Muito prazer, eu sou o seu sintoma.

Muito prazer, eu sou o seu sintoma.

Já pensou se o seu sintoma tivesse a chance de te escrever um carta? Garanto que seria alguma coisa assim:

“Olá, tenho muitos nomes: dor de joelho, abscesso, dor de estômago, reumatismo, asma, mucosidade, gripe, dor nas costas, ciática, câncer, depressão, enxaqueca, tosse, dor de garganta, insuficiência renal, diabetes, hemorroidas e a lista continua. Ofereci-me como voluntário para o pior trabalho: ser o portador de notícias pouco agradáveis para você.

Você não entende, ninguém me compreende. Você acha que eu quero lhe incomodar, estragar os seus planos de vida, todo mundo pensa que desejo atrapalhar, fazer o mal, limitar vocês. E não é assim, isso seria um absurdo. Eu o sintoma, simplesmente estou tentando lhe falar numa linguagem que você entenda.

Vamos ver, me diga alguma coisa. Você negociaria com terroristas, batendo na porta com uma flor na mão e vestindo uma camiseta com o símbolo da “paz” impresso nas costas? Não, certo?

Então, por que você não entende que eu, o sintoma não posso ser “sutil” e “levinho” quando preciso lhe passar uma mensagem. Me bate, me odeia, reclama de mim para todas as pessoas, reclama de minha presença no seu corpo mas, não para um minuto para pensar e raciocinar e tentar compreender o motivo de minha presença no seu corpo.

Apenas escuto você dizer: “Cala-te”, “vá embora”, “te odeio”, “maldita a hora que apareces-te”, e muitas frases que me tornam impotente para lhe fazer entender mas, devo me manter firme e constante, porque devo lhe fazer entender a mensagem.

O que você faz? Manda-me dormir com remédios. Manda-me calar com sedativos, me suplica para desaparecer com anti-inflamatórios, quer me apagar com quimioterapia. Tenta dia após dia, me calar. E me surpreendo de ver que às vezes, até prefere consultar bruxas e adivinhos para de forma “mágica” me fazer sumir do seu corpo.

A minha única intenção é lhe passar uma mensagem, mesmo assim, você me ignora totalmente.

Imagine que sou a sirene do Titanic, aquela que tenta de mil maneiras avisar que tem um iceberg na frente e você vai bater com ele e afundar. Toco e toco durante horas, semanas, meses, durante anos, tentando salvar sua vida, e você reclama que não deixo você dormir, que não deixo você caminhar, que não deixo você trabalhar, ainda assim continua sem me ouvir…

Está compreendendo?

Para você, eu o sintoma, sou “A doença”.

Que absurdo! Não confunda as coisas.

Aí você vai ao médico e paga por tantas consultas.

Gasta um dinheiro que não tem em medicamentos e só para me calar.

Eu não sou a doença, sou o sintoma.

Por que me cala, quando sou o único alarme que está tentando lhe salvar?

contioutra.com - Muito prazer, eu sou o seu sintoma.A doença “é você”, é “o seu estilo de vida”, são “as suas emoções contidas”, isso que é a doença e nenhum médico aqui no planeta terra sabe como as combater, a única coisa que eles fazem é me atacar, ou seja, combater o sintoma, me calar, me silenciar, me fazer desaparecer. Tornar-me invisível para você não me enxergar.

É bom se você se sentir incomodado por estar lendo isso, deve ser algo assim como um “golpe na sua inteligência”. Está certo se estiver se sentindo frustrado, mas eu posso conduzir o teu processo muito bem e o entendo. De fato, isso faz parte do meu trabalho, não precisa se preocupar. A boa notícia é que depende de você não precisar mais de mim, depende totalmente de você analisar o que tento lhe dizer, o que tento prevenir.

Quando eu, “o sintoma” apareço na sua vida, não é para lhe cumprimentar, é para lhe avisar que uma emoção contida no seu corpo, deve ser analisada e resolvida para não ficar doente. Deveria se perguntar a si mesmo: “por que apareceu esse sintoma na minha vida”, “que pretende me alertar”? Por que está aparecendo esse sintoma agora?

Que devo mudar em mim?

Se você deixar essas perguntas apenas para sua mente, as respostas não vão levar você além do que já vem acontecendo há anos. Deve perguntar também ao seu inconsciente, ao seu coração, às suas emoções.

Por favor, quando eu aparecer no seu corpo, antes de procurar um médico para me adormecer, analise o que tento lhe dizer, verdadeiramente, por uma vez na vida, gostaria que o meu excelente trabalho fosse reconhecido e, quanto mais rápido tomar consciência do porquê do aparecimento no seu corpo, mais rápido irei embora.

Aos poucos descobrirá que quanto melhor analisar, menos lhe visitarei. Garanto a você que chegará o dia que não me verá nem me sentirá mais. Conforme atingir esse equilíbrio e perfeição como “analisador” de sua vida, de suas emoções, de suas reações, de sua coerência, não precisará mais consultar um médico ou comprar remédios.

 

Por favor, me deixe sem trabalho.

Ou você acha que eu gosto do que eu faço?

Convido você para refletir sobre o motivo de minha visita, cada vez que eu apareça.

Deixe de me mostrar para os seus amigos e sua família como se eu fosse um troféu.

Estou farto que você diga:

“Então, continuo com diabetes, sou diabético”.

“Não suporto mais a dor no joelho, não consigo caminhar”.

“Aqui estou eu, sempre com enxaqueca”.

Você acha que eu sou um tesouro do qual não pretende se desapegar jamais.

Meu trabalho é vergonhoso e você deveria sentir vergonha de tanto me elogiar na frente dos outros. Toda vez que isso acontece você na verdade, está dizendo: “Olhem que fraco sou, não consigo analisar, nem compreender o meu próprio corpo, as minhas emoções, não vivo coerentemente, reparem, reparem!”.

Por favor, tome consciência, reflita e aja.

Quanto antes o fizer, mais cedo partirei de sua vida!

Atenciosamente,

O sintoma.”

***

Autor desconhecido.

Se alguém conhecer a autoria por favor me informe para eu referenciá-lo devidamente.

Texto encontrado em: Diogo Guimaraes Psicoterapeuta 

Imagem de capa: Antony Gormley at Forte Belvedere, Florence

Publicado também em Psicologias do Brasil.

Para que ninguém a quisesse- Marina Colasanti

Para que ninguém a quisesse- Marina Colasanti

Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.

Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.

Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.

Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.

Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.

 

COLASANTI, Marina. “Para que ninguém a quisesse”.
In: Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. P. 111-2.

Você tem algum distúrbio de ansiedade? Drauzio Varella

Você tem algum distúrbio de ansiedade? Drauzio Varella

Em algum momento da vida, 20% das mulheres e 8% dos homens apresentarão distúrbios de ansiedade. Na maioria dos casos, as crises persistirão por seis meses ou mais.

A expressão distúrbio de ansiedade compreende várias condições clínicas que evoluem de forma diferente e exigem tratamento específico. Entre elas, destacam-se: síndrome do pânico, ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, estresse agudo, fobias específicas, fobias sociais e distúrbio obsessivo-compulsivo.

W. Levinson e C. Engel elaboraram os quadros abaixo para orientar médicos clínicos no diagnóstico de cada um desses distúrbios. Veja se você se enquadra em alguma dessas situações:

Ansiedade generalizada:

* Você se descreve como uma pessoa nervosa?

* Anda o tempo todo preocupado?

* Vive tenso ou tem muita dificuldade para relaxar?

Distúrbio de pânico:

* Já teve ataque súbito de taquicardia ou de medo intenso, paralisante?

* Já sentiu crises de forte ansiedade ou nervosismo insuportável que podem chegar ao medo de ficar louco ou à sensação de morte iminente? Algum acontecimento parece disparar essas crises?

Agorafobia:

* Você já faltou a atividades importantes por medo de permanecer em espaços abertos?

Fobia social:

* Você se inclui entre as pessoas que têm medo exagerado de serem observadas ou avaliadas por outras e fazem o que podem para não comer, falar ou escrever na frente dos outros temendo sentirem-se embaraçadas?

Fobia específica

* Algumas pessoas experimentam medo incontrolável de altura, de avião, de elevador, cobras, morcegos, aranhas, baratas, mariposas e outros insetos. Você tem algum tipo dessas fobias?

Obsessão

* Algumas pessoas são invadidas por pensamentos tolos, desagradáveis ou atemorizadores que se repetem sem cessar. Por exemplo: temem ferir sem intenção uma pessoa querida; sofrem desproporcionalmente por medo de que algo ruim possa acontecer a um ente amado; angustiam-se só em pensar que, um dia, possam gritar obscenidades em público, fazer gestos impróprios na presença dos outros ou contaminar-se com germes mortais. Algo assim já perturbou você?

Compulsão

* Algumas pessoas ficam muito perturbadas por não verificar, a todo instante, se o forno está desligado, a porta fechada, os documentos no bolso, as luzes apagadas. Outras lavam as mãos a cada dez minutos, ou contam números sem parar. Isso tem sido problema para você?

Estresse agudo e estresse pós-traumático

* Você viveu ou presenciou algum acontecimento traumático, no qual sentiu a vida em perigo? Ou viu alguma pessoa nessa situação? O que aconteceu?

Tratamento

Hoje, existem medicamentos específicos e tratamentos psicoterápicos que ajudam muito os portadores desses distúrbios.

Como regra, os casos de sintomas mais leves, recém instalados e com pequena interferência nas atividades diárias, podem receber tratamento psicoterápico exclusivo.
Nessa área, a técnica mais aplicada é a terapia comportamental cognitiva que se baseia na exposição do paciente a estímulos potencialmente criadores de estresse, garantindo situações de segurança que evitem respostas fóbicas.

Embora a psicoterapia também esteja indicada nos casos mais graves, não deve constituir tratamento exclusivo: existem medicamentos específicos para cada tipo de distúrbio de ansiedade.

O tratamento farmacológico costuma ser prolongado: geralmente é mantido por seis a doze meses, contados a partir do desaparecimento dos sintomas e, depois, descontinuado em doses decrescentes. Em casos especiais, a medicação pode ser mantida por muito mais tempo.

Os distúrbios de ansiedade são provocados por desordens do sistema nervoso simpático, que libera, na circulação, quantidades inadequadamente altas dos hormônios envolvidos na reação de estresse.

Seus portadores, abandonados à própria sorte, como ocorria no passado, podem sucumbir aos sintomas causados por essas descargas hormonais e passam a levar uma vida marcada pelo medo e o isolamento.

Para saber mais acompanhe o site oficial do autor.

Quando o pai esquece o filho do primeiro casamento

Quando o pai esquece o filho do primeiro casamento

Essa crônica do Carpinejar foi publicada pela nossa página parceira Fãs da Psicanálise. Lá vi que diversas pessoas o entenderam como uma generalização simplista e preconceituosa. Entretanto, antes da leitura, eu gostaria de deixar claro que a nossa visão não é essa. O texto do fala de um “Quando”, como dito no título, e descreve uma situação que acontece em algumas famílias e NÃO em todas.  Afinal, quando o que acontece é como o que é descrito no texto, seja o comportamento proveniente do homem ou da mulher, realmente é necessário refletir sobre a situação. Abaixo o texto para que pensemos.

Quando o pai esquece o filho do primeiro casamento

Por Fabricio Carpinejar

Um homem que se finge de burro é mais burro do que um burro honesto.

O que me dói é ver um pai casar de novo e esquecer o filho do primeiro casamento. Esquecer. Nenhum cartão de Natal ou presente debaixo da lareira.

É que ganhou um herdeiro do segundo casamento, está envolvido na escolha do enxoval, no anúncio do jornal, em fumar charuto com o sogro e com aquela vaidade suprema de ostentar para sua esposa que é experiente e sabe segurar a criança.

Ele apaga a casa anterior — com o que havia dentro dela — e se apega à casa recente. Entende que sua criança ou adolescente cresceu o suficiente para não depender mais dele. Nenhum filho cresce o suficiente para ser órfão de repente, não importa a idade.

Aquele filho a quem amava e criava com zelo, a quem aconselhava e trocava as fraldas passa a existir somente como uma pensão, uma linha do seu contracheque. Não pergunta. Não telefona. Não se encontra fora de hora. Está muito ocupado criando um bebê. O que dá para entender é que ele não ama o filho, mas a mulher com quem se encontra no momento. Faz qualquer coisa para agradá-la, inclusive negar a paternidade do primeiro casamento.

É do tipo ou tudo ou nada, ligado à figura masculina patriarcal, que oferece e tira conforme suas vantagens. Não é bem um pai, mas um latifundiário emocional, desconfiado, sob permanente ameaça de invasão de suas terras.

Mãe é diferente, sempre se elogia quando menciona seu filho. Mareja os olhos ao mexer na gaveta das camisas, coleciona bilhetes e desenhos, inventa uma porção de neologismos no abraço. Não se guarda para depois, para um melhor momento, está disposta a conversar pressentimentos e costurar recordações.

Pai costuma se omitir no momento do desabafo. É comedido demais para estar vivo. Troca de personalidade, de residência, de amor, o que precisar, no sentido de prevenir a sobrecarga de problemas. Para namorar, ele some por meses (exatamente o contrário da mãe, que administra o final de semana com o apoio da babá e da avó). Homem ainda não conseguiu conciliar sua vida profissional com a afetiva. Não é capaz de unir nem a vida afetiva pregressa com a vida afetiva atual. Cuida de um afeto por vez.

Pai não forma sindicato, não cria associação. Continua defendendo que ninguém tem o direito de se meter na vida dele e converte em inimigos os amigos que insinuam sua indisposição filial.

Ele se separou de uma mulher, não do seu filho, mas culpa o filho porque não consegue completar uma frase com a ex. Parte do princípio de que ajudando o filho está ajudando a ex. Gostaria de matá-la, mas então se mata para o filho.

Ou entende que seu filho deve procurá-lo, cria paranoias e neuroses para aliviar sua culpa. Age como um ressentido, fala mal do filho do primeiro casamento para a mulher do segundo casamento, alegando ingratidão. E a mulher do segundo casamento concorda com o absurdo porque está preocupada com o nenê e deseja a exclusividade do marido. E não entende que um irmão depende do outro irmão, que uma família não cresce por empréstimos.

Homem tem que aprender a sofrer em público, sofrer por um filho o que sofre por uma dor de cotovelo, apanhar das cólicas e da coriza, desabar numa mesa de bar, beber interurbanos, fechar a rua e o sobrenome para encurtar distâncias, chorar nas apresentações escolares, fingir abandono a cada despedida, para só assim mostrar que pai, pai mesmo, nunca será dispensável.

Fabricio Carpinejar é poeta, cronista e jornalista

Não adianta ser uma boa pessoa, se você faz escolhas erradas- Alan Ribeiro

Não adianta ser uma boa pessoa, se você faz escolhas erradas- Alan Ribeiro

Por Alan Ribeiro

Muitos são os e-mails e comentários que eu recebo de pessoas que dizem que são excelentes pessoas, se entregam em um relacionamento, se doam, se dão, se esforçam pela outra pessoa, fazem o melhor para completar o outro, etc.

Elas me dizem:

“Eu já sou uma boa pessoa, eu já sou a pessoa certa, mesmo assim meus relacionamentos nunca deram certo”.

E eu realmente acredito que muitas destas pessoas que me mandam e-mails assim realmente são gente maravilhosa, que fazem o melhor de si quando estão em um relacionamento. O problema não é esse. O problema é que a maioria dessas pessoas não sabem escolher.

Ser a pessoa certa não significa apenas ser uma pessoa ótima, legal, que faz de tudo para agradar e que procura cometer o mínimo de falhas possível. Ser a pessoa certa também significa saber fazer escolhas certas.

A vida é feita de escolhas. Uma escolha hoje pode definir todo o seu futuro amanhã. Quem não sabe fazer escolhas não pode se considerar a pessoa certa, pois parte de ser a pessoa certa significa também saber escolher a pessoa certa. Mas como você vai escolher direito se não souber como fazer tais escolhas?

O grande vilão de todas as más escolhas é o coração.

As pessoas querem escolher com ele ao invés de escolher com a mente. O coração não foi feito para pensar, ele foi feito para bombear sangue no corpo. A cabeça sim foi feita para pensar, de modo que uma escolha é feita com a cabeça e não com o coração. Mas quando a pessoa resolve inverter isso, ela acaba colocando suas emoções à frente da racionalidade, o que faz ela simplesmente escolher errado.

A emoção faz a pessoa agir por impulso, ela não julga a situação conforme as consequências da mesma, ela julga a situação pensando apenas no sentimento e em como aquela escolha faz ela se sentir.

Se eu escolher pela emoção e por como eu quero me sentir, eu vou me ferrar.

Exemplo:

Tem pessoas que fazem você se sentir muito bem ao lado delas, você parece que está vivendo um sonho. Esse tipo de pessoa faz você se apaixonar muito rapidamente, pois você escolhe pelo sentimento. Ao fazer uma escolha baseada no que você sente, você não raciocina. Não é só porque uma pessoa faz você se sentir bem num primeiro momento, que ela vai fazer você se sentir bem pro resto da vida. Dessa forma muita gente escolhe pessoas erradas, pois escolhem por um impulso emocional e não por uma escolha racional.

Para escolher corretamente alguém com quem se relacionar, você deve pautar essa escolha na razão. Não importa o quanto essa pessoa é legal ou o quanto ela demonstra gostar de você, se você não escolher racionalmente, é certo que vai quebrar a cara lá na frente.

Não dá para seguir em frente com alguém se você não conhece bem este alguém. Você tem que aprender a escolher, tem que aprender a se informar mais sobre a pessoa:

  • Será que ela compartilha dos mesmo sonhos que eu?
  • Será que ela tem as mesmas crenças que eu?
  • Será que ela tem os mesmos objetivos que eu?
  • Como foram os relacionamentos passados dela?
  • Será que em tais relacionamentos ela era muito ciumenta ou possessiva e ainda continua assim?
  • Por que o relacionamento passado dela terminou? Será que foi traição? Será que foi por falta de caráter dela?
  • Por que eu gosto dessa pessoa? Será que é só porque ela me faz sentir bem e parece legal? Se for só por isso, não é o suficiente.
Existem uma série de perguntas que você deve se fazer antes de escolher deixar alguém entrar na sua vida. Enquanto você não souber fazer estas perguntas para si mesmo(a) e analisar toda a situação, você pode ser a pessoa mais legal do mundo, mas vai continuar fazendo escolhas erradas e sofrendo na sua vida sentimental.
Para saber mais sobre o autor e seu trabalho visite o blog Sobre Relacionamento.

Como pessoas altamente sensíveis interagem de forma diferente com o mundo

Como pessoas altamente sensíveis interagem de forma diferente com o mundo

Por Lindsay Holmes

As pessoas altamente sensíveis já receberam muitos rótulos no passado – foram descritas como frágeis, excessivamente emotivas ou intensas. Mas a pessoa altamente sensível é muito mais que lágrimas e sentimentos em abundância.

As pessoas de personalidade empática são biologicamente condicionadas a ter o comportamento que têm. Por isso sua abordagem ao ambiente físico em volta é totalmente diferente, e isso não é necessariamente algo negativo.

Veja a seguir algumas maneiras em que as pessoas altamente sensíveis interagem com o mundo em volta diferentemente de suas contrapartes mais “casca grossa”.

O ambiente que a cerca pode facilmente ser estímulo excessivo para uma pessoa altamente sensível.

Barulho alto, muita gente em volta, decisões importantes a tomar – tudo isso é difícil de ser suportado por uma PAS, especialmente se ela tem pouco tempo de calma e solidão para se recuperar. Isso é porque a resposta emocional da PAS é muito ativa, diz Elaine Aron, autora de Use a Sensibilidade a Seu Favor – Pessoas Altamente Sensíveis e uma das primeiras pesquisadoras científicas a debruçar-se sobre esse traço de personalidade.

“Isso acontece porque a PAS processa tudo em volta com muita profundidade”, disse Aron ao Huffington Post. As PSAs processam o ambiente que as cerca e os acontecimentos da vida com base em suas emoções. Assim, quanto mais intensas e avassaladoras as circunstâncias, mais profundamente elas sentem.

A PSA capta as sutilezas presentes no ambiente onde estão.

Você mudou as coisas de lugar em sua sala? Sua mulher disse algo que o magoou no jantar? As pessoas sensíveis captam muitas nuances sutis, diz Aron, quer sejam coisas concretas ou estados de ânimo emocionais. “Há uma intuição em relação ao que as cerca, em relação a coisas das quais outras pessoas geralmente não têm consciência”, ela explicou.

Essa intuição também as guia em seus próprios relacionamentos. As PSAs captam atitudes diferentes que podem passar despercebidas de outras pessoas. Se você mudar o tom de voz ou mandar uma mensagem de texto em tom mais curto e grosso que o normal (por exemplo, usando pontos finais em vez de pontos de exclamação), é provável que a pessoa altamente sensível perceba.

As PSAs são mais emocionais em seus relacionamentos.

As pessoas altamente sensíveis querem e precisam de relacionamentos profundos. As pesquisas de Aron mostraram que as pessoas sensíveis tendem a ficar mais entediadas no casamento, principalmente porque, com o tempo, a interação profunda entre o casal pode ir se rendendo à rotina. Mas isso não é necessariamente negativo. Aron diz que a falta de interações significativas não quer necessariamente dizer que uma PAS vai abandonar o barco – vai apenas motivá-la a buscar conversas mais estimulantes.

Para uma pessoa altamente sensível, a chave para um relacionamento bem-sucedido está em transmitir ao outro o que ela deseja do relacionamento e encontrar um parceiro que entenda que suas emoções fazem parte de sua natureza. “As pessoas sensíveis não podem deixar de expressar o que sentem”, diz Aron. “Elas mostram sua raiva, mostram sua felicidade. É fundamental que seu parceiro aprecie isso.”

Às vezes a pessoa altamente sensível prefere voar solo.

As PASs funcionam melhor em ambientes mais calmos, especialmente no local de trabalho, diz Aron. “Os escritórios de plano aberto muitas vezes não são ambientes produtivos para elas”, explica a psicóloga. Essa preferência por operar a sós pode aplicar-se também às atividades de lazer, fora do escritório. Ted Zeff, pesquisador e autor de vários livros sobre as características da personalidade altamente sensível, disse anteriormente ao HuffPost que as PSAs muitas vezes também evitam os esportes ou atividades físicas em grupo, porque têm a impressão de que cada gesto seu está sendo observado.

As PSAs podem ser mais sensíveis a cafeína e álcool.

Esse não é o caso sempre, com certeza, mas Aron diz que os autotestes que ela aplicou em sua pesquisa indicam que, na média, as PASs podem ter mais sensibilidade a estimulantes, como cafeína, e substâncias como o álcool. E a fome também as incomoda mais.
Conflitos ou desavenças as deixam ansiosas.

As PASs têm dificuldade em lidar com conflitos e desentendimentos, diz Aron. Elas têm duas abordagens diante dessas situações, e uma está em guerra com a outra. “As pessoas sensíveis se sentem divididas entre defender o que consideram justo ou se abster de intervir, porque não querem provocar uma reação violenta de outras pessoas”, disse Aron. “Elas são muito sensíveis aos ambientes em que são julgadas por sua sensibilidade ou por qualquer outra coisa.”

Por outro lado, as pessoas altamente sensíveis possuem o dom de lidar de modo racional com os desentendimentos. Graças a seus altos níveis de empatia, elas conseguem colocar-se na posição da outra pessoa e enxergar seu lado da discussão, explicou Aron.

Em última análise, o que a pessoa sensível precisa fazer é abraçar essa característica de sua personalidade e não combatê-la. “As pessoas altamente sensíveis dão ótimas líderes, amigas e parceiras”, diz Aron. Em outras palavras: continue a ter esses sentimentos, PAS, mesmo que a façam chorar.

Fonte indicada: Brasil Post

Muitos têm a ferramenta, mas poucos sabem usá-la.

Muitos têm a ferramenta, mas poucos sabem usá-la.

Conta-se que um caldeireiro foi contratado para consertar um enorme sistema de caldeiras de um navio a vapor que não funcionava bem.

Após ouvir do engenheiro a descrição do problema e ter feito algumas poucas perguntas, o caldeireiro dirigiu-se à sala de máquinas. Durante alguns minutos, ficou olhando para o labirinto de tubos retorcidos, escutou o ruído surdo das caldeiras e o silvo do vapor que escapava. Com as mãos, apalpou alguns dos tubos. Depois, controlando distraidamente, procurou no avental alguma coisa, até tirar de lá um pequeno martelo, com o qual bateu apenas uma vez numa brilhante válvula vermelha. Imediatamente, o sistema inteiro começou a trabalhar com perfeição, e o caldeireiro voltou para casa.

Quando o dono do navio recebeu a conta de 10 mil reais pelo serviço, queixou-se ao caldeireiro. Argumentou que ele só havia ficado na sala de máquinas por 15 minutos e pediu-lhe, então, uma conta pormenorizada.

Eis a descrição da conta de prestação de serviços:

Conserto com o martelo: R$ 5,00

Saber onde martelar: R$ 9.995,00

Total: R$ 10.000,00contioutra.com - Muitos têm a ferramenta, mas poucos sabem usá-la.

10 filmes para viajar pela Itália

10 filmes para viajar pela Itália

Por Ana Claudia Crispim, Viaje aqui

1. Sob o Sol da Toscana (Audrey Wells, 2003)

contioutra.com - 10 filmes para viajar pela ItáliaEste é o mais manjado de todos os filmes manjados da Toscana romântica. Baseado na biografia da americana Frances Mayes, Under the Tuscan Sun (Sob o Sol da Toscana), a história é semelhante ao livro: uma mulher que resolve comprar e reformar uma velha casa em Cortona, uma piccola cidade com todos os estereótipos que um vilarejo da Toscana poderia ter. Fofa, muito fofa. Seria um exagero dizer que é um filme ruim. É bonitinho e romântico. E ainda tem umas paisagens da Costa Amalfitana de brinde.

Uma confissão: eu procurei a casa da Frances Mayers. Parei o carro em frente e fiquei lá uns 15 minutos. No fim, deixei um bilhetinho e um maço de flores que peguei na estrada. Queria que ela me convidasse para comer uma torta de pêssegos frescos. Sim, eu deixei meu e-mail… e nunca recebi uma resposta.

2. De Encontro com o Amor (Brad Mirman, 2005)

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A história se passa na Toscana rural, numa vila muito, muito linda! (Eu ainda não descobri onde fica, mas juro que um dia descubro. Alguém sabe?).
Um escritor jovem e travado – gatinho, lógico – vai em busca de um consagrado escritor para convencê-lo a voltar a escrever. É claro que chegando lá ele encontra o velho e sua filha bonitona…daí nem preciso contar mais. Mas o filme não é só isso, vai por mim. História e cenas lindas pela Toscana roots.

3. Para Roma, com Amor (Woody Allen, 2012)

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Este filme do Woody Allen (com ele no elenco) é tão nonsense que eu nem vou tentar explicar as quatro histórias que não se cruzam. Muitos amam, muitos odeiam.
Eu amei.
Até porque Roma é a minha cidade preferida no mundo e todas as cenas externas, que levam a Cidade Eterna como pano de fundo, são lindas.
Para mim, Alec Baldwin, mesmo velhão e fora do peso, ainda é um Alec Baldwin. As cenas mais especiais dele estão no Trastevere, bairro moderninho na margem ocidental do Rio Tibre.

4. Elza e Fred (Marcos Carnevale, 2005)

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Filme argentino que se passa em Roma e exprime a história de amor de um casal de velhinhos divertidíssimos que vivem em Madri. Ela sonha conhecer a capital italiana e repetir a cena do filme La Dolce Vita, quando a linda Anita Ekberg entra de roupa e tudo na Fontana de Trevi (prática proibidíssima e sujeita a multa e prisão).
É uma abordagem sensível e muito realista do amor. Chorei, lógico.

5. Comer, Rezar e Amar (Ryan Murphy, 2010)

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É um filme tão… tão… Julia Roberts! Leia-se: “mulher separada que tira uns meses sabáticos para se recompor depois de um divórcio estressante”. 87,6% dos homens odeiam o filme e 98,5% odeiam ainda mais o best-seller da Elizabeth Gilbert – e certamente pararam de ler na parte do “Comer” em Roma. Bom, eu sou menina e comilona. E, claro, adorei as cenas italianas recheadas de macarrão, pizza marguerita e sorvete. E, infelizmente, me identifiquei muito com a cena em que ela tenta colocar uma calça e não consegue.
Em geral, as imagens são bonitas, bem feitas, coloridas. Os lugares são lindos. Mas não, não precisava ter o Javier Bardem falando inglês com sotaque espanhol no papel de um brasileiro. Afinal, para que temos o Rodrigo Santoro, minha gente?

6. Cartas para Julieta (Gary Winick, 2010)

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O diretor Gary Winick conversa com Amanda Seyfried durante as filmagens de Cartas Para Julieta

Uma mocinha loirinha resolve procurar a autora de uma carta de amor escrita em 1957. Gosta de filminhos água com açúcar e cheios de clichê? Esse é para você. Vale pelas cenas lindíssimas de Verona.

7. Cassino Royale (Martin Campbell, 2006)

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É a estreia de Daniel Craig no papel do infalível agente 007 em sua primeira missão. Tem uma cena ótima do Bond, James Bond, saindo da água de sunga. Ops…o post não é sobre isso.
É sobre I-tá-lia, certo? Nesse caso, Veneza. O filme mostra a cidade real e, ao mesmo tempo, uma Veneza de mentirinha, com cenas muito impressionantes de destruição. Filmão.

8. Meus Caros Amigos (Mario Monicelli, 1975)

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Este é para quem adora o lado B das viagens. Faz parte de uma trilogia que mostra Florença e arredores sob o cotidiano de um grupo de velhos amigos que vivem para pregar trotes nas pessoas.
O forte dessa comédia hilária é justamente a irreverência do grupo – e as cenas de uma Florença-não-turística.

9. A Princesa e o Plebeu (William Wyler, 1953)

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Tem tudo a ver com a capa da VT deste mês: Roma e uma scooter azul. Tudo bem que é um filme preto e branco de 1953, mas use a imaginação.
Ingredientes: casal romântico interpretado por Gregory Peck e Audrey Hepburn, beijos ardentes e chapados dignos de filme antigo e cenas de movimento recortadas sobre imagens de Roma.

10. Bem-Vindo ao Sul (Luca Miniero, 2010)

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Pense na rixa entre o italiano do norte e do sul. Agora, imagine um sujeito querendo ser transferido para Milão e por conta de um monte de enrascadas vai “de castigo” para Nápoles, por dois anos. É um desespero só, um mar de preconceitos quebrados e muitas surpresas.
Uma viagem muito visual pela Itália.

***Eu poderia fazer uma lista enorme de produções com cenas italianas, mas preferi indicar os que priorizam as paisagens e a fotografia. Mas, de brinde, não podemos esquecer dos clássicos dos clássicos, como O Poderoso Chefão, O Talentoso Ripley, Cinema Paradiso, O Carteiro e o Poeta, Cópia Fiel, A Vida é Bela, Só Você… e por aí vai. Artigo original aqui.

Quem julga livro pela capa perde grandes histórias.

Quem julga livro pela capa perde grandes histórias.

Vivemos um mundo de aparências, no qual a beleza externa de tudo e de todos é supervalorizada. Corremos atrás de marcas famosas, fachadas suntuosas, fotos virtuais irretocáveis e corpos perfeitos. Tentamos nos aproximar de pessoas ricas, para obtermos nosso lugar ao sol na terra da fantasia, onde a fama e o luxo imperam.

E, nessa toada, esvaziamos, a pouco e pouco, nossa essência mais íntima, que se perde em meio a tanta superficialidade. Tão acostumados ficamos com a valorização do belo e luxuoso, que acabamos por julgar também as pessoas a partir de materialidades visíveis. A beleza externa sobrepuja qualquer qualidade de caráter e de princípios e somos levados a julgar com base nas aparências, valorizando as coisas e as pessoas a partir do preço estampado nelas.

Queremos uma casa vistosa, com jardins ornamentais e cômodos bem distribuídos. Um carro novinho na garagem, móveis de revista, solários, piscina no quintal. Queremos quadros, vasos, porta-retratos, toalhas, mesas, camas e panelas. É importante impressionar quem olha e quem entra em nossa casa. Enquanto isso, esquecemo-nos de transformá-la em um lar com calor humano, interações sinceras, amor em profusão, verdades compartilhadas.

Desejamos passar uns dias em hotel de cinco estrelas, com ares-condicionados espalhados por todos os recintos, flores trocadas diariamente, atendimento VIP, piscinas de todo tipo, refeições de banquete. Desejamos cenários nababescos, para rechearmos nossas redes sociais de imagens que denotem o desfrute de uma vida bem sucedida. No entanto, permanecemos isolados dentro de nós mesmos, confinados ao wifi de nossos celulares, mecanicamente transitando pelo luxo, sem estreitarmos os laços ao menos com quem está no mesmo quarto conosco.

Ansiamos pelo carro novo, mesmo que às custas de boletos intermináveis, para podermos chegar aos lugares impressionando, provocando inveja, atraindo as atenções para o que podemos comprar. Ansiamos pelo celular de última geração, pelo tênis com molas inúteis ao nosso estilo de vida, pelas telas de sessenta polegadas, pela máquina europeia de café expresso. Porém, nossas dívidas crescem, nosso trabalho se estende a horas exacerbadas e nosso cansaço físico nos impede de perceber o olhar companheiro que nos aguarda em nossa casa, afastando-nos de nossos amores verdadeiros.

Precisamos ser amigos das pessoas endinheiradas, para transitarmos livremente por entre as órbitas das festas, dos clubes e dos restaurantes mais chiques. Precisamos fazer parte do círculo restrito dos colunáveis, de quem frequenta os bares da moda, de quem promove festas opulentas, de quem viaja para o exterior para comprar roupas e montar os enxovais. E, enquanto nos aproximamos disso tudo, distanciamo-nos dos amigos que sempre estiveram ao nosso lado e que gostam da gente de verdade.

O conforto material logicamente é importante, para que possamos descansar com qualidade e oferecer uma vida digna aos nossos familiares. Da mesma forma, nossas conquistas nos tornam mais felizes e realizados como pessoa. No entanto, é necessário que também cultivemos nossas relações com as pessoas que nos rodeiam, alimentando os sentimentos e os valores éticos que devem nortear nossas andanças e a troca de energia com gente que vale a pena, com quem ri e chora junto de nós com sinceridade.

Caso contrário, estaremos sozinhos e enfraquecidos nos momentos de tempestade, em que nada além do amor é capaz de nos resgatar. E, então, nada nem ninguém nos salvará de nós mesmos.

A vida por um fio.

A vida por um fio.

Quando um jovem cantor sertanejo perdeu a vida em um acidente de carro, levou muitos de nós a refletir sobre nossos atos – inclusive o de não usar cinto de segurança quando somos passageiros no banco de trás. Eu mesma já fui negligente muitas vezes.

A tragédia dos dois jovens, mortos tão prematuramente nos leva a algumas reflexões sobre a vida, sobre a nossa existência e sobre os riscos que corremos por vontade própria. É claro que não podemos viver e nem colocar nossos filhos dentro de uma redoma, mas é preciso cuidar-se e cuidar para que a vida – sendo uma aventura tão prazerosa – não seja interrompida por comportamentos imprudentes ou negligentes. Já falei sobre isso quando um rapaz decidiu beber numa maratona e acabou morrendo. O quanto colocamos a nossa vida em risco?

Não temos controle sobre tudo, todavia, o que pode ser evitado? Qual a linha que separa as incertezas da vida da nossa responsabilidade pelos nossos atos?

Um dos maiores abismos com o qual nos deparamos quando estamos vivos é a constatação total das incertezas. Alguns teóricos na área da psicologia dizem que tomar consciência da incerteza e da ausência de controle é um dos maiores sofrimentos do ser humano. Muitas vezes essa constatação vem pela morte trágica de alguém próximo ou pela nossa quase morte. Eu faço parte do grupo de pessoas não morreu por muito pouco e posso afirmar que essa experiência causa mudanças muito profundas na forma de ver e se relacionar com o mundo.

A nossa existência carrega como certo apenas o fato de que será finito. Morreremos. Acreditando ou não em “vida após a morte”, a verdade é que, aqui neste contexto de realidade perceptível, o que sabemos é que vai acabar um dia. O que temos até o dia do fim não sabemos. Não sabemos tampouco quando o fim vai chegar. Isso nos leva a duas grandes reflexões e posturas inversas:

-a vontade de viver tudo a todo custo e aproveitar o máximo sem compromisso algum porque vai acabar mesmo (muito comum entre os jovens);

-a vontade de se proteger porque o mundo não é seguro e a nossa vida é valiosa e por isso queremos vivê-la até o fim (mais comuns em pessoas mais maduras).

São extremos opostos e ambos funcionam como mecanismo de defesa para tentar não enxergar que viver é fazer nossa parte e mesmo assim saber que não vamos controlar tudo. O descompromisso total com o cuidar-se e o excesso de zelo são padrões não saudáveis de comportamento. O primeiro porque põe em risco a nossa vida e o segundo porque nos impede de viver. De um lado os fóbicos, e do outro os irresponsáveis. O caminho é procurar um equilíbrio no espaço entre estes dois extremos e perceber quando se pode e quando não se pode controlar as variáveis. É muito provável que a morte do jovem casal pudesse ter sido evitada se eles estivessem usando o cinto de segurança. Das nossas atitudes dependem muitas das consequências que virão. Da nossa fé em viver e em correr riscos, dependem as alegrias que experienciaremos.

Viver não tem receita e quando uma tragédia se torna pública ela nos leva a refletir porque ilustra a nossa vulnerabilidade e os resultados das nossas imprudências. Busquemos então um caminho entre se esquivar e se arriscar. Sejamos prudentes e corajosos. Nem fóbicos, nem irresponsáveis. Vamos usar a observação como fonte de aprendizagem e de estímulo para a mudança de hábitos. Não deixemos que eventos como esses sejam amanhã esquecidos e que seja então preciso que mais alguém voe para fora do carro para nos lembrar de que é preciso sim, usar cinto de segurança. Amanhã podemos nós ser o exemplo que “acorda” o outro, porém, não estaremos mais aqui para mudar.

Por que a gente sente vergonha alheia?

Por que a gente sente vergonha alheia?

Por Vanessa Vieira

Se a visão de um colchão com pulgas provoca coceira alheia e um acidente de trânsito gera dor alheia, natural que testemunhar uma situação embaraçosa cause a famosa vergonha alheia. Por trás dessas sensações solidárias estão as estrelas da neurologia contemporânea: os neurônios-espelho. Essas células são especialistas em copiar: simulam no nosso cérebro o que está acontecendo com outra pessoa. E isso vale para movimentos e emoções. Foi o que mostrou uma pesquisa do Institut de Neurosciences Physiologiques et Cognitives de la Mediterranée, na França, que escaneou o cérebro de voluntários enquanto sentiam um odor desagradável e enquanto apenas assistiam a um vídeo de outras pessoas sentindo nojo. Em ambas as situações, as áreas ativadas no cérebro foram as mesmas.

O resultado é que, ao ver alguém experimentando uma emoção, nossa tendência é simular em nós mesmos o mesmo medo, tesão, alegria e, claro, a mesma vergonha. Isso vale inclusive para aquelas vezes em que aquela que consideramos a vítima não está nem aí, mas você está. “É como se nosso cérebro, ao identificar uma situação desafiadora, nos desse uma provinha para degustação”, diz Renata Pereira Lima, pesquisadora do Laboratório de Neurociência e Comportamento da USP. Ou seja, se você vê alguém pagando mico em um reality show e sente vergonha alheia, é seu inconsciente avisando: “não é pra você”.

Fonte: Superinteressante

Mais amor, por favor- Márcia Tiburi

Mais amor, por favor- Márcia Tiburi

Por Márcia Tiburi

Uma palavra e um gesto anacrônicos

Dizer amor em tempos de ódio é um gesto anacrônico. Um gesto inatual, fora de época. Portanto, um gesto que pode causar vergonha ou pelo menos inibição em quem se preocupa com a relação entre discurso e ação.

É o sentimento de inadequação diante da expressão do amor que está muito mais presente em nossas vidas atualmente. Quantas vezes não recuamos do desejo de manifestar amor por não saber como sua expressão pode ser recebida? Quantas vezes não o controlamos dentro de nós mesmos por achar que o amor não faz sentido? Pensar assim é inevitável quando todos nós estamos confusos com o que chamamos de amor porque a delicada planta do amor não anda tendo espaço para crescer nesse mundo em que a cultura do ódio avança tão rapidamente quanto o desmatamento da Floresta Amazônica, quanto a indústria bélica, o consumismo, os latifúndios, a economia dos ricos cada vez mais ricos, o autoritarismo…

Para bom entendedor, meia palavra basta, mas ela não tem sido a palavra amor. Quem diz amor se sente fora dos jogos de linguagem do nosso tempo. Isso quer dizer que a palavra e a coisa estão ligadas ao nível da ação, quem fala faz ou finge que faz. Por isso, também é possível falar amor da boca pra fora, como se pode dizer, correspondendo assim ao aniquilamento do amor por esvaziamento, algo tão desejável em nossa época que elogia a palavra amor apenas quando ela é transformada em balão de ar.

Fácil acabar com o amor quando o transformamos em um efêmero sopro de voz. “Fragmentos de um discurso Amoroso” de Roland Barthes talvez nos ajude a pensar nisso quando se propõe a ser mais a enunciação do amor do que um livro de análise sobre o amor. Talvez que o autor de um discurso amoroso que ande por aí não deva se calar, mas inevitavelmente terá que rever o que diz para poder expressar aquela parte do amor que não pode ser dita e que é a única que vale a pena dizer. (Quando vejo o livro de Barthes nas mãos de gente jovem, sei que estão apaixonados pela primeira vez e o leem porque o amor é algo tão estranho que precisa ser estudado para ser suportado…).

Nosso tempo se contenta com o efêmero sopro de voz e condena à morte a substância delicada e ao mesmo tempo densa que está contida no amor. Amor é, afinal, o nome de alguma coisa que deveria ser pronunciada com muito cuidado. Pois que se mata um Deus quando se diz o seu nome em vão. E é por isso mesmo que dizer “amor” hoje, quando se pode dizê-lo honestamente, porque seria bom que ele existisse, e não apenas porque se acredita que ele exista, pode ser um ato de redenção (naquele absurdo sentido de que podemos praticar o gesto impossível de salvar até mesmo os mortos da injustiça…). E, como tal, um ato de revolução, no seu sentido concreto, aquele ato que nos conecta com a tradição dos oprimidos de que falava alguém como Benjamin, um filósofo que, em um tempo sombrio que ainda é o nosso, lançou luzes no fim de um túnel sem fim…

O amor é histórico

O amor tornou-se a palavra que facilmente acoberta seu próprio contrário. Teríamos que fazer sua anamnese, lembrando que o amor é histórico, que é uma ideia tão boa quando perigosa. Remédio e veneno ao mesmo tempo. Talvez não exista palavra mais contraditória ou mais astuciosa para garantir desvios necessários: os que falam em nome do amor muitas vezes o falsificam com seu próprio nome. O ódio infelizmente é sempre verdadeiro.

A palavra, como toda palavra carregada de uma beleza ideal, pode servir para acobertar seu contrário. Mas isso apenas quando o amor virou peça retórica como se faz com outras palavras. Prestemos atenção em como os autoritários adoram a palavra democracia, como os violentos usam cinicamente a palavra paz…

Mas quem fala do amor também pode estar, de algum modo, fora da ordem seja por adocicá-lo no sentimentalismo publicitário que vende coisas por meio de sensações e simulacões de sentimentos, seja por intensificá-lo na paixão amorosa possessiva e cruel que leva a crimes, a maldades de todo tipo que amantes praticam uns contra os outros. Lembremos que o amor romântico até hoje fez muitas vítimas porque, por mais belo e aconchegante que possa ser, ele sempre teve um preço. As mulheres sempre o pagaram enquanto foram, com seu próprio corpo, alma e ação, ao mesmo tempo, a moeda. O amor romântico estabeleceu-se a partir de raízes intimamente ligadas à misoginia. Mas lembremos ainda que pais e filhos também praticam muito desamor sob a cortina de fumaça da palavra amor. O amor, se não for mediado por algo que poderíamos chamar de “reflexão amorosa”, um estado de constante reflexão ética sobre o que fazemos em seu nome, é um grande perigo na vida das pessoas, pois se presta a toda forma de engodo.

Eu te amo

Fato é que a palavra ficou gasta em meio a tantas contradições e não podemos mais pronunciá-la honestamente. Quem hoje em dia pode dizer “eu te amo” sinceramente e não desconfiar de um cinismo que não se deixa medir? O amor virou uma mercadoria das mais baratas no mercado das relações humanas. Poetas honestos não tem mais coragem de usá-la. Do mesmo modo, amantes honestos, paradoxalmente, não se comprometem mais com ela. Os escolados na falsidade diária dos relacionamentos sabem que “eu te amo” é sinal de alerta para a mentira. A expressão gastou-se sem que tenha atingido sua própria verdade e serve para colocar o vazio do eu, sua inexpressão repetitiva, em cena. Ao dizer eu te amo, acreditamos que fazemos alguma coisa importante. Emitimos um conteúdo. Mas será mesmo?

Por isso, talvez seja bem mais honesto dar lugar entre nós a outros sentimentos menos pretensiosos como, por exemplo, o respeito. A justiça que se assemelha ao amor por sua condição de impossibilidade talvez seja muito menos impossível e faça mais sentido.

Talvez que, ao usar menos o termo amor, atualizando-o com menos eloquência por meio de outras palavras, estejamos praticando mais amor.

O amor é a descoberta do outro

E ainda assim o amor não pode ser jogado fora. Embora se trate, no seu caso, de algo de fato impossível, a antecipação prática desse ideal melhora o mundo. Torna esse mundo menos inóspito, menos cruel. O amor é assim um gesto negativo da ordem injusta do mundo. Talvez fosse essa a mensagem contida há tanto tempo no diálogo de Platão chamado O Banquete no qual vários filósofos e homens do seu tempo discutem o amor sem que nenhum deles consiga atingir uma definição perfeita. As mulheres não estavam ali não apenas pela habitual misoginia dos filosófos, mas porque o amor também não estava ali e os homens ali presentes não eram capazes de entrar em contato com essa grande figura da alteridade representada pelas mulheres e pelo amor. Sócrates é quem chama à memória a explicação de Diotima, uma sacerdotisa, ou seja, alguém que entra em contato com um deus, quem não poderia estar entre os meros mortais. O amor surgia nas palavras de Diotima como o desejo de alguma coisa que não estava presente, algo outro, algo que não estava jamais expresso e que nos chamaria para fora da experiência habitual. Levando a sério o que disse Diotima, o amor seria irrepresentável. E Sócrates sabia disso.

O que quer dizer que nunca estamos falando de amor quando falamos de amor. O que vale então para os pobres mortais é o desejo de amor. É o amor que queremos.

Ora o que é o amor senão o desafio da alteridade? Seja político, ético ou estético, esse desafio é o do encontro com o que não somos, com o estranho, com o que não se submete à nossa compreensão limitada, com o que não estamos acostumados. Certamente não pensamos que o amor seja hoje um desafio em sentido algum e é mais certo ainda que para este desafio não possamos nos preparar, pois não há mais tempo reservado para algo tão inútil. Não é assim que pensamos?

Pois é assim que, devorados pelo ódio que está na base do utilitarismo, o amor acaba.

Amour

Por isso, penso muito mais nas “provas do amor” do que nas palavras do amor. Para salvar o amor teríamos que dar provas e essas provas hoje são políticas e éticas, são provas que envolvem nossa razão e nossa emoção, provas que, pela ação, pudessem nos salvar de nosso caos cognitivo e afetivo.

contioutra.com - Mais amor, por favor- Márcia Tiburi
Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant em cena de Amour de M. Haneke

Essas provas precisariam ser concretamente amorosas. Precisariam ser mais do que discurso, mais do que palavras ao vento como folhas de uma árvore morta que demoramos a perceber que morreu.

Lembro de Amour, o filme de Michael Haneke que assisti em 2012. Depois desse filme fui ao cinema poucas vezes. Por meses tentei juntar os cacos da razão e da emoção que tinham sobrado da experiência. O filme de Haneke expressa muitas questões fundamentais sobre o amor, fala do amor, é o amor. Mas há uma questão bem simples e séria que nos servirá pra sempre: o amor nunca será fácil e provavelmente nunca combinará com o mundo que se entende com as coisas fáceis.

Publicado originalmente na Revista Cult

Nada nos satisfaz- Michel de Montaigne

Nada nos satisfaz- Michel de Montaigne

Se ocasionalmente nos ocupássemos em nos exa­minar, e o tempo que gastamos para controlar os outros e para saber das coisas que estão fora de nós o empregás­semos em nos sondar a nós mesmos, facilmente sentiríamos o quanto todo esse nosso composto é feito de peças frágeis e falhas. Acaso não é uma prova singular de imperfeição não conseguirmos assentar o nosso contentamento em coi­sa alguma, e que, mesmo por desejo e imaginação, esteja fora do nosso poder escolher o que nos é necessário? Dis­so dá bom testemunho a grande discussão que sempre houve entre os filósofos para descobrir qual é o soberano bem do homem, a qual ainda perdura e perdurará eterna­mente, sem solução e sem acordo:Enquanto nos escapa, o objeto do nosso desejo sempre nos parece preferível a qualquer outra coisa; vindo a desfrutá-lo, um outro desejo nasce em nós, e a nossa sede é sempre a mesma. (Lucrécio).

Não importa o que venhamos a conhecer e des­frutar, sentimos que não nos satisfaz, e perseguimos cobi­çosos as coisas por vir e desconhecidas, pois as presentes não nos saciam; em minha opinião, não que elas não te­nham o bastante com que nos saciar, mas é que nos apo­deramos delas com mão doentia e desregrada: Pois ele viu que os mortais têm à sua disposição praticamente tudo o que é necessário para a vida; viu homens cumulados de riqueza, honra e glória, orgulhosos da boa reputação de seus ftlhos; e entretanto não havia um único que, em seu foro íntimo, não se remoesse de angústia e cujo cora­ção não se oprimisse com queixas dolorosas; compreendeu então que o defeito estava no próprio recipiente, e que esse defeito corrompia tudo de bom que fosse colocado de fora em seu interior (Lucrécio).

O nosso apetite é indeciso e incerto: não sabe con­servar coisa alguma, nem desfrutar nada da maneira certa. O homem, julgando que isso seja um defeito dessas coi­sas, acumula e alimenta-se de outras coisas que ele não sabe e não conhece, em que aplica os seus desejos e espe­ranças, honrando-as e reverenciando-as; como diz César: Por um vício comum da natureza, acontece termos mais con­fiança e também mais temor em relação às coisas que não vimos e que es­tão ocultas e desconhecidas.

Michel de Montaigne, in ‘Ensaios’, via Citador

Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais- ANA GOSLING

Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais- ANA GOSLING

“…Quanto mais eles perdem memória, vigor, audição, mais sozinhos nos sentimos, sem compreender por que o inevitável aconteceu. Pode até surgir alguma revolta interior por esperar deles que reagissem ao envelhecimento do corpo, que lutassem mais a favor de si, sem percebermos, na nossa própria desorientação, que eles não têm a mesma consciência que nós, não têm como impedir a passagem do tempo ou que possuem, simplesmente, o direito de sentirem-se cansados…”

Por ANA GOSLING

Nascemos filhos. E esperamos ser filhos para sempre. Mimados, educados, amados. Que nossos pais invistam doses cavalares de amor em todo nosso caminho pela vida. Que, quando a vida doer, haja um colo materno. Que quando a vida angustiar, encontremos neles um conselho sábio. E, quando isso nos falta, há sempre uma lacuna, um sentimento estranho de sermos exceção.

Mesmo adultos, esperamos reconhecer nossa meninice nos olhos dos nossos pais. Desejamos, intimamente, atenções miúdas, como a comida favorita no dia do aniversário ou a camiseta do time de futebol se estamos na casa deles.

Não estamos prontos para trocar de lugar nesta relação.

É difícil aceitar que nossos pais envelheçam. Entender que as pequenas limitações que começam a apresentar não é preguiça nem desdém. Que não é porque se esqueceram de dar o recado que não se importam com a nossa urgência. Que pedem para repetirmos a mesma frase porque não escutam mais tão bem – e às vezes, não está surdo o ouvido mas distraído o cérebro. Demora até aceitarmos que não são mais os mesmos – que dirá “super-heróis”? Não podemos dividir toda a nossa angústia e todos os nossos problemas porque, para eles, as proporções são ainda maiores e aí tudo se desregula: o ritmo cardíaco, a pressão, a taxa glicêmica, o equilíbrio emocional.

Vamos ficando um pouco cerimoniosos por amor. Tentando poupar-lhes do que é evitável. Então, sem querer, começamos a inverter os papéis de proteção. Passamos a tentar resguardar nossos pais dos abalos do mundo.

Dizemos que estamos bem, apesar da crise. Amenizamos o diagnóstico do pediatra para a infecção do neto parecer mais branda. Escondemos as incompreensões do casamento para parecer que construímos uma família eterna. Filtramos a angústia que pode ser passageira ao invés de dividir qualquer problema. Não precisam preocupar-se: estaremos bem no final do dia e no final das nossas vidas. Mas, enquanto mudamos esses pequenos detalhes na nossa relação, ficamos um pouco órfãos. Mantemos os olhos abertos nas noites insones sem poder correr chorando para a cama dos pais. Escondemos deles o medo de perder o emprego, o cônjuge ou a casa para que não sofram sem necessidade e, aí, estamos sós nessa espera; não há colo nem bala nem cafuné para consolar-nos.

Quanto mais eles perdem memória, vigor, audição, mais sozinhos nos sentimos, sem compreender por que o inevitável aconteceu. Pode até surgir alguma revolta interior por esperar deles que reagissem ao envelhecimento do corpo, que lutassem mais a favor de si, sem percebermos, na nossa própria desorientação, que eles não têm a mesma consciência que nós, não têm como impedir a passagem do tempo ou que possuem, simplesmente, o direito de sentirem-se cansados.

Então pode chegar o dia em que nossos pais se transformem, de fato, em nossos filhos. Que precisemos lembrá-los de comer, de tomar o remédio ou de pagar uma conta. Que seja necessário conduzi-los nas ruas ou dar-lhes as mãos para que não caiam nas escadas. Que tenhamos que prepará-los e colocá-los na cama. Talvez até alimentá-los, levando o talher a sua boca.

E eles serão filhos piores porque lembrarão que são seus pais. Reagirão as suas primeiras investidas porque sabem que, no fundo, você acha que lhes deve obediência. Enfraquecerão seus primeiros argumentos e tentarão provar que ainda podem ser independentes, mesmo quando esse momento tiver passado, porque é difícil imaginarem-se sem o controle total das próprias rotinas. Mas cederão paulatinamente, quando a força física ou mental reduzir-se e puderem encontrar no seu amor por eles o equilíbrio para todas as mudanças que os assustam.

Não será fácil para você. Não é a lógica da vida. Mesmo que você seja pai, ninguém o preparou para ser pai dos seus pais. E se você não o é, terá que aprender as nuances desse papel para proteger aqueles que ama.

Mas, se puder, sorria diante dos comentários senis ou cante enquanto estiverem comendo juntos. Ouça aquela história contada tantas vezes como se fosse a primeira e faça perguntas como se tudo fosse inédito. E beije-os na testa com toda a ternura possível, como quando se coloca uma criança na cama, prometendo-lhe que, ao abrir os olhos na manhã seguinte, o mundo ainda estará lá, como antes, intocável, para ela brincar.

Porque se você chegou até aqui ao lado dos seus pais, com a porta aberta para interferir em suas vidas, foi porque tiveram um longo percurso de companheirismo. E propor-se a viver esse momento com toda a intensidade só demonstrará o quanto é grande a sua capacidade de amar e de retribuir o amor que a vida lhe ofereceu.

A crônica acima foi originalmente publicada na Obvious Magazine, em 12.12.2015 e encontra-se também no blog da autora- Blog da Ana, local que conferimos e indicamos sem ressalvas. 

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