Alemanha usa cegos para detectar câncer de mama

Alemanha usa cegos para detectar câncer de mama

Exames para detectar câncer de mama estão sendo feitos por mulheres cegas na Alemanha. A ideia já existe há alguns anos, e uma pesquisa inédita sugere que pessoas cegas podem, de fato, detectar tumores mais cedo do que aquelas que enxergam.

Esta ideia simples, mas surpreendente, passou pela cabeça de um médico alemão uma manhã enquanto ele estava tomando banho: mulheres cegas poderiam fazer seu trabalho muito melhor do que ele?

“Três minutos é o tempo que eu tenho para fazer exames clínicos das mamas”, diz o ginecologista baseado em Duisburg Frank Hoffmann.

“Isso não é suficiente para encontrar pequenos nódulos no tecido mamário, o que é crucial para detectar o câncer de mama cedo.”

Pessoas treinadas para ler em braille tem o tato altamente desenvolvido. Por isso, Hoffmann supôs que as mulheres cegas e com deficiência visual seriam mais qualificadas do que qualquer outra pessoa para realizar exames de mama em seus pacientes.

A evidência agora é inequívoca, diz ele.

Em um estudo ainda não publicado, realizado com a Universidade de Essen, mulheres cegas conseguiram detectar quase um terço a mais de nódulos que outros ginecologistas.

“Mulheres que fazem autoexame podem sentir tumores de 2 cm ou maiores”, diz Hoffmann.

“Os médicos costumam encontrar tumores entre um centímetro e dois centímetros, enquanto os examinadores cegos encontraram nódulos com tamanhos entre 6 mm e 8 mm. Isso faz uma diferença real. Esse é o tempo que um tumor leva para se espalhar pelo corpo.”

Experiência

Na Alemanha e no Reino Unido, mamografias regulares são oferecidas apenas a mulheres com 50 anos ou mais – mas, em ambos os países, o câncer de mama é a maior causa de morte de mulheres entre 40 e 55 ano, e na Alemanha, a idade das mulheres afetadas está caindo.

Hoffmann diz que fundou sua organização, Discovering Hands, para salvar vidas pela detecção precoce. Ele desenvolveu um curso para treinar mulheres cegas para se tornarem examinadoras médicas táteis (MTEs, na sigla em inglês), e agora existem 17 trabalhando em clínicas em toda a Alemanha.

Uma delas, Filiz Demir, atende cerca de sete mulheres por dia, realizando exames que podem durar até 45 minutos – o que seria pouco usual para um ginecologista.

Há pouco mais de um ano, Demir trabalhava em uma agência de viagens. Mas, quando ela completou 35 anos, sua visão se deteriorou lentamente, e fazer seu trabalho tornou-se cada vez mais difícil. Ela pediu demissão e aprendeu braille, mas não conseguia sequer ser chamada para entrevistas de emprego.

“A cegueira era minha maior deficiência naquela época”, diz ela.

“Agora, minha deficiência tornou-se minha força. Eu não sou dependente de ninguém e posso ajudar os outros. É um ótimo sentimento.”

A cegueira era minha maior deficiência. Agora, minha deficiência tornou-se minha força.”

Filiz Demir, examinadora

Curiosa para saber como Demir e suas colegas trabalham, eu decidi fazer um exame.
Usando tiras de fita marcadas com coordenadas em braille, o MTE faz uma “grade” sobre o peito. Ela examina lentamente por esta grade de modo que possa indicar a localização precisa se encontrar um nódulo.

Demir faz uma análise detalhada, mas os 30 minutos passam voando. É um ambiente descontraído e relaxante, nem um pouco desconfortável e há ampla oportunidade de fazer perguntas.

Depois de sete meses neste trabalho, Demir claramente se mostra aliviada por ter encontrado principalmente tumores benignos. Apenas algumas semanas atrás ela encontrou o primeiro maligno, que a balançou um pouco.

Mas é a minha vez de ser pega de surpresa quando ela remove as tiras em Braille e cuidadosamente me diz que encontrou algo.

Um nódulo de cada lado, na verdade.

Se eu fosse uma paciente regular na clínica, eu teria ido para a próxima sala para um ultrassom. Infelizmente, tive de levar essa informação para meu ginecologista em Berlim, onde fui encaminhada para um ultrassom e uma mamografia.

Depois de algumas semanas de espera por uma consulta, o ultrassom finalmente ficou pronto e não mostrou nada. O radiologista me disse que não fazia sentido fazer uma mamografia – e sugeriu que o examinador provavelmente só sentiu um pouco das minhas costelas.

O conselho de Hoffmann em situações do tipo é repetir o exame com o MTE algumas semanas mais tarde, na primeira metade do ciclo menstrual. Se um nódulo ainda puder ser detectado “a mamografia faz sentido”, diz ele.

É exatamente esse ciclo de check-ups que podem levar a alarmes falsos, angústia e cirurgias desnecessárias, de acordo com o professor Gerd Gigerenzer, diretor do Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano.

“Conheço muitas mulheres que ficaram assustados com alarmes falsos. Algumas fizeram biópsia, que não mostrou nada, mas vivem suas vidas de mamografia em mamografia.”

Há pouco consenso sobre os benefícios dos programas de detecção de câncer de mama e se exames regulares realmente salvam vidas. Gigerenzer adverte explicitamente contra eles, e não se anima com a ideia de que agora é possível detectar nódulos menores.

“Quanto mais precisas forem as técnicas de diagnóstico, mais cânceres clinicamente irrelevantes serão detectados”, diz ele.

“Isto pode levar a cirurgias e radioterapias desnecessárias. Neste caso, a detecção precoce só prejudica.”

O método Discovering Hands, segundo ele, está fora de julgamento até que a equipe possa fornecer provas que comprovem que a técnica de fato reduz a mortalidade.

Um estudo sobre o assunto está previsto para ser concluído e publicado ainda este ano.

 
Paciente

Enquanto isso, uma das pacientes de Hoffmann, Heike Gothe, me diz que deve sua vida a uma dessas examinadoras.

Ainda tendo que lidar com a morte prematura de seu marido por doença, Gothe assumiu o comando do negócio da família, uma pequena empresa de exportação internacional de sucesso. Mas não demorou muito para que ela recebesse seu próprio diagnóstico.

“Eu tinha sentido um caroço no meu seio direito e fui ver o médico”, diz Gothe.

“Eles confirmaram o que eu tinha encontrado e, em seguida detectaram um pequeno nódulo no lado esquerdo, com apenas 2 milímetros de tamanho. Ele nem sequer apareceu na ultrassonografia ou mamografia, apenas o MTE cego sentiu.”

O encontro deste pequeno tumor pode ter salvado sua vida. Ambos os tumores foram diagnosticados como malignos, mas com quimioterapia e radioterapia, ela superou o câncer.

Gothe é uma batalhadora, mas ela credita sua energia e positividade a estes exames feitos por um MTE a cada seis meses. Segundo Gothe, é assim que ela consegue dormir à noite e tocar seu negócio.

“O medo aparece de vez em quando”, diz Gothe. “E só consigo lidar com isso porque sei que estou em boas mãos.”

Algumas companhias de seguros alemães também estão convencidas. Seis delas agora cobrem os custos para os seus pacientes fazerem esses exames clínicos das mamas.

Enquanto novos MTES ocupam cargos permanentes em clínicas por toda a Alemanha e na Áustria, o fundador do Discovering Hands, Frank Hoffmann, está em negociações com Israel e Colômbia. Ele vê oportunidades ainda mais longe.

“Estou convencido”, diz ele, “de que, especialmente em países que não são tecnicamente tão avançados como a Alemanha, este modelo poderia melhorar a qualidade de normas médicas muito dramaticamente.”

Por Abby D’Arcy  Do BBC

Intuição

Intuição

Por Braulio Tavares

A intuição é um recado instantâneo do inconsciente para o consciente, dizendo: “Esqueça como estava fazendo, faça assim”. Descrever o processo desta maneira mostra as terríveis limitações da nossa linguagem. A primeira delas, e uma das mais graves, é tratar dois conjuntos de processos como se fossem pessoas: o Sr. Inconsciente Ferreira da Silva é um senhor idoso, de óculos, cara de intelectual, enquanto que o Sr. Consciente Araújo dos Santos é um rapaz de 30 anos, ansioso, magro, jeito de workaholic. Quanto o mais jovem está estressado demais, o mais velho vem em seu socorro… Não, não é bem assim que as coisas acontecem.

Talvez cada um deles se assemelhe não a uma pessoa, mas a um escritório cheio de gente atarefada, trabalhando em grupos de dez pessoas, que se desmancham e se reagrupam em blocos de cinco ou de vinte, os quais logo se desfazem e voltam a se organizar em outras formações, tudo isto visto através daquelas câmaras aceleradas que reproduzem em alguns segundos algo que levou horas para acontecer. Talvez seja assim a mente humana. E de repente no andar térreo, o que recebe as visitas (o Consciente) chega correndo, esbaforido, um sujeito do sótão ou do porão (o Inconsciente), com um recado urgente: “É para cortar a comparação com pessoas e usar escritórios!”. Alguém do escritório do térreo pode até perguntar: “Como assim, escritórios?! Por que?”. Mas o mensageiro também não sabe; fica sendo escritórios mesmo, e acabou-se.

O compositor e produtor musical Brian Eno afirmou que a intuição e a lógica não são necessariamente conflitantes. A intuição é uma avaliação de nossas experiências passadas e de outras referências, mas feita de modo tão rápido que não percebemos, porque o foco de nossa atenção está voltado para outro ponto qualquer. De repente, o resultado surge pronto. O que ocorre (agora sou eu que estou falando) é que muitas vezes a lógica está tocando a campainha há duas horas, sem que ninguém atenda, e a intuição cochicha: “Empurra a porta pra ver se não está aberta”. Às vezes está; às vezes não. Nossa mente é como um rio largo que vai fluindo numa única direção quando o terreno é desimpedido, mas quando encontra um terreno montanhoso ele se subdivide em vários braços, cada um procurando caminho por uma trajetória diferente.

Diz Eno: “A intuição não é uma voz quase mística que vem de fora e fala através de nós, mas uma espécie de processamento rápido e imperfeito de nossas experiências prévias. Esse instrumento produz às vezes resultados impressionantes a grande velocidade, mas é bom lembrar que de vez em quando pode estar totalmente equivocado”.

Fonte Mundo Fantasmo

10 razões pelas quais pessoas introvertidas são mais atraentes

10 razões pelas quais pessoas introvertidas são mais atraentes

Os introvertidos não desejam ser o centro das atenções, mas eles estão entre as pessoas mais incrivelmente atraentes e fascinantes de se conhecer pois, ao contrário dos extrovertidos que já demonstram seu modo ser e agir desde o inicio, os introvertidos podem ser muito mais interessantes e misteriosos. Nesta seleção estão em destaque as 10 razões pelas quais essas pessoas são mais atraentes.

1- Elas são misteriosas

As pessoas introvertidas têm uma aura misteriosa ao redor delas. Quem está por perto deseja saber o que eles estão pensando, mas nunca saberão de tudo. Isto faz delas pessoas incrivelmente fascinantes e intimidantes ao mesmo tempo. E então não é surpresa que sejam tão incompreendidas pelas pessoas mais verbais e extrovertidas na sociedade.

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2- Elas são fáceis de lidar

Isso pode surpreender, mas os introvertidos podem ser algumas das pessoas mais legais e amigáveis para se encontrar. Eles naturalmente são indivíduos relaxados, agradáveis e amáveis.
Em um mundo que está sempre com pressa e que não pode parar de falar ou de atrair as atenções para si, a natureza legal e descontraída do introvertido é extremamente atraente. É verdade que os introvertidos são drenados por multidões, mas eles crescem em pequenos grupos e interações. Lá eles ficam bem.

 

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3- Elas são sonhadoras

O psicólogo Scott Barry Kaufman e colegas explicam que uma mente que sonha auxilia no processo da “incubação criativa”. As melhores ideias surgem aparentemente do nada, quando as mentes estão livres para vagar por outros lugares. As pessoas introvertidas se perdem em suas mentes com frequência, depois retornam com ideias refrescantes e maravilhosas.

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4- Elas são boas ouvintes

As pessoas  extrovertidas podem passar uma impressão de que estão preocupadas consigo mesmas e com o que os outros pensam. Todos os dias são como um concurso de gritos, onde todos querem falar e ninguém quer escutar.
Então, quando alguém mostra um interesse pelo outro, está disposto a ouvir, isso é muito atraente. Os introvertidos escutam mais do que falam. Eles escutam com a visão de entendimento e não meramente para responder. E isso é incrivelmente raro e especial; estimula conexões mais fortes e relacionamentos mais saudáveis.

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5- Elas são intrinsecamente motivadas

Como pessoas direcionadas para o interior, os introvertidos tendem a ser motivados intrinsecamente. Isto significa que eles são motivados a agir pelas sua convicções internas mais profundas, ao invés de adotar motivações externas rasas.
Eles sabem quem são, o que desejam e o que importa em suas vidas. Qualquer um que seja auto direcionado, motivado por valores mais elevados e apaixonado, é inegavelmente atraente e inspirador.

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6- Elas são atentas

As pessoas introvertidas enxergam as coisas que outros muitas vezes perdem ou não enxergam. O mundo é um local encantado para o introvertido que o vê cheio de possibilidades em todos os lugares. Eles estão constantemente adquirindo informação, em estado de calmaria e usando isso como base para expressão criativa.
Quando se está com uma pessoa com essas características, nada é perdido. E por isso, muitas vezes, parece que a pessoa introvertida sempre sabe o que o outro deseja, até quando não se falou nada, sendo brilhante e cativante.

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7- Elas são conscientes do que dizem

Nada faz uma pessoa parecer mais estúpida e antipática do que dizer coisas inapropriadas porque tem pressa de falar e não se permite o tempo para considerar as próprias palavras. Os introvertidos não falam por falar. E quando falam, eles dizem apenas o suficiente para despertar o interesse no outro, deixando o desejo de ouvir mais.

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8- Elas são criativas, são pensadores brilhantes

De acordo com estudos realizados pelos psicólogos Mihaly Czikszentmihalyi e Gregory Feist, as pessoas mais espetacularmente criativas em vários campos são muitas vezes introvertidas. Isso ocorre em grande parte porque a solidão é um ingrediente chave para o sucesso criativo.
Os introvertidos não têm medo de ficar sozinhos. Eles realmente apreciam a privacidade e liberdade da interrupção. No estado de solidão, os introvertidos entram em contato com o monólogo interior deles, perguntam as questões adequadas e flexionam seus músculos criativos.
A autora Susan Cain nota que, “sem introvertidos, o mundo seria desprovido da teoria da gravidade, teoria da relatividade, Peter Pan…”, e assim por diante. Essa tendência natural de abraçar a solidão, se concentrar profundamente em um assunto, pensar e agir de modo criativo faz os tímidos, do passado e presente, pessoas gloriosamente notáveis e atraentes.

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9- Elas são estudiosas e inteligentes

As pessoas introvertidas são naturalmente atraídas pela leitura e estudo. Elas apreciam aprender e descobrir coisas novas por si, e são inteligentes. Uma pessoa inteligente é sexy e atraente. É melhor passar tempo com alguém que é experiente e ansiosamente interessado em aprender mais, do que alguém que seja ignorante e desinteressado.

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10- Elas são intelectualmente estimulantes

Em razão de os introvertidos serem estudiosos e auto-reflexivos, as conversas deles são intelectualmente estimulantes. Eles sabem todos os tipos de coisas para compartilhar com outros. E há algo mágico e bonito sobre alguém que ilumina e é energizado por conversas significativas e inteligentes.

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Leia mais sobre a temática da introversão na CONTI outra

Dica de livro: ‘Criaturas de um Dia e outras histórias de psicoterapia’, de Irvin D. Yalom

Dica de livro: ‘Criaturas de um Dia e outras histórias de psicoterapia’, de Irvin D. Yalom

«Sinto-me abençoado por poder ajudar os outros, sobretudo os que estão a passar pelo mesmo que eu: velhice» Irvin D. Yalom

O psiquiatra e psicoterapeuta americano Irvin D.Yalom, de 84 anos, escreveu um novo livro, desta vez de não-ficção, onde partilha dez histórias de pacientes que se deitaram no seu divã. ‘Criaturas de um Dia e outras histórias de psicoterapia’ (‘Creatures of a Day and Other Tales of Psychotherapy’), traduzido para português por Casimiro da Piedade, à semelhança da obra pela qual tornou-se conhecido mundialmente, no final da década de 1980, ‘A Psicologia do Amor‘ (‘Love’s Executioner and Others Tales of Psychotherapy’), está escrita de forma íntima e pessoal, e revela um profissional amadurecido e célere a dissecar os “demónios” que atormentam os seus pacientes. Irvin é a ponte para essa terrível fronteira em que a realidade se perde e o abismo espreita.

Dos dez protagonistas das histórias, a maioria com idade avançada, quatro vieram bater ao consultório do médico por terem lido vários dos seus romances e por estarem convictos de que apenas ele poderia os curar. São eles: Paul, um escritor frustrado, que «tinha a solidão como companhia» e se redemoinha obsessivamente em torno de um livro em torno de Nietzsche, que nunca conseguiu publicar; Natacha, uma ex-bailarina que se retirara do mundo do espectáculo devido a uma lesão grave e que ansiava voltar estar em palco. (É esta paciente que pergunta a Irvin: «Como é que consegue lidar com o facto de ter oitenta anos [sessão decorrida em 2011] e sentir o fim a aproximar-se cada vez mãos?» e que ouve «nunca me senti tão bem ou tão em paz comigo mesmo como agora.»); Rick, um antigo executivo financeiro, que vive num lar e que procura um sentido para o que lhe resta da vida; e Justine, uma enfermeira que cuida dos outros mas é incapaz de se oferecer um mínimo de conforto.

Charles, Alvim, Sally, Ellie, Helena e Jarod são as restantes pessoas, cujas análises psicoterapêuticas são revisitadas por Yalom. Assuntos como a solidão, a culpa, o arrependimento, a mortalidade, a amizade e o amor, são abordados e alvo de reflexões belíssimas por Irvin, que afirma ainda sentir-se «humilde perante a infinita complexidade da mente humana», após mais de cinquenta anos de prática clínica.

Em ‘Criaturas de um Dia e outras histórias de psicoterapia’, Irvin D. Yalom partilha com os leitores histórias de recuperação instigantes, para que elas sirvam de encorajamento aos que combatem os seus males. É também um livro indicado para os profissionais que praticam psicoterapia, pois oferece um vislumbre de como a relacção terapeuta-paciente pode operar. Em suma: uma obra para aqueles que se interessam pela psique humana e pelo desenvolvimento pessoal. Mais um inesquecível e marcante livro do autor de vários ‘best-sellers’ internacionais, que nos guia numa fascinante viagem pelos complexos labirintos da psique humana.

 

Excertos

«Quando os pais morrem, sentimo-nos sempre vulneráveis não só porque estamos a lidar com a perda, mas também a confrontar-nos com a nossa própria morte. Quando ficamos órfãos, passa a não haver ninguém entre nós e a sepultura.» (p. 90)

 

«Uma vez que podemos nunca saber com precisão como é que ajudamos alguém, nós, os terapeutas, temos de aprender a conviver confortavelmente com o mistério, enquanto acompanhamos os pacientes nas suas jornadas de autodescoberta.» (p. 234)

 

A indicação de leitura é do nosso blog parceiro Silêncios Que Falam (Site; Facebook)

 

Fragmento

Fragmento

O túnel sem ruído. Sei que se esvai num momento, o sabor de céu na boca sedenta de paraíso. Não sei onde me leva. Heloísa sabe. Ela sabe mudar a estrofe, tomar refresco com satisfação. Eu, prosa torta, cabeça cansada, aiiii. Lá vai de novo: outro dia, a respiração profunda. Passei. Que covardia mais abatida. Sérgio me dizia que eu fosse fundo. Eu aliás fui e mergulhei no mar clarinho numa manhã que quebrava a noite. Saiu ela. Seu nome é Heloísa. Somos muito amigas. Você vai conhecê-la. Há uma história para contar. Há lendas.

Há fatos. Se o desejo será satisfeito? Só você pode saber, se me ler, se me der uma mordidinha na orelha e der risadas de cócegas. Entre uma linha e outra, Heloísa me atrapalha. Travessa e debochada. Por que queremos sempre o mesmo fato, aquela foto que cansamos de tirar da gaveta e fotografamos de novo, mais uma vez. Sorria. Assim…Agora todos sentados. Que gracinha. Você, que é menorzinho na frente. Não apertem tanto o bebê.

 Agora. Não, cuidado com o abajur, ahh,clic. Que medo de não sair certo. Transponho o mal daqueles dias num passe de mágica agradeço aos bons ventos pelo seu impulso.

Há pessoas que se contentam em fingir se contentar. Não sei. Só sei do túnel que vem na frente e do espírito novo que ignora a rispidez do velho. Heloísa está rindo. Ela me convidou para ir ao cinema, mas eu não fui. Ela ficou me sacaneando. Falou do meu labirinto. Heloísa escreve uma carta e me mostra. Depois me interrompe e conta tudo sobre Sérgio. Sérgio mora em Roma, mas pode ser que ele esteja em Atenas. Deslizes da vidamar, quando sem rumo espero o alcance nítido da compreensão até a campainha tocar. Corpo imerso na vontade cruel de ultrapassar, esbarrando em solenidades críticas, tropeçando nas próprias pernas, embaralhando as mãos. Vou expandindo um ar vago, divagando situações. Passei. Dessa vez de uma agulhada na garganta. Heloísa percebeu e me fez um carinho. Desfechos espasmódicos concentrando-se na sólida pureza da voz sem fala. Da fala findando-se sem som, na escureza medonha das entranhas. Sinto o corpo todo ir se aquecendo, num redemoinho de águas mornas. Acho que morro este corpo amorfo. Num movimento cíclico feito um relógio, nado ritmicamente. Descontrolo a rigidez e me descubro fora…Que prazer…

Sérgio escreveu para Heloísa convidou-a para ir encontra-lo na Itália. Ela não quer-querendo. Vou questionar sim. Até morrer. Sair feito um doce de leite, da química do dia é a maldade destes dias que traz esse desassossego; é aquela gente contra esta fortaleza. São os rostos de vidro nas conversas tolas. Não quero. Sou meu sexo. Chega. Pára. Não para. Sinto vontade de mais. Não choro. Quero. Qual é o preço de se fazer planos? É a abstração, ohhh calma Heloísa. Calma. É o sonho de um encontro pleno num abraço gostosíssimo no aeroporto! Num momento só acontece. Bati a toalha e joguei fora as migalhas. Soube. Saberei exercitar o dia, na poesia. Sei que há vontades e vontades. Sérgio já acordou. A esta hora é dia na Europa.

Não nego o que fiz. Tenho ódio da minha submissão e agressões indignas e desrespeitosas. Ahhh vida tola essa de pensar e repensar. Ser feliz. Matar é passado  perfeito.

Sérgio é encabulado. Eu não. eu espero. Heloísa não espera. Ela já filmou o suficiente. O universo do amor fortuito se refaz num gole d´água limpa. Já vi muitos filmes Heloísa foi a atriz principal de um filme amador  e nós curtimos muito tudo. Passei… Desta vez sem pânico nem dor. Quero uma história sólida, sem pedir perdão ao estado. Apenas vivendo-os cada vez como se fosse a primeira. Passamos. Os dias parados. O choro entalado na garganta. Os dedos da mão atentos ao trabalho. Sinto     que as vozes fluem com calma-agora. São os caminhos sem música. Coragem de andar no incorpóreo vidro de gás carbônico com a cabeça fugindo do corpo. Volta. Tormento do silêncio pesado sem cheiro. Heloísa saiu. Foi à praia com uns amigos. Ela sempre me chama. Eu pouco vou. Eu vou-eu ia. As lágrimas correndo feito pérolas gigantes. Impetuosamente, sem aviso prévio, involuntária- incontrolavelmente. Deliramos.

Os suores se misturaram e o gozo foi pleno. Nossos cheiros se confundindo sempre, quero mais, você deixa? Já está chegando o dia de me decidir, quero engolir numa boa e não consigo, ando marcando bobeira, diz Helô, sinto-me contudo completamente desamparada e os vacilos se tornaram uma constante ahhhhhh. Dá pra você entender? A minha alienação não é culpa minha.

Em um mês, pois, o peso dos dias, a busca intranquila de trabalho novo somou-se a uma falta total de diálogo. Heloísa tem saído adoidada enquanto tento tomar maior consciência de mim, com lucidez resta o fim do começo. Engulo, resisto e não procuro saídas forçadas. Não entra em pânico, se acalma, se abre comigo. Só ando ao contrário, num contato próximo e visível de corpos que se confundem num coletivo colérico, egoísta e desorientado. Pondero. A análise cotidiana e um tanto monástica se tornou hábito imprescindível para ir levando. Nesta conformação estão muitas cabeças ingênuas entrando em contínuo desvario, alienatória, alucinantemente, sem rumo. Simples reações cheias de defesa exasperantes inseguranças, entregues às baratas, aos ratos. Aos morcegos estão as gerações do futuro.

Parei de querer entender tudo. Parei a tempo antes que me tornasse uma nuvem  mitológica sem nem haver morrido. Ou será que minha morte é o preço? Resta aos 25 anos um vazio colorido por uma cultura contorcida e ameaçadora. A partir da linha, azul partida de paisagem nova, revelo um sofrimento visceral morto aos meus pés. O exercício singular das palavras. Silencio aberta. Alerta reflito e vivo o sonho de um barco triangular. 25 anos. Por que não 52? Na paisagem incolor a manhã silenciosa desnuda a alma, estampa no semblante um sorriso e o barco, brinca com as ideias a partir do ponto. Segue vazio, na maciez da espuma como se de repente, novo lastro, pudesse seguir de vento em popa…Infinito reciclar. Respire bem 24 horas por dia. Depois, inteiro, saia da casca, quebrando o véu diáfano da fantasia, pule deveras para fora do útero-mãe-terra e sem virar poeira visual, preserve-se. Esta voz incorporada ainda vai me levar à loucura. Vai não. Vocês parecem que sentem prazer em ficar falando estas teses malucas até de madrugada. Você vai à praia amanhã? Tá um tempo lindo…Vou. Amanhã eu vou com vocês. Que posto? Ahh no 10? Quem é esse cara que Heloisa chamou aqui hoje? É até simpático. Não. Se continuar me olhando assim eu juro que agarro. Não é meu estilo esse de agarrar, mas até que a festinha está boa. Se eu fosse Heloisa-eu-ela. Você é linda. Muito bonita mesmo ( baixa os olhos). Os pensamentos se conversam,. O sol está quebrando a barra dos olhos e aquele beijo contido entre o violeta e o espaço negro da ainda absorvente noite de repentina paixão.

Desejo incontido. Nada era, se fosse, seria filme, ou será que foi? Tão real, tão fora do tempo…Nossa..( é engraçado como o raciocínio mata os sentidos.). Assim, atentos, nós dois, tão velho sentimento por tua sabedoria. Nós os autores da cor do silêncio, do cheiro da relva, da forma dos corpos. Acho incrível teu poder de. Amanhece a toda hora.  Parece que nunca vai parar de amanhecer. O sol reflete forte, dourando tudo, tudo mesmo; onde quer que eu esteja estou falando com você, e sempre acaba, quando eu olho e você não está lá..como te dizer que te amo? /Este gosto de brisa feito festa no rosto, festa de sal, na carícia atemporal: é este o segredo do amor original. Suas mãos habilmente masculinas, agora, de novo, continuará no estímulo dos voos? Dois voos altos, matando restrições e ideias malditas até alcançarmos o invisível amanhã. Passamos. Impossível fugir para o sul, leste ou faroeste, já que a noite sempre acompanha o dia, a natureza canta sua canção e nos entregamos à harmonia, à mudança fascinante destes ciclos tão bem desenhados, tão amarelo-foscos, infinitamente azuis.

Carta de amor de Karl Marx para sua mulher Jenny

Carta de amor de Karl Marx para sua mulher Jenny
Manchester, 21 de Junho de 1865

 

Minha querida,
Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder…
A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesquinha, voltam à sua natural dimensão através da magia da distância. É assim com o meu amor. Basta que te roubem de mim num mero sonho para que eu saiba imediatamente que o tempo apenas serviu, como o sol e a chuva servem para as plantas, para crescer.
No momento em que tu desapareces, o meu amor mostra-se como aquilo que na verdade é: um gigante onde se concentra toda a energia do meu espírito e o carácter do meu coração. Faz-me sentir de novo um homem, porque sinto um grande amor. (…) Não o amor do homem Feuerhach, não o amor do metabolismo, não o amor pelo proletariado – mas o amor pelos que nos são queridos e especialmente por ti, faz um homem sentir-se de novo um homem.
Há muitas mulheres no mundo e algumas delas são belas. Mas onde é que eu podia encontrar um rosto em que cada traço, mesmo cada ruga, é uma lembrança das melhores e mais doces memórias da minha vida? Até as dores infinitas, as perdas irreparáveis… eu leio-as na tua doce fisionomia e a dor desaparece num beijo quando beijo a tua cara doce.
Adeus, minha querida, beijo-te mil vezes da cabeça aos pés,

Sempre teu,

Karl

contioutra.com - Carta de amor de Karl Marx para sua mulher Jenny
Fonte indicada: Cá entre nós

Veja a reação das pessoas quando são chamadas de bonitas

Veja a reação das pessoas quando são chamadas de bonitas

Como você reage quando uma pessoa diz que você é bonita(o)?

Fica constrangida(o)?

Sorri?

Em um experimento particular, a estudante norte-americana Shea Glover decidiu fotografar (e filmar) um grupo de alunos e professores de diferentes etnias, gêneros e estilos em uma escola localizada na cidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Ao ser questionada pelos estudantes sobre a proposta do ensaio, Glover responde: “Estou fotografando apenas as pessoas mais bonitas que eu encontro. Pessoas que eu considero lindas“. O resultado está no vídeo acima, uma coleção de sorrisos sinceros, olhares levemente constrangidos e pequenos agradecimentos.

Fonte indicada: Brasil Post

Um ponto de vista sobre o medo de altura

Um ponto de vista sobre o medo de altura

Eu tenho medo de altura.

Não chego nem perto de sacada do quarto andar em diante, não atravesso nenhuma passarela, sofro em escadas rolantes de shoppings, choro em elevador panorâmico e não visito mirantes. Mas um dia, um dia bem lá no passado, eu quis ser alpinista. Vai entender. Seria a cura para o meu medo ou a confirmação de maneira mais patética possível? Pendurada, a três metros do chão, chorando copiosamente. A melhor parte, na época, foi desistir.

Ainda ontem, falando com uma amiga sobre medo e preguiça, eu defendia o argumento de que o medo não paralisa, a preguiça sim. Mas esse era o meu ponto de vista ontem. Hoje, para falar sobre o medo de altura, precisei voltar atrás. Quantas passarelas me recusei a atravessar, quantos potes de ouro deixei de encontrar, pois o arco iris também é uma senhora passarela. Aquela vista maravilhosa do mirante, da varanda, da janela! Eu não tenho fotos com essas vistas ao fundo. Tenho algumas das vistas, muito embora através de grades e telas de proteção.

O fato é que esse medo me paralisa e, nisso tudo o que mais preocupa é: se eu acredito que é melhor sempre estar no chão, em terra firme e seca, de preferência, que outras certezas podem estar se alojando sem que eu tenha esperteza para perceber? Se não entro em um elevador panorâmico, como posso deixar as ideias voarem alto e me trazerem novas inspirações e novos pontos de vista? Será preguiça de combater esse monstro das alturas e trazê-lo para que fique com meus 1,62m e então possamos travar um embate justo e conclusivo?

Se só vejo a linha do horizonte por um ângulo, é justo que ela me pareça sempre a mesma linha, embora não seja sequer uma linha. Só para complicar um pouco mais, meu ponto de vista tem incontáveis pontos cegos, além das paralisias que o medo fincou.

Mas, assim como a vida, o que gente vê tem o colorido que já está presente em nós, penso que a melhor e mais prudente atitude a tomar seja a ofensiva, o enfrentamento, engolindo seco e partindo pra briga.

Começo com as escadas rolantes, passo para as varandas e sacadas e quem sabe, atravesso uma daquelas passarelas medonhas. Nas escadas vou pensar em elevar meus pensamentos e dar colorido a todos eles; nas varandas, vou buscar que ainda não pude ver e apreciar; por fim, na passarela, tentarei exorcizar todos os demônios que me seguram com força para que, enfim, eu atravesse livre e feliz, como era quando olhei para uma montanha e sonhei ser alpinista. Esse é o meu ponto de vista, hoje.

A borboleta e o filósofo

A borboleta e o filósofo

É uma das fábulas preferidas de Jorge Luís Borges. Ele a cita com frequência, faz associações de idéias entre ela e diferentes coisas.  É a história de Chuan Tzu, o filósofo que sonhou que era uma borboleta, e sonhou isso com tal verossimilhança que ao acordar já não sabia se era um homem que tinha sonhado que era uma borboleta, ou se era uma borboleta sonhando agora que era um homem.

Borges, numa das suas Norton Conferences (1967-68, publicadas em 2000) examina mais de perto essa imagem.  Diz ele que em primeiro lugar a história alude a um sonho, e basta isso para contaminar de sonho qualquer realidade que se siga. Depois, porque a escolha do animal, a borboleta, não poderia ter sido mais adequada.

De fato, uma borboleta é um bom exemplo de criatura que sabe o que é se transformar noutra.  Note-se que Chuan Tzu não sonha que é uma lagarta, então, quando ele se imagina e se projeta como borboleta, está admitindo que sua vida como Chuan Tzu tinha sido apenas o preparatório lagartóide para aquilo. Voltar a ser Chuan Tzu seria dar um passo atrás. Como o astronauta do conto de Clifford Simak (“Desertion”), que se transforma numa criatura jupiteriana, descobre a felicidade e não admite ser restaurado como humano.

A borboleta tanto é uma criatura inquieta, que vive sempre buscando algo, como é algo que atrai os olhares e as admirações em volta.  Chuan Tzu tem, na sua dimensão lepidóptera, o dom da beleza, que talvez lhe falte no mundo de cá, onde ele é filósofo gordinho ou um calvo comerciante.  Sem falar no voo, na terceira dimensão onipresente, na leveza.  Ser borboleta era o LSD de Chuan Tzu. Imagine-se como devia ser bom, acordar nos dias pares como Chuan Tzu, dormir, acordar nos ímpares como borboleta.

“As borboletas têm algo de delicado e evanescente”, diz Borges. Claro que outros animais poderiam servir; mas a borboleta é perfeita.  Borges argumenta com simplicidade que seria inverossímil esta história com um tigre, uma máquina de escrever, uma baleia. Nenhum desses (concordo) parece ser capaz de pensar Chuan Tzu de volta, ou mesmo de dar a Chuan Tzu uma dimensão a mais que ele não tinha.  A borboleta, por dois ou três traços apenas, já ganha de goleada.

E deve ser divertido para ela, também.  Ter braços, perna e barriga.  Um corpo que tem de ficar preso ao chão.  Lidar com objetos!  Uma aventura fascinante.  Independente do animal escolhido, essa fábula é a fábula da intercambiabilidade das consciências.  Lovecraft, Edgar Rice Burroughs, Edmond Hamilton e outros escreveram histórias sobre mentes que conseguem trocar de corpo.  Ou corpos capazes de intercambiar suas mentes.

Bráulio Tavares, em Mundo Fantasmo

Wikinomia, o novo modelo econômico que vai atropelar nosso ego

Wikinomia, o novo modelo econômico que vai atropelar nosso ego

Eu já falei algumas vezes sobre como eu amo o século 21 e como eu amo a internet. Já falei, aqui, que estamos todos perdoados por nos sentirmos tão perdidos, porque uma mudança social desse tamanho deixa a gente meio lélé da cuca mesmo.

Eu gosto muito de comparar o momento atual com a terceira revolução industrial do século 18, porque, quando o modo de produção mudou, tudo mudou. Inclusive o comportamento e pensamento das pessoas. Surgiram novas profissões, novos caminhos, novas possibilidades. Não vou entrar na questão sobre esse episódio ter sido bom ou ruim. Ele aconteceu e temos que encarar as coisas que aconteceram sem ficar imaginando o que poderia ter acontecido.  Comparando a transformação que ocorreu com o momento atual, sinto informar que a nossa geração está no meio do redemoinho da era da informação. A gente está exatamente na fase onde as coisas começam a mudar.

E, sim, isso tem a ver com a internet. A internet abriu um mundo de possibilidades na nossa frente e vocês já viram que, em 15 anos, o mundo mudou drasticamente. Eu, por exemplo, trabalho com marketing digital e sou escritora de um blog. Na época dos meus pais, essas profissões nem existiam. Imagina só. Que diabos eu ia fazer da minha vida se eu tivesse nascido há 30 anos? Talvez minhas palavras nem tivessem oportunidade de chegar a vocês. Imaginem quantos escritores maravilhosos morreram sem ninguém saber que eles existiram?

Pois bem. Enrolei até aqui para dizer que nosso modelo econômico está totalmente defasado. Já repararam quantas pessoas estão buscando novas alternativas? Quantas pessoas não estão aceitando mais o trabalho de que não gostam? Estão inquietas, pensando no que vão fazer da vida profissional antes dos 30. Sim, estamos todos perdidos e deslocados, tentando achar um meio para nos encaixarmos. E sabe por quê? Porque nós somos a primeira geração que começou a vislumbrar um futuro totalmente diferente do presente. A gente viu o quanto a tecnologia mudou o mundo em 10 anos e a gente pensa “Opa, peraí. Se em 10 anos eu tenho um celular que tem mais tecnologia do que o computador do que eu tinha em casa, imagina daqui a 10 anos?” A tecnologia cresce exponencialmente, de acordo com a lei de Moore, então a gente começa a perceber que esse modelo econômico e esse modo de trabalho não está funcionando mais.

É como se a gente tivesse usando uma roupa muito apertada o tempo todo, porque a gente cresceu demais, mas ainda insistem e dizem que a gente tem que usar essa roupa. Não temos. E nós somos os responsáveis por fazer roupas novas, que caibam na gente, que caibam nas nossas vontades e visões de mundo. Ninguém sabe do futuro, dessa vez não tem nenhum sábio que possa nos dizer como nos comportar. A mudança está em nossas mãos. Olha o mundo em guerra, em crise econômica, social. E olha para a gente, completamente perdida dentro das possibilidades, porque elas simplesmente não cabem mais. Vamos abrir a mente e mudar tudo! A boa notícia é que isso está acontecendo. Existem pessoas, tipo o Tanaka, um cara incrível que eu descobri pela internet, que abriu uma empresa horizontal.

Uma empresa horizontal não tem hierarquia, nem horas de trabalho. Cada um trabalha exatamente com o que quer trabalhar e recebe o salário de acordo com o que produziu na semana. Toda vez que eu falo isso, as pessoas me perguntam como isso pode funcionar. Bem, leiam este texto, porque ele pode explicar muito melhor do que eu.  Esse tipo de empresa vai ao contrário do que nosso modelo econômico propõe. Mas, por mais que a gente queira abrir uma empresa que faça bem para o mundo, produza produtos orgânicos ou conteúdos interessantes e seja totalmente criativa e fora dos moldes, nada vai mudar, se a gente não mudar nossa mentalidade. A mentalidade de que o dinheiro rege nossas vontades. Hoje, dinheiro não é nada menos do que o denominador comum de nossas vontades. Mas existe uma linha muito tênue aí, porque várias empresas criativas acham que estão inventando a roda, mas pagam mal seus funcionários, porque o importante mesmo é trabalhar com o que gosta e vestir a camisa. Pera lá, né? Esse papo também confunde muito a cabeça das pessoas.

O dinheiro é necessário e continuará sendo. O que estou propondo aqui é uma recolocação do significado do dinheiro. Da mesma forma que existem pessoas que ficam o dia todo sem fazer nada e ganham uma baba, existem pessoas que ralam o dia todo e ganham bem pouquinho. E isso não é justo. Riqueza não deve mais ser atrelada diretamente ao sucesso vazio. O sucesso é medido pelo que a gente tem, pela fama, pelo poder. Mas, se a gente olhar no dicionário, sucesso é simplesmente se sair bem em alguma coisa. Por que a gente mudou o significado dessa palavra tão importante para as nossas autoestimas?

E o que eu estou propondo e começo a perceber é o surgimento da Wikinomia. Esse é o nome que algumas pessoas estão dando para o próximo modelo econômico do mundo. E eu o considero mais justo e mais compatível com o mundo de hoje. Sabe o Wikipédia? Então, ele é um canal aberto para qualquer pessoa escrever uma informação ou editar uma informação que já está lá. Ou seja, você é produtor e, ao mesmo tempo, consumidor do conteúdo. Você dá e recebe informação de volta. A wikinomia funciona mais ou menos da mesma forma. Ela é baseada na troca. Você oferece um produto e recebe outro.  Quantas páginas de troca você já viu pelo Facebook? Justamente, esse é o começo da wikinomia. Uma brasileira criou um aplicativo super legal pelo qual você troca funções. Por exemplo, eu sei costurar e alguém sabe consertar computador. A gente pode se ajudar mutuamente e receber. Ou, então, o “Tem Açúcar”, que é um site onde você pode pedir emprestado algo para pessoas do seu bairro. Claro, ainda existe aquele receio de emprestar coisas para alguém que você não conhece, mas é que a gente está muito preso a esse modelo defasado e individualista. É preciso expandir e arriscar algumas coisas.

Até o próprio Catarse é uma nova forma nova de economia. Você não precisa mais de um super investidor pra tirar sua ideia do papel. Você só precisa de uma boa ideia e de um bom poder de convencimento para as pessoas investirem o dinheiro e o tempo delas no seu projeto. O Airbnb, que é uma rede de aluguéis de casas e apartamento. Ou o Kina, que é uma rede micro-empréstimos de pessoas para outras pessoas. Você pode emprestar seu dinheiro em pequenas quantias, sem precisar remunerar um banco, por exemplo.

Eu poderia ficar aqui citando um monte de novas empresas e pessoas geniais que estão fazendo essa roda girar. E a gente precisa abrir os olhos para isso, porque o mundo está se transformando e nós podemos ser engolidos ou ajudar essa roda a girar. Talvez a gente não exista mais quando surgirem as teorias do que aconteceu com o mundo nesse período, porque, para enxergar alguma coisa, é preciso se distanciar dela. Eu não sei qual futuro nos aguarda e, sinceramente, essa era da informação me assusta muito, até porque eu tenho muita dificuldade em focar e pensar claramente, com TANTA coisa surgindo ao mesmo tempo.  A gente sente necessidade de ter uma opinião sobre tudo. Precisa saber tudo, toda hora. Mas a verdade é que a gente tem o direito de não saber e tem o direito de não querer saber também. Você pode priorizar aquilo com o que quer se importar.

As oportunidades, nesse momento, são infinitas e a gente pode escolher não cagar com o mundo outro vez. Por mais que a gente nunca vá salvar o mundo de verdade e por mais que a gente nunca consiga acabar com o sofrimento, dá para melhorar bastante, né? Ou você quer continuar reclamando de tudo no Facebook?  Essa é nossa chance. Não a desperdice, por favor.

A Incrível Geração de Pessoas Que Não Se Comprometem

A Incrível Geração de Pessoas Que Não Se Comprometem

Conheci Sara na recepção do famoso tatuador portenho Carlos Cavera – Estou um pouco nervosa. Até chegar aqui, tinha certeza que queria fazer uma tatuagem. Agora, não a tenho mais – Sara não tinha medo da dor, mas de se arrepender de algo, em tese, permanente. A acalmei um pouco e expliquei que as remoções de tatuagens com lasers estavam cada dia mais eficientes e menos dolorosas. Sim, menti.

Eu entendo bem Sara. Somos da mesma geração. Não X, Y ou Z. Somos de uma geração de pessoas que não se comprometem mais. Fomos educados assim. Com o passageiro, com o fluvial, diante da volatividade da tecnología, da mutação do pensamento, da fragilidade das relações. Fomos ensinados que as pessoas, experiências e sentimentos passam – ficam os arrependimentos.

Fomos ensinados que filhos são um erro. Financeiro, social, um ataque à nossa liberdade pessoal. Que ter uma casa onde se fixar é pouco moderno, pouco prático, já que o verbo de nossa geração nao é ficar, mas ir. Fomos aprendendo que pessoas, com seus problemas, se bloqueiam, se apagam. Ponto final. Não é necessário manter nada que lhe incomode, que lhe atrase, nada que possa um dia se tornar um peso.

Sofro desse mal, de relações descartáveis, de amores rasos, de medos bobos. Mea culpa, sem culpa. Eu sou assim, ou era até pouco tempo. Outra vez estou mudando. Fazer parte dessa geração também é evoluir, aprender a todo o tempo. Hoje entendo que para evoluir preciso ralentar o passo e involuir diante dos olhos assustados dos outros. Preciso cometer a burrice maior, o pecado mortal, preciso me comprometer com pessoas, coisas e causas.

Diante de tantas emoções que passem, quero um pouco das que ficam; diante de todos os valores que mudam, viver os eternizam; diante da dúvida do arrependimento, quero me entregar à beleza de escolher um caminho e trilhá-lo até o fim. Sem culpa antecipada, arrependimento programado, sem medo do desconhecido, comprometido. Sim, eu quero um filho, um lar e um amor e não espero que sejam nada menos que irreversíveis. Se amar é se prometer, comprometer-se é amar junto.

Diego Engenho Novo

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Eu tenho medo de que as coisas não mudem.

Eu tenho medo de que as coisas não mudem.

Há quem passe a vida toda morando na mesma casa, trabalhando no mesmo endereço, executando a mesma função. Fazendo o mesmo trajeto todos os dias, estacionando o carro na mesma vaga e sentando-se à mesa no mesmo lugar para realizar todas as refeições. Talvez haja nessa rotina a falsa sensação de segurança e de comodidade, porém é preciso pensar que tudo isso resulte num “enferrujamento” do nosso cérebro.

Conheço gente que gosta de ir sempre ao mesmo supermercado alegando saber onde encontrar cada produto sem precisar procurar. Eu também já ouvi relatos de pessoas que quase entraram em colapso quando perceberam que o trajeto diário para ir para casa havia sido impedido por uma obra. Parece que o nosso cérebro acomoda-se e passa a funcionar “no automático” quando é pouco exigido. É mais ou menos assim que funciona: falando de forma bem grosseira, quando repetimos ações sempre da mesma forma, utilizamos pouco a nossa capacidade cerebral. Agimos “sem pensar”, o que é muito cômodo, tanto que, se algo impede a ação automática, por alguns segundos ficamos sem saber o que fazer, até que nosso cérebro processe uma nova alternativa – e para isso, ele realiza novos trajetos dos impulsos elétricos, que chamamos de sinapses.

Realizar tudo sempre da mesma forma pode ser prejudicial ao nosso cérebro, pois deixamos de treiná-lo. Acredita-se que o exercício constante das funções cerebrais possa ajudar na prevenção de doenças neuro-degenerativas, inclusive o mal de Alzheimer, cujas causas ainda não são totalmente conhecidas.

Mais do que aceitar as mudanças em nossa vida de forma positiva, é importante provocá-las de tempos em tempos. Um novo emprego ou uma mudança de residência pode fazer com que nosso cérebro saia da zona de conforto. Caso isso não ocorra, podemos ser agentes de pequenas e fáceis mudanças muito benéficas. Não ir sempre ao mesmo supermercado, não fazer sempre o mesmo trajeto do trabalho para a casa e de casa para o trabalho são bons exemplos disso. Outra dica bem interessante é mudar os utensílios da cozinha dos armários. Não guarde os copos no mesmo local a vida toda, troque tudo de lugar de tempos em tempos. Isso pode ser feito também com as roupas, sapatos e nas gavetas do banheiro. Faça de modo a ter que pensar onde podem estar o que você procura. Encoraje-se a ir onde nunca foi. Percorra ruas desconhecidas. Faça o que e/ou da maneira ainda não fez.

Uma vez por semana, aventure-se a tomar banho e/ou vestir-se de olhos fechados. Anular a visão fará com que você busque os outros sentidos. De forma geral, pessoas com deficiência parcial ou total de um dos sentidos acabam desenvolvendo mais os demais exatamente porque exigem mais deles. Ao sentar-se à mesa, não utilize sempre o mesmo assento, troque de lugar vez em quando. Se possível, troque também os móveis de lugar nos vários ambientes da casa e, se for o caso, os objetos da sua mesa de trabalho.

Mude o canal da TV, sente-se onde não está habituado quando for ao cinema, ao teatro ou à igreja. Mude as marcas de produtos que costuma utilizar, pelo menos para experimentar algo diferente. Não passe a vida toda com o mesmo corte de cabelo nem comprando sempre na mesma loja ou comendo sempre no mesmo restaurante.

Converse com pessoas diferentes. Ouça opiniões diversas. Treine a capacidade de raciocinar baseado no que o outro diz. Na época da graduação, fazíamos sempre o exercício de nos dividirmos em dois grupos e cada um defenderia então uma opinião inversa sobre um assunto polêmico, como o aborto, por exemplo. Em um segundo momento, quando estávamos firmes, cada grupo, em seus argumentos, o professor nos pedia para mudarmos de posição de modo que, quem outrora defendia agora se posicionaria contra, encontrando novos argumentos. Isso fazia com que vivenciássemos forçar o nosso cérebro, imediatamente a mudar todo o raciocínio, mesmo sem concordar. Independente da nossa coerência interna, das nossas crenças e convicções, sair da “zona cerebral” de conforto mantém nosso cérebro em forma. Ele precisa de treino, como também precisam os nossos músculos. Acredita-se que após os trinta anos, iniciemos uma perda natural de massa muscular e por isso nos exercitamos. O auge do nosso cérebro se dá nessa mesma faixa etária, sendo assim, o exercício do organismo deve ser global.

Utilizamos menos de vinte por cento da nossa capacidade cerebral, ou seja, nunca é tarde para começar a mudar.

A empatia para o novo milênio

A empatia para o novo milênio

Por SAMUEL ANTUNES

Vivemos na época do engano. Nós, a geração do avesso, ferimos por vício, viciamos por prazer e achamos prazer no hábito. Achamos graça na morte e a compartilhamos nas redes sociais, ao invés de abraços. Não ouvimos, não esperamos e quase nunca nos atrevemos. Somos fé cega e faca amolada.

Sua santidade, o Dalai Lama, sugere em seu livro “A arte da felicidade”, escrito por ele, mais Howard C. Cutler, que uma das prováveis causas para os males diários da civilização é a falta de empatia entre os seres, ou seja, a falta das pessoas se colocarem mais no lugar umas das outras.

Segundo essa ideia, aqueles que têm a capacidade de compreender e sentir a dor do outro, tendem a se afastar da corrupção e violência. Antes de roubar, independente do motivo e situação social; antes de desviar dinheiro público; antes de matar ou violentar física e/ou mentalmente, pesariam, enfim, o mal que fazem.

A dúvida parece ser então, reconhecer os empecilhos que atrasam essa conscientização e resolvê-los. Olhe ao seu redor: O que é moda? O que tem feito sucesso na mídia popular? Quais são os filmes mais vistos? E as músicas mais ouvidas, os livros mais lidos?

Desde Caim, nosso maior hobbie tem sido a violência. Somos criadores e criaturas, paridos pela própria força bruta; o homem é afinal, o lobo do próprio homem. Uma rápida leitura dos índices sociais prova que a cada ano o homem se torna um assassino ainda mais letal. Se não o revolver que dispara, é a fumaça que polui. Quando não isso, são os olhos que olham sem ver as anormalidades dessa rotina diabólica.

Nosso instinto de autopreservação ainda está lá, mas mais do que isso: há uma inevitável vontade e adoração da morte, como se ainda vivêssemos no calendário regido pelo próprio Thánatos. Vídeos trágicos de gente morta ou sendo morta são repassados como se fossem as boas novas do natal. O gosto pelo sangue dos esportes de contato excita cada vez mais cedo. A sede pela competição acima de qualquer suspeita. A falta de tempo para pensar ou a falta de vontade quando há tempo.

De nada adianta nos educarmos, sermos cultos e polidos ao falar, se ao primeiro gorjeio nos atracarmos feito feras irracionais. De nada adianta reciclarmos nosso lixo se não, de fato, diminuirmos sua produção. Proponho um teste: desçamos juntos do salto para calçarmos os sapatos do mundo. O que você e eu sentimos?

Fonte indicada: Obvious

Quadrinho didático desconstrói falácia da meritocracia

Quadrinho didático desconstrói falácia da meritocracia

É muito comum no Brasil, principalmente depois da ascensão de parte da população com os programas de transferência de renda do governo, algumas pessoas recorrerem ao conceito de “meritocracia”.

Essa ideia é, normalmente, utilizada para criticar as medidas sociais usando a justificativa de que todos têm as mesmas oportunidades e que o mérito verdadeiro – o sucesso profissional, por exemplo – depende unica e exclusivamente do esforço individual.

De modo simples e quase didático, o ilustrador australiano Toby Morris consegue desconstruir esse conceito. Por meio de duas histórias distintas, em um quadrinho intitulado “On a Plate” [em português, De Bandeja], Morris resume bem a condição a que muitos estão submetidos e expõe os privilégios que os defensores da meritocracia carregam consigo e não enxergam.

Confira a versão com a tradução livre feita pelo Catavento.

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contioutra.com - Quadrinho didático desconstrói falácia da meritocracia Fonte indicada: Pragmatismo Político

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