Por que a criação dos nossos filhos está intimamente ligada ao futuro do nosso país?

Por que a criação dos nossos filhos está intimamente ligada ao futuro do nosso país?

Política não é a especialidade dos psicólogos; comportamento humano, sim. Então, convido vocês a refletirem comigo sobre nós mesmos. Vou descrever comportamentos amplamente vistos na nossa cultura e que, se não modificados, vão continuar gerando, entre outras consequências, a permanência do atual cenário político do nosso país.

Vejam a seguinte descrição do nosso povo, feita por ingleses que viveram aqui entre 1800 a 1900: “Povo alegre e simpático, mas, extremamente preguiçoso e ignorante. Até o serviçal tem serviçais. Ninguém gosta de fazer um mínimo trabalho braçal”. O trecho é de um livro que fala sobre a presença inglesa no Brasil colônia. Parece que temos passado essa cultura de pai para filho.

Criamos nossos filhos sem ensiná-los a tirar o prato da mesa, a ajudar nas atividades domésticas, a arrumar a própria cama. Impedimos que colaborem, deixamos de ensinar que cuidar de si e fazer sua parte no convívio familiar é regra, e isso vai valer para quando ampliarem as relações. Ensinamos que não é preciso fazer nada, a roupa surge milagrosamente limpa na gaveta, a comida aparece em um passe de mágica pronta na mesa e os pratos se lavam sozinhos – sendo assim, quando eles crescem, continuam se fazendo de mortos e esperando que alguém faça as coisas para eles. Fabricamos futuros adultos preguiçosos e folgados. Somos mesmo um povo que busca serviçais para tudo, achamos lindo colocar gasolina no próprio carro, quando estamos a passeio pelos Estados Unidos da América, mas aqui, não somos capazes nem de lavá-lo. Ensinamos aos pequenos, desde muito cedo, a expressar sinais de pertencer a uma classe social privilegiada e eles crescem se achando “a realeza”.

Enquanto cidadãos, achamos que o nosso tempo e o nosso espaço vale mais que o dos outros. Furamos fila, paramos nossos carros em locais proibidos. Não temos senso algum de coletividade. Achamos lindo andar de metrô no exterior, mas, na nossa vida cotidiana, somos incapazes de andar de transporte público ou até mesmo de revezar as idas de carro ao trabalho com um companheiro. Vivemos para ostentar, para usufruir, e só. Brasileiros se mudam para casas enormes, cuja parte externa está linda e impecável, porém, dentro delas, não há lustres nem conforto algum, estão inacabadas – mas, nossa preocupação é com o que o outro vê, mesmo que isso custe dormir em um quarto cujo chão ainda está no contrapiso.

Não seguimos as regras, tampouco as leis. Chegamos atrasados nos compromissos. Atendemos nossos clientes e pacientes com duas, três horas de atraso. Não separamos nem sequer o nosso lixo. Pagamos por benefícios, por exclusividades que deveriam ser nossos direitos. Expomos crianças de três anos ao que é uma roupa de grife e ensinamos a elas que as pessoas são melhores quando as usam. Usamos réplicas de roupas e acessórios das referidas grifes mesmo sabendo que são produto de trabalho escravo, infantil e que nenhum imposto é pago pelos “fabricantes” delas. Somos um povo puxa-saco e bem pouco afetivo. Gostamos de quem tem, não de quem é alguma coisa. Pensamos ser melhores que os outros, tudo tem que girar ao nosso redor e tudo tem que ser na hora em que queremos.
Não aceitamos restrição, só pensamos nos privilégios, criticamos com maestria os políticos do nosso país, mas, oferecemos dinheiro ao garçom para que ele deixe o uísque da festa na nossa mesa. Isso é pagamento de propina, é corrupção, não é? Comportamentos assim são vistos por nossos filhos!

Só conseguimos enxergar o nosso umbigo. Furtamos roupão de hotel, copos de bares e qualquer coisa que esteja ao nosso alcance. Gostamos de tudo que é grátis, porém, não usamos o sistema único de saúde. Não gostamos de ler, nem de arte. Dividimos os locais onde frequentamos como se vivêssemos em castas indianas. Olhamos para os problemas sociais gravíssimos do nosso país com muita pena, muito pesar, mas, só. Nosso mundo é outro e assim, deixamos de passar conceitos básicos de solidariedade, de convívio, de educação e de realidade aos nossos filhos.

Daqui a vinte anos, quem serão os responsáveis pela administração pública do nosso país? De nada adianta matricular seu filho na melhor escola do mundo, se continuar agindo como se a luz amarela do semáforo fosse para avançar. De nada adianta esse inconformismo todo com a situação política do nosso país, se nós continuarmos agindo como idiotas. Primeiro, precisamos administrar nossa vida e nosso lar com honestidade, dignidade, bom senso, e acima de tudo, com caráter. Enquanto a ética, as leis e as regras só valerem para o outro ou para o nosso benefício, nada vai mudar.

Revisado por Flávia Figueirêdo.

Hirokazu Yoshikawa: “A boa educação começa ao nascer”

Hirokazu Yoshikawa: “A boa educação começa ao nascer”

Por FLÁVIA YURI OSHIMA

Especialista em infância de Harvard diz que educar os bebês, desde os primeiros dias até os 5 anos, é a melhor forma de combater os efeitos da pobreza no aprendizado.

O psicólogo americano, de origem japonesa, Hirokazu Yoshikawa escolheu estudar os impactos da pobreza e da imigração na educação. Chegou, então, a outro ponto de interesse: a infância, na faixa etária que vai do nascimento aos 5 anos de idade. Cuidar dos pequenos nesses primeiros anos de vida, afirma ele, é a forma mais eficaz de diminuir e até neutralizar os efeitos negativos que a pobreza causa na capacidade de aprendizado e no desenvolvimento das crianças. Professor da Faculdade de Educação de Harvard e da Universidade de Nova York, Yoshikawa esteve no Brasil para participar do congresso sobre infância da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Ele conversou com ÉPOCA sobre a importância de cuidarmos dos imigrantes, que chegam de outras nações ou que se mudam de áreas isoladas para as grandes cidades de um país. A negligência com os imigrantes, diz Yoshikawa, pode alimentar crises sociais e educacionais difíceis de ser remediadas.

ÉPOCA – Qual o impacto da pobreza na educação?
Hirokazu Yoshikawa –
A pobreza tem um impacto enorme na educação e na capacidade de aprendizado da criança, por diversas razões. A mais evidente é a falta de dinheiro dos pais para pagar melhores escolas e comprar livros e brinquedos que a estimule. Sabemos que a boa qualidade da pré-escola tem um papel importante no desenvolvimento da criança. Pais de baixa renda têm pouco acesso a instituições como essas. E há impactos que vêm dessa circunstância. Um dos mais relevantes é o estresse dos pais que trabalham muito e, ainda assim,  não têm dinheiro para pagar contas. A falta de disposição gerada por esse estresse é um impedimento maior para os pais participarem da vida dos filhos do que a falta de tempo em si.

ÉPOCA – É possível tirar esse atraso?
Yoshikawa –
Nunca é tarde para ajudar a remediar os efeitos de problemas no desenvolvimento das crianças. Mas há evidências de que, quanto mais demoramos para fazer isso, mais caro custa para a sociedade recuperar essas crianças. Por isso o investimento nos primeiros anos de vida é tão importante. Se esperarmos para dar oportunidades às crianças, não só pagaremos mais caro, como também correremos o risco de não ser tão eficazes nos resultados.

ÉPOCA – O que o senhor observou em suas pesquisas que permite dizer que a criança teve uma educação eficaz?
Yoshikawa –
Observamos muito mais que notas. Acompanhamos essas crianças na vida adulta para saber se elas conseguiram ter uma participação bem-sucedida na sociedade. Não se trata de ver se elas conseguiram emprego, mas se elas foram bem-sucedidas em disputar boas oportunidades de trabalho nas áreas que escolheram, sair da pobreza e levar uma vida saudável. Nos últimos 30 anos, uma série de estudos mostrou que a eficácia dos investimentos nos primeiros anos da infância é entre seis e oito vezes maior do que a de programas que procuram remediar lacunas de aprendizado em idades mais avançadas. Um grande estudo, o Abecedarian, acompanhou um grupo de jovens que recebeu cuidados de qualidade nos primeiros anos de vida e outro que não recebeu. Os resultados mostram, entre outros dados, que a incidência de encarceramento na vida adulta diminuiu em um terço no primeiro grupo.

ÉPOCA – O senhor pode dar exemplos do que seriam esses cuidados de qualidade?
Yoshikawa –
A questão central é ter adultos bem treinados em dar atenção para os pequenos, ao mesmo tempo que saibam ceder espaço para que eles exerçam a criatividade e a vida social com estímulos saudáveis. É claro que ter um espaço físico arejado, limpo e seguro também é importante, mas sabemos que o mais importante é preparar os adultos que passam mais tempo com as crianças. Dois programas de monitoria implantados em Boston e em Nova York mostraram resultados importantes na melhora  das creches. A monitoria consiste em ter um tutor que acompanha o tempo de professores e cuidadores com as crianças pequenas e faz sugestões de como conduzir a interação entre elas. Numa briga, em vez de dar bronca, o tutor estimula a criança a assumir o lugar do colega e a imaginar o que fazer no lugar dele.  A monitoria é uma ideia muito simples e altamente replicável. Os resultados vistos no desenvolvimento das crianças foram tão impressionantes que o sistema será implantado no maior programa americano para a pré-escola, que cuida de 900 mil crianças por ano.

ÉPOCA – Inúmeras pesquisas já mostraram a importância da participação dos pais na educação da criança para que ela se desenvolva melhor. Esses estudos também mostraram a dificuldade de envolver as famílias de baixa renda. Como resolver esse problema?
Yoshikawa –
Nos últimos seis anos colocamos o foco nessa questão. Criamos um programa de cuidados para crianças de 0 a 5 anos de famílias pobres, que inclui diversas ações para aproximar as famílias. Temos programas de capacitação para os pais e cursos de proficiência em inglês para imigrantes. Nesses cursos, para ensinar a língua, usamos conteúdo que mostra a importância da educação infantil. Chama-se Two Generation Program (Programa Duas Gerações) e tem resultados incríveis no envolvimento de famílias com a vida das crianças. Há elementos desse programa que poderiam ser incorporados aos sistemas de educação para jovens e adultos, que todos os governos têm. Por que não aproveitar as aulas de alfabetização, de história e de sociologia para adultos para ministrar conteúdos sobre a educação de crianças? Muitos alunos desses cursos são os pais de crianças que não vão para a pré-escola, ou são os cuidadores de creches ou os empregados domésticos. Enfim, são as pessoas que passam mais tempo com as crianças pequenas.

ÉPOCA – O senhor publicou um livro, Immigrants raising citizens (Imigrantes criando cidadãos), sobre a vida de crianças de imigrantes. O que o senhor mostra no livro?
Yoshikawa –
Criamos em Harvard uma pesquisa que consistiu no acompanhamento da vida de 350 famílias imigrantes nos Estados Unidos. Queríamos saber como é o desenvolvimento dos filhos de imigrantes pobres e em situação ilegal, sem visto de residência. O livro mostra os problemas que ocorrem com imigrantes de forma geral, não só os ilegais.

ÉPOCA – Quais foram as conclusões?
Yoshikawa –
Famílias pobres de imigrantes criam seus filhos com muito menos suporte do que famílias pobres de não imigrantes. Seus filhos têm direito de usar os serviços sociais, participar de programas de suporte à infância tanto quanto qualquer outro, mas, por medo de serem deportados ou por não estarem ambientados e informados, os pais não recorrem a esses serviços. Muitos pais imigrantes temem questionar professores, por exemplo. O impacto aparece diretamente no desenvolvimento das crianças. Nos filhos de imigrantes, o tamanho do vocabulário das crianças, a autonomia, a capacidade de interação social e de concentração não são tão desenvolvidos quanto os de crianças de famílias pobres que vivem com mais estrutura. Esses imigrantes estão criando os cidadãos das próximas gerações. Governos e nações alimentam um problema sério para a sociedade por não cuidar disso. Somente nos Estados Unidos, hoje, há mais de 17 milhões de crianças que são filhos de imigrantes, de acordo com os dados oficiais. Esses números podem ser maiores.

ÉPOCA – Há uma crise de imigração no mundo. Na Europa Ocidental, há centenas de milhares de imigrantes que pedem asilo. Como acolher esse contingente de pessoas, sem instaurar o caos na estrutura social dos países que as recebem?
Yoshikawa –
Não há uma receita pronta, mas há dois pontos de partida. O primeiro é de postura. Você e eu somos descendentes de japoneses que nunca moramos no Japão. Nos lembramos disso sempre que nos olhamos no espelho. A maioria das pessoas é de família de imigrantes como nós, mesmo que não esteja no rosto delas. Atravessar fronteiras nacionais ou internas em busca de oportunidades melhores faz parte da história da formação das civilizações, assim como faz parte de nossa natureza mudar, sob todos os aspectos, para melhorar a vida de nossos descendentes. Os governos, as instituições e os cidadãos precisam refletir sobre isso, para que o princípio de humanidade se sobreponha a interesses isolados. Todos têm o direito de buscar melhores condições para suas famílias e suas comunidades. O segundo ponto de partida é bastante prático. Devemos planejar a forma de receber os imigrantes e preparar nossos servidores para dar suporte a essas famílias. ONGs, a imprensa, campanhas do governo e campanhas nas escolas podem ajudar. Cuidar da imigração significa evitar crises sociais e educacionais no futuro.

Fonte indicada: Revista Época

Anúncio de Natal espanhol é um alerta para os pais

Anúncio de Natal espanhol é um alerta para os pais

Este anúncio de Natal espanhol da marca Ikea remonta ao ano passado mas talvez o espírito da época natalício o tenha feito renascer e está a circular, de forma viral, pela internel.

Enternecedor, o vídeo congrega uma experiência feita a várias crianças. Primeiro pedem-lhes para escrever uma carta ao Pai Natal (aos Três Reis Magos, por ser em Espanha) e as crianças enchem a folha com todos os jogos, brinquedos e unicórnios de que se lembram. Mas depois, pedem-lhes que escrevam também os seus pedidos dirigidos aos pais. Contidas, as crianças gastam pouco espaço e isso já seria, por si só, comovente mas os desejos lidos depois pelos pais, emocionam qualquer pessoa.

Lições de uma grande transformadora: Elizabeth Kubler-Ross

Lições de uma grande transformadora: Elizabeth Kubler-Ross

Por Rita de Cássia Macieira

“As pessoas mais bonitas que conhecemos são aquelas que conheceram o sofrimento, conheceram a derrota, conheceram o esforço, conheceram a perda e encontraram seu caminho para fora das profundezas. Essas pessoas têm uma apreciação, uma sensibilidade e uma compreensão da vida que as enche de compaixão, gentileza e uma profunda preocupação amorosa. Pessoas bonitas não acontecem por acaso…”
Elisabeth Kübler-Ross

contioutra.com - Lições de uma grande transformadora: Elizabeth Kubler-RossO significado da borboleta como símbolo de transformação é amplamente conhecido e utilizado há muito tempo. No entanto, coube a Elisabeth Kubler-Ross utilizar amiúde o ciclo de vida da borboleta como metáfora para a morte.

Nascida em Zurique em 08 de Julho de 1926 e falecida em 24 de Agosto de 2004 em Scottsdale no Arizona, Elisabeth Kubler-Ross, pode ser considerada uma das grandes transformadoras do século passado. Ela mesma, assim como a borboleta que ela tanto utilizava como simbologia, realizou, causou e viveu muitas e profundas transformações.

Psiquiatra e autora de mais de 20 livros, dentre eles “Sobre a Morte e o Morrer”, traduzidos em vários idiomas, dedicou grande parte de sua vida a entender e acompanhar aqueles que estavam morrendo, ajudando-os na aceitação na morte próxima e no momento da transição.

Afirmava não temer a própria morte e desejava seguir somente aquilo que  acreditava. Segundo E. Kubler-Ross, “a vida não acaba quando você morre. Ela começa”.Em seus últimos anos de vida, sofreu várias complicações em sua saúde, que a debilitaram profundamente. Uma vez disse a respeito do impedimento de realizar sua própria morte: “Eu sou como um avião que deixou o hangar e não levantou vôo. Eu preferia voltar ou voar para longe”.

Muitas de suas preocupações eram voltadas para os profissionais de saúde e para os cuidadores daqueles que estavam próximos da morte Mas também para aquilo que estes poderiam dizer ás pessoas que estavam vivendo a experiência de confronto com uma doença séria. E ainda, o que dizer ou não para pessoas enlutadas. Por isto, criou algumas orientações livremente traduzidas abaixo:

Profissionais e Cuidadores:

1.    1.      Seja cuidadoso com o que você diz. Tente evitar clichês tais como:

“É como Deus quer” ou “Deus tem um plano”.

“Ele/ela está em um lugar melhor”.

“Deus precisava de um anjo”.

“Tudo acontece por uma razão”.

“As coisas serão sempre para melhor”.

“Você é jovem. Pode ter mais filhos”.

“Você não se sente grato por ter duas outras crianças?”

“O tempo curará”.

“Você tem que ser forte (por sua esposa, marido, filhos)”.

“Seu filho, esposo(a), pai/mãe não quereriam ver você mal”.

“Você não superou isto ainda?”

“Pelo menos não foi a outra criança”.

“Pelo menos eles não sofreram mais”.

“Você não deveria ficar triste. Foi o melhor”.

“Você pode tentar outra vez”.

“Pelo menos eles viveram uma vida boa”.

2.    2.      Ajude nos Rituais de Facilitação

Cada cultura determinará a natureza e a extensão do ritual. Seja sensível às necessidades de grupos diversos. Estes rituais podem incluir:

– Banhar o falecido

– Vestir ou desvestir o falecido

– Segurá-lo por um período de tempo extenso

– Conversar com o falecido

– Beijar e examinar o falecido – “Eu queria olhar seu corpo. Tocá-lo. Acho que eles pensaram que eu estava louco”.

– Embalar o falecido em uma cadeira de balanço – “Eu nunca o embalei. Isto feriu-me muito tempo.Todos os pais não deveriam ninar seus filhos sempre se é só para dizer adeus?”

– Pegar fotografias e vídeos

– Tomar uma mecha de cabelo, roupas ou outra coisa pessoal do falecido.

Extraído a partir do “O Poder da Compaixão: Uma Nova Atitude em Cuidados de Saúde”de Joanne Cacciatore, inspirada por Elisabeth Kubler-Ross, © 2003.

1. Seja honesto com os membros da família. Comunique às crianças o prognóstico ou a morte, gentil mas honestamente. Encoraje-as a fazerem perguntas e esteja com elas. É importante para elas sentirem que não estão experienciando este trauma sozinhas.

2. Compreenda o processo de luto e seja um facilitador efetivo nele.

3. Entenda o verdadeiro significado da Teoria dos Estágios de E. Kubler-Ross

4. Ajude dando suporte às crianças enlutadas da família tanto quanto pais e avós. As crianças estão freqüentemente sofrendo uma imensa confusão e dor e elas precisam do suporte gentil de seus cuidadores.

5. Ofereça explicações médicas utilizando termos para leigos. Não use vernáculos clínicos. Mantenha-se simples, honesto e inteligível.

6. Assegure-se de só propor autópsia e doação de órgãos ou tecidos quando for culturalmente apropriado.

7. Cuide de seu próprio luto!

E. Kubler-Ross criticou duramente o sistema de saúde americano e a falta de cuidados recebidos quando de uma de suas internações. Afirmou não ter recebido no hospital uma real compaixão e empatia, ou simplesmente, ter alguém para conversar ou segurar-lhe a mão.

Ressalta que é importante para os indivíduos da área de saúde trabalhar para as pessoas, para o bem das pessoas, com todo o seu coração e alma. Assim amando seus trabalhos, a compaixão os envolverá naturalmente. Segundo ela, a jornada da saúde começa em amar seu trabalho, amar sua família, amar seu país e por último, amar uns aos outros.

Fonte indicada: IJEP

Levantar do chão, engolir o choro e abraçar a vida!

Levantar do chão, engolir o choro e abraçar a vida!

A mim coube uma mãe enérgica, forte e a quem nunca faltou força pra enfrentar as situações mais absurdamente difíceis da vida. Graças a essa fortaleza feminina, aprendi a chorar quando inevitáveis sejam as lágrimas; aprendi a deixá-las correr para aliviar a dor; aprendi a secá-las para enfrentar a vida. Eu, certamente fui “convidada” a engolir o choro algumas vezes. É, meu amigo, não é fácil não! A garganta arde, os olhos queimam e o sangue ferve! Porém, diante da autoridade instituída, não dá pra desconsiderar uma ordem dessas. Mas… Quer saber?! Às vezes, a gente precisa MESMO aprender a engolir o choro e assumir que a vida não espera ninguém ficar pronto pra acontecer.

Enquanto o mundo caminha por trilhas acidentadas, cheias de percalços e surpresas, ainda há quem espere por soluções mágicas para seus problemas ou por golpes de sorte para alcançar uma vida bem sucedida. Em geral, pessoas melindrosas demais são consequências de uma educação exageradamente permissiva ou super protetora. Adultos na contagem dos anos, mas crianças eternizadas, acostumadas a depender de alguém até para suprir necessidades básicas, como comer ou dar conta de chateações do cotidiano, como trocar o óleo do carro. Essas pessoas deveriam ser interditadas. Engana-se, porém, quem acredita que elas sejam uma raridade. Há um sem número de “pessoas indefesas” espalhadas por aí.
Você olha em volta e vê um mundo em crise. Respostas prontas e ideais de estabilidade foram removidos para outro sistema solar. Nada vem com termo de garantia na vida. Nem mesmo o fato de ter sido beneficiado com uma formação educacional acima da média ou ter tido a rede de proteção e orientação da sua família são suficientes para fazer você tomar impulso na direção de uma vida autônoma e independente. As rédeas do seu destino só serão suas de fato se você entender que a vida é um cavalo selvagem, bem diferente do pônei adestrado e colorido que prometeram a você, ou que você achou que prometeram.

A liberdade não tem nenhuma relação com ideais românticos. A liberdade é conquista árdua, construída com muito trabalho, pouca frescura e nenhuma acomodação. A conquista da liberdade depende do completo comprometimento daquele que a almeja. Ninguém pode considerar-se realmente livre se não estiver disposto a entender que é indispensável abrir mão de requintes luxuosos como depender de alguém para cuidar de suas experiências pessoais.

É bem verdade que chorar faz parte do processo de amadurecimento. Há momentos na vida em que só mesmo uma correnteza de lágrimas é capaz de lavar a dor. É necessário chorar quando doer demais. Desaguar a represa de angústias e incertezas que paralisam sua força criadora. Entretanto, é preciso cuidado para não alimentar lágrimas preguiçosas que resistem à correnteza do choro e escolhem promover um manifesto lento e degradante de queixa perpétua.

Poucas coisas são mais ridículas do que adultos que passam a maior parcela de seus dias cultuando o descontentamento com seu destino. Reclamam do tempo, reclamam do trabalho, reclamam das pessoas, reclamam da vida. Lembram filhotes desmamados antes da hora, perdidos numa busca eterna pela chupeta da dependência emocional.

Supondo, então, que você tenha andado meio manhoso e aborrecido porque ninguém percebe o quanto a sua vida é difícil e sem sorte… Quer saber?! Engole esse choro e entende que já passou da hora de assumir que essa vida aí que você acha tão injusta é, nada mais nada menos, que o único resultado possível pra sua falta de vontade de mudar, pra sua preguiça mental, pra sua paralisia emocional. Acorda! Deixa de ser criança fora de época! O mundo girou, a vida mudou e você não viu porque estava ocupado choramingando!

Dica de livro: ‘Autobiografia’, de Agatha Christie

Dica de livro: ‘Autobiografia’, de Agatha Christie

Olhei para o que escrevi e estou satisfeita. Fiz o que queria fazer.

Gosto de viver. Já estive, por vezes, louca de desespero, terrivelmente infeliz, dilacerada pela dor, mas ao longo de tudo isso, soube sempre, com bastante certeza, que o mero facto de estar viva é algo grandioso.

Nasceu em 1890 e faleceu no ano de 1976. Entre o hiato que percorre as duas datas, Agatha Christie (AC) viveu intensamente, a nível pessoal e literário. A presente autobiografia traça a vida da escritora até aos seus setenta e cinco anos (de 1890 a 1965). Feitas as contas, só não estão incluídos no livro os últimos onze anos da sua vida. Começou-o em 1950 e as primeiras páginas foram escritas aquando da sua estada no Iraque. Levou quinze anos a escrevê-lo, tendo a obra publicada postumamente, em 1977, um ano após a sua morte; AC queria que a sua autobiografia viesse à tona ‘post mortem’ (este seu desejo é compreensível. E se é. Todas as suas memórias, as boas e as infelizes, ficaram impressas no livro e ela menciona algumas pessoas com quem não se deu bem, e que porventura, podiam ficar ressentidas. Não que ela se importasse, longe disso, mas o bom senso sempre fez parte da sua índole). A introdução está feita. Vamos aos factos.

As suas peripécias enquanto menina, a sua adolescência rebelde, os primeiros amores e suas nostalgias fazem parte das suas recordações. A sua infância é descrita com os máximos detalhes, por ter sido uma fase da sua vida onde estabeleceu contacto com o mundo do imaginário — mal ela imaginava que as suas brincadeiras com os seus amigos fictícios iriam continuar pela vida fora. A seguinte citação prova isso mesmo: «Sempre fui sobrecarregada pela imaginação. Isso serviu-me bem na minha profissão.»

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Desde muito pequena que AC tomou o gosto pela leitura e escrita, devorando livros atrás de livros. Começou por escrever poemas, que de vez em quando eram publicados em jornais locais. Nunca, jamais, passava pela cabeça de Miss Christie que um dia se tornaria escritora: «Seria muito mais interessante se pudesse dizer que sempre sonhei em ser escritora e que estava determinada a consegui-lo, um dia, mas honestamente tal coisa nunca me passou pela cabeça.» O seu gosto pela música clássica, pelas aulas de piano, pela dança e pela matemática, em nada a fazia prever o rumo que a sua vida lhe iria reservar.

Como surgiu o seu primeiro livro, ‘O Misterioso Caso de Styles’? «Foi enquanto trabalhava no dispensário que pensei pela primeira vez em escrever uma história policial.» E escreveu-o. «Eu escrevera um livro policial; este fora aceite e ia ser publicado. Para mim, o assunto acabava aí.»

Contudo, escreveu o primeiro, e assinou um contracto com a editora, que obrigava-a a escrever no mínimo mais quatro. Esta foi a força-motriz que a fez escrevê-los, mas por obrigação e por dinheiro: «o melhor de escrever naquele tempo, era que eu relacionava o trabalho directamente com dinheiro. Eu era uma amadora total, não tinha nada de profissional. Para mim, escrever era um divertimento. Como biscate, escrevia livros.» A afirmação revela o seu carácter sincero e humilde.

A ‘Duquesa da Morte’ durante a primeira e segunda guerra mundial, voluntariou-se para ajudar os combatentes vitimados, prestando serviços de saúde em hospitais. Ajudando as enfermeiras e médicos serviu-lhe de bastante, pois teve que aprender para que servia os compostos químicos que utilizava para acalmar a dor de tantos enfermos, e isso serviu-lhe de muito útil para ter um ‘know how’ para as tramas dos seus futuros policiais. No entanto o período turbulento da guerra, não fez com que ela pusesse a escrita de lado: «Nunca tive dificuldade em escrever durante a guerra.»

contioutra.com - Dica de livro: ‘Autobiografia’, de Agatha Christie

Se pensam que neste livro AC fala muito nos seus livros, de onde vinha as ideias para escrevê-los, não, não o faz. A extrema maioria das páginas falam da sua vida privada, da família, dos amigos e das suas viagens (abro parêntesis para alertar que Agatha sempre fez questão de manter privada a sua vida pessoal, enquanto viva; é conhecida a sua aversão a entrevistas e acontecimentos sociais) Claro que a autora revela como fez nascer Poirot e Miss Marple e outros personagens, e cita alguns dos livros que mais prazer obteve em escrever, independentemente de terem sido um sucesso ou não de vendas: «O único livro que me deixou completamente satisfeita foi ‘Ausente na Primavera’. Escrevi esse livro em apenas três dias. O resultado final foi aquele que eu desejava, e isso é a maior alegria que um autor pode ter.» Acrescento que esse livro, curiosamente foi escrito sob o pseudónimo de Mary Westmacott.

No seu primeiro casamento com o coronel Archie, e já depois do nascimento de Rosalind, a filha de ambos, o casal inicia uma viagem marítima à volta do mundo. Ao virar as páginas, enquanto AC relata tudo e todo os pormenores de tal viagem, ficamos a saber que o navio em que Christie e o marido vinham, atracou no Funchal por umas meras cinco horas. AC viajou imenso, não por causa de fazer publicidade aos seus livros, mas por puro deleite que ela tinha por desvendar novas culturas, conhecer novas pessoas, o que revelou-se muito inspirador para os seus romances. Muitos dos personagens que ganhavam vida nos seus livros, eram na verdade, inspirados em pessoas reais, que Christie ia conhecendo. Depois do seu segundo casamento, as suas viagens eram mais para acompanhar o marido, um arqueólogo, nas suas escavações.

Um ‘hobbie’ muito dispendioso que a escritora tinha era o de “possuir” casas, de procurá-las, comprá-las, vivê-las e vendê-las. Ficamos estupefactos com a vasta quantidade de casas onde ela viveu. AC chegou a uma altura em que era dona de oito casas. Mas houve uma que a marcou para sempre: Ashfield.

O retrato de AC por ela própria: «Sou muitas coisas: bem-disposta, distraída, tímida, afectuosa, completamente desprovida de autoconfiança.» Era também uma pessoa que não gostava de foco, de dar entrevistas, pois eram alturas em que sentia-se embaraçada: «Dificuldades em me exprimir, sempre as terei. Provavelmente, é uma das razões pelas quais me tornei escritora.»contioutra.com - Dica de livro: ‘Autobiografia’, de Agatha Christie

A vida da que foi declarada como a melhor escritora de romances policiais do século XX, nem sempre foi um mar de rosas. Quem ler esta autobiografia tomará conhecimento disso mesmo. Houve alturas na vida de AC que o sofrimento esteve muito presente e que a própria não deixou de fora das páginas da história da sua vida: «Gosto de viver. Já estive,
por vezes, louca de desespero, terrivelmente infeliz, dilacerada pela dor, mas ao longo de tudo isso, soube sempre, com bastante certeza, que o mero facto de estar viva é algo grandioso.»; «Olhei para o que escrevi e estou satisfeita. Fiz o que queria fazer.»

Mas que viagem, esta, a da Dama do Crime. ‘Autobiografia’ é um livro fácil de se ler, prazeroso, muito útil para quem é fã dos policiais de Agatha Christie, e é uma obra onde é notória a sinceridade e humildade com que os mais diversos factos da sua vida são mencionados, sem falsas modéstias. A memória do seu passado e a idoneidade em escrevê-lo é extraordinária, para deleite dos fiéis seguidores da sua extensa obra. Como bónus e para apensar às suas palavras, o leitor é surpreendido com variadíssimas fotos da própria, em diversas fases da sua vida e de alguns seus familiares e amigos.

Uma nota final, mas fulcral para que esta crassa autobiografia tenha sido de aprazível leitura e sem quiproquós: a maravilhosa tradução.

A indicação de leitura é do nosso blog parceiro Silêncios Que Falam (Site; Facebook)

Escolas do Espírito Santo levam meditação e inteligência emocional às salas de aula

Escolas do Espírito Santo levam meditação e inteligência emocional às salas de aula

À medida que crescemos, percebemos quanta coisa a vida nos cobra sem termos aprendido na escola. No dia a dia, raízes quadradas, celomas e mol dificilmente aparecem, mas desafios envolvendo inteligência emocional acontecem o tempo todo. Por que, então, isso não é ensinado às crianças?

No Espírito Santo, um programa chamado MindEduca quer levar para as salas de aula o conhecimento científico que engloba o desenvolvimento humano, com o objetivo de estimular o aperfeiçoamento pessoal. Nesse pacote estão inclusos a melhora da atenção e da aprendizagem, a diminuição do stress e a conscientização de qualidades como a amorosidadee o desapego.

Essa formação abordará a relação da pessoa consigo mesma, com suas ações no mundo e com a vida. Tem, ainda, o propósito de estimular a transformação pessoal de educadores em torno dos seguintes aspectos: emoções, atenção, convivência e processo decisório. Proporcionando, assim, a mudança de comportamento em seus contextos de vida“, afirmou Regina Migliori, consultora em Cultura de Paz da Unesco que está colaborando com o projeto.

Após o sucesso de um piloto realizado em suas escolas do município de Serra, em 2014, o projeto será implementado aos poucos nas escolas das redes estadual e municipais do Espírito Santo, começando por uma etapa 100% dedicada aos educadores.

Fonte indicada: Hypeness, Foto CC Wari Om Yoga

7 coisas que eu prometi nunca dizer quando tivesse uma filha, mas digo todos os dias

7 coisas que eu prometi nunca dizer quando tivesse uma filha, mas digo todos os dias

Por Stael F. Pedrosa Metzger

Toda mulher sabe quais foram as palavras que prometeram nunca dizer às suas filhas. Basta lembrar-se do tempo anterior à chegada delas, quando cada uma de nós era uma filha. Quais eram as palavras ou frases que mais nos irritavam, magoavam, diminuíam ou desestimulavam?

Um dia prometemos que quando tivéssemos uma filha nunca diríamos tais coisas a elas e nos pegamos todos os dias dizendo quase que com as mesmas palavras.

Nem tudo que prometemos jamais dizer é necessariamente ruim a nossas filhas, mas algumas frases sim. Felizmente nunca é tarde para rever nossos atos e decidir quais devemos continuar e quais descontinuar.

Continue a dizer às suas filhas

1. Você não é todo mundo

Quando você era jovem, ficava irritada quando sua mãe lhe dizia isso. Hoje lembrar à sua filha que ela não é todo mundo e não deve fazer algo porque todo mundo faz pode ser bastante benéfico a ela, embora ela odeie ouvir.

2. Vá dormir cedo

O sono é benéfico para o corpo e a mente. Dormir cedo e acordar cedo traz disposição e evita ver o que não vale a pena na TV, nem ficar na internet ociosamente.

3. Não é boa amizade para você

As mães têm uma visão além da face meiga e das palavras doces. Se você sente que determinada pessoa não é boa companhia ou influência para sua filha, diga! Por mais que ela odeie, é necessário ser dito. Talvez você se lembre de quando sua mãe lhe disse isso (e você odiou) e mais tarde se provou que ela estava certa. Então diga logo mais uma vez, antes que você tenha que dizer aquela frase ainda mais odiada: “Eu não avisei?”.

4. Você não vai com essa roupa

Jovens adolescentes podem não compreender o conceito de que a elegância não é mostrar o corpo. A objetificação da mulher é nociva e o conceito de que sua influência no mundo deva passar pela sedução não eleva a mulher, pelo contrário, a torna um ser inferior. É necessário que as mães influenciem suas filhas a valorizarem suas capacidades, talentos e ternura acima dos atributos físicos. Isso certamente contribuirá muito para que um dia elas não se sujeitem a inúmeras cirurgias plásticas ou aplicação de produtos insalubres em seus corpos para agradar a quem não as ama e nem valoriza.

Pare de dizer às suas filhas

1. Isso é coisa para homens

Ainda que suas palavras tenham a intenção de proteger sua filha, elas não devem expressar tal distinção. Atualmente a linha entre o que é “coisa de homens” e “coisa de mulher” é muito tênue e, ao expressar tal conceito, pode estar impedindo sua filha de alçar voos mais altos. Quanto mais ela aprender sobre as coisas de homens e mulheres mais equipada ela estará para sua independência. Mulheres podem pilotar aviões ou lutar boxe sem perder sua feminilidade.

2. Você não faz nada direito

“Aprendi que as pessoas esquecerão o que você disse e esquecerão o que você fez, mas jamais esquecerão como você as fez sentir-se”.

Maya Angelou

Quando você diz tal frase a uma pessoa, especialmente em formação, você pode deformar a maneira em que ela vê a si mesma para sempre. Ela nunca ousará fazer algo novo ou desafiador e nem considerará bom o que fez, pois suas palavras estarão sempre presentes acusando-a de não fazer nada direito.

3. Porque você não é igual a…

Se você prometeu nunca dizer isso à sua filha, é porque sabe o quanto magoa. Jamais a compare com outras garotas. Deixe-a ser o ser único e maravilhoso que ela é. Para uma menina ou adolescente tentando encontrar seu lugar no mundo, qualquer tipo de comparação pode ser uma fonte de frustrações. Seja apenas o exemplo do que você gostaria que sua filha se tornasse.

“Seja sempre a melhor versão de si mesmo e não a cópia de alguém”.

Judy Garland

Fonte indicada: Família

Sobre raízes e asas

Sobre raízes e asas

Por Cristina Souza

Tem gente que não se importa em ficar a vida inteira no mesmo lugar, tem gente que não consegue nem ficar oito horas em uma mesma sala. Tem gente que nasceu com raízes, outros com asas. Você é do tipo que vai ou do que fica?

O mundo está dividido em diversos tipos de pessoas: as que gostam mais do mar, as que preferem campo. As que esperam o inverno, as que aguardam com afinco o verão. E existem também as que ficam e as que vão.

Não é fácil ser do tipo que fica, nem do tipo que vai. Por vezes, quem fica sente vontade de ir, já quem vai, sente uma imensa vontade de ficar. É difícil entender que não há possibilidade de ter asas e raízes ao mesmo tempo, ou então jogar a âncora na areia e içar velas. Você faz ou um ou outro. Algumas raras pessoas conseguem mudar, afinal estamos em eterna mudança, mas é difícil aquietar algo que já vem dentro da gente.

Aqueles que ficam sentem-se bem assim, e abandonar – pessoas, lares, cidades, lembranças, é algo muito difícil. Quando a vida os incita a ir, eles preferem continuar ali. Por vezes, são chamados de acomodados – anos no mesmo emprego, anos com a mesma pessoa, nunca deixou sua cidade. E a vida, e o mundo? Esses questionamentos podem mexer com eles, atiçar algo em seus corações, mas quando olham a sua volta, apenas entendem. Podem ir, desde que a condição seja voltar, rapidamente. Eles querem ficar.

Ah, as pessoas que vão… Deixem-nas ir. Não significa que elas não amem, não sintam saudades, não se importem – apenas o coração delas é grande demais, e elas precisam sempre estar em expansão. Quando enclausuradas, sofrem muito. Não cabem em escritórios, não cabem em ternos, não cabem em si – movimento é a palavra de suas vidas. Alguns acham que esse tipo de pessoa é indecisa, inquieta e até frustrada, pois parecem estar sempre em busca de respostas. Não. Na verdade, pessoas que vão não se importam tanto com as respostas – seu combustível é feito pelas perguntas. Questionam o tempo todo, pensam o tempo todo, observam o tempo todo. Encantam-se pela quantidade de maravilhas que o mundo pode oferecer, seja em uma cidade da moda como Paris ou num boteco abandonado de esquina.

Acontece, por vezes, de pessoas que ficam se apaixonarem por pessoas que vão. Daí a vontade de içar e ancorar, criar raízes e voar, correr e ficar parado. Eu poderia aqui escrever conselhos, poderia dizer fica, vai, espera, aceita. Mas nada posso dizer. O amor é movimento, energia, é vida pulsando dentro e fora de nós, e exatamente por isso é muito pessoal. A única coisa que me arrisco em falar é: Sinta. Se permita. Amplie o sentimento, não guarde para si. E aceite o tipo de pessoa que o outro é também. “É difícil aprisionar os que tem asas”, disse o poeta. Também é difícil arrancar os que são feitos de raízes.

Artigo escrito por Cristina Souza, publicado originalmente aqui.

Este é o país mais próspero do mundo

Este é o país mais próspero do mundo

O Legatum Prosperity Index revelou uma lista com os países do mundo mais prósperos e com melhores condições.

Este é um ranking anual desenvolvido pelo Legatum Institute – uma instituição internacional para a promoção da prosperidade, baseada em Londres – que avalia vários fatores, como: Economia, Empreendedorismo e Oportunidades, Autoridade, Educação, Saúde, Segurança, Liberdade Pessoal e Capital Social.

Estas oito variáveis foram analisadas em 142 países, tentando assim perceber os seguintes aspetos:

Economia – Políticas macroeconómicas, Satisfação e expectativas económicas, base e crescimento económico e eficiência do setor financeiro;

Empreendedorismo e Oportunidades – O ambiente empresarial, o incentivo à inovação e a igualdade de oportunidades;

Autoridade – A existência de um governo eficiente e responsável, eleições e participação política livre e respeito pela lei;

Educação – Acesso, qualidade e capital investido na educação;

Saúde – Existência de cuidados básicos, boas infraestruturas e cuidados de prevenção;

Segurança – Nacional e pessoal;

Liberdade Pessoal – Tolerância entre a população;

Capital Social – Coesão e envolvimento social e redes familiares e entre comunidades.

Portugal ocupa a 62ª posição na parte de Economia, a 31ª no Empreendedorismo e Oportunidade, 32ª na Autoridade, 46ª na Educação, 31ª na Saúde, 18ª na Segurança, 16ª na Liberdade Pessoal e 47ª no Capital Social, colocando o país na 27ª posição no ranking geral.

Já o Brasil  ocupa a 43ª posição na parte de Economia, a 53ª no Empreendedorismo e Oportunidade, 62ª na Autoridade, 84ª na Educação, 53ª na Saúde, 85ª na Segurança, 41ª na Liberdade Pessoal e 75ª no Capital Social, colocando o  país na  54ª posição no ranking geral.

Aqui fica o top 10:

1 – Noruega;

2 – Suíça;

3 – Dinamarca;

4 – Nova Zelândia;

5 – Suécia;

6 – Canadá;

7 – Austrália;

8 – Holanda;

9 – Finlândia;

10 – Irlanda.

Para ver o ranking original, clique aqui.

Você encontrará o Brasil na posição 54. 🙁

Fonte indicada: Sol

Tenho medo de te olhar nos olhos porque devo-te tanto

Tenho medo de te olhar nos olhos porque devo-te tanto

Tenho medo de me olhar nos olhos porque devo-me tanto. Sou ainda aquela menina que sente o peso do mundo nos ombros. Sou aquela menina que sonhava com a igualdade de oportunidades no mundo todo, que almejava talvez mais do que alguma vez poderia alcançar. Sou aquela menina para quem ainda custa acreditar que tanta maldade pode existir num único ser-humano mas que se recusa a acreditar que esse alguém não pode mudar.

Sou a menina que sonha mudar o mundo pela força de um papel e de uma caneta, mas também pela voz e o exemplo. A mulher que hoje vos escreve deve muito a essa menina cheia de sonhos. Deve ao mundo mais entrega, mais empenho, mais esforço e dedicação ainda que seja só para mudar o mundo de alguém.

contioutra.com - Tenho medo de te olhar nos olhos porque devo-te tanto
Quero um dia olhar nos olhos da menina que fui e dizer: Eu cumpri! Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser uma pessoa melhor e despertar bons sentimentos nos outros. Fui fiel a mim mesma, às minhas convicções e procurei concretizar todos os meus sonhos…

Quero um dia olhar nos olhos da menina que fui e dizer: Eu cumpri! Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser uma pessoa melhor e despertar bons sentimentos nos outros. Fui fiel a mim mesma, às minhas convicções e procurei concretizar todos os meus sonhos…

Devo-te o mundo Marline. Devo-te a tranquilidade e a força necessária para realizares os teus sonhos, a força de vontade, a coragem e a resiliência sem os quais de nada vale sair do sofá. A mulher que sou hoje está a deixar os dias passarem por si com medo de viver, medo de estar, medo de ser e sentir-se tal e qual como é.

Marline menina: ensinaste-me como ser feliz e grata todos os dias e por isso quando a tristeza começou a querer apoderar-se dos meus dias quis voltar ao passado para recuperar-te e voltar a ser o que até então tinha sido: feliz! Não consegui. E pensei, durante muito tempo, que estava a travar uma luta interna para trazer de volta aquela pessoa que fui. Não estava ou melhor, já não estou. Travo uma luta interna sim mas não para ser a Marline de ontem, mas para ser quem sou hoje. A Marline de hoje, de agora, que está ausente de si mesma. Mas sobre isto escreverei noutra oportunidade.

À Marline menina, à Marline mulher e à Marline do futuro quero apenas dizer que tudo farei para não vos desiludir. E não vos desiludir é não esquecer o meu propósito no mundo, o meu sentido de contributo. A minha maior alegria, o meu maior reconhecimento, seria um dia alguém dizer: O mundo hoje está melhor porque tu viveste. E aí sei que tudo terá valido a pena.

Marline Pereira

1 De Novembro de 2015.

 

Cartas de Amor, por Rubem Alves

Cartas de Amor, por Rubem Alves

Leio e releio o poema de Álvaro de Campos. Oscilo. Não sei se devo acreditar ou duvidar. Se acredito, duvido. Duvido porque acredito. Pois foi ele mesmo quem disse – ou melhor, o seu outro, o Fernando Pessoa – que ele era um fingidor. “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas…”

Tenho no meu escritório a reprodução de uma das telas mais delicadas que conheço, Mulher lendo uma carta, de Johannes Vermeer (1632-1675). Uma mulher, de pé, lê uma carta. O seu rosto está iluminado pela luz da janela. Seus olhos lêem o que está escrito naquela folha de papel que suas mãos seguram, a boca ligeiramente entreaberta, quase num sorriso. De tão absorta, ela nem se dá conta da cadeira, ao seu lado. Lê de pé. Penso ser capaz de reconstituir os momentos que antecedem este que o pintor fixou. Pancadas na porta interromperam as rotinas domésticas que a ocupavam. Ela vai abrir e lá estava o carteiro, com uma carta na mão. Pela simples leitura do seu nome, no envelope, ela identifica o remetente. Ela toma a carta e, com este gesto, toca uma mão muito distante. Para isto se escrevem as cartas de amor. Não para dar notícias, não para contar nada, não para repetir as coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha de papel. Barthes cita estas palavras de Goethe:

Por que me vejo novamente compelido a escrever? Não é preciso, querida, fazer pergunta tão evidente, porque, na verdade, nada tenho para te dizer. Entretanto tuas mãos queridas receberão este papel…

Volto ao Álvaro de Campos. Será esta a razão do ridículo das cartas de amor – o descompasso entre o que elas dizem e aquilo que elas realmente querem fazer? Pois o propósito explícito de uma carta é dar notícias, e é por isto que elas são feitas de palavras. Mas o que elas realmente desejam realizar está sempre antes e depois da palavra escrita: elas querem realizar aquilo que a separação proíbe: o abraço. Quem quer que tente entender uma carta de amor pela análise da escritura estará sempre fora de lugar, pois o que ela contém é o que não está ali, o que está ausente. Qualquer carta de amor, não importa o que se encontre nela escrito, só fala do desejo, a dor da ausência, a nostalgia pelo reencontro.

Aquela carta fez tudo parar. A mulher fecha a porta e caminha pela casa sem nada ver, buscando uma coisa apenas, a luz, o lugar onde as palavras ficarão luminosas. Que lhe importa a cadeira? Esqueceu-se de que está grávida. Seus olhos caminham pelas palavras que saíram das mesmas mãos que a abraçaram. Seu corpo está suspenso naquele momento mágico de carinho impossível que aquele pequeno pedaço de papel abriu no tempo do seu cotidiano.

Uma carta de amor é um papel que liga duas solidões. A mulher está só. Se há outras pessoas na casa, ela as deixou. Bem pode ser que as coisas que estão nela escritas não sejam nenhum segredo, que possam ser contadas a todos. Mas, para que a carta seja de amor, ela tem de ser lida em solidão. Como se o amante estivesse dizendo: “Escrevo para que você fique sozinha…”. É este ato de leitura solitária que estabelece a cumplicidade. Pois foi da solidão que a carta nasceu. A carta de amor é o objeto que o amante faz para tornar suportável o seu abandono.

Olho para o céu. Vejo a Alfa Centauro. Os astrônomos me dizem que a estrela que agora vejo é a estrela que foi, há dois anos. Pois foi este o tempo que sua luz levou para chegar até os meus olhos. O que eu vejo é o que não mais existe. E será inútil que eu me pergunte: “Como será ela agora? Existirá ainda?”. Respostas a estas perguntas eu só vou conseguir daqui a dois anos, quando a sua luz chegar até mim. A sua luz está sempre atrasada. Vejo sempre aquilo que já foi… Nisto as cartas se parecem com as estrelas. A carta que a mulher tem nas mãos, que marca o seu momento de solidão, pertence a um momento que não existe mais. Ela nada diz sobre o presente do amante distante. Daí a sua dor. O amante que escreve alonga os seus braços para um momento que ainda não existe. A amante que lê alonga os seus braços para um momento que não mais existe. A carta de amor é um abraçar do vazio…

“Ainda bem que o telefone existe”, retrucarão os namorados modernos, que não mais têm de viver o amor no espaço das ausências. Engano. Um telefonema não é uma carta falada. Pois lhe falta o essencial: o silêncio da solidão, a calma da caneta pousada sobre a mesa que espera e escolhe pensamentos e palavras. O telefone põe a solidão a perder. Num telefonema a gente nunca diz aquilo que se diria numa carta. Por exemplo: “Eu ia andando pela rua quando, de repente, vi um ipê-rosa florido que me fez lembrar aquela vez…”. Ou: “Relendo os poemas de Neruda encontrei este que, imagino, você gostará de ler…”.

A diferença entre a carta e o telefone é simples. O telefone é impositivo. A conversa tem de acontecer naquele momento. Falta-lhe o ingrediente essencial da palavra que é dita sem esperar resposta. E, uma vez terminado, os dois amantes estão de mãos vazias.

Mas a mulher tem nas mãos uma carta. A carta é um objeto. Se não tivesse podido recolher-se à sua solidão, ela poderia tê-la guardado no bolso, na deliciosa espera do momento oportuno. O telefonema não pode esperar. A carta é paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida. Ou simplesmente acariciada. Uma carta contra o rosto – poderá haver coisa mais terna? Uma carta é mais que uma mensagem. Mesmo antes de ser lida, ainda dentro do envelope fechado, tem a qualidade de um sacramento: presença sensível de uma felicidade invisível…

Estes pensamentos me vieram depois de ler as cartas de um jovem cientista, Albert Einstein, à sua amada, Mileva Maric’. Foram elas que me fizeram ir ao poema do Álvaro de Campos: ridículas. Todas as cartas de amor são ridículas. Acho que os editores pensaram o mesmo. E como desculpa para o seu gesto indiscreto de tornar público o ridículo que era segredo de dois amantes, escreveram uma longa e erudita introdução que transformou as ridículas cartas de amor em documentos da história da ciência. Valem porque, misturadas ao ridículo de que os amantes se alimentam, se encontram pistas que dão aos historiadores as chaves para a compreensão das “fontes do desenvolvimento emocional e intelectual dos correspondentes”. Não sabendo o que fazer com o amor (ridículo), colocaram-nas na arqueologia da ciência.

Foi então que o quadro de Vermeer me fez ver a cena que as cartas escondem. E a mulher com a carta na mão e uma criança na barriga? Ela bem que poderia ser Mileva, grávida de uma filha ilegítima, que foi dada para adoção, e sobre quem nada se sabe. A criança foi dada. Mas as cartas foram guardadas. E que razões poderia ter uma pessoa para guardar cartas ridículas? O seu rosto absorto e os lábios entreabertos nos dão a resposta: para aqueles que amam as ridículas cartas de amor são sempre sublimes.

Volto ao poema do Álvaro de Campos e encontro lá o que faltava para fechar a cena: “Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor são ridículas”.

Sobre a vida e os arrependimentos que carregamos

Sobre a vida e os arrependimentos que carregamos
 

O amor antigo- Carlos Drummond de Andrade

O amor antigo- Carlos Drummond de Andrade

Uma homenagem do CONTI outra para Maria Aparecida Cruz Silva, nossa querida leitora.

O amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

Fonte indicada:Drummond Memória Viva

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