Enfim, chega o esperado momento do descanso, aquele soninho bom, a gente tranca as portas, pega a água, escova os dentes e parte para o sono dos justos. Mas, no que deita, a cabeça começa com o zigue-zague insistente, descontrolado, desnorteado, jorrando pensamentos, resoluções, saudades, pendências, listas, planilhas, mágoas, lembranças… E, vira pra lá, vira pra cá, os olhos esbugalhados, o sono se foi para outro planeta e está longe de querer voltar.
Começa então a conversa com o travesseiro: – Nossa, tenho que me organizar amanhã, pagar as contas, comprar as pilhas do controle, ligar para marcar médico, responder duzentos e-mails, fazer a lista da feira… Ah, vou trocar a foto do perfil, cancelar aquela assinatura…
E o travesseiro fica desconfortável, parece de pedra, mal humorado, irritado com tanta ladainha, num momento que era para ser relaxante, suave e tranquilo. Nem com umas batidinhas e afofadas ele se rende. Agora está em estado de total protesto! Não me acha merecedora de uma boa noite de sono e deixa claro que que não vai compartilhar com esse momento neurótico. E mais, meu malandro travesseiro fica de tal forma impassível e rígido que me desperta enfim para a lição que eu preciso aprender nesta noite insone: Tudo pode esperar, nem tudo é tão urgente nem importante a ponto de sequestrar meu sono, nada pode ser tão avassalador para travar uma coluna cervical, salvas raras e justificadas exceções . Não, não será possível agendar médicos, exames, manicures, atendimentos neste horário; Não, ninguém quer ver a foto nova do perfil neste momento; Não e não, resolver brigas e mal entendidos agora não! Também não, ainda que as contas tenham vencido, elas terão que esperar para o dia seguinte. Então, para que tanta ansiedade? Há algo trocado nas agendas, pois que o que deveria ter sido vivido no dia, toma o espaço da noite com fúria e suores e bruxismos! Penso na minha covardia ao enfrentar o dia. E ele chega. E o literal pesadelo começa na manhã seguinte da tal noite mal dormida, o pescoço doendo, o raciocínio lento, as urgências da madrugadas embaralhadas e esquecidas e o travesseiro lá, lindo e fofo, mostrando que tudo poderia ter sido diferente e confortável. O dia urge! Quem sabe mais tarde, se eu tiver aprendido a lição. Urgente sou eu!
A síndrome de Tourette (ST) é um transtorno neurológico acompanhado por movimentos involuntários, ou tiques, “frequentes, repetitivos e rápidos”. Mas isso não quer dizer que as pessoas com síndrome de Tourette vivam berrando, apesar da visão estereotipada comum.
Para ter uma ideia mais completa, falamos com alguns pais e mães que dirigem várias filiais da TSA e fizemos uma lista de pontos que os pais de crianças com a síndrome gostariam que você soubesse sobre a condição de seus filhos.
1. A síndrome de Tourette não é incomum.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), uma em cada 360 crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos de idade recebe o diagnóstico de síndrome de Tourette. A maioria dos casos é classificada como leve ou moderada.
2. As pessoas com síndrome de Tourette geralmente não ficam gritando palavrões o tempo todo.
Quando a mídia mostra personagens com ST, geralmente retrata o transtorno como uma espécie de doença do xingamento. Pense na personagem de Amy Poehler em “Gigolô por Acidente”. Os pesquisadores dizem que na realidade apenas 10% a 15% das pessoas com ST vomitam palavrões de modo incontrolável. Mas é difícil desmontar o estereótipo.
“Quando meu filho recebeu o diagnóstico de Tourette, a primeira coisa que falei foi: ‘Mas ele não fica xingando'”, disse ao Huffington Post Susan Breakie, líder da TSA em Delaware e mãe de um filho que tem a síndrome. “Era assim que eu via a síndrome, por causa do que tinha visto no cinema e na TV.”
3. Na verdade, as crianças com síndrome de Tourette não apresentam todas os mesmos sintomas.
Os tiques – “movimentos e vocalizações repetitivos, estereotipados e involuntários” – podem assumir várias formas. Piscar, fazer caretas, dar de ombros, movimentos bruscos com a cabeça ou os ombros, pigarrear, fungar, sons de grunhido – esses são apenas alguns dos tiques citados pelo Instituto Nacional de Transtornos Neurológicos e Derrames.
“Você pode conhecer uma pessoa com ST e depois conhecer uma segunda pessoa com a síndrome que é completamente diferente da primeira”, falou Michelle Guyton, membro do Conselho de Diretores da TSA NA Grande Washington e mãe de um menino com ST, em entrevista ao Huffington Post. “Para entender a síndrome de Tourette, a melhor coisa é passar tempo com alguém que tem a síndrome.”
Sheryl Kadmon é diretora executiva da TSA no Texas e mãe de dois filhos com o transtorno. Ela diz que outra coisa que é bom lembrar que os sintomas podem se intensificar ou amenizar com o tempo, de modo imprevisível.
4. As crianças com síndrome de Tourette muitas vezes também sofrem problemas de saúde mental.
O CDC informa que 86% das pessoas com ST apresentam ao mesmo tempo um problema de saúde mental, comportamental ou de desenvolvimento, como TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) (63%) ou ansiedade (49%). Mais de um terço também tem transtorno obsessivo-compulsivo. Isto dito, o diagnóstico de ST não precisa ser assustador.
“É muito difícil para essas crianças se saírem bem na escola, mas se pudermos intervir e explicar à escola o que precisa ser feito, elas podem ter resultados muito bons”, diz Kadmon. “No final, a maioria das crianças com ST tem prognóstico ótimo.”
5. A pessoa com síndrome de Tourette não faz essas coisas para chamar a atenção, mas porque realmente não consegue se impedir de fazer.
A síndrome de Tourette é um transtorno neurológico; logo, os tiques são 100% involuntários. De acordo com Breakie, pessoas nos grupos de apoio que ela promove já tiveram colegas lhes mandando “parar com isso” ou até professores mandando-os para fora da sala de aula por “distrair a atenção dos outros alunos”.
Breakie explicou: “As pessoas não entendem que ninguém tem esses tiques porque quer. É o cérebro da pessoa que a manda fazer isso. Não é possível controlar os tiques, assim como não é possível segurar um espirro ou outra coisa do gênero.”
6. A síndrome de Tourette não é uma deficiência intelectual.
Sheryl Kadmon diz que as pessoas muitas vezes supõem que uma criança com ST tenha uma deficiência intelectual, mas esse é o caso de apenas 12% das pessoas com o transtorno.
“Temos uma população de crianças com funcionamento intelectual de alto nível, mas que podem ter dificuldade em demonstrá-lo porque seu corpo faz movimentos e ruídos que elas não conseguem controlar”, comentou Kadmon.
7. Se o professor para tudo na sala de aula quando uma criança tem tiques, isso não ajuda.
Quando um aluno com ST começa a dar batidinhas na mesa ou fazer um barulho, o melhor que o professor tem a fazer é aceitar o fato e continuar com a aula, disse Breakie. Se o professor parece compreensivo, os alunos muitas vezes seguem seu exemplo.
“Os professores não interrompem tudo quando um aluno chega à escola com resfriado forte, tossindo ou espirrando”, ela disse. “Então não deviam interromper nada quando um aluno fica pigarreando ou mexendo o pé o tempo todo.”
E, segundo ela, a mesma coisa se aplica aos pais dos alunos.
“Se os pais são compreensivos, sua atitude é transmitida a seus filhos. Eles poderiam comentar: “Seu colega tem síndrome de Tourette. Tudo bem. Ele não consegue controlar seus movimentos, mas é um garoto bacana, mesmo assim.”
8. As crianças com síndrome de Tourette são iguais às outras.
Michelle Guyton comentou: “Elas são como outras crianças quaisquer. Meus filhos, por exemplo, gostam que as pessoas lhes perguntem sobre a síndrome. Eles preferem explicar às pessoas o que acontece do que ver as pessoas manter distância ou julgá-los, sem se dar ao trabalho de saber o que eles têm. O importante é ter um diálogo aberto e entender que essas crianças são pessoinhas maravilhosas, ótimas, inteligentes e talentosas que precisam ser incluídas no grupo.”
O Brasil ficou na antepenúltima posição em um ranking de 40 países que avaliou tratamentos paliativos para pacientes em estado terminal.
O estudo, feito pela consultoria Economist Intelligence Unit, analisou a disponibilidade, o custo e a qualidade destes tratamentos. Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia lideraram o ranking geral. O Brasil ficou na 38ª posição, à frente apenas de Uganda e Índia.
A lista incluiu 30 integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e outros 10 países com dados disponíveis.
“Os países na lanterna incluem, sem surpresa, países em desenvolvimento e dos Brics, como China, México, Brasil, Índia e Uganda, onde, apesar de exceções notáveis de excelência… avanços em prover tratamento no fim da vida são lentos”, disse o estudo.
“Não é surpresa encontrar países como Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia no topo do ranking, dado a relativa riqueza, infraestrutura e longo reconhecimento da importância de desenvolver estratégias nacionais de saúde no fim da vida”.
Diferenças culturais
O Brasil também ficou nas últimas posições no quesito disponibilidade de tratamentos, ocupando a 36ª posição, à frente apenas de Eslováquia, Portugal, Rússia e China. Essa lista também foi liderada por Grã-Bretanha, Nova Zelândia e Austrália.
Sheila Payne, diretora do Observatório Internacional para Tratamento no Fim da Vida, disse que a baixa pontuação de nações em desenvolvimento “se deve à falta de financiamento e reconhecimento nestes países sobre políticas públicas de saúde em tratamento paliativo”.
O relatório também aponta para razões culturais que influenciam no tratamento dado a pacientes terminais, como os tabus fortes sobre morte em países como Japão, China e na Índia, onde muitas família preferem ocultar do paciente sua real condição médica para protegê-lo.
Já nos Estados Unidos, parece imperar a política do “manter vivo custe o que custar”, sugere o texto.
“Somos o epicentro das tecnologias que nos permitem deixar as pessoas vivas por mais 60 dias sem nenhuma melhora no resultado, mas com um aumento substancial nos custos”, disse Paul Keckley, diretor-executivo do Centro Deloitte para Soluções de Saúde, braço da consultoria Deloitte, citado no relatório.
“E quanto mais fundamentalista, evangélico ou conservador (for a família), menos as pessoas irão desafiar a opinião médica ou pedir por algo que não seja recomendada pelo médico”.
Conhecimento público de tratamentos
O Brasil também ficou nas últimas posições no ranking de conhecimento público sobre tratamentos disponíveis no fim da vida.
Numa escala que mediu o nível de conhecimento de 1 a 5, o Brasil ficou no grupo 2, junto com Finlândia, Índia, Itália, México, Portugal, Rússia, Suíça, entre outros países. Bélgica, Irlanda e Grã-Bretanha lideraram a lista.
Um tropeção. É isso mesmo. O amor é um tropeção que a gente dá quando não espera. Acontece no susto. Já viu alguém tropeçar de propósito? Já viu um sujeito escolher “agora eu vou encher o pé naquela pedra ali e vai doer muito!”? Pode acontecer, mas será falso, ridiculamente fingido, forçado, irreal.
Imagine a pessoa determinar “agora eu vou gostar daquele ali, isso, vou me apaixonar sem freio e depois vou amá-lo e ver no que dá”. É possível, mas cadê a graça? E o inesperado, o frio na barriga? Amor não se premedita. Simplesmente acontece. O amor é um tropeção!
Vem de repente, vem mesmo. Ligeiro como o escorregão no piso inofensivo, a mordida súbita do cachorro fofo, o estouro da lâmpada que queima, o pneu que fura do nada. Lá está você, caminhando na vida, e uma topada violenta lhe tira a cor e a unha do dedão. E a cara de bobo? O amor, tal qual um tropeção, deixa a gente com cara de besta. Quem tropeça quase sempre olha em volta à procura de uma testemunha do incidente. Com a maior cara de idiota. Tudo bem, ninguém viu, deixa eu sair logo daqui.
Mas a quem tropeça, a impressão que dá é de que todo mundo em volta viu e agora comenta baixinho, segurando o riso: “olha lá, o fulano tropeçou! Riam dele!”. No ônibus lotado, os passageiros se divertem com a cena, e uma leveza inesperada rompe a tensão da viagem, os passageiros sentados decidem oferecer seus lugares aos que estão de pé. “Senta um pouco você, eu já descansei bem!”. E todos riem gostoso da sua cara de bobo tropeçando lá fora. Nos carros, motoristas raivosos desistem de buzinar e insultar os outros, divertidos que estão com o seu número de circo. O boato corre e de repente o mundo inteiro já sabe. Nas escolas e hospitais, nas repartições públicas e bancos e empresas multinacionais, nas bolsas de valores e na casa daquela sua tia com procuração para cuidar da vida alheia, o assunto irresistível da vez é o seu tropeção.
O amor é assim. Você topa com ele de cheio e, tentando não cair, cambaleia quatro passos à frente, se reequilibra do jeito que dá e só vai parar dois metros adiante. Porque, entre tantas outras qualidades, o amor é o ofício de nos jogar para a frente na vida!
Dependendo do tamanho do amor, o tropeção resulta em queda, sim. Tem amor que derruba mesmo! Implacável, contundente, faz o amante ganhar o chão. Mas é um tombo sempre, sempre para a frente. Quem cai, levanta, bate a sujeira da roupa, cuida de um e outro joelho esfolado, um pulso aberto, um coração partido e segue a vida, dois passos à frente de quem ainda não passou por isso.
Amor de verdade, amor no duro, não segura e nem atrasa a vida de ninguém! Chacoalha, empurra, desequilibra, vez ou outra derruba a gente junto com a sacola da feira, espalha as mexericas na calçada. Mas nos leva sempre para a frente. O amor é o que nos deixa melhores! Nunca piores.
O que empata, amarra, prende, cerca, encurrala, acorrenta, restringe, diminui e atrasa tem qualquer outro nome. Menos amor. Quem se sente preso ao outro já não tem amor. Quem sente a vida andando para trás já não ama. Se é para estarmos juntos, com amor, vamos em frente! E que a vida decida até quando nossos rumos serão os mesmos.
O amor é a topada divina no caminho, a dor que nos lembra: “você ainda vive!”. É um sinal de vida. E o sentido da vida é para a frente! Só tropeça no amor quem anda por aí, quem vive em movimento. Quem cai e quem levanta. É pra você e é para mim. O amor é para todos aqueles que caminham pela vida!
“Tumbleweed Tango” é uma animação que, em cerca de 3 minutos, nos torna cúmplices da paixão entre dois balões que estavam perdidos em um deserto cheio de cactos. Presenciamos o entregar-se a um relacionamento que necessita de total confiança, adaptação e parceria. Ao som do tango e da dança mútua, um caminho é trilhado em busca da plenitude.
O amor pode ser bobo, engraçado, confortável, amigo, familiar, humano, chato, dramático. Mas o amor não é lindo.
Talvez o pré-amor seja bonito, instigante, misterioso, encantador. Talvez o nascimento do amor seja lindo. A explosão de uma energia bela, grande, a magia do sentimento reciproco, a descoberta um do outro, o encontro de químicas.
Mas, ao caminhar, tantos outros predicados se aglutinam ao amor que ele se torna outro, talvez grande, talvez forte, mas não lindo.
No amor cotidiano, o frio na barriga é substituído pela segurança de um ombro amigo. Os beijos apaixonados, pelos carinhos afetuosos. O jogo da conquista, pelos hábitos.
O que coloca cor nos dias não é mais as descobertas um do outro, o tesão à flor da pele, o amor diário se equilibra na leveza, na ternura, nas conversas, na habilidade em manter acesa a chama. Nas individualidades preservadas e partilhadas.
Compartilha-se contas, problemas, dores de cabeça, mal hálitos, olheiras, neuroses, vícios, gripes e TPMs mas também compartilha-se companheirismo, mãos dadas, amizades, taças de vinho, ideias, empreitadas, férias malucas, planos, caretas, piadas, corpos cansados, inícios de dietas, descobertas, séries de TV favoritas, livros, rasteiras, corridas bestas na rua, cabelos brancos, segredos, eventos chatos, comidas preferidas, camisetas velhas, banheiros, camas, silêncios.
A magia do amor acaba, mas fica a beleza do caos. Fica o amor imperfeito, e isto é quase um pleonasmo!
Percebe-se que o encantamento é efêmero, mas as louças sujas são eternas. O último iogurte na geladeira desaparece, mas a lembrança do primeiro beijo e do primeiro olhar permanecem.
O amor cotidiano aprende a criar as próprias leis em uma selva chamada casa, desenvolve-se uma linguagem própria feita de sons (às vezes de bichos), de frases pela metade, de olhares que dizem textos inteiros, de silêncios que gritam, de corpos que se denunciam.
O amor é quase uma transmutação genética, misturam-se e adaptam-se os cheiros, os temperos, os jeitos, os pensamentos, as células, as contas bancarias, as agendas, os gostos, as partes do corpo.
Amar é cortar as unhas do pé do companheiro, espremer uma espinha nas costas alheia, é aprender a ler pensamentos, dialogar até nos sonhos, ter ideias ao mesmo tempo. É viver um pouco num segundo corpo. É cuidar e se deixar cuidar. É opinar na roupa, na redação, no trabalho, no corte de cabelo. É aprender a mentir de vez enquanto, tudo para não desencadear brigas desgastantes e que pouco importam.
Por essas e outras é que eu digo que o amor não é lindo, pelo menos não no sentido romântico do termo. Mas no sentido pós-moderno, talvez o amor seja a mais alta expressão do belo.
Segundo Caetano, você precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina, mas segundo uma parte da imprensa, você precisa saber que o Caetano estacionou o carro no Leblon numa quinta-feira, no dia 10 de março de 2011. Só isso. A notícia é essa. Caetano Estacionou o Carro no Leblon. E não era uma denúncia, por ele ter estacionado em local proibido, nem um flagrante, por ele estar se dirigindo a um lugar suspeito. Ele apenas estacionou o carro e alguém, no portal Terra, achou que era notícia e publicou o fato com três fotos. Infelizmente, em nenhuma delas Caetano aparece estacionando o carro. Mas talvez tenham achado que pudesse ser uma redundância que não acrescentaria nada à notícia, sei lá, e temos que nos contentar em ver Caetano atravessando a rua depois de estacionar o carro. De qualquer forma, o dia 10 de março de 2011 entrou para a história do jornalismo brasileiro. Em 2015, teve até evento para comemorar os 4 anos do feito.
E é importante que se comemore, todos os anos a partir de agora. Não, obviamente, para celebrar o feito, mas para questionar. E são várias questões. Por que a cobertura jornalística da vida de celebridades fascina tanto? O quanto essa cobertura tem de impacto na sociedade?
Dá para levantar várias outras questões, mas acho que a gente pensar no impacto pode ser interessante, porque ele é maior do que se pode imaginar em um primeiro momento. É só dar uma olhada na resposta que o músico Herbie Hancock deu em uma entrevista de 2013, quando perguntaram por que o jazz não faz mais parte da cena pop:
Porque não é mais a música que importa. As pessoas não querem mais saber da música em si, mas sim de quem faz a música. O público está mais interessado nas celebridades e em como determinado artista é famoso do que na música. Mudou a maneira como o público se relaciona com a música. Ele não tem mais uma ligação transcendental com a música e sua qualidade. Quer apenas o glamour.
É triste. Mas não é recente. No século XVIII, quando o culto a Shakespeare começou com força, os esforços logo se concentraram em descobrir quem era o homem por trás da obra. E as descobertas não foram animadoras. Os poucos documentos relacionados a ele que foram encontrados, apontavam mais um homem de negócios, que lidava com grãos e fazia empréstimos com juros, do que um homem de teatro ou poeta sensível. Mesmo o seu testamento não ajudou muito, já que lá não há menção nenhuma a livros para serem distribuídos, mas em compensação, ele deixa para a sua mulher a “segunda melhor cama” da casa.
Logo, começaram a surgir as hipóteses de que aquele homem nascido em uma cidade pequena e rural, com acesso reduzido à educação, não podia ser o mesmo artista que escreveu uma obra onde aparecem, no total, 29.000 palavras diferentes, sendo 2035 palavras cunhadas ou registradas pela primeira vez por ele. (só para comparação, a versão do Rei Jaime da Bíblia, contemporâneo de Shakespeare, emprega somente 6.000 palavras diferentes). O autor tinha que ser alguém da nobreza ou um grande filósofo, evidentemente.
E assim, começou a busca por um candidato que melhor se encaixasse no perfil que se imaginava para o autor daquelas peças. Teorias foram desenvolvidas, conspirações imaginadas e muito tempo e esforço foram empregados para provar que Shakespeare era uma farsa. Até gente como Mark Twain e Freud embarcaram nessa, quando poderiam ter utilizado o tempo de forma mais produtiva. Ou não.
A última semana foi marcada por uma reforma ministerial, ameaças de Impeachment e novas denúncias contra Eduardo Cunha, mas segundo o ranking das notícias mais lidas do UOL, essas foram as que ficaram em primeiro lugar, a cada dia:
24/09/15 – Rafael Ilha desfalca A Fazenda 8 de última hora e é substituído
25/09/15 – Cantora é cotada como nova parceira de Chimbinha
26/09/15 – Mike Patton salta do palco e cai sobre grade no no Rock in Rio
27/09/15 – Protagonista morre no fim da 1ª fase de “Além do Tempo”
28/09/15 – Mães fazem ensaio nu com os filhos para mostrar a mulher real
29/09/15 – Yasmin Brunet nua chocou os pais? Nada! Eles viviam pelados
30/09/15 – Apresentadora de afiliada da Globo morre aos 32 anos
01/10/15 – Por engano, mulher envia foto do seio para o chefe por app
02/10/15 – “Eu sou o viagra dele”, afirma mulher de Stênio Garcia
03/10/15 – Jogador errou o pênalti, mas salvou time por saber a regra
Quem lê tanta notícia?, pergunta Caetano. Bom, pelo jeito, nós lemos. Mas não impunemente. O que é bom, pra manter o samba de Roberto Silva, lançado em um disco de 1961, sempre atual. Ou não.
O Jornal da Morte
Veja só esse jornal, é o maior hospital
Porta voz do bang-bang e da policia central
Tresloucada, semi nua, jogou-se do 8º andar
Porque o noivo não comprava maconha pra ela fumar.
Um escândalo amoroso com os retratos do casal
Um bicheiro assassinado em decubito dorsal
Cada página é um grito, um homem caiu no mangue
Falta alguém espremer o jornal pra sair
Sangue, sangue, sangue….
Hoje, como me oprimisse a sensação do corpo aquela angústia antiga que por vezes extravasa, não comi bem, nem bebi o costume, no restaurante, ou casa de pasto, em cuja sobreloja baseio a continuação da minha existência. E como, ao sair eu, o criado verificasse que a garrafa de vinho ficara ao meio e voltou-se para mim e disse: “Até logo, sr. Soares, e desejo melhoras”.
Ao toque de clarim desta frase simples a minha alma aliviou-se como se num céu de nivens o vento de repente se afastasse. E então reconheci o que nunca claramente reconhecera, que nestes criados de café e de restaurante, nos barbeiros, nos moços de frete das esquinas, eu tenho uma simpatia espontânea, natural, que não posso orgulhar-me de receber dos que privam comigo em maior intimidade, impropriamente dita…
A fraternidade tem subtilezas.
Uns governam o mundo, outros são o mundo. Entre um milionário americano, um César ou Napoleão, ou Lenine, e o chefe socialista da aldeia – não há diferença de qualidade mas apenas de quantidade. Abaixo destes estamos nós, os amorfos, o dramaturgo atabalhoado William Shakespere, o mestre-escola John Milton, o vadio Dante Alighieri, o moço de fretes que me fez ontem o recado, ou o barbeiro que me conta anedotas, o criado que acaba de me fazer a fraternidade de me desejar aquelas melhoras, por eu não ter bebido senão a metade do vinho.
Fernando Pessoa, em “Livro do Desassossego”, nota 24 (pág. 57)
Aos 3 anos: Ela olha pra si mesma e vê uma rainha.
Aos 8 anos: Ela olha para si e vê Cinderela.
Aos 15 anos: Ela olha e vê uma freira horrorosa.
Aos 20 anos: Ela olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, decide sair mas, vai sofrendo.
Aos 30 anos: Ela olha pra si mesma e vê muito gorda, muito magra, muito alta, muitobaixa, muito liso muito encaracolado, mas decide que agora não tem tempo pra consertar então vai sair assim mesmo.
Aos 40 anos: Ela se olha e se vê muito gorda, muito magra, muito alta, muito baixa, muito liso, muito encaracolado, mas diz: pelo menos eu sou uma boa pessoa e sai mesmo assim.
Aos 50 anos: Ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai pra onde ela bem entender.
Aos 60 anos: Ela se olha e lembra de todas as pessoas que não podem mais se olhar no espelho. Sai de casa e conquista o mundo.
Aos 70 anos: Ela olha para si e vê sabedoria, risos, habilidades, sai para o mundo e aproveita a vida.
Aos 80 anos: Ela não se incomoda mais em se olhar. Põe simplesmente um chapéu violeta e vai se divertir com o mundo.
Talvez devêssemos por aquele chapéu violeta mais cedo!
Nota da Página: Fomos informados que o texto acima não é de Mário Quintana e sim de Erma Bombeck, como indica o link aqui.
Minha vó recomendava: não toque tambor para maluco dançar! é um sábio conselho. Não se alimenta a insanidade alheia com argumentos. Mas minha avó viveu numa era menos pública. Naquela época, os doidos não entravam na sua caixa postal nem deixavam pacotes da sua portaria, creio. Tenho tido contato com um maioria dominante de gente equilibrada, inteligente, que discordando ou concordando , trazem luz ao meu pensamento e me enriquecem. Porém, há uma ativa minoria troll que me assusta.
Seus tipos mais comuns:
01) gente que vive sob a sombra de Muro de Berlim, ou um pedaço do muro caiu na sua cabeça. Ainda vivem em plena Guerra Fria, em polaridades comunistas vs capitalistas.
02) Insanos religiosos, tribo grande, vasta e atenta a tudo que seja diferente da sua mania. Veneram bezerros variados.
03) gente que está voltando de Woodstock a pé e ainda segue ovnis, vidas passadas, cristais, carma, fala com samambaias e flutua no éter no dorso de um pônei mágico. São simpáticos, mas como todo Gremlin, apresentam dificuldades…
04) Conspiracionistas em geral. O mundo é dominado por judeus, maçons, illuminati , por Bill Gates, pelo rock … Podem ser subgrupos dos grupos anteriores…
e vc, acredita em Trolls?
Este não é um texto sobre zumbis. Tampouco ousaria invadir, com inoportunas palavras, as histórias daqueles que lutam para manter a dignidade inteira, enquanto enfrentam enfermidades graves ou definitivas. É apenas uma singela, porém honesta, tentativa de refletir sobre uma alarmante epidemia, cuja consequência direta é a transformação de gente viva em fantoches animados, prontos para reagir ao menor movimento das cordinhas, pensas acima de suas confusas e entorpecidas cabeças.
É muito fácil acreditar em mentiras, sobretudo naquele tipo de mentira que nos permite o conforto de ficar boiando indefinidamente em águas mornas de acomodação. A nossa compleição humana, conta com um cérebro privilegiado. Estamos falando de 100 bilhões de neurônios do cérebro, ligados a 10 mil outros sendo assim capaz de receber 10 mil mensagens ao mesmo tempo. Partindo desse impressionante volume de informações, o neurônio tira uma única conclusão, que será partilhada com milhares de outras células. No entanto, nada é mais intrigante ou cheio de novas informações para serem decodificadas, compreendidas e assimiladas, do que o nosso próprio cérebro. Nossos conhecimentos acerca do nosso funcionamento neurológico assemelham-se a um bebê que acabou de descobrir que consegue ficar em pé sobre suas indecisas perninhas. E é justamente essa nossa ingênua e inicial compreensão de nós mesmos que nos faz presas extremamente fáceis dos sedutores entorpecentes de nossa força de vontade, coragem, curiosidade e determinação.
Vivemos ansiosos por alguma coisa, qualquer coisa, que nos garanta alcançar tudo o que queremos numa única dose, num simples botão para se apertar ou numa ideia mirabolante para revolucionar o mundo e que, de quebra, nos ajude a ganhar notoriedade, importância e poder. Até aí, nenhuma novidade, certo? Afinal, de alguma forma, é essa ambição cognitiva que movimenta a vida. A surpresa disso tudo fica por conta de que esquecemos com enorme facilidade o quanto o mundo à nossa volta se transforma rapidamente. Uma ideia que nesse minuto é inusitada e inovadora pode tornar-se obsoleta antes mesmo que tenhamos descoberto algum jeito de divulgá-la, caso ela seja “um fim em si mesma”. Ideias perenes são aquelas que, nascidas de um ser humano, encontram conexões nos mais diversos seres humanos ao redor do planeta. E, assim, ganham novas configurações, adaptam-se, transformam-se; ideias perenes são aquelas capazes de nos transformar antes que as coisas fiquem mais rápidas e sofisticadas e nos encontre despreparados para compreendê-las. Parece complicado. E é mesmo!
Quando começarmos a perceber o quanto estamos nos afastando da nossa natureza humana, obstinados pela contemplação estética da vida, teremos a chance de dar ao nosso destino um roteiro mais completo e consistente. Vivemos representando comédias românticas e sonhando com um reconhecimento pela nossa dramática atuação. Isso não vai dar certo! Para complicar um pouquinho mais a trama, somos tão infantilmente apaixonados por nossas próprias obras que nos tornamos incapazes de reconhecer o esforço contido nas obras alheias. Estamos sempre prontos para criticar; vivemos com o dedo em riste, e não nos damos conta do enorme abismo que estamos cavando entre nós e o nosso sonho. O nosso sonho é tão superficial e egoísta que corremos o risco de que, ao realizá-lo venhamos a ganhar como prêmio tão somente a solidão da vitória, num cume altíssimo onde cabe apenas uma pessoa.
A boa notícia (sim, há uma boa notícia!), é que não somos reféns indefesos de nossos bilhões de neurônios. Somos seres constituídos organicamente e forjados no convívio com os demais e na compreensão e acolhimento de nosso funcionamento psíquico. Aleluia! Porém, apesar de ser realmente uma boa notícia, ela nos tira PARA SEMPRE das águas mornas da acomodação. Ser feliz, ao contrário do que ingenuamente supomos, dá um bocado de trabalho.
O pai da Psicanálise, Sigmund Freud revelou em seus estudos publicados que, no transcorrer da modernidade, os humanos foram feridos três vezes em seu narcisismo, ou seja, a belíssima e perfeita imagem que tínhamos de nós mesmos como seres conscientes racionais e com a qual, durante séculos, estivemos encantados. Que feridas foram essas? A primeira foi a que nos infligiu Copérnico, ao provar que a Terra não estava no centro do Universo e que os homens não eram o centro do mundo. A segunda foi causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de um primata, que são apenas um elo na evolução das espécies e não seres especiais, criados por Deus para dominar a Natureza. A terceira foi causada por Freud com a psicanálise, ao mostrar que a consciência é a menor parte e a mais fraca de nossa vida psíquica.
A vida psíquica é constituída por três instâncias, duas delas inconscientes e apenas uma consciente: o id, o superego e o ego. Os dois primeiros são inconscientes; o terceiro, consciente. O ego ou o eu é a consciência: pequena parte da vida psíquica, submetida aos desejos do id e à repressão do superego. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao id sem transgredir as exigências do superego. O ego, diz Freud, é “um pobre coitado”, espremido entre três escravidões: os desejos insaciáveis do id; a severidade repressiva do superego e os perigos do mundo exterior. É desse conhecimento que podemos encontrar uma saída para nosso eterno dilema de coexistir no mundo com outros bilhões de nós. Necessitamos compreender-nos, a ponto de sermos capazes de equilibrar nossos egos, alimentando-os o suficiente e impondo a eles a observação dos princípios de coexistir.
Precisamos, com urgência, abandonar a ilusão de que alguém ou alguma coisa virá externamente nos garantir alegria, prazer ou realização. Não somos obras maravilhosas de ninguém. Somos seres imperfeitos, encantadoramente imperfeitos e permanentemente “em obras”, até o nosso último suspiro. Se quisermos experimentar a leveza do voo, precisamos aprender a cultivar a força das asas. Caso contrário, continuaremos a esbarrar uns nos outros por aí, a esmo, sem conexões. Seremos quase felizes, quase conscientes, quase humanos, quase vivos, pessoas engessadas. Uma vida inteira pede compromisso inteiro, lucidez e a determinação de olhar para dentro tantas vezes quantas forem necessárias, para começar a compreender o caos aqui fora e saber o que fazer com ele e com a beleza que existe nessa nossa permanente incompletude.
Curioso como sempre tentamos nos afirmar com argumentos e explicações, que vão desde as discussões civilizadas e ponderadas, até berros, soluços chiados e muxoxos… E quando a última palavra não é a nossa, que agonia!
– Ah, eu não disse tudo o que queria! Tinha muito mais, e como tinha!
– Desculpe minha sinceridade, mas eu sou assim mesmo…Não é grosseria, é meu jeito!
Sim, todo mundo quer deixar sua marca, ver o outro com a cara no chão, sem argumentos, virar com classe e ir embora deixando o silêncio da última palavra dita, discussão fechada, batalha vencida, final de uma história, laços rompidos… Nessa hora, parece desvantagem não ter voz, não bater o martelo do leilão, não dar um murro na mesa e um grito de “agora você vai me ouvir”.
Mas será que realmente é prejuízo segurar uma ofensa, um demérito, uma confidência, lamentação, xingamento, súplica, uma palavra mal dita, mal encaixada, mal pronunciada?
Dizem que o que a gente guarda para si, um dia pode virar uma doença, como um veneno circulando e fazendo seus estragos. Eu me pergunto se o que a gente fala e não guarda, não é justamente a mesma coisa, sendo que vamos propositalmente atingindo os outros, muitas vezes fazendo para machucar, para ferir, adoecer…
Quisera soubéssemos agir no meio termo de tudo. Calar, digerir, selecionar, descartar e seguir. Quisera não tivéssemos essa vocação para advogar em causa própria ao menor descontentamento.
Argumentar muitas vezes resolve, outras, nem com reza forte.
Poderíamos pensar em alguma regras, para poupar esforços e frustrações:
– Você foi alvo de fofoca? Provocações? Injustiças? Deslealdade? Indiferença? Agressões?
– O quanto vale à pena rever essas situações e se concentrar em debatê-las?
– Quanto tempo e energia você vai concentrar nas respostas? Com qual intenção? Vai melhorar as coisas ou rolar a bola de neve para que aumente um pouco mais? Vai conseguir transformar algo a seu favor?
Florbela Espanca – A Hora que Passa apresenta a vida dessa grande poeta portuguesa em uma dramaturgia construída a partir de seus poemas, contos, cartas e diário. Em todo o texto, não há nenhuma palavra que não seja da própria Florbela. Este trabalho é o resultado de três anos de pesquisa sobre a sua vida e obra, que deram origem ao espetáculo que fez sua estreia com uma temporada de 40 dias em 16 cidades de Portugal, em março e abril de 2014.
Prefácio
Quando conheci as poesias de Florbela Espanca, o que mais me chamou atenção foi a sua intensidade. Ela parecia viver exatamente o que escrevia. Um misto de amor e de dor.
Eu me perguntava: Quem foi essa mulher que ousou naquela época, na década de 20, expressar os mais íntimos sentimentos? Por que ela se matou? Por que nunca estava satisfeita?
Intrigada, decidi ir atrás da sua história. Fui a Portugal e conheci as três principais cidades em que ela viveu: Vila Viçosa, Évora e Matosinhos. Visitei suas casas, o cemitério, as homenagens nesses lugares – bustos em praças, biblioteca, túmulo em destaque no cemitério -, além de Lisboa e Porto. Filmei cada passo no meu vídeo-diário de bordo. E lá, percebi que Florbela ainda não possui o reconhecimento que merece.
Até então, eu já tinha planejado montar um espetáculo que tivesse seus poemas como base, mas após ter contato com suas cartas, contos e diário, o texto que seria composto basicamente por uma desconstrução de suas poesias deu lugar às palavras de Florbela que mais expressavam sua forma de viver. O ponto de partida foi imaginar o que ela falaria para alguém exatamente uma hora antes de dormir e construir o texto como um fluxo de pensamento.
Ao reunir todo o material que acreditava não poder ficar fora de uma peça sobre Florbela, cheguei a uma dramaturgia que daria mais de três horas de espetáculo. Foi então que conheci o dramaturgo e diretor Fabio Brandi Torres em uma leitura de uma peça de Luis Eduardo de Sousa e o convidei para o projeto. Minha proposta para o Fabio era que com esse texto inicial descobríssemos juntos, na sala de ensaio, a essência do espetáculo. Fizemos experimentações de estudo de cena no festival de teatro Satyrianas e na Semana Florbela Espanca, que realizamos na Casa de Portugal de São Paulo.
Voltamos ao texto e o cortamos literalmente: usamos papel e tesoura como nas aulas de educação artística. E depois, com cola e papel, montamos um quebra-cabeça a partir das nossas descobertas. O resultado, para mim, é uma linda colcha de retalhos que me emociona sempre que a toco. Espero que você se emocione também.
Um dos mais aclamados fotógrafos da atualidade, o brasileiro Sebastião Salgado pode, ao longo de sua vida, entender muito bem as origens da miséria humana. Ao longo de sua carreira, viajou o mundo todo registrando imagens de momentos de crise e de guerra e acompanhou como se deu o início de uma série de conflitos que culminaram em graves consequências até os dias atuais.
Uma dessas consequências, que ganhou notoriedade principalmente nos últimos meses, é a crise de refugiados que tem levado milhões de sírios, líbios, iraquianos, africanos e cidadãos de outros países a buscarem abrigo em pátrias que não são as suas. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, neste domingo (4), Salgado fez uma análise da atual crise de refugiados e atribuiu o problema à intervenções militares dos Estados Unidos e de países da Europa.
Para o fotógrafo, há a impressão de que trata-se de um problema novo por conta dos atuais fluxos migratórios de refugiados que chegam à Europa principalmente através da Itália. Ele pontua, contudo, que a crise começou muito antes.
“Como essas pessoas estão chegando à Europa, parece que a história é nova, mas não é nova, não. É velha, é a história da globalização, da reorganização da família humana, da concentração em centros urbanos, das geopolíticas. Quando eu conheci o Iraque, era um país rico, onde as pessoas trabalhavam, tinham aposentadoria, residências e viviam em paz. Um país [Estados Unidos] imaginou que lá havia armas de destruição em massa, atacou o lugar e o trouxe para a idade da pedra. No Iraque hoje ninguém tem casa, bomba explode todos os dias, é um país fisicamente destruído. Para onde você quer que esse povo vá?”, questionou.
Em sua análise, Salgado citou ainda outro exemplo de intervenção, mas dessa vez de países europeus na Líbia.
“Era uma estabilidade, de uma ditadura, mas os líbios tinham casa, escola, viviam de uma maneira razoável. Tomou-se a decisão de botar o [ex-ditador líbio] Gadaffi para fora. Bombardeios, tropas francesas e britânicas entraram com os rebeldes, mas eles não tinham ideia da casa de marimbondo em que estavam mexendo. A ponto de ninguém assumir o controle daquilo, nem os líbios, virou um negócio terrível. De onde saem milhares de refugiados que hoje atravessam em direção à Itália? Você joga com a história dos outros e depois sofre com as consequências”, avaliou.