urgentes.

Aqui vou te dar uma dica única. Fuja das urgentes. Foque nas importantes.

Sabe por que? Porque assim você vai acabar com as urgentes, sabia?  Normalmente, as urgentes acontecem porque não se deu a devida atenção às importantes.

b) Se você souber classificar o que é importante ou urgente, muitos problemas vão se resolver por si só e como disse acima, se não tiver solução, solucionado está. Então deixa pra lá. Bola pra frente.

c) E como consequência , os sentimentos de culpa vão diminuir…

Viu? Uma coisa leva a outra. Tudo na vida é assim. Evitar os problemas é vida que se ganha.

Tarefa de casa: Vá lá ao seu relatório (se não fez, comece hoje a fazê-lo) e adicione no item “Como é seu dia desde que levanta” a relação das tarefas pendentes,  as mais chatas e as que sempre te preocupam mais.

Depois fixe um tempo “X” para achar meios de realizar aquela tarefa da melhor forma. É uma coisa de cada vez. Pense que essa é “a única coisa” que te preocupa e você vai resolver.

Já chega! Ter em mente muitas coisas ao mesmo tempo perturba a mente e aí fica mais difícil encontrar a solução e o sono não vem.

E tem mais, conforme você vai fazendo anotações surgirão ideias e você vai ter a chance única de avaliar a importância daquilo para seu trabalho e sua vida.

Não adianta, tem que pausar e por no papel. Na vida não há espaço para realizar tudo aquilo que você está sendo estimulado a fazer.

Como disse no inicio deste post, as pessoas estão sendo levadas a ter sensações em excesso, o que leva ao desequilíbrio. Campo fértil para a insônia e outros problemas do sono.

Organize-se e verá que tem coisas que podem ser dispensadas, sem qualquer prejuízo.

Fique com meu abraço carinhoso

Reprodução autorizada para a CONTI outra.

Terezinha Gnoatto

contioutra.com - 3 ações práticas que ajudam a evitar a insôniaUma experiência pessoal sobre o Sono, no inicio de sua carreira corporativa, a levou a pesquisar intensamente o tema e, desvendou conhecimentos incríveis. Desligou-se do mundo corporativo e dedicou-se a projetos para ajudar pessoas a cuidar da própria saúde e bem estar. Fundou a escola do sono como um guia para transformar vidas, um espaço para aprender aquilo que faz bem, com base nas perfeitas leis da natureza.

Para saber mais sobre o tema conheça também o site Escola do Sono

Sobre o binge-watching e nossas fugas diárias

Sobre o binge-watching e nossas fugas diárias

“É impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fuga.” – Freud

O surgimento dos serviços de streaming de vídeos online marcaram a história da indústria do entretenimento e inauguraram novos hábitos de consumo de mídia que, hoje, fazem parte de nossa rotina. O binge-watching é o principal deles, e se refere ao ato de assistir vários episódios de uma série ininterruptamente.

Nos últimos tempos, esse novo costume tem se tornado objeto de estudo e alvo de críticas. Em recente pesquisa, uma universidade americana afirmou haver uma correlação entre o binge-watching e a incidência de estados depressivos, e algumas pessoas já o apontam como uma nova categoria de adicção. Por outro lado, o hábito também tem sido acusado de relegar a arte a um lugar contínuo de subterfúgio da realidade, se prestando como um poderoso meio de alienação.

Não é novidade que o consumo excessivo de algo (“binge”) se coloca para nós como uma possibilidade de fuga de sentimentos ruins experienciados. Quem nunca comeu compulsivamente ao lidar com uma decepção amorosa? Quem nunca “bebeu todas” para esquecer os problemas? Da mesma maneira, às vezes, entramos em uma sala de cinema tentando deixar a angústia do lado de fora, ou nos lançamos na leitura de um livro para ocupar uma mente inquieta. A ascensão definitiva do cinema americano, por exemplo, se deu durante a Grande Depressão de 1929, quando o estilo de vida uma vez invejável dos americanos estava desmoralizado e o cinema se tornou uma fuga imaginária para a população da época.

A questão aqui se volta, porém, não para o que o mundo nos apresenta como mecanismo de defesa contra estados emocionais desagradáveis mas, sim, para a relação que temos com estes e o que essa relação pode dizer ou nos alertar sobre nós mesmos ou sobre a sociedade em que vivemos.

Acredito que a atenção deva estar não no comportamento em si mas em sua incidência, ou padronização. Se o excesso vira rotina, talvez esteja na hora de pararmos e refletirmos sobre o porquê. Se procuramos a arte apenas como meio de alienação e nunca elucidação, se deixamos de procurar nela causa e procuramos apenas consolo, talvez seja o momento de nos questionarmos sobre a qualidade desse vínculo. Mas, principalmente, se a dinâmica que estabelecemos com esses mecanismos defensivos começam a afetar a maneira com a qual nos relacionamos com o mundo e com os outros, aí, talvez seja hora de nos preocuparmos.

De resto, a verdade é que viver não é nada fácil, e a fuga, se por um lado pode tornar-se patológica, por outro, também pode ter uma função restauradora. O excesso de estímulos, de informação, de afetos… O excesso da vida faz com que, às vezes, seja mesmo necessário dar um unplug e se refugiar na segurança de um universo imaginário. Talvez, seja um tempo necessário de elaboração e digestão de tudo que nos atravessa no dia-a-dia. Talvez, seja um tempo que precisamos dar de nós mesmos.

Pés descalços

Pés descalços

Acho que está na hora de você trocar estes sapatos. Pra dizer bem a verdade, já passou da hora.

Eu sei que não vai ser nada fácil. Sei que, um dia, distraída, você o enxergou na vitrine e ele pareceu brilhar de uma forma especial. Na verdade, você nem tinha saído de casa com esse intuito naquele dia, mas é sempre difícil resistir a um belo par de sapatos. Você deu mais algumas voltas no shopping, visitou outras lojas, mas já não conseguia pensar em outro par. Tinha que ser aquele. Então, voltou à loja e, finalmente, os calçou. E pareceu que flutuava. Os pés, confortáveis, sorriram. Você também. Decidiu então ficar com eles. Levou para casa. Para o quarto. Para a vida. A impressão é que havia encontrado o melhor calçado do mundo. Que seria sempre assim. Era incrível como ele combinava com todas as suas roupas, o fazia sentir bem, bonita, atraente, feliz. Você não queria mais tirá-los dos pés.

Acontece que o tempo passou e as coisas, pouco a pouco, mudaram. Na primeira esfolada você passou um pano úmido e fingiu não perceber as marcas deixadas. Depois, ele começou a perder o brilho. E parecia que já não combinava mais. Mas não se joga fora um sapato tão especial assim. Dar para outra pessoa? Nem pensar! E, por isso, você continuou a usar. Continuou a acreditar. E fingia que continuava tudo como antes. Até que ele começou a te machucar. Primeiro, deixou o calcanhar vermelho. Depois, os dedos começaram a incomodar. Calos, dor, sangue. E agora já era difícil fingir que estava tudo bem. E hoje, ao te ver ainda com eles, eu precisava escrever para você. Ei! Você mesmo! Esse sapato aí já não te serve mais. Já é hora de voltar às compras. Ou, talvez, você devesse andar descalça por um tempo.

Acredite em mim. Depois que você se acostumar a andar com os pés no chão não será qualquer calçado que irá te satisfazer. Quem sabe experimente um chinelo rasteirinho até os pés cicatrizarem. Só peço que não saia pelas vitrines procurando outro par igual. Já é hora de desfilar de calçados novos. Outra cor e outro modelo. Uma bota ou uma sandália de salto talvez. A ideia é experimentar algo diferente.

Diga adeus aos sapatos velhos! Guarde as lembranças boas, mas não se esqueça dos calos. Amor próprio, desapego e sapatos novos. O que mais uma mulher pode precisar? Pés bem calçados sempre estarão prontos para dançar. E é como um grande escritor disse certa vez: pode ser que, com o próximo, você queira dançar para sempre. Tomara que sim.

Por Rafael Magalhães

Fonte indicada: Precisava Escrever

A arte de cativar

A arte de cativar

Cativar, segundo o dicionário, significa impressionar uma pessoa (ou várias) com seu caráter ou jeito de ser, agir ou falar. Isso mesmo, impressionar com o caráter ou jeito de ser. Entretanto, parece-me que esse verbo está ficando obsoleto. Talvez eu esteja errado, mas me consolo ao saber que uma das figuras mais sábias da literatura divide a mesma opinião.

Em um mundo cada vez mais dinâmico, em que as pessoas estão sempre com pressa, perder tempo com alguém não faz parte do cardápio. A modernidade líquida, com a sua fluidez, apresenta um problema, no que tange às relações humanas, qual seja, a dificuldade em criar laços.

Essa dificuldade foi percebida com muita sensibilidade por Saint-Exupéry, no seu magnífico (foi difícil escolher a palavra) “O Pequeno Príncipe”. Na obra, lá pela parte XXI, o principezinho encontra uma raposa, a qual lhe transmite ensinamentos sobre a arte de cativar.

“[…] Que quer dizer “cativar”? É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços.”

Cativar é uma arte que realmente está esquecida. Não queremos perder tempo com ninguém, logo não buscamos criar laços. Pelo contrário, temos necessidades de relações com facilidade em desconectar (já se perguntou por que o Facebook faz tanto sucesso?). Construir laços é muito trabalhoso e leva tempo. E tempo é o que não temos no mundo líquido.

Por que devo perder tempo cativando alguém, isto é, construindo laços, se posso, a cada dia, ter novos “amigos”? A conta é simples: quando enjoo de alguns, troco por outros, e o melhor é que a conta sempre bate. Os adultos são especialistas em fazer contas, talvez por isso se adaptem tanto a esses relacionamentos.

A resposta à pergunta supracitada pode ser dada por qualquer indivíduo minimamente honesto, pois esses relacionamentos podem garantir até alguma coisa, mas amizade não é uma delas.

Para ser amigo de alguém, é preciso saber cativar e, para cativar, é preciso perder tempo. Criar laços é como construir uma ponte, uma vez que, se não estiver bem feita, ela nos faz cair. Criar laços é fazer de alguém simples uma pessoa especial; de um, em meio à multidão, a multidão, em meio a um. Ou seja, é trabalhoso e, ultimamente, tenho a impressão de que as pessoas não gostam de sujar as mãos.

Talvez ainda não tenham compreendido o que é cativar. Sendo assim, retiro-me, para que uma amiga mais sábia que eu possa falar:

“Exatamente, disse a raposa. Tu não és nada ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…”

Ah! Agora, talvez tenham compreendido a importância de criar laços. É somente quando criamos laços que nos tornamos únicos para o outro. Só quando nós cativamos o outro nos tornamos importantes para ele, pois só carregamos dentro de nós aquilo que não encontramos em nenhum outro lugar.

Cativar é um verbo que tem como complemento direito alguém, quem, em meio a tantos, tornou-se único. E não há como ser único estando sempre com pressa, de modo que não esteja presente para dar um abraço ou decifrar os enigmas de um longo olhar. Também não há como comprar um amigo em lojas ou sites de vendas. É preciso saber perder tempo para ter amigos.

“Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me.”

Perder tempo com alguém, como isso nos assusta. Aliás, a própria expressão “perder tempo” é controversa, pois não perdemos nada estando com alguém, pelo contrário, ganhamos. Entretanto, por medo ou conveniência (ou os dois), esquecemos o significado de cativar.

A bem da verdade, criar laços não é fácil, como já disse, e exige, além de esforço, paciência. Paciência para esperar o cimento que mantém os tecidos coesos secar. Paciência para compreender os mistérios que permeiam o outro. Paciência para conhecer, uma vez que:

“A gente só conhece bem as coisas que cativou.”

Como não andamos com muita paciência, logo não cativamos e, como não cativamos, não conhecemos ninguém de verdade. Contentamo-nos em passar pela vida conhecendo apenas representações. Muito preocupados em aparecer, esquecemos como é bom ser importante para alguém, pois, quando somos importantes, ainda que deixemos de existir, continuamos existindo no outro.

Existindo em função dos laços que criamos, das horas “perdidas” cativando. Existindo em cada pedacinho que respira. Existindo em cada nó que forma o laço. E, como nós são pequenos, dificilmente os veremos com os olhos, mas é um erro procurá-los com os olhos, pois

“[…] só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”

***

Leia o trecho completo do diálogo entre o Pequeno Príncipe e a Raposa

Doenças modernas: o carisma invertido

Doenças modernas: o carisma invertido

Temos diariamente quinhentos mil motivos para reclamar: a conta da luz está caríssima, o vizinho da frente fala aos berros com o filho, o elevador quebrou de novo, o dinheiro ainda não entrou na conta, o mercado está um roubo, o 3G não está funcionando!!! Sim, temos motivos de sobra.

E temos, igualmente, uma quantidade variada de pessoas que passam por nós, que vêm até nós, que convivem diariamente conosco, que nos observam, certas delas até desejariam nos conhecer um pouco mais, compartilhar momentos conosco, enfim, é gente o bastante para espantar qualquer solidão, mas… sequer prestamos atenção.

E perdemos muito, deixamos passar muito, desperdiçamos muito.

E por quê? Por que, sem perceber, nessas horas estamos no modo – carisma invertido -, esbravejando, lamentando, olhando para o vazio, para céu, para o chão, para a carteira, para a TV, para o celular, menos para os olhos uns dos outros.

Carisma invertido é uma espécie de acessório que vamos agregando ao longo da vida, especialmente, em alguma épocas mais azedas.

Temos a opção de exalar sorrisos, bom humor, piadas, elogios, abraços, mas, preferimos vociferar discursos intermináveis contra a política atual.

Temos a chance de conquistar mais algumas amizades numa reuniãozinha social, mas, escolhemos fazer o tipo antipático que só fala com quem já conhece e, em último grau, que faz uma cena teatral contando suas vantagens, monologando com seu copo e entediando a todos.

Podemos sair de casa e cumprimentar todas aquelas pessoas que diariamente passam por nós. O zelador, a moça que passeia com três cachorros, o jornaleiro, o vigilante do banco, a mal-humorada da padaria… mas, o que fazemos? Abaixamos a cabeça, fingimos que estamos pegando algo na bolsa, falando no telefone.

Dessa forma, vamos nos transformando pouco a pouco num grupo cada vez maior de pessoas de carisma invertido. A pessoa interessante que mora em nós vai perdendo espaço para o posseiro rabugento, o matador de risadas, o que já sabe tudo e não está a fim de trocar nem aprender com ninguém.

Fica, portanto, uma seleção de dicas para quem quer manter o seu carisma no estado natural, sem inversões ou mutilações:

  • Não seja mal-educado sob nenhuma desculpa;
  • Não use as crises, quais forem, como escudo para sua falta de assunto;
  • Não fale mal do que não sabe. Não agrida antes para perguntar depois;
  • Não use meias palavras quando uma pergunta exigir resposta inteira;
  • Não retribua um sorriso com indiferença;
  • Não categorize pessoas;
  • Não faça tipo, não seja um tipo, não imite um tipo;
  • Não pense que a paciência alheia é ilimitada;

E, por fim, esforce-se todos os dias para ser aquele tipo de pessoa que você admiraria pelo carisma!

Nota: A imagem de capa é uma homenagem ao filme “A fantástica fábrica de chocolate”.

Leia também: Segredo da felicidade: saber que tudo pode mudar

Promessas

Promessas

Não se deviam fazer promessas. Deviam ser proibidas, interditas a todos. Ninguém cumpre promessas, ninguém. Podem cumprir uma, mas, a primeira que falhem não lhes deveria ser permitida mais nenhuma.

As promessas mais doces se grudam na memória, como se de cola se tratassem que, quando seca, puxa-se aos poucos, mas, fica sempre qualquer coisa. Depois vai saindo, mas, a mão fica com aquele aspecto áspero e feio tais como são as promessas por cumprir.

Depois da promessa por cumprir deve-se esperar o castigo, a simples pena de ter de cumpri-lo. Oh, que embaraço, que pesadelo!

Mas, por que e que prometemos então? Por que quando prometemos somos virgens das consequências imprevisíveis dessa promessa. Há um espaço entre o momento em que se promete e o momento de cumprir, que compreende um mundo vasto de incertezas que determinam esse cumprimento.

E por ser tão vasto, tão imprevisível, com que direito prometemos? Com que direito damos chão e o retiramos? Sem chão, desarrumados por dentro, não cobramos o que ficou por fazer ou dizer, porque retiramos da pessoa, a credibilidade, o sentido.

Mas, como apaziguamos a alma? A mão começa a retomar o seu aspecto normal e delicado, todavia, não somos mais os mesmos. A memória dos Homens, tendencialmente fraca, compromete-se com novas promessas, assina por baixo, apesar da dúvida, e todos escapam impunes.

Pisque uma vez se entendeu, duas vezes se quer se compreendido

Pisque uma vez se entendeu, duas vezes se quer se compreendido

Ontem eu fui assistir a um show de um artista que gosto muito, daqueles que você realmente não hesita em sair de casa numa noite fria e chuvosa, porque o prazer de ouvi-lo é uma certeza.

Enquanto ele cantava e tocava lindamente o seu violão – e só ele e o violão bastam para encher um local de alegria e melodias – eu me percebi dando longas e demoradas piscadas. Piscadas sem pressa nem pressão, sorridentes, felizes. E, nessa hora, entendi como algumas expressões corporais são tão sutis e tão significativas ao mesmo tempo. Ninguém reparou, somente eu, e confesso, depois de algumas boas repetições. E, quando me dei conta, entendi o prazer de concordar com a minha alegria piscando os olhos, como se eles suspirassem.

Penso que fazemos isso um milhão de vezes na vida, mas não nos damos conta. É tão importante quando dizer para o outro que você entendeu a mensagem dele, é notar que isso é reafirmado por um gesto mínimo, mas delicioso. Melhor do que falar sem parar, repetir até a exaustão, retomar um assunto findo, é demonstrar com o brilho do olhar o que as palavras nem são capazes de expressar. Uma piscada lava os olhos e eles abrem mais brilhantes do que antes.

Mas, e quando o assunto é ser entendido? E quando chegamos naquele dilema de querermos muito ser compreendidos, mas o outro lado insiste em nos dizer “Não te entendo, não te compreendo, não consigo interpretar o que vem de você.”

Demoraria tempo demais inventar um novo vocabulário com palavras próprias para as nossas comunicações particulares, para as questões específicas de um diálogo.

Penso que, nessas encruzilhadas linguísticas, a solução é: Olhar nos olhos e piscar, não uma, mas duas vezes. A primeira para constatar que existe uma real atenção, e a segunda, para uma reflexão humilde, sem exasperação, sem aborrecimento. A segunda piscada mais longa, dá tempo para uma reflexão sobre como estamos nos comunicando e que estamos realmente querendo. E se acompanhada de uma respiração profunda, evita terríveis mal entendidos e azedumes. Nesse ínfimo tempo, ambos pensam e analisam se a conversa segue ou finaliza. E, por fim, após a segunda piscada, certamente virá uma inspiração para desatravancar a conversa, sem gritos, sem “esquece”, sem deixa para lá”.

Para mim, a partir de agora, serão regras:
Pisque uma vez para mostrar que entendeu, que aceitou, que bem recebeu.
Pisque duas vezes para ser entendido, para fazer a parada técnica que os diálogos às vezes pedem, para melhorar os argumentos.
E se as dicas derem certo, dê aquela piscadinha de um olho só para confirmar.

“Resgate do Jack”

“Resgate do Jack”

Vou dizer: minha percepção da delicadeza que a vida é, e o que ela representa, muda o tempo todo.

Hoje, há pouco, em mais um dia de caminhada com os cachorros até a cachoeira, Jack resolveu pular uma distância, hoje, maior por causa das chuvas constantes, entre duas pedras, que não davam conta de suas perninhas curtas. Lá se foi o Jack rio abaixo e eu atrás dele.

A correnteza era muito mais rápida do que eu poderia acompanhar, saltando as rochas rio abaixo.

Felizmente, ele conseguiu subir em uma grande e ficou ali. Eu, continuava descendo pra resgatá-lo, enquanto gritava pra que ele não saísse dali.

Não funcionou. Muito inteligente, ou apaixonado, vai saber, resolveu pular para outra pra vir até mim.

Lá se foi ele de novo. Mas, onde estava a correnteza, estava bem pior. Parei por segundos pra ver aonde ele ia e me orientar, até que ele sumiu embaixo de uma grande rocha.

Joguei-me pra procurá-lo até que o vi subir novamente. Fui descendo pela água e o vi subir em uma nova pedra. Alcancei-o, mas, um pequeno trecho de água ainda nos separava. Ele tremia sem parar. Vi, lá em cima da ponte, um senhor que acenava. Acho que ele me ouviu gritando por ele e veio ver o que estava acontecendo. Só rezava pra que nenhum dos outros cachorros que estavam conosco resolvesse me seguir.

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Comigo só tinha o Tobias, que ficou lá no início aguardando meio inquieto e observando tudo.

Sr Paulino veio descendo as pedras ao nosso encontro, enquanto eu o mantinha onde estava.

Nesse meio tempo, Alex e Miranda, que estavam na estrada me esperando, desceram com os outros até lá pra ver por que eu estava demorando tanto, e se depararam com a cena.

Nós estávamos totalmente molhados em cima da pedra e S. Paulino se aproximando. Alex deu a ele uma enxada, e com ela seguramos o Jack e o puxamos. Ele estava de volta ! Meio atordoado, mas estava ali.

Tivemos que subir pelo meio da mata mas, a essa altura, isso era o de menos.

Jack não é nosso, é de um amigo, e quando nos mudamos, ele estava aí. Tomava conta da rua e todos cuidavam dele. Aos poucos o fomos agregando a nossa família de adotados. É um cãozinho bem mal-humorado e ciumento, que muitos não o teriam salvo.

Quando tudo terminou, e voltava pra casa caminhando com ele e o Toby, os outros voltaram de carro, foi que senti medo, pensei em como o mundo ficaria mais triste sem ele.

Lembrei-me de uma matéria do Leonardo Sakamoto, em que ele fala sobre como o mundo seleciona a quem salvar.

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Minha filha tirou essas fotos depois que passou seu susto.

Chega a ser chocante saber que outros refugiados se autodenominam sírios, só para ganharem alguma simpatia e o direito a completarem seus propósitos de vida, com direito à dignidade e à paz, até que o fim chegue naturalmente, como deve chegar, porque, cedo ou tarde, um dia o tempo acaba mesmo, pelo menos esse.

Com quatro patas ou duas pernas, mal-humorado ou bom astral, de “raça”, vira lata, Jack, Rex, Mohamed, Isaac ou Kunta, quem somos nós afinal, para decidir quem deve ou não ter direito à vida ?

Não sabemos o dia de amanhã. Só espero, que um dia, não seja mais uma entre milhares de brasileiros em fuga, rejeitada por ser parda e tupiniquim.

Flavio Klein, graças a Deus e ao diclofenaco de potássio, que ando tomando nos últimos dias pra conter a dor na minha perna, tá aqui teu “filho”. Dormindo em paz, ao meu lado, enquanto escrevo isso.

Peço licença, e faço minhas as palavras de Leonardo:

“Que mundo é esse em que alguém miserável se passa por outra pessoa em situação deplorável no intuito de garantir a sua sobrevivência?

Ou, por outra: o que são favelas e bolsões de miséria, senão campos de refugiados econômicos, expulsos do quinhão de direitos que deveriam ser garantidos a todos desde que nasceram simplesmente por pertencerem à humanidade?”

Agora vou tomar um banho.

Oração a Ave Maria da Tardinha.

Oração a Ave Maria da Tardinha.

Santa Mãe que sopra esse vento manso sobre nós, que vive em lugar seguro entre o dia e a noite, desliza teu riso franco na brisa e dá a teus filhos um pouquinho de teu calor amoroso.

Vem, Tardinha, aquece e ilumina com teu sol alaranjado os cantos frios e acinzentados desta alma de paredes brancas encardidas de aflição. Venta tua brisa mansinha em minhas feridas ardendo.

Inunda com teu azul infinito minha escuridão solitária. Silencia e acalma com o canto de teus anjos o barulho que me mantém em sobressalto. Traz teu horizonte largo e faz festa em minha visão estreita e pobre.

Entrega o recado honesto do poente àqueles que encerram, iniciam ou prosseguem suas horas de trabalho. Como um carinho à toa, diz a teus filhos aqui embaixo que isso há de valer a pena, que a lida será bem-vinda e a vida estenderá de tudo um pouco às mãos afeiçoadas ao ofício honesto e produtivo.

E que nossa noite mais escura, Tardinha, venha sempre com o carinho por ti recomendado. E nos prepare com alegria para a manhã seguinte de coração em festa, certos de que em breve seremos de novo teus filhos de sempre, tocados por teu sol poente, beijados por tua brisa fresca, amados por tua presença, Tardinha. Amém!

As velhinhas felizes da artista finlandesa Inge Löök

As velhinhas felizes da artista finlandesa Inge Löök

“Tudo na vida é uma questão de equilíbrio . É uma grande alegria e felicidade fazermos o que realmente gostamos.” Inge Löök

Inge Löök é uma artista gráfica finlandesa que, desde meados de 1970, intercala seus trabalhos artísticos com a jardinagem. No equilíbio desses afazeres encontrou inspiração para suas doces e hilárias criações.

Conheci e me interessei por essa artista quando, navegando por redes sociais de imagens, deparei-me com ilustrações coloridas e lúdicas de velhinhas: todas sempre gargalhando e aprontando alguma coisa.

Abaixo, uma seleção dessas imagens. No site da artista, as charmosas velhinhas são disponibilizadas em forma de cartões postais.

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O mito e o impossível do amor

O mito e o impossível do amor

“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil”.

– Clarice Lispector

O amor apresentado enquanto condição sine qua non da felicidade há séculos nos faz caminhar pela vida como os andróginos amputados da mitologia grega – aqueles seres primordiais que após causarem a ira dos deuses foram divididos em dois e condenados a passar o resto da existência em busca de sua outra metade.

Acreditamos no amor como promessa de completude. Acreditamos que existe alguém, em algum lugar, que tem/ é aquilo que nos falta; o encaixe perfeito. E nos lançamos incessantemente nessa busca até encontrarmos aquele que se apresenta como tal. Não invariavelmente, porém, o encontro logo vira desencontro, pois a promessa não se cumpre. E, assim, seguimos procurando, enquanto colecionamos dores e frustrações de relacionamentos que “não deram certo”… Uma sucessão de pessoas “erradas”… Será?

Freud, no início de sua obra, já evocava o Mito do Andrógino para expressar a ideia de que para os humanos o amor se configurava como a via privilegiada para se chegar à felicidade plena. Mas adiante, contudo, vai afirmar o caráter de desassossego que o amor pode produzir, algo da ordem do impossível inerente às relações amorosas. A matemática que não se resolve… Pois há algo no amor de dois que não pode fazer um. E, assim, entre um amor e outro, o que se encontra é a repetição de um fracasso, pois a realização amorosa nunca é definitiva.

O que compromete o laço amoroso, porém, está para além dessa impossibilidade. O fracasso das relações está na nossa própria dificuldade de assumir sua falha. Na tentativa de renegá-la, amamos a partir de um ideal, estabelecemos relações imaginárias, onde imagens do eu e do outro se confundem. Exigimos provas de amor, mas não nos damos por satisfeitos, “porque não se trata de ser amado, mas, sim, de querer ser amado do modo pelo qual se imagina que se deva ser amado.” Qualquer particularidade do outro tem de ser apagada para que se mantenha a fantasia de unidade.

A dificuldade está em viver um amor que se dirige ao ser do outro em sua singularidade. Um amor que se dá na diferença, onde dois não fazem um, mas dois. Um amor como campo onde se entra não com algo a mais para dar ou receber, mas com algo a menos. Dizia Lacan, “Amar é dar o que não se tem” e, portanto, reconhecer a própria falta. Aquela falta que o outro não preenche, que nada preenche. A dificuldade está em viver o amor apesar dessa falha, onde a possibilidade de se sentir completo, de viver a relação perfeita, não existe. De aceitar que a plenitude do encontro é fugaz e que, mesmo que tudo seja flores, ainda temos que lidar com os espinhos.

No navegar impreciso da vida, mais bem sucedidos seríamos se embarcássemos em nossas histórias – cada um com sua bagagem – aceitando que em alto-mar há os dias de sol, chuva, tempestades e calmaria, e que nesse caminho do encontro o horizonte não nos reserva a felicidade definitiva, mas algumas verdades sobre nós mesmos que, ao longo da viagem, vamos revelando com a ajuda do outro.

A volta dos tribalistas

A volta dos tribalistas

Em artigo para a Folha de S.Paulo, Walter Porto (com colaboração de Bruno Fávero), fala sobre como as redes sociais tendem a potencializar certos comportamentos humanos quando imersos em contextos coletivos – comportamentos “que o sociólogo americano Richard Sennett chama de tribalização: o impulso natural, animalesco, de solidariedade com os parecidos e agressão aos diferentes.” Leia abaixo:

“Tomara que leve um tiro na cara, vagabunda”. Até hoje, mensagens assim são publicadas na página do Facebook criada para infernizar a vida de Mayara Petruso, a estudante que, quatro anos atrás, tuitou ofensas a nordestinos. Por causa dos comentários que a tornaram conhecida e odiada, ela perdeu o emprego, saiu da faculdade, mudou de São Paulo, foi condenada pela Justiça a prestar serviços comunitários e excluiu todas as suas contas em redes sociais. Nem assim foi esquecida na internet.

É um exemplo típico de linchamento virtual: em vez do apedrejamento e da violência física dos tempos medievais, a massa agride o suposto transgressor com avalanches de mensagens hostis na internet até obter seu assassinato social.

Para o mal e para o bem, “a internet colocou o poder de volta nas mãos das multidões”, resume Jennifer Jacquet, professora do departamento de estudos ambientais da New York University especializada em dilemas de cooperação em larga escala.

Segundo essa especialista, o linchamento virtual de indivíduos comuns é problemático não só pela exposição pública da pessoa mas pela desproporção entre o delito e a punição, “a falta do devido processo legal e a indestrutibilidade das informações”.

VERGONHA

A agonia do linchado pode durar muito, como atesta a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, que, em palestra no mês passado, se definiu como a primeira vítima da perda de reputação em escala global — seu envolvimento sexual com o então presidente dos EUA, Bill Clinton, eclodiu em 1998, junto com a popularização da internet no país.

Dezessete anos depois, Lewinsky diz ainda sofrer com a repercussão do episódio. Ela se emocionou ao lembrar que houve um período em que seus pais temiam que ela se suicidasse pela incapacidade de lidar com a vergonha. Eles chegavam a exigir que tomasse banho de porta aberta para que pudessem vigiá-la.

Por aqui, um sujeito que as redes sociais amaram odiar foi o mineiro Idelber Avelar, aquele professor de literatura da Universidade de Tulane (EUA) que acabou acusado de assédio sexual por duas mulheres na praça pública da internet. Segundo uma delas, ele a abordou em chats privados e subiu o tom das conversas ao enviar, sem autorização, mensagens e fotos de forte teor sexual.

O caso ainda corre na Justiça, mas ninguém esperou que a culpa ficasse provada ou que se estabelecesse a diferença entre sedução e assédio sexual para fazer o julgamento moral de Avelar, tachado de misógino e predador.

O professor disse à Folha que o episódio fez com que ele desenvolvesse um quadro de depressão, além de prejudicar sua reputação e sua carreira.

“Quebrou-se boa parte dos meus laços sociais, porque mesmo quem percebeu a injustiça passou a ter medo de se associar ao linchado”, queixa-se.

ÓDIO DE GRUPO

O ambiente virtual favorece também a formação de aglomerações espontâneas que se dedicam tanto a fustigar pessoas específicas quanto a atacar grupos sociais.

Diretor do laboratório da natureza humana da Universidade Yale, o sociólogo e médico Nicholas Christakis explica o fenômeno com base no chamado “viés de grupo”, tendência que temos a temer ou a odiar aqueles que não enxergamos como semelhantes.

É um conceito similar ao que o sociólogo americano Richard Sennett chama de tribalização: o impulso natural, animalesco, de solidariedade com os parecidos e agressão aos diferentes.

Um exemplo do modo como se manifesta essa emoção tribal foi visto logo depois da queda do avião da Germanwings nos Alpes franceses, em março. Nacionalistas espanhóis não demoraram a espalhar tuítes comemorando a tragédia que matou 150 pessoas –incluindo um grande número de catalães.

Nem por isso se pode demonizar a web, como alerta Christakis. “A internet não muda nossa humanidade, não nos está tornando mais rancorosos, mas permite que expressemos nosso ódio em maior escala”, completa.

Em seu livro Is Shame Necessary? (A Vergonha É Necessária?, ainda sem tradução no Brasil), a professora Jennifer Jacquet enxerga o lado positivo do fenômeno. Segundo ela, o constrangimento público facilitado pela tecnologia pode ser útil para que a sociedade civil exponha autoridades e empresas, reprovando ações que considere nocivas.

“A punição pela exposição pública age não apenas para desestimular um indivíduo a repetir comportamentos, mas para sinalizar à sociedade que um comportamento não é apropriado”, reforça.

Seja como for, é melhor evitar exposição do que virar alvo de propaganda negativa na internet. É isso que aconselha Juliana Abrusio, professora do Mackenzie especializada em direito digital. Ela lembra que há mecanismos legais para pedir indenização na maioria dos casos, mas pondera a efetividade dessas medidas.

“A internet sufoca a dignidade da pessoa e não existe processo judicial que vá compensar isso”, afirma. “Mesmo quem erra tem direito à dignidade.”

Fonte indicada: Fronteiras do Pensamento

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