Pessoas criativas dizem “NÃO” - Fabricio Calvete Campos

Pessoas criativas dizem “NÃO” - Fabricio Calvete Campos

Um professor de psicologia húngaro escreveu uma vez as pessoas mais famosas e criativas pedindo-lhes para ser entrevistado para um livro que estava escrevendo. Uma das coisas mais interessantes sobre o seu projeto era quantas pessoas disseram “não”.

Peter Drucker uma vez disse: “Um dos segredos da produtividade é ter um cesto de lixo MUITO GRANDE para cuidar de todos os convites, a produtividade na minha experiência consiste em não fazer qualquer coisa que ajude o trabalho de outras pessoas, mas necessito passar o tempo todo sobre o trabalho que o Bom Deus tem me dado para fazer e fazer bem. ”
A Secretária do romancista Saul Bellow respondeu: “O Sr. Bellow me informou que ele continua a ser criativo na segunda metade da vida, pelo menos em parte, porque ele não deixa de fazer suas coisas para fazer parte de estudos”.

O Fotógrafo Richard Avedon: “Sinto muito — muito pouco tempo.”

O Secretário do compositor György Ligeti: “Ele é criativo e, por isso, totalmente sobrecarregado. Portanto, a razão que você deseja estudar seu processo criativo também é a razão por que (infelizmente) não tem tempo para ajudá-lo neste estudo. Ele também gostaria de acrescentar que ele não pode responder a sua carta pessoalmente, porque ele está tentando desesperadamente terminar um Concerto para Violino, que será estreado no outono.”

O professor contatou 275 pessoas criativas. Um terço deles disse “não”. Sua razão foi a falta de tempo. Um terceiro não disse nada. Podemos assumir a sua razão de nem mesmo dizer “não” foi também a falta de tempo e, possivelmente, a falta de uma secretária.

O tempo é a matéria-prima da criação. Limpe a magia e o mito da criação e tudo o que resta é o trabalho: o trabalho de se tornar especialista através de estudo e prática, o trabalho de encontrar soluções para os problemas e problemas com essas soluções, o trabalho de tentativa e erro, o trabalho de pensar, o trabalho de criação. Criar consome tempo. É o dia todo, todos os dias. Não existe fins de semana nem férias. Não é quando nos dá na veneta. É hábito, compulsão, obsessão, vocação. O traço comum que une os criadores é a forma como eles gastam seu tempo. Não importa o que você lê, não importa o que eles dizem, quase todos os criadores gastam seu tempo criando e todo o seu tempo é para o trabalho de criação. Há poucos sucessos durante a noite e muito sucesso se passares a noite em cima de sua criação.

Dizer “não” tem o poder mais criativo do que idéias, conhecimentos e talentos combinados. O tempo guarda o fio que teces a criação. A matemática do tempo é simples: você tem menos do que você pensa e precisa mais do que você sabe. Nós não somos ensinados a dizer “não”. Somos ensinados para não dizer “não”. “Não” é rude. “Não” é uma rejeição, uma refutação, um ato menor de violência verbal. “Não” é para drogas e desconhecido com doces.

Criadores não perguntam quanto tempo leva algo mas quanto custa criação. Esta entrevista, esta carta, esta ida ao cinema, este jantar com amigos, esta festa, este último dia de verão. Quanto menos eu vou criar a não ser que eu digo “não”? Um esboço? A estrofe? Um parágrafo? Um experimento? Vinte linhas de código? A resposta é sempre a mesma: “sim” faz menos.

As pessoas que criam sabem disso. Eles sabem que o mundo é todos os estrangeiros com doces. Eles sabem como dizer “não” e eles sabem sofrer as consequências.
“Não” nos faz indiferente, chato, mal-educado, hostil, egoísta, anti-social, indiferente, solitário e um arsenal de outros insultos. Mas “não” é o botão que nos mantém no caminho certo.

Fonte indicada: Medium

As maiores dores da vida não são visíveis aos olhos

As maiores dores da vida não são visíveis aos olhos

Por BRUNA COSENZA

As maiores dores da sua vida virão na morte de um ente querido, na despedida de um amigo que vai embora para quem sabe nunca mais voltar, na perda de um grande amor, na traição de uma pessoa querida… Vai doer, e muito.

Que fique claro desde já: por mais que existam centenas de dores físicas insuportáveis, poucas superam as dores na alma.

Provavelmente, as maiores dores da sua vida não serão palpáveis e, muitas vezes, estarão vinculadas às pessoas que você mais ama. Virão na morte de um ente querido, na despedida de um amigo que vai embora para quem sabe nunca mais voltar, na perda de um grande amor, na traição de uma pessoa querida… Vai doer, e muito. Por muito tempo. Mas ninguém vai ver, só você irá sentir. Cada pontada doída, cada sentimento revirado. Tudo será sentido da forma mais intensa possível e, em alguns momentos, você vai se perguntar se é possível morrer de amor, saudade, ou outras coisas que a gente só sabe sentir.

Deixa que eu te respondo: é possível sim. Dizem por aí que não, que a única coisa que mata é doença cardíaca, degenerativa ou qualquer outra. Mas tem algumas pessoas que, assim como eu, acreditam sim que dor na alma mata. Para falar a verdade, acontece tão devagar que às vezes a gente nem percebe, mas é justamente aí que mora o perigo. Essa dor que dá uma pontada aguda no início e depois se torna homeopática. Aos pouquinhos ela vai tomando conta da gente, nos isolando dos momentos de felicidade, nos impedindo de sermos puros e livres.

Quando você se der conta, a sua dor já terá se tornado o seu eu por inteiro. Então sim, você estará oficialmente morto. E ninguém vai se dar conta, ninguém vai perceber. Para falar a verdade, você vai continuar bem diante dos olhos alheios. É muito fácil mascarar esse tipo de dor, basta colocar um sorriso no rosto, dar meia dúzia de risadas e ninguém vai nem desconfiar. Não há dores na superfície, lá é tão fácil ser perfeitamente feliz.

Nenhuma dor é agradável, seja esta física ou não. A diferença é que para toda dor física existe receita médica capaz de adiar ou minimizar o sofrimento, mas para as dores na alma não há remédio. Talvez o tempo, um ombro amigo ou, quem sabe, uma viagem para a Indonésia.

Sim, as maiores dores da vida não são visíveis aos olhos, mas são sentidas com tudo o que há de mais humano em cada ser. E todos nós vamos passar por isso, então meu único conselho é: sinta todas as suas dores da forma mais intensa possível e depois deixe-as ir. Jogue-as no córrego mais próximo e veja como a correnteza é capaz de levá-las para longe. Um dia você será capaz de olhar para aquele rio em que o córrego desemboca e se sentir de alma lavada.

Fonte indicada: Obvious

Deixar o coração ser a fogueira que mantém a vida acesa!

Deixar o coração ser a fogueira que mantém a vida acesa!

No coração da gente nunca deveria caber nada gelado, possível de estragar,  suscetível ao frio. Coração é fogueira que transforma as coisas cruas em delícias, quebra os gelos e derrete camadas, esteriliza, desinfeta!

Se você está usando o seu coração como geladeira, é provável que nem consiga ver o que tem dentro, no meio dos potes e vidros, tudo guardado, etiquetado, refrigerado, e com data para acabar ou ir para o lixo.

A versão piorada seria um freezer, temperaturas realmente baixas, tudo estocado, no meio da névoa, sem vida, sem chance de reanimar.

Assim podem ser as nossas relações. Estocadas e seguras, mas geladas e insossas.

E, apesar de acreditarmos que dessa forma não corremos o risco de ferimentos, sim, o gelo também pode queimar, machucar, rasgar a pele e nossa alma.

Nosso coração tem natureza quente, se envolve, envolve outros, tem ritmo, fluxo, disparos, acelerações. Nossas emoções mais intensas são verdadeiras tochas que tanto devastam como aquecem.  Essa medida é o desafio muitas vezes de uma vida, mas aí mora a nossa busca. Equilíbrio, discernimento, harmonia… um pouco de cada já garante um morninho gostoso, já balanceia as chamas e impede que o vento as apague.

Assim como esfregamos as mãos para as aquecer, também nosso coração precisa muitas vezes de uma ajudinha. Os dissabores, os traumas, as decepções e frustrações são como aquele vento gelado que a gente demora a perceber, mas vem constante e implacável na sua rota, esfriando e condensando nossas emoções, nossa capacidade de reagir, insuflando o cansaço e a exaustão. For fim, se nada fizermos a respeito, se não gritarmos por socorro, implorarmos um calor extra, um abraço, uma palavra amiga, um ato de amor, estaremos em pouco tempo, vencidos e frios, duros e insensíveis, como cubos de gelo.

É hora, portanto, de ir à floresta, catar os gravetos e folhas secas, as dores e desamores, juntar tudo e atear fogo, deixar queimar, desinfetar, ficar perto do calor, se aquecer… Deixar o coração ser a fogueira que mantém a vida acesa!

Falar do que foi para você, não vai te livrar de viver

Falar do que foi para você, não vai te livrar de viver

*Para ouvir com trilha sonora

Amanhã comemoro mais um ano de vida e com o ano que tive, é impossível não fazer uma breve retrospectiva do que foi esse último ano. Lembrei-me logo do dia do meu aniversário há exato um ano e com isso lembrei também da raiva que senti naquele dia. Aliás, ano passado foi um ano em que senti muita raiva e a morte traz um tipo de raiva que dá mais raiva de sentir porque não tem em quem colocar a culpa. Sim, porque temos essa péssima mania de buscar culpados para nossas frustrações, achando que com isso deixaremos de sentir raiva, é a morte ensina que, claro, isso também é ilusão.

Foi pensando nessa raiva e em toda a frustração que a perda de pessoas tão importantes para mim me trouxe, que emprestei da música dos Los Hermanos o título desse texto. Coincidentemente (ou não), amanhã eles farão show em Curitiba, onde irei comemorar meu aniversário. Ainda com certa tristeza, mas certamente sem raiva e muito mais leve.

“Falar do que foi para mim, não vai me livrar de viver.”

Não. Foi o que aprendi com toda a raiva que sentia no ano passado quando queria desesperadamente dar um abraço na minha mãe, no meu pai e no meu avô e na ânsia de fazer tudo isso, me envolvi em uma discussão muito raivosa com o frentista do posto, por um motivo tolo, mas claro, o frentista do posto foi o canal que encontrei para descontar a raiva, a tristeza, a frustração que estava sentindo naquele momento. E não me orgulho disso.*

Ano passado ganhei o último abraço de aniversário da minha vida do meu pai, do meu avô e (quase) da minha mãe. E eu sabia disso. O que eu não sabia era o que fazer com tudo aquilo que sentia. Perdão, caro frentista. E ao longo do ano, falei, conversei, desabafei com tantos amigos queridos, mas falar do meu sofrimento com tanta gente, não me impediu de sofrer.

E é assim também com a tristeza, a vergonha, o medo e todos os outros sentimentos que nos invadem o coração, por motivos diversos e que não queremos sentir. Falar, contar, esbravejar, gritar, escrever, não vai nos livrar de viver. E muitas vezes tenho a impressão que esquecemos disso. E as redes sociais, os diversos canais que facilitaram a comunicação moderna não escondem esse esquecimento. Nós gritamos aos quatro cantos, mas o que “esquecemos de lembrar” é que isso não nos anistia do sofrimento.

Acho que falamos, com a esperança de que quanto mais falarmos, mais nos acostumamos e mais tornamos banais acontecimentos pesados que nos assolam o coração. E, assim, apostamos na ilusão de que banalizar acontecimentos extremamente dolorosos ou amedrontadores ou até vergonhosos irá nos livrar de viver a tristeza, a frustração ou a angústia que vêm “acopladas” no processo.

Porque no fim do dia, não importa o número de abraços que você ganhou, nem em quantos colos você chorou. Não importa quantas pessoas te “absolveram” de julgamentos ou sermões por aquela burrada que você cometeu, de novo e de novo. Nem quantas te julgaram. Não importa quantas vezes você falou sobre aquela escolha extremamente dolorosa que você teve que fazer. Nem as justificativas e desculpas que você conta no intuito de amenizar a dor e a culpa. Ou sobre a dor de perder alguém que ama. Ou em quantos pedaços seu coração foi partido e você partiu o coração de outra pessoa. Não, não importa quantas vezes você conte essas histórias para si e para os outros, no fim do dia, nada disso vai te impedir de viver. Nem de sofrer.

Cada escolha que fazemos é solitária. A nossa dor é solitária. As nossas experiências são solitárias. A raiva é solitária, o arrependimento é solitário, a tristeza é solitária, as consequências de nossas escolhas e atos são extremamente solitárias. Dividir tudo isso pode sim aliviar cargas, pode nos tornar mais humanos ou iguais até, mas não nos livrará de sofrer.

Portanto, podemos também buscar refúgio em nós mesmos. Sentir e sentir muito. Escolher nossas batalhas, aprender a dominar nossas emoções (antes que elas nos dominem). E quem sabe não esquecer que toda escolha carrega em si renúncias e consequências e é importante pensar nisso antes de fazer uma. Hoje, olhando o furacão que foi o ano, não tenho mais raiva e isso me traz a certeza de que o melhor professor, o melhor calmante, o melhor antidepressivo ou ansiolítico, o melhor remédio para todo o mal que nos inunda a alma é e sempre será o tempo. E, por falar nele, que venham ainda mais alguns (ou muitos) anos de VIDA.

*E a reflexão sobre a discussão com o frentista eu relatei nesse post.

*Artigo escrito originalmente em 15-10-2015.

A Mulher X, quando o X vira outra coisa

A Mulher X, quando o X vira outra coisa

Sou uma mulher da geração X. Contudo me conjugaria como uma mulher da geração X cujo X transformou-se depois de certo tempo em outra coisa, se é que isso é possível. Talvez não tenha sido apenas eu, contudo descobri com o passar dos anos que o que ensinaram às mulheres da minha geração, algo sobre a felicidade morar em caminhos distantes da vida da casa, era na verdade um sonho de mulheres que vieram antes de nós.

Mas de onde veio isso de X? Bom, essa denominação foi criada por Robert Capa em 1950 para classificar uma geração de jovens, com certa crise de identidade e com um futuro “incerto”, nascidos depois da segunda guerra mundial. Hoje homens e mulheres dessa geração tem entre 30 e 50 anos.

E, para nós mulheres X, o mundo se transformou de forma bem mais rápida que para nossas mães e avós.

Nós nascemos antes dos computadores serem usuais e para escrever algo que não fosse de próprio punho usávamos máquinas de datilografar. Fizemos cursos de línguas e de datilografia, dançamos jazz e balé, mandamos cartas pelos Correios e fomos educadas de forma a acreditar que o mundo seria nosso desde que não fincássemos os pés nos redutos do lar.

Crescemos rodeadas por avós que viveram para cuidar da casa, do marido e de seus filhos e nossas mães, empregadas fora ou não, nos fizeram crer que a felicidade era estudar, se graduar, encontrar um trabalho rentável e ser feliz com o dinheiro que dispuséssemos para nosso bel-prazer.

Ninguém mencionou um amor de verdade e possíveis filhos. Eles seriam para um outro tempo que demoraria muito para chegar, segundo eles.

Fomos ensinadas a tomar nossa carreira como prioridade e nosso círculo de amizades acabou ficando lastimavelmente restrito e vinculado ao nosso trabalho. Dissemos adeus aos amigos de infância, prometendo voltar, contudo nem sempre regressamos.

Sacrificamos vínculos para acompanhar o trabalho, protelamos relações e idealizamos o homem perfeito. Classificamos como de um tremendo mau gosto filmes nos quais as mulheres escorregavam para serem arrastadas por mocinhos. Fomos educadas para sermos as mocinhas de nossas próprias vidas. Era só tocar a vida em frente que o mundo se renderia à nossa perspicácia e o amor viria irrevogavelmente sem que a gente precisasse prestar atenção nele.

Tudo nos pareceu perfeito, até que no final do arco-íris não encontramos pote algum. Fomos a inúmeros eventos e o príncipe não apareceu. Esperamos ser tiradas para dançar, mas nunca ninguém nos fez um convite. No trabalho descobrimos que nem sempre éramos essenciais e a ideia de que éramos insubstituíveis acabou caindo por terra.

Os amigos do trabalho, atarefados assim como nós, acabaram postergando reuniões festivas em prol das horas extras. Adotamos séries televisivas, livros e a internet como boas companheiras.

Ouvimos nossos pais dizerem, em determinado momento, que esperavam mais de nós, pois fomos deles um depósito de vastas expectativas. Fomos criadas como mulheres maravilhas com super poderes, para depois de um tempo descobrirmos que éramos mortais, feitas de carne, osso e sentimentos e que precisávamos revisar nossas emoções urgentemente.

E ao deixarmos de estar sempre apressadas, ao largarmos mão de procurar uma razão para essa ânsia de atender às expectativas dos outros, passamos a ouvir lá ao fundo um coração.

Um coração que batia apressado e assustado ao notar que nunca foi realmente nosso o caminho que seguíamos. Que a felicidade não morava onde disseram que morava.

Então demos meia-volta e, no sentido contrário, cruzamos com inúmeras mulheres da mesma geração que acharam consolo onde não pudemos encontrar. Começamos a trilhar o caminho inverso, voltando de onde partimos. Regressamos ao reduto do lar. Passamos a desejar o melhor de nós nos outros. Perdemos o medo de cuidar. Perdemos o medo de amar.

Descobrimos que o amor era bem diferente do que nos haviam contado. Descobrimos que o amor precisava de atenção e cuidados diários, que podia ser um amor de iguais. A dança aconteceu. Os filhos vieram. A decepção dos que esperavam “mais” tornou-se evidente. Mas dessa vez já não tínhamos que explicar nossas decisões, elas finalmente eram nossas e não atendiam às expectativas dos outros.

Nossas escolhas deixaram de ser egoístas e passaram a morar no partilhar. E o nosso mundo começou a fluir de tal forma que nós nos afastamos daquele velho caminho a ponto de nos esquecermos que houve um dia no qual lamentavelmente quiseram que fôssemos mulheres biônicas.

“Palavras são mágicas, são como encantamentos sublimes que nos levam para onde quisermos, seja esse onde um lugar ou uma pessoa”. Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Os maus-tratos sutis que você não deve permitir em sua vida

Os maus-tratos sutis que você não deve permitir em sua vida

Proteste se houver algo que lhe faz mal, ainda que seu interlocutor se incomode. Se você não entender, precisa de empatia e da inteligência emocional necessária para estabelecer relações saudáveis.

Na hora de falar em maus-tratos, imediatamente pensamos no tipo de violência física ou psicológica que uma pessoa exerce sobre a sua vítima. No entanto, existem outros tipos de maus-tratos “sutis”, dos quais, em algumas ocasiões, não temos tanta consciência e que, aos poucos, acabam por nos destruir por dentro.

São ataques encobertos aos quais não costumamos reagir porque a agressão não é tão direta, ou pode até ser que a intenção não seja de causar dano. No entanto, por ser constante, eles vão destruindo nossa autoestima e a confiança que temos em nós mesmos. Cuidado, pois não estamos falando somente dos maus-tratos sutis que nosso companheiro ou companheira pode exercer; às vezes, até nossos próprios familiares podem praticá-los.

A seguir ensinaremos como reconhecê-los e como se defender deles.

Como se exercem os chamados “maus-tratos sutis”?

Para compreender a dimensão dos maus-tratos sutis, falaremos sobre alguns exemplos que serão facilmente reconhecíveis. Pensemos em uma menina que, desde muito pequena, fizeram acreditar que é desastrada. Toda vez que algo caía das mãos dela, seus pais chamavam a sua atenção; quando ela quebrava algo sem querer, eles justificavam a situação falando de como ela sempre fora muito desastrada.

Na medida em que ela vai crescendo, seus pais usam essa forma desajeitada e avoada para justificar as provas nas quais ela não vai bem, e à sua incapacidade de fazer amigos. Seus pais a amam, não há dúvida disso, e claramente não a estão maltratando fisicamente. No entanto, ao longo de sua vida, eles a fizeram acreditar que é uma pessoa “incapaz e desajeitada”. São maus-tratos sutis criaram nela uma grande insegurança e uma baixa autoestima.

Vejamos outro exemplo. Temos um parceiro que costuma usar muito a ironia em seu dia a dia. São comuns os comentários brincalhões através dos quais ele tenta fazer os outros rirem, sem perceber que, com suas frases, está nos machucando. Ele nunca parece levar nada a sério, e ironiza qualquer coisa: o que você faz, como se veste, como se expressa. São pequenas coisas que ele pode fazer sem ter má intenção, mas no entanto lhe causam dor e, portanto, trata-se de uma situação de maus-tratos encobertos.

É importante saber que este tipo de comportamento é muito comum em nossa realidade, e que é muito difícil reagir diante deles, devido a tanta sutileza. São coisas pequenas que, ao se converterem em persistentes, acabam nos ferindo, até o ponto em que nos tornamos completamente indefesos. Temos que aprender a reconhecê-los.

Como me defender perante maus-tratos “sutis”?

Você deve ter consciência de que as palavras podem machucar tanto quanto uma agressão física. As feridas internas são tão dolorosas quanto um golpe.

Não importa o quanto o comentário for inofensivo, ou a inocência de uma determinada ironia. Não permita que isso aconteça. Diga o que pensa em voz alta e expresse-se claramente, explicando que essas palavras machucam você e que não devem ser repetidas novamente.

Estabeleça limites em sua vida, barreira que os demais não devem ultrapassar. Se as ironias sobre a sua pessoa o incomodarem, não as permita. Se falarem algo sobre você que não for verdade, defenda-se. Se há pessoas que sempre se dedicam a fazer pequenos comentários sobre essas características, talvez seja o momento de se manter afastado delas. As pessoas tóxicas somente nos causam sofrimento, e para viver com insegurança ou infelicidade, não vale a pena conviver com elas.

O principal problema dos maus-tratos sutis é que as outras pessoas não veem problema nenhum em suas palavras e ações. Elas não o reconhecem. O que para eles é uma brincadeira, para nós é uma clara ofensa. Se não reagirmos, se deixarmos passar um dia e o outro também, chegará um momento em que o nível de maus-tratos será muito maior.

Os maus-tratos podem ser exercidos por nossos pais, mães, irmãos, parceiros ou até por colegas de trabalho. Pessoas que dizem que nos amam e respeitam, mas não se equivoque. É fundamental que você defenda sempre a sua própria integridade e sua autoestima, e que diferencie muito bem o que é respeito do que é ofensa. Há pessoas que pensam que a confiança cotidiana lhes dá licença para brincar conosco, para ironizar, e inclusive para faltar com o respeito. Não permita isso nunca. Coloque em evidência tudo que lhe incomodar. Impeça que causem mal, e se não gostarem de sua reação, não se preocupe, pois quem não entender que você se sentiu ferido não tem empatia, e portanto não possui a inteligência emocional necessária para estabelecer reações saudáveis.

Fonte indicada: Melhor com saúde

Além do Bullying: provocações que humilham

Além do Bullying: provocações que humilham

Em um ambiente no qual muitas crianças ou adolescentes convivem, é natural que ocorram conflitos. Conflitos são parte do processo de socialização. Ocorrem disputas, por espaço social, por popularidade ou por atenção, na busca por encontrar e desempenhar um papel nos locais de convivência.

Como ainda estão em formação,  crianças e adolescentes precisam poder contar com a mediação dos adultos envolvidos nesses ambientes, sejam eles a própria casa ou um espaço de convivência, como a escola ou o clube. Os pais têm enorme e intransferível responsabilidade na formação do caráter social de seus filhos. É preciso ficar atento a alterações de comportamento e manifestações emocionais. No entanto, os pais não são as únicas referências para os menores; crianças e adolescentes espelham-se em modelos de comportamento oferecidos tanto por adultos, quanto por seus pares de convivência social. Entretanto, verdade seja dita: é  da família a responsabilidade de formação do caráter dos jovens e das crianças.

Uma questão extremamente séria é perceber ou descobrir que seu filho, ou filha, está  envolvido em situações ligadas a provocações, humilhações e o sofrimento de outros. Crianças e jovens podem provocar colegas com a intenção legítima de brincar, colocando-se numa postura aberta de serem igualmente provocados. Nessa situação, todos os envolvidos têm a possibilidade de se divertir.

No entanto,  podem ocorrer provocações ofensivas, com a explícita intenção de causar desconforto no outro. Algumas crianças e jovens podem ser alvos fáceis dessas provocações, por destoarem dos padrões estabelecidos de peso,  altura, aparência,  jeito de falar. Neste caso, aqueles que provocam podem, com o tempo, perder de vista  o quanto pode ser doloroso ser caçoado; podem, inclusive passar a sentir prazer em provocar o constrangimento, seja para sentir que tem algum poder ou para ser notado.

Portanto,  caso percebam que seus filhos possam estar envolvidos nesse tipo de situação,  quer seja por provocar ou ser provocado, é indispensável procurar entender motivações e padrões de comportamento. E, tomando conhecimento, é preciso agir. Em ambas as situações,  os filhos estão precisando da presença concreta da família.  Eximir-se dessa responsabilidade é abrir mão do papel de orientar o processo de formação dos filhos.

Atentos ao comportamento dos menores, os adultos conseguem perceber sinais importantes que podem revelar que algo não vai bem. Algumas vezes, pode acontecer da pessoa ter naturalmente atitudes que atraem a atenção do grupo, conquistando de forma intencional ou não,  uma maior popularidade. Nesse caso, é possível que, junto com a admiração venham sentimentos bem menos nobres, como a inveja e o ciúme. Assim, essa exposição pode colocar essa pessoa em situação de alvo da irritação de outros que não desfrutem do mesmo aparente sucesso junto aos demais.

Crianças e jovens que convivem com tratamentos agressivos, explícitos o não, sejam eles os agredidos ou os agressores, apresentarão alterações sensíveis em seu comportamento que, a depender de sua personalidade pode manifestar-se de diferentes formas: introspecção e desejo de ficar só; choro fácil e hipersensibilidade ao meio; irritação; uso de vocabulário incomum e inapropriado; alienação; rejeição ao afeto dos familiares e pessoas mais próximas; sintomas físicos,  como dores, unhas roídas e até  ferimentos auto-inflingidos.

Uma vez confirmado o envolvimento em situações de conflito relacionado às provocações,  é indispensável que os adultos se preparem e se organizem  para intervir e mediar, ajudando os menores a compreender,  refletir e ressignificar seus comportamentos, encaminhando-os  para o estabelecimento de relações mais saudáveis.

É fundamental que os adultos planejem formas de promover a reflexão tanto dos agressores quanto dos agredidos. Algumas questões podem auxiliar na tomada de consciência, ajudando os dois lados afetados a interromper o processo automático de sofrimento que pode já ter se instalado. Eis algumas sugestões: “como me sinto ao provocar/ao ser provocado?”; “o que observo no outro quando provoco/sou provocado?”; “o que o outro parece sentir?”; “qual a minha motivação?”; “o que eu gostaria de saber sobre o outro que não sei?”; “essa pessoa que me agride ou a quem eu agrido tem qual importância para mim?”; “que  tipo de punição eu espero?”; “eu quero continuar com isso? por quê?”.

Tão importante quanto ajudar a administrar as situações de provocação que envolvem sofrimento é  compreender que os conflitos são parte preciosa do processo de desenvolvimento. Pensar e agir de forma diferente é natural e saudável. A diversidade de posturas,  aparências, crenças, opiniões e comportamentos é o que torna as relações interessantes,  desafiadoras e complementares. Assim, é preciso acreditar e defender um comportamento social, segundo o qual, fazer o outro sofrer não  pode, em hipótese nenhuma, ser fonte de prazer ou estratégia para aplacar o desconforto de uma auto-estima frágil e deformada.

A diferença que faz gostar da sua profissão- Parte II

A diferença que faz gostar da sua profissão- Parte II

Esta é uma continuação da coluna da semana passada, onde a partir da fábula da Cigarra e a Formiga, eu discutia a forma como os artistas são vistos na sociedade, com os preconceitos que ainda resistem.

Uma vez, fui apresentar um espetáculo em uma Biblioteca Municipal, na periferia de São Paulo, num domingo de manhã. Depois de uma hora de viagem na mesma cidade – coisas de São Paulo – chegamos, montamos cenários, apresentamos, desmontamos. Na saída, enquanto carregávamos o material, rindo e conversando, ouvi o seguinte da encarregada pela Biblioteca, um pouco ofendida pela alegria alheia:

– Mas vocês só se divertem! Quando é que vocês trabalham?

Pensei não em uma, mas em várias respostas geniais. Mas só meia hora depois de ter ido embora. Nem lembro o que foi que falei ali na hora. Mas fiquei pensando naquela mulher. Ela nos recebeu naquele domingo de manhã como se fosse um favor ela estar lá para abrir as portas. Não era. Era parte do trabalho dela, uma das atividades da biblioteca que ela dirigia. Um trabalho importantíssimo de formação de público, uma apresentação oferecida gratuitamente à população, que não teve mais que 15 pessoas na plateia. Pelo que conversamos ali, vimos que o grande problema foi a falta de empenho dela na divulgação. Só foram as pessoas que iam sempre e nem alguns dos funcionários que estavam lá, sabiam que a apresentação ia acontecer.

A pessoa errada na função errada, provavelmente, o que a levava a se indignar com pessoas que pareciam felizes com a profissão que escolheram. Se é que ela considerava profissão, porque muito gente acha que não passa de um hobby…  Mas talvez seja essa a questão. Em uma dessas frases que costumam aparecer no Facebook, Confúcio afirma:

“Trabalhe com aquilo que gosta e não terá que trabalhar um dia sequer na vida”
         Não sei se é realmente do Confúcio (ou da Clarice Lispector), mas a frase acaba por dar razão à Mulher da Biblioteca. Todo mundo que estava lá naquele dia, gostava do que fazia. Logo, não estávamos trabalhando ou pelo menos, do ponto de vista dela, não pareceu que estávamos.

Eu gosto do que faço e acho que gostaria de trabalhar em uma biblioteca também, se fosse o caso, mas é evidente que a Mulher da Biblioteca não está feliz e, naquele momento, resolveu bancar a formiga pra cima das cigarras. O que ela não percebeu é que a vida pode ser muito mais do que a moralidade maniqueísta de uma fábula, que dá só duas opções de certo e errado, sem margem para qualquer outra interpretação. A formiga pode ter um pouco da cigarra e vice-versa.

E muitos artistas têm muito de formiga. É preciso, porque muito do trabalho não acontece só na sala de ensaio ou nos locais de apresentação. Tem muito projeto para fazer e todas as questões burocráticas que envolvem uma atividade comercial. Aliás, uma das questões que denunciam a forma como a cultura é vista, tem impacto exatamente no aspecto comercial da atividade: a meia-entrada.

Essa é uma briga antiga da classe, que sempre questiona por que existe essa obrigatoriedade, que vale para espetáculos, mas não vale para outras atividades. Estudantes não pagam meia nos consultórios, nem pagam meia nos supermercados. Por que podem pagar meia em um espetáculo? Dá para entender o princípio, o de facilitar o acesso de uma parte da população à cultura, mas é a imagem recorrente da cortesia com o chapéu alheio, já que o governo não paga a outra metade do desconto. Essa conta tem que ser quitada pelos produtores dos espetáculos, uma conta que é cobrada deles, mas não de médicos ou de donos de supermercado.  Isso acaba tendo um efeito que pode ser o contrário do que se pretende, já que reverte no preço do ingresso.

O que leva a outro mito, o de que teatro é caro. Sobre isso, em uma entrevista, duas semanas atrás, Antonio Fagundes falava das milhares de pessoas que pagam quase mil reais por um ingresso para uma luta de UFC, sem levantar questionamentos, mas que se recusam a pagar muito, muito menos por um espetáculo.

Quando um grupo encontra preconceito dentro de uma sociedade, seja esse grupo religioso, étnico ou profissional, como nesse caso, a tendência é ele desenvolver um comportamento superprotetor sobre si próprio. E acontece isso com as cigarras. Lembro de uma vez, quando ouviu a notícia de que um teatro havia sido assaltado, uma atriz comentou:

– Mas não pode! Um teatro é um espaço sagrado!

Ok, é sagrado. Mas não dá pra dizer que seja mais sagrado do que um consultório ou qualquer outro lugar onde uma atividade se desenvolva, seja ela tocada por uma formiga, uma cigarra ou um inseto geneticamente modificado com o melhor de cada um.

Ninguém deveria se orgulhar de trabalhar muito

Ninguém deveria se orgulhar de trabalhar muito

 |  De Ludmila Vilar

Uma semana antes: “Vamos almoçar na quinta?”, escrevo. “Claro!”, ela responde. Um dia antes: “Amiga…”, diz a mensagem. Os três pontos revelam tudo. Ela vai cancelar… E assim seguimos, até que um mês e meio depois, espremendo a agenda de uma dali, puxando a da outra daqui, conseguimos nos sentar as duas juntas numa mesma mesa para comer e bater papo. E se alguém aí está pensando que quem quer mesmo se ver faz um esforcinho, desculpe, mas sabemos que nem sempre é assim.

O assunto não é novidade e centenas de reportagens já falaram que estamos trabalhando demais e aproveitando de menos. Também já sabemos que mesmo a tecnologia, que muito ajuda no trabalho (jornalistas que o digam), às vezes muito atrapalha.

Um exemplo do revés do desenvolvimento do mundo digital é o aparecimento de uma síndrome chamada FOMO, que em inglês significa “Fear of Missing Out”. Em bom português seria algo como “medo de perder alguma coisa”. A FOMO nada mais é do que uma reação ao ritmo incessante com que as informações chegam até nós pela internet. Com tanta coisa para saber, ler, assistir, ouvir, como não ter medo de perder alguma coisa?

A tecnologia, o trânsito de algumas metrópoles, a pressão de uma economia global, o ritmo insano dos escritórios, tudo isso nos faz mais cansados. Então, por que não trabalhar menos para render melhor? Parece contraditório mas é nisso que a Suécia está apostando. Argumentos não faltam. Em agosto, a revista científica Lancenet, uma das mais importantes do mundo em seu segmento, divulgou um estudo que acompanhou cerca de 600 mil pessoas por cerca de sete anos.

Entre os que trabalhavam 55 horas por semana ou mais, a ocorrência de derrame cerebral foi 33% maior do que entre os que tiveram jornada de 35 a 40 horas por semana. A incidência de doenças cardiovasculares nessas pessoas também foi 13% mais alta. Outro estudo revelou um dado dramático para as mulheres: as que trabalham cerca de 49 horas semanais estão mais propensas a transtornos mentais.

Com isso em perspectiva, algumas empresas suecas já começaram a adotar a jornada de seis horas diárias – 30 hs semanais – de trabalho. É o caso da Filumundus, desenvolvedora de aplicativos baseada em Estocolmo, onde os funcionários hoje trabalham duas horas diárias a menos do que no ano passado.

PERMANECER FOCADO DURANTE OITO HORAS É UM ENORME DESAFIO. PARA TORNÁ-LO SUPORTÁVEL NÓS TEMOS QUE FAZER PAUSAS

“Ao mesmo tempo, temos dificuldades em gerir a nossa vida privada fora do trabalho “, disse o CEO da empresa, Linus Feldt, ao site Fast Company.

Para compensar o corte de horas, foi pedido aos funcionários da Filumundus que não entrassem nas redes sociais durante o expediente e que evitassem outras distrações. As reuniões também foram reduzidas ao mínimo. Feldt garante que não só a produtividade permaneceu igual, como os pequenos conflitos do dia a dia diminuíram e as pessoas estão mais motivadas. “Na verdade elas estão mais felizes e descansadas.”

Outro exemplo sueco de menos horas trabalhadas vem dos centros de serviços da Toyota na cidade de Gothenburg, onde a jornada de seis horas foi adotada há trezes anos. Desde então, a troca de funcionários diminuiu e o lucro cresceu em 25%.

A verdade é que começamos a “trabalhar” demais desde muito cedo, já quando se inicia a vida escolar. Devido aos horários insanos nos quais as crianças entram na escola, recentemente o professor Paul Kelley, do Instituto do Sono e Neurociência de Oxford, na Inglaterra, declarou ao jornal The Guardian que estamos em meio a uma real crise de privação do sono.

“A privação do sono é um grande problema da atualidade, mas afeta especialmente o grupo entre 14-25 anos. Dormir pouco é uma grave ameaça ao humor, à capacidade de render e à saúde mental”, diz o professor. Segundo ele, apenas crianças entre 8 e 10 anos e adultos após os 55 se encaixam bem nessa vida em que os expedientes começam às 9h e terminam às 17h. O professor defende que pessoas entre 10 e 16 anos comecem seus dias às 10h e as que tem 18 ou mais, a partir das 11h. Para cada fase da vida, o corpo tem um ritmo.

A verdade é que tudo isso faz muito sentido nesse texto, mas sabemos que dificilmente a maioria das empresas concordariam em postergar o horário de entrada dos funcionários ou diminuir a carga horária de trabalho. As escolas das crianças não abririam mão do horário das 7h às 12h. Também sabemos o quanto se sofre – e se perde -com isso.

Como dizia o pai de uma querida amiga, “quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro”. Seu Edison foi um grande comerciante. E os alemães estão aí para provar a teoria dele na prática. Eles construíram um dos países mais ricos do mundo com uma jornada semanal de trabalho bem menor do que a nossa: 35 horas lá contra quase 41 aqui. Já a diferença entre a rica Alemanha e a combalida Grécia em horas trabalhadas por ano é gritante: 671 a mais para os hoje pobres gregos. Ou seja, o segredo está na produtividade e não no tanto de horas que você rala. Lembre-se disso quando ouvir alguém dizer, orgulhoso, que é um workaholic.

Uma carta para desfazer inversões

Uma carta para desfazer inversões

Apesar de você dizer que não se importa, de se fazer de indiferente e autossuficiente, eu gostaria de poder, de alguma forma, desfazer os equívocos de outrora. Eu devo te confundir com o meu jeito estranho de agir, ao ver-me aos poucos tirando o véu das reservas ostensivas diante de todos, exceto diante de você. E então, mesmo quando estivemos menos rodeados de intrusos dessa cumplicidade silenciosa que temos, minha atenção não lhe alcançou.

Esforcei em distrair-me, foquei em todos os focos que nos mantivessem distantes apesar das cadeiras lado a lado. Ouvi e ri de suas piadas, fui expectadora sua, como estivéssemos um no palco, outro na plateia, e por vezes trocávamos de papel, eu falava, mas nunca falava para você. Falava para outro, enquanto tentava entender o que eu estava fazendo. Elaborei involuntárias escapadelas dos seus gracejos, eles tentavam quebrar o gelo, eu quebrava todas as possibilidades, quebrava as pontes que nos abrandariam a lonjura.

Me afogo em angústia ante sua frieza, reprovação, hostilidade e principalmente: indiferença. Por outro lado, nego os elogios, fujo do calor, escorrego dos toques, desvio dos olhares. Só te encaro de longe, de espreita, de onde não possa me ver olhar-te. Quando você está, eu falo para você fingindo falar com os outros, ignoro sua presença ao mesmo tempo em que a convido de forma transviada. Tanto absurdo, que ao tomar consciência dessa fuga desenfreada que empenhei desde o primeiro contato, senti meus golpes em fúria contra minha própria estupidez.

Todo meu elenco de tragédias se desfez em um monólogo ininterrupto e eloquente das memórias de uma pessoa que se auto sabotava. Narrava para mim mesma passo a passo como fui desmembrando cada tentativa de laço. Descobri-me rainha das conquistas vazias, das ilusões febris, das relações efêmeras. Tudo o quanto investi sem medo e que, portanto, houve algum acerto, era tudo o que não queria. De fato, não me entendo, será que tenho medo de realizar-me? Escapar do beijo sonhado, enrijecer-me no abraço querido, silenciar-me ante o diálogo esperado, negar-me a conhecer o desejado mistério das suas histórias protegidas atrás de uma armadura de ouro…

Depois me lamento, como fosse injustiçada, não ter uma segunda via de acesso a este caminho desconhecido. Depois da porta aberta, vacilar, sair em disparada após trancar a fechadura e jogar a chave por baixo da fresta. Depois lamento que continue lá trancado enquanto eu vago pelo vale tempestuoso das minhas emoções desvairadas. Como se tudo já não fosse suficientemente complicado. Tentei me consolar invocando meu passado, minhas decepções, os medos, os atrasos, os percalços que me desenharam feridas rendadas nos pés descalçados. Interrompi-me para os suspiros e peguei-me distraída lendo as linhas desses símbolos misteriosos que a vida pintou em minha pele. Descobri sobre esse impulso de levar meus pés às pedras pontiagudas, tão habituados à ferida, penso dependerem delas para continuar caminhando, para continuar a criar.

Todavia, sinto superficial sua indiferença, assim como minha teimosia. Apesar delas eu vejo atrás do meu véu o desejo da nudez, atrás da sua armadura o desejo da leveza. Não somos assim tão estranhos em nossas defesas. Talvez indefesos pudéssemos nos encontrar. É a minha confissão presunçosa conjecturando a sua. Em palavras simples o acontecido: fujo de uma aproximação sua pelo intenso desejo de me aproximar, por saber que não haverá volta, que não haverá esquecimento, que não haverá indiferença. Me escondo nas dores conhecidas pelo medo de novas dores.

Gostaria que essa iluminação sobre minha voluntária expiação fosse suficiente para resignar-me diante dessas atitudes invertidas. Que na minha rudeza lhe fosse desvelada a estima, que na minha distância lhe fosse revelado o desejo de lançar-me, que na minha frieza lhe tocasse o calor dos meus afetos. Mas da consciência ao acontecimento há um longo trajeto. Queria tornar-me, só pelo intelecto, uma guerreira. Sabotar o treinamento para chegar até lá. Acabei por sabotar a mim mesma. Assim é a vida. O que se revela no pensamento não é o suficiente para aprender a viver. E numa brecha sua talvez eu venha a me empenhar. Talvez, novamente, eu involuntariamente, deixe pra lá. Me deixe pra lá. Continue pra lá. Pudera você também fosse pra lá, comigo…

Pessoas felizes não falam mal dos outros

Pessoas felizes não falam mal dos outros

O hábito de “falar mal” dos outros está tão enraizado na nossa sociedade atual que infelizmente não nos damos conta do quanto ele pode prejudicar a vida de todos: aquele que critica, aquele que é criticado, e até aquele que ouve passivamente a crítica sobre os outros.

Você já reparou em como as pessoas felizes não falam mal dos outros? Parece que elas, simplesmente, não têm essa necessidade que tantas outras pessoas têm.

Neste artigo, queremos falar sobre os motivos pelos quais as pessoas criticam as outras e sobre como podemos nos manter fortes diante das críticas e das energias negativas de pessoas que só sabem falar mal dos outros.

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Por que as pessoas falam mal dos outros?

O motivo principal pelo qual as pessoas sentem a necessidade de falar mal dos outros é para que elas se sintam melhor com as suas próprias inseguranças. Geralmente elas procuram defeitos e falhas dos outros para comentar, em uma tentativa de disfarçar, tirar o foco ou até parar de pensar nos seus próprios defeitos.

E não se enganem: ninguém está imune a isso. Analise o seu próprio comportamento com atenção e veja se você não fez nenhum comentário maldoso nos últimos tempos, mesmo sem intenção. Muitas vezes falamos algo e só depois nos damos conta.

Infelizmente este tipo de comportamento está enraizado no dia a dia de muitas pessoas, que na maioria das vezes estão insatisfeitas com algum aspecto das suas vidas, e criticam os outros para, de alguma forma, se sentirem melhor, mesmo que isso seja feito de maneira inconsciente em algumas situações.

Mantenha-se forte diante das críticas

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Também é fundamental falar sobre o outro lado da moeda: a pessoa que é criticada. Em teoria, deveríamos todos ser completamente imunes às críticas. Afinal, o que uma pessoa diz sobre nós é a realidade dela, e não a nossa. Ninguém sabe realmente o que acontece na vida de outra pessoa, tanto das alegrias e momentos de felicidade quanto das lutas e adversidades superadas.

Não deixe que a opinião dos outros influencie o seu dia a dia negativamente. É muito importante reforçar e desenvolver a sua autoestima e autoconfiança, para saber lidar melhor com as críticas e resistir a delas. Sabemos que, muitas vezes, é difícil fazer isso, mas a chave para consegui-lo é o autoconhecimento.

Se você estiver feliz consigo mesmo, se tiver valores fortes nos quais acredita, se souber valorizar tudo o que tem na vida, ao invés de focar no que não tem, poderá viver alheio aos comentários dos outros, pois eles não o afetarão.

Afaste-se de quem só sabe criticar

Todo mundo conhece uma pessoa repleta de energias negativas, que só sabe se queixar da vida, reclamar de todos os acontecimentos, até dos felizes, e falar mal dos outros sempre que tiver uma mínima oportunidade.

contioutra.com - Pessoas felizes não falam mal dos outrosEstas energias são contagiosas, por isso não vale a pena incentivar este tipo de comportamento, pois você também irá perder com ele. Cerque-se de pessoas felizes, com um astral lá em cima, otimistas e que enxerguem o lado positivo da vida, e não de pessoas que deixam todos (e inclusive elas mesmas) “para baixo”.

E não se engane: uma pessoa que fala mal dos outros para você, certamente fala mal de você para os outros. É este tipo de amizade ou relacionamento que você quer ter? Talvez seja o momento de reavaliar.

Se você conviver com alguém assim, pode conversar e explicar que este comportamento somente prejudica a todos, e que você não gostaria mais de ouvir comentários maldosos sobre as outras pessoas. Se mesmo assim não adiantar, infelizmente a melhor solução pode estar no afastamento.

Seja a melhor versão de você mesmo

As pessoas felizes estão preocupadas demais com elas mesmas e com o seu bem-estar pessoal para perder tempo falando mal dos outros. Inspire-se nelas!

Dedique o seu tempo, os seus pensamentos e as suas palavras à pessoa que mais importa na sua vida: você mesmo! Mantenha o seu foco em ser a melhor versão possível de você mesmo, trabalhando as suas inseguranças sem se comparar aos outros, e sem perder tempo com comentários e observações a respeito de características e comportamentos alheios.

Quando você estiver satisfeito consigo mesmo, certamente estará tomando as melhores decisões para o seu presente e o seu futuro, e vivendo de acordo com a sua verdadeira essência, não terá nenhuma preocupação com os outros e poderá seguir em frente de forma muito mais leve, plena e feliz.

Fonte indicada: Melhor com Saúde

Os quatro dons das pessoas altamente sensíveis (PAS)

Os quatro dons das pessoas altamente sensíveis (PAS)

Por que eu vejo as coisas de forma diferente dos demais? Por que sofro mais que as outras pessoas? Por que encontro alívio na minha própria solidão? Por que sinto e vejo coisas que os outros não percebem? Quando se está em minoria, o primeiro sentimento é sentir-se em desvantagem e com medo.

Fazer parte dos 20% da população que se reconhece como altamente sensível não é uma desvantagem e nem o rotula como “diferente”. É bem possível que, ao longo da sua vida e principalmente durante a sua infância, você tenha tido consciência desta distância emocional, e muitas vezes tenha lidado com a sensação de viver em uma bolha de alienação e solidão.

A alta sensibilidade é um dom, uma ferramenta que lhe permite aprofundar e ter empatia com todas as coisas e pessoas. Poucas pessoas têm essa capacidade de aprendizagem de vida. Foi Elaine N. Aron que, no início dos anos noventa ao investigar as personalidades introvertidas, explicou em detalhes as características que refletiam uma realidade social: as pessoas altamente sensíveis são pensativas, empáticas e emocionalmente reativas.

Se este é o seu caso, se você se identificou com as características que a Dra. Aron publicou em seu livro “A pessoa altamente sensível”, é importante saber que essa sensibilidade não é uma razão para se sentir estranho ou diferente. Pelo contrário, você deve se sentir feliz por ter recebido esses quatro dons.

Os dons das pessoas altamente sensíveis

1- O dom do conhecimento interior

Desde a infância, a criança altamente sensível perceberá aspectos do seu dia a dia que lhe trarão uma mistura se sentimentos: angústia, contradição e muita curiosidade. Seus olhos captarão aspectos que os adultos nem percebem.

Aquele olhar de frustração de seus professores, a expressão preocupada da sua mãe… Ser capaz de perceber as coisas que outras crianças não veem lhes ensinará desde cedo que, às vezes, a vida é difícil e contraditória. É uma criança precoce que percebe o mundo sem a maturidade suficiente para entender as emoções.

O conhecimento das emoções é uma arma poderosa. Nos faz entender melhor as pessoas, mas também nos torna mais vulneráveis à dor e ao comportamento dos demais.

A sensibilidade é uma luz resplandecente, mas sempre ouviremos comentários do tipo: “você leva tudo muito a sério”, ou então “você é muito sensível.”

Você é o que é. Um presente exige grande responsabilidade, o seu conhecimento sobre as emoções exige cuidados e proteção.

2- O dom de desfrutar da solidão

As PAS encontram prazer em seus momentos de solidão. São pessoas criativas que gostam de música, leitura, hobbies…. Isso não significa que não gostem da companhia dos outros, mas sim que também se sentem felizes sozinhas.

Elas não têm medo da solidão. É nesses momentos que conseguem se conectar com eles mesmos, com os seus pensamentos, livres de apegos e olhares curiosos.

3- O dom de viver com o coração

As pessoas altamente sensíveis vivem através do coração. Vivem intensamente o amor, a amizade e sentem muito prazer com os pequenos gestos do cotidiano.

Elas são frequentemente associadas ao sofrimento pela sua tendência a desenvolver depressão, tristeza e vulnerabilidade frente ao comportamento das pessoas. No entanto, vivem o amor com muita intensidade.

Não estamos falando somente dos relacionamentos afetivos, mas da amizade, dos carinhos do dia a dia, da beleza de uma pintura, de uma paisagem ou uma música especial. Tudo é vivenciado com muita intensidade pela pessoa altamente sensível.

4- O dom do crescimento interior

A alta sensibilidade não pode ser curada. A pessoa já nasce com essa característica e esse dom se manifesta desde criança. Suas perguntas, sua intuição, o seu desconforto com luzes ou cheiros fortes e a sua vulnerabilidade emocional já demonstram a sua sensibilidade exagerada.

Não é fácil viver com esse dom. No entanto, se você reconhecer que é altamente sensível, deve aprender a administrar essa sensibilidade. Não deixe que as emoções negativas o desestabilizem e o façam sofrer.

Perceba que os outros têm um ritmo diferente do seu. Muitas vezes eles não vivem as emoções tão intensamente quanto você. Isso não significa que o amem menos; é somente uma forma diferente de vivenciar as emoções. Tente entendê-los e respeitá-los.

Conheça a si mesmo e as suas habilidades; encontre o seu equilíbrio e promova o seu crescimento pessoal. Você é único e vive a partir do coração. Fique em paz, viva em segurança e seja muito feliz.

Fonte indicada: A mente é maravilhosa

Como os pássaros enxergam o mundo. Imagens incríveis!

Como os pássaros enxergam o mundo. Imagens incríveis!

Nós seres humanos não podemos voar naturalmente, pois não possuímos asas (infelizmente). Voar de avião é um bom quebra-galho, mas não temos a melhor vista possível.

Impossível competir, por exemplo, com o ângulo em que uma águia consegue enxergar a terra.

Esses fotógrafos russos conseguiram tirar fotos panorâmicas sensacionais, que conseguem captar mais ou menos a vista de uma águia sobre as cidades.

Segundo os próprios fotógrafos, eles conseguiram captar essas imagens impressionantes fotografando de cima de aviões, balões de ar, helicópteros, de um dirigível ou de um helicóptero radio controlado.

O site airpano.com possui um visualizador que permite que você possa ver estas imagens panorâmicas incríveis em um ângulo de 360°, como se você estivesse realmente no local.  E você pode conferir essas fotos sem sair da sua casa!

Se você planeja viajar o mundo, mas ainda não conseguiu realizar esse sonho, sinta um gostinho dele conferindo algumas dessas fotos!

Distrito de Westerdok, Amsterdam, Holanda

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Catedral de São Basil, Moscou, Rússia

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Central Park, Nova York, EUA

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Cataratas do Iguaçu, Argentina – Brasil

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Marina de Dubai, Emirados Árabes

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Cachoeira de Churun-meru, Venezuela

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Vista de Barcelona, Espanha

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Baía de Halong, Vietnã

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Arco do Triunfo, Paris, França

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Santorini, Oia,  Grécia

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Flamingo, Lago Bogoria, Quênia

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Lago Glacial Jokulsarlon, Islândia

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Lago Powell, Utah, Arizona, EUA

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Lago Baikal, Rússia

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Fontes: boredpanda.com, awebic

Clarice Lispector entrevista o poeta Pablo Neruda

Clarice Lispector entrevista o poeta Pablo Neruda

Cheguei à porta do edifício de apartamentos onde mora Rubem Braga e onde Pablo Neruda e sua esposa Matilde se hospedavam — cheguei à porta exatamente quando o carro parava e retiravam a grande bagagem dos visitantes. O que fez Rubem dizer: “É grande a bagagem literária do poeta”. Ao que o poeta retrucou: “Minha bagagem literária deve pesar uns dois ou três quilos”.

Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné (“tenho poucos cabelos, mas muitos bonés”, disse). Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas. Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.

Antes de reproduzir o diálogo, um breve esboço sobre sua carga literária. Publicou “Crepusculário” quando tinha 19 anos. Um ano depois publicava “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, que até hoje é gravado, reeditado, lido e amado. Em seguida escreveu “Residência na Terra”, que reúne poemas de 1925 a 1931, da fase surrealista. “A Terceira Residência”, com poemas até 1945, é um intermediário com uma parte da Espanha no coração, onde é chorada a morte de Lorca, e a guerra civil que o tocou profundamente e despertou-o para os problemas políticos e sociais. Em 1950, “Canto Geral”, tentativa de reunir todos os problemas políticos, éticos e sociais da América Latina. Em 1954: “Odes Elementares”, em que o estilo fica mais sóbrio, buscando simplicidade maior, e onde se encontra, por exemplo, “Ode à cebola”. Em 1956, “Novas Odes Elementares” que ele descobre nos temas elementares que não tinham sido tocados. Em 1957, “Terceiro Livro das Odes”, continuando na mesma linha. A partir de 1958, publica “Estravagario, Navegações e Regressos”, “Cem Sonetos de Amor”, “Contos Cerimoniais” e “Memorial de Isla Negra”.

No dia seguinte de manhã, fui vê-lo. Já havia respondido às minhas perguntas, infelizmente: pois, a partir de uma resposta, é sempre ou quase sempre provocada outra pergunta, às vezes aquela a que se queria chegar. As respostas eram sucintas. Tão frustrador receber resposta curta a uma pergunta longa. Contei-lhe sobre a minha timidez em pedir entrevistas, ao que ele respondeu: “Que tolice”. Perguntei-lhe de qual de seus livros ele mais gostava e por quê. Respondeu-me: “Tu sabes bem que tudo o que fazemos nos agrada porque somos nós — tu e eu — que o fizemos”.
A entrevista foi concedida em 19 de abril de 1969 e publicada no livro “De Corpo Inteiro”, Editora Rocco, em 1999

Poeta local do Chile, provinciano da América Latina.

Escrever melhora a angústia de viver?

Sim, naturalmente. Tra­ba­lhar em teu ofício, se amas teu o­fí­cio, é celestial. Senão é infernal.

Quem é Deus?

Todos algumas vezes. Nada, sempre.

Como é que você descreve um ser humano o mais completo possível?

Político, poético. Físico.

Como é uma mulher bonita para você?

Feita de muitas mulheres.

Escreva aqui o seu poema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?

Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos?

Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?

Acredite-me tolo ou patriótico, mas eu há algum tempo es­crevi em um poema: Se tivesse que nascer mil vezes. Ali quero nascer. Se tivesse que morrer mil vezes. Ali quero morrer…

Qual foi a maior alegria que teve pelo fato de escrever?

Ler minha poesia e ser ouvido em lugares desolados: no deserto aos mineiros do norte do Chile, no Estreito de Ma­ga­lhães aos tosquiadores de ovelha, num galpão com cheiro de lã suja, suor e solidão.

Em você o que precede a criação, é a angústia ou um estado de graça?

Não conheço bem esses sentimentos. Mas não me creia in­sensível.

Diga alguma coisa que me surpreenda.

748. (E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números)

Você está a par da poesia brasileira? Quem é que você prefere na nossa poesia?

Admiro Drummond, Vinícius, Jorge de Lima. Não conheço os ma­is jovens e só chego a Paulo Men­des Campos e Geir Campos. O poema que mais me agrada é o “Defunto”, de Pedra Nava. Sem­pre o leio em voz alta aos meus amigos, em todos os lugares.

Que acha da literatura engajada?

Toda literatura é engajada.

Qual de seus livros você mais gosta?

O próximo.

A que você atribui o fato de que os seus leitores acham você o “vulcão da América Latina”?

Não sabia disso, talvez eles não conheçam os vulcões.

Qual é o seu poema mais recente?

“Fim do Mundo”. Trata do século 20.

Como se processa em você a criação?

Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita.

A critica constrói?

Para os outros, não para o criador.

Você já fez algum poema de encomenda? Se não o fez faça agora, mesmo que seja bem curto.

Muitos. São os melhores. Este é um poema.

O nome Neruda foi casual ou inspirado em Jan Neruda, poeta da liberdade tcheca?

Ninguém conseguiu até agora averiguá-lo.

Qual é a coisa mais importante no mundo?

Tratar para que o mundo seja digno para todas as vidas humanas, não só para algumas.

O que é que você mais deseja para você mesmo como indivíduo?

Depende da hora do dia.

O que é amor? Qualquer tipo de amor.

A melhor definição seria: o amor é o amor.

Você já sofreu muito por amor?

Estou disposto a sofrer mais.

Quanto tempo gostaria você de ficar no Brasil?

Um ano, mas depende de meus trabalhos.

E assim terminou a entrevista com Pablo Neruda. An­tes falasse ele mais. Eu poderia prolongá-la quase que indefinidamente. Mas era a primeira entrevista que ele dava no dia seguinte à sua chegada, e sei quanto uma entrevista pode ser cansativa. Esponta­nea­mente, deu-me um livro, “Cem Sonetos de Amor”. E depois de meu no­me, na dedicatória, escreveu: “De seu amigo Pa­blo”. Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: “Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor co­mo uma vocação do homem e a poesia co­mo sua tarefa”. Eis um retrato de corpo inteiro de Pablo Neruda nestas últimas frases.

Clarice Lispector

 

Abaixo, o poema citado por Neruda como seu predileto:

O Defunto, de Pedro Nava

Quando morto estiver meu corpo,
Evitem os inúteis disfarces,
Os disfarces com que os vivos,
Só por piedade consigo,
Procuram apagar no Morto
O grande castigo da Morte.

Não quero caixão de verniz
Nem os ramalhetes distintos,
Os superfinos candelabros
E as discretas decorações.

Quero a morte com mau-gosto!

Deem-me coroas de pano.
Deem-me as flores de roxo pano,
Angustiosas flores de pano,
Enormes coroas maciças,
Como enormes salva-vidas,
Com fitas negras pendentes.

E descubram bem minha cara:
Que a vejam bem os amigos.
Que não a esqueçam os amigos.
Que ela ponha nos seus espíritos
A incerteza, o pavor, o pasmo.
E a cada um leve bem nítida
A ideia da própria morte.

Descubram bem esta cara!

Descubram bem estas mãos.
Não se esqueçam destas mãos!
Meus amigos, olhem as mãos!
Onde andaram, que fizeram,
Em que sexos demoraram
Seus sabidos quirodáctilos?

Foram nelas esboçados
Todos os gestos malditos:
Até os furtos fracassados
E interrompidos assassinatos.

— Meus amigos! olhem as mãos
Que mentiram às vossas mãos…
Não se esqueçam! Elas fugiram
Da suprema purificação
Dos possíveis suicídios.

— Meus amigos, olhem as mãos!
As minhas e as vossas mãos!

Descubram bem minhas mãos!

Descubram todo o meu corpo.
Exibam todo o meu corpo,
E até mesmo do meu corpo
As partes excomungadas,
As sujas partes sem perdão.

— Meus amigos, olhem as partes…
Fujam das partes,
Das punitivas, malditas partes …

E, eu quero a morte nua e crua,
Terrífica e habitual,
Com o seu velório habitual.

— Ah! o seu velório habitual!

Não me envolvam em lençol:
A franciscana humildade
Bem sabeis que não se casa
Com meu amor da Carne,
Com meu apego ao Mundo.

E quero ir de casimira:
De jaquetão com debrum,
Calça listrada, plastron…
E os mais altos colarinhos.

Deem-me um terno de Ministro
Ou roupa nova de noivo …
E assim Solene e sinistro,
Quero ser um tal defunto,
Um morto tão acabado,
Tão aflitivo e pungente,
Que sua lembrança envenene
O que resta aos amigos
De vida sem minha vida.

— Meus, amigos, lembrem de mim.
Se não de mim, deste morto,
Deste pobre terrível morto
Que vai se deitar para sempre
Calçando sapatos novos!
Que se vai como se vão

Os penetras escorraçados,
As prostitutas recusadas,
Os amantes despedidos,
Como os que saem enxotados
E tornariam sem brio
A qualquer gesto de chamada.

Meus amigos, tenham pena,
Senão do morto, ao menos
Dos dois sapatos do morto!
Dos seus incríveis, patéticos
Sapatos pretos de verniz.
Olhem bem estes sapatos,
E olhai os vossos também.

Fonte indicada: Jornal Opção

 

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