“Se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma”, por Fernando Pessoa

“Se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma”, por Fernando Pessoa

Há uma erudição do conhecimento, que é propriamente o que se chama erudição, e há uma erudição do entendimento, que é o que se chama cultura. Mas há também a erudição da sensibilidade.

A erudição da sensibilidade nada tem a ver com a experiência da vida. A experiência da vida na ensina, como a história nada informa. A verdadeira experiência consiste em restringir o contato com a realidade e aumentar a análise desse contato. Assim, a sensibilidade se alarga e se aprofunda, porque em nós está tudo; basta que procuremos e o saibamos procurar.

Que é viajar e para que serve viajar? Qualquer poente é o poente; não é mister ir vê-lo em Constantinopla. A sensação de libertação, que nasce das viagens? Posso tê-la saído de Lisboa até Benfica, e tê-lamais intensamente do que quem vá de Lisboa à China, porque se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma. “Qualquer estrada”, disse Carlyle, “até essa estrada de Entepfuhl, te leva até ao fim do mundo.” Mas a estrada de Entefuhl, se for seguida em todas, e até ao fim, volta a Entepfhl; de modo que Entepfuhl, onde já estávamos, é aquele mesmo fim do mundo que íamos buscar.

Condillac começa o seu livro célebre, “Por mais alto que subamos e mais baixo que desçamos, nunca saímos das nossas sensações”. Nunca desembarcamos de nós. Nunca chegamos a outrem, senão outrando-nos pela imaginação sensível de nós mesmos. As verdadeiras paisagens são as que nós mesmos criamos, porque assim, sendo deus delas, as vemos como elas verdadeiramente são, que é como foram criadas. Não é nenhuma das sete partidas do mundo aquela que me interesssa e posso verdadeiramente ver; a oitava partida é a que percorro e é minha.

Quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo. Já cruzei mais mares que todos. Já vi mais montanhas que as que há na terra. Passei já por cidades mais que as existentes, e os grandes rios de nenhuns mundos fluíram, absolutos, sob os meus olhos contemplativos. Se viajasse, encontraria a cópia débil do que já vira sem viajar.

Nos países que os outros visitam, visitam-nos anônimos e peregrinos. Nos países que tenho visitado, tenho sido não só o prazer o escolhido do viajante incógnito, mas a majestade do Rei que ali reina, e o povo cujo uso ali habita, e a historia inteira daquela nação e das outras. As mesmas paisagens, as mesmas casas eu as vi porque as fui, feitas em Deus com a substância da minha imaginação.

Fernando Pessoa, no “Livro do Desassossego” – pág. 155

7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápido

7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápido

Todas as partes do nosso corpo envelhecem, não é diferente com o nosso cérebro. Infelizmente, as pessoas mais velhas perdem a memória a curto prazo e ficam debilitadas em suas funções motoras, pois mesmo sem a temida doença de Alzheimer, a idade debilita.

A ciência diz que podemos atrasar este processo e, em alguns casos, até reverter, com o auxílio simples hobbies que tornam o nosso cérebro mais forte. Aqui estão 7 delas:

1) Leitura
contioutra.com - 7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápidoNão importa o que você lê, a ciência já comprovou que a leitura ativa muitas áreas do cérebro, aumentando a atividade cerebral. Ler impulsiona a parte do cérebro que nos capacita a resolver problemas, melhora a memória e exercita a imaginação.

2) Tocar um instrumento musical
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Há muito tempo, neuro-cientistas têm realizado estudos sobre os benefícios do aprendizado de música para crianças em relação às funções cognitivas – memória, resolução de problemas, processamento seqüencial e reconhecimento de padrões, para verificar se ocorria uma melhora. Tocar instrumento aumenta a comunicação cerebral, assim, eles afirmam que aprender a tocar logo cedo, quando criança, melhora o processamento cerebral, principalmente para equações matemáticas.

3) Pratique um exercício físico
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O exercício produz uma proteína muito importante que corre pela corrente sanguínea. Como o sangue corre pelo corpo todo, o cérebro também a absorve, o que melhora a memória, e também a concentração. Foi feito um teste de memória com pessoas que se exercitaram antes e outras não, e o resultado foi esmagadoramente melhor para o grupo que se exercitou antes.

4) Aprenda uma nova língua
contioutra.com - 7 hobbies que fazem seu cérebro ficar mais inteligente e rápidoNo total, 4 áreas do cérebro são usadas para captar o som e dar a ele um significado. Pessoas bilíngues possuem uma maior raciocínio, concentração, planejamento e memória por possuírem o cérebro mais desenvolvido. Sabe-se que o aprendizado de uma língua, em qualquer idade, torna a pessoa mais inteligente.

5) Faça estudos cumulativos
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Aprendizagem cumulativa é o processo no qual aprendemos novas informações daquilo que já sabemos, formando uma nova camada de informações. Como as crianças, que aprendem matemática básica, depois vão aprendendo suas funções, assim cada nova camada vai em cima da antiga. Conforme vamos envelhecendo, essa capacidade vai desaparecendo, mas não se praticarmos sempre.

6) Games e Quebra-Cabeças
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Quanto mais informações colocamos em nossos cérebros, mais funções ele pode realizar. Quanto mais exercitamos, mais forte ele fica. Quando jogamos games ou quebra-cabeças, novas conexões cerebrais são feitas, fortalecendo o nosso cérebro.

7) Meditação / Ioga
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Pesquisas confirmaram: Meditação é algo surpreendente, ela faz com que você tenha um melhor controle do seu pensamento, mesmo quando você não estiver meditando. Este controle permitem maior foco em suas atividades.

Fonte: Lifehack.org

Explicação da Eternidade

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto, in “A Casa, A Escuridão”

Fonte indicada: Citador

Doze indícios de lavagem cerebral

Doze indícios de lavagem cerebral

Lavagem cerebral não é algo restrito apenas aos movimentos e organizações religiosas. Ela pode estar acontecendo com qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer tipo de organização seja ela espiritual, militar, política, educacional ou empresarial. Por isso, analise e teste os doze indícios citados abaixo, com sorte você poderá acordar a tempo de se livrar ou amenizar os danos causados por uma  sutil – mas danosa- lavagem cerebral .

1. OS OPOSITORES SÃO  O “MAL”

Nesse tipo de estratégia , qualquer pessoa que se oponha ou critique o grupo- ou o líder- é  considerado alguém sob o domínio do mal, da ilusão ou do “ego”. Já os adeptos da organização- e seu(s) lídere(s)- se consideram “livres” disso. Esta atitude, dá a si mesmo uma sensação de liberdade e consequente felicidade. Pois se os outros são escravos do tal “ego” que bom fazer parte de uma organização livre de tal “mal”. Essa ilusória sensação de felicidade e liberdade torna a pessoa emocionalmente vulnerável e disposta a trabalhar para a organização/líder “salvador (a)” como forma de agradecimento e reconhecimento.

2. RENDA-SE!

Essa é uma das frases preferidas dos líderes espirituais mal intencionados: “renda-se, não resista!” O motivo é óbvio. Se você não se rende como poderá ser manipulado? E se você , por algum motivo, demonstrar algum traço de resistência, eles tentam derrubá-la com o velho clichê: “é seu ego que tá resistindo! Abandone-o e renda-se!”. Ou seja, é um assalto espiritual descarado.

3. O ABANDONO DA MENTE REFLEXIVA

Outra estratégia sutil é confundir propositadamente a mente com o pensamento. Tradicionalmente, na cultura oriental, os mestres verdadeiros pregam o silêncio da mente- que surge naturalmente- como pré-requisito ao despertar. Isso nada tem a ver com desprezar ou endemonizar a mente. Os líderes charlatães usam dessa estratégia de forma deturpada para impedir o pensamento reflexivo, a dúvida e a desconfiança que podem surgir na mente dos candidatos, neófitos e seguidores .

4. VOCÊ NUNCA VAI ENTENDER UM MESTRE!

Outra estratégia comum nas organizações e movimentos religiosos- principalmente os de inspiração oriental. Essa frase é usada para justificar alguma atitude estranha ou suspeita por parte do tal “mestre” ou “guru”. Ou seja, se o mestre é infinitamente superior a você, quem é você para criticar, julgar ou analisar as atitudes dele? É assim que o líder se sente à vontade para cometer todo tipo de abusos incluindo pedofilia, estupros,  bacanais, orgias, roubos, enganações, explorações etc etc etc.

5. “VOCÊ É LIVRE”… SÓ QUE NÃO!

Em geral os tais gurus fajutos pregam a liberdade- contanto que a pessoa obedeça as diretrizes do grupo e esteja sob o comando do líder. Ou seja, você é livre para fazer o que quiser, desde que continue na organização mantendo-a com seu trabalho, dedicação e dinheiro- caso tenha. Em suma não é liberdade, pois ela está condicionada a sua permanência no grupo, movimento ou organização. Inconscientemente a vítima é levada a acreditar que enquanto fizer parte do grupo estará livre- se sair cairá na escravidão da mente, das ilusões, do mal etc etc.

 

6. A VERDADE ÚNICA E ABSOLUTA!          

Os líderes carismáticos querem fazer crer que são detentores da verdade única e absoluta, por isso desprezam os ensinamentos de qualquer outra fonte. Através desta estratégia, eles se previnem contra ensinamentos que poderiam -de alguma forma -confundir, alertar ou influenciar alguém contra a organização. É bom lembrar que mesmo aqueles que aparentemente são mais tolerantes e universalistas- no fundo concentram em si a exclusividade das interpretações e direcionamento espiritual.

7. DESPREZO PELO CONHECIMENTO

Saber os limites e funções do conhecimento não é o mesmo que desprezá-lo. Os verdadeiros mestres e líderes sempre alertam para os limites do conhecimento. Os mestres fajutos enfatizam seu total desprezo. A razão é simples: a leitura abre a mente para novas percepções e visões. Isso seria um risco para o domínio mental exercido pelo tal “mestre” e sua organização . Estes desprezam as leituras para se certificarem que a vítima terá apenas o líder e seus ensinamentos como principal e único referencial.

8. NÃO EXISTE “ALGUÉM” AÍ!

Ora, é preciso minar uma possível resistência desde o começo. Ao enfatizar a ausência de um “alguém” quebra-se parte da força da pessoa que já entra na organização como sendo um “objeto”, uma “coisa”- abalando assim sua auto-estima. Afinal de contas, coisas são facilmente manipuláveis- enquanto que uma “pessoa” é mais difícil de ser controlada. Isso nada tem a ver com o que foi dito pelos grandes mestres- pelo contrário- é a deturpação deliberada de verdades eternas a serviço da exploração e manipulação mental.

9. TESTEMUNHOS POSITIVOS

Essa é uma estratégia simples mas muito útil. Pede-se a alguém do grupo para fazer um breve testemunho sobre as vantagens e benefícios de se fazer parte do movimento. Esse testemunho pode ser presencial- durante as reuniões- ou escrito em blogs e propagandas de divulgação dos eventos da organização. O processo é o mesmo do conhecido jogo da “pretinha”  em que a pessoa tem que descobrir onde está a bolinha ou a carta e no qual tem sempre alguém muito feliz ganhando muito dinheiro- previamente combinado- é claro. Inconscientemente a mente pensa assim  “Ora, se os outros encontraram a felicidade, quero encontrá-la também”. E aí começa a desejar a mesma felicidade que os outros dizem sentir e para alcançar isso estarão dispostos a muita coisa.

10.  SÍNDROME DO POVO ESCOLHIDO

Essa estratégia é famosa, antiga e poderosa pois reforça na mente do sujeito a sensação de ser alguém privilegiado, especial e superior- o que causa uma prazerosa sensação de satisfação. Algumas vezes isso é dito de forma explícita, noutras de forma velada e sutil. Frases como ” temos a sorte de ter encontrado tal mestre…”. ” Temos a o privilégio de fazer parte de tal grupo”, ” Foi Deus/a Graça que nos escolheu para este trabalho”, “Somos o futuro da humanidade…” E assim por diante , reforçam a síndrome do povo “eleito”.

11. ÊNFASE NA FELICIDADE!

Essa estratégia é uma das mais poderosas e perigosas.  Ela apela para um sentimento universal: a busca pela felicidade.  Ora quem não quer ser feliz? Então o que fazem os líderes e suas organizações? Usam e abusam desta palavra em seus sites, fotos, blogs, discursos, propagandas, folders e campanhas em geral. Não somente isso,  o líder se apresenta sempre sorridente e feliz. E também os colaboradores e adeptos mais próximos. A ideia é passar a imagem de que a felicidade está ali . O pior de tudo é que quando a pessoa entra no grupo, passa a se sentir “out” caso não sinta a mesma coisa. Então sua mente usa um mecanismo de defesa para não se sentir-se mal: passa a produzir uma felicidade mental fajuta e superficial que durará um bom tempo até que- por alguma graça, acidente ou sorte- a pessoa de repente acorde para o fato de estar ela mesma criando um sentimento que no fundo é falso.

12. TUDO É UMA BRINCADEIRA!

Quando os líderes e colaboradores são confrontados  e não têm para onde correr, se saem com essa pérola: “tudo é uma brincadeira! Nada é real! Não estamos aqui. Tudo é uma ilusão!” É o último recurso de quem não tem mais argumentos: desqualificar a realidade óbvia! Ora, se tudo é uma grande “brincadeira” e nada está acontecendo então não tem porque sair da organização, ou desmascarar o charlatão! Vamos comer uma pizza, beber um refrigerante e rir juntos! Esqueça toda essa história de exploração, gurus, organização etc etc. Vamos festejar e celebrar… Uma forma simples de desarmar qualquer sujeito mais esperto, desconfiado e resistente.

Faça você mesmo o teste: se a tal organização, movimento ou grupo que você faz parte tiver pelo menos cinco das dez características apontadas, cuidado: você pode estar sendo vítima de uma lavagem cerebral. É claro que, dependendo do nível de domínio mental a que você foi submetido, você não vai perceber nada e, talvez, até condene e critique este artigo. Possivelmente o líder irá rir e fazer chacota, juntamente com você e alguns dos seus companheiros. Todavia, se um dia você “acordar”, “despertar” para a realidade dos fatos, não vai poder dizer que ninguém o avisou.

Fonte indicada: Alsibar

O amor começa quando a picuinha acaba. Menos falatório e mais beijo na boca!

O amor começa quando a picuinha acaba. Menos falatório e mais beijo na boca!

Acontece. O amigo pode discordar, a amiga há de torcer o nariz. Mas eu tenho cá pra mim que andamos perdendo muito tempo com tanta reclamação. É gente se queixando daqui, fulano resmungando dali, beltrana mandando indireta acolá. Eu mesmo, agorinha, ando a fazer a mesma coisa: reclamando de quem reclama. Mas acontece também.

O fato é que tanto tempo investido em diz-que-me-disse, futrica, pendenga, fofoca, sexo dos anjos, acusações, dedo em riste, pelo em ovo e afins não pode dar em boa coisa, não.

É muita objeção e pouco objetivo, minha gente! Aí, já viu. Nossos pontos de vista gritados a qualquer custo se tornam pontos de desencontro. Só nos afastamos cada vez mais. Não pode!

Todo mundo reivindicando razão, postulando a verdade das coisas, esgoelando, repetindo teses prontas. Cada um agarrado a seu pedaço ilusório de bom senso, feito um osso de boi carcomido, roído por mil cães. Em contendas inúteis, sentamos nos próprios rabos, agarrados a nossos preconceitos de estimação, e nada mais fazemos senão tagarelar à espera da sexta-feira seguinte. Do feriado seguinte. Do réveillon seguinte. Do Ano Novo seguinte. Só para seguir fazendo tudo exatamente do mesmo jeito.

E dá-lhe falação, discurso, pelejas e filosofices com a profundidade das tábuas de bater carne. Enquanto isso, a vida passa.

Ela passa, sim. Passa rápido. Lá pelas tantas a gente se pergunta: “cadê?”. E um vento livre, impetuoso, invade a casa, bate a porta e nos conta num susto: “passou!”.

Eu mesmo, ainda ontem – ontem! – brincava debaixo da mesa da cozinha de cutucar o pé da minha bisavó, enquanto ela escolhia o arroz. Hoje sou pouco mais que um velho bicho sozinho, escolhendo lembranças de uma infância perdida para contar ao meu filho.

Cá o tempo vai passando – o tempo que é o outro nome da vida – e eu vou desconfiando de que viver é o que acontece entre uma reclamação e outra. Se olharmos bem, é muito pouca vida para tanta conjectura!

E até que um anjo nos prove o contrário, a vida é uma vez só. Então vamos de uma vez a ela! Chega de queixa e vamos à vida. Reclamemos menos. Vivamos mais! Menos falatório e mais beijo na boca!

Não. Eu não estou defendendo a alienação. Estou apoiando o beijo na boca. Simples e só assim. Reclame. Você tem o direito. Meta a boca no trombone! Mas não seria mal dedicar um bocadinho de saúde e vigor labial a um bom e velho beijo na boca, às palavras ora doces, ora safadas, ditas no portão da orelha do ser amado, às simples e poderosas declarações de amor e desejo.

É certo que o amigo e a amiga vão me dar razão. Então, se estiver por aí perto aquele ou aquela que caminha ao seu lado, não perca nem mais um segundo: tome a pessoa nos braços e dê-lhe um beijo de novela! Se ela estiver longe, passe a mão no telefone e avise que se prepare, porque você vai abrir a janela e mandar-lhe uma beijoca no vento. Na boca, claro! A vida é só isso e não é só “osso”. É esse o nosso presente. O nosso agora! Beijemos na boca! E o futuro? Ahh… o futuro a Deus pertence! E Ele há de nos beijar também!

Você é maior do que você pensa

Você é maior do que você pensa

Fui uma criança que se achava feia. Uma adolescente que se sentia inadequada. E agora, mais madura, tenho me esforçado para me ver com olhos generosos, que enxergam mais beleza e adequação do que eu poderia atribuir a mim mesma.

É difícil nos assumirmos por completo. E nessa incompletude, damos mais vazão aos defeitos do que às qualidades.

Você não é o cabelo escorrido que fica oleoso antes do fim do dia ou os cachos despenteados que só ganham contornos com uma porção de creme melado. Você é mais que as estrias que fizeram morada em suas coxas, e maior que as dobras que insistem em habitar sua cintura. Você é melhor que as unhas quebradiças e as espinhas na pós adolescência. Você é maior que o pescoço flácido e as rugas desproporcionais que surgiram no último ano. Você não é o pé chato, cheio de calos e joanete, e muito menos a curvatura acentuada na sua coluna.

A beleza tem espaço dentro de nós tanto quanto o desencanto. E mesmo que haja um dia ou outro em que nossos espelhos revelam menos do que gostaríamos, não são eles os donos da verdade do que somos de fato, pois não estão lá quando nos apaixonamos, quando estamos em um momento de oração, quando deixamos as lágrimas virem à tona num momento de pura emoção. Eles não estão lá quando você sorri espontaneamente ou faz um carinho verdadeiro em alguém especial. Não estão lá quando você se entristece, ou fica com raiva por causa de uma injustiça qualquer.

Eu te proponho acariciar-se ao invés de criticar-se. Te proponho olhar-se com os mesmos olhos amorosos da pessoa que te ama e só por um instante deixar de se lamentar para dar espaço para se elogiar. Eu te proponho sair um pouco de seus espaços e imaginar estar vendo a si mesmo de fora. Que você encontre beleza no momento em que está de pijama de algodão e cara limpa, que se admire sob a luz do dia quando o sol fizer brilhar o seu cabelo, e que se alegre ao perceber seu perfil num momento de absoluta concentração. Te proponho olhar-se de uma maneira mais gentil, sendo tolerante com os defeitinhos que imagina ter. Que você tolere o fio de cabelo fora do lugar, a gordurinha na barriga querendo saltar, o ângulo do nariz saliente demais, o vinco em torno dos lábios que não te deixa em paz, os fios brancos surgindo do nada, as marcas de uma vida apaixonada.

Que você se presenteie com amorosidade, permitindo ser visto como os outros te enxergam quando recebem de você o melhor que você pode ser. Que você perceba que merece o mesmo tipo de amor que irradia, e com isso passe a irradiar o melhor que puder.

Eu te proponho ser mais gentil com a alma que habita o seu corpo, elogiando seu olhar, agradando seu paladar, acreditando que é belo e digno de se amar.

Que você experimente o amor que vem de si mesmo, independente do que te disseram ou fizeram acreditar. Que você encontre paz ao reconhecer suas novas marcas, cicatrizes de um tempo que foi vivido, e que se alegre se elas ainda não chegaram. Que você faça as pazes com seu cabelo e não omita sua natureza. Que você cuide de seus dentes, e preste atenção à sua saúde. Que descanse quando houver cansaço e dance quando houver música.

Que você descubra os filmes que lhe falam à alma, as melodias que lhe fazem dançar de olhos fechados, os sabores que lhe fazem suspirar. Que você descubra o que aquece seu coração e, acima de tudo, que você aprenda que, se não está nesse mundo sozinho, grande parte de você atrai as pessoas. Essa parte é sua essência, a porção de amorosidade que deve ser cultivada para que cresça e floresça. E, se posso dar-lhe um conselho, acredite: você é maior do que todas essas coisinhas que lhe fazem tropeçar de vez em quando. Você é maior do que todas elas, e maior do que você pensa…

As crianças que não sabem brincar

As crianças que não sabem brincar

Estamos diante de uma alarmante realidade: as crianças do século XXI, vítimas do acúmulo de tarefas e compromissos diários vivem rotinas dignas de altos executivos, sofrem de transtornos de ansiedade, dormem mal, comem todo tipo de porcaria industrializada, estão viciadas em aparatos tecnológicos, vivem atoladas em bens materiais cujo interesse dura um pouco além do tempo usado para desembrulhá-los e sofrem de solidão. Mas, o mais triste nisso tudo é o terrível efeito colateral da aceleração do crescimento: estamos criando crianças que não sabem, não podem ou não têm tempo de brincar. No que vai dar tudo isso?! É melhor que estejamos preparados para a próxima geração de adultos que, a julgar pelo tanto que tiveram suas reais necessidades negligenciadas, será constituída por pessoas enrijecidas, dispersas, incapazes de se colocar no lugar do outro, absolutamente insatisfeitas consigo mesmas e, por isso mesmo, sem condições de ler o mundo, a ponto de interpretá-lo e construir uma vida plena de interligações com seus semelhantes.

O apelo externo é muito grande. A mídia bombardeia os pequenos e os grandes com sedutoras novas invenções e artefatos que, a julgar pela expressão de plenitude e alegria daqueles que as possuem, são objetos indispensáveis. A propaganda conta com  recursos sofisticados de neurociência, garantindo-lhes um eficiente acesso aos níveis subconscientes de cabecinhas incautas. Ao ver o produto estampado em veículos publicitários, brota no íntimo dos pequenos um desejo quase incontrolável de possuir os maravilhosos objetos contemplados.

Vítimas de um consumismo irrefletido, os adultos mal dão conta de controlar sua relação com o ato de adquirir coisas. Isso posto, fica claro o porquê de esses mesmos adultos sofrerem com uma enorme dificuldade de educar suas crianças de forma a que valorizem mais as relações de afeto e os momentos de convivência, em detrimento da aquisição de coisas e mais coisas para aplacar uma sede que é afetiva, mas foi traduzida em sede de consumo porque é muito mais simples comprar do que conquistar.

A mensagem que fica subentendida no ar das relações sociais é que a sua realização pessoal precisa ser representada por bens de consumo que reflitam uma aura de sucesso e respeitabilidade. Desesperados por aceitação, nós corremos o risco de nos empanturrar de coisas que não precisamos: dezenas de pares de sapato; coleções de bolsas dos mais variados formatos e cores; aparelhos celulares que vão virando lixo eletrônico acumulado nas gavetas; automóveis sofisticados e equipados com alta tecnologia, cuja manutenção pode nos custar dias de trabalho e de sono; aparelhos de TV de última geração capazes de acessar mais de 300 canais com todo tipo de programação pronta para nos entorpecer; notebooks e tablets carísimos, espalhados pela casa; uma profusão de carregadores e fones de ouvido, embaraçados em gavetas; armários abarrotados de roupas que até nos esquecemos de ter comprado; coisas, coisas e mais coisas para dar algum sentido ao fato de que trabalhamos demais e vivemos de menos.

Criadas à sombra dessa configuração, as crianças adquirem naturalmente o gosto por tornarem-se ávidas consumidoras das indispensáveis bugigangas que o mercado de brinquedos e afins produz, seguindo os preceitos de complexas pesquisas de interesse e desejo dos pequenos. A indústria do consumismo brilha na competência de atender os mais estranhos desejos que as crianças possam ter: balas com sabor de vômito, cocô de cachorro ou caca de nariz; armas idênticas às reais e que (pasmem!) atiram de verdade; jogos de videogame que premiam quem conseguir atropelar mais velhinhas; bonecas de compleições físicas anoréxicas e mais toda sorte de lixo consumível a preços nada módicos.

O resultado da voracidade por consumir mais e mais são crianças soterradas em brinquedos e objetos cujo interesse é substituído pela próxima coisa vislumbrada e imediatamente desejada. A consequência mais perturbadora dessa compulsão é o surgimento de uma espécie de pequeno triturador de objetos consumíveis. Mas, a responsabilidade não pode ser atribuída aos pequenos; eles não passam de vítimas de um comportamento adotado e idolatrado pelos adultos. Quem sabe já não esteja na hora de sairmos da rodinha viciante de adquirir maravilhas da modernidade sem moderação. Quem sabe não esteja na hora de recuperarmos a consciência perdida nas sacolas de compras e descobrirmos dentro de nós pessoas que podem ser felizes sem a obrigação de vestir o uniforme da “pessoa bem-sucedida”? Quem sabe já não estejamos prontos para reverter a ordem das coisas e agir na recuperação desses pequenos consumistas vorazes. Quem sabe na próxima oportunidade, nosso presente não venha embrulhado numa caixa cara a ser parcelada na fatura do cartão de crédito; mas seja algo capaz de fazer brilharem os olhos e criar memórias afetivas que não podem ser compradas nem reproduzidas em objetos de consumo. Em vez de coisas, procuremos oferecer nosso tempo, nossa disponibilidade em conviver.

O presente? Sejamos ousados a ponto de recriar experiências perdidas no tempo. O presente pode ser algo maravilhoso, impossível de ser embrulhado: um pic-nic no parque; um banho de esguicho; uma cabana de lençol feita na mesa da sala; uma noite de acampamento no quintal; uma casinha feita de caixa de papelão; um almoço feito em conjunto; uma sessão de contação de histórias no escuro, cada um com uma lanterna; um tempo vivido junto, com afeto, presença e disponibilidade afetiva. Esse tipo de presente tem a propriedade mágica de não poder ser guardado em caixas e de desencaixotar de dentro de nós a inata capacidade de desejar o amor em sua forma original: livre e imaterial!

Visitar a infância é ver a dor de ser gente ali, no seu nascedouro

Visitar a infância é ver a dor de ser gente ali, no seu nascedouro

Visitar o passado é tarefa preocupante. Nunca se sabe o que a alma trará daqueles porões, ao regressar. Mas vale correr o risco: abrir a porta da infância é um bem necessário. Contemplar os olhos da criança que fomos, reviver os seus anseios, os seus sonhos, a inquietação, a nostalgia… Ver a dor de ser gente ali, em seu nascedouro, quando, em pequeninos detalhes, você se percebe humano.

Eu ainda não tinha oito anos. O quintal da minha casa, visto com os meus olhos de então, era imenso. Mangueiras, goiabeiras e diversos outros frutos habitavam aquele meu reduto de sonho e de traquinagem. A goiabeira era o meu destino predileto. Do solo ao topo, a estonteante altura de um metro e meio que eu, a custo, escalava pela metade. Certo dia, ao descer, esbarrei, com o pé direito, em uma borboleta pousada no tronco.

A borboleta ficou inerte e o meu coração parou. Eu acabara de destruir, por descuido, uma beleza que me aprisionava os olhos. O tronco da goiabeira, verde-escuro, contrastava com o seu brancor e denunciava a asinha quebrada. Eu, arrependida do existir, sentia-me a precursora de algum apocalipse. Encostei o indicador na asa fraturada: “Como faço para ouvir o coração da borboleta?”, pensei.
“Será que ela está respirando, Deus do céu”…

Eu me sentei ao pé da goiabeira e o universo inteiro sentou-se ao meu lado. Sóis, planetas, caramujos, galáxias… Todos ali, olhando para mim, uma criança ajoelhada a tentar redimir-se do caos que causara. Eu queria chorar, mas o mais urgente era compreender a dor de residir em um mundo em que a inocência causa feridas a si mesma, em que a beleza é efêmera, em que a dor por vezes é tão intensa que nenhuma lágrima lhe pode dar voz.

Hoje, décadas depois, sou a mesma criança ao pé da goiabeira a contemplar o caos. A humanidade inteira é essa criança. Destruímos a beleza por descuido: por negligenciar o trajeto dos pés, por descurar dos detalhes, por, hávidos do alcance de patamares mais altos, olvidarmos o contemplar do caminho e desprezarmos os companheiros de jornada.

Segurei a borboleta pela outra asa e a coloquei na palma da mão esquerda. Vi, caída no chão, uma colherzinha plástica que eu usava para cavoucar a terra e a coloquei sobre essa colher, em solene observação.

Minutos depois, corro para casa:
“Mãe, a borboleta. Eu pisei a borboleta e ela estava morta. Morta. Mortinha. Ela não tinha nem respiração. Mas eu coloquei a borboleta na colher e fiz a oração de reviver borboleta e ela saiu voando de novo, mãe, e voou até o lado de lá do muro. É um milagre, mãe! Não é milagre? Uma borboleta reviver assim?”

A minha mãe me pegou pela mão e fomos ver o lugar e as circunstâncias do referido milagre. Incrédula, como de regra toda mãe o é.

“Filha, a borboleta está aqui na colherinha. Você se enganou.”

Percebi que a minha mãe recriminava-me por minha inverdade. Pensei: “Será que explico ou não explico?”, e tive pena. Ela talvez já pudesse entender.

“Não, mãe. Eu não me enganei. O milagre é a borboleta viver sem o corpo da asinha que quebrei.”

O Rouxinol e a Rosa- conto de Oscar Wilde

O Rouxinol e a Rosa- conto de Oscar Wilde

“- Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas – lastimou-se o jovem Estudante -, porém em todo o meu jardim não existe uma única rosa vermelha.

De seu ninho no grande carvalho o Rouxinol ouviu-o, olhou por entre as folhagens e ficou pensando.
– Nem uma única rosa vermelha em todo meu jardim! – chorou o Estudante, e seus lindos olhos ficaram marejados de lágrimas. – Ai, como a felicidade depende de pequenas coisas! Já li tudo que escreveram os homens mas sábios, conheço todos os segredos da filosofia, mas por falta de uma rosa vermelha minha vida está desgraçada.
– Finalmente encontro um verdadeiro amante – disse o Rouxinol. – Tenho cantado esse ser noite após noite, mesmo sem conhecê-lo: noite após noite contei sua história às estrelas, e só agora o encontrei. Seus cabelos são escuros como a flor de jacinto, e seus lábios rubros como a rosa de seus desejos, porém a paixão tornou seu rosto pálido como marfim e a tristeza selou sua testa.
– O Príncipe dá um baile amanhã à noite – murmurou o jovem Estudante -, e o meu amor estará entre os presentes. Se eu lhe levar uma rosa vermelha ela dançará comigo até de madrugada. Se eu lhe der uma rosa vermelha eu a terei em meus braços, e ela deitará sua cabeça sobre o meu ombro, com sua mão presa na minha. Mas não há uma única rosa vermelha em meu jardim, de modo que ficarei abandonado em meu lugar e ela há de passar por mim. Ela nem irá me notar, e meu coração ficará partido.
– Aí está, de fato, um verdadeiro amante – disse o Rouxinol. – Ele sofre tudo o que eu canto: o que é alegria em mim, para ele é dor. Sem dúvida o amor é uma coisa maravilhosa. Ele é mais precioso do que a esmeralda e mais refinado que a opala. Nem pérolas e nem granadas podem comprar, e nem é ele exposto nos mercados. Ninguém pode comprá-lo de mercadores, nem pode ser pesado nas balanças feitas para pesar ouro.

– os músicos vão ficar em sua galeria – disse o jovem Estudante. – Tocarão seus instrumentos de cordas, e o meu amor dançará ao som da harpa e do violino. Ela irá dançar com tal leveza que seus pés nem tocarão o chão, e os cortesãos, com suas roupas alegres, ficarão amontoados em volta dela. Porém comigo ela não irá dançar, porque não lhe dei uma rosa vermelha – e atirou-se na relva, enterrou o rosto entre as mãos, e chorou.
– Por que é que ele esta chorando? – perguntou o Lagartinho Verde, ao passar por ele com o rabinho empinado par ao ar.
– Por que será? – disse a Borboleta, que estava esvoaçando atrás de um raio de sol.
– É mesmo, por que será? – sussurrou uma Margarida a seu vizinho, com uma voz suave e baixinha.
– Está chorando por uma rosa vermelha – disse o Rouxinol.
Mas o Rouxinol compreendeu o segredo da tristeza do Estudante, e ficou em silêncio debaixo do carvalho, pensando sobre o mistério do Amor.
Repentinamente ele abriu as asas para voar e subiu para os ares, passando pelo bosque como uma sombra e, como uma sombra, deslizar através do jardim.
Bem no centro do gramado havia uma linda Roseira e, ao vê-la, o Rouxinol voou para ela e pousou em um ramo.
– Dê-me uma rosa vermelha – exclamou ele – que eu lhe cantarei minha mais doce canção.
Mas a roseira não estava interessada.
– Minhas rosas são brancas – respondeu. – Brancas como a espuma do mar, e mais brancas do que a neve das montanhas. Mas vá até minha irmã que cresce junto ao relógio de sol, que talvez ela lhe dê o que quer.
E então o Rouxinol voou para a Roseira que crescia ao lado do velho relógio de sol.
– Se você me der uma rosa vermelha – gritou ele -, eu canto para você minha mais doce canção.
Mas a Roseira sacudiu a cabeça.
– Minhas rosas são amarelas – respondeu ela -, tão amarelas quanto os cabelos da sereia em um trono de âmbar, e mais amarelas do que os junquilhos que florescem no campo do ceifador aparecer com sua foice. Mas pode ir até a minha irmã que cresce debaixo da janela do Estudante, que talvez ela lhe dê o que está procurando.
E então o Rouxinol voou até a Roseira que crescia debaixo da janela do Estudante.
Se você me der uma rosa vermelha – gritou ele -, eu canto para você minha mais doce canção.
Mas a Roseira sacudiu a cabeça.
Minhas rosas são vermelhas – respondeu ela -, vermelhas como os pés da bomba e mais vermelhas do que os grandes leques de coral que abanam sem parar nas cavernas do oceano. Mas o inverno congelou minhas veias, a geada cortou meus botões, a tempestade quebrou meus galhos, e não terei uma só rosa este ano.
– Eu só quero uma rosa – gritou o Rouxinol. – Apenas um rosa vermelha! Não haverá nenhum jeito de consegui-la?
– Só há um – respondeu a Roseira -, mas é tão terrível que não ouso contar.
– Pode contar – disse o Rouxinol -, eu não tenho medo.
Se quiser uma rosa vermelha – disse a Roseira -. você terá de construí-la de música ao luar, tingindo-a com o sangue do seu próprio coração. Terá de cantar para mim com seu peito de encontro a um espinho. Terá de cantar para mim a noite inteira, e o espinho terá de furar o seu coração, e o sangue que o mantém vivo terá de correr para minhas veias, transformando-se em meu sangue.
– A morte é um preço alto para se pagar por uma rosa vermelha – exclamou o Rouxinol -, e a Vida é muito cara a todos. É tão agradável ficar parado no bosque verde, olhar o Sol em seu carro de ouro, e Lua em seu carro de pérolas. Doce é o perfume do pilriteiro, doces são as campânulas que se escondem no vale, e as urzes que balançam nas colinas. No entanto, o Amor é melhor do que a Vida, e o que é o coração de um passarinho comparado como o coração de um homem?
Com isso, ele abriu as asas e lançou vôo para os ares. Passou célebre sobre o jardim e como uma sombra deslizou pelo bosque.
O jovem Estudante ainda estava deitado na relva, onde ele o havia deixado, e as lágrimas nem haviam secado de seu lindo rosto.
– Fique contente – cantou-lhe o Rouxinol – fique contente. Você terá sua rosa vermelha. Eu a construirei com minha música ao luar, tingindo-a com o sangue do meu próprio coração. E só o que peço em troca é que você seja um amante fiel e verdadeiro, pois o Amor é mais sábio do que a Filosofia, embora ela seja sábia, e mais poderoso do que o Poder, embora este seja poderoso. Cor das chamas são suas asas, e cor das chamas é o seu corpo. Seus lábios são doces como o mel, seu hálito como o incenso.
O Estudante olhou para o alto e ouviu, mas não compreendeu o que o Rouxinol dizia, porque só conhecia as coisas que vêm escritas nos livros. Mas o Carvalho compreendeu e ficou triste, porque gostava muito do Rouxinol, cuja família tinha ninho em seus ramos.
– Cante-me uma última canção – sussurrou ele -,vou sentir-me tão só quando você se for.
Então o Rouxinol cantou par ao Carvalho, e sua voz parecia a água quando sai saltitando de um jarro de prata.
Quando a canção acabou, o Estudante se levantou e tirou do bolso um caderninho de notas e um lápis.
– Ele tem forma – disse para si mesmo, enquanto caminhava pelo bosque -, isso ninguém pode negar. Mas será que tem sentimentos? Temo que não. Na verdade, deve ser como a maioria dos artistas: é todo estilo, sem qualquer sinceridade. Ela jamais se sacrificaria pelos outros. Só pensa em música, e todo mundo sabe que as artes são egoístas. Mesmo assim, é preciso admitir que a sua voz tem algumas notas lindas. Que pena não significarem, nem qualquer utilidade.
E foi para o seu quarto, onde se deitou em seu pequeno catre e, depois de pensar por algum tempo em sua amada, adormeceu.
Quando a lua começou a brilhar no céu, o Rouxinol voou para a Roseira e encostou o peito no espinho. Durante toda a noite ele cantou, como o peito no espinho, enquanto a fria Lua de cristal curvara-se para ouvir. Ele cantou a noite inteira e o espinho entrava cada vez mais fundo em eu peito, enquanto seu sangue escorria para fora.
Primeiro ele cantou sobre o nascimento do amor no coração de um rapaz e uma moça. E no ramo mais alto da Roseira foi florescendo uma rosa maravilhosa, pétala por pétala, à medida que uma canção seguia outra. A princípio ela era pálida como a névoa que parira sobre o rio, pálida como os pés da manhã e prateada como as asas da madrugada. Como a sombra de uma rosa em um espelho de prata. Como a sombra de uma rosa em uma lagoa, assim era a rosa que floresceu no ramo mais alto da Roseira.
Mas a Roseira ficava gritando para o Rouxinol se apertar cada vez mais de encontro ao espinho.
– Aperta mais, Rouxinol! – gritava a Roseira -, se não o dia chega antes que a rosa esteja pronta.
E o Rouxinol fazia cada vez mais pressão contra o espinho, e cantava cada vez mais alto, pois estava cantando o nascimento da paixão entre a alma de um homem e uma donzela.
E um delicado enrubescer rosado apareceu nas folhas da rosa, como o enrubescer no rosto do noivo quando beija os lábios da noiva. Mas o espinho ainda não havia atingido o coração, de modo que o coração da rosa permanecia branco, pois só o sangue do coração de um Rouxinol pode deixar rubro o coração de uma rosa.
E a Roseira gritava para o Rouxinol enfiar mais e mais o peito de encontro ao espinho.
– Mais ainda, pequeno Rouxinol – gritava a Roseira -, se não o dia chega antes de a rosa estar pronta.
E o Rouxinol foi se apertando cada vez mais de encontro ao espinho, e o espinho tocou-lhe o coração, e um terrível golpe de dor passou por toda a avezinha. A dor era horrível, horrível, e a canção foi ficando cada vez mais enlouquecida, pois agora ele cantava o Amor que ficava perfeito com a Morte, o Amor que não morre no túmulo.
E a rosa maravilhosa ficou rubra, como a rosa do céu do oriente. Rubro era todo o círculo de pétalas, e rubro como um rubi era seu coração.
Mas a voz do Rouxinol foi ficando mais fraca, suas asinhas começaram a se debater, e uma névoa cobriu seus olhos. Cada vez mais fraca foi ficando sua canção, e ele sentiu alguma coisa que sufocava sua garganta.
E então ele soltou uma última porção de música. A Lua branca ouvi-a e se esqueceu da madrugada, ficando no céu. A rosa também ouviu, estremeceu toda em êxtase, e abriu suas pétalas ao ar frio da manhã. O eco levou-a até sua caverna púrpura nas colinas e despertou de seus sonhos os pastores que dormiam. Ela flutuou até os juncos do rio, e estes levaram a mensagem par ao mar.
– Veja, veja! – gritou a Roseira. – Agora a Rosa está pronta.
Mas o Rouxinol não respondeu, pois tinha caído morto no meio da relva, com o espinho atravessado no peito.
Ao meio-dia o Estudante abriu sua janela e olhou para fora.
– Ora, mas que sorte maravilhosa! – exclamou ele. – Eis ali uma rosa vermelha! Jamais vi rosa como essa em toda a minha vida. É tão bonita que estou certo de que deve ter algum nome em latim! – e, debruçando-se, colheu-a.
Depois ele botou o chapéu e correu para a casa do Professor, com a rosa na mão.
A filha do Professor estava sentada na porta, enrolando um fio de seda azul em um novelo, como o cachorrinho deitado a sues pés.
Você disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse um a rosa vermelha – exclamou o Estudante. – Aqui está a rosa mais vermelha do mundo inteiro. Use-a junto ao seu coração hoje à noite, e enquanto estivermos dançando eu lhe direi o quanto a amo.
Mas a moça franziu o cenho.
– Receio que ela não combine com o meu vestido, respondeu. – E, além do mais, o sobrinho do Camerlengo mandou-me uma jóia de verdade, e todos sabem que as jóias custam muito mais do que as flores.
– Você é muito ingrata. – disse o Estudante com raiva, e atirou a rosa na rua, onde ela caiu em uma sarjeta e uma carroça acabou passando por cima.
– Ingrata? – disse a moça. – Pois fique sabendo que você é muito rude e, afinal, quem é você? Apenas um estudante. Ora, não creio sequer que tenha fivelas de prata para seus sapatos, como as que tem o sobrinho do Camerlengo – e, levantando-se de sua cadeira, entrou na casa.
– Que coisa tola é o amor! – disse o Estudante, enquanto se afastava. – Não tem a metade da utilidade da Lógica, pois não prova nada, e fica sempre dizendo a todo mundo coisas que não vão acontecer, fazendo com que acreditemos em coisas que não são verdade. Enfim, não é nada prático e, como hoje em dia ser prático é o importante, vou voltar à Filosofia e estudar Metafísica.
E voltou para seu quarto, onde pegou um enorme livro todo empoeirado e começou a ler.”

Fonte indicada: Pessoa

Por que sou mais esperto do que você mesmo sendo ruim com os números

Por que sou mais esperto do que você mesmo sendo ruim com os números

Se tivesse que fazer hoje um teste de inteligência, o talento musical do jovem Mozart não estaria entre os primeiros da classe. Ou, o que é o mesmo, não ultrapassaria os 140 pontos do Quociente de Inteligência (QI). E tudo porque, na rua e na sala de aula, o protótipo do ser inteligente, enraizado em nossa cultura desde os gregos e o Renascimento, ainda está associado exclusivamente com as habilidades reconhecidas nesta pontuação popular para avaliar o pensamento abstrato baseando-se na lógica e na matemática. No entanto, o progresso da ciência nas últimas décadas mostra que existe vida inteligente além de alguns números.

Mais do que uma boa memória para lembrar nomes e datas, e um hábil raciocínio matemático, a inteligência é, sobretudo, adaptação. As versões revisadas do QI, que ampliam a inteligência a experiências com o meio, resgatam Charles Darwin e suas teorias evolutivas, como afirma Pablo Fernández-Berrocal, professor de Psicologia da Universidade de Málaga. “Curiosamente, os neurocientistas do século XXI voltam à ideia originária de Darwin demonstrando que ser inteligente é a capacidade de se adaptar ao ambiente da forma mais eficaz. Essa capacidade varia segundo o contexto, e implica flexibilidade em situações muito diferentes”, diz o professor.

Assim, conceitos como o fator G ou teorias que vinculam a superação de um determinado tipo de testes a uma inteligência “todo terreno”, não obedecem mais às evidências científicas. “Há pessoas que são inteligentes e se adaptam com facilidade e flexibilidade a determinados contextos, enquanto que, em outros, poderiam parecer um estúpido. E se voltássemos a 30.000 anos atrás, esses considerados inteligentes poderiam até morrer devorados, porque não enfrentariam a exigência do seu ambiente. Quanto mais simples for o mundo, mais provável que nos sirvam os recursos gerais, mas em um mundo tão complexo como o nosso, são necessárias habilidades muito mais específicas, de modo que, gradualmente, outros tipos de inteligência foram incluídos”, explica esse psicólogo especializado em inteligência emocional, fundador do Laboratório de Emoções da Universidade de Málaga.

Por que um bom orador, com grande capacidade de compressão verbal, ou um gênio do piano ou da bola, com grande talento físico, não são considerados inteligentes em nossa cultura ocidental? O protagonismo da inteligência abstrata-lógica-matemática responde à herança do sistema produtivo europeu anterior às duas grandes guerras, quando o talento abstrato tinha a chave do sucesso trabalhista e social e uma brilhante carreira educacional era reconhecida no mercado com um brilhante posto de trabalho.

Nesse contexto nasceu o QI, um conceito revolucionário inventado por psicólogos que enfrentaram o desafio de classificar as pessoas, primeiro para avaliar os transtornos mentais e, depois, com fins educativos, a partir da nova onda de escolarização na Europa, com o objetivo de padronizar os testes com critérios objetivos, ao contrário da entrevista clínica.

“Por volta dos anos 70, alguns estudos mostraram que não havia garantias de que as pessoas que obtinham os melhores trabalhos fossem aquelas que tinham maior inteligência abstrata. A partir daí, a complexidade do mundo do trabalho não está vinculada tanto a tarefas cognitivas, mas às relacionadas com a gestão das próprias emoções, estresse, ansiedade e capacidade de regular as interações sociais em relação com as pessoas. O que marca a diferença de uma pessoa brilhante no local de trabalho não é sua inteligência clássica, mas esse extra que se refere a outro tipo de inteligência”, diz Fernández-Berrocal.

No entanto, a popularidade das escalas de inteligência de especialistas como Binet e Wechsel, nomes de referência na medição do QI em nível mundial, ainda é difícil de superar. Trabalhos de psicólogos como Robert J. Sternberg, um dos impulsionadores, há três décadas da inteligência prática ou aplicada, ou Howard Gardner, que dinamitou a teoria da inteligência única com as inteligências múltiplas (linguística, inter e intrapessoal, musical, espacial, naturalista, corporal, além da lógico-matemática) ainda não chegou a ser aplicada como corrente majoritária nas escolas.

“Os alunos que estão bem adaptados ao sistema escolar são aqueles com uma inteligência numérica e lógico-matemática alta. Ao resto, que pode ter outra inteligência, custa muito trabalho se adaptar. A escola continua trabalhando hoje com um modelo. Existem pessoas muito inteligentes que não são especialmente brilhantes nos aspectos lógico-matemáticos e não conseguem se adaptar, desperdiçando seu potencial artístico, linguístico ou de relações sociais, a escola se transforma para eles em um martírio “, observa o psicólogo.

É possível medir a criatividade?

Superada no campo da investigação a existência de uma inteligência única, como identificar talentos em um teste continua sendo o pesadelo dos cientistas, apesar de inovações como o Teste de Inteligência Emocional Mayer-Salovey-Caruso (MSCEIT). “Se colocamos problemas matemáticos ou linguísticos, é mais ou menos fácil avaliar as respostas aos problemas, porque há uma solução correta. Outra coisa são as respostas para os problemas da vida real. Estamos há mais de um século tentando avaliar a criatividade como processo, não como produto, e apesar das investigações, ainda não temos resultados”, diz o professor.

A avaliação, a chave de tudo, também falha no conceito de QI e os testes clássicos de papel e lápis. Fernández-Berrocal observa: “Agora, o sonho, através de pesquisa com ressonância magnética funcional, é encontrar o indicador do nível de inteligência observando, por exemplo, a porcentagem de matéria cinza ou branca, levando em conta o volume do cérebro e certas áreas. Mas isso não foi alcançado e não sei se vamos conseguir. Seria como dizer que a inteligência é apenas isso, sem levar em conta a aprendizagem e a experiência.”

Embora existam programas de televisão que continuam impressionando o público com a memória dos competidores (uma faculdade superada pela consulta imediata dos dados nos meios digitais), para Fernández-Berrocal a capacidade de antecipação deveria ser a inteligência potencializada. “As máquinas não podem prever o futuro, mas somos capazes de inovar e antecipar, e os povos sempre sobreviveram às adversidades do clima, da fome ou das guerras por causa disso. Em nossa vida pessoal acontece a mesma coisa: aqueles que sabem como se antecipar aos problemas, em vez de serem sujeitos passivos, têm maior capacidade de adaptação. Mas isso ainda não é ensinado na escola, e seria uma autêntica revolução”, conclui.

Por KRISTIN SULENG

Fonte indicada: El País

É verdade que Fernando Pessoa…?

É verdade que Fernando Pessoa…?

Por Simone Cunha e Vitor Sorano, de Lisboa

.Fez slogan para a Coca-cola?
“Primeiro, estranha-se, depois entranha-se.” O slogan foi bolado pelo poeta entre 1927 e 1928, e deveria marcar a entrada do refrigerante em Portugal. Mas, segundo biografias de Pessoa, o regime fascista e paranoico de António Salazar viu na frase evidência da ligação da bebida com a cocaína. Na versão mais efervescente da história, o estoque do refrigerante que já estava em Lisboa foi apreendido e jogado no mar. O fato é que a Coca-Cola só entrou em Portugal em 1977, 9 anos após a morte do ditador e 3 após o fim da ditadura.

…Criou uma lista telefônica universal?
Em 1925, Pessoa patenteou uma lista telefônica mundial que usaria apenas figuras. Um dentista brasileiro teria nossa bandeira e um dente, por exemplo. É, outro projeto que não deu certo.

…Escreveu um guia turístico?
Lisbon, What a Turist Should See foi escrito (e não publicado) em inglês – mais um plano frustrado. Como os originais só foram descobertos 60 anos depois, os editores dão um conselho bem lusitano: “Contate as atrações citadas a fim de certificar-se de que ainda existem”.

…Armou um desaparecimento?
Em 1930, o ocultista britânico Aleister Crowley já trocava cartas com o poeta havia um ano e se convidou para um tour guiado por Portugal. Trouxe junto uma jovem amante, brigou feio com ela e sumiu do mapa. Sequestro? Assassinato? Suicídio? Pessoa tentou emplacar um livro sobre o desaparecimento do então mago mais pop do mundo – queria 200 libras adiantadas de quem topasse. O fato de que era tudo uma mentira bolada por ele e Crowley deve ter contribuído para o fracasso de mais esse projeto.

Fonte indicada: Superinteressante

Por que os simpáticos comem mais?

Por que os simpáticos comem mais?

Por ABIGAIL CAMPOS DÍEZ

Woody Allen não come o mesmo que Julia Roberts. Nem você o mesmo que seu vizinho de quarto. E não só por uma preocupação com a silhueta. As pessoas se alimentam de uma coisa ou de outra em função de sua capacidade de abrir-se a novas experiências, sua responsabilidade, extroversão, amabilidade ou instabilidade emocional (as cinco grandes personalidades estudadas pela psicologia). É a conclusão de um estudo do Swiss Federal Institute of Technology publicado em janeiro passado na revista Appetite.

Os autores do ensaio citam os seguintes exemplos. As pessoas emocionalmente instáveis ou neuróticas tendem a consumir alimentos pouco saudáveis ou a comer demais. Os responsáveis ingerem mais frutas e rejeitam os alimentos pouco favoráveis para controlar a dieta. Os extrovertidos comem mais doces, carne e alimentos calóricos porque saem muito em consequência de suas intensas relações sociais. As pessoas afáveis comem menos carne. E os abertos a novas experiências gostam de provar comidas com frutas, alimentos salgados e verduras.

Isso é verdade? Será que não gostar da macarronada de domingo é algo que vem “de fábrica”? “Não há dúvida de que o tipo de caráter e a personalidade influem na escolha dos alimentos”, responde Javier Aranceta, professor associado de Nutrição da Universidade de Navarra e presidente da Sociedade Espanhola de Nutrição Comunitária, órgão que está finalizando uma revisão da Pirâmide da Alimentação Saudável para acrescentar uma nova base, que inclui um campo específico para o equilíbrio emocional como elemento determinante em nossa dieta (os outros são a atividade física diária, o equilíbrio energético, as técnicas culinárias saudáveis e a ingestão de quatro a seis copos de água por dia). O documento de consenso faz recomendações alimentares para os próximos cinco anos.

“A escolha dos alimentos está sujeita a fatores econômicos, ao nível cultural e ao nível de conhecimento em nutrição, mas os fatores psicológico e emocional têm muita importância. Atrevo-me a dizer que poderia responder por 25% do peso de nossa alimentação. Um bom exemplo é o perfil de uma pessoa idosa, viúva, que vive sozinha e ganha uma pequena aposentadoria. Não tem ânimo para manter uma alimentação equilibrada, exceto no dia em que vem a família e ela prepara uma comida espetacular. É óbvio que saberia fazê-la todos os dias, mas não tem ânimo”, acrescenta Aranceta.

A escolha dos alimentos está sujeita a fatores econômicos, ao nível cultural e ao nível de conhecimento em nutrição, mas os fatores psicológico e emocional têm muita importância”, diz Javier Aranceta

O equilíbrio emocional é importante para o que gostamos de comer, o que compramos, como preparamos e a maneira como vamos comer. “Quando estamos muito estressados procuramos essa sensação compensatória em alimentos com determinados sabores e aromas: chocolate, açúcar e também alimentos crunch, que são os crocantes. Mas os chocólatras devem saber que o chocolate gera picos de glicemia que desaparecem em 30 minutos, produzindo um efeito rebote”. Ou seja, seu consumo acalma, “mas em pouco tempo dá vontade de comer mais”.

Personalidade (e sabor) picante

Outro estudo do Institute of Food Technologists de Chicagoconstatou que a preferência por comida picante ou insípida também é uma questão de personalidade. Quem não teme a busca de sensações gosta de pimenta muito mais do que as pessoas de natureza mais calma. “Concordo que somos o que comemos e como comemos. Sem dúvida, podemos saber muito de uma pessoa por sua maneira de comer (a rapidez, por exemplo), assim como pelo tipo de alimentos que consome. E até averiguar o momento emocional que está atravessando. A alimentação é uma das formas de canalização das emoções, por isso quando não são adequadamente controladas acabam gerando um problema, como ocorre com a obesidade e os transtornos de conduta alimentar”, aponta María del Mar González Muñoz, psicóloga clínica e diretora do departamento clínico da USTA (Unidade de Transtornos de Conduta Alimentar de Salamanca).

É fato que a comida está presente em todo evento social. Ficamos para comemorar em torno de uma mesa ou para conversar em um balcão de bar. Isso explica que as pessoas mais sociáveis e extrovertidas comem mais e em maior variedade. “E as pessoas mais rígidas, vão plasmar sua firmeza na alimentação, cuidando (às vezes excessivamente) do que consomem, as calorias, a qualidade dos alimentos, etc.”, acrescenta González Muñoz.

No entanto, embora a personalidade pareça determinante para o que ingerimos, não se trata de algo imutável. Essas condutas podem ser modificadas com educação nutricional. Se não comermos bem, nossa saúde psicológica não será tão boa, e isso será um fator de distorção que nos fará sentir pior (e nos alimentarmos de acordo). “Há uma aprendizagem que acaba se transformando em um processo automático no qual não questionamos o que fazemos. Trata-se de reverter algo que fazemos sem pensar: estou deprimido e como chocolate; estou entediado e como biscoitos; estou nervoso por causa de uma prova e passado a tarde beliscando. Nenhuma destas emoções se resolve comendo, mas é o que vimos e aprendemos, e funcionou a curto prazo”, conclui a psicóloga.

Dicas para evitar uma comilança emocional

A maioria já passou por isso. Depois de um dia de cão no trabalho, você volta para casa tarde, com um cansaço enorme e… assalta a geladeira. Os especialistas nos dão dicas para que isso não volte a acontecer.

1. Atrase (ainda mais) a volta a casa. Aproveite para fazer alguma tarefa, com o objetivo de adiar seu encontro com a despensa. Chegue um pouco antes da hora do jantar e troque de roupa, planejando, enquanto isso, um jantar saudável.

2. Não armazene alimentos excessivamente calóricos. Procure não ter em casa todas aquelas coisas a que nos lançamos no momento da gula e que costumam ser pães doces, batatas fritas, etc.

3. Tenha comida pronta. Mesmo que sua cara-metade tenha ido embora e você chegue em casa com vontade de se entupir de chocolate, ter uma vasilha com comida saudável na geladeira facilitará as coisas.

4. Faça exercícios. Isto distrairá o corpo do motivo de sua ansiedade. É preciso manter baixo o nível de cortisol, que é o hormônio que dispara como resposta ao estresse. Corra, vá à academia ou, simplesmente, passeie.

5. Elabore listas. Se comer compulsivamente é da sua personalidade, faça uma lista do que comeu ao longo do dia. Quando se surpreender com a magna quantidade, talvez fique mais fácil controlar a comilança.

Fonte indicada: El Pais

Você trabalha ou dá aula? – Considerações a respeito da Síndrome de Burnout

Você trabalha ou dá aula? – Considerações a respeito da Síndrome de Burnout

A dinâmica educacional segue seu curso em um ritmo descompassado em relação ao que há fora dos muros escolares. As transformações de mundo, sociedade e cultura não são acompanhadas pela lógica educacional. Os atores desse ambiente, docentes e discentes, conflitam em valores, princípios, ideias e concepções. A convivência se assemelha a uma “”queda de braço”” em que todos saem pelo menos fadigados e porque não dizer machucados. Por lidar diretamente com pessoas, as demandas e responsabilidades depositadas nos ombros dos professores é enorme.

O docente precisa constantemente se revitalizar profissionalmente. É necessário estar atento, atualizando-se sobre novas maneiras de ensinar, além de procurar se inteirar das tecnologias disponíveis.

Os educadores precisam lidar também com a desestruturação familiar, alunos com defasagem cognitiva e indisciplina, que, por outro lado, pode ser uma reação dos educandos pelas práticas e propostas educacionais, que não atendem às suas necessidades e realidades.

A burocratização das atividades, a falta de motivação e de valorização do profissional da educação e o desgaste emocional se manifestam em doenças e fobias. O docente se sente sozinho, o que requer um sobre-esforço na realização de atividades além das suas possibilidades e, com medo de não dar conta da situação, adoece. Essa enfermidade advinda do ambiente profissional, ligada às altas demandas emocionais, é conhecida como burnout (do inglês – o que queima e corrói), ou seja, síndrome de esgotamento profissional, pela qual o docente perde o sentido da sua relação com o trabalho.

Os registros da Organização Internacional do Trabalho apontam que a profissão docente está entre as mais desgastantes do mundo, gerando alta incidência de licenças por conta de problemas de saúde.

E há ainda aqueles que perguntam: “Você trabalha ou dá aula?”

Entre as consequências do mal estar na área profissional da educação, o autor Wanderley Codo (Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 2002) cita a exaustão emocional, a despersonalização e a falta de envolvimento pessoal no trabalho, em que o desejo de abandonar a docência pode surgir.

Mas, a pior das reações do profissional que adoeceu é a fuga. É olhar o processo, mas não mais nele se reconhecer. (Para maior detalhamento do tema, conferir Silva, M.P. G.O. et.al. A silenciosa doença do professor: burnout, ou mal estar docente. Revista Científica Integrada – Unaerp Campus Guaurjá, Guarujá, 06 jun. 2013).

Há um longo caminho a ser percorrido: é preciso que haja políticas de prevenção do governo, para reconhecer os problemas dos professores como doença de trabalho, o que hoje é ignorado. A legislação trabalhista, até o momento, não reconhece a síndrome de Burnout como uma grave doença. E é muito mais grave que o estresse, explica a pesquisadora Mary Sandra Caroloto no texto “”A Síndrome de Burnout e o trabalho docente””. 7ª ed. Paraná: Psicologia em Estudo, 2002.

Pesquisa na área de saúde sobre a região sudeste do Brasil aponta que, de 77 professores que responderam aos instrumentos de coleta de dados, 54 professores (70,13%) apresentavam sintomas de Burnout, e, dentre eles, 85% sentiam-se ameaçados em sala de aula, 44% cumpriam uma jornada de trabalho superior a 60 horas semanais e 70% estavam incluídos na faixa etária inferior a 51 anos (Levy, G.C.T.M. et. al. Síndrome de Burnout em professores da rede pública, Revista Prod. vol.19 n. 3 São Paulo, 2009).

É fundamental que o professor tenha à disposição uma equipe multiprofissional que possa ir a fundo para identificar a origem do mal, entender os motivos dos adoecimentos e apontar caminhos alternativos, além de políticas trabalhistas e educacionais que oportunizem cobertura assistencial médico-ambulatorial e hospitalar mais digna e completa.

Profa. Denise Lemos Gomes, licenciada em Letras Português/Inglês e em Pedagogia, mestra em Educação e doutora em Educação, Coordenadora de Letras: Português/Inglês da Uniso. ([email protected])

Profa. Daniela Aparecida Vendramini Zanella, licenciada em Letras Português/Inglês, mestra em Educação e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Na Uniso, é professora no curso de Letras, bolsista/formadora PIBID/CAPES e coordenadora do grupo de estudos “Tempo de Aprender”. ([email protected])

Fonte indicada: Jornal O Cruzeiro

“O QUE É VIVER BEM”, por Cora Coralina

“O QUE É VIVER BEM”, por Cora Coralina

Todo mundo tem sua definição do que é viver bem, e Cora Coralina tinha a sua. Famosa por ser poetisa e contista, a goiana (nascida na Cidade de Goiás, antiga Vila Boa de Goiás), Cora Coralina (1889-1985), ou Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, autora de “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais” e “Meu Livro de Cordel”, também foi doceira, vendedora de livros, produtora e vendedora linguiça caseira e banha de porco, e chegou a gravar um disco. Na sua receita particular de viver bem está a leitura, a autenticidade, o sorriso e não dizer que está velha, nem que está doente, e tampouco que não ouve bem. Espirituosa, ela também viveu suas buscas e, aos 50 anos, experimentou uma profunda mudança interior que classificou como “a perda do medo” (Wikipedia). Foi a partir dessa ocasião que ela deixou o nome Ana Lins de lado e adotou Cora Coralina.

Cora Coralina não é goianiense. Ela é goiana (pois nasceu no estado de Goiás) e é vilaboense (pois nasceu na Cidade de Goiás, antiga Vila Boa de Goiás).

Abaixo, viver bem, por Cora Coralina.

O QUE É VIVER BEM
Por Cora Coralina

Um repórter perguntou à Cora Coralina o que é viver bem?

Ela disse-lhe: “Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo prá você, não pense.

Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha. Eu não digo. Eu não digo estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco. É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.

Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.

O bom é produzir sempre e não dormir de dia.

Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.

Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima.

Eu não digo nunca que estou cansada. Nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio!

Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não. Você acha que eu sou?

Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser. Filha dessa abençoada terra de Goiás.

Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos. Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.

Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes. O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.

Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.”

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”

Compartilhado por Carla Purcino.

Fonte indicada Dharmalog

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