Conheça esses 3 tipos de relacionamento e responda, de que maneira te amam?

Conheça esses 3 tipos de relacionamento e responda, de que maneira te amam?

Necessitamos de vínculos de amor para crescer, sentir segurança e ter uma autoestima saudável. A forma com a qual este vínculo se forma irá determinar se seremos felizes. No entanto, nem todos os tipos de relacionamento são adequados ou saudáveis. Alguns deles, ao invés de trazerem confiança, oferecem emoções negativas que nos machucam. Você sabe qual o tipo de relacionamento você mantém, por exemplo, com seu parceiro?

Hoje, aqui neste artigo, convidamos você a se aprofundar neste interessante aspecto dos relacionamentos humanos.

1. Relacionamento ansioso ou inseguro

Para compreender um relacionamento que se baseia na insegurança, damos um exemplo simples. Você tem um jantar de trabalho com seus colegas e ainda não chegou ao restaurante, quando de repente começa a receber mensagens de seu parceiro.

Pode ser que ele tenha aceitado essa reunião, essa saída com seus colegas, mas mesmo assim já começa a ficar nervoso quando vê você sair. Fica querendo saber os nomes das pessoas presentes, pergunta se você não está sentindo falta dele e se não estaria melhor em casa do que nesse jantar.

Aos poucos, a pessoa vai lhe coagindo com suas necessidades, seus medos e sua desconfiança. Temos certeza de conhecer este tipo de relacionamento.

Características que tendem a se manifestar nestas pessoas:

– São pessoas que precisam de demonstrações de amor quase constantes, como se fossemos obrigados a provar que seguimos apaixonados por elas. Em certos casos, inclusive, o ato sexual é mais uma manifestação de “propriedade” do que de verdadeiro carinho.

– São muito dependentes das nossas reações. Preocupam-se com coisas sem importância, imaginando que algo mais está acontecendo no relacionamento e que vamos deixá-las.

– Mudam de humor facilmente. Há momentos em que somos tudo para elas e, instantaneamente, ficam apáticas e desconfiadas, como se tivéssemos feito algo errado.

– Usam a manipulação emocional como a arma mais sutil e efetiva. Onde podem satisfazer suas vontades usando a chantagem, “ultimatos” que aparecem do nada ou mesmo se fazendo de vítimas para alcançar seus objetivos. Tenha cuidado com esse tipo de pessoas.

2. Relacionamento distante ou frio

As pessoas que se caracterizam por um relacionamento distante ou frio entendem as relações afetivas de um modo diferente dos outros. Não precisam estar junto de seu parceiro o tempo todo, precisam de espaço pessoal e não são muito expressivas emocionalmente.

Isto não significa que não amam, simplesmente amam de forma diferente e, às vezes, apenas não correspondem nossa forma de amar na mesma intensidade. Essas pessoas são meio distantes e podem causar certo sofrimento ao parceiro quando não compreendidas.

Mas, quais são outros aspectos que podem caracterizá-las?

– Precisam sempre de seu espaço pessoal e físico. Se em algum momento passamos deste limite, elas se incomodam muito, ficam doídas e inclusive podem se sentir traídas, como se fossemos incapazes de compreendê-las. Tendem a preferir a solidão e são mais introspectivas.

O fato de não demonstrarem muito as emoções não quer dizer que as tenham. Simplesmente optam por reprimi-las ou não sabem como demonstrar.

3. O relacionamento seguro

As pessoas que constroem sua relação baseada em um tipo de amor seguro são as que mais estabilidade, enriquecimento afetivo e pessoal tendem a conseguir. Mas, qual é o segredo?

Em que se baseia o amor seguro?

– O amor seguro baseia-se na confiança mútua. Em ser uma pessoa madura, equilibrada e segura de si mesma, que não tem medo do compromisso e que imagina um projeto de futuro com a pessoa que ama.
– Não manifesta ciúmes. Não tem a necessidade de controlar o parceiro porque confia nele.

– São pessoas que também acham necessário dispor de espaço pessoal, mas querem também construir um espaço em conjunto com seu parceiro e permitem que o companheiro também disponha de seu próprio espaço. Respeitam, sabem construir e por sua vez, compreendem a importância de fazer projetos e de formar uma equipe.
– Sabem dialogar e discutir com respeito. Compreendem que as diferenças são comuns em toda relação, mas sabem ceder para criar laços e para chegar a acordos de modo democrático.
– Não manipulam. Sabem escutar, não geram desconfianças e se preocupam diariamente em cuidar da pessoa que amam.
Para concluir cabe destacar um importante aspecto. O mais saudável, sem dúvidas, é estabelecer com nosso parceiro um amor seguro. Mas, na realidade, todos nós temos algumas pitadas de cada um destes 3 tipos de amor….e talvez outros mais.

É até bom, por exemplo, sentir ciúmes de vez em quando. Também são muitas as vezes em que buscamos um pouco de espaço pessoal para ficarmos um pouco sozinhos. Agora, o ideal é que a base seja sempre um amor seguro. Quanto ao resto, é normal cair de vez em quando em algum ponto dos extremos.

Adaptado do original: Melhor com Saúde

Ilustrações mostram que o amor mora nos pequenos gestos…

Ilustrações mostram que o amor mora nos pequenos gestos…

Nascida em Calcutá, Índia, e criada na Califórnia, EUA, a ilustradora Nidhi Chanani desenvolveu o projeto “Everyday Love Art” (“A arte do amor diário”, em tradução livre).

Em seu site, a artista expõe seus desenhos que têm sempre uma característica em comum: demonstrar as diversas facetas do amor em gestos e momentos simples da vida cotidiana.

As relações de afeto estão presentes no “bom dia” de um casal , em seus afazeres rotineiros ou mesmo em um passeio no parque.

Confiram!

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Fonte indicada: Awebic

Falta de escrever à mão pode prejudicar desenvolvimento cerebral de crianças

Falta de escrever à mão pode prejudicar desenvolvimento cerebral de crianças

Uma pesquisa americana sugere que o uso excessivo de teclados e ecrãs sensíveis ao toque ao invés de escrever à mão, com lápis e papel, pode prejudicar o desenvolvimento das crianças.

A neurocientista cognitiva Karin James, da Universidade de Bloomington, nos EUA, estudou a importância da escrita à mão para o desenvolvimento do cérebro da criança.

Para chegar à conclusão de que teclados e telas podem prejudicar este desenvolvimento, a invetsigadora estudou crianças que ainda não sabiam ler – que poderiam ser capazes de identificar letras mas não sabiam como juntá-las para formar palavras.

No estudo, as crianças foram separadas em grupo diferentes: um grupo foi treinado para copiar letras diferentes enquanto outras trabalharam com as letras usando um teclado.

A pesquisa testou a capacidade destas crianças de aprender as letras; mas os cientistas também usaram exames de ressonância magnética para analisar quais as áreas do cérebro que eram activadas e, assim, tentar entender como o cérebro muda enquanto as crianças se familiarizavam com as letras do alfabeto.

O cérebro das crianças foi analisado antes e depois da experiência e os cientistas compararam os dois grupos diferentes, medindo o consumo de oxigénio no cérebro para mensurar a sua actividade.

Os pesquisadores descobriram que o cérebro responde de forma diferente quando aprende através da cópia de letras à mão de quando aprende as letras digitando-as num teclado.

As crianças que trabalharam copiando as letras à mão mostraram padrões de activação do cérebro parecidos com os de pessoas alfabetizadas, que podem ler e escrever. Este não foi o caso com as crianças que usaram o teclado.

O cérebro parece ficar «ligado» e responde de forma diferente às letras quando as crianças aprendem a escreve-las à mão, estabelecendo uma ligação entre o processo de aprender a escrever à mão e o de aprender a ler.

«Os dados do exame do cérebro sugerem que escrever prepara um sistema que facilita a leitura quando as crianças começam a passar por este processo», disse James.

Além disso, desenvolver as habilidades motoras mais sofisticadas necessárias para escrever à mão pode ser benéfico em muitas outras áreas do desenvolvimento cognitivo, acrescentou a pesquisadora.

As descobertas da pesquisa podem ser importantes para formular políticas educacionais.

«Em partes do mundo há uma certa pressa em introduzir computadores nas escolas cada vez mais cedo, isto (esta pesquisa) pode atenuar (esta tendência)», disse Karin James.

Fonte indicada: Diário Digital

Servidão voluntária: o olhar de Bauman e Huxley sobre a sociedade de consumo

Servidão voluntária: o olhar de Bauman e Huxley sobre a sociedade de consumo

Saramago já nos advertia que estamos cegos da razão. Talvez seja o nosso ego, sempre inflado e se achando o dono do pedaço. Talvez seja pela nossa incessante incapacidade para amar. Podemos dizer que essa cegueira se alastra em função da facilidade. É sempre mais fácil andar sem olhar para o lado. Sem olhar para nós mesmos. Sem olhar para o que somos ou nos tornamos.

Cegos que somos, seguimos a doutrina da sociedade de consumo. Condicionados como bons soldados, não recusamos a missão de esvaziar um Shopping Center. Aprendemos, desde cedo, que, como partes do todo, devemos manter a ordem e, assim, não devemos transgredir as leis de ouro que tornam a sociedade contemporânea um reino de “felicidade”.

O sistema hegemônico, através da mídia, não nos deixa esquecer a importância de manter o sistema funcionando harmonicamente e de que, como bom senhor, devemos a ele obediência e servidão. Servidão esta construída por meio de chicotes ou força física? Não. Ora, se somos seres desejantes, então nada melhor do que usar a mídia para nos seduzir.

Somos seduzidos pela promessa de felicidade escondida atrás do consumismo. Somos tentados por todos os sorrisos espalhados nas propagandas. Somos condicionados a acreditar que a felicidade só é possível se e somente se tenho condições de participar da orgia do consumo.

Sendo assim, somos ludibriados por um sistema que nos entorpece e nos torna míopes que só enxergam a realidade pelos óculos que lhes são oferecidos. Tornamos-nos, dessa forma, servos voluntários do sistema, pois, embora livres, permitimo-nos condicionar e obedecer. Sem espaço para a crítica ou auto-reflexão, somos apenas reprodutores de uma cultura aprisionadora, que qualifica como tolice qualquer prazer fora do consumo.

“Imaginem que tolice, permitir que as pessoas se dedicassem a jogos complicados que não contribuíam em nada para o consumo. Atualmente, os Administradores não aprovam nenhum jogo novo, salvo se, se demonstrar que ele necessita, pelo menos, de tantos acessórios quanto o mais complicado dos jogos existentes.”

A felicidade, portanto, deve ser comprada, aliás, somente existe se for comprada. Não há espaço para as coisas simples, para o que é “gratuito”, pois, para que possamos ser felizes e ter prazer, precisamos inexoravelmente consumir.

Essa é a servidão voluntária através do consumo, não pela violência ou coerção, mas pela sedução e erotismo produzido nas relações consumistas.

Devidamente seduzidos pelo mercado, não conseguimos sair das suas entranhas. Não precisamos. Tudo é mercadoria. Ouvimos o tempo inteiro a voz do mercado, com seus alto-falantes que denunciam qualquer ato de “tolice” e nos lembram incessantemente da necessidade vital de consumir, pois, como bem atenta Huxley:

“Sessenta e duas mil repetições fazem uma verdade.”

Todos esses mecanismos de controle social escondem um autoritarismo com o qual nos acostumamos e o qual aceitamos, pela indisposição em ser mais que um pacote de biscoitos e um par de sapatos. Preferimos estar cegos e condicionados a nos opor ao sistema. Estamos, assim, mais que cegos da razão; estamos, como diz Bauman, em uma cegueira moral.

Somos subservientes a um sistema que racionaliza as emoções e que transforma a vida em uma longa linha de produção, de modo que não existe outro caminho a uma vida prazerosa sem passar por ela. Somos cegos admirando os caminhos líquidos de um mundo novo.

E o admiramos, pois fomos seduzidos pelo encanto e enlace erótico de um mundo que me permite ser um novo a cada dia, em que não se precisa de laços e, portanto, cada um é um fim em si mesmo. Somos servos voluntários, pois nós mesmos nos fazemos dominar. Entretanto, esquecemos que esse sistema hegemônico, através da sedução que nos domina, mantém o status quo da opressão e da escravidão.

Como diz Bauman: “A vida desejada tende a ser a vida vista na TV”. Mas a vida vai além de padrões de comportamento, de cartilhas, senhas e números. Vai além de escravidão e dominação. Vai além de reproduzir as verdades da mídia. Vai além de um cartão sem limites. Vai além de algumas polegadas. Ainda que, para enxergar esse além, seja preciso coragem para sair do cinema e visitar a própria vida.

As 7 doenças que estão matando nossa humanidade

As 7 doenças que estão matando nossa humanidade

Por VICTOR LISBOA contioutra.com - As 7 doenças que estão matando nossa humanidade

Nem toda superstição é religiosa, e uma das superstições mais perigosas de nosso tempo nada tem de mística. Ela consiste na crença de que o desenvolvimento da sociedade sempre é algo positivo, e que na busca pelo progresso deixamos para trás apenas o que é obsoleto.

Sete das mentes mais criativas dos últimos tempos atacaram essa superstição. É verdade, a tecnologia e a evolução dos costumes podem transformar nossas vidas aqui na Terra em um paraíso. Mas é possível que nesse processo deixemos para trás algumas das condições necessárias para uma vida plena, feliz e amorosa – uma vida com sabedoria, em outras palavras. Se desejamos rumar até o paraíso, precisamos saber distingui-lo do inferno.

Para sete pensadores, nossa sociedade está na enferma, e eles diagnosticaram as sete doenças que a acometem.

1- A ESPETACULARIZAÇÃO DE NOSSAS VIDAS

Em 1967, o filósofo francês Guy Debord escreveu A Sociedade do Espetáculo, em que propõe que no mundo moderno somos induzidos a preferir a imagem e a representação da realidade à própria realidade concreta.

Para Debord, as imagens, apenas sombras do que existe, contaminaram nossa experiência cotidiana, levando-nos a renunciar à vivência da realidade tal como ela é. Toda a vida em sociedade virou um acúmulo de espetáculos individuais e coletivos, tudo é vivido apenas enquanto representação perante os outros.

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Compartilhar status, instagrams, tweets: os palcos e as plateias mudaram, a encenação ficou cotidiana. Na sociedade do espetáculo em que estamos submersos, mesmo os relacionamentos são conduzidos pela mediação de imagens. Passando a intermediar as relações com imagens e simulacros de sentimentos moldados pelas redes sociais, voluntariamente renunciamos à qualquer tentativa de reconhecer os aspectos difíceis e desafiadores dos relacionamentos verdadeiros.

Debord entendia que o real envolvimento em relacionamentos humanos foi trocado por uma identificação passiva com a posição de espectatores recíprocos. Nesse esquema, cada um assiste, curte e compartilha o outro em seu palco particular, aguardando a sua vez de ser assistido, curtido e compartilhado.

Há, assim, um gradual empobrecimento das relações humanas. Isoladas, as pessoas tornam-se intimamente mais inseguras, e portanto mais fragilizadas. Essa fragilização torna os indivíduos mais influenciáveis e facilmente manobráveis.

2- A MENTIRA ENQUANTO NARRATIVA

O filósofo e neurocientista norteamericano Sam Harris escreveu em 2013 o livro Lying (Mentindo), na verdade um ensaio em que ele demonstra que a mentira é o pecado que pavimenta todos os demais pecados da modernidade.

Estimular socialmente a necessidade da mentira é uma decorrência lógica de uma sociedade do espetáculo, em que mentir é muito mais do que ocultar a verdade. A mentira chega ao ponto de desconstruir a verdade ao confundi-la com uma narrativa – algo que serve, portanto, ao próprio espetáculo.

Dizer tudo é relativo é um slogan ultrapassado. Agora, tudo é narrativa, e passamos a acreditar que não há nenhum fato que não possa ser redefinido como uma forma de narrativa do protagonista.

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Após séculos identificando Deus como A Verdade e o diabo como O Pai da Mentira, a sociedade atual encara o conceito de “verdade” com ironia e ceticismo. Uma das características de nosso tempo é a ideia de que a verdade é relativa, e de que tudo depende do ponto de vista do sujeito. O relativismo moral é uma mentira cuidadosamente elaborada para que ela própria pareça uma verdade.

O problema é que a linha moral entre verdade e mentira é a única que separa nossa caminhada coletiva do rio negro da barbárie e da superstição. E nem precisamos apelar para as virtudes morais do leitor: já está provado que a melhor solução de qualquer conflito humano é a colaboração e a confiança mútua. Assim, a posição de vantagem perceptível a curto prazo torna-se uma enorme derrota logo adiante.

3- O PROTAGONISMO

O produtor britânico Adam Curtis idealizou o documentário The Century of the Self (O Século do Eu). Nessa obra imperdível (disponível aqui legendado), ele demonstra como a publicidade utilizou as teorias psicológicas sobre o funcionamento da mente humana para tentar manipular o desejo do público e induzir todos ao consumo.

Não havia lugar para sutilezas. Um pouco comicamente, algo banal como vender carro na TV utilizava estratagemas que tentavam invocar alguns dos desejos sexuais mais primitivos do espectador. Era cômico, mas eficiente: a venda de carros aumentava. A realidade humana é que talvez seja meio engraçada. Podia-se, portanto, dar um passo além.

Assim, a seguir houve uma evolução menos ingênua e grosseira dessa publicidade, uma forma de explorar os medos e anseios do público para além do comercial de automóveis fálicos. Afinal, porque tentar associar o produto com os desejos íntimos do consumidor se era possível, pela indústria de entretenimento, influenciar e talvez até determinar esses desejos íntimos?

A partir de 1960, o movimento da contracultura ensinou às grandes multinacionais e agências de publicidade que dava lucro desenvolver e disseminar entre a pessoas a noção de individualismo como um estilo de vida.

Daquele momento em diante, os meios de comunicação de massa (cinema, televisão, música popular) passaram a vender a seguinte ideia: somos todos nós indivíduos únicos, especiais, e temos todos o direito de explorar a riqueza luminosa de nossa individualidade.

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Disso surgiu o protagonismo. Afinal, numa sociedade em que tudo é espetáculo, a decorrência lógica é que todos, estimulados em seu individualismo, considerem-se protagonistas.

As redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter e Tumblr só querem uma única coisa de nós: que as utilizemos cada vez mais, que as tornemos uma parte indispensável de nossa vida. E o que fazem para isso é criar espaços em que podemos construir nossa imagem pessoal perante os outros de forma que pareçamos protagonistas de uma narrativa interessante.

O protagonismo estimulado pela nossa sociedade torna, subjetivamente, todas as outras pessoas meros coadjuvantes de nossa história pessoal. Todos os outros seres humanos ao nosso redor são considerados apenas na exata medida em que colaboram ou não com o desenvolvimento dessa pequena novela que repetimos a nós mesmos em nossa cabeça.

E um dos aspectos mais nocivos disso é a ideia de protagonismo social, muito difundida no ativismo das redes sociais. Segundo essa proposta, apenas aqueles que se enquadram em determinada categoria minoritária ou oprimida poderiam lutar ativamente contra as condições de opressão. Todos os demais indivíduos deveriam, portanto, permanecer passivos diante da luta, em estado de aprovação bovina. Assim, somente mulheres poderiam protagonizar o combate ao machismo, somente afrodescendentes poderiam protagonizar o combate ao racismo. Segmentando ainda mais a sociedade, essa proposta impede que todos os seres humanos, unidos, lutem contra tudo aquilo que for um problema fundamentalmente humano – como o são os preconceitos.

4- AS RELAÇÕES LÍQUIDAS

Muito já se falou da teoria do sociólogo polonês Zygmunt Bauman sobre a sociedade líquida. Por “líquida” entende-se uma sociedade em que não há papeis sociais rígidos nem certezas sólidas. Tudo, portanto, é fluído e não somos obrigados a assumir um compromisso duradouro com qualquer papel social ou pessoa.

Que emprego escolher, com quem nos casar, que estilo de vida adotar: não há qualquer orientação sobre o que é certo e errado diante de duas escolhas, e tudo o que nos é dito é que temos total liberdade para decidir. O problema é que cada escolha por um caminho implica na renúncia de outro, e disso irremediavelmente surgem dúvidas e a sombra do arrependimento.

Essa liberdade, inserida no contexto da sociedade que impõe ao indivíduo a obrigação de espetacularizar sua vida e expressar uma suposta individualidade de protagonista bem sucedido, é sentida como um fardo. O resultado são indivíduos acometidos de ansiedade constante, inseguros, fragilizados. E pessoas fragilizadas são mais facilmente influenciáveis.

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Transportando isso para os relacionamentos, Bauman salienta que a facilidade com que hoje podemos abandonar uma relação, transitando de um envolvimento afetivo para o outro, sempre na busca de uma idealização inalcançável do sujeito amado e do próprio amor, traz também ansiedade e acarreta o empobrecimento das relações humanas.

Como Bauman expõe no vídeo acima, atualmente nós desfazemos nossos elos com os outros com a facilidade de quem desfaz uma amizade no Facebook: basta um clique. Em um planeta superpovoado, parece que sempre há a nossa disposição outras tantas pessoas com as quais estabelecer conexão – o problema é que no final nunca estabelecemos conexões verdadeiras com ninguém.

5- A FALTA DE TEMPO

Em Mal-estar na atualidade, o psicanalista brasileiro Joel Birman alerta que a racionalização das práticas sociais usurpou dos indivíduos o controle do seu tempo. A forma como utilizamos nosso tempo pessoal está cada vez mais sendo pré-determinada pelas demandas sociais, impondo que vivamos em um frenesi initerrupto.

Hoje em dia, estamos sempre super atarefados. A sociedade nos seduz com o sonho de sermos protagonistas de nosso espetáculo privado, mas o caminho para esse sonho está ladrilhado com tarefas, microtarefas e toda espécie de atividade que exige nossa constante atenção. Isso consome praticamente todo o nosso tempo desperto.

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Como resultado, embora estejamos hoje em dia sempre atarefados, parece que jamais fazemos o suficiente. Disso vem a sensação estranha de que estamos vitimizados pela procrastinação: nunca temos tempo de fazer tudo o que precisamos para cumprir com a promessa de que seremos protagonistas excepcionais.

O problema é que um ponto central de qualquer projeto de vida é a possibilidade de revisarmos nossas decisões e estratégias com atenção e tranquilidade, refletindo detidamente sobre aquilo que estamos fazendo. A pressa nos impede de analisar quais coisas são realmente importantes para nós e quais são as nossas prioridades.

Sem tempo o suficiente para investigar a motivação por trás de cada tarefa cotidiana, desperdiçamos muito de nosso tempo em atividades que podem ser valorizadas socialmente, mas que intimamente significam muito pouco para nós. Mais que isso, sem podemos nos dar ao luxo de perder tempo, deixamos de ter direito ao ócio necessário à criatividade e à fruição dos prazeres.

6- O HIPERCONSUMISMO

O filósofo francês Gilles Lipovetsky cunhou o termo hiperconsumo. Seríamos, neste momento da história, não meros consumidores, mas hiperconsumidores. Em uma estrutura na qual o crescimento econômico depende do consumo crescente da população, estamos todos inseridos numa dinâmica social baseada na compra contínua. Se pararmos de consumir febrilmente, há um colapso da economia.

Não há nada de essencialmente errado com o consumo. O mercado de consumo tem sim seus espaços legítimos de atuação. Porém, a partir de 1970, segundo Lipovestky, ingressamos na fase do hiperconsumo. Trata-se de uma fase essencialmente subjetiva, pois os indivíduos desejam adquirir objetos não pela sua utilidade ou necessidade, mas para aliviarem sua ansiedade de aceitação e integração na coletividade.

Os produtos são consumidos enquanto ato de expressão da individualidade e do estilo de vida do hiperconsumidor. Compramos produtos, mas estamos em busca de sensações, vivências e a construção de uma imagem social que nos traga prestígio.

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Gastamos pequenas fortunas em smartphones para não utilizarmos sequer 20% de sua capacidade computacional. Olhamos para as avenidas engarrafadas de nossas cidades e vemos potentes utilitários transportando apenas uma pessoa, o motorista. A construção social da moda e da tendência garante que roupas ainda em perfeito estado sejam enfiadas no fundo do guarda roupa, obrigando-nos a comprar novas roupas que nos protejam da ridicularização social.

O conceito de obsolescência programada, a noção de desvalorização dos bens de consumo adquiridos e o status social associado a novas versões dos mesmos produtos assegura que tenhamos que trocar de carro, smartphone, televisão e computador com uma frequência que é conveniente ao sistema de produção atual, mas irracional do ponto de vista do consumidor e da capacidade de exploração do meio ambiente.

7- A IRONIA

“Não se engane, a ironia nos tiraniza”, vaticinou o escritor americano David Foster-Wallace em seu ensaio E Unibus Pluram. E seu alerta precisa ser levado a sério.

Ironia consiste essencialmente em querer dizer coisa distinta daquela que está sendo expressamente dita, causando o efeito de humor. Portanto, a ironia flerta com a mentira e, ao lado do conceito de narrativa, é outra forma eficaz de deteriorar socialmente o valor da verdade em nossa sociedade. Mas a ironia é ainda mais nociva, pois não para seu trabalho corrosivo por aí – a ironia mina a própria capacidade do indivíduo vivenciar e expressar socialmente sentimentos verdadeiros e significativos.

Não apenas a sinceridade e a paixão estão hoje fora de moda, alerta Foster-Wallace, mas atualmente é sinal de distinção social e de inteligência estar levemente entediado e ostentar uma leve, cínica, desconfiança sobre todas as coisas: expressões faciais, gestos e comentários que informam, com ar de superioridade, que “já vi de tudo nesse mundo”, que “sei que nada é o que parece ser” e que “acho tudo isso que você leva tão a sério muito engraçado”.

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A ironia que começou como um espírito de vanguarda no passado, do qual dotadas as pessoas mais inteligentes e sagazes, tornou-se agora uma cultura de massa. Os meios de comunicação, segundo Foster-Wallace, utilizam elementos do pós moderno como a metalinguagem, o absurdo, o sarcasmo, a iconoclastia e a rebelião e os modela para fins de consumo.

A partir de então, a ironia, que antes era um instrumento fortalecedor do espírito contra os dogmas e as crenças sacralizadas mas opressoras, tornou-se uma força debilitante do próprio espírito humano. Pois a ironia é a forma irreverente de o desprezo anunciar que está chegando.

Citando o poeta americano Lewis Hyde, Foster-Wallace expõe que “a ironia tem uma utilidade apenas emergencial, e estendida no tempo, torna-se a voz do prisioneiro que passou a gostar de sua cela”. Ela perde seu potencial contestador e torna-se uma forma sarcástica de conformar-se e adaptar-se a tudo aquilo que nos limita. Pois a ironia também atinge as aspirações a gestos heróicos e elevados sentimentos.

A ironia, embora realmente prazerosa, tem uma função essencialmente negativa, pois é crítica e desconstrutiva, “boa para limpar o terreno”. Porém, a ironia, após seu trabalho de destruição e depuração, é incapaz de construir algo verdadeiro, é inábil em propor a criação de algo que substitua, e para melhor, aquilo que ajudou a destruir.

contioutra.com - As 7 doenças que estão matando nossa humanidadeVictor Lisboa é editor de Ano Zero, colunista do Papo de Homem e autor do blog Minha Distopia. Escreve não por achar que tem vocação ou talento, e muito menos com a pretensão de dizer algo importante. O problema é de outra ordem. É descaramento, é o prazer de se deixar levar por uma compulsão. Isso porque, de todas as perversões toleradas em sociedade, a mais inofensiva é escrever. Deixem que abuse, portanto.

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Esse artigo foi publicado originalmente no blog Tempo de Consciência- Ano Zero e está reproduzido no CONTI outra com a autorização do autor.

A imagem de capa é uma obra surrealista do artista JACEK YERKA.

– Quando parei de fumar (por Luisa Destri)

– Quando parei de fumar (por Luisa Destri)

Por Luisa Destri

Passei algum tempo me perguntando quando eu poderia dizer que parei de fumar. Só me atrevia a contar que estava sem fumar, ou estava parando. A sensação de fragilidade era imensa: a qualquer momento eu poderia escorregar, ceder a uma tragada – e então, no encontro seguinte com aquela pessoa a quem eu havia contado a novidade, seria o caso de admitir, cabisbaixa, com um cigarro na mão, Pois é, eu tinha parado, mas agora voltei.

Nessa mesma altura, porém, quando eu estava em um grupo de amigos fumantes, ficava ansiosa para que percebessem espontaneamente a mudança. Na minha fantasia, diriam, surpresos, Nossa! Você não está fumando! Nos encontros reais, jamais suportei a espera, e infalivelmente me adiantei: “Vocês não repararam que eu não estou fumando?”

O primeiro sinal do limite que eu procurava veio de um ex-fumante. Quando você parar de contar os dias em que está sem cigarro, aí acredito que você parou, ele disse. Fiquei um pouco enfurecida com a falta de confiança em mim, e quis me justificar: “Isso não quer dizer nada!. Você sabe que sempre fui assim, de marcar as datas, e infelizmente sou uma pessoa que sabe fazer contas.” No meu mais fundo, porém, uma delicada intuição nascia, querendo lembrar a data da minha primeira paixão. Estava certa de sabê-la… (Tão boa com o calendário, eu no entanto não lembrei.)

A decisão de parar e fumar surpreendeu a mim própria, e foi preciso conviver alguns meses com ela. Havia mais de dois anos, desde 2012, que eu vinha mudando a minha relação com o cigarro, a partir de um pedido do meu companheiro, não fumante, para que eu não fumasse dentro de casa. Trabalho em casa, e senti muita dificuldade para encontrar a concentração sem o apoio do cigarro. Em primeiro lugar, porque interpor dificuldades entre a vontade de fumar e a ação por vezes involuntária de acender um cigarro é ato penoso. Vai contra o hábito, contra o vício, contra a sensação de que é preciso sempre ceder às nossas vontades. Depois, porque decerto implicará redução no cigarro, o que fumantes e ex-fumantes sabemos todos ser um sofrimento inclusive corporal. Por sorte, havia a varanda, e eu poderia levar o livro com o qual estivesse trabalhando no momento. Tudo complicava quando se tratava de tarefas no computador – para resumir: foi uma época em que aumentei muito as horas de leitura.

Nos meses seguintes, dois fatores me fizeram dar o passo adiante. Minha mãe, fumante havia mais de 30 anos, teve um infarto. O ataque foi sério, embora não tenha deixado sequelas. Ela, que fumava dois maços de cigarro por dia, ouviu o alerta: saiu do hospital e não voltou a fumar. Entre todos os sentimentos, alguns contraditórios, despertados por uma situação assim, ficou para mim a admiração pela força de vontade dela.

O segundo estímulo veio novamente de meu companheiro: mais à vontade na nova rotina, por que não cigarro aumentar o intervalo entre um cigarro e outro? Até então a média devia ser de uma hora, mais ou menos; eu me esforçava para passar duas horas sem fumar, e de maneira alguma me permitia fumar antes de completar uma hora e meia do último cigarro.

Como estratégia, eu anotava no meu telefone, que estava sempre comigo nessa hora, o horário do cigarro. Não é difícil imaginar o quanto essa tirania sobre mim mesma me custou. Minha concentração durava em geral uma hora; para não fumar antes do prazo combinado com o meu próprio controle, inventava tarefas relacionadas ao cuidado da casa. Eu era capaz de trabalhar durante a primeira hora, mas depois precisava de outras distrações para resistir à vontade de fumar. Nunca a casa ficou tão limpa e arrumada, as roupas sempre lavadas, a comida feita… Minha atividade intelectual, por sua vez, começou a desandar.

Devo ter passado dois meses fumando menos de dez cigarros por dia. Eu andava ansiosa, havia começado a engordar e mal trabalhava na minha tese. Concluí que não valia a pena me torturar: quando decidisse parar de fumar, eu cortaria os cigarros; aquele modo velado de ir parando de fumar não funcionava para mim. E parar estava no meu horizonte, mas não ainda nos meus planos.

Embora não tenha lembranças claras, me arrisco a dizer que, por força de um mecanismo compensatório, passei um tempo fumando basicamente o dobro. Até que precisei voltar, agora com meu companheiro, para a casa de minha mãe. Eu havia me mudado de lá com a fumaça correndo solta: ela no escritório dela, eu na sala, ambas fumando e cada qual trabalhando no computador. Ao voltar, eu encontrava uma mãe ex-fumante e um lugarzinho reservado para mim na varanda.

A decisão de parar começou a se fortalecer em mim. Ou melhor, começou a se formar. Só me senti capaz de tomá-la, porém, quando, mais de um ano depois, entrevi a possibilidade de criar uma narrativa. Eu faria uma viagem de fim de ano, que não só me daria uma quebra na rotina como ofereceria o correlato objetivo perfeito: eu visitaria dois países diferentes, mas vizinhos, e efetivamente cruzaria fronteiras. Por orientação de minha médica, passei a frequentar o grupo de apoio da Unidade Básica de Saúde.

Este o argumento do meu roteiro: como a primeira parte da viagem incluía visita a vinícolas, eu seria ainda fumante e tomaria o vinho sem preocupações; na segunda, o cigarro ficaria para trás – como o vinho, provavelmente. Entre uma e outra haveria, além da fronteira, o adesivo de nicotina.

No meu último dia como fumante, fiz questão de satisfazer as minhas vontades com uma extravagância, um almoço em uma vinícola, com direito a degustações. Fumei sem me preocupar em controlar, mas sem acender um atrás do outro – de acordo com a vontade, em resumo. Para amenizar o sofrimento provocado pela ideia de deitar me sabendo não fumante, no dia seguinte fumei depois do café da amanhã. Alguns minutos depois, embarquei num ônibus, para uma viagem de 6 horas, em que cruzaria os Andes. Foi dentro desse ônibus que pedi ao meu companheiro que colasse o adesivo nas minhas costas. Pronto, era aquilo, já não poderia fumar. Chorei…

Demorei mais de uma semana para sentir as grandes dificuldades. Eu tinha vontade de fumar, mas a controlava bem, com recursos que, para além de medicamentos, fui encontrando segundo a necessidade (os mais valiosos eram certamente a água e o nori – a alga marinha usada para fazer sushi, que devorava com certa compulsão). Meu problema foi sobretudo emocional: até eu passar um insuportável domingo de grande irritação e muito choro, não entendi que aí estava o cerne da questão.

Nesse fim de semana, eu havia já tomado um susto. Meu companheiro vinha bravamente resistindo à Bill-Hicks-1 insistência com que eu dirigia a ele a irritação decorrente da falta de nicotina. Num sábado, porém, como era de se esperar, também ele se irritou. Desmoronei. Afastei-me dele, sentei-me sozinha na sala e me desesperei. Normalmente, após a briga, eu fumaria um cigarro, me acalmaria e passaria horas ou dias sem falar com ele. Naquele momento, eu não iria fumar, não queria insistir em irritá-lo, nem tinha condições psicológicas de suportar o jogo. Nada haveria a fazer senão enfrentar a situação e me acalmar, junto com ele.

Tenho vivido o processo como a mais dialética das minhas experiências – possivelmente porque parar de fumar, sendo a solução para um problema, não é entretanto algo livre de problemas. Nesse caso, a irritação se devia à falta da nicotina; mas só aprendi a enfrentar a irritação porque não a trataria com nicotina. Se parar de fumar, por um lado, criou uma situação problemática, não fumar permite romper aos poucos com um padrão que talvez não seja o melhor para mim mesma.

Parar de fumar é muito difícil. Ao menos no meu caso, mexe com o que eu sou e com a imagem que sempre fiz de mim mesma. Se cortar o cigarro é em algum nível negar um prazer a mim mesma (até porque a falta dessa satisfação gera respostas como frustração, irritação), ao procurar formas de lidar com o vazio deixado pelo rompimento com o vício, eu me pergunto – “fumar um cigarro agora vai melhorar algo?”. Quando escuto minha própria resposta, sou obrigada a reconhecer que convém fazer algo a respeito – a respeito do vazio, e não da tentação.

No caso do desentendimento com meu companheiro, minha saída foi encontrar o tom certo para começar a desfazer o incômodo gerado pela minha insuportável irritação. Em termos mais gerais, trata-se de desenvolver clareza e respeito em relação às situações e a mim mesma. A cada dia percebo um domínio em que não vinha ouvindo a minha própria voz – situações em que é preciso dizer não a várias solicitações exteriores, a fim de que eu possa escolher a mim mesma, apesar de todos os vazios.

Desde que parei, é verdade, venho me sentindo menos cindida, venho me sentindo mais próxima de mim mesma. Já não é tão fácil esconder-me das minhas verdades – já não há, afinal, fumaça para ocultar os meus desejos. Falo desejo em sentido forte: não a vontade de fumar, que essa vem, mas, desde que entendi que parei de fumar, rapidamente desaparece.

Agradeço o grupo antitabagismo da UBS Manuel Pêra: o médico responsável, dr. Rodrigo, a psicóloga Grazi e os colegas, pelo aprendizado na partilha.

O artigo foi publicado nesse espaço com a autorização da autora.

Amar é pra quem tem coragem. O amor é um desacato à autoridade dos palermas.

Amar é pra quem tem coragem. O amor é um desacato à autoridade dos palermas.

Um desvario. É disso que se trata. O amor é uma sandice. Um desvio do caminho de dor em que a vida mergulha de quando em vez. É isso, sim. No meio de tanta estupidez e medo e indiferença, vem alguém tomado de coragem, declara seu amor em voz alta e sai sorrindo um parque de diversões e seus carrosséis, rodas gigantes e montanhas russas.

O amor é a maior ousadia da vida. É quando ela, abusada que só, ignora a morte à espreita, realiza, avança, provoca, acontece. Quem ama quer acordar mais cedo e viver até tarde. Amar é se dar conta de que estamos vivos. É a intenção sagrada que nos põe sobre os pés de manhã, a saudade honesta, o trabalho de cada dia. É a noite, a lua e o susto de não estar mais só.

Amar é um desacato à autoridade dos pessimistas, mal amados, donos da verdade, descrentes da felicidade, vigias da vida alheia e toda torcida contra. Quem ama desobedece à lógica do um contra o outro, a fórmula do cada um por si, o vício odioso do confronto.

Sentir amor é o absoluto inesperado em tempos de pré-disposição para a maldade. Quem tem bravura para dar e receber amor desafia a danação, a selvageria e a miséria. Tomados de ímpeto amoroso, os amantes esquecem até que um dia também vão morrer. E quando por acaso se lembram, repousa mansa em sua lembrança a certeza de que ao morrerem permanecerão vivos do outro lado, trabalhando pela eternidade de seu amor.

Tem gente que escolhe sofrer, penar, regar sentimentos daninhos, cultivar pragas que desgraçam o roçado aos poucos, em silêncio. Eu escolho viver. E o amor há de ser isso mesmo, quem sabe? O ofício de cuidar da vida. De plantas, flores, sonhos, pessoas. Amar é cuidar bem da vida. Limpar-lhe as folhas, molhar a terra, fortalecer suas raízes. Proteger, respeitar, servir. Florescer.

Noite dessas, do meio de sua solidão, alguém há de nos escolher para amar. Vai tomar nosso coração nas mãos e nós entregaremos o resto. Depois seguiremos juntos, preparando nossa horta, planeando nossa obra. Rompendo firmes nossos transtornos. Construindo possibilidades, trabalhando pela vida que é boa agora e há de ser melhor amanhã.

Porque, afinal, quem ama não tem medo de trabalhar pelo amor. E o amor dá trabalho! Viver e amar dão muito, muito trabalho.

O luto antecipatório e o luto pós-morte

O luto antecipatório e o luto pós-morte

Por Paulo Vasco

Apenas tive plena noção da morte do meu pai cerca de 1 mês depois desta ter ocorrido. Acentuou-se, perante um gesto mal intencionado de “um familiar” do seu sangue. Nessa altura, já era do meu conhecimento que o meu 1.º luto (antecipatório) tinha-se iniciado pouco tempo depois de me confrontar com o seu tipo de doença. Pensei que com a sua morte, este luto cessaria e depressão alguma se esbateria. Afinal, no caso de doentes terminais, entre outros,  muitas são as situações de 2.º luto: o luto pós-morte!

Vamos descobri-lo.

No caso das enfermidades graves, como o mieloma múltiplo do meu pai, em que há um envolvimento com os cuidados do enlutado, há uma conceção do processo antecipatório, ocorrendo o luto quando o ser ainda vive em virtude da debilidade física e psíquica. O sentimento ambíguo, de receio e vontade de que a morte venha aliviar o sofrimento é comum neste estado. Em alguns casos, a energia psíquica é centralizada no doente, durante um longo período, o que pode causar um vazio para os seus familiares, quando surge sua ausência. Parte destes sentimentos é consciente. Outros, mais dolorosos, permanecem inconscientes (Kovács, 2002).

O termo “Luto Antecipatório” foi utilizado, pela primeira vez, por Lindemann, por meio da sua observação de esposas de soldados que iam para a guerra. Posteriormente, esta denominação foi utilizada para pessoas que recebem o diagnóstico de doenças terminais e o envolvimento da família nesta perda. Seja prolongada ou repentina, quando em decorrência de doenças prolongadas, esta é considerada stressante para as famílias e desencadeia um mecanismo de enfrentamento diferente. Quando uma pessoa morre inesperadamente, os membros das famílias carecem de tempo para antecipar e prepararem-se para a perda, para lidar com assuntos inconclusos ou, em muitos casos, até para dizer adeus. Quando o processo de morrer é prolongado, os recursos financeiros e a prestação de cuidados da família podem-se esgotar, e as necessidades de outros membros são colocadas suspensas. O alivio com o fim do sofrimento do paciente e da tensão familiar costuma vir carregado de culpa e cada vez mais as famílias estão no penoso dilema: em manter ou não o prolongamento, a manutenção da vida. Por se tratar de pacientes crónicos com doenças terminais, sem recursos para cura e à mercê de dores crónicas, perdem a esperança de uma possível recuperação.

Rando (2000) identificou diferentes opiniões em seus estudos sobre o tema por outros pesquisadores, sendo que, para uns o efeito do luto antecipatório pode ser positivo, pois há oportunidade de uma prevenção primária de modo a evitar o luto complicado na pós-morte, e outros julgam negativo, pois este pode conduzir a uma perda prematura. Contudo, a autora afirma que se trata de um fenomeno real e que estas discrepâncias são frutos de diferenças nas definições, dadas as falhas na apreciação da complexidade do fenómeno. A autora distingue ainda o luto pós-morte quando se discute o fenómeno psicossocial. Neste caso, um exemplo é a ambivalência dos sentimentos dos familiares e do enlutado de negação e culpa.

O luto antecipatório pode ser entendido, analisado e experimentado por quatro perspetivas distintas, sendo cada uma pertinente a cada pessoa que o experimenta:

1. Perspectiva do paciente: sendo ele a figura central do drama, desempenha o papel do doente e do enlutado;
2. Perspectiva dos familiares: refere-se à rede social com quem o paciente tem intimidade;
3. Perspectiva de outras pessoas: as pessoas que tem algum tipo de relação, porém pouco interesse e vínculo com o paciente enlutado;
4. Perspectiva do cuidador: para este, o luto pode variarconsideravelmente, de acordo com o nível de e significado do relacionamento dele com o paciente.

Analisando todo contexto, cada elemento que participa deste luto precisa ser ouvido e respeitado. Cada um destes possui pensamentos, sentimentos, valores, princípios e crenças e deve-se ter o cuidado para que isto não influa no tratamento do doente afim deste não sofrer outro choque num momento tão crítico (Fonseca, 2004).

No luto antecipatório há três focos temporais envolvidos: o passado, presente e futuro. Para o paciente nesta situação, o sofrimento de perdas vivenciadas no passado pode retornar, e para o familiar, além de lidar com a conscientização da perda no presente, irá ter de lidar com as perdas futuras diante da falta do ente querido em ocasiões especiais e memoráveis.

contioutra.com - O luto antecipatório e o luto pós-morte
Na luta contra o cancro, o meu pai partiu, no dia 20/11/2014, às 9h.45min…

Adaptado por Paulo Vasco em 18/01/015 de Caterina, M. C. (s/d). O luto: perdas e rompimento de vínculos. Vale do Paraíba: APVP, pp. 17 e 18.

Fonte indicada: Sonhos Desencontrados

Reprodução autorizada para o CONTI outra.

Oscar Wilde

Oscar Wilde

Oscar Wilde (1854-1900), um dos maiores escritores de língua inglesa do século XIX, tornou-se célebre pela sua obra e pela sua muito peculiar personalidade. Sofisticado, inteligente e dotado de uma acutilante opinião sobre os mais diversos assuntos, o irlandês deixou registado em livros de conto, teatro, ensaio e romance muito do que ele vivenciou nos mais diversos círculos sociais europeus. “Não tenho nada a declarar, a não ser o meu génio”, resposta que o esteta direccionou a um segurança, quando este o interceptou num aeroporto. Além do reconhecimento mundial que os seus escritos tiveram, o drama e a tragédia marcaram a vida de Oscar Wilde.

Conhecido pelo seu sarcasmo incisivo, mas proferido com subtileza e ironia, Wilde fo o segundo de três filhos, de Sir William Wilde e Jane Francesca Elgee, um médico oftamologista e uma escritora irlandeses. Nasceu em Dublin, a 16 de Outubro de 1854, no seio duma família protestante, e desde tenra idade que Oscar esteve sempre rodeado por grandes intelectuais. Iniciou os estudos em Dublin, destacou-se nos estudos das obras clássicas gregas e no conhecimento dos idiomas. Ganhou uma bolsa de estudos para estudar em Oxford, permanecendo aí até 1878. Por onde passava, não passava despercebido, seja pelo que comunicava oralmente, seja pelo que a sua linguagem não-verbal e postura revelava. Wilde diferenciava-se dos demais por ter atitudes extravagantes e por ser um extraordinário poeta e dramaturgo, dotado de magníficas e acutilantes interpretações sobre a hipocrisia social e política do final da era vitoriana.

contioutra.com - Oscar Wilde

Criador do movimento dândi publicou a sua primeira obra em 1881, a que se seguiram duas peças de teatro. Em 1883, vai para Paris e frequenta o meio literário local, sendo muito frequentemente convidado para ser orador em tertúlias e palestras. De volta a Londres Wilde casa-se com Constance Lloyd em 1884, e ficaram a morar em Chelsea. Tiveram dois filhos. A partir de 1887 começa a trabalhar como editor no ‘The Woman’s World’ e inicia uma fase de produção literária intensa. Oscar Wilde viu publicado em 1891 o seu único romance conhecido, considerado a sua ‘magnus opus’: ‘O Retrato de Dorian Gray’, onde o autor retrata magistralmente a decadência moral humana. O irlandês defendia o “belo” como única solução contra tudo o que considerava denegrir a sociedade. ‘Salomé‘ (1893) e ‘Um Marido Ideal‘ (1895) foram peças de teatro escritas nessa fase de produção em que o seu intelecto estava no auge. É nesta altura que Wilde conhece Lorde Alfred Douglas (Bosie), um jovem estudante de Oxford. A amizade (posteriormente paixão) entre ambos foi como que um preâmbulo de acontecimentos que fizeram desmoronar a sua fama de intelectual, as suas obras recolhidas e suas peças retiradas de cartaz. Em Maio de 1895, após três julgamentos, Oscar Wilde foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por “cometer atos imorais com diversos contioutra.com - Oscar Wilderapazes”. Foi o pai de Bosie, o Marquês de Queensberry, que levou Oscar Wilde a tribunal. Depois de estar em duas prisões, Oscar é transferido para a Prisão de Reading, onde permanece durante dois anos. No terrível período que passou na prisão, Wilde redigiu uma longa carta ao seu ex-amante, posteriormente publicada com o título ‘De Profundis‘. Após a sua libertação, em Maio de 1897, e com a saúde e reputação arruinadas, Wilde viaja para Paris onde passou o resto dos seus dias, em hotéis baratos e levando uma vida de miséria. Um dos seus últimos escritos foi escrito em forma de poema longo, e sob pseudónimo: ‘Balada do Cárcere de Reading’. A 30 de Novembro de 1900, aos 46 anos, Oscar Wilde morre vítima de meningite. O seu túmulo encontra-se na divisão n.º 89 do Cemitério de Père Lachaise, em Paris, e é um dos mais visitados desse que é um dos maiores e mais famosos cemitérios do mundo. O túmulo foi tombado como património histórico na França. Em 2011 o monumento ganhou uma proteção de vidro que o protege dos beijos de suas admiradoras, garantindo a sua conservação.

Algumas frases de Oscar Wilde:

“Se uma pessoa contar a verdade, é sabido que mais cedo ou mais tarde, vai ser descoberta”.

«As boas intenções têm sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram qualquer coisa foram as que não tiveram intenção alguma.”

“Edições acessíveis de grandes livros podem ser muito interessantes, mas edições baratas de grandes homens são absolutamente detestáveis.”

Indicamos também: O Rouxinol e a Rosa- conto de Oscar Wilde.

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Passagem das Horas, por Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Passagem das Horas, por Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Passagem das Horas

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma ideia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também, Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens. Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.

Fragmento de Passagem das Horas. Álvaro de Campos, 22-5-1916

Fonte indicada: Modos de Olhar

Os irmãos mais velhos se acham mais espertos. E são.

Os irmãos mais velhos se acham mais espertos. E são.

Por JAVIER SALAS

A primeira pessoa a colocar seriamente a questão de saber se os primogênitos são mais bem preparados foi o antropólogo Francis Galton, primo de Darwin e caçula de nove irmãos. Ele havia percebido que muitos cientistas importantes de sua época, final do século XIX, eram os filhos mais velhos de suas respectivas famílias, e suas pesquisas confirmaram a sua tese: na maioria dos casos, tratavam-se, sim, de primogênitos. Naquela época, porém, havia muitas condições que poderiam influenciar para o fato de os primogênitos se dedicarem à ciência. Estudos posteriores, realizados já com o século XX bem adiantado, vieram confirmar a tese de Galton: ao que parece, os mais velhos tendem a demonstrar mais inteligência do que os últimos a aparecerem na família.

Um trabalho publicado nesta terça-feira serve para encerrar o debate e, por sua vez, abrir um outro, mais complicado: a questão de saber se a ordem de nascimento afeta a personalidade dos irmãos. Durante muito tempo, a psicologia considerou que o papel desempenhado por cada um dos irmãos dentro da família acabava determinando a sua personalidade: os mais velhos, responsáveis, dominantes, ansiosos, irascíveis; os menores, sociáveis, vulneráveis, impulsivos. Mas nada disso foi confirmado. Segundo esse estudo da Universidade de Leipzig, publicado no PNAS, a ordem de chegada dos irmãos, ou seja, ser primogênito ou caçula, não determina a personalidade. A diferença é perceptível apenas no nível da inteligência, que, estatisticamente, se revela inferior à medida que se desce a escala fraternal, até chegar ao caçula.

“A principal revelação do nosso estudo é que não detectamos efeitos da ordem de nascimento em nenhuma das dimensões da personalidade, a não ser no aspecto intelectual. Isso não apenas contradiz teorias psicológicas importantes, como também se opõe à intuição de muitas pessoas”, explica o coordenador da pesquisa, o psicólogo Stefan Schmukle. Costuma-se dar por estabelecido que nascer antes ou depois é um fator determinante para moldar as cinco principais dimensões da personalidade: extroversão, abertura para mudanças, responsabilidade, cordialidade e instabilidade emocional.

A psicologia se interessa por conhecer aquilo que determina a personalidade, explica Schmukle, e já se sabe que tanto os efeitos genéticos (“natureza”) como os ambientais (“forma de criação”) são importantes para o seu desenvolvimento. “Muitos psicólogos sugerem que a posição entre os irmãos poderia ser um fator determinante de ordem ambiental, mas os nossos resultados indicam que esse ponto influencia menos do que se acreditava”, defende ele.

Os pesquisadores analisaram três importantes bancos de dados de três países (Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos) nos quais era possível controlar variáveis como o tamanho da família, a idade, a origem e a situação socioeconômica. Ao fazer o cruzamento de dados e informações, eles descobriram uma relação: as pessoas registram 1,5 ponto a mais de quociente de inteligência à medida que subimos a sua posição até chegar no primogênito. Trata-se de uma diferença importante em termos estatísticos, mas irrelevante do ponto de vista prático, sem considerar as reticências existentes quanto à validade desses testes de inteligência. É um dado que reafirma estudos anteriores, como é o caso de um deles, pioneiro, publicado pelaScience em 1973 e realizado entre jovens holandeses.

Diversos autores tentaram dar explicações para isso. A constatação foi analisada tanto a partir de uma perspectiva ambiental, ao considerar que os mais velhos reforçam seus próprios conhecimentos ao ensinar os mais novos, como a partir de uma perspectiva natural, segundo a qual a gestação dos primogênitos possui vantagens em relação às seguintes. Mas ainda não foi possível encontrar uma explicação realmente satisfatória.

O que a equipe de Schmukle descobriu foi, também, uma outra pequena relação existente entre a ordem de nascimento e a autopercepção da curiosidade intelectual: “Os primogênitos eram mais propensos a afirmar que possuem um vocabulário rico e menos dificuldade para entender conceitos abstratos”, explica o psicólogo alemão. Assim, quanto mais velho é o irmão dentro da família, mais preparados eles próprios se veem, atingindo pontuações mais elevadas nos testes de inteligência. São relações muito pequenas, mas que fornecem pistas aos pesquisadores para tentar saber em que medida a personalidade se desenvolve sob a influência dessas relações fraternas de amor e ódio.

Questionado sobre futuras pesquisas a serem realizadas nesse campo, Schmukle arriscou afirmar que “poderia ser possível que a ordem de nascimento afetasse apenas dimensões mais específicas da personalidade, como, por exemplo, a busca por sensações ou tendência a assumir riscos”. “Pode ser que esses efeitos só sejam percebidos dentro da própria família, por isso é que estou interessado em analisar dados sobre adolescentes que ainda vivem no seio da família, para complementar o nosso estudo”, que analisou adultos de diferentes faixas de idade.

Fonte indicada: El País

As transformações do sofrimento psíquico

As transformações do sofrimento psíquico

No Café filosófico CPFL, o psicanalista Christian Dunker analisa como a abordagem das dores psíquicas muda de acordo com o contexto histórico. “Até Freud, boa parte do sofrimento era interpretado segundo duas grandes chaves: ou era um problema médico ou era um problema moral”, afirma, ressaltando que a angústia até então não era reconhecida. Em Transformações do sofrimento psíquico, Dunker traça um panorama sobre as mudanças na forma de reconhecer e tratá-lo nos últimos cem anos.

Confira a apresentação:

Fonte indicada: Mente e Cérebro

Uma alma enjaulada faz o corpo sofrer

Uma alma enjaulada faz o corpo sofrer

Uma palpitaçãozinha, o peito começa a apertar, as mãos suam… e ainda há tempo para tentar entender o que se passa. Levei um susto? No que acabei de pensar?  Que preocupação ronda secretamente meus pensamentos? Por que de repente me sinto assim, prestes a cair de um despenhadeiro?

Em seguida, um descompasso generalizado. Respira, respira, respira fundo! E uma bruta sensação de desamparo, de solidão, de que as pernas pararão de obedecer, o ar vai faltar . Vou desmaiar, vou cair, vou morrer, vou sucumbir.

Mais uma crise de ansiedade, que vem como uma tromba d’água, arrastando tudo o que vê pela frente, despertando o exército de inseguranças e medos, fazendo as veias saltarem, os olhos esbugalharem e a alma assombrar-se.

Como uma sensação dessas se instala na gente, sem aviso, sem sinais, sem causas óbvias muitas vezes? Será que todo mundo já sentiu isso uma vez ao menos?

Me espanto todas as vezes, que acontece. Sim, acontece comigo e eu morro de medo. É incontrolável demais, fico com ânsia de mandar minha alma correr para fora do corpo.  Penso que ninguém imagina a dimensão desses monstros a não ser quando capturados por eles.

Crise de pânico, de ansiedade, piti, chilique, surto… que importa o nome do monstro?  O que me interessa saber de tudo isso se não for para aprender a me proteger, me resguardar, salvar minha sanidade das bocadas desse bicho?

Mais uma enfermidade moderna, mais uma consequência de emoções e paixões descontroladas de nossa época, dos passos descompassados, dos medos e sustos, neuroses e paranoias muito bem alimentadas. Talvez seja o preço que estamos pagando pelo progresso, pela vida que já deixou há muito tempo de ser construída para humanos e sim para máquinas; Talvez estejamos nos fragilizando de susto, com tantas tecnologias, com tanta gente no mundo, com a correria e atraso constantes . Talvez seja qualquer coisa que não conseguimos entender agora, porque estamos doentes de ansiedade…

Talvez, em algum lugar dentro de nós, more uma pessoa tranquila, dócil, bem humorada e esperançosa, mas que está trancafiada sobrevivendo com o mínimo, calada e ameaçada, pois não é a pessoa que pode se apresentar à sociedade dos dias de hoje. Talvez tenhamos apagado e rabiscado tanto a nossa personalidade para poder nos posicionar bem na vida, que por fim, um dia, os defeitos começam a sair, como os suores e tremores. Pode ser a pessoa interna, a alma verdadeira, implorando para sair.  E nessa seara, cada um sabe a porta que consegue abrir.

Um vídeo para pensarmos sobre o tema…

O ciúme, uma intrigante explanação de Rubem Alves

O ciúme, uma intrigante explanação de Rubem Alves
“Ela tinha a beleza tranquila da maturidade.
 Alguns fios de cabelo branco davam ao seu rosto um encanto especial.
 De hábitos domésticos e simples, um de seus prazeres era assentar-se numa poltrona e entrar na bolha que a leitura cria.
Quem lê está num outro mundo, muito distante.
O marido a observava de longe. Olhos que observam são aqueles que olham quando o outro não está olhando. Seu olhar era o de apaixonado que desconfia, olhar de ciúme. Os olhos do ciumento vigiam.
Vigiam gestos, movimentos, horas, sorrisos.
Vigiam porque as modulações silenciosas e distraídas da pessoa amada podem conter revelações sobre aquilo que ela esta pensando.
O ciumento suspeita que o ser amado lhe esconda alguma coisa.
Olha na esperança de ver algo escondido, de entrar dentro do segredo do outro. O ciumento detesta os pensamentos.
Por mais que os vigie, eles estão além de sua vigilância.
Ele queria adivinhar seus pensamentos.
E a sua vigilância se exacerbava quando ela sorria ou ria.
Como explicar este sorriso se ele, o marido, não estava dentro do livro?
Ela não precisava dele pra ser feliz.
Porque ali, mergulhada no livro, o marido não existia…”
“O ciúme nasce quando se toma consciência de que a pessoa amada é livre. Ela é um pássaro pousado no ombro.
Nada o prende. Pode voar quando quiser.”

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