UBER X TAXI: chamando a responsabilidade

UBER X TAXI: chamando a responsabilidade

 

“Nos sonhos começa a responsabilidade”. – W.B. Yeats

Nos últimos meses, a disputa entre o serviço de transporte alternativo Uber e o serviço de táxi tradicional vem criando polêmica e gerando uma discussão infinita que envolve questões legais, morais e éticas. De um lado, os taxistas reivindicando a exclusividade de direito sobre o transporte de passageiros e apontando a ilegalidade e deslealdade da concorrência; do outro, a empresa americana alegando que o serviço prestado não é público, de taxi, e sim particular, e que por isso não age ilegalmente.

Se fica claro o cinismo de seu argumento, que se beneficia de uma brecha na lei para se sustentar, é notável também o fato da Uber ter surgido no mercado trazendo não apenas uma alternativa de transporte mas uma ideologia de cultura sustentável e compartilhada que, ainda que com fins capitalistas, tem potencial, de fato, para gerar benefícios coletivos. Sendo assim, se falta moral em sua postura, talvez, sua visão, preserve a ética. Talvez…

A reflexão proposta aqui, contudo, sai dessa macroesfera da lei e da responsabilidade social e se volta para a questão da responsabilidade individual do sujeito que se vê implicado, prejudicado e vítima dessa situação.

Há alguns dias, assistindo pela TV uma das últimas grandes manifestações realizadas pela classe taxista contra a Uber, fiquei me perguntando se, entre aquelas milhares de pessoas, os roncos das buzinas, os gritos de protesto e o caos no trânsito, ninguém parou por um segundo para se perguntar “Afinal, por que viemos parar aqui?”. Provavelmente, não.

Digo “provavelmente, não” porque nosso movimento natural diante das adversidades da vida – o problema no trabalho, no casamento, o investimento que não deu certo – é culpar o outro (o chefe, o parceiro), a sorte, o destino. Como se houvesse algo no mundo, algo exterior a nós, que pudesse definir de maneira absoluta nossa trajetória sem que não tivéssemos a mínima interferência sobre isso. Evitamos nos perguntar sobre a nossa responsabilidade porque é mais confortável nos mantermos no registro da queixa e da reclamação esperando que a mudança de atitude alheia, a mudança dos astros ou da vontade divina, traga a solução dos nossos problemas. Nossa dificuldade é assumir que somos responsáveis por tudo aquilo que nos acontece, até mesmo frente ao acaso e à surpresa.

Pode parecer quase absurda para alguns essa afirmação mas o fato incontestável é que, no momento em que nos perguntamos “O que eu tenho a ver com isso?”, afrouxamos as amarras do “Grande Outro”, e começamos a tomar as rédeas de nossa vida, porque, se há algo de nós em tudo em que nos acontece, não importa o quão adversa, difícil seja a situação, existe algo que podemos fazer para mudar o curso das coisas. Nesse sentido, a responsabilidade liberta. Mas pesa, não é? Pesa…

Voltando à polêmica, é fácil perceber que os que se vêem prejudicados nessa disputa não se questionam sobre os motivos que os levaram a esse lugar, e investem toda sua energia tentando desqualificar e aniquilar (até literalmente!) a concorrência. Aqui, não se trata de tirar a legitimidade de seu protesto, apenas, pensar além disso.

Não é novidade que o serviço de taxi nas capitais deixa a desejar há muito tempo. O taxista passou a ser tão mal visto a ponto de ter sua figura cristalizada em um estereótipo negativo e zombeteiro. E, ainda que o cliente nem sempre tenha razão, não dá para negar que isso aponta para um sintoma grave na base da classe.

Assim, vimos a insatisfação virar demanda, e a Uber se aproveitar dessa brecha e todas as outras para se estabelecer em um mercado antes monopolizado. Porém, a questão ainda vai além.

Os taxistas reivindicam o direito de exclusividade pelo serviço de transporte, mas o fato é que, aquela pessoa que contrata a Uber não quer apenas ir de um ponto a outro da cidade, ela quer isto agregado a uma experiência de qualidade. O serviço Uber tem no modelo executivo o seu padrão. Além de carros novos, considerados de luxo, todos os motoristas são orientados a oferecer bebidas e outras conveniências em seus veículos. São orientados também quanto a sua apresentação pessoal e o tratamento com o passageiro. Ou seja, a Uber traz para o mercado um serviço de transporte agregando a ele um valor, um valor que as pessoas estão desejando e até pagando mais para ter. E contra o desejo é difícil lutar.

A impressão que dá é que a classe taxista, na tentativa de resolver seu drama, está recorrendo a Lei como a criança recorre ao pai, pedindo que ele expulse da casa o amiguinho, mais velho (disputa desleal!), que está vencendo a partida do jogo.

Acredito que além de apontar a falta no outro (de legalidade, de lealdade), a classe precisa também assumir um pouco a responsabilidade pela condição atual adversa que se encontra; deixar de se vitimizar e tentar fazer algo para mudar, se renovar, para resgatar a perda que sente ter sofrido. Caso contrário, ficará paralisada na culpabilidade, esperando a resposta daquele outro que a livrará do problema. E, nesse caso, a resposta do “pai” pode ser não…

No mundo de oceanos vermelhos e azuis dos negócios, dizem seus mestres, “Não concorra com os rivais — torne-os irrelevantes”. Identifique as ameaças e oportunidades que lhe cercam e, acima de tudo, conheça suas forças e fraquezas. Até os administradores concordam que na batalha por um lugar ao sol é preciso olhar para dentro…

Aos homens que não aprenderam a nadar

Aos homens que não aprenderam a nadar

O mar está cheio

Há cardumes de peixe e gente

Há barcos com peso demais

Há mulheres, crianças, jovens e velhos,

Que não conseguem chegar à margem.

 

E os homens que não aprenderam a nadar

Esperam em terra

Com escudos e cassetetes

 

O mar está triste

Seu sal são lágrimas da agonia

De mães e pais que nadaram

Para longe  do caís,

Afogando-se juntos aos seus em alto mar.

 

E os homens que não aprenderam a nadar

Esperam em terra

Com escudos e cassetetes

 

Homens, para que essa proteção?

Do mar, poucos sairão inteiros.

Tantos olhos foram se fechando

Enquanto eram observados pelos peixes entristecidos

Que não lhes podiam doar as nadadeiras.

 

E os homens que não aprenderam a nadar

São comandados

Por quem finaliza acordos e conchavos

Com aqueles que só se interessam

Em ganhar com o fogo do Mundo.

Se o Facebook fosse um Jogo de Tabuleiro

Se o Facebook fosse um Jogo de Tabuleiro

 

Abra sua conta.

Escolha sua foto.

Adicione amigos. Vale tanto os imediatamente próximos como aqueles que você não via desde a época do maternal.

Pronto.

Já pode começar a jogar.

Primeira jogada: Você compartilha uma matéria bacana, argumentativa, com o intuito de fazer seus amigos refletirem sobre um determinado assunto. Começou bem, ande cinco casas.

Você posta uma foto do prato do restaurante em que almoçou.     Fique uma rodada sem jogar.

Você curte o seu próprio post. Aproveite enquanto os outros jogam e dá uma pensadinha no porquê de entrar nesse jogo e se você quer mesmo continuar.

Escreve uma mensagem lacônica, querendo chamar atenção, no estilo “Estou triste” ou “Estou com azia”. Volte uma casa (e se você mesmo curtir isso, volte oito).

Posta uma sugestão de música ou filme pouco conhecido, mas que você gosta muito e que acha que pode interessar seus amigos. Avance duas casas.

Resolve postar uma foto antiga, constrangendo um amigo que aparece nela com um corte de cabelo horroroso ou com uma roupa que já esteve na moda um dia, mas que hoje virou motivo de piada. Passe a vez para o amigo.

De boa-fé, compartilha uma matéria alarmista, do tipo “Miojo preparado com sal na água causa envenenamento!!!!!!”, sem checar a fonte ou investigar a veracidade. Volte duas casas.

Sentindo-se disposto a inspirar seus amigos, você posta a seguinte frase:

“Se a vida lhe der um limão, faça uma caipirinha”.

                                                                           Clarice Lispector

Volte duas casas.

Começa um debate sobre algum assunto, colocando uma ideia, abordando a questão por todos os lados e mantém a conversa com argumentos fundamentados e em nenhum momento ataca uma ideia contrária. Avance sete casas.

Posta uma foto do seu umbigo. Volte umas casas. Você mesmo decide quantas, ok?

Disposto a atrair atenção para uma causa que acha justa, você posta uma foto chocante, que pode impressionar pessoas mais sensíveis. (Hum… O pessoal que faz as regras vai analisar caso a caso, enquanto isso, pode continuar jogando.)

Como você odeia alguma coisa, seja partido político, gênero musical ou programa de televisão, você tem um momento hater e faz uma sequência de postagens atacando o alvo escolhido. Volte cinco casas.

Você posta uma notícia antiga, que foi dada por um grande jornal ou revista, mas que já foi desmentida. Volte três casas se você não sabia do desmentido ou volte onze se você sabia.

É época de eleição e, mesmo sabendo que não é verdade, você compartilha uma notícia falsa, do tipo “Lulinha é Dono da Friboi” ou “Aécio é condenado pelo desvio de 4,3 bilhões”, enquanto aproveita para fazer comentários xenofóbicos ou preconceituosos. Volte… Não, pensando bem, deixa pra lá…

Game Over.

Sinto saudades do que a gente não viveu

Sinto saudades do que a gente não viveu

Olho para você e vejo uma beleza. Uma história linda que não foi contada. Às vezes penso em você e sinto saudades do que a gente não viveu. As manhãs de sábado em que acordávamos famintos e íamos descabelados até o café da esquina comer um english breakfast e um suco de maça com gengibre. Ficávamos mergulhados em nossos silêncios vendo o movimento crescendo nas ruas, em mais um dia quente. E eu nem precisava te olhar para saber que você estava ali, imerso também em uma certa doçura. E a house music que tocava no café, nunca foi muito o meu estilo, mas compunha perfeitamente essa história de um verão com ventos do pacífico.

Esses silêncios que nunca existiram, essas manhãs que nunca se deram. Afogadas na pressa de entrar num ônibus antes mesmo do sol nascer.

Sinto falta da nossa caminhada na orla, em que parávamos para ver o surf ou conversar com um amigo em comum que nunca tivemos. E deitávamos na areia só para tomar um sol no rosto e respirar o cheiro um do outro um pouco mais. E de quando éramos surpreendidos com um cachorrinho nos jogando areia e pulando a nossa volta, nos convidando para brincadeiras e nos desvendando as gargalhadas que já estavam prontas e só procurando um pretexto para irromperem. Envoltos numa dose certa de serotonina e adrenalina. Entorpecidos e vibrantes. Virávamos crianças. As crianças que nunca fomos.

Às vezes penso em você e sinto saudades do que a gente não foi. Nosso amor teve o peso dos adultos, já nasceu grande demais, nasceu perigoso, estressado, cansado. Uma bonita vontade no campo dos medos e das obrigações, uma bonita energia no campo dos orgulhos. Nasceu em meio a uma guerra, lindo mas cancerígeno. Nosso amor escondido nas madrugadas, nas garrafas de cerveja, na tristeza de saber que nunca conhecerá essas manhãs encantadoras de sábados.

Pepe Mujica, em vídeo viral, afirma: “ou se é feliz com pouco, ou não se consegue nada”

Pepe Mujica, em vídeo viral, afirma: “ou se é feliz com pouco, ou não se consegue nada”

Pepe Mujica, ex Presidente uruguaio, é dono de um discurso simples, direto, persuasivo e contundente. Sua inteligência, aliada ao seu modo de vida desprovido de pompas e regalias, dão crédito ao seu discurso.

Afinal, ele vive o que apregoa. Seu discurso encontra eco em sua vida cotidiana.

O vídeo abaixo é viral e você entenderá logo o porquê.

Um belo documentário que deveria ser visto por todos!=========================HUMAN”Cineasta Yann Arthus-Bertrand passou 3 anos coletando histórias da vida real de 2.000 mulheres e homens em 60 países. Trabalhando com uma equipe de tradutores, jornalistas e câmeras, Yann captura profundamente relatos pessoais e emocionais de tópicos que unem a todos nós; lutas contra a pobreza, a guerra, a homofobia o futuro de nosso planeta, combinados com momentos de amor e alegria. Assista aos 3 volumes do filme e vivencie #WhatMakesUsHUMAN ” ==========================Site:https://humanthemovie.withgoogle.com/intl/pt-br/Video: https://youtu.be/TnGEclg2hjgFacebook: https://www.facebook.com/humanthemovieTwitter: https://twitter.com/humanthemovie==========================

Posted by Marcelo Passos C on Sábado, 12 de setembro de 2015

Veja também:  Mujica diz que corrupção é doença no Brasil e pede ‘quem gosta de dinheiro’ longe da política

Como o Brasil virou a terra de reizinhos corruptos através dos séculos

Como o Brasil virou a terra de reizinhos corruptos através dos séculos

“O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera. (…) os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.”

“Sermão do Bom Ladrão”,
Padre Antônio Vieira

Por Elder Dias

O Brasil parece mais corrupto do que nunca. E o fato de o escândalo na Petrobrás ser considerado por muitos o maior rombo aos cofres públicos da história da humanidade pode, de certo modo e a partir de certo ponto de vista, dar argumento a que isso se imponha como verdade. Mas, mais do que disputar a mensuração quantitativa do que está ou esteve sendo roubado da Nação, parece importante entender a corrupção em sentido histórico. Afinal, se até para o Big Bang suspeitam de uma Origem, o mensalão, o trensalão e o petrolão não são frutos do nada ou filhos do vácuo. O comportamento “sui generis” em relação ao fenômeno — seja como autor, espectador ou alguém entre essas duas pontas — também merece uma análise: por que se ataca tanto e de tantas formas os cofres públicos? Do lado de lá, por que criminosos ou acusados de crimes contra o País infestam as casas legislativas e os palácios, em vez de gente comprometida com a política stricto sensu, aquela do radical grego “polis”? Do lado de cá, por que temos tanta complacência com o “rouba mas faz”?

Voltemos 515 anos no tempo. Pero Vaz de Caminha, autor da carta que anunciou o descobrimento do Brasil, aproveitou o momento glorioso de que participava para fazer um pedido conveniente ao rei Manuel I. Não era um emprego a um familiar, como se costuma erradamente repetir, mas, sim, o perdão de seu genro, condenado ao degredo na África por assalto a mão armada: “E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé [que, com a Ilha do Príncipe, forma São Tomé e Príncipe, país africano ex-colônia portuguesa] a Jorge de Osório, meu genro – o que d’Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio de 1500.”

Foi com certeza o primeiro caso de tráfico de influência registrado em terras brasileiras, ainda que amparado legalmente já que o rei tinha poder para conceder indultos. Mas Pero Vaz, que morreria em combate em dezembro daquele ano na Índia, não praticou nepotismo nem pediu emprego. O fatalismo com que se remete a esse episódio parece querer um certificado simbólico de que a corrupção está no DNA do País.

Por isso, é preciso ir além. Professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) no campus de Franca, Denise Moura é também doutora em História Econômica, com ênfase no Brasil colonial e imperial. Ela explica que as “mercês”, como eram chamados os favores, eram um costume nas relações de poder de Portugal. “Para aquela época, não há nada de errado, ou moralmente incorreto, no que então fez Pero Vaz”, afirma a professora.

Na verdade, a corrupção no País, como se vê, não nasceu com o missivista. Mas suas sementes foram lançadas logo em solo nacional, não com dolo, mas certamente com culpa, pela própria Coroa portuguesa. A partir do início da colonização, dadas as condições em que ocorreu, a tal erva daninha germinou. Como escreveu Pero Vaz, nesta terra “querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”. A corrupção vingou facilmente.

Povoar o Brasil, um sacrifício
Para ocupar a nova possessão, evitando deixá-la vulnerável a outros povos exploradores, como espanhóis e holandeses, Portugal partiu para uma política de incentivos à colonização. O pequeno reinado europeu era potência marítima, mas não conseguia arregimentar voluntários para migrar ao Brasil, algo visto como um sacrifício ou até um castigo. Aliás, mais do que isso: como em colônias lusitanas na África, também para cá vieram condenados ao degredo.

Para manter a tutela do território à direita da linha do Tratado de Tordesilhas, o jeito foi oferecer benesses em altíssima escala para quem se dispusesse a ocupá-lo. Surgiam as capitanias hereditárias, cujos donatários usufruíam de superpoderes em seus limites. O rei de Portugal lhes concedeu privilégios jurídicos e fiscais e, entre outras atribuições, podiam fundar cidades, autorizar construções, cobrar impostos locais e decretar pena de morte para certas pessoas (geralmente escravos ou de classe baixa).

“O Brasil que os reis portugueses não queriam perder — mas no qual também não queriam viver —, tornou-se uma grande oportunidade para ser fidalgo e rico, mas com a obrigação de organizá-lo”, resume Denise. Todavia, mesmo com todas as regalias, algumas capitanias acabaram abandonadas. Ao fim, apenas a de Pernambuco e a de São Vicente prosperaram.

Mais: a negligência portuguesa em relação ao que se passava fez com que cada um dos donatários agisse como se fosse o próprio rei. Este é o ponto: de empreendedor de uma missão designada pela Coroa portuguesa, o donatário passava, na prática, a ser o dono de um Estado. Dessa forma, passa a soar menos hiperbólica a comparação do Maranhão a um feudo da família Sarney ou de Alagoas a um curral dos Calheiros. Os coronéis políticos têm relação com os capitães de outros séculos. “Muitos dos atuais mandatários têm em seu sobrenome alguns dos primeiros poderosos”, lembra a historiadora.

Esse efeito colateral da forma de povoamento do País levou a algo mais sério: a efetivação do patrimonialismo, que nada mais é do que tomar como particular aquilo que é do erário. O donatário da capitania nomeava pessoas, que também detinham muito poder; essas também colocavam prepostos em mais posições. “Dessa forma, cria-se um efeito cascata de poder. E cria-se a ideia de que ter acesso a cargos públicos era deter poder. Assim, as instituições públicas foram se formando no Brasil Colônia dentro do mecanismo de doação do cargo público.”

E as pessoas da base? Afinal, havia povão — e como havia — naqueles idos tempos: escravos, índios, pequenos comerciantes, autônomos, militares de baixa patente. O cidadão comum, desde os princípios da colonização, não teve como não confundir “poder” com “aquele que está no poder”. Em uma trágica metonímia, tomou a parte pelo todo. A junção desses fatos poderia, então, explicar a tolerância até da própria legislação com ocorrências de apropriação indébita, peculato, evasão de divisas e outras que estão sempre presentes nos indiciamentos dos chamados “crimes do colarinho branco”. Na visão popular, era assim que as coisas aconteciam. E assim seriam.

Sem fiscalização

Ainda há outra lacuna importante que faz com que o Brasil colonial fosse, por muito tempo, uma terra aberta para a corrupção: não havia instituição fiscalizadora. “O primeiro órgão nesse sentido é o Conselho Ultramarino, criado em 1642”, diz a doutora da Unesp. Importante notar que já havia então mais de um século de colonização. “O conselho era um organismo para coordenar a política externa de Portugal e centralizar as denúncias. O interessante é notar, nos documentos históricos, que o cidadão comum já fazia denúncias de irregularidades. Moradores de determinado lugar podiam escrever — e escreviam — representações ao rei, para denunciar atitudes arbitrárias.”

Mais do que isso, manifestações e protestos já ocorriam desde o período colonial contra os excessos de alguma autoridade local. “Por esse lado, o brasileiro também sempre teve uma postura denunciadora, fiscalizadora, das instituições públicas”, afirma a professora. No Brasil independente do período imperial também não eram poucas as denúncias. Isso ocorria também porque o país vivia então um regime de grande liberdade de imprensa, notadamente após a ascensão de Dom Pedro II.

Sob o manto negligente dos portugueses, o Brasil caminhou quase por si só por muito tempo, com nomeações e mais nomeações. Para conquistar uma “posição” era preciso ter conhecimentos — histórias bem dissecadas na obra de Machado de Assis, por exemplo.

Eleição havia para vereador e juiz ordinário, mas poucos votavam. “E os eleitos procuravam o cargo não porque teriam bons salários, mas pelos benefícios, como andar armado, não poder ser preso, ter regalias”, diz Denise.

Mordomias, tráfico de influência, busca de posições, luta por território. Tudo muito parecido com o que há hoje, nos três poderes. Mas é possível dizer que a corrupção tenha piorado com o tempo? Denise Moura não vê essa “maior corrupção”. “A corrupção hoje é obviamente mais visível, com todo o aparato moderno. É assim também com as guerras. Mas ninguém vai pensar que a crueldade e a violência no Oriente Médio começaram com o Estado Islâmico e seus vídeos.”

E não nasceu também hoje, ou mesmo da era contemporânea, outro sintoma sempre atrelado aos casos de corrupção: a revolta, a indignação. Em 1655, 123 anos depois da fundação da vila de São Vicente, a primeira do Brasil, o padre Antônio Vieira, a maior referência do período barroco da literatura brasileira, proferiu o “Sermão do Bom Ladrão”, que abre este texto. Mais que gritar contra a corrupção, é preciso conhecê-la pelas raízes para, então, combatê-la.

Fonte indicada: Jornal Opção

Separação afetiva, uma sábia ponderação da Monja Coen

Separação afetiva, uma sábia ponderação da Monja Coen

É possível separar-se de alguém com respeito e com ternura.

É possível um divórcio verdadeiramente amigável.

Mas para isso é preciso que as duas pessoas envolvidas no processo de desfazer um laço de intimidade tenham amadurecido o suficiente para conhecer a si mesmas.

Caminhamos lado a lado com algumas pessoas em alguns momentos da vida.

Minha professora de hatha ioga, Walkiria Leitão, comentou em uma de nossas aulas:

“A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós.”

O medo da solidão, muitas vezes, faz com que as pessoas suportem o insuportável. Ou se lamentem após uma separação, apegadas até mesmo ao conflito conhecido.

Ainda há mulheres que sofrem violências morais e até mesmo físicas de seus companheiros ou companheiras.

Ainda há homens que sofrem violências morais e até mesmo físicas de suas companheiras ou companheiros.

Como dar limites? Como conhecer esses limites?

Quando os limites são desrespeitados, as dificuldades começam. Dificuldades que podem levar à separação e ao divórcio. Dificuldades que podem levar ao sofrimento filhos e filhas, animais de estimação, amigos, familiares.

Caminhamos lado a lado.

Ou não.

Quando nos afastamos e nos distanciamos, nunca é repentino.

Um processo que, se desenvolvermos a clara percepção da realidade assim como é, poderemos prever, antecipar e até mesmo alterar o desenvolvimento do processo.

Entretanto, se não conseguirmos antever o que já acontece, se colocarmos lentes fantasiosas sobre a realidade, poderemos nos desiludir e nos sentirmos traídos na confiança mais íntima do ser.

Professor Hermógenes, um dos pioneiros do yoga no Brasil, fala sobre a criação de uma nova religião chamada “desilusionismo”:

“Cada vez que temos uma desilusão estamos mais perto da verdade, por isso agradecemos.”

Se você teve uma desilusão é porque não estava em plena atenção. Mas não fique com raiva nem de você nem da outra pessoa.

Nada é fixo. Nada é permanente.

Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos.

Por que sofrer? Por que manter relações estagnadas ou de conflito permanente? Ou como transformar essas relações e dar vida nova ao relacionamento?

Apreciar e compreender a vida em cada instante é uma arte a ser praticada.

Separar-se dói, confunde, mexe com sonhos e estruturas básicas de relacionamentos.

Separação pode ser também uma bênção, uma libertação de uma fantasia, de uma ilusão.

Observe em profundidade.

Monja Coen é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen-Budista, com sede em São Paulo.

Fonte indicada: Budismo Petrópolis

Os sofrimentos do nosso eu (romântico)

Os sofrimentos do nosso eu (romântico)

“O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.”

– Clarice Lispector

Lançado na Europa em 1774, “Os Sofrimentos do Jovem Werther” conta a história de um aristocrata alemão de temperamento sensível e artístico que, frente a impossibilidade de uma realização amorosa, decide dar fim a própria vida. Após sua primeira publicação, o livro inspirou uma leva de leitores, que se identificaram com o personagem, e atribuiu-se a ele uma onda de suicídios na época. A obra de Goethe inaugurou o romantismo, apresentando um dos conceitos-chave do pensamento romântico – o desejo pelo impossível. O herói romântico sofre com a dor de amar alguém inalcançável; sofre “la douleur exquise”, como dizem os franceses. Seu universo é marcado pela impossibilidade; pela idealização do mundo, do objeto de amor, e depressão por esse ideal não se materializar.

Não à toa, a Psicanálise recorreu as sementes plantadas pelos românticos para pensar o desejo e contradições humanas. Partindo da ideia de sujeito como um ser marcado por uma falta originária, a teoria psicanalítica mostra como, inevitavelmente, vivemos sempre em busca de um objeto ideal, em um profundo e permanente anseio por algo que possa nos levar a uma experiência de satisfação completa, e como esse objeto, impossível em sua essência, por ser perdido desde sempre, nos faz deparar continuamente com a frustração e o mal-estar próprio do desejo humano.

Assim como o herói romântico, padecemos na impossibilidade do encontro com aquilo que, para nós, se apresentaria como fonte de felicidade e plenitude. O “príncipe encantado”, a casa, o carro, o emprego dos sonhos… A mágica existe apenas na promessa… Pois tão logo a realidade nos presenteia com aquilo que desejamos, a falta se faz presente e um sentimento nos fala “Agora, quero outra coisa”. Mesmo o encontro amoroso que, por um lado, proporciona “um certo apaziguamento ao alimentar a ilusão da completude perdida, por outro lado, implica sempre um efeito de logro, pois basta amar para que o sujeito se reencontre com essa hiância estrutural, como diz Lacan, na medida em que o que falta ao sujeito (amante), o objeto (amado) também não tem.”

Nesse sentido, podemos pensar no herói romântico como um arquétipo do homem moderno na sua relação com o desejo. Um sujeito cujo tormento é desejar o impossível, e que encontra a tragédia não no real do suicídio, mas na morte diária de seus ideais – de eu, de amor, de vida. Um sujeito cuja tragédia é ver seus objetos ideais esvanecerem na luz da possibilidade. Um sujeito cuja tragédia é estar fadado à insatisfação.

Não é surpreendente que a obra de Goethe tenha mobilizado tantos jovens de sua geração, a ponto de gerar com ela uma identificação mórbida. Em alguma medida, os sofrimentos de Werther são os nossos próprios, e “la douleur exquise”, a dor de amar o inalcançável, talvez seja, em suma, a própria do dor do viver.

Elegância – a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se distinguir

Elegância – a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se distinguir

Algumas pessoas têm um tipo de elegância que as fazem chamar atenção por onde passam independente do que estejam vestindo, com quem estão andando ou de que assunto estejam falando.

É um tipo de elegância que Paul Valery descreveu como “a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir” .

São pessoas que brilham sem fazer esforço, que não precisam alterar o tom de voz, carregar nos gestos, caprichar na produção ou no corte do terno, pois elas conquistam e atraem atenções simplesmente por se sentirem confortáveis na própria pele.

Sabem que a melhor aparência e a mais altiva postura são o brilho nos olhos e a genuinidade no sorriso. Elas iluminam onde passam, pois sua paixão pela vida e seu jeito de encarar o mundo transbordam de dentro para fora. E quando se aprende a brilhar de dentro para fora, qualquer roupa ou acessório que se vista cai bem.

São pessoas que têm uma fineza de alma e se diferenciam por terem aprendido a difícil e corajosa missão de se conservarem sensíveis num mundo que valoriza posturas rígidas e atitudes mecânicas. E como disse Adélia Prado, “a coisa mais fina do mundo é o sentimento”.

De nada vale poder sem humildade, dedicação sem entrega, beleza sem essência, intelecto sem sensibilidade.  De nada vale gerenciar todas as questões aparentes, práticas e ‘importantes’ da vida, se não sofisticarmos o modo de enxergar e de sentir o mundo.

Pessoas que sofisticam o sentir nunca saem de moda, desenvolvem um magnetismo natural, se tornam referências, modelos atemporais. Inspiram simplesmente pelo o que são. Têm personalidades próprias e não precisam seguir um grupo, ou uma tendência, pois seus estilos vêm da abertura e da liberdade de se deixar guiar pela intuição e pelas vontades intrínsecas.

Gosto de ver a beleza que se estampa nas pessoas que sabem se despir das armaduras e se vestir de si mesmas. Gosto de admirar as pessoas que se tornaram atraentes não pela busca da perfeição, mas pela aceitação amorosa de suas vulnerabilidades humanas.

Gosto das pessoas que perceberam que a maior fineza na vida é a transparência. Que sabem que o verdadeiro luxo é a falta de necessidade de ostentação, pessoas que estão em busca de ‘ser’ mais e não de ‘ter’ mais. E que assim, sem querer, alcançaram o que Coco Chanel chamou de ‘a chave para a verdadeira elegância’, que nada mais é do que a simplicidade.

Mia Couto em três apaixonantes poemas de amor

Mia Couto em três apaixonantes poemas de amor

O Amor, Meu Amor

Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.

E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,

lembrança de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.

No livro “Idades cidades divindades”
***

Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

No livro “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”
***

Confidência
.
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com suavidade
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

Mia Couto

No livro “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”

Fotografia de Anna O

4 atitudes que enfraquecem o vínculo emocional com seus filhos

4 atitudes que enfraquecem o vínculo emocional com seus filhos

Ser pai, mãe, avô, avó e, além disso, um educador eficaz, não é fácil. Cada criança vem a este mundo com necessidades próprias que devemos saber atender, com virtudes a serem potencializadas e emoções que devem ser incentivadas, orientadas e desenvolvidas.

Educar não é apenas ensinar as crianças a ler ou mostrar como podem realizar seu trabalho de pesquisa para o colégio com o computador. Ser pai ou mãe não é presentear os filhos com um telefone celular em seu aniversário, nem assegurar-nos de que colocamos o cinto de segurança neles cada vez que entram no carro. É muito mais que tudo isso.

Contudo, em algumas situações, mesmo que conheçamos a teoria não a aplicamos na prática. Além de pais e mães, também somos casal, empregados, empresários ou pessoas que querem trocar de emprego e que, possivelmente, ainda querem atingir novos objetivos profissionais. Tudo isso ocorre concomitantemente em nosso cotidiano e, sem saber como, começamos a cometer erros na educação de nossos filhos.

Se você for pai, se lembrará de quando foi filho e saberá, sem dúvida, o que você mais valorizou – e ainda valoriza! – ou do que mais sentiu falta nos seus dias de infância. Se a sua infância não foi especialmente feliz, entenderá quais aspectos romperam este vínculo emocional com os seus pais, esses erros que não devem ser repetidos sob nenhuma hipótese com seus filhos.

Falemos sobre isso.

1 – Não os escutar

As crianças falam e também perguntam muito. Pegam você de surpresa com mil questionamentos, inúmeras dúvidas e centenas de comentários nos momentos mais inoportunos. Desejam saber, experimentar, querem compartilhar e desejam compreender tudo que acontece diante delas.

Tenha bastante claro que, se você mandar que fiquem quietas, se você as obrigar a ficar em silêncio, ou se não atender suas palavras, respondendo com severidade ou de forma rude, isso fará com que, no curto prazo, a criança deixe de se dirigir a você. E o fará privilegiando seus próprios espaços de solidão, atrás de uma porta fechada que não desejará que você cruze.

2 – Castigá-los, transmitindo-lhes falta de confiança

São muitos os pais que relacionam a palavra educação com punição, com proibição, com um autoritarismo firme e rígido em que tudo se impõe e qualquer erro é castigado. Este tipo de conduta educativa resulta em uma falta de autoestima muito clara na criança, uma insegurança e, ao mesmo tempo, uma ruptura do vínculo emocional com eles.

Se castigamos não ensinamos. Se me limito apenas a dizer para a criança tudo o que ela faz de errado, jamais saberá como fazer algo bem. Não dou a ela medidas ou estratégias, limito-me a humilhá-la. E tudo isso gerará nela raiva, rancor e insegurança. Evite sempre esta atitude.

3 – Compará-los ou rotulá-los

Poucas coisas podem ser mais destrutivas do que comparar um irmão ao outro ou uma criança a outra para ridicularizá-la, para dar a entender suas escassas aptidões, suas falhas, sua pouca iniciativa. En algumas ocasiões, um erro que muitos pais cometem é falar em voz alta diante das crianças como se elas não os escutassem.

“É que o meu filho não é tão inteligente como o seu, é mais lento, o que se pode fazer”. Expressões como estas são dolorosas e geram neles um sentimento negativo que causará não apenas ódio em relação aos pais, mas um sentimento interior de inferioridade.

4 – Gritar com eles e apoiar-se mais nas ordens do que nos argumentos
Não trataremos aqui de maus tratos físicos, pois acreditamos que não há pior forma de romper o vínculo emocional com uma criança do que cometer este ato imperdoável.

Mas temos de ser conscientes de que existem outros tipos de maus tratos implícitos, quase igualmente destrutivos. É o caso do abuso psicológico, esse no qual se arruína a personalidade da criança por completo, sua autoimagem e a confiança em si mesma.

Há pais e mães que não sabem dirigir-se de outra forma a seus filhos, sendo sempre através de gritos. Levantar a voz sem razão justificável provoca um estado de euforia e estresse contínuo nos filhos; eles não sabem em que se apoiar, não sabem se fizeram algo bom ou mau. Os gritos contínuos enfurecem e fazem mal, já que não há diálogos, apenas ordens e críticas.

Deve-se ter muito cuidado com estes aspectos básicos. O não escutar, o não falar e o não demonstrar abertura, compreensão ou sobrepor a sanção ao diálogo são modos de ir afastando aos poucos as crianças do nosso lado. Elas nos enxergarão como inimigos dos quais devem se defender e romperemos o vínculo emocional com eles.

Educar é uma aventura que dura a vida toda em que ninguém é um verdadeiro especialista. Contudo, basta apoiar-se nos pilares da compreensão, do carinho e em um apego saudável que proporcione a maturidade e a segurança nesta pessoa que é também parte de você.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

Superação: para se formar em Direito, pedreiro pedala 42 km por dia

Superação: para se formar em Direito, pedreiro pedala 42 km por dia

Mais de 40 anos e muitos desafios precisaram ser atravessados para que o pedreiro Joaquim Corsino realizasse seu sonho. Aos 63 anos de idade, vestido de beca e com chapéu de formando, ele recebeu, na noite desta quinta-feira (17), em Vitória, o seu diploma de graduação em Direito.

Para realiza o sonho, o pedreiro Joaquim Corsino dos Santos pedalava, diariamente, entre Cariacica, onde mora, até Vitória, onde fica a faculdade de Direito em que ele estuda. A distância, cerca de 21 quilômetros entre um município e outro, não desanimou o estudante. “Quero ser delegado de polícia” disse

Nascido em Itaumirim, Minas Gerais, Joaquim chegou ao Espírito Santo aos 18 anos. Com mais de 20 concluiu um curso técnico em Administração.

Mas após não ser aprovado no vestibular de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 1980, precisou deixar os livros para trabalhar. A partir de então, Joaquim começou a atuar como ajudante de pedreiro e, mais tarde, como pedreiro.

Ainda assim, a vontade de estudar sempre esteve presente. Por isso, a cada parede erguida por Joaquim, parte do dinheiro ganhado era guardado. Além de construir sua casa, em Bandeirantes, Cariacica, o pedreiro juntou ao longo dos anos R$ 55 mil para os estudos.

“Eu sou um camarada que gosta das coisas honestas. Sempre quis fazer um curso de Direito para ajudar outras pessoas”, conta Joaquim, que em 2008 iniciou a graduação em uma faculdade privada. Quatro períodos foram concluídos, mas o pedreiro teve que adiar o sonho por mais um tempo.

“Um amigo pediu R$ 4.500 emprestados e não pagou. Aí eu tive que parar a faculdade para juntar mais dinheiro para poder pagar o curso todo”, lembrou.

De Bicicleta

Em 2012, Joaquim retornou à graduação e não parou mais. Todos os dias ele fazia o trajeto de sua casa até a faculdade, em Vitória, com sua bicicleta em um percurso de 42 km.

E engana-se quem pensa que com o diploma a saga de superação de Joaquim chega ao fim. Os olhos do bacharel em Direito estão voltados para o futuro. Seu próximo objetivo é ser aprovado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em seguida, pretende se tornar delegado. “Quando eu leio a Constituição no artigo quinto, que fala que todos têm direitos iguais, vejo que tem muita coisa boa nela e eu gostaria de contribuir para isso”.

* Com informações de Maíra Mendonça, do Jornal A Gazeta.

Fonte indicada: G1

“Ninguém me ama a ponto de ser eu”, por Clarice Lispector

“Ninguém me ama a ponto de ser eu”, por Clarice Lispector

Fiz o que era mais urgente: uma prece. Rezo para achar o meu verdadeiro caminho. Mas descobri que não me entrego totalmente à prece, parece-me que sei que o verdadeiro caminho é com dor. Há uma lei secreta e para mim incompreensível: só através do sofrimento se encontra a felicidade.

Tenho medo de mim pois sou sempre apta a poder sofrer. Se eu não me amar estarei perdida — porque ninguém me ama a ponto de ser eu, de me ser. Tenho que me querer para dar alguma coisa a mim. Tenho que valer alguma coisa? Oh protegei-me de mim mesma, que me persigo. Valho qualquer coisa em relação aos outros — mas em relação a mim, sou nada. É tão bom ter a quem pedir. Nem me incomodo muito se eu não for totalmente atendida.

Eu peço a Deus para eu ser mais bonita — e não é que meu olho faísca ao mesmo tempo que meus lábios parecem mais doces e cheios? Eu peço a Deus tudo o que eu quero e preciso. É o que me cabe. Ser ou não ser atendida — isso não me cabe a mim, isto já é matéria-mágica que se me dá ou se retrai. Obstinada, eu rezo. Eu não tenho o poder. Tenho a prece.

Fonte indicada: Citador

Humilhação é arma de tolos!

Humilhação é arma de tolos!

Situações humilhantes nos acontecem e não dependem de nós. A maioria das vezes sequer somos parte presente na coisa toda. O outro faz de um jeito que nos coloca na sinuca, sem defesa, já sem rota de fuga. Que chance teríamos de reação quando o circo já está armado e o vexame é iminente? Fato é que, perante o mundo que assiste, ficamos em posição de desvantagem, de vergonha, humilhação.

Um grito, uma ordem áspera, uma mentira, uma situação pública, uma trapaça, uma traição. E lá estamos nós, tremendamente humilhados, rebaixados à condição forçada de enganados, ultrajados, desamparados.

Mas, pensemos por um segundo. Quem é o humilhado nesse cenário, cara pálida?

Você que estava levando a vida na maior e melhor boa-fé?

Certa vez, escutei de uma pessoa uma frase genial: – Fulano, se tivesse caráter, seria um mau-caráter.

Sempre haverá quem passa a perna e quem é ludibriado. E sempre haverá quem pensa estar em vantagem,  e quem acredita ter perdido o chão, as esperanças, a vontade de sorrir, o caminho de casa…

Quando se leva uma bela rasteira, dói a queda. Mas, embora com dores, roxos e arranhões, levantar é uma certeza e,  para qualquer um de nós, pode ser o despertar, a tomada de consciência de que a dança já estava fora do ritmo, que o par já era ímpar, que pouco ou nada conhecemos do outro.

A queda, afinal, doeu, confundiu, revoltou, mas também  mostrou a realidade, descortinou as dúvidas e tirou o peso de uma ansiedade que não sabia de onde vinha e como crescia tanto. Porque afinal sabemos – e sempre sabemos –  quando algo está para acontecer. Sabemos com quem nos metemos e pagamos para ver. Somos bravos! Somos corajosos! E a vida é para isso mesmo. Encontramos pela vida quem perfuma os nossos caminhos, mas também que joga lixo, lama e outros descartes.

E, apesar do risco, nunca será humilhante se entregar,  tentar mais um pouco, buscar entendimento. Humilhante é a covardia; humilhante é ter a mentira como aliada, o sorriso e a lábia como cúmplices. Humilhado é quem poderia usar de integridade e  sinceridade e mesmo assim não o faz, e que finalmente mostra no que consiste o seu caráter, geralmente, com um fechamento épico.

Costumamos adorar os bandidos, isso é inegável, mas lembremos sempre que um bandido só é charmoso e adorável quando não somos nós as suas próprias vítimas. Sejamos, portanto, mais solidários, pois  não sendo os bandidos, seremos, em algum momento, as vítimas.

Podemos até, por distração ou desânimo, adormecer humilhados, mas, que não dure mais do que mereça, que se esvaneça. Amanheçamos curados, superados e integralmente libertos.

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