Dependência de ‘memória digital’ está prejudicando memória humana, diz estudo

Dependência de ‘memória digital’ está prejudicando memória humana, diz estudo

O uso indiscriminado de tecnologias digitais está enfraquecendo a memória dos seres humanos, revelou uma nova pesquisa.

O estudo, conduzido por uma empresa de cibersegurança sediada no Reino Unido, constatou que as pessoas vêm recorrendo a computadores e dispositivos móveis para guardar novas informações em vez de usar seus próprios cérebros.

Segundo a pesquisa, muitos adultos que ainda se lembravam de números de telefone durante a infância não conseguiam memorizar os números de telefone do trabalho ou de parentes próximos.

Maria Wimber, da Universidade de Birmingham, na região central da Inglaterra, disse que o hábito de usar as máquinas para buscar informação “impede a construção de memórias de longo prazo”.

O estudo, que analisou os hábitos de memória de 6 mil adultos no Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, constatou que mais de um terço dos entrevistados afirmou que recorreria primeiro a computadores e dispositivos móveis para buscar informações do que à própria memória.

Memória externa
A pesquisa revelou que a dependência dos computadores gera um impacto de longo prazo no desenvolvimento das memórias.

“Nosso cérebro parece guardar informações cada vez que tentamos nos lembrar delas, e ao mesmo tempo esquecer aquelas que não são tão importantes”, explica Wimber.

Wimber explica que o processo de memorização de dados é “uma forma muito eficiente para criar uma memória permanente”.

“Por outro lado, buscar informações continuamente na internet não cria uma memória sólida e duradoura.”

Entre os adultos que participaram da pesquisa no Reino Unido, 45% conseguiam lembrar-se do número de casa quando tinha 10 anos, enquanto 29% conseguiam lembrar-se dos números de telefone de seus filhos e 43% conseguiam lembrar-se do número de telefone do trabalho.

A capacidade de lembrar-se do número de telefone do parceiro foi mais baixo no Reino Unido do que em qualquer outro lugar da Europa. Enquanto apenas a metade dos entrevistados (51%) britânicos sabia de cor o número de telefone do parceiro, a proporção na Itália era de 80%.

O estudo, realizado pela KASPERSKY, empresa de cibersegurança sediada no Reino Unido, constata que as pessoas se acostumaram a usar computadores como uma “extensão” de seus próprios cérebros.

Trata-se da chamada “amnésia digital”, pela qual as pessoas se esquecem de informações importantes pois acreditam que podem buscá-las imediatamente na internet, informa a pesquisa.

A pesquisa destaca também que há uma tendência cada vez maior de guardar memórias pessoais em formato digital. Fotografias de momentos importantes, por exemplo, deixaram de ser impressas para serem armazenadas somente no universo virtual, com o risco de serem roubadas ou perdidas.

“Existe também o risco de que o registro constante de informação em dispositivos digitais nos torna menos propensos a guardar informações de longo prazo, e até nos distrair de memorizar corretamente um acontecimento da forma como ele ocorre”, afirmou Wimber.

Por Sean Coughlan

Fonte indicada: BBC

Por que presentear crianças com livros?

Por que presentear crianças com livros?

Livre tradução do artigo escrito por Yolanda Reyes em seu blog Espantapájaros Taller.

1.  Porque as crianças gostam de histórias. Porque, no fundo, cada vida é uma história. E ao espreitar as páginas de um livro, as crianças abrem os olhos para as inúmeras histórias de vida das pessoas.

2. Porque as crianças são curiosas, como qualquer um de nós. E querem saber o que as outras pessoas pensam, como se sentem, como resolvem problemas, como se apaixonam, por que choram e riem, sonham e têm pesadelos.

contioutra.com - Por que presentear crianças com livros?

3. Porque as crianças não têm muitos anos de experiência. E os livros “emprestam” a elas a experiência de outros que viveram mais tempo para que possam “lê-las”.

4. Porque as crianças sabem que junto de uma história, há uma mãe ou um pai que virá lê-la todas as noites. E elas também sabem que eles vão ficar na beira da cama e não irão se ocupar de seus assuntos de adultos ou desligar a luz, pelo menos até que a história seja concluída. E, por isso, sempre pedem que leiam de novo e de novo e de novo …

5. Porque um livro é como um barco que conecta duas margens: dia e noite, para dormir e acordar, luz e sombra. E nesse barco, as crianças deslizam lentamente a partir do mundo real para o mundo dos sonhos.

6. Por uma série de razões práticas que as crianças não se preocupam, mas que são importantes para suas mães. Por exemplo: os livros não se desmontam em milhares de pequenos pedaços de plástico que precisam ser recolhidos pela casa  quando a festa de aniversário acabou. Nem precisam de baterias ou têm mecanismos complicados ou exigem a compreensão das instruções de montagem escritas no manual.

contioutra.com - Por que presentear crianças com livros?

7.  Como nem todos os meninos nem meninas são iguais, os livros também são diferentes. Há aqueles sobre múmias, dinossauros e reinos distantes, sobre monstros e fadas, sobre a vida real e a vida imaginária. Alguns são para chorar e outros para rir, alguns cantam, outros são como museus abertos todas as horas e todos os dias da semana. Há alguns para serem lidos pelo toque, com os ouvidos e dentes como bebês – para ler e reler um pouco mais para a imaginação, com o coração, com espanto.

8. E porque muitos livros – e sabemos disso depois de muitos aniversários – permanecem na memória. Seus efeitos não expiram com o tempo, mas o contrário. O rumor das histórias que lemos quando éramos crianças permanece conosco, como a música, como uma voz, como um encanto … E nos fortalece, ajudando-nos a construir um abrigo imaginário onde podemos passar algum tempo jogando no reino do “era uma vez, há muitos anos atrás “… jogando no reino dos mundo possíveis e impossíveis que nunca termina.

Por Denise Guilherme

Fonte indicada: Ataba

O resto é silêncio

O resto é silêncio

“To be, or not to be, that is the question:
Whether ‘tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them? To die, to sleep,
No more; and by a sleep to say we end
The heart-ache, and the thousand natural shocks
That flesh is heir to: ‘tis a consummation
Devoutly to be wished. To die, to sleep;
To sleep, perchance to dream – ay, there’s the rub:
For in that sleep of death what dreams may come,
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause – there’s the respect
That makes calamity of so long life.
For who would bear the whips and scorns of time,
The oppressor’s wrong, the proud man’s contumely,
The pangs of despised love, the law’s delay,
The insolence of office, and the spurns
That patient merit of the unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin? Who would fardels bear,
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death,
The undiscovered country from whose bourn
No traveller returns, puzzles the will,
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all,
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o’er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pith and moment,
With this regard their currents turn awry,
And lose the name of action.”[…]*

Dia desses, deparei-me com um longo vídeo (final do artigo) do professor e historiador brasileiro Leandro Karnal, uma fala de mais de sessenta minutos. Sei que assistir à um monólogo de mais de sessenta minutos nos dias de hoje, onde paciência é virtude em falta, parece quase coisa de maluco, bom, maluca ou não, eu assisti. Duas vezes. E não só assisti ao vídeo, como também me dei o trabalho de transformar boa parte de sua fala em texto. Porque, no momento atual, quando todo o tipo de informação nos invade olhos e ouvidos, quase sempre sem pedir licença, é imprescindível que eu encontre espaço para escutar, para ler e reler, aquilo que me desperta consciência, que por um breve momento me faz sentirmesmo que ilusoriamente, que não estou só em meus mais profundos questionamentos.

E um monólogo de mais de sessenta minutos, se não for muito bem embasado, com certeza não prenderia minha atenção ou de muitos outros. Karnal faz uma leitura espetacular de Hamlet, de maneira que nunca antes havia visto, até porque confesso que nunca tive paciência para ler uma obra de Shakespeare completa. E com Hamlet não poderia ser diferente, é densa, é lenta, é longa.

A partir de agora o que vou escrever vem muito da minha leitura sobre a leitura de Karnal da leitura de Shakespeare, mas precisamente, Hamlet, e prometo tentar fazê-la bem mais simples e curta (mesmo que uma obra como essa mereça leituras muito mais longas e complexas).

Dissociação na psicologia é um termo usado para falar de processos de inconsciência. Existem várias abordagens para o tema e a minha abordagem é puramente leiga, sem embasamento teórico algum, até porque se eu quisesse embasamento teórico estaria na Academia e não escrevendo em um blog. Então, colocando em leigas palavras, o ser-humano dissociado é aquele que detém grandes vãos entre seu discurso e suas atitudes. O ser-humano dissociado é aquele em que partes de sua “consciência” não conversam entre si. E como somos solitários em nossos próprios processos, existem inúmeros graus e processos dissociativos.

Eu já vivi fases de dissociação extrema e hoje ao olhar para trás e refletir sobre elas entendo muito bem porque eu não queria olhar para o que deveria ser olhado, para o essencial e porque passei tanto tempo me distraindo com dores paralelas, me anestesiando com relacionamentos e amizades rasas, remontando dramas, revivendo as mesmas histórias, me sabotando. Hoje e somente hoje, entendo porque passei tantos anos nesse “limbo”. Fiz isso porque olhar para nossas feridas, nossos traumas, nossas dores existenciais profundas é uma paulada na cabeça, ter consciência é algo que nos torna extremamente solitários, mais solitários do que já somos. E é uma solidão que corrói.

E Karnal nos lembra que fazer esse trabalho intenso de obter consciência sobre seus atos vai muito longe do espírito de autoajuda que diz “aceite-se e você será feliz”, é muito mais grave que isso, é “tente descobrir vagamente quem você é, então você não será feliz, mas sua consciência vai pelo menos fazer com que você não seja falso, vazio e comum”.

O ser humano integralizado é o contrário do ser humano dissociado, e assim como a dissociação, a integralização também existe em diversos graus e formatos. Mas, apesar de ser um processo bem distinto para cada um, existe algumas maneiras de percebê-la. O meu termômetro para medir consciência é a quantidade de desculpas que nós damos, quanto mais desculpas, mais dissociados estamos. Assumir a responsabilidade por nossos atos falhos é um grande passo no processo de consciência.

A pergunta mais famosa de Hamlet, que vem sendo repetida por quatro séculos e que muitos, inclusive eu, interpretam de maneira equivocada (começando por sua tradução para o português), “to be or not to be?” (ser ou não ser, estar ou não estar), parece simples, mas o que muitos não se deram conta é que essa pergunta nos remete diretamente para a problemática da consciência. O príncipe Hamlet é extremamente consciente, e sozinho em sua consciência ele se indaga: ” – Quando é que as pessoas vão parar de me dizer o que deve ser dito para me dizer o que as coisas realmente são?”.

A leitura de Karnal me comoveu porque eu me sinto sozinha, mesmo não tendo metade da grandiosidade do Hamlet de Shakespeare, mesmo não tendo metade do conhecimento de Karnal, me sinto sozinha em minha consciência. E sinto que é difícil viver em um mundo extremamente dissociado.

E por eu ter chegado até aqui entendo que não é um feito para me gabar, porque vejo que não foi difícil, só demandou (muita) vontade. Vontade de olhar para as coisas como elas realmente são. Por isso não acredito que chegar a um pequeno nível de consciência ou muito maior seja algo impossível para ninguém que está lendo esse texto ou ninguém no mundo. Já começa pelo fato de que ninguém precisa ler nada, nem fazer curso de nada para tanto.

Hamlet nos lembra que o caminho das pedras é simples (e ainda tão complexo): basta que comecemos a estar presentes naquilo que dizemos. Quando fazemos isso, estamos aos poucos saindo dos nossos processos de inconsciência, de dissociação e começamos a criar integridade, coerência, consciência.

Segundo a leitura de Karnal, o que Hamlet parece dialogar conosco é que: – E se as dores que nós inventamos, dores financeiras, dores físicas, dores de problemas familiares fossem o disfarce de uma grande dor maior? A dor que nós não conseguimos nominar, por isso estabelecemos dores laterais, por isso estabelecemos que eu esteja bem ou não naquele momento ou dia. Hamlet diz exatamente que essa dor nasce do fato de que todos naquela peça, em quase quatro mil e quinhentos versos, estão dizendo a ele o que ele deve ou não deve ouvir e não exatamente o que as coisas são.  Hamlet objetivamente está olhando para o mundo e dizendo:

“- Quando é que haverá alguém que vai me dizer o que as coisas são? Quando alguém parará de dizer o que deve ser dito? Quando alguém parará de colocar fantasias, de beber muito (ele reclama da bebedeira da corte), de disfarçar sua dor? Quando alguém começará a estar presente naquilo que fala? Quando as pessoas começarão a ser e deixarão de não ser?”

Pois é Karnal, pois é Shakespeare, ser ou não ser? Essa pergunta também me faço todos os dias e sei que apesar de sozinha, nesse questionamento não estou sozinha. As últimas palavras de Hamlet (e de Karnal) nos trazem a principal reflexão que surge de toda a peça: depois que Hamlet disse tudo que deveria ser dito, o  que sobra é silêncio. Quando todo esse barulho que faço para não me enfrentar, quando eu decidir acabar com toda a distração ao meu redor, quando eu parar de me anestesiar e resolver enfim olhar para dentro de mim, então tudo que restará será silêncio. Em uma singela homenagem às belas e sábias palavras que me inspiraram a escrever esse relato, encerro esse texto como o príncipe Hamlet encerrou sua vida, que também foram ditas por Karnal em seu encerramento:

– O resto é silêncio.

Abaixo o vídeo:

A Morte e a Vida das Coisas

A Morte e a Vida das Coisas

Outro dia, enquanto assistia ao meu celular carregando, fiquei pensando sobre a morte e a vida das coisas.

Um notebook se cala e uma tomada lhe oferece outra chance, uma ressureição;  o controle do vídeo game silencia, e um carregador de pilhas já o espera na tomada; a câmera fotográfica está pronto para, novamente,  tornar a imagem estática quando lhe oferecem meia horinha de energia à bateria.

Inventamo-nos diversas vidas para os objetos e a isso damos o nome de Ciência. Quantas milhares de horas na vida de cientistas foram sacrificadas para que tenhamos a garantia da sobrevivência das coisas? Quantas mãos não caminharam entrelaçadas porque um carregador mais rápido e potente estava sendo criado por estudiosos que não aprenderam, ou tiveram tempo, de ao menos soletrar “eu te amo”?

Penso que o ser, sabendo da sua incapacidade em garantir sua perpetuação, revive no que inventa. Semana passada mesmo,  vi um rapaz quebrando o carregador de um telefone porque ele já não funcionava tão bem. Pisava o aparelho, xingava-o em palavrões que aqui não cabem.

Não agredia o telefone com a tela escura, morta, agredia a inércia daquele que foi criado para fazer reviver. Atacava o único capaz de lhe mostrar a sua incapacidade de se reinventar.

Felicidade é uma promessa que só se paga adiantado.

Felicidade é uma promessa que só se paga adiantado.

Demorou, né? Quanto tempo! Deu trabalho. Tanto caminho torto, buraco, barranco, beco sem saída. Tanta curva, tanto engano! Quanta espera, incerteza, desalento. Quanto medo de morrer antes do nosso tempo, de partir antes do seu dia de chegar, de me perder e não encontrar você!

Cá estamos, pois. Um para o outro. Restamos vivos. Sobreviventes. Cada escorregão, tropeço, rasteira, suadouro, todo instante inseguro, cada choro solitário no fundo da noite. Tudo valeu, valeu, valeu muito. Valeu porque nos trouxe até aqui, este ponto exato no tempo e no espaço em que nos tornamos nossos. Jovens amantes de frente, começando a vida depois dos quarenta.

Toma devagarinho meu coração de pai em suas mãos de mãe. Descansa seus braços dados a tanto peso em meus ombros simples. Debruça seu corpo pequeno e forte sobre o meu. Repousa os músculos de suas pernas nos pensamentos mansos que juntei de você. Guarda seu coração junto ao meu em nosso abraço de vida inteira.

Nosso tempo enfim se avizinha. A saudade do que ainda não vivemos juntos doeu em horas infinitas, como hérnias de disco estouradas, nervos inflamados, joelhos torcidos sob bolsas de gelo, compressas de água morna e essas coisas que ajudam a tocar a vida.

Mas passou. A saudade deu lugar a esse gostinho de chá e amor no fogo, vindouro, escancarado, nascendo valente por entre os galhos novos e as flores vermelhas das paixões súbitas. Amor que cresce para o céu depois de anos arraigando sob a terra, entranhando intenções subterrâneas, fortalecendo nossa espera de sempre. Amor que arrebenta os muros erguidos ao redor de nossos pés e avança para a vida.

Entre nós há hoje um mundo inteiro. Amores, perdas, ganhos, filhos. Questões largas, medos fundos, decisões turbulentas. Mas visto na perspectiva de que a vida é assim tão curta, tudo isso se torna simples. Amanhã há de ser assustadoramente trivial.

Em algum pedacinho gramado de terra no sul do país, a vida nos espera como a moça grávida, gestando em festa nosso futuro manso, fresco, perfeito, posto que no frio nos sentimos em casa.

Desastrada, você se arranha nos galhos da goiabeira e me pede que pincele merthiolate em seus machucados. Eu aproveito e lambuzo de ternura toda a extensão do seu corpo.

E nós seguimos e crescemos, juntos como duas mangueiras, até nossas festas de cem anos, velhos amantes cansados da lei da gravidade, das contas, dos juros e outras burocracias, mas tão famintos ainda um do outro. Vivendo seu amor resistente.

Porque o amor, ahh… o amor resiste a tudo, como o matinho que nasce entre os paralelepípedos da rua antiga, as famílias que guardam os retratos de seus antepassados e preservam seus conselhos, seus valores e suas lembranças sem nome, sem cor, sem rosto. Resiste como as pessoas que ainda se importam com as outras. Como você e eu. Como a promessa de felicidade que passamos a vida inteira pagando adiantado. E que agora nos sorri deliberada em sua graça, lavando o mundo de bons e simples sentimentos de amor.

Se você está pensando como os outros, não está pensando

Se você está pensando como os outros, não está pensando

“Dizem que, numa cidade do interior, um grupo de pessoas se divertia com o “faz-me rir” do povoado, um pobre infeliz, de pouca inteligência, que vivia fazendo pequenas diligências e pedindo gorjetas.

Diariamente, alguns homens chamavam o homem no bar onde se reuniam e lhe ofereciam escolher entre duas moedas: uma de tamanho grande de 400 coroas e outra menor de tamanho, mas de 2.000 coroas.

Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risada para todos.

Um dia alguém que observava o grupo se divertindo com o homem inocente o chamou de canto e lhe perguntou se ainda não tinha percebido que a moeda de maior tamanho valia menos e ele respondeu: eu sei, eu não sou tão bobo. Ela vale cinco vezes menos, mas o dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e eu não vou ganhar mais nenhuma moeda.”

Esta história poderia terminar aqui, como uma simples piada, mas é possível tirar várias conclusões:

A primeira: Quem parece bobo, nem sempre é.
A segunda: Quem eram os verdadeiros bobos da história?
A terceira: Uma ambição desmedida pode acabar cortando a sua fonte de renda.

1 – Você pode estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião sobre você.

Você não precisa que os outros tenham uma opinião sobre cada passo que você dá na sua vida. Nem precisa, nem deveria procurá-la; o importante é que você esteja bem com quem você é.

Nos enganamos tentando colocar rótulos nas pessoas e nos seus comportamentos. Você é muito mais do que a opinião dos outros. Entre outras coisas, você deveria lutar contra si mesmo durante um tempo até alcançar a capacidade de se sentir bem, sem saber o que os outros pensam a seu respeito.

As pessoas mais infelizes neste mundo são as que se preocupam demais com o que os outros pensam.

2 – Portanto, não importa o que os outros pensam de você e sim o que você pensa de você.

As pessoas vão pensar o que quiserem pensar. Não vai fazer diferença você sempre procurar as palavras exatas ou cuidar dos seus gestos nos mínimos detalhes; alguém sempre irá distorcê-los. No fim das contas, no resumo da sua vida, pouco importará o que as outras pessoas falaram ou deixaram de falar.

Faça o que você gosta, não o que você acha que os outros gostariam que você fizesse.

Como você se vê a si mesmo é o que verdadeiramente importa. Mantenha-se fiel a si mesmo, guie-se de acordo com as suas opiniões e não pelo que os outros esperam ou opinam. No fim das contas, você é a única pessoa indispensável na sua vida, e é a você mesmo que você terá que “aguentar” minuto após minuto.

Se você está pensando como os outros, não está pensando E se você não está pensando, não está realmente vivendo.

3 – A vantagem de ser inteligente é que você pode fingir ser bobo, enquanto o oposto é impossível. Woody Allen

Dizem que ser inteligente não é saber onde ir, mas sim onde não se quer voltar e o que não se deve permitir.

Uma pessoa inteligente sabe que todos têm direito de pensar o que quiserem, mas outra coisa muito diferente é tomá-lo ou não como algo pessoal. Além disso, ser único e analisar as atitudes que os outros manifestam frente a você lhe dá a vantagem de criar situações que não lhe prejudiquem.

Texto original em espanhol de: Raquel Aldana

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

Casamentos que duram, casamentos que acabam

Casamentos que duram, casamentos que acabam

Por Fabrício Carpinejar

Não quebro nenhum cálice de vinho na hora de lavar.

A taça jamais se parte, apesar do vidro finíssimo, da redoma absolutamente inofensiva, da delicada superfície de gelo.

Estou invicto. Cuido tanto, tiro qualquer louça da pia para evitar choques, não arrisco nenhum movimento impetuoso, eu me fixo suavemente ao esfregar a esponja nas extremidades.

Já vivo quebrando os copos mais resistentes. Não controlo o excesso de espuma, eu me distraio com os pensamentos, eles escorregam ou trincam na torneira.

É uma grande metáfora para os relacionamentos.

Casamento que dura é o mais difícil. Casamento que acaba é o mais fácil.

Quando é um casamento brigado, que tem a fragilidade como marca, somos condicionados a prestar mais atenção aos riscos e problemas e mergulhamos diariamente num estado de alerta.

Temos a consciência de que pode terminar a qualquer momento, então preservamos mais as palavras e os gestos, dedicamos um maior tempo para prevenir mensagens desagradáveis e ofensas. O medo da ruptura, sempre próxima, faz com que redobremos a apreensão com os laços.

Já quando o casamento é estável e sem sobressaltos, abandonamos a companhia ao léu porque não precisamos de muito esforço. O piloto automático desenvolve a insensibilidade diante do aumento e da diminuição da velocidade. Há o risco do tédio e da indiferença. Não nos preocupamos em agradar, e podemos nos distanciar do romance e da atração.

Casal que se desentende é obrigado a escutar o contraponto incessantemente. Casal que se entende pensa que conhece o seu par, adivinha, não escuta e fala pelos dois.

Casal com temperamentos antagônicos entra em disputa de atenção e não desiste de seduzir e de surpreender. Casal com afinidades custa a perceber a insatisfação do próximo.

Casal com diferenças gritantes pede desculpa e se prontifica a reparar o erro. Casal que age por identificação não espera nenhuma frustração e não perdoa com facilidade.

Casal que discute aumenta o contato e a intensidade sexual. Casal que não se aborrece desemboca na amizade assexuada.

A convivência entre os opostos é superior em termos de cuidados do que a convivência entre os iguais.
O apocalipse iminente gera a salvação. O paraíso previsível gera acomodação.

Uma linha de costura prende mais o casal do que uma corrente ou uma corda. A possibilidade de romper o nó sensível permite que os dois se olhem a todo momento para verificar se permanecem juntos. Estão infinitamente se reparando e se observando para evitar o desligamento da união. Por sua vez, a firmeza da corrente e da corda criam um relaxamento e um dos dois pode se mexer bruscamente e derrubar o outro e demorar para descobrir e, mais ainda, para socorrer.

Texto de Fabrício Carpinejar.

Mundo que me faz sorrir com lágrimas nos olhos.

Mundo que me faz sorrir com lágrimas nos olhos.

Como poderia estar plena de felicidade se o vizinho de 80 anos acaba de ver morrer seu cachorro, único companheiro de tantos anos e nem lágrimas rolaram. E objetos de três gerações se amontoam e tomam chuva na calçada, dispensados, ofertados ao mundo de hoje, sem valia, entulhos que atrapalham vistas e passagens. E os livros soltam páginas amarelas ao vento, histórias perdidas, apagadas, excluídas. E alguém dorme no banco da praça movimentada, embaixo de um sobretudo grosso que frequentou a opera no corpo de uma senhora aristocrata, nos tempos em que se ia à opera. Dorme esperando a vida passar, sem força para carregar o próprio corpo, sem vontade para mudar a realidade, ressequido de sonhos. E na TV dá que mataram 15 médicos fazendo trabalho social no Afeganistão. E um coração foi partido na esquina. O moço de 30 anos teve um infarto porque seus dias seguem na frente do jogo de computador, cigarros e pacotes de salgadinho. E um pai apressado puxa o filho pelo braço, chora sentido. A puta fica em pé na porta às 2 horas da tarde de sábado, com uma cara de ontem e uma placa na cabeça ‘estamos abertos’. E um pássaro velho, sem condições de voar, se encantoa embaixo de um arbusto com os olhos triste de quem tem poucos dias nesse mundo, nem do voo pode se despedir.

Tudo isso num caminho, nos poucos quarteirões entre minha casa e o supermercado.

Como poderia estar plena de felicidade se felicidade é um ostracismo. Cabe numa pílula, numa bolha, numa porta fechada de um apartamento. Cabe numa xícara de café e num pedaço de bolo. Cabe numa concha que guarda o barulho do mar, num porta retrato, numa carta, num poema. A felicidade é tão pequena que cabe na mão. Eu posso ter as mãos cheias de felicidade. Mas o mundo não é uma ostra, e eu não consigo esquecer os olhares, eu não consigo fechar as janelas. Felicidade é um individualismo.

Mas eu também não poderia estar plena de tristeza. Se da janela mesmo ainda vejo sorrisos, e do vaso nasceu uma flor, e do azul do céu nascem notas de músicas e das pequenas gentilezas nasce o amor.

 A vida que se abre e se fecha a cada passo.

​Fome de Pele

​Fome de Pele

“Precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver. Precisamos de 8 abraços por dia para nos manter. Precisamos de 12 abraços por dia para crescer”. (Virginia Satir)

Li há algum tempo um artigo muito interessante sobre a importância do abraço. Vamos deixar claro que quando falo em abraço aqui eu me refiro àquele que envolve, que junta peito com peito, coração com coração e não o pouco acalorado tapinha nas costas.

Estudos dizem que ao abraçarmos o nosso cérebro libera substâncias como dopamina e serotonina responsáveis pela sensação de bem estar, calma e harmonia. Há ainda aqueles que afirmam que abraçar aumenta a imunidade, a autoestima e melhora também a saúde psicológica.

Muitas vezes já me peguei pensando sobre os abraços que dei e recebi na vida. Acho que o abraço é o mais sincero gesto de carinho que existe, pois é impossível ficar atrelado a alguém pelo qual não somos verdadeiramente afeiçoados. Pode-se dar um beijo rápido no rosto, mas um abraço demorado nessa pessoa não, a gente não consegue. E não vale, nesse caso, balançar a pessoa como sino para tirar a atenção do que realmente importa.

Abraçar implica se deixar envolver, se deixar fundir. Abraçar é uma sinfonia de batidas de coração, é um alinhamento de respirações profundas e uma confluência de mentes que se estimulam, se acarinham e se resguardam através do tato.

Nos meus vinte e poucos anos eu não abraçava muito. Lembro-me de ter um dia chegado em casa e tentado me lembrar qual era a última vez que eu tinha abraçado. Foi um exercício difícil, pois eu realmente não me lembrava. Felizmente isso muda quando temos por perto, por exemplo, familiares carinhosos, amigos sinceros, um amor para chamar de nosso e crianças. Sim, crianças são campeãs em abraçar. Elas em tenra idade sabem o que realmente importa na vida. É por isso que boas mães geralmente têm sua cota diária de abraços garantida. Elas não sofrem do que a psicologia chama hoje de “fome de pele”.

Mas, tem muita gente faminta passando por nós mundo afora. E quando falo muita gente, coloquem um número absurdo nessa equação. Aponta-se por ai que precisamos de doze abraços diários para ter as nossas necessidades afetivas plenamente supridas. Sim, vocês leram certo, não são dois, nem quatro, nem seis, mas doze abraços.

Você já deu doze abraços hoje? Acho que pouca gente dirá que sim. E eu ao ler esse número pensei nas vezes as quais fui ao médico por conta de uma rinite ou algo assim e sai de lá com um remédio prescrito. E se ao invés de um medicamento, facilmente encontrado em qualquer farmácia, o doutor me receitasse doze abraços para aumentar a imunidade, eu seria capaz de cumprir essa prescrição?

Um medicamente é rápido, você toma uma pílula por dia e resolve as coisas…por um tempo. Mas doze abraços não podem ser dados de qualquer jeito. É preciso que se ampliem os vínculos, que a gente estenda o alcance de nossas relações, é preciso mudar a forma de ver o mundo, os que nos cercam e nós mesmos.

Abraçar implica muito mais que entrelaçar braços. Abraçar exige que a gente esteja disposto a amar e a se deixar amar. Que a gente esteja pronto para perdoar e se deixar perdoar. Abraçar implica superar as rejeições e aceitar o conforto e o consolo do outro.

Um abraço diz de forma silenciosa que nós nos importamos, que nós estamos juntos, que nós deixamos de lado um monte de afazeres, que parecem imprescindíveis, para fazer o que realmente importa na vida.

Vamos abraçar?

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

O Segredo da Felicidade

O Segredo da Felicidade
O povo feliz que foi capaz de pensar, falar e viver unicamente no presente, sem nunca passear pelo futuro ou regressar ao passado.

Imagine se um dia alguém afirmasse que existe um lugar no mundo onde as pessoas nascem e vivem em constante felicidade. O que você pensaria sobre essa pessoa?

Foi isso, dentre outras coisas, que afirmou Daniel Everett, um linguista americano, ao levar à comunidade científica seu conhecimento de décadas sobre uma pequena tribo de 400 índios que vivem às margens do rio Maici na divisa de Rondônia: os Pirahãs.

Na década de 70, ao chegar a essa tribo bastante isolada, John Everett, missionário na época, aprendeu a falar a diferente língua desse povo e notou que lhes faltavam alguns elementos linguísticos. Eles não tinham nomes para cores e não tinham ideia sobre números. Quando perguntada a quantidade de algo que lhe era posto na frente eles diziam pouco, muito ou suficiente. Eles não tinham mitos ou lendas e não conjugavam o passado nem o futuro.

Daniel percebeu, no entanto, que os índios daquela tribo eram sempre tranquilos e descontraídos e que nunca se agitavam ou pareciam preocupados.

contioutra.com - O Segredo da Felicidade
Pirahãs – Fotografia de Gabriel Bicho

Como podem viver sem números e como sabem as mães quantos filhos têm? Elas não sabiam precisar em números, mas sabiam seus nomes e tudo sobre cada um deles. Não sabiam quantas espécies vegetais e animais integravam seu habitat, mas tinham um conhecimento enciclopédico de cada uma delas. E o que mais chamava atenção era o fato de viverem no presente em tempo integral.

Quando a fome lhes vinha era só descer até o rio e pescar um peixe. Eles não se afligiam com o futuro e não carregavam arrependimentos pelo que um dia podiam ter feito no passado. Eles eram felizes.

Os cientistas se digladiaram discutindo questões meramente linguísticas apontadas pelo ex-missionário, como por exemplo, a capacidade desse povo de colocar ou não uma frase dentro da outra (recursividade), contudo uma luz acendeu na mente de muitos, algo que falava sobre tudo que aprendemos à respeito da felicidade.

E se vivêssemos, pensássemos e falássemos sobre o aqui e o agora apenas, como seria?

As crianças vivem esse júbilo, elas estão sempre despertas, curiosas e animadas. Tente explicar a uma criança que algo vai acontecer apenas em cinco minutos ou pergunte sobre seu dia e peça que conte tudo que aconteceu em detalhes. As crianças vivem inegavelmente no presente e a felicidade lhes parece inerente até que, certo dia, aprendem números e tempos verbais que conjugam o passado e o futuro.

Então crescem e passam à contar quanto tempo falta para ser o que querem ser. Contam as horas para um encontro, os dias para as férias, os anos para chegarem aos dezoito. Aprendem que a felicidade é composta por fragmentos alegres. Sendo adultos, afirmam genericamente que são felizes, contudo frente a qualquer frustração, decepção, descontentamento, arrependimento ou preocupação com o amanhã parece-lhes impossível afirmar tal coisa.

E se não somos felizes em determinado momento, o que é preciso para que o sejamos? Notem que agora já estamos falando de futuro.

contioutra.com - O Segredo da Felicidade
Fotografia de Gabriel Bicho

Para essa pergunta existem inúmeras respostas. Ter uma casa própria, entrar em uma boa faculdade, conseguir determinado emprego, relacionar-se com tal pessoa, gerar um filho, fazer uma viagem, fazer uma plástica, abrir o próprio negócio e por ai vai. Assim passamos a mover esforços para alcançar a tão sonhada felicidade.

O anseio por ela é lucrativo. Ser feliz não. Necessidades para que sejamos felizes são criadas todos os dias. Um mundo de dinheiro gira em torno disso.

Daniel Everett não conseguiu vender a própria crença religiosa aos Pirahã, pelo contrário, a abandonou. Contudo foi agraciado com o segredo mágico da felicidade. Até mesmo o fotógrafo rondoniense Gabriel Bicho que tirou as fotos que ilustram esse texto afirmou ter percebido nesse povo algo diferente, definido por ele como uma imensa doçura na voz e olhares de profundidade sem igual.

contioutra.com - O Segredo da Felicidade
Fotografia de Gabriel Bicho

E sobre o que pensaríamos nós sobre alguém que nos viesse afirmar que existe no mundo um grupo de pessoas que vive em constante felicidade…certamente pensaríamos que este alguém é mentiroso. E foi assim que o linguista americano foi taxado por muitos da comunidade científica e por tantos outros que não faziam parte dela, tendo recebido após a publicação de seu artigo no periódico “Current Anthropology” em 2005 uma enxurrada de e-mails nada amigáveis.

A questão se tornou tão interessante que gerou um documentário intitulado “The Amazon Code – The Grammar Of Happiness”,o qual aconselho imensamente. O linguista americano nunca mais voltou à tribo, apesar de o desejar e tendo em vista o notório destaque dado aos Pirahã depois que Daniel os lançou frente ao mundo científico, o governo brasileiro se apressou em levar até a tribo uma escola para ensinar os números, o passado e o futuro e uma televisão para mostrar-lhes como é feliz este nosso mundo.

Essa rápida iniciativa mascarou o que de relance pareceu brilhar aos olhos de todos. Sair um pouco (ou muito) das amarras do sistema pode ser uma boa resposta para nossas indagações sobre a felicidade. Contudo tendo aprendido a viver de acordo com as regras dele, a felicidade nos será lamentavelmente vendida a conta gotas.

“Palavras são mágicas, são como encantamentos sublimes que nos levam para onde quisermos, seja esse onde um lugar ou uma pessoa”. Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Hoje eu acordei sangrando

Hoje eu acordei sangrando

Seria uma bênção acordar sangrando. Haveria testemunhas para esse fato impossível de ser ignorado. Há sangue! Procura-se por um ferimento, uma causa, um trauma. Ninguém sangra à toa. Mas há quem sangre de forma secreta, silenciosa, solitária. A depressão é um tipo de hemorragia interna; só que o que sangra é a alma.

Os mesmos olhos que custaram uma eternidade para receber a visita acolhedora do sono, não são capazes de despertar. Ardem, pesam, parecem conter milhões de micropartículas de areia. Os olhos são visíveis; a insônia e a fadiga, não. Às vezes, alguém do lado de fora pode até perceber “Puxa, você está com olheiras. Tá tudo bem?” ou “Como seus olhos estão vermelhos! Está resfriado?”. Não, não está tudo bem! E, não, não é resfriado. Mas, a maior parte dos parceiros da depressão está acostumada a fingir que não sente nada. E, na maioria das vezes, responde automaticamente “Sim, está tudo bem. Deve ser apenas um resfriado.” O resfriado é fácil de compreender, todo mundo está autorizado a ter. E o “tudo bem” é o que o outro espera ouvir, para poder ficar “tudo bem” pra ele também. Complicado?! Ahhh… É! Muito complicado!

A expectativa de vida é reduzida para as pessoas que sofrem de depressão; assim como a sua capacidade de conviver, produzir, pensar e interagir. Indivíduos deprimidos são mais suscetíveis a diversas doenças como diabetes, fibromialgias, disfunções hormonais e enxaquecas. Desequilíbrios no sistema nervoso (que é responsável pela sensibilidade à dor) ou no sistema límbico (que é responsável por reger as emoções) causam uma dupla disfunção: a dor crônica pode levar à depressão, assim como o inverso também é comprovado. Só nos Estados Unidos, o consumo de antidepressivos aumentou 400% em 20 anos. Mas, historicamente, depressão é um conceito que apareceu ainda ontem. Por séculos, ela foi uma doença cheia de mistérios conhecida como melancolia.

Estamos atolados num tipo de epidemia do desconforto emocional: há mais pessoas deprimidas do que jamais houve. Uma piada sarcástica diante de uma época em que ser feliz é quase uma obrigação. Todo mundo quer ser feliz, bonito, rico, bem-sucedido, amado e, se possível que tudo isso venha num passe de mágica, com pouco ou nenhum esforço. E, quando o mundo todo parece estar se divertindo numa festa para qual não fomos convidados, vem um vago sentimento de tristeza. No entanto, é preciso cuidado: tristeza não é, nem de longe, a mesma coisa que depressão.

O ritmo e estilo de vida que insistimos em comprar a preços altíssimos, nos lança numa montanha-russa de angústia e ansiedade que pode levar a sensações prolongadas de tristeza e apreensão. Ficamos muito vulneráveis aos apelos de uma sociedade inquieta que exige de nós o máximo, a excelência, a última gota. É como caminhar numa estrada sem luz, desconhecida e cheia de obstáculos: nunca sabemos o que está por vir. Só nós mesmos é que podemos nos salvar dessa armadilha. Parar. Respirar. Rever. Avaliar. Escolher. Escolher é a única forma lúcida de administrar o que vale a vida. Talvez a única forma de evitar que a tristeza se prolongue a ponto de encontrar uma confortável morada dentro de nós. Mas, isso ainda não é depressão. Depressão é doença, não é falta de coragem para enfrentar as vicissitudes da vida; não é artifício para chamar a atenção; não é frescura; não é falta do que fazer. Depressão não se cura sozinha ou à custa de repouso e Vitamina C, qual uma virose. Não é contagioso, mas coloca quem a carrega, muitas vezes, em situações de isolamento. A Organização Mundial da Saúde sinaliza para a forte possibilidade de que em 2030 a depressão venha a ser a doença mais comum do mundo, ultrapassando os problemas cardíacos e o câncer. O que torna isso ainda mais preocupante é que estamos ainda flertando com ela, não a conhecemos o suficiente para compreendê-la.

Engana-se, no entanto, aqueles que associam a doença depressiva ao cenário caótico da modernidade. Na Grécia antiga, os filósofos associavam a melancolia à superioridade intelectual e à personalidade social seletiva, sem qualquer aproximação com o conceito de doença. O médico inglês Thomas Willis, foi o primeiro a relacionar a melancolia à mania (em meados do século XVII), definindo o que seria um ciclo maníaco-depressivo. Neste mesmo século, Robert Burton, um filósofo, aponta para os costumes sociais como os grandes disparadores dos estados de melancolia. A primeira tentativa de categorização psiquiátrica sobre melancolia foi realizada no final do século XVIII com Pinel, por meio de observações clínicas e agrupamento de sintomas, e então, com a instauração do saber psiquiátrico no Século XIX, a melancolia foi transformada em doença mental, sem qualquer sinal de romantismo literário. Esquirol a denominou de “lipermania” ou “monomania triste” e Jean Pierre Falret de loucura circular, aproximando a melancolia da mania. Foi então que, no final do século, Emil Kraepelin integrou a melancolia à loucura maníaco-depressiva, fundindo-se em seguida à psicose maníaco-depressiva.

A Escala de Depressão de Beck ou Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory, BDI, BDI-II), criada por Aaron Beck e publicada em 1961, que consiste em um questionário com 21 itens de múltipla escolha, é um dos instrumentos mais utilizados para medir a severidade de episódios depressivos; seu desenvolvimento é um divisor de águas que marcou a mudança de comportamento entre os profissionais de saúde mental. Anteriormente a depressão era entendida como o efeito de pressões psicológicas externas, aliadas à interação entre as motivações conscientes e inconscientes do indivíduo deprimido. O conceito original desse pressuposto foi desenvolvido por Sigmund Freud. A Escala de Depressão de Beck propõe tratar o diagnóstico da depressão, considerando sua manifestação a partir de perguntas que abordem questões mentais advindas dos próprios pensamentos dos pacientes.

Na sua versão atual, o questionário é desenhado para pacientes acima de 13 anos de idade e é composto de diversos itens relacionados aos sintomas depressivos, tais como: desesperança; irritabilidade e cognições (culpa ou sentimentos de estar sendo punido); assim como sintomas físicos como fadiga, perda ou ganho de peso e diminuição da libido. Existem três versões da escala: a BDI original, publicada em 1961 e revisada em 1978; a BDI-1A; e a BDI-II, publicada em 1996. A escala é largamente utilizada como ferramenta para medida por profissionais de saúde e pesquisadores em uma variedade significativa de contextos clínicos e de pesquisa. Desnecessário alertar para o fato de que soa no mínimo ingênuo e simplista tentar reduzir algo tão complexo quanto a depressão a uma série de lacunas marcadas com “X”!

Conviver com a depressão e com os depressivos é um desafio diário de coragem, tolerância, persistência e compaixão. Os pacientes vivem num espaço de tempo e lugar em dimensão diferente dos indivíduos que não convivem com as alterações involuntárias de humor; tudo lhes parece fútil, ou sem real importância; perdem a capacidade de ver o mundo em cores; lutam para ignorar a cratera que sentem no peito, causada pela incapacidade de sentir alegria. As crianças e adolescentes, são atingidas por um complicador ainda mais cruel: muitas vezes, em vez de parecerem tristes, mostram-se irritáveis e agressivos. O deprimido, com frequência, julga-se um peso para os familiares e amigos, muitas vezes mesmo que não chegue a considerar a ideia de por fim à própria vida, nutre desejos de que a morte chegue simplesmente.

E, como mais uma das maravilhas científicas do mundo moderno, no meio dessa aparente situação de trevas emocionais, surgem as “milagrosas drogas antidepressivas” e “reguladores de humor” que, sem dúvida, reduzem os efeitos e arranham a casca da depressão e seus efeitos aparentes e observáveis. Meses de introdução, acerto de dosagem e troca de medicamentos; até que psiquiatra e paciente cheguem a um acordo para determinar o que, quanto e quando será administrado para que os efeitos colaterais sejam menos devastadores do que viver com a depressão. Acerto de medicação; comprometimento do paciente, familiares e outros envolvidos; acompanhamento indispensável de terapia comportamental cognitiva ou psicanálise; acenam para uma convivência menos sofrida com o desafio da depressão.

Alcançar a cura, ou a remissão dos sintomas não é, nem de longe, uma tarefa simples. É jornada que envolve a todos que estiverem minimamente relacionados a quem luta para permanecer inteiro até o fim de cada dia, ainda que amanheça sangrando invisivelmente.

Ana Macarini

Amor, Admiração e Vaidade – Flávio Gikovate

Amor, Admiração e Vaidade – Flávio Gikovate

O encantamento amoroso deriva da admiração, que pode estar fundada em critérios não muito sábios, por exemplo, na aparência física.

Assim, a pessoa pode se sentir envaidecida pelos olhares que a beleza do parceiro provoca e negligenciar a importância das virtudes morais no relacionamento.

Para mais informações sobre Flávio Gikovate

Site: www.flaviogikovate.com.br
Facebook: www.facebook.com/FGikovate
Twitter: www.twitter.com/flavio_gikovate
Livros: www.gikovatelojavirtual.com.br

Esse blog possui a autorização de Flávio Gikovate para reprodução deste material.

Pequenos desatinos

Pequenos desatinos

Há certas coisas que, por minúsculas que sejam, desatinam tanto que chegam a tirar nossas boas e saudáveis noites de sono. Um início de namoro, sem a certeza de que realmente esse é o momento certo ou a pessoa esperada para se começar algo tão sério; adotar um filhote de labrador, só porque assistiu ao filme Marley&Eu e saiu suspirando do cinema, encantada com a história de carinho e dedicação do casal feliz com o cão; um corte de cabelo mal resolvido! Ah! Este, com certeza, movimenta cada fibra do corpo e a autoestima da pessoa, provoca uma queda brusca, e não há paraquedas que resolva.

Outro dia, li uma crônica de Clarice Lispector que falava sobre o espanto do filho ao vê-la depois de ter cortado o cabelo. Parecia que faltava algo de essencial nela, só porque cortou o cabelo bem curto e se foi uma parte da sua aparência diária. É que cabelo é tão parte da gente como a alma, possui movimento, cheiro, chama a atenção, sabe viver sozinho, tem vida própria. Pura analogia com outros fatos, qualquer identificação não será mera coincidência.

Quando tomamos certas decisões que mexem com nosso estilo e desarticulam o fluxo do nosso cotidiano habitual, muitas vezes nem imaginamos como o eu – esse interior mais íntimo da gente – pode não entender e levar a coisa a sério demais, cobrando alto preço por algo que em pouco tempo voltará ao normal.

O que devemos levar em conta é o presente que temos, repleto de desafios e aceitações todos os dias, de como acordamos e nos vestimos de forma diferente para o mundo sem percebermos como realmente somos ou conquistamos um novo estado de total desconhecimento próprio. Para uns, funciona, para outros, não. Só não vale levar um desatino tão a sério a ponto de não sair vivo dele.

Quem dera fôssemos tão programados assim, para não sofrermos desses longos desatinos que misturam tudo ao nosso redor. Mas qual a graça de tudo se ficássemos assim, tão distantes da gente? Precisamos sim, de uma boa dose de desatino, mas que não ultrapasse nossa sutil percepção do que podemos fazer com nossa realidade. E assim, podemos nos alternar entre desatinos saborosos e uma realidade menos nua e crua.

“Por que escrevo?” 19 depoimentos que você precisa conhecer

“Por que escrevo?” 19 depoimentos que você precisa conhecer

Por que você escreve?

No livro Por que escrevo?, organizado por José Domingos de Brito como parte da série “Mistérios da Criação Literária”, a pergunta parece ser feita a todos os mais variados cânones da literatura, da poesia, e do jornalismo – pessoas que, enfim, constroem e desconstroem com palavras. De A a Z, as respostas vão sendo traçadas uma a uma, em um espírito íntimo em meio ao qual o leitor tem, certas vezes, a impressão de ouvir da boca de seu grande ídolo as razões que o levaram a tal árdua profissão . Enquanto Allen Ginsberg diz que escreve porque gosta de cantar quando está só, Gabo diz que escreve para que seus amigos o amem mais. E assim o livro nos mostra, em uma coletânea despretensiosa e sem ornamentos — e com uma rica bibliografia sobre o ofício da escrita —, das respostas mais simples e definitivas às mais reflexivas, abrangentes e complexas possíveis.

Aqui vão algumas delas*:

01. Allen Ginsberg:
“(…) Eu escrevo poesia porque gosto de cantar quando estou só (…) Eu escrevo poesia porque minha cabeça contém uma multidão de pensamentos, 10 mil para ser preciso (…) Eu escrevo poesia porque não há razão, não há porquê. Eu escrevo poesia porque é a melhor forma de dizer tudo que me vem à cabeça no intervalo de um quarto de hora ou de toda uma vida.”

02. Augusto dos Anjos:
“A princípio escrevia simplesmente
Para entreter o espírito… Escrevia
Mais por impulso de idiossincrasia
Do que por uma propulsão consciente.

Entendi, depois disso, que devia,
Como Vulcano, sobre a forja ardente
Da ilha de Lemnos, trabalhar contente,
Durante as 24 horas do dia!

Riam de mim, os monstros zombeteiros.
Trabalharei assim dias inteiros,
Sem ter uma alma só que me idolatre…

Tenha a sorte de Cícero proscrito
Ou morra embora, trágico e maldito,
Como Camões morrendo sobre um catre!”

03. Carlos Drummond de Andrade:
“Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas de suas inquietações, seus problemas íntimos, que os projetou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada. Mesmo porque não havia analista no meu tempo, em Minas.”

04. Clarice Lispector:
“Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E, no entanto, cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.”

05. Fernando Pessoa:
“Eu escrevo para salvar a alma.”


06. Fernando Sabino:

“Tenho a impressão de que se eu soubesse responder a essa pergunta deixaria de ser escritor. Não haveria condição. Não saberia dizer, não. Está além da minha compreensão. Esta pergunta é tão grave como se perguntassem: ‘Por que vive? Por que ama? Por que morre? ‘. Talvez eu escreva para atender a essas três presenças que são as únicas que existem na vida de um homem. No verso de Eliot: ‘Birth, copulation and death’; eu diria ‘nascimento, amor e morte’. Não sei por que escrevo. Eu nasci, virei homem e vou morrer.”

07. Gabriel García Márquez:
“Para que meus amigos me amem mais.”

08. George Orwell:
“Meu ponto de partida é sempre um sentimento de proselitismo, uma sensação de injustiça. Quando sento para escrever um livro, não digo a mim mesmo: ‘Vou produzir uma obra de arte’. Escrevo porque existe uma mentira que pretendo expor, um fato para o qual pretendo chamar a atenção, e minha preocupação inicial é atingir um público. Mas não conseguiria escrever um livro, nem um longo artigo para uma revista, se não fosse também uma experiência estética. Quem se dispuser a examinar meu trabalho perceberá que, mesmo quando é uma clara propaganda, contém muito do que um político de tempo integral consideraria irrelevante. Não sou capaz de abandonar por completo a visão de mundo que adquiri na infância, nem quero. Enquanto viver e estiver com saúde, continuarei a ter um forte apego ao estilo da prosa, a amar a superfície da Terra, a sentir prazer com objetos sólidos e fragmentos de informações inúteis. De nada adianta tentar reprimir esse meu lado. O trabalho é conciliar os gostos e os desgostos arraigados com as atividades essencialmente públicas, não individuais, que esta época impõe a todos nós.”

09. Jean-Paul Sartre:
“Porque a criação só pode encontrar seu acabamento na leitura; porque o artista deve confiar a outro a tarefa de concluir o que ele começou; porque somente através da consciência é que ele pode se ter como essencial a sua obra e toda obra literária é um apelo. Escrever é apelar ao leitor para que ele faça passar à existência objetiva o descobrimento que empreendi por meio da linguagem.”

10. João Cabral de Melo Neto:
“Por que escrevo é um negócio complicado… Eu tenho a impressão de que a gente escreve por dois motivos. Ou por excesso de ser — é o tipo do escritor transbordante, como a maioria dos escritores brasileiros; é uma atitude completamente romântica — ou por falta de ser. Eu sinto que me falta alguma coisa. Então, escrever é uma maneira que eu tenho de me completar. Sou como aquele sujeito que não tem perna e usa uma perna de pau, uma muleta. A poesia preenche um vazio existencial. Às vezes, eu escrevo porque quero dizer determinada coisa que eu acho que não foi dita; às vezes, porque me interessa que conheçam meu ponto de vista. Às vezes, escrevo também por prazer.”

11. José Saramago:
“Antes eu dizia: ‘Escrevo porque não quero morrer. ‘ Mas agora eu mudei. Escrevo para compreender. O que é um ser humano?”

12. Julio Cortázar:
“(…) O fascínio que uma palavra produzia em mim. Eu gostava de algumas palavras, não gostava de outras, algumas tinham certo desenho, uma certa cor. Uma de minhas lembranças de quando estava doente (fui um menino muito doente, passava longas temporadas de cama com asma e pleurisia, coisas desse tipo) é a de me ver escrevendo palavras com o dedo, contra uma parede. Eu esticava o dedo e escrevia palavras, e via as palavras se formando no ar. Palavras que eram, muitas vezes, fetiches, palavras mágicas. Isso é algo que depois me perseguiu ao longo da vida. Havia certos nomes próprios — e sei lá por quê — que para mim tinham uma carga mágica. Naquela época havia uma atriz espanhola que se chamava Lola Membrives, muito famosa na Argentina. Bom, eu me vejo doente — aos sete anos provavelmente — escrevendo com o dedo no ar Lo-la-Mem-bri-ves, Lo-la-Mem-bri-ves. A palavra ficava desenhada no ar e eu me sentia profundamente identificado com ela. De Lola Membrives, a pessoa, eu não sabia muita coisa, nunca a tinha visto e nunca a vi. Na realidade, eram meus pais que iam ver as peças onde ela trabalhava. E foi nesse mesmo momento que comecei a brincar com as palavras, a desvinculá-las cada vez mais de sua utilidade pragmática e comecei a descobrir os palíndromos, que depois apareceram nos meus livros… Desde muito pequeno, minha relação com as palavras, com a escrita, não se diferencia da minha relação com o mundo em geral. Eu não acho que nasci para aceitar as coisas tal como estão, tal como me são oferecidas.”

13. Manuel Bandeira:
“Na verdade, faço versos porque não sei fazer música… Jamais senti que meu destino fosse a Poesia, sobretudo assim com esse P maiúsculo que pressinto na sua garganta. Creio que se fui poeta em alguns momentos, só o fui por incidente patológico ou passional.”

14. Moacyr Scliar:
“Quando criança, eu era adicto à literatura, não podia ficar sem ler. A minha conexão com a vida acontecia via literatura. Eu lia para aprender a viver, para saber o que fazer. É claro que isso provoca muitas desilusões, muitos choques, porque a vida não é a literatura. Assim, quando comecei a escrever, foi porque lia. Outra razão é que meus pais foram grandes contadores de história. Numa noite quente como essa, as pessoas do meu bairro se reuniam para contar histórias, o que, desde muito cedo se incorporou em mim, passou a ser uma coisa que eu também queria fazer, só que à minha maneira, escrevendo.”

15. Paulo Francis:
“Escrevo romances para me perpetuar, para ter fama, glória, dinheiro, amor, essas coisas comezinhas da vida.”


16. Rachel de Queiroz:

“Acho que para cada escritor há uma razão diferente. No meu caso, num certo sentido, é o desejo interior de dar um testemunho do meu tempo, da minha gente e principalmente de mim mesma: eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti, e eu queria que você soubesse. No fundo, é esse o grito do escritor, de todo artista. Creio que o impulso de todo artista é esse. É se fazer ver. Eu existo, olha pra mim, escuta o que eu quero dizer: tenho uma coisa pra te contar. Creio que é por isso que a gente escreve.”

17. Sérgio Milliet:
“Quer saber de uma coisa? Não acredito na predestinação literária. São circunstâncias acidentais que fazem o escritor e é o acaso de um primeiro êxito que o leva a perseverar. Um homem de inteligência média faz qualquer coisa; basta que a vida o exija. Qualquer camarada de algumas letras escreveu versos na mocidade; se não continuou, foi porque outra coisa lhe interessou.”

18. Truman Capote:
“Sou um escritor essencialmente horizontal. Não posso pensar mais do que quando estou encostado, com um cigarro nos lábios e uma xícara de café ao alcance da mão. A xícara de café pode ser trocada por um copo de vodka, não há por que ser maníaco. Não uso máquina de escrever, redijo à mão, com lápis. Trabalho quatro horas por dia durante quatro meses por ano. Sou um estilista: me preocupa mais onde colocar uma vírgula que ganhar o prêmio Nobel.”

19. William Faulkner:
“Para ganhar a vida.”

E você, por que escreve?

*Todos os depoimentos acima transcritos pertencem à coletânea “Por que escrevo?”, organizada por José Domingos de Brito (editora Novera), com suas respectivas fontes individuais.

Por Mariana C. Santos
Fonte indicada: Homu Literatus

INDICADOS