Passando a limpo

Passando a limpo

Depois de um jejum volto a ter muito tesão em escrever. Passei a manhã e meia tarde curtindo poesia. Isso me deixa muuuuito feliz porque estava esperando esse momento chegar. Foram anos com pedaços da alma escritos ao léu. Sinto-me plena, leve, sem ansiedade nenhuma, sem a mínima vontade de falar com ninguém. Vou economizar grana para sair daqui.

Viva deus em mim. Sou a consciência de mim. Sou espírito livre. Sou uma mulher. Agora sinto que é esta a porta . O caminho continua. A saudade se faz plena do agora. Sinto os lábios sorrindo das imagens. Satisfação pura. O silêncio vingou-me. Não há método, nem formatação, nem mediocridades acadêmicas.
Sou um ser errante cigana mente vagando pelo tempo dentro de um movimento que estava estagnado numa lúcida procura do que realmente vale a pena.

Continuo. É preciso escrever como um exercício diário e para isso acho que as manhãs ficarão mais belas e vivas. Sinto uma súbita mudança no tic tac do coração. Fiquei 24 horas diretas em casa e agora decidi passar este semestre em casa. Enquanto isso Marçal vende meu apê. Compro outro e viajo tudo. Meus gatos são meu amor, minha razão de viver.

O que se faz quando se vive só? O que se pensa quando já se pensou em tudo/ o que viver quando já se viveu de tudo. Comidas, bebidas, conversas podem se tornar tão enjoadas e desagradáveis para um corpo cansado disso tudo. A repetição é uma severa lição de mesmice que mata o coração e leva à morte dos sentidos. Gosto de refletir sobre o que é o tempo perdido. Para mim, tenho me re-educado para aceitar o que não cabe mais. Viver cada vez mais a falta, o vazio, o silêncio. Não vejo outra alternativa. Quero ficar ligada na escrita. Passei muito tempo esperando essa inspiração me pegar pelo coração. Ao viajar e sentir uma estranheza com os outros, vejo que é hora de saber ir dando cor e som ao fim do filme.

A saída daqui me dará grana. E só preciso dela para fazer o que ainda quero fazer. Publicar algo, viajar sempre, manter minhas atividades físicas.

E cá estamos, errando, acertando e por tolices universais, caminhantes mortais, ávidos de estórias, aventuras romanescas. O azul da liberdade se espelha no mar que é sempre o mar, sem amarras, sem fim nem começo, os oceanos de amanheceres cheirosos, com lembranças imensuráveis dos momentos intensos e bem vividos ou por vezes atropelados pela ânsia da juventude. Ao escrever, me liberto e vôo. Há um crazy diamond que não cala, nem se esconde. é tão brilhante que ofusca qualquer pensamento cartesiano. A loucura dos amantes é semelhante. A doçura da infância se compara ao oceano sem vírgulas. É um todo de mitos, mágicas, vultos que aparecem e desaparecem. Para a criança, viver é agora. E a criança brinca muito. Com o tempo, a pureza vai indo embora, e o lugar fica mergulhado no esforço egóico para crescer, criar laços, trabalhar, evoluir e cada vez que uma onda bate forte o sal da água me faz recordar o importante da vida.

AFEIÇÃO

Na sua feição

Ela tinha um sorriso morno

Quase frio.
Um olhar de águia

e a cor de pêssego.
Não mais alegrias obtusas

não mais prazeres tortos.

Na sua feição lia-se: desgosto.

Na tentativa de voar

Dionísio e Baco
Sentir os primeiros
sons de si própria.

Na sua feição
estava escrito
afeição.
branda e larga
circular
entre mentes

entre tantos
mortos
cada risco
era um encontro
cada passo
um adeus.

O amor me disse que na chuva ele floresce

O amor me disse que na chuva ele floresce

Quando a água do mundo resolve lavar os céus, quase sempre, corremos para todos os lados, protegendo os cabelos, as roupas e os sapatos.

É que a água pode atrapalhar alguns planos, pode nos desarrumar para a reunião do dia, pode bagunçar os preparativos para o almoço ou avivar a percepção gelada de uma brisa fresca em nosso corpo.

Mas existem os que não se importam com a chuva, existem aqueles que vivenciam, delicados, a chuva de outra forma. E não digo daqueles que o fazem pelo calor da tarde de um dia de verão, tão pouco das crianças embaladas pela alegria da infância, falo dos que estão protegidos pela aura luminosa do amor.

Beijos e abraços na chuva levam, em filmes, as convenções sociais para o ralo. Vocês já devem ter assistido a uma dúzia deles nos quais os mocinhos se engalfinham molhados no ápice do romance, mas não só em filmes isso acontece, na vida também.

Foi o que concluí ao passar correndo, e afoita, por um casal, que em uma longa calçada de uma rua industrial, se abraçava demorado, embaixo de muita água.

Ele usava óculos e tinha uma mochila nas costas, ela vestia jeans e uma camiseta azul discreta e os dois inevitavelmente vertiam amor por todos os poros. Mas o amor deles não era aquele de carícias, de línguas e passadas de mão. Era um amor desprovido da ânsia da carne, era um amor de dois que se encontram ou se despedem depois de muito tempo separados.

Notei que, a despeito da chuva que caia, os braços permaneciam rijos e apertados, e que eles, discretos, de olhos fechados, explanavam ao mundo que não era preciso verbalizar nada. Eles se entendiam no silêncio do querer bem. E para mim, naquele instante, ficou claro que os dois só queriam um filete a mais de tempo para ficarem juntos. Que eles só queriam dispor de um pouco mais de tempo para se sentirem e se amarem. Para eles não importava o aspecto desse tempo. Fosse ele seco ou molhado, seria nele que caberia, apertado, o abraço da vida.

E ali, naquele canto ermo da cidade, eles pareciam estáticos. O mundo girava, as gotas caíam grossas, tudo no entorno se transformava, mas não eles, eles pareciam tocados por um delicioso torpor.

O amor daqueles dois era mais forte que tudo que os cercava, o amor que os embalava tinha o poder mágico de transportá-los para outros lugares, para outros gostos, cheiros, lembranças e impressões. O amor que os habitava era capaz de livrá-los de sensações que não fossem aquelas engendradas pelo reencontro ou pela despedida.

Aquele amor emudecia o mundo e tapava os olhos deles para os que passavam, dizendo carinhoso que nada mais importava. Aquele amor era capaz de transcender, de encharcar o corpo de calores e deixar a alma marcada para sempre.

Percebi que o amor em sua gentileza guardava-os de qualquer zanga pelo mau tempo ou pelo vento que acompanhava aquela chuva.

Talvez no mundo o amor tivesse que ser assim. Talvez o amor tivesse que brotar apertado em meio às convenções. Talvez o amor tivesse que se contentar com um tempo espremido.

Mas o amor em sua grandeza não se importa com o lugar, com o momento, com a chuva ou com o vento. Ele simplesmente é, e o é com uma força arrebatadora.

O amor naquele dia encheu de vida a rua cinza de fábricas alongadas e tristonhas. O amor naquele dia disse a quem o quisesse ouvir que ele é maior que tudo. Que ele é mais forte que o tempo, que o vazio e que a chuva juntos.

O amor cantou aos meus ouvidos que ele não se curva às circunstâncias, que ele é onde tem que ser, do jeito que dá. Que ele não se alimenta de desculpas ou do que é efêmero.

O amor me disse ali que ele não se apaga com água. O amor me disse ali que na chuva ele floresce.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna

Procura-se um amor.

Procura-se um amor.

Procura-se um amor que adore pessoas mais por suas histórias que por suas conquistas. Procura-se um amor que seja feliz cercado de abraços por todos os lados, mas que também saiba navegar pelo espaço dos próprios pensamentos, sem culpa.

Procura-se um amor que goste de cozinhar para si. Desse jeito, em nossos jantares serei sempre companhia de um prazer que você já tem. Procura-se um amor que conheça bem os caminhos da doçura, os mistérios provocantes, os sabores da vida.

Procura-se um amor que entenda que líquidos são as melhores bases para diluir longas conversas. Chá, café, vinho, cerveja ou mesmo nossos beijos, que tudo seja pretexto para saber mais de você.

Procura-se um amor que seja paciente quando eu não conseguir sê-lo. Que perca a paciência quando precisar, que me mande ao inferno quando eu merecê-lo, mas que sempre me queira de volta, envoltos de um leve cinismo bobo das crianças, vazantes da culpa do outro.

Procura-se um amor que se debruce sobre mim quando precisar, como quem sobe nas pedras para ver o céu tocando delicadamente os cabelos ondulados dos mares, sem nada a dizer.

Procura-se um amor que convide com os olhos enquanto diz e que nade nos meus enquanto escuta. Procura-se um amor que tenha suas próprias manias, para que às vezes também se distraia e me deixe viver as que já são tão minhas.

Procura-se um amor que tenha dedos apaixonados por cabelos e que esses dedos abobalhados se percam em meio a eles, nas trilhas ancestrais do topo dos meus pensamentos.

Procura-se um amor que me faça rir como se eu fosse adepto de uma nova droga, ou dotado de um tipo raro de doença mental – Veja aquele pobre coitado, lá vai rindo-se. Dizem que ele sofre de um caso raro de Amorismo Cerebral – comentarão as vizinhas que brotam nas calçadas.

Não, não busco mais perfeição. Busco quem também suavize meus pesos e releve meus erros que se multiplicam sempre em tantos e tantos e tantos. Não, não mais me distraio tanto com os errados enquanto não me chega o certo. Quero estar com os olhos bem abertos e o pátio do meu coração bem limpo para convidá-lo ao centro, quando o encontrar por perto.

Diego Engenho Novo

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contioutra.com - Procura-se um amor.

Não tenha medo de errar!

Não tenha medo de errar!

Somos humanos passíveis de erros, isso é fato inconteste e nos é lembrado incansavelmente todos os dias. Todos já lemos ou ouvimos falar sobre a importância dos erros em nossas vidas, sobre o quanto ganhamos com eles e, ainda assim, a maioria de nós não se permite errar, o que certamente tanto atrapalha nosso equilíbrio interior quanto diminui o potencial do alcance de nossas ações.

Nossos erros tomam a dimensão exata da importância que lhes dermos. Se errar é preciso e ninguém fugirá a isso, urge a necessidade de aprendermos a lidar com o nosso errar, ou permaneceremos paralisados sob o peso de nossas imperfeições, que muitas são. Não adianta querer acertar sempre e com todo mundo, ou seja, o perfeccionismo extremo acarretará cobranças além das necessárias, condenando-nos diariamente em quase tudo o que fizermos.

Há quem erre deliberadamente, tendo consciência de que não deveria proceder daquela maneira ou agir daquela forma, colocando interesses à frente de tudo, como no caso de quem trai, adultera os fatos, mente. Nessas situações, os erros não serão úteis, pois provavelmente não forçarão à analise do que foi feito, de forma que se tentem mudar atitudes e comportamentos para que se evite repeti-los. Querer errar propositadamente só traz tristeza e decepção aos envolvidos, nada mais.

Errar quando se tenta acertar, pelo contrário, deve ser encarado como uma nova chance que temos diante de nós para mudarmos o que for preciso, para refletirmos acerca de nossos atos, quanto às consequências que eles trazem para nós mesmos e para quem nos rodeia. Teremos, então, que entender que agimos como sabíamos, intencionando o melhor; era o que tínhamos para dar naquele momento e o fizemos com sinceridade.

É preciso, assim, diferenciar os erros honestos dos premeditados. Errar quando se tentou acertar nos absolve de muita culpa, pois nossas intenções não objetivavam prejudicar a ninguém. Já errar de propósito, para atingir a finalidades egoístas, sem se preocupar com o que ou com quem possa atropelar nessa empreitada, implica desvio de conduta. Agir em acordo com o ritmo da vida em que estamos inseridos é sempre desejável, mas nem assim estaremos sempre tomando as atitudes certas.

Psicólogos e pedagogos consideram o erro importante para que avancemos em nosso desenvolvimento pessoal, em todos os sentidos. Mas é preciso refletir sobre o erro, analisando as suas causas, o porquê de termos errado, entendendo a forma certa de solucionar os diversos problemas que teremos pela frente, na escola e na vida. Ignorar o erro, menosprezando-o e furtando-se de confrontá-lo, não possibilitará que mudemos para melhor, ou seja, não evoluiremos, não nos tornaremos mais gente, como tem de ser, e assim estaremos fadados a cometer os mesmos erros, sempre, com todo mundo.

Portanto, faça um grande favor a si mesmo e erre, mas erre muito. Só erra quem faz, quem age, quem ousa vencer seus medos, quem acredita nas próprias verdades, sendo capaz de assumir seus atos e não se acovardando diante do inesperado. Erra quem se lança à vida com honestidade, quem é capaz de enxergar a si mesmo e perceber a extensão de suas atitudes nas vidas alheias, quem é seguro de si ou procura sê-lo, acima de tudo. Errar com honestidade é abrir-se ao desconhecido, querendo de volta o que a vida tem de bom, é não temer os olhares alheios, buscando se aprimorar a cada dia, desejando o melhor para si e para o próximo. Permita-se errar, permita-se viver.

Viver sem medo dos equívocos é preciso, pois nem sempre teremos razão, nem sempre agiremos do modo mais acertado, tampouco estaremos livres de sermos confrontados com as consequências do que fizemos. Agir querendo acertar é tudo o que podemos fazer, é o que nos resta diante da imprevisibilidade da vida à nossa frente. Precisamos ter a certeza de que somente agindo e tentando, enfrentando o temor ao fracasso, é que poderemos acertar e dessa forma nos posicionar frente ao mundo e contribuir para que nosso lugar se torne cada vez melhor de se viver. Afinal, erraremos muitas e muitas vezes, mas o prazer que os eventuais acertos nos permitirão experenciar acabarão sempre compensando toda a dor inerente ao enfrentamento da vida, sem dúvida alguma.

Eu não tenho razão, mas eu tenho as minhas razões.

Eu não tenho razão, mas eu tenho as minhas razões.

A palavra razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois verbos cujos sentidos são muito parecidos em latim e em grego. Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratiovem do verbo reor, que significa: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular.

Por isso, logos, ratio ou razão significam pensar e falar com clareza e de modo compreensível. Então, a razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se de forma clara e correta. É conseguir pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma maneira de organizar a realidade.

Agimos sempre por alguma razão, então todos nós a temos.

Percebam que na linguagem do senso comum, no dia a dia, parece ficar claro que a palavra razão no singular tem mais peso do que ela mesma no plural, por isso fiz esse trocadilho com o tema deste artigo. “Posso não ter razão, mas tenho as minhas razões”. Não há diferença entre a razão e as razões, o que ocorre é que costumamos confundir o “ter razão” com o “estar certo”.

Se todos nós temos as nossas razões, é provável que estejamos todos certos, ou não?

Longe de mim querer me aprofundar na filosofia, da qual sempre fui mera leitora, porém há de ser útil ao nosso convívio mútuo entender que as razões são de cada um e que cada um acredita estar certo em suas escolhas, posições e argumentos.

Outro dia alguém postou no Facebook que é mais importante ser feliz a ter razão. Bom, se ter razão se referir a estar certo, realmente é muito mais negócio optar pela felicidade. Acredito que é mais feliz quem discute menos. Estar sempre certo é impossível. A necessidade de “vencer” sempre as “batalhas relacionais” é uma fotografia escrachada da insegurança, da falta de confiança em si próprio e da baixa autoestima.

Gente que briga com o mundo e que quer sempre estar certo talvez também tenha suas razões, mas eu acredito que elas não sejam muito saudáveis.

De uma forma simplista podemos dizer que a razão (as nossas razões) vem da conclusão do nosso pensamento e estimulam o nosso comportamento. Toda ação, antes de acontecer, passa por um processamento em nosso cérebro. Lembrem-se de que falo de cérebros neuróticos normais, visto que os psicóticos não seguem essa regra.

Quando observo relações, percebo sempre uma barreira quando os indivíduos começam a lutar pelo título de “eu sou o certo” e dão a isso o nome de “lutar pela razão”. Como se quisessem que os dois cérebros tivessem funcionamentos idênticos, que o outro sucumbisse às suas sinapses, anulasse toda a sua capacidade intelectual para seguir cegamente às ordens do outro. Exigir isso torna a tal barreira tão intransponível que acaba por provocar o fim do relacionamento.

Tentar anular no outro a sua capacidade e o seu poder de pensar e de ter então as suas razões é um desacerto para a sociedade. Muitas vezes vemos fracassos em relacionamentos afetivos e profissionais por estarem sempre seguindo o script de que é preciso que um esteja certo e o outro errado. Lutam incessantemente entre si acreditando que a paz está em estar certo e o que acabam encontrando lá é a morte – a morte de uma relação.

É feliz que tem suas razões e entende que o outro tem as dele, quem percebe que o outro vê o mundo usando lentes diferentes das nossas. Lentes estas adquiridas na história de vida de cada um. Somos diferentes e não podemos, nem jamais poderemos mudar o outro. Talvez por isso nós psicólogos tenhamos posturas tão contrárias a qualquer tipo de tentativa de alienação. A alienação é a perda da capacidade de pensar e de organizar os pensamentos no que são “as suas razões”.

Como disse Mário Quintana “Só não muda de opinião quem não a tem”.

As coisas secretas da alma

As coisas secretas da alma

Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos – porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz.

Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou – não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir – apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive – não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente – ó ideal dos amorosos! – eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.

Mário de Sá-Carneiro, in ‘Cartas a Fernando Pessoa’ , via Citador

Quem não ama a solidão, não ama a liberdade- Arthur Schopenhauer

Quem não ama a solidão, não ama a liberdade- Arthur Schopenhauer

Nenhum caminho é mais errado para a felicidade do que a vida no grande mundo, às fartas e em festanças (high life), pois, quando tentamos transformar a nossa miserável existência numa sucessão de alegrias, gozos e prazeres, não conseguimos evitar a desilusão; muito menos o seu acompanhamento obrigatório, que são as mentiras recíprocas.

Assim como o nosso corpo está envolto em vestes, o nosso espírito está revestido de mentiras. Os nossos dizeres, as nossas ações, todo o nosso ser é mentiroso, e só por meio desse invólucro pode-se, por vezes, adivinhar a nossa verdadeira mentalidade, assim como pelas vestes se adivinha a figura do corpo.

Antes de mais nada, toda a sociedade exige necessariamente uma acomodação mútua e uma temperatura; por conseguinte, quanto mais numerosa, tanto mais enfadonha será. Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.

A coerção é a companheira inseparável de toda a sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá, suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade. Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.

Ademais, quanto mais elevada for a posição de uma pessoa na escala hierárquica da natureza, tanto mais solitária será, essencial e inevitavelmente. Assim, é um benefício para ela se à solidão física corresponder a intelectual. Caso contrário, a vizinhança frequente de seres heterogêneos causa um efeito incômodo e até mesmo adverso sobre ela, ao roubar-lhe seu «eu» sem nada lhe oferecer em troca. Além disso, enquanto a natureza estabeleceu entre os homens a mais ampla diversidade nos domínios moral e intelectual, a sociedade, não tomando conhecimento disso, iguala todos os seres ou, antes, coloca no lugar da diversidade as diferenças e degraus artificiais de classe e posição, com frequência diametralmente opostos à escala hierárquica da natureza.

Nesse arranjo, aqueles que a natureza situou em baixo encontram-se em ótima situação; os poucos, entretanto, que ela colocou em cima, saem em desvantagem. Como consequência, estes costumam esquivar-se da sociedade, na qual, ao tornar-se numerosa, a vulgaridade domina.

Arthur Schopenhauer, in ‘Aforismos para a Sabedoria de Vida’, via Citador

Creche municipal de SP tem aula de ioga e massagem para bebês

Creche municipal de SP tem aula de ioga e massagem para bebês

Por Marcelle Souza

Ao som de mantras, a professora fecha as cortinas e reduz a iluminação dentro da sala. No chão, eles relaxam em colchonetes dispostos um ao lado do outro. Poderia ser uma aula de ioga em qualquer estúdio especializado, mas os alunos têm cerca de 3 anos e a prática acontece em uma creche conveniada à rede municipal de ensino de São Paulo.

O CEI (Centro de Educação Infantil) Lar de Crianças Ananda Marga, administrado pela ONG Amurt-Amurtel, está localizada no Jardim Peri, zona norte de SP, em uma área cercada por favelas. “Vemos muitos casos de violência doméstica e de pais que estão presos, então a creche precisa ser um espaço de acolhimento para essas crianças”, afirma a diretora Silvia Helena de Oliveira.

Para se adaptar aos pequenos iogues, as duas professoras contam histórias para ensinar as posturas para a turma de oito alunos.  A aula começa com um “passeio na nuvem”, em seguida, o grupo faz a saudação ao sol (uma das sequencias mais conhecidas da ioga), passa para uma série de posturas e, então, fecha os olhos para o relaxamento.

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Em uma das últimas etapas da aula, as crianças fazem massagens no rosto, nos braços e nos pés dos colegas. A prática, realizada uma vez por semana em cada turma, é utilizada para desenvolver a parte física e emocional dos alunos.

“O objetivo é estimular a criatividade, a autoestima, o desenvolvimento do caráter dessas crianças”, explica Didi Ananda Jaya, coordenadora de projetos da Amurt-Amurtel em São Paulo. A ONG adota a filosofia neo-humanista, que, segundo a instituição, busca a transformação do indivíduo em um ser mais saudável, solidário, ativo, compassivo e consciente do seu papel na sociedade.

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A hora do toque

Enquanto os mais velhos praticam ioga, o berçário é preparado para a shantala, uma massagem indiana para bebês. A iluminação é reduzida e as professoras ficam em silêncio: a aula será apenas pelo toque, e a sala é invadida pelo cheiro do óleo de essência lavanda.

O bebê deita sobre as pernas da professora, que tira a sua roupa e começa a massagem. No início agitado, ele vai aos poucos relaxando e sente o toque nos braços, em cada um dos dedos das mãos, nas pernas, nos pés, nas costas… E então começa a dormir.

Todas as crianças do berçário recebem a massagem uma vez por semana. A ideia, dizem os professores, é fazer com que se sintam acolhidos na sala de aula e tenham um momento de carinho no ambiente em que ficam durante boa parte do dia. A técnica também é ensinada para as mães.

“Até os 3 anos, eles estão começando a viver a sua personalidade, as relações interpessoais, as relações familiares, então é importante que encontrem acolhimento no ambiente escolar para brincar, cantar, correr, pular e para todos os tipos de expressão”, afirma a professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da USP, Maria Letícia Nascimento.

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Boas-vindas

No início de cada aula, eles se reúnem para o “círculo do amor”, um momento “zen” de boas-vindas antes do café da manhã. Eles cantam, batem palmas, fazem saudações ao sol, à natureza e agradecem pela presença dos colegas. Nas paredes da sala, estão desenhos, fotos e atividades sobre família, a casa e o bairro em que os alunos moram.

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Alunos do CEI (Centro de Educação Infantil) Lar de Crianças Ananda Marga participam do “círculo do amor”, uma acolhida “zen” antes do café da manhã. A creche fica no Jardim Peri, zona norte de São Paulo, e atende 111 crianças de zero a 3 anos

A unidade atende 111 crianças com até 3 anos e 11 meses, que ficam na creche em período integral. São, em média, 45 vagas abertas por ano na unidade e é a prefeitura quem faz distribuição delas.

“O ideal seria que em todas as creches as crianças tivessem a oportunidade de se expressar, de falar da família, da sua casa e do que fez no final de semana”, diz a professora da USP, que é especialista em educação infantil.

Além das práticas, a alimentação no CEI Ananda Marga é vegetariana, repleta de frutas e verduras, e feita sob a orientação de um nutricionista da ONG e outro profissional da Prefeitura de São Paulo.

Outras três creches administradas pela ONG pertencem à rede municipal de ensino e adotam a mesma linha pedagógica. Elas funcionam na zona norte e na zona sul de São Paulo.

Em abril deste ano, cerca de 110 mil crianças esperavam por uma vaga em creches da cidade.

Fonte indicada Uol Educação.

Tremor nas pálpebras é sinal de que é preciso desacelerar, dizem médicos

Tremor nas pálpebras é sinal de que é preciso desacelerar, dizem médicos

Por Cármen Guaresemin

O tremor aparece porque liberamos hormônios ligados ao estresse que vão para o sistema nervoso autônomo; ele é um dos primeiros sinais de que algo não vai bem e que é preciso relaxar.
Quem nunca sentiu aquele famoso tremor nas pálpebras? Algo tão irritante quanto impossível de ser controlado. Pior: pode durar dias, com direito a curtos intervalos. Mas por que isso é tão comum e, ao mesmo tempo, difícil de ser evitado?

A oftalmologista Andrea Lima Barbosa, diretora médica da Clínica dos Olhos São Francisco de Assis (RJ), conta que é extremamente comum pessoas chegarem a seu consultório com essa queixa.

“É sempre preocupante para a pessoa e o correto é procurar um especialista, mesmo. Esse tremor palpebral em episódios é uma luz vermelha avisando que algo não vai bem não só no seu corpo, mas em sua vida”, alerta a médica.

Ela conta que o tremor é um sinal de que a pessoa pode estar no auge do estresse. “Pode ser fadiga, ansiedade, resultado de noites mal dormidas ou problemas pessoais , por exemplo”.

SAIBA AS CAUSAS E COMO TENTAR EVITAR:

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Como as causas são diversas, para evitar o tremor involuntário das pálpebras deve-se identificar a mais importante e agir nela:- Fadiga: pode ser causada pelo uso contínuo de computadores ou monitores (síndrome da visão do computador). Nestes casos há necessidade de se intercalar períodos de trabalho com períodos de descanso dos olhos, ou seja, a mudança de foco durante 15 minutos, antes de prosseguir no uso;- Estresse: deve-se tentar evitar ou resolver as condições ou as situações do ambiente de trabalho ou familiar que estejam ligadas ao aumento da ansiedade; pode-se tentar a utilização de medicação relaxante muscular leve, sob indicação médica;- Secura nos olhos: também pode estar relacionada ao uso contínuo de computadores. Usar colírios lubrificantes preventivamente é indicado, assim como aumentar a umidificação do ambiente de trabalho;
– Cafeína: se a causa for associada ao consumo excessivo de cafeína, de bebidas energéticas ou de cigarro, deve-se reduzir ou suspender seu consumo;

– Não identificadas: sugere-se a consulta oftalmológica completa com objetivo de se avaliar a função muscular das pálpebras, a superfície ocular, erros refracionais ou fundo de olho.

Fonte: Norma Allemann, Professora Adjunta do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de Medicina – UNIFESP.

Estresse

Barbosa explica que o tremor, quase sempre unilateral, aparece porque liberamos hormônios ligados ao estresse que vão para o sistema nervoso autônomo. Estes hormônios levam estímulos para as pálpebras, que passam a ter contrações involuntárias, ou seja, impossíveis de se controlar.

Com ela concorda o oftalmologista Luiz Carlos Portes, ex-presidente e membro do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Ele acrescenta alguns outros fatores que podem desencadear o problema: ingestão excessiva de cafeína, carência de vitaminas, idade avançada, excesso de horas em frente ao computador etc.

Ambos enfatizam que o oftalmologista deve ser consultado para descartar qualquer doença, mas o comum é mesmo que tudo não passe de estresse. Porém, se for algo além disso, o paciente será encaminhado para um neurologista, por exemplo.

Portes, porém, avisa que algumas doenças como conjuntivite e olho seco também podem provocar os espasmos. Isso sem contar que pessoas com mal de Parkinson e Síndrome de Tourette (desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por tiques, reações rápidas, movimentos repentinos ou vocalizações que ocorrem repetidamente) também sofrem com esses espasmos.

Procurar o médico

“Por isso é importante consultar um oftalmologista”, enfatiza o médico. Porém, como na maioria dos casos o problema advém mesmo do estresse, ele comenta: “Há pessoas que ao ficarem estressadas, sentem azia. Outras têm dor nas costas e algumas têm este tremor. É difícil, mas é preciso achar um caminho para não sentir tudo isso”.

“Você tem de se perguntar: o que vai fazer da sua vida? Como anda o trabalho e os relacionamentos. Eu indico relaxamento, ioga, meditação, algo para acalmar mesmo. E, na medida do possível, evitar se estressar”, alerta Barbosa.

A médica insiste que é preciso tomar cuidado porque, se a pessoa não se cuidar, poderá desenvolver doenças cardíacas, depressão, ansiedade ou hipertensão, por exemplo.

“É preciso mesmo repensar a vida”, ressalta, acrescentando que ela própria já passou por isso: “Quando eu fazia plantão médico, eu mesma tinha isso com frequência. Era uma época bem estressante para mim”. Portes também já teve o mesmo problema, quando se preparava para o vestibular: “Eram menos opções de faculdades e a pressão era ainda maior. Estudava muito!”.

Como fazer parar?

Uma receita caseira dá conta de que compressas de chá de camomila ajudariam a parar o tremor. “Melhor tomar o chá”, brinca a médica. Porém, ela ensina que gelo é bom, porque anestesia a musculatura.

Já o médico conta que indica ao paciente um relaxante muscular, mas também aconselha a pessoa a ir ao cinema, praticar exercícios e descansar, pois o comum é que o tremor passe quando ela conseguir relaxar. “Se notamos que é algo de ordem pessoal ou depressão mesmo, o correto é encaminhar a um psicólogo ou psiquiatra”

Botox

Se a pessoa tiver o tremor de forma crônica, pode ser algo mais grave. “Existe a doença do espasmo essencial, blefarospasmo, que é rara. É o famoso tique nervoso, a pálpebra fica tremendo o tempo todo. Daí é preciso tratamento com um neuro-oftalmologista que usará injeções de Botox”, conta a médica. A indicação ocorre porque a toxina botulínica paralisa o músculo.

Norma Allemann, professora adjunta do Departamento de Oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), conta que, em alguns desses casos, após diagnóstico diferencial adequado com doenças neurológicas que podem estar associadas, a toxina botulínica é aplicada em forma de injeções e tem duração variável de efeito, entre três e seis meses. “O blefarospasmo é uma condição rara, um tipo de distonia facial, geralmente bilateral e associado a contraturas de outros músculos da face e caracterizado pela impossibilidade de controle voluntário. Pode ser um sintoma de doenças neurológicas e deve ser acompanhado de consulta especializada para diagnóstico”, encerra.

Fonte indicada: Notícia Uol

Artigo indicado pela nossa página parceira Fãs da Psicanálise

Alivie o estresse massageando este ponto do ouvido

Alivie o estresse massageando este ponto do ouvido

O estresse está cada vez mais presente na vida moderna, e seguimos procurando maneiras para reduzi-lo e obter melhor qualidade de vida. A acupressão pode se tornar uma aliada nessa busca, já que alguns pontos do corpo, quando pressionados, podem diminuir o estresse e a ansiedade. Um dos mais poderosos deles é um ponto no ouvido, do qual podemos tirar proveito para alcançar uma sensação de relaxamento e bem estar.

Neste artigo vamos falar sobre o estresse e sobre como a acupressão pode nos ajudar a combatê-lo de forma simples e rápida, em qualquer momento do dia.

Como combater o estresse

Eliminar completamente o estresse, com as pressões do trabalho, as contas para pagar e as responsabilidades aumentando a cada dia pode ser uma tarefa difícil, mas manter alguns hábitos saudáveis pode ajudar muito a preveni-lo e até a reduzi-lo.

Praticar regularmente uma atividade física da qual você realmente goste e tentar dormir, sempre que possível, 8 horas de sono por noite, são duas sugestões que podem contribuir para diminuir os níveis de estresse. Exercícios de ioga e meditação também funcionam como uma excelente maneira de relaxar e se “desligar” dos problemas, pelo menos por alguns momentos da semana.

Outro ponto importante é que precisamos prestar atenção às nossas atividades e sentimentos, evitando situações e pessoas que possam nos causar um estresse desnecessário. Também é fundamental não guardar rancor e não ficar remoendo o que já passou. Cabe a nós mantermos uma atitude pró-ativa para vivermos uma vida mais leve e relaxada.

Além de tudo isso, existem algumas técnicas que proporcionam um alívio quase imediato quando já estamos lidando com o estresse. Uma delas é a acupressão, e especialmente em um ponto no ouvido que é conhecido por reduzir a tensão e a ansiedade.

Acupressão para reduzir o estresse

A acupressão é uma técnica tradicional chinesa que implica fazer pressão com os dedos ou com as mãos em pontos específicos do corpo. Acredita-se que essa pressão seria capaz de aliviar a tensão e restaurar a harmonia interna, reduzindo o estresse e até ajudando a prevenir doenças.

A prática afirma que vários pontos na orelha correspondem a determinados órgãos e funções do corpo, e estimulá-los permite acessar o sistema nervoso central para atenuar e tratar eventuais problemas nestas partes do organismo.

Entre estes pontos, um dos que mais se destaca é o chamado Shen Men, um centro de energia encontrado na parte superior do ouvido. Quando pressionado, este ponto permite melhorar o fluxo de energia no organismo, fortalecer o sistema imunológico, reduzir inflamações e dores, especialmente as dores de cabeça, e, principalmente, diminuir o estresse e a ansiedade.

O Shen Men é considerado tão poderoso e eficaz que também é conhecido como “A porta do paraíso”. Ele pode ser estimulado em um tratamento de acupuntura, usando agulhas, mas também é possível obter ótimos resultados na luta contra o estresse aplicando somente a pressão dos nossos dedos em casa ou até no trânsito, quando estivermos nos sentindo estressados ou ansiosos demais.

Como usar o ponto Shen Men para reduzir o estresse?

Estas são algumas recomendações feitas por quem utiliza esta técnica para diminuir o estresse e a ansiedade. Aproveite as dicas e experimente hoje mesmo:

  • Usando um cotonete, pressione o ponto suavemente. Devemos aplicar uma pressão significativa, mas sem fazer uma força exagerada. Faça uma massagem relaxante com o cotonete.
  • Fique atento à respiração durante o processo. Respire profundamente, inspirando o ar até encher os pulmões, e expire calmamente. Quando você estiver inspirando, olhe para a esquerda, e quando estiver expirando, vire o olhar para a direita.
  • Tente esvaziar sua mente e não pensar nos problemas que lhe afligem e causam estresse. O momento é para relaxar. Você vai ver como o corpo começa a se acalmar e surge uma sensação de relaxamento.
  • Você também pode experimentar massagear o ponto Shen Men com a ponta dos dedos, aplicando uma pressão um pouco mais forte.

Você pode usar esta técnica sempre que estiver se sentindo muito estressado, mas recomendamos criar uma rotina e aplicá-la todas as noites, antes de dormir. Ela vai ajudar a preparar o corpo para dormir, deixando-nos mais relaxados e prontos para uma noite de sono profundo, outro ponto fundamental para ajudar a reduzir o estresse e aumentar a qualidade de vida.

Fonte indicada: Melhor com Saúde

Salvos pela Infância

Salvos pela Infância

Por conta dessas modernidades de rede social e smartsphones, quatro amigos solteiros se reencontraram depois de uns vinte anos sem que houvesse algum tipo de comunicação nesse tempo. Resolveram “sair para beber”, pois bem sabemos que a bebida é uma enzima que cataliza o diálogo. Todos eles já tinham completado mais de quarenta invernos e raras e inesquecíveis primaveras.

Quando a madrugada já apontava, Amanda, a única mulher no grupo, querendo puxar mais assunto, perguntou:

– Há dez anos atrás, como estavam vocês nesse tempo?

Silêncio na mesa. Henrique que estava rindo ficou sério. Guilherme pediu ao garçon uma destilada e Luis enxugou uma lágrima furtiva que saiu assim de repente.

Amanda percebendo que havia mexido onde não devia tentou consertar:

– Mas o Vasco, hein?! E aí, vocês acham que Dilma sai ou fica?

Todos quietos com o foco do olhar para pontos diferentes no ar. Amanda que promoveu essa bad de uma hora para outra ao propor um recuo no tempo acabou perguntando para os três de uma vez:

– Ainda a amam? – E pediu mais um chopp.

Todos bebiam, mas quando o copo não estava em contato com a boca, os lábios se apertavam espremidos um contra o outro formando algo parecido com uma parábola com a concavidade para baixo. Estavam cheios de nunca mais nos pensamentos.

Henrique havia se separado há cinco anos. Ficou casado quinze. Guilherme nunca casou, mas chegou perto disso lá pelos idos de dois mil e blá. Luis fazia um ano que estava nessa vida de solteiro. Odiando por sinal. Todos querendo que a mulher em que pensavam entrasse a qualquer momento, ligasse, vá lá, mandasse uma mensagem mas que pelamordedeos não se entregasse a um outro qualquer, que tomasse cuidado com o castelo em que um dia moraram e brincaram de rei.

Por que fora perguntar aquilo?, questionava-se Amanda que não estava arrependida de nada nessa vida, mas buscando tudo alucinadamente. Qualquer coisa. Muita coisa. Amanda queria desde um amor nível Lennon e Yoko a encontrar-se com ela mesma fazendo da solidão um luxo.

Como animar a mesa depois que o pretérito imperfeito e o futuro desse presente havia se instaurado entre eles? De repente, ocorreu-lhe uma ideia que fizeram todos andarem de bicicleta na chuva. Olhou para os três amigos e super animada perguntou:

– Há trinta anos atrás, o que vocês gostavam de fazer? Como estavam nessa época?

Ora, todos sorriram com um olhar de menino. Bola de gude, pelada na rua, praia, pipa, matar aula, carrinhos, helicópteros, cataventos, avós, chinelada de mãe, coleção de figurinhas, fogueira de São João,…

– Eu acertava pardais com estilingue!

– Roubava pra cacete no jogo do bafo!

– Fui medalhista três vezes seguidas em corrida do saco!

Riam-se tanto que os que estavam na mesa ao lado foram contagiados e começaram a gargalhar também assim do nada.

Todos salvos pela infância.

Sentimentos implícitos: Armadilhas silenciosas

Sentimentos implícitos: Armadilhas silenciosas

Minha mãe costumava dizer que me amava me dando comida. Quanto mais comida, mais amor. Engordei, fiquei com raiva dela e comi mais para compensar essa raiva toda. Por anos vivemos um ciclo de sentimentos implícitos, onde não ousamos trocar a comida por palavras de afeto e preocupação com a saúde.

Por fim, o socorro de uma terapia clareou todo o cenário e pode-se ver então os pobres e subnutridos sentimentos que já não sabiam mais outras formas de expressão.

Essa é uma passagem comum na vida de muitas pessoas e, como cultura que passa de um para outro, absorvemos rapidamente. Sentimentos implícitos. Eu amo você, mas demonstro de uma forma obtusa, não digo isso a você porque me custa um esforço enorme, me deixa em suas mãos, me aterroriza a ideia de não ouvir que o sentimento é recíproco. Então agrado, surpreendo, exagero, adivinho seus desejos, mas tudo muito despretensiosamente, rotineiramente, naturalmente.

E você recebe, mas como não houve nenhum sinal, nenhum código para a resposta, não consegue perceber o anseio da demonstração que eu esperava ter como retorno. Eu não expressei, mas esperei sua expressão de sentimentos. E então veio a frustração, a raiva, a chateação pela não gratidão de tudo o que fiz por amor. Mas o amor não foi dito, não foi saboreado, compartilhado. Tudo o que veio foi um pacote de vantagens e serviços assinado pelo amor. Ele em si, não estava presente.

Sentimentos implícitos são maus companheiros. Eles são vorazes, querem gratidão imediata, exigem correspondência no ato. Sentimentos implícitos geram respostas implícitas, alimentam o silêncio que anula a melhor das comunicações.

– Eu pensei que você ficaria bem; fiz isso para te proteger; Desisti porque você não gosta…

Sentimentos implícitos emudecem e oprimem o que deve ser dito, matam e morrem aos poucos, enfraquecem a coragem que todos devem ter ao dizer o que sentem e como se sentem. São sentimentos covardes que agem sem responsabilidade, disfarçados de bondade, de dedicação, mas que viram do avesso se não forem percebidos e correspondidos.

Pelo sim, pelo não: – Eu te amo, mas não vou cozinhar para você.

A difícil missão de ser quem se é – quando abandonei a faculdade

A difícil missão de ser quem se é – quando abandonei a faculdade

Este ano foi difícil. Muitos problemas, muitas dificuldades, muitas angústias, muitas dores. Parece não ter havido aquele alívio cômico que os bons filmes de drama possuem. Em bom português, “foi dureza”, mas sobrevivi e acredito que algo de bom restou de tantas dificuldades.

Depois de quase três anos, de fins de semana inteiros estudando e do tempo que me preparei para ingressar na Universidade, abandonei o “maravilhoso” curso de Direito. As aspas não se direcionam ao curso propriamente dito, mas às pessoas que apenas enxergam valor nos cursos com maior reconhecimento social. Depois de pensar durante muito tempo, decidi que era a hora de abandonar o barco. Não gostava do curso, nunca gostei, não me via sendo um jurista e queria fazer parte de algo que fizesse parte de mim.

A bem da verdade, sempre soube que não era o que eu queria. Mas, infelizmente, não tive coragem para seguir o meu coração e, com excesso de racionalismo, o que, diga-se de passagem, não faz nem um pouco o meu tipo, optei pelo curso de Direito. Achei que era um bom curso, com várias possibilidades de trabalho, boa remuneração, enfim, tudo aquilo que o protocolo social exige. Mas quem me conhece sabe que eu não sou de seguir o protocolo e, logo eu, o indivíduo que melhor me conhece, deixei-me enganar, achando que me adaptaria a uma vidinha burocratizada.

É, não deu. Pela minha saúde mental e pela minha felicidade, resolvi buscar o que faz o meu coração ferver. Sei que abandonar um curso concorrido como o de Direito, em uma Universidade Pública, que é o sonho de muita gente, não é fácil, no entanto, preciso correr esse risco.

A decisão que tomei divide opiniões e, inclusive, entendo quem me diz que deveria ter terminado o curso. Todavia, estar em um lugar, fazendo algo que não traz a mínima alegria, é insuportável e chega um ponto em que, por mais que se queira continuar, fica insustentável. Passei um tempo me culpando pela situação, afinal, o tempo não volta para que possamos consertar as coisas. Até que percebi que me culpar só me faria ficar triste e me impediria de continuar.

Arrependo-me de não ter sido mais corajoso à época, mas também devo olhar a situação com a perspectiva de aprendizagem. Permitir-se o erro é importante para o crescimento, pois não sabemos de tudo, nem precisamos saber, de modo que, hora ou outra, uns mais que outros, todos caem. O importante é se levantar e tirar a lição necessária daquele erro. Essa aprendizagem faz com que cresçamos emocionalmente e lidemos com mais habilidade frente às vicissitudes da vida.

Outra coisa importante, nesse processo, é o autoconhecimento. Hoje, conheço-me muito mais do que quando entrei na Universidade. Obviamente, os anos trazem maturidade, mas isso só acontece quando permitimos que ela chegue e adentre nas nossas vidas. Aprendi que jamais devemos ir por caminhos ocultos ao nosso coração, pois, quando fazemos isso, deixamos de ser nós mesmos, para sermos representações brandas do que verdadeiramente somos.

Sei que, talvez, queira demais da vida, apesar de apenas exigir dela coisas simples. Entretanto, acredito que a nossa existência deve fazer sentido e não passar de qualquer forma. Nós estamos vivos, choramos, cantamos, dançamos, rimos, sentimos. Então, passar pela vida sem deixar a nossa marca significa uma existência pobre em si mesma e isso não quero pra mim.

O luto já passou e estou preparado para nadar contra a correnteza. Tenho plena consciência de que as dificuldades serão maiores do que as que enfrentei, mas não estou disposto a viver uma vida de silencioso desespero. Por isso, neste Natal, não quero pedir nada. Quero agradecer por ter, apesar de todas as tormentas, acordado de um sonho ridículo e ter me encontrado. A vida pode não ter sido do jeito que eu imaginei, mas foi do jeito que foi e isso não posso mudar.

Para que o meu futuro não seja pele morta de um passado obscuro, estou escrevendo-o com minhas próprias mãos. Borracha não apaga o que foi escrito a tinta, portanto, escreva as linhas da sua vida e lembre-se de que as melhores histórias não são necessariamente as mais bonitas e arrumadas, mas aquelas em que, a cada linha, conseguimos sentir a batida do coração de quem a escreveu.

Sanguessuga emocional

Sanguessuga emocional

Por Natthalia Paccola

A figura deste animal que suga o sangue de outros podendo crescer dez vezes mais de seu tamanho original é repugnante e assusta. Quando explico para meus pacientes sobre as características de uma pessoa com personalidade sanguessuga, fica mais evidente a relação que têm com certos parceiros sentimentais.

Com certeza você conhece um tipo de pessoa que deseja que lhe deem muitos benefícios em troca de esmolas. Estas criaturas nos atraem, valorizam aquilo em que temos maior insegurança (profissional, estética, na rotina) e depois sugam toda nossa energia emocional, são pessoas que possuem o dom de nos hipnotizar, de nos anestesiar a consciência com falsas promessas, até sucumbirmos ao seu encanto. Eles parecem melhores que as pessoas comuns, são inteligentes, talentosos, possuem bens. Seduzem-nos de tal maneira, que confiamos mais neles do que em qualquer outra pessoa. Passamos a ver somente eles em nossa vida.

Segundo a psicóloga Maria Laura Ramalho Vasquez os sanguessugas têm um olhar de mundo bem diferente das outras pessoas, com percepções distorcidas, anseiam por metas inatingíveis. Estão sempre à espera de atenção total e exclusiva de todos. Esperam um amor que se dê por inteiro, mas que nunca queiram ou exijam nada em troca. Estes “seres” são imaturos e irresponsáveis. O entusiasmo é efêmero, restringe-se a anseios por divertimentos, supérfluos e fantasias. Desejam ter alguém que cuide de tudo o que seja chato ou difícil (as responsabilidades) fogem das pessoas que lhe cobram atitudes ou que lhe exigiam comprometimentos.

Durante a minha vida me deparei com diversos tipos de pessoa sanguessuga, que retiram a personalidade e a identidade de outras.

Repare: o sanguessuga emocional quando se aproxima de sua presa, gruda, é pegajoso, não a quer dividir com ninguém, parece que só existe aquela pessoa. A vítima não pode fazer outros amigos, o sanguessuga não permite, só pode fazer o que ele mandar. Se não for assim, começam as chantagens.

Segundo alguns estudos publicados na Internet, outras características são a falta de limites e as dificuldades em obedecer autoridades, sem contar as mentiras e enganos que pratica para alcançar seus objetivos. O sanguessuga não tem limites para nada na vida, apesar de em alguns casos conseguir ser extremamente responsável – como na vida profissional, por exemplo – o que demonstra mais uma vez o desequilíbrio nos limites.

Os sintomas na vida das vítimas são normalmente: perda de identidade, problemas na vida financeira, confusão na vida emocional, perda de outros amigos e possivelmente o desenvolvimento de uma patologia. Só percebemos o sanguessuga presente em nossa vida, quando eles desaparecem pela noite deixando-nos com algum tipo de dor, principalmente de cabeça e com o coração partido.
O sanguessuga pode compartilhar nossa cama, ora como um parceiro amoroso, ora como um estranho frio e distante, mentem o tempo todo.

Se você é um sanguessuga ou uma vítima dele, procure ajuda. Atenção: o sanguessuga tentará lhe impedir. O mais incrível é que o sanguessuga sempre aceita ajuda e reconhece seu problema, mas mesmo assim não consegue mudar, logo vai procurar uma nova vítima que possa sugar, isso pode demorar algumas semanas, meses ou anos, dependendo da necessidade de troca de objeto.

Não permita que os sanguessugas dominem sua vida emocional, se algum desses chegar perto de você, fique alerta.

Natthalia Paccola é jornalista, bacharel em Direito, mestre em Geociências e Psicanalista.

Desenvolve um trabalho intenso na psicoterapia online, é dela também o site, a fanpage, Instagran e Twitter Fãs da Psicanálise.  (além de ser parceira da Conti outra e autorizar essa publicação aqui 🙂 )

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