Grama de plástico

Grama de plástico

E eu me deixando contaminar pelo verdinho brilhante e viçoso.

E eu querendo morar no lugar que não era meu só por parecer mais bonito e feliz.

E eu pensando no que de errado poderia estar fazendo por não ser capaz de apresentar um cenário irretocável.

E eu achando que só seria feliz no dia em que conquistasse a mesma perfeição… ou mais.

E eu consumindo todas as forças para ser da mesma maneira, para obter as mesmas conquistas, para tomar a ferro e fogo o jardim alheio.

E quando cheguei bem pertinho, já à beira da exaustão e frustração, reparei que era tudo de plástico. Que desânimo, que desilusão!

Mas como tudo na vida traz consigo a chance do aprendizado, olhei para trás, recuperando o fôlego e me preparando para a volta.

E ao olhar, de fora do meu lugar, percebi a lindeza do meu mundo, o que floresceu sem que eu desse a devida importância, o progresso do meu jardim, a sombra gostosa de uma vida inteira, de momentos e memórias.

Percebi meus afetos, minha companhias. Quem jamais me abandonou, ainda quando eu só tinha olhos para flores de plástico.

Percebi que algumas conquistas que plantei não vingaram, e assim foi melhor, pois engoliriam as menores e mais delicadas mudas da minha independência.

Só então notei a luz que nutre o meu terreno, a importância  das folhas mortas e secas, a vida que cresce e se alimenta de todas as imperfeições de um jardim natural, de uma risada sincera, de olho no olho, mãos entrelaçadas, vidas que escolhem ficar próximas para enfrentar a ventania e os temporais.

E eu que achava que nada poderia estar fora de lugar, se eu quisesse uma vida perfeita.

E persegui uma ilusão.

O jardim que eu cobiçava, era frio e de plástico.

No meu quintal bagunçado, é onde sou feliz.

 

Envelhecer é um prêmio que cabe só para quem ousou viver demais.

Envelhecer é um prêmio que cabe só para quem ousou viver demais.

Crianças bem pequenas costumam sentir-se atraídas por pessoas idosas; parece haver uma conexão entre os extremos da vida. Curioso paradoxo: quando atingimos idades bem avançadas ficamos muito parecidos com a nossa primeira versão; voltamos a ser criaturas frágeis, inseguras; e, muitas vezes, voltamos a necessitar de tantos cuidados quanto necessitávamos quando éramos bebês.

Apesar de não nos darmos conta disso, assim que nascemos começamos a envelhecer. Isso nem chega a ser um fenômeno, faz parte do script de nossa rápida participação na história do planeta Terra. É assim com todo mundo: tanto faz a cor da sua pele; seu poder aquisitivo; sua capacidade intelectual; sua aparência… O tempo vai exercer seu poder sobre o seu corpo que é tão perecível e suscetível às intempéries da vida, quanto uma flor que brota maravilhosa numa explosão de vida, mas não escapa de ver suas pétalas murcharem e caírem. É a lei da vida!

Outra questão extremamente curiosa é o fato de sermos os filhotes mais dependentes entre as inúmeras espécies de seres vivos que vivem por aqui. Absolutamente indefesos, ficamos submetidos aos cuidados daqueles que se dispuseram a nos trazer ao mundo. Precisamos do outro para sermos alimentados, protegidos e limpos.

E, por mais que esse nosso planeta tenha evoluído e conquistado os mais sofisticados avanços tecnológicos, os bebês humanos apresentam um rudimentar sistema de comunicação. O choro é nossa única forma mais eficiente de mostrar aos adultos que estamos aborrecidos ou com fome; sentindo-nos solitários ou sujos; passando calor ou frio; padecendo de sede física ou afetiva. Somos extremamente incompreendidos por muito tempo, até que possamos nos expressar com clareza sobre o que queremos, pensamos e sentimos.

E, pensando bem, continuamos a padecer de “ruídos na comunicação” ao longo de toda nossa vida. Mesmo quando já somos capazes de juntar letras, palavras e ideias (das mais simples às mais complexas), o que expressamos pode ser interpretado de infinitas formas pelo outro. Nem sempre o que dizemos é exatamente o que o outro dá conta de entender. Mesmo assim, o fato de aprendermos a dominar o código de comunicação facilita um bocado a nossa vida, se comparado à aflitiva situação de um recém-nascido.

Além disso, não inventaram ainda método mais eficiente de aprendizagem do que a experiência. Uma coisa é você observar os avanços motores de uma criança desde que faz movimentos aleatórios de tronco, pescoço e membros, até que consegue rolar, arrastar-se, engatinhar, permanecer em pé sobre as inseguras perninhas e, finalmente arriscar-se nos primeiros passos. Outra coisa é passar por tudo isso. O que vemos “de fora” é uma ínfima parte do que essas aparentemente simples conquistas representam para um bebê humano. Todo esse processo requer um conjunto complexo de desenvolvimento motor, ósseo, muscular, intelectual, neurológico e emocional; aprender a andar é uma das nossas inúmeras odisseias nesse mundo; é assim no começo e será assim no final, quando nossas pernas voltarem a ter dificuldades para nos sustentar.

Cada um de nós não passa de mero expectador das batalhas uns dos outros; quer sejam elas assumidas ao longo de toda uma existência de forma intencional; quer sejam infringidas de forma inevitável. Por mais que tentemos compreender, aceitar ou acolher as experiências bem ou malsucedidas de nossos semelhantes, a nossa interpretação será sempre inadequada e rasa. A dor do outro não pode ser sentida por nós, pode apenas ser imaginada. As conquistas do outro não podem causar em nossas rudimentares maneiras de sentir, a ebulição emocional vivida por nossos irmãos. Somos tão impermeáveis quanto infantis nessa capacidade de tocar as graças e desgraças alheias. Criaturinhas encapsuladas, desesperadas por nos proteger do perigo de falhar ou de compreender as falhas alheias.

Vivemos atropelando os dias; desperdiçando nosso tempo com preocupações tolas e vazias. Deitamos nossas cabeças em travesseiros mais ou menos macios; repousamos nosso corpo físico onde nos for possível, às vezes é uma cama luxuosa que nos recebe; outras vezes é o chão da rua. Em qualquer dos casos, a maioria de nós não é capaz de refletir sobre o que fez, pensou ou disse ao longo de cada precioso dia. E, pela manhã, repetiremos o mesmo estranho ritual de viver como se não pudéssemos responder por nossas próprias escolhas.

Assim é que, sem que nos demos conta, o organismo que chegou a esse mundo tão frágil e dependente, vai sofrendo incontáveis metamorfoses. Cada célula do nosso corpo sofre alterações irreversíveis, que tanto nos conduzem a conquistas de evolução, quanto nos fazem adoecer e fragilizar nossa capacidade de pensar e agir.

A menos que nos aconteça de morrermos jovens, é com a nossa versão mais frágil que teremos um encontro marcado e intransferível para o fim da jornada. Tomara que sejamos capazes de aproveitar a viagem. Tomara que ao nos despedirmos a vida na Terra possamos nos orgulhar das escolhas feitas. Tomara que antes de fecharmos os olhos pela última vez, possamos ter ao alcance de nossas mãos alguém a quem amemos e que nos ame para um último abraço. Porque a nossa despedida é inevitável, mas a maneira de deixarmos essa vida será constituída por todas as grandes e pequenas escolhas que fizemos ou que nos abstivemos de fazer.

13 filmes sobre o impacto de uma condição de dependência na pessoa e na família

13 filmes sobre o impacto de uma condição de dependência na pessoa e na família
NEW YORK, NY - MARCH 20: Julianne Moore filming "Still Alice" on March 20, 2014 in Long Island, New York. (Steve Sands/GC Images)

Qualquer doença é enfrentada como uma situação de crise pessoal e familiar. Tornam-se necessários ajustes nos âmbitos emocionais, sociais, econômicos, estruturais e físicos. Mas quando ela gera dependência e algum nível de incapacidade, seja ela temporária ou permanente, seu impacto acaba por atingir dimensões de maior complexidade no que diz respeito às mudanças na vida do paciente e de seus familiares.

A variabilidade das vivências trazidas por situações de dependência diversas são retratadas de maneira comovente e realista nos filmes escolhidos para esta matéria.

Que eles possam servir de ilustração para profissionais que lidam com esse tipo de situação em seu cotidiano e para pacientes e famílias que enfrentam ou enfrentaram alguma situação de dependência em sua jornada.

  1. Iris

 

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O filme descreve os primeiros e os últimos momentos da relação de John Bailey com a mulher, a filósofa e romancista Iris Murdoch. Mostra a vida do casal enquanto jovem até os últimos dias de vida de Íris. A história decorre no princípio dos anos 90, quando Íris, vista como uma das principais romancistas da sua época, começa a sentir as primeiras manifestações da doença de Alzheimer, que a levaria a perder as suas faculdades. No princípio ela começa a esquecer-se das palavras, o que se revela uma experiência frustrante. Em seguida, perde mais do que as palavras, deixa de conseguir escrever e falar coerentemente. O marido John é, então, impelido para o papel de cuidador. Há alturas em que ele sente que não é capaz de suportar esta situação, mas o amor pela mulher é tal que não a abandona.

  1. O filho da Noiva

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Aos 42 anos Rafael Belvedere (Ricardo Darín) está em crise, pois assumiu muitas responsabilidades e não tem mais tempo para qualquer tipo de diversão. Boa parte de seu tempo é gasto no gerenciamento do restaurante fundado por seu pai, no qual até tem um relativo sucesso, mas sem nunca conseguir escapar da sombra de seu pai. Rafael raramente visita sua mãe, Norma (Norma Aleandro), que está perdendo a memória, pois ela sempre implica com suas acompanhantes. Sua ex esposa o acusa de não dar a devida atenção ao filho e ainda há Naty (Natalia Verbeke), atual namorada de Rafael, que sempre lhe exige atenção e comprometimento. Em meio a todas estas responsabilidades Rafael sofre um ataque cardíaco, que faz com que se encontre novamente com Juan Carlos (Eduardo Blanco), um amigo de infância, que o ajuda a reconstruir seu passado e ver o presente com outros olhos.

 

  1. Diário de uma paixão

 

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Numa clínica geriátrica, Duke, um dos internos que relativamente está bem, lê para uma interna (com um quadro mais grave) a história de Allie Hamilton (Rachel McAdams) e Noah Calhoun (Ryan Gosling), dois jovens enamorados que em 1940 se conheceram num parque de diversões. Eles foram separados pelos pais dela, que nunca aprovaram o namoro, pois Noah era um trabalhador braçal e oriundo de uma família sem recursos financeiros. Para evitar qualquer aproximação, os pais de Alie a mandam para longe. Por um ano Noah escreveu para Allie todos os dias mas não obteve resposta, pois a mãe (Joan Allen) dela interceptava as cartas de Noah para a filha. Crendo que Allie não estava mais interessada nele, Noah escreveu uma carta de despedida e tentou se conformar. Alie esperava notícias de Noah, mas após 7 anos desistiu de esperar ao conhecer um charmoso oficial, Lon Hammond Jr. (James Marsden), que serviu na 2ª Grande Guerra (assim como Noah) e pertencia a uma família muito rica. Ele pede a mão de Allie, que aceita, mas o destino a faria se reencontrar com Noah. Como seu amor por ele ainda existia e era recíproco, ela precisa escolher entre o noivo e seu primeiro amor.

  1. Para sempre Alice

 

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A Dra. Alice Howland (Julianne Moore) é uma renomada professora de linguistica. Aos poucos, ela começa a esquecer certas palavras e se perder pelas ruas de Manhattan. Ela é diagnosticada com Alzheimer. A doença coloca em prova a a força de sua família. Enquanto a relação de Alice com o marido, John (Alec Baldwinse), fragiliza, ela e a filha caçula, Lydia (Kristen Stewart), se aproximam.

  1. As filhas de Marvin

 

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Quando Marvin (Hume Cronyn) sofre um derrame e fica incapacitado, sua filha Bessie (Diane Keaton) assume a tarefa de cuidar dele. Ela é também a responsável pela tia Ruth (Gwen Verdon), que sofre de uma doença na coluna desde criança e é viciada em novelas. Lee (Meryl Streep), a irmã mais nova de Bessie, não dá atenção para a família e vive em outro estado há anos. Ao descobrir que sofre de leucemia e necessita de um transplante de medula óssea, Bessie entra em contato com a irmã em busca de ajuda. Lee vai então visitá-la, levando consigo seus filhos Hank (Leonardo DiCaprio) e Charlie (Hal Scardino).

  1. Amour

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Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são um casal de aposentados apaixonados por música. Eles têm uma filha musicista que vive em outro país. Certo dia Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos que colocarão o seu amor em teste.

  1. Intocáveis

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Philippe (François Cluzet) é um aristocrata rico que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Precisando de um assistente, ele decide contratar Driss (Omar Sy), um jovem problemático que não tem a menor experiência em cuidar de pessoas no seu estado. Aos poucos ele aprende a função, apesar das diversas gafes que comete. Philippe, por sua vez, se afeiçoa cada vez mais a Driss por ele não o tratar como um pobre coitado. Aos poucos a amizade entre eles se estabelece, com cada um conhecendo melhor o mundo do outro.

  1. Meu pai uma lição de vida

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O sempre ocupado executivo John Tremont (Ted Danson) odeia ter que recorrer a outras pessoas para conseguir o que deseja. Durante um encontro, ele descobre que sua mãe Bette Tremont (Olympia Dukakis) desmaiou e teve que ir para o hospital. John assume então a responsabilidade de cuidar de seu pai, Jake Tremont (Jack Lemmon) e ensiná-lo a reconquistar sua independência.

  1. Longe dela

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Grant (Gordon Pinsent) e Fiona (Julie Christie) formam um casal feliz, que tem sua vida abalada quando ela apresenta alguns graves sintomas, como perda de memória. Logo vem a confirmação: Fiona está com o mal de Alzheimer. Relutante a princípio, ela passa a aceitar a doença e se interna numa clínica. Uma das regras do local é que os pacientes não recebam visitas durante seus primeiros 30 dias. Quando Grant finalmente consegue vê-la, ela já não o reconhece mais. Fiona está agora afeiçoada por Aubrey (Michael Murphy), outro paciente da clínica, o que faz com que Grant tenha que se contentar com sua nova condição de amigo ao mesmo tempo em que tenta ajudá-la a se lembrar do passado.

  1. Família Savage

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Wendy (Laura Linney) e Jon Savage (Philip Seymour Hoffman) sempre buscaram escapar do jeito dominador de seu pai (Philip Bosco), sendo que agora lidam apenas com suas próprias vidas. Wendy trabalha como dramaturga no East Village e passa seus dias buscando doações, namorando o vizinho casado e roubando material de escritório. Já Jon trabalha como professor universitário em Buffalo, tendo escrito alguns livros sobre assuntos obscuros. Um dia eles recebem um telefonema que os informa que seu pai, Lenny, está aos poucos sendo consumido pela demência e que apenas eles podem ajudá-lo. Isto faz com que Jon e Wendy voltem a morar juntos, o que não ocorria desde a infância, com ambos tendo que lidar com as excentricidades do outro.

 

  1. Mar adentro

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Ramón Sampedro (Javier Bardem) é um homem que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a igreja, a sociedade e até mesmo seus familiares.

  1. A teoria de tudo

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Baseado na biografia de Stephen Hawking, o filme mostra como o jovem astrofísico (Eddie Redmayne) fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa quando tinha apenas 21 anos.

  1. O escafandro e a borboleta

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Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric) tem 43 anos, é editor da revista Elle e um apaixonado pela vida. Mas, subitamente, tem um derrame cerebral. Vinte dias depois, ele acorda. Ainda está lúcido, mas sofre de uma rara paralisia: o único movimento que lhe resta no corpo é o do olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Aprende a se comunicar piscando letras do alfabeto, e forma palavras, frases e até parágrafos. Cria um mundo próprio, contando com aquilo que não se paralisou: sua imaginação e sua memória.

*Sinopses: www.adorocimena.com.br e www.wikipedia.com.br

Nem sua família te apoia? Descubra como mudar isso

Nem sua família te apoia? Descubra como mudar isso

Por Roberto Shinyashiki

Não é novidade que nem sempre nossos familiares vão apoiar nossas decisões. Isso é até um pouco comum de acontecer e faz com que você se sinta um pouco triste e desmotivado, o que até é compreensível. Mas de forma alguma isso deve ser fator decisivo para sua vida ser feliz ou não. É importante mudar essa situação ao seu favor e transformar em apoio ou mesmo em indiferença. Tudo vai depender do seu caso. Quer entender isso um pouco melhor? Vou explicar nesse texto.

Falta de apoio da família

Já ouvi muitas pessoas reclamando da falta de apoio dos familiares para o andamento dos projetos. E isso acontece com certa frequência. Lidar com isso de forma clara é o grande segredo para evitar problemas. Entenda como fazer isso.

Converse e explique seus planos

Comece com a tentativa que pode fazer com que tudo fique acertado sem maiores problemas e todos te entendam. Converse com seus familiares, explique seus planos e objetivos, porque você está fazendo isso e aonde quer chegar com sua ideia.
Se vai abrir uma empresa, por exemplo, fale da sua paixão pelo empreendedorismo, das possibilidades que essa carreira proporciona e do quanto é possível ter sucesso e realização profissional. Muitas vezes os familiares são contra não porque não confiam no seu potencial e em suas capacidades, mas por medo que algo possa dar errado e que você fique frustrado e se sinta prejudicado na sua vida.
Portanto, uma boa conversa, que seja esclarecedora, pode ser a solução para os seus problemas nesse caso e deixar sua vida bem mais tranquila nesse sentido.

Se não for compreendido, siga em frente

Caso a conversa não tenha efeito, é necessário seguir essa dica para não se prejudicar. Ninguém pode definir por você o que deve ser feito com seus sonhos e objetivos. Então siga seus sonhos independente da opinião dos seus familiares e trabalhe o seu emocional para ignorar as opiniões negativas que você estará recebendo. Só assim a situação pode melhorar e só vai depender de você.
Em alguns casos ignorar a opinião das pessoas, nem que seja por um tempo, pode ser a solução. Assim, quando os resultados começarem a aparecer, será bem mais fácil das pessoas te entenderem e apoiarem. Portanto, essa acaba sendo também uma boa dica.

Sem dúvidas ter o apoio das pessoas que gostamos faz uma diferença enorme para o nosso emocional e nossa autoestima. Nos sentimos mais felizes e dispostos a realizar o que é necessário e o que queremos quando sabemos que alguém está apoiando nossa ideia.
Mas caso não tenha esse apoio, também não pode ser motivo para ficar parado e desistir dos seus sonhos. Por isso é tão importante seguir em frente e ter sempre em mente seu objetivo.

O importante é seguir seu coração e o que você quer fazer. Se seus familiares te apoiam, ótimo. Isso vai ser importante. Mas caso eles não apoiem, não adianta obrigar ninguém a nada que a situação só vai piorar. Nesse caso seguir em frente e saber o que precisa ser feito é a melhor opção. Então agora que já sabe o que pode ser feito caso não tenha o apoio da família, é hora de seguir em frente e buscar seus objetivos. Sua felicidade é o mais importante.

O que é bom demais também pode ser verdade.

O que é bom demais também pode ser verdade.

Por que temos tanta dificuldade em aceitar os bons momentos imaginando que eles são prenúncio de uma grande tragédia?

Acho que em quase todos os filmes que assisti vi aquela cena na qual tudo está indo muito bem e todos estão felizes. Então, de repente, percebe-se a atmosfera de que algo ruim vai acontecer. A música de fundo sinaliza que está chegando uma grande tragédia e os olhares dos personagens nos revelam que o pior ainda está por vir. A felicidade como prenúncio da morte, do terremoto, do tsunami, do meteoro, do marido traído chegando, do ataque do tubarão ou da trombada no iceberg é facilmente encontrada nos filmes, nos livros, nas novelas.

A arte quando imita a vida, imita com destreza. Parece ser bem comum na nossa cultura aceitarmos com mais facilidade as más notícias, as tragédias, as perdas, as críticas. Estamos muito acostumados a aceitar o que é ruim. Talvez isso tenha vindo com o cristianismo que promete a salvação a quem sofrer bastante aqui na terra; ou talvez seja simplesmente a passagem dos conceitos de geração para geração sem questionamento algum.

O que era doce se acabou.

Estava bom demais para ser verdade.

Quando a esmola é demais o santo desconfia.

As frases acima nos dizem que tudo que é bom precede o ruim. Engolimo-nas como se fossem verdades absolutas. Até Tom Jobim cantou que “tristeza não tem fim, felicidade sim”. Ah Tom, quem será que lhe fez escrever isso?

Assim como minha avó me dizia que eu morreria se comesse manga verde e tomasse leite em seguida, ela deve ter me ensinado que “quando está tudo muito bem, pode esperar que logo atrás virá a desgraça”. E é assim que, sem perceber, vamos aceitando as coisas ruins da vida como naturais, criando muros para que a felicidade não se aproxime. Parece que nos ensinaram a ter medo do que é bom.

Recebo muitas mensagens durante a semana e uma me chamou muito a atenção. Um rapaz me escreveu para contar que deixou ir embora a mulher da vida dele e que havia descoberto que fez isso simplesmente porque não acreditava que algo tão bom pudesse estar acontecendo. Escreveu apenas para me contar. Respondi apenas “obrigada pela mensagem, por ter me contado”. O que mais poderia eu dizer a ele? Se é difícil aceitar um elogio, o que dizer sobre a chegada de um grande amor? Muitas vezes não aceitamos e nem acreditamos nos elogios, desconfiamos deles e de quem os faz. Quando nos dizem que estamos usando uma blusa bonita, por exemplo, a resposta que vem é sempre um:

-“Ah imagina, nossa, é tão velha essa blusa!”.

Percebam que a frase bloqueia o elogio, é uma defesa a ele. Nas entrelinhas fica claro que não o aceitamos. Legal seria dizer um “muito obrigado” e saborear a escolha de uma roupa bonita e da admiração vinda por isso. Ah, mas é mais fácil pensar que é inveja, que é falsidade, ou que estão de brincadeira conosco não é mesmo? Percebem como a nossa mente funciona?

Estamos habituados a criar barreiras ao que é bom e aceitarmos de braços abertos as críticas. Se a cena acima mostrasse alguém nos dizendo algo do tipo: “ah, não gostei dessa sua blusa, não ficou bem em você” teríamos não só a aceitação incondicional da crítica, mas também daríamos àquela frase o poder de acabar com nosso dia e certamente a blusa iria para o lixo junto com a amizade.

É provável que estejamos estragando diariamente nossa felicidade bancando os diretores de filmes nos quais ela só serve para ser prenúncio da desgraça. E assim vamos afastando os grandes amores, as blusas bonitas e as amigas sinceras. Vamos extinguindo o comportamento de elogiar e de acreditar nos elogios. Passamos a aceitar apenas o que a vida oferece de ruim como se viver fosse essa resignação de “cristão crucificado” que um dia receberá o reino dos céus. Ah, o Cristo não concordaria com isso. Ele, que só pediu que amássemos uns aos outros não deve ter achado bonito o rapaz que deixou ir embora a futura mãe dos filhos dele porque achava que ela era “areia demais para o seu caminhãozinho”.

“É bom demais e é verdade”. Este deveria ser o título do meu artigo. É assim que pensam e vivem as pessoas felizes. Elas simplesmente aceitam os elogios, o afeto e os momentos prazerosos. Elas não têm medo da profecia malévola na qual tudo vai dar errado no fim, inventada sei lá quando e sei lá por quem. Elas passam pela vida e superam os momentos ruins, não se ofendem com as críticas, e nem dão valor algum a elas. Já sobre elogios, felicidade e grande amor de suas vidas, ah elas correm atrás deles o tempo todo e por isso os alcançam.

 

Às vezes é preciso escorregar do telhado

Às vezes é preciso escorregar do telhado

Quando eu era adolescente vivia em minha cidade um senhor austríaco e sua esposa. Ela era uma mulher muito simpática, já ele não. Era monossilábico e parecia alheio a tudo que se passava ao seu redor. Durante as festas que dava em sua casa ele comumente não se mostrava interessado em nada e nem em ninguém.

Até que, em um almoço de fim de semana, ele nos chegou à mesa simpático e conversador. Falou pelos cotovelos, sempre emendando uma frase na outra, uma história na outra, um causo no outro. Nesse dia a esposa veio até nós e se desculpou. Disse que o marido tinha escorregado do telhado e que desde o episódio ele se comportava de tal forma, sendo extremamente expansivo e simpático.

Lembro de na época ter ficado boquiaberta com o que uma escorregada do telhado podia fazer com uma pessoa. E hoje entendo que essa escorregada pode ser uma metáfora para todos nós. Ela pode acontecer mais cedo ou mais tarde em nossas vidas sem aviso prévio. De repente, algo pode nos fazer ver tudo de um jeito diferente. Pode nos trazer contentamento ou consternação. Uma viagem, uma nova cidade, um novo país, um novo relacionamento, um novo trabalho, novas amizades, acontecimentos específicos, novas crenças, tudo isso pode nos mudar.

Contudo, como bons humanos que somos, costumamos evitar mudanças, mas incrivelmente são essas mudanças que nos dão a chance que precisamos para enxergarmos a vida com outros olhos. Para nos posicionarmos de forma diversa diante dos acontecimentos. A mudança pode ser enriquecedora.

Mudar não é fácil e nem sempre o fazemos porque queremos, muitas vezes a vida se encarrega de dar uma sacudida na gente. A vida se encarrega de propiciar nossa escorregada. E como toda queda ou tombo, provavelmente essa mudança de paradigma virá seguida de alguma dor.

Trazer o novo para junto de nós e deixar para trás velhos pensamentos, velhos hábitos e pessoas nocivas não é fácil, mas necessário. Liberar dos ombros pesos supérfluos é um alívio. Enterrar gente viva que já morreu em nós, dói sim, mas é preciso. Abrir as janelas de nossa morada para que um novo sol entre, para arejar os cômodos, certamente melhorará a saúde da nossa alma.

Enxergar a vida sem filtros, de forma clara. Olhando as pessoas nos olhos. Dizendo o que nos parece justo e sincero é um ótimo jeito de começarmos a vida depois de um tombo ou melhor depois que somos brindados com a oportunidade de provarmos o diferente. Contudo, é preciso que nos lembremos que em grande parte das vezes apenas nós teremos passado por esse processo, muitos que estão em nosso cotidiano continuarão exatamente iguais, pelo menos por um tempo.

Dessa forma é possível que o mundo se agarre, em uma segunda-feira nebulosa, a um mau humor costumeiro, mesmo que em nós o sol esteja raiando com força. É provável que tudo esteja exatamente igual enquanto andamos por aí iluminando tudo com o nosso sorriso mais sincero.

O segredo da mudança está em vivermos o bem que os nossos novos passos nos propiciaram e não em desmerecermos as escolhas alheias. Está em respeitarmos o tempo de cada um. Em respeitarmos a maturidade que diz se alguém está pronto ou não para cair do telhado de forma proveitosa.

Se a vida nos chacoalhou quer dizer que estamos no ponto certo para tocarmos o solo sendo alimento e semente para tudo que nos cerca. Trazendo conforto, força e contentamento. Nutrindo o mundo de beleza e de vida não robotizada.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

 

Só ando em boa companhia

Só ando em boa companhia
Data da foto: 2010 Julia Roberts no filme "Comer, Rezar e Amar", do diretor Ryan Murphy.

Será que estar só é melhor do que estar mal acompanhado? Em alguns casos estar por nossa conta é o maior desafio. Principalmente por aqueles que estão acostumados a ter o outro como referência para suas escolhas.

Por outro lado, aqueles que encaram a solidão com dignidade não rejeitam a companhia dos outros. Ao sentir prazer na própria companhia, acabam enxergando o outro como opção. Se quiserem ir ao cinema e não encontrarem alguém para acompanhá-los, vão bem sós. Mesmo no folclórico sábado à noite.

A vertigem aumenta quando os desacompanhados são mulheres. Os desafios são outros. Enfrentar uma multidão com a segurança de quem se basta requer uma dose extra de coragem. Quem sabe uma pitada de despreocupação com a opinião alheia. E acredite, não é nada fácil.

O interessante é a pressão sofrida mesmo quando nos encontramos dentro da “zona de conforto” da sociedade, ou seja, quando temos um parceiro fixo e por algum motivo resolvemos sair desacompanhados. Quem já não ouviu a frase:

– Você foi sozinho (a)?

O que há de tão ameaçador em alguém estar sozinho? Será que a nossa necessidade de julgamento é tão imperiosa que não sossegamos até classificar o outro pelos nossos valores pessoais? Colocá-lo em uma de nossas caixinhas internas nos deixam mais confortáveis, claro.

Cabe aí uma reflexão: Estar sem companhia não significa ser solitário. São duas situações distintas. Podemos estar acompanhados há anos por um parceiro indiferente à nossa presença ou que não assume a relação. A famosa “solidão a dois”.

Swami Dayananda Saraswati, em seu livro “O Valor dos Valores”, ressalta que uma mente tranquila gosta de si mesma. Não foge da companhia de outras pessoas, nem se sente perturbada pela ausência dela. Essa seria a atitude de uma mente contemplativa, centrada no autoconhecimento.

Quem se conhece o suficiente para perceber os seus limites não maltrata a si nem aos outros por companhia alguma. Busca o amor dentro de si mesmo. Isso é compaixão em seu sentido pleno.

Toquinho já alertava aos desavisados que encontrava pelo caminho: “Eu não ando só. Só ando em boa companhia. Com meu violão, minha canção e a poesia”.

Quem sabe, da próxima vez que encontrar uma pessoa desacompanhada, vale lembrar que todos temos o direito de apreciar as coisas boas que a vida oferece. Afinal, quem conhece o próprio valor não se sente ameaçado por ninguém (acompanhado ou não).

Por essas e outras que só ando em boa companhia. Com meu tapetinho de yoga, minha meditação e a escrita.

“Naquele tempo…” – O mito do antigamente

“Naquele tempo…” – O mito do antigamente

Houve um período da modernidade em que as pessoas viviam com a mente no futuro. Era no por vir que estava a esperança, era o futuro que seria melhor, eram no futuro as apostas e para ele se voltavam as ações. Talvez pela desilusão e com o fim das velhas utopias, agora ter a mente no passado é a nova mania. Temos a geração dos nostálgicos por excelência, que paradoxalmente aposta no passado, porque antigamente era melhor… melhor pra quem? Há nesse pensamento que tende para trás uma fragilidade que tende a passar despercebida.

Não é que devêssemos desvalorizar o passado, pelo contrário, não existe fonte mais segura de aprendizado do que aquilo que já foi vivido. Mas ficar suspirando por tempos supostamente melhores é uma atitude ingênua, senão infantil e negligente, pois pelo passado não se tem qualquer responsabilidade, não há possibilidade de ação pelo que já foi feito, não há perspectiva de mudança do que já passou. Se há algo de realmente importante no passado é resgatar ou perpetuar o que ele teve de melhor e estar atento ao que “deu errado” para evitar repetições. Ainda assim, a cautela nunca é demais, é preciso ter algo de perspectiva, afinal, outros tempos são outros tempos.

Velhas alternativas não funcionam para novas situações sem passar antes por adaptações. Para que o passado seja de fato uma fonte de conhecimento é preciso ter algo da ação, da percepção ampla do presente de modo a transpor as barreiras do tempo. É preciso ter algo de uma visão de futuro para tentar antever consequências. É preciso pensar fundo, respirar fundo, sentir fundo, é preciso ter atitude e estar presente.

É muito fácil pensar que algo antigamente foi melhor e lidar com falsas estatísticas ou constatações generalistas. Pensar, por exemplo, que as pessoas se relacionavam melhor por não haver tecnologias. Obviamente, quem não viveu naquele tempo, não sentiu dele as mazelas na pele. Mas qualquer um que tenha se dedicado um pouco aos livros históricos, de literatura que sejam, sabe que haviam outros tipos de opressão e obstáculos para as relações genuínas, como uma divisão mais rígida nas relações pessoais devido à classe social, para apenas citar um exemplo.

Outra ilusão é pensar que os relacionamentos “amorosos” eram mais profundos e duráveis. Claro! O casamento foi por muito tempo uma ferramenta de negociação onde a mulher era o produto, por muito tempo não se tratava sequer de uma escolha, e, como em uma empresa, havia uma hierarquia clara a ser respeitada. Duravam sim, de fato, pela repressão social ou pelas imposições da lei, onde, inclusive, o adultério feminino era passível de punição legal, ou o homicídio passional era passível de perdão. Mesmo que separar-se e seguir com as próprias vidas fosse um desejo do casal, ambos estavam presos a uma convecção. Onde está o amor nisso? Onde está o melhor?

Alguns acreditam ainda que as regras de civilidade eram mais respeitadas e consequentemente a sociedade era mais gentil e solidária. Sério mesmo? Nunca ouviram falar das humilhações públicas e gratuitas, que poderiam perseguir uma pessoa por toda vida? Dos maus tratos aos servos, da primazia da aparência nas classes abastadas? Mas, “peraí”, isso se parece bastante com “hoje em dia”, com a pequena diferença de que, atualmente é possível denunciar esse tipo de atitude e discuti-la, onde antes, qualquer um que contra elas se colocasse corria o risco de ser tão ridicularizado quanto os que sofriam tais perseguições.

Já se pensou queimar na fogueira por fazer um chazinho para gripe? E ser apedrejada por ser denunciada por seu marido psiquicamente comprometido que tem delírios com traição? Não poder sair na rua sozinha, não por medo da violência, mas por uma convenção social instransponível, que tal? E se você ficasse desempregado por seis meses e nunca mais conseguisse se recolocar pela má fama adquirida por ter, uma vez, perdido o emprego? Ter nascido em uma família de classe econômica precária e ser obrigado a seguir a profissão dos seus pais, com pouca ou nenhuma perspectiva de mudança? Ser apaixonado por uma moça e ter que casar-se com outra por esta ter um melhor dote ou, caso contrário, arruinar-se socialmente e consequentemente financeiramente? E não seria maravilhoso viver num período de guerra mundial? É desse antigamente que as pessoas falam?

O antigamente é uma espécie de romance utópico no qual tudo parece melhor simplesmente porque não precisa ser encarado de frente. Segundo a regra do “antigamente”, todos pensam em si mesmos vivendo em uma família nobre, abastada, liberal e carinhosa, que simplesmente não existe nem nunca existiu como regra geral. Viver o agora e lidar com a responsabilidade de torna-lo melhor é um desafio constante e cansativo, e os braços sedutores de um passado inventado nos convida a adormecer em seu seio quente, mantendo-nos inertes e cegos às qualidades do nosso próprio tempo. Na verdade, é a amargura que nos cerceia e nos impede de viver. Refugiamo-nos no túmulo do tempo sem usufruir nem mesmo dele.

É difícil enxergar no meio caos, e o caos é sempre o momento vivido, onde tudo acontece e é preciso colocar-se ali, para ver e viver o pior ou o melhor. Creio eu que esses adoradores do passado, vivessem no tempo que aclamam e consideram foram melhores, ao lidar com a realidade, queixar-se-iam novamente, invocariam tempos ainda mais remotos, até que retornassem aos períodos anteriores à invenção da roda e não pudessem mais pensar ou imaginar um antigamente para o qual retornar.

Se for para aclamar o antigamente, que sejamos atores em resgatar dele o melhor sem o temor de ser ridicularizado pelo nosso anacronismo. Temos o benefício de um acervo gigantesco e disponível das maravilhas que foram produzidas em tantos outros tempos. Recuperemos as artes, as músicas, as filosofias, alguns modos, palavras e modas. Temos a liberdade de trazer do passado os benefícios revistos, relidos, reinterpretados. Temos o potencial do bricoleur, para fazer da nossa vida um mosaico com o melhor de todos os tempos e reinventarmos o nosso próprio.

Mas para isso é preciso substituir os suspiros por aspirações, a inércia por ações. Se for para suspirar, que seja pela emoção em poder acessar todas essas belezas e inventar belezas outras, e lamentar apenas que no passado tantas mentes brilhantes e insaciáveis não pudessem desfrutar de toda essa fonte que nós temos disponível, mas que infelizmente não utilizamos em todo o seu potencial, por nos submetermos a uma falsa lógica de que o homem contemporâneo não tem mais o que inventar. Talvez hoje, a nossa urgência mais latente seja reinventar a própria vida, que anda dispersa entre as promessas do passado do futuro, enquanto o presente escoa pelos ralos dos delírios de grandeza e da lamentação.

No perfume da educação; Escola é essencial, mas não substitui a essência dos pais.

No perfume da educação; Escola é essencial, mas não substitui a essência dos pais.

As aulas começaram e as mamães estão livres! Se você concorda com essa frase, sinto lhe informar que vou acabar com a sua alegria.

Com o passar dos anos, a confusão que se formou em torno das funções da escola e da família piorou muito. A criação dos filhos está sendo terceirizada para escolas, babás e avós. Mães e pais dedicam pouquíssimo tempo aos seus filhos, e têm deixado de lado o acompanhamento da aprendizagem deles – acreditando que a escola é responsável não só por isso, mas pela transmissão de valores.

Em primeiro lugar é importante deixar claro que, a caminhada por todo o ensino fundamental e o ensino médio, dura doze anos, e nesse tempo, quase todo o processo de desenvolvimento global vai acontecer. A qualidade do aprendizado do seu filho durante esse tempo vai depender muito do respaldo que ele tem fora dos muros da escola e disso vai depender todo o resto da vida dele.

Não adianta achar que, com o início das aulas, você pai e você mãe estão tranquilos até julho. Se não houver uma infraestrutura para embasar o processo de aprendizagem, ela ficará deficitária e essa infraestrutura deve ser embasada por algo imprescindível: ROTINA.

Ao levar meu filho ao pediatra aqui em São Paulo, ele me perguntou sobre limites e rotina e terminou sua orientação com uma sábia frase que divido com vocês: “as crianças precisam saber o que vai acontecer ao longo do dia”.

Para poder aprender e se desenvolver as crianças e adolescentes precisam de dias que transcorram com tranquilidade, aliás, todos nós precisamos. Os dias devem ter horários estabelecidos para acordar, ir à escola, se alimentar, descansar, estudar, praticar outras atividades, cuidar da higiene pessoal e dormir. Não se deve fugir muito disso, ou haverá muita dificuldade na aprendizagem. Dias atribulados, corridos, sem horários para as necessidades básicas nos deixam estressados e isso vale também para as crianças. Ninguém aprende nada em meio ao caos.

Outro item importante é o local onde a criança e/ou adolescente vai fazer as tarefas de casa. È imprescindível que esse ambiente exista, e que seja silencioso e organizado. Os pais, durante o início do ensino fundamental devem acompanhar e supervisionar essas atividades. Isso vai se tornando menos necessário com o passar dos anos, mas o lar e o ambiente devem ser propícios ao aprender.

O terceiro item a ser seguido é o de obedecer rigorosamente ao horário de dormir. Estudos apontam altos níveis de déficit de atenção em crianças que dormem menos do que oito horas por dia. A meu ver, o horário limite para ficarem acordados até os dez anos de idade é vinte e uma horas, isso porque somos um país tropical e de clima muito quente. Na Europa e nos Estados Unidos, crianças vão para a cama no máximo às dezenove e trinta horas. Se for preciso ir se deitar mais cedo até que seu filho estabeleça a rotina, faça-o.

Crianças imitam o comportamento dos pais. Se você quer que seu filho leia, comece a ler, se quer que ele ouça boa música, comece adequando o seu gosto musical. Analise a rotina da sua própria vida e os seus hábitos de sono e alimentação, por exemplo.

Temos vivido um tempo onde muitas crianças são diagnosticadas sem muitos critérios com  portadoras de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) e muitas vezes, o que há de fato é uma criança se comportando de modo desatento e hiperativo por pura influência do ambiente. Estudos recentes apontam que o uso de certa medicação indicada para esses casos, foi feito de forma desordenada nos últimos anos e causou vários problemas por isso. Antes de sair correndo com seu filho para o neuropediatra quando começarem a perceber problemas na aprendizagem faça uma avaliação se essa criança está tendo respaldo ambiental e presencial dos pais para aprender. Parem de terceirizar as suas responsabilidades!

A tecnologia disponível para pesquisa em casa e a tendência a deixarem as crianças na escola em período integral não nos desresponsabiliza, como pais, de sermos parte do processo. Para ilustrar que o que lhes escrevo não é exagero, as escolas costumam realizar no mínimo duas reuniões pedagógicas com os pais durante o ano letivo. Tenho algumas amigas que dirigem escolas públicas e privadas – e pasmem – em ambas, mais de trinta por cento dos pais não comparecem às reuniões! Esses pais não dedicam duas horas no semestre aos seus filhos e á instituição que escolheram para a tarefa e ensiná-los.

Ser pai e ser mãe se tornou papel coadjuvante na vida do indivíduo e por isso é preciso muito mais jogo de cintura e muito mais critério antes de tomar essa decisão. Quando eu decidi que teria um filho só, me lembro de ter ouvido muitos questionamentos, principalmente sobre o fato de que ele não teria irmãos. Acho engraçado que tenham essa preocupação sabendo o quanto é preciso em dedicação, tempo e recurso financeiro para se oferecer uma vida digna a um filho. E, antes que digam, não, hoje não vale mais a regra de que quem cria um cria dois!

Uma guerra mundial chamada educar nossos filhos

Uma guerra mundial chamada educar nossos filhos

Educar é muito difícil. Fácil é dizer sempre sim e deixar que se faça tudo que se quer. Um dia uma paciente me disse ao justificar a bronca que levou do endocrinologista do filho: “Eu deixo ele comer o que quiser porque já cansei de explicar. Eu quero paz, sabe?” Sei. Este foi meu pensamento na hora, e então eu disse a ela e lhes repito: educar um filho é difícil, é um risco que poucos querem correr exatamente porque “tira a nossa paz”.

Percebo todos os dias o risco que decidi correr ao ter um filho e passar então a educá-lo. Às vezes, me sinto nadando contra a correnteza, formada por uma série de estímulos externos que me questionam e até me punem por educar e impor limites.

Eu estava numa festa infantil, meu filho e os amigos da classe brincavam em um gira-gira. Um deles empurrava o brinquedo em alta velocidade, correndo e segurando no cano onde os demais também apoiavam as mãos; enquanto os outros, sentados no brinquedo, gritavam felizes pela sensação, jogando a cabeça para trás. Os pais se entreolhavam amedrontados, até porque se um deles caísse, era óbvio que se machucaria. Ninguém tomava atitude alguma, mas falavam entre si: “nossa, que perigo”, ou verbalizavam um “mais devagar”, “cuidado”. Eu, então, decidi agir. . A minha vontade de levar o meu filho para dar pontos na testa era zero, e a de ver outras crianças na mesma situação também. Cheguei perto do brinquedo, falei primeiro com o meu filho e depois com os demais. Disse que a brincadeira estava perigosa e que já bastava. Pedi que parassem e sugeri que fossem para outros brinquedos ou para outras atividades disponíveis. Todas as crianças me olharam feio, claro, eu as frustrei e sabia disso, não esperava nada diferente. Eles fingiram não me ouvir, resistiram e tentaram argumentar. Fiquei firme no comando até que todos descessem do brinquedo. Eis que uma das meninas vem até mim e me diz: “Você não pode me mandar descer. Sabe por quê? Porque você não manda em mim”. Ela, assim como meu filho, tem quatro anos, e era a primeira vez que ela me via na vida. Fiquei pensando se meu filho está agindo assim com pais de colegas em situações semelhantes, e isso me deu medo; mas o pior foi ver alguns pais pegarem seus filhos, oferecer outras brincadeiras, porém deixando no ar um clima evidente de que “a ruim era eu”.

Que medo é esse que temos de educar? O que há de arriscado em impor regras e sustentá-las quando necessário? Nossos filhos não podem sofrer? Não podem ser frustrados? Temos que ser pais idealizados, perfeitos aos olhos de uma criança de quatro anos que nada entende sobre os riscos que corre na vida? Pais com medo da imagem que os filhos possam ter deles? Eu odiei meus pais todas às vezes nas quais eles me impuseram regras e limites; fui frustrada muitas vezes e não me lembro de eles se importarem se eu estava gostando ou não; naquele momento o foco era educar e talvez por isso eu os ame tanto. Lembrem-se do que sempre digo: liberdade demais é interpretada pela criança como falta de afeto.

Eu mando no meu filho sim, e espero que ele obedeça aos professores, aos familiares, aos pais de colegas e aos demais adultos que possam o orientar e o proteger. Eu vou desagrada-lo sempre que for preciso sem medo algum e vou abrir mão da minha “paz” dizendo sempre sim para não ter que ouvir suas argumentações. Terei que ser mais forte do que ele para que ele entenda que não se pode e nem se vai ganhar sempre.

Talvez estejamos preocupados demais com a nossa autoimagem e por isso, deixando de educar, de correr o risco, de agir. Enquanto pais decidem ficar na zona de conforto, desistindo de seus filhos por medo de errar e pela praticidade de terceirizar a educação, crescem as menininhas de quatro anos que, ao discursarem que “ninguém manda nelas”, tornam-se mulheres egocêntricas e intolerantes a qualquer tipo de relação na idade adulta.

O jardim em frente, por Carlos Drummond de Andrade

O jardim em frente, por Carlos Drummond de Andrade

contioutra.com - O jardim em frente, por Carlos Drummond de Andrade

Os big shots da empresa estavam reunidos em conferência. Assunto importante, desses que exigem atenção, objetividade. O presidente recomendara:
– Não estamos para ninguém. Esta porta fica trancada. Avisem à telefonista que não atenda nenhum chamado. Nem do Papa.
Começou-se por dividir o assunto em partes, como quem divide um leitão. Cada parte era examinada pelo direito e pelo avesso, avaliada, esquadrinhada, radiografada. Cartesianamente.
– Você aí, quer fazer o favor de parar com essa caricatura?- O presidente não admitia alienação. Por sua vez, foi advertido pelo vice:
– E você, meu caro, podia deixar de bater com esse lápis, toc, toc, toc, na mesa?
Estavam tensos, à véspera de uma decisão que envolveria grandes interesses. Alguém bateu à porta.
– Não respeitam! Não respeitam o trabalho da gente! Isso não é país!
– Seja ou não seja país, quando batem à porta a solução é abrir, para evitar novas batidas, ou, mesmo, que a porta venha abaixo. Pois ninguém deixa de bater, e sabe que tem gente do outro lado.
O director secretário abriu, de óculos fuzilantes. O chefe da portaria, cheio de dedos, balbuciou:
– Essa senhora… essa senhora aí. Veio pedir uma coisa.
O primeiro impulso do diretor secretário foi demitir imediatamente o chefe da portaria, servidor antigo, conceituadíssimo, mas viu ao mesmo diante de si a imagem consternada do homem, e a lei trabalhista: duas razões de clemência. Pensou ainda em mandar a senhora àquele lugar de Roberto Carlos, ou a outro pior. Dominou-se: ela ostentava no rosto aquela marca de tristeza, que amolece até directoria.
– A senhora me desculpe, mas estou tão ocupado.
– Eu sei, eu é que peço desculpas. Estou perturbando, mas não tinha outro jeito. Moro do outro lado da rua, no edifício em frente. Meu canário…
– Fugiu e entrou aqui no escritório? Eu mando pegar. Fique tranquila.
– Antes tivesse fugido. Morreu.
– E daí?
– Viveu quinze anos conosco. Era uma graça… pousava no dedo…
– E daí, minha senhora?
– O senhor vai estranhar meu pedido? Eu estava sem coragem de vir aqui. Por favor, não ria de mim.
– Não estou rindo. Pode falar.
– Os senhores tem um jardim tão lindo na cobertura. Da minha janela, fico apreciando. Então agora está uma coisa: posso fazer um pedido?
– Pode.
– Eu queria enterrar meu canário no seu jardim. Lá é que é lugar bom para ele descansar. O senhor vê, nós temos aquele terrenão ao lado do edifício, com três palmeiras, um pé de fruta-pão, mas é grande demais para um passarinho, falta intimidade. Se o senhor consente, eu mesma abro a covinha. Não dou o menor trabalho, não sujo nada.
O director secretário esqueceu que tinha pressa, que havia um problema sério a discutir. Que problema? Naquele momento, o importante, o real era um canarinho morto, e amado.
– Pois não, minha senhora, disponha do jardim. Eu mesmo vou levar a senhora lá em cima, para escolher o lugar.
Subiram, escolheram o canteiro mais apropriado, onde bate o sol pela manhã, e à tarde as plantas balançam levemente, à brisa do mar.
– Não é abuso eu fazer mais um pedido? Queria que o jardineiro não revolvesse a terra neste ponto, durante três meses. O tempo de os ossinhos dele se desfazerem… Volto daqui há meia hora para o enterro.
Meia hora depois, voltava com uma caixinha forrada de veludo azul claro, e a reunião dos big shots, que ainda durava, foi suspensa para que todos, com o presidente muito compenetrado, assistissem ao sepultamento.

Carlos Drummond de Andrade

2016: O ano da presença

2016: O ano da presença

Estamos no começo de um novo ano, um tempo em que mesmo que a vida continue a mesma, mesmo que a gente esteja no meio de um ciclo, mesmo que nada pareça estar se renovando para nós, mesmo que a rotina siga, e a única coisa que tenha mudado foi os últimos dois dígitos no calendário, este é um tempo que me traz um aviso, uma lembrança e faz despertar a pergunta: que intenções eu coloco neste novo ano? E esta pergunta poderia me acompanhar durante todo o ano (se eu me lembrasse de olhar pra ela) e ela talvez signifique simplesmente algo do tipo: como eu quero sentir a vida? Como eu estou encarando o mundo?

Me lembro que no começo de 2015, ao me fazer essa pergunta, de coração aberto eu disse: neste ano novo eu quero menos! Quero menos correria, menos coisas, menos bagunças de sentimentos, menos grandes mudanças, menos pesos.

Tinha uma vontade de leveza nessa intenção, era o desejo de que a vida fosse mais calma, mais bonita, num ritmo mais lento. Eu queria desacelerar para poder deixar outros ritmos e verdades fluírem.

Ainda acho essa intenção bonita e válida, às vezes a gente precisa disso mesmo.

Mas, neste começo de 2016 a minha intenção é outra:

Neste ano novo eu quero tudo! Quero tudo o que a vida tem para me oferecer e quero estar aberta e inteira. Não quero prever nada, planejar, me prevenir, me pautar nos medos para assegurar minha alma, para evitar quedas e danos. Quero estar aberta para o que der e vier, pronta ou não, mas cheia de vontade de sentir, aprender, evoluir, chorar, sorrir, viver. Aberta para olhar nos olhos das levezas e dos pesos. E cheia de entusiasmo para receber as surpresas que me esperam, mas também cheia de serenidade ao imaginar os momentos de alívio e calmaria.

O que eu quero me propor é que independentemente das dores, dos percalços, dos sustos, dos cansaços, dos excessos, das dúvidas, das frustrações, da solidão, que eu saiba lidar com amor sempre.

 

Que eu saiba olhar com doçura e absolvição para as pessoas, sabendo que elas são antes de tudo humanas e não heróis ou vilões. Que eu saiba receber as dificuldades com paciência, força e otimismo, e consiga olhar de fora e entender o sentido maior de tudo.

Que eu saiba não me culpar e não culpar ninguém, nem mesmo o destino. Que eu encontre alento nos meus próprios braços e que eu saiba me dar um banho morno, uma tarde de sono, um choro derramado. Que eu saiba também deitar num peito, entregue, sem me preocupar que horas são.

Que eu consiga ouvir uma música sem fazer mais nada ao mesmo tempo, talvez apenas cantar junto. Que eu saiba identificar e aproveitar ao máximo as belezas e as alegrias que me pousam. Que eu mate as saudades nas presenças sem o medo do que será ou deixará de ser o futuro.

Que eu solte as risadas mais livres, mesmo com aquela lista de problemas a serem resolvidos no dia seguinte. Que eu aprecie uma boa companhia, um prato de comida, um livro de poesia, e enquanto faça isso, que eu me esqueça do mundo.

Que eu solte minhas feras num banho de mar e volte a encontrar meus passarinhos.

Porque tudo flui melhor e a vida faz mais sentido quando a gente aprende a ser sensível à flor da pele, aberto para o mundo e ao mesmo tempo desenvolve suavidade no olhar.

Que eu me reconecte com a amplitude da vida e que essa seja minha alegria, porque não há delícia maior do que estar pronta para querer tudo e ao mesmo tempo não saber de nada.

Que assim seja! 🙂

ORGULHO: AQUELE QUE DEVORA A SI MESMO

ORGULHO: AQUELE QUE DEVORA A SI MESMO

O significado da palavra orgulho tem origem no termo catalão orgull que é uma característica de pessoa com um conceito muito elevado de si. Também significa altivez, brio, amor próprio exagerado e soberba.

O orgulho ou a soberba é também considerado um dos 7 Pecados Capitais. Para Tomás de Aquino, a soberba é um pecado tão grandioso que pode ser considerado fora de série, devendo ter um tratamento especial.

Não só Tomás de Aquino pensava assim. Para muitos, a soberba diz respeito à aversão a Deus, cujo preceito da humildade o homem recusa aceitar. É por isso que a soberba é chamada o início, “porque é pela aversão que começa a razão de todo o mal.”

A base do pensamento acima pode ter sido extraída do Eclesiástico 10,15: “Pois o princípio de todo pecado é a soberba (…).”

Na verdade, o orgulho não é de fácil definição: em excesso fere, pois não sabe pedir desculpas, não sabe perdoar, nem ser humilde, mas também machuca e corrói quem o alimenta. Teme a negativa e não quer perder. Enfim, é um veneno em doses homeopáticas.

O orgulhoso é importante demais para ir atrás do outro, é vaidoso demais para reconhecer que errou e, principalmente, para perdoar. Errar com ele é um ultraje que não cabe desculpas, mas quando é ele quem erra o problema é menor. Ele joga e nunca paga para ver. É uma pena!

Falam que quem opta pelo orgulho precisa aprender a lidar com a saudade. Aprender a lidar com a saudade é fácil diante de questões maiores. Orgulho em excesso deixa um rastro de palavras não ditas, sentimentos não vividos, mágoas não apaziguadas, ressentimentos não resolvidos, situações não esclarecidas. Frustrações de equações não solucionadas.

É fato que o orgulho, a vaidade e a arrogância caminham juntos, mas não estaria o orgulho também associado à covardia? A palavra covarde vem do latim coda que significa “cauda”, metaforicamente seria a pessoa que tem o rabo entre as pernas, ou seja, a que deixa de enfrentar as mais diversas situações por medo.

Logo, deixar de enfrentar um fato por medo de ter o orgulho ferido é também uma forma de covardia. Viver é risco e exige coragem!

Quem não arrisca deixar o excesso de orgulho de lado pode não perder nada, mas pode também perder tudo. E, quando envolve pessoas, é difícil não ferir e ser ferido, como o velho ditado que diz “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Benjamim Franklin já falava: “O orgulho que almoça vaidade janta desprezo.” Tudo tem seu preço!

O que mais escutamos por aí são as pessoas afirmando que não vão fazer isso ou aquilo por puro orgulho, mas ao mesmo tempo se corroem por dentro, esperando que o tempo resolva as suas inquietações. Para o orgulhoso, a iniciativa deve ser sempre do outro e nunca dele. Aí mora o perigo!

Foi arrogante, não pediu desculpas e ainda esperou a ligação do outro! Esse é um pequeno exemplo do que as pessoas orgulhosas fazem. Acontece que, se o orgulho for uma via de mão dupla, essa ligação pode nunca vir. E aí? E aí que a pessoa jogou errado e perdeu. Por essas e outras é que a frase de Shakespeare é tão pertinente: “o orgulho devora a si mesmo”.

Um ótimo romance que retrata muito bem o tema é o “Orgulho e Preconceito” da escritora inglesa Jane Austen, adaptado para o cinema, em que os protagonistas não se entendem pelos motivos que dão nome ao livro. Vale a pena ler o romance ou ver o filme para refletir.

O bom mesmo seria deixar o amor prevalecer sobre o orgulho, a vaidade, o preconceito e o medo, na exata forma descrita pelo grande poeta Pablo Neruda: “Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira.”

Que o amor sempre prevaleça, não apenas sobre o orgulho, mas sobre todos os sentimentos que de alguma forma apequenam a alma.

O que seus sonhos estão fazendo com você?

O que seus sonhos estão fazendo com você?

“Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos.” (William Shakespeare).

Ah os nossos sonhos!

Não me refiro aos que acontecem quase todas as noites quando estamos dormindo e que manifestam os nossos desejos e as nossas angústias. Estes sonhos são objeto de estudo e interpretação para a psicanálise e eu, particularmente acho primorosa a obra de Carl Jung sobre os sonhos e acho muito bonito o olhar que ele deu para esta nossa manifestação.

Eu poderia escrever para sempre sobre os sonhos aqui, mas hoje quero refletir com vocês sobre os nossos desejos, muitas vezes chamados de sonhos. Quero olhar para os sonhos que sonhamos acordados, para os devaneios que nos roubam a atenção, para as nossas vontades muitas vezes secretas, para o que parece impossível e inalcançável. Quem não tem um, ou melhor, vários sonhos? Uma viagem, um filho, um amor impossível… (se é que isso existe. Na minha insignificante opinião, amor só acontece quando é possível). Talvez uns mais e outros menos, mas a verdade é que todos nós sonhamos, ou melhor, desejamos.

E então, o que fazer com tudo isso?

Não há quem não sonhe, dormindo ou acordado; e não há quem vá realizar todos os seus sonhos. Sonhar é preciso e talvez por isso nós, psicólogos insistimos tanto para que os pais não realizem todos os desejos de seus filhos. Se tudo que queremos pudesse vir como em um passe de mágica às nossas mãos a vida perderia o sentido e então talvez nós adoeceríamos. A motivação é o que nos impulsiona; é o que nos faz levantar da cama todos os dias e seguir em busca da sobrevivência e em busca de algo que podemos conceituar como um sonho a ser realizado. Não se deve apenas viver – é preciso sonhar e quem sabe realizar algum dos nossos desejos durante a caminhada.

Mas e os que ficam? Os sonhos não realizados? Os desejos inatingíveis? O que fazer com eles?

Existem muitas utilidades para os sonhos que não se realizam. A primeira delas é exatamente a percepção e a aceitação de que não se pode ter tudo que se deseja e que o mundo não está aí para nos satisfazer. Crianças muito novas, ainda em fase de egocentrismo, acreditam que o mundo gira em torno delas e o natural é que, com o passar do tempo percebam que não é assim que as coisas acontecem. Todavia alguns adultos, cujas vidas foram muito abastadas ou que tiveram pais que cometeram o grave erro de satisfazer todas as suas vontades, crescem acreditando que todos os sonhos – que todos os desejos – são realizáveis. As consequências disso são horríveis visto que se tornam pessoas cronicamente insatisfeitas e que perdem a capacidade de sonhar.

Não ter tudo o que queremos nos leva ao contato com um importante sentimento: o da frustração; e é provável que esta seja a principal função dos sonhos não realizados: nos frustrar. Aprender a lidar com a frustração é uma questão de sobrevivência e é um dos caminhos para a felicidade. Indivíduos tolerantes à frustração são mais felizes.

Outra função dos nossos desejos ainda não alcançados é nos motivar e dar tempero à nossa vida. Aquele doce sabor da espera por um brinquedo no natal, vivido na nossa infância na qual tudo era mais difícil e menos descartável é um dos maiores prazeres na vida. O “esperar pela festa” é algo que deixa nossos dias preenchidos. Quando então o dia chega ele acaba por nos mostrar que esperar, desejar, sonhar coloriu aqueles nossos dias e que fomos então felizes.

Carreguemos então conosco todos os nossos sonhos, trancados numa caixinha de joias ou soltos numa sacolinha. Façamos dele combustível para a nossa vida, alimentando-os com a esperança do verbo esperançar muito bem citado pelo professor Cortella. Vamos correr atrás deles sabendo que nem todos serão alcançados e entendendo que se eles deixarem de existir nós passaremos apenas à chatice de sobreviver. Vamos dedicar parte do nosso dia aos devaneios, a ser o diretor das cenas que fabricamos nas nossas mentes e a se relacionar com elas, experimentando “naquela outra dimensão” a realização das nossas mais secretas vontades. Os sonhos também servem para voarmos pelo imenso universo da nossa imaginação. Quando sonho eu exercito a minha fé e percebo que talvez nada seja mesmo impossível.

O mais bacana em ter muitos sonhos é exatamente não saber nem quantos e nem quais deles vamos realizar. É perceber que nas incertezas da vida é que está o caminho para que um sonho se torne realidade. Guarde todos os seus sonhos para que nenhum deles se perca da possibilidade de se realizar.

 

 

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