Clube da Luta: fugindo das correntes aprisionadoras do consumo

Clube da Luta: fugindo das correntes aprisionadoras do consumo

Um homem comum, levando uma vida banal, insatisfeito, frustrado, infeliz. Essa é a vida do personagem de Edward Norton, no filme “Clube da Luta” (Figth Club), cujo nome, ao longo do filme, não descobrimos. A ausência de nome do protagonista faz com que ele se aproxime ainda mais de cada um de nós, afinal, será que estamos levando vidas tão diferentes da dele?

O personagem de Norton é um típico homem contemporâneo, levando sua vidinha vazia e burocratizada. Com um emprego de que não gosta, vive de forma robotizada e repetitiva, sem que haja alguma emoção na sua vida banal. Sofrendo da tragédia dos comuns, ele busca, por meio do consumismo, uma válvula de escape para o seu sofrimento existencial. Desse modo, é um consumidor desenfreado, comprando uma série de coisas inúteis para o seu belo apartamento. Entretanto, enquanto preenche cada vez mais o seu apartamento, sente-se mais vazio e triste.

Esse retrato inicial já demonstra a crítica do filme ao hedonismo da sociedade de consumo. O nosso protagonista acredita na ideia de que, consumindo o máximo de coisas possíveis, será feliz. Todavia, ele tão somente acumula tralhas inúteis, que explicitam a sua vida vazia e sem sentido. Se, de um lado, há um belo apartamento para os padrões consumistas; de outro, há um indivíduo totalmente despersonalizado, que mais parece um trapo do que uma pessoa.

Na medida em que comprar coisas inúteis deixa de resolver o seu problema, o personagem-narrador, sofrendo de insônia, uma vez que não consegue ter tranquilidade e vive atormentado, segue o conselho de um médico e começa a fazer parte de grupos de apoio de pessoas com as mais diversas doenças. Nesses lugares, onde a dor e a angústia são presentes, ele parece sentir-se mais humano e, assim, sentindo-se melhor, consegue voltar a dormir.

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No entanto, ao ser intimidado pela figura de Marla Singer, que também passa a fazer parte dos seus grupos, ele não consegue manter a sua farsa, na verdade, percebe que nunca passou de um indivíduo despersonalizado. Sem nome, sem paixão, sem vida. O seu quadro caótico retorna e aqui acontece o ápice do filme.

Surge, então, a figura de Tyler Durden (Brad Pitt), um descomprometido com o protocolo social, totalmente inadequado, subversivo, autônomo e livre, ou seja, tudo aquilo que o personagem-narrador quer ser. Os dois passam a desenvolver uma amizade, a qual promove no protagonista uma mudança enorme na sua vida. Ele passa a se tornar mais parecido com Tyler, bem como vai deixando a sua antiga vida, se assim podemos chamá-la, de lado.

Tyler passa a assumir uma figura de mentor na relação, demonstrando tudo aquilo que o nosso protagonista sabia e acreditava, mas não tinha coragem de pôr em prática. Ao ter sua casa incendiada, ele passa a viver com Tyler em uma casa distante da cidade, sem luz elétrica e todos os seus incontáveis móveis. A sua vida ganha um caráter que jamais possuíra. Ganha personalidade, autenticidade, paixão. Essa libertação se dá por meio de Tyler, das suas ações, dos seus ensinamentos.

A externalização dessa mudança se dá com o Clube da Luta, um lugar onde um homem pode ser homem. Sem amarras, sem grilhões, com dor, com sofrimento. Um lugar onde o indivíduo pode ser ele mesmo, sem ter que seguir qualquer protocolo social. A violência ocorrida no Clube da Luta apenas demonstra, de forma metafórica, a dor necessária ao processo de libertação. Não se trata de demonstrar a violência presente no homem, mas de deixar claro, para quem assiste, que, sem sofrimento, não há como se libertar do sistema.

Mas que sistema é esse, criticado no filme por Tyler? É o sistema que cria homens viciados em trabalho (workaholics), pior, em trabalhos de que não gostam, para que possam fazer parte da orgia do consumo, comprando coisas de que não precisam ou de que não precisariam se estivessem em outros lugares, fazendo coisas que lhes trazem satisfação e felicidade real. Em outras palavras: “Trabalhamos em empregos que não gostamos, para comprar um monte de coisas de que não precisamos.”

Vivendo em nossas bolhas, deixamos de ser quem somos para nos tornarmos autômatos. Não nos relacionamos de verdade, não criamos laços, estamos em constante medo do outro e sozinhos. Para preencher o vazio de não sabermos quem somos ou de não vivermos como gostaríamos, passamos a consumir, achando que, ao consumir, resolveremos nossos problemas ou nos tornaremos felizes. Contudo, relacionamentos não são vendidos no Shopping Center, tampouco podem ser comprados pelo telefone, como fazia o nosso protagonista.

Sendo assim, ao acreditar nos kits de felicidade vendidos pela publicidade, passamos a viver como o narrador. Comprando tudo que está ao nosso alcance, acreditamos em todas as mentiras contadas por aqueles que nos tratam como estatística, pois. se o que vendem fosse verdade, por que existem tantas pessoas infelizes, com depressão, ansiosas, que não conseguem dormir, entre outros inumeráveis problemas da nossa época? Ou melhor – “Por que será que vivemos trabalhando para produzir o que não consumimos e, em troca disso, consumimos o que não nos é útil e temos o que não utilizamos, e, por fim, nunca estamos satisfeitos?”.

Tyler responde: porque somos uma geração que aceita passivamente o que nos é imposto, sem questionamento, sem recusas; pelo contrário, nós nos oferecemos voluntariamente para sermos servos de prisões que, embora bonitas, ainda são prisões. Porque somos covardes e nos acostumamos com migalhas. Porque permitimos ser definidos pelas marcas que usamos. E quando se permite isso – “As coisas que você possui, acabam possuindo você”.

O nosso protagonista permitiu de tal modo isso, que sequer um nome lhe é apresentado. Mesmo estando insatisfeito, despersonalizado, infeliz, ele não conseguia se libertar das correntes. Precisava de alguém que não se importasse com a adequação. Precisava de Tyler Durden, o seu libertador. Precisava do Clube da Luta, o seu rito de passagem para uma vida livre.  Precisava perder tudo, inclusive o seu mentor, para, enfim, após dor e hematomas, poder ser quem era.

Um homem comum? Sim. Mas um homem que teria as rédeas da sua vida em suas mãos, que teria um nome e seguiria suas paixões. Um homem que sabe que a sua personalidade vai além do seu trabalho, de quanto dinheiro tem no banco, do carro que dirige, do conteúdo da sua carteira ou da sua calça caqui. Um homem livre para fazer qualquer coisa. E, aqui, eu retomo a pergunta inicial: será que temos libertado o nosso Tyler Durden, ou preferimos ser definidos por uma calça caqui?

O que faz quem já não acha seu caminhos nos roteiros viáveis?

O que faz quem já não acha seu caminhos nos roteiros viáveis?

Dia desses eu sofria, andava pela cidade e sofria, sentia o peso de um futuro totalmente abstrato, das decisões não tomadas, das contas não pagas, das raízes que precisavam se nutrir de solo. Sentia o medo de flutuar e também o de pertencer.

A chuva caia fina, os olhares nas ruas não se cruzavam, nos pontos de ônibus eram esperas, barulhos e telefones. A poesia já não se apoiava bem num copo de cerveja. O corpo já não descansava nos abraços não dados. Nada ao redor parecia fazer sentido. E o sem sentido me apertava o peito.

O que faz quem já não acha seu caminhos nos roteiros viáveis?

Mas na cidade também existiam árvores, um parque, os olhos de um amigo. E existiam crianças de uma escola pública andando na rua com um jovem professor que as ensinava a tocar as campainhas das casas e sair correndo. Existia um restaurante de esquina, servindo PF a 10 reais e um homem jovem tocando o negócio e cuidando sozinho de duas crianças na cozinha e ao mesmo tempo sorrindo pra gente. E existia um sebo com livros em extinção e o silêncio do vendedor que atrás dos óculos fundo de garrafão, entretido em sua leitura, não nos vigiava, nos deixando degustar a arte bem mais do que o pedantismo da palestra literária em algum centro cultural que ficava discutindo as razões porque poesia não dá dinheiro.
Existiam na cidade uma árvore e um amigo me falando de filosofia e me entendendo no meu sem sentido e sem formula nenhuma para me oferecer um caminho, uma saída, apenas tinha a delicadeza de me lembrar de aceitar a impermanência. De que nada estava certo e nem perdido, e que disso tudo eu já sabia e assim eu já vivia, amando e aceitando o vai e vem da vida. Amando e aceitando tudo que me chega aos olhos e às mãos. Amando e aceitando as pessoas e as minhas decisões (ou não decisões). E que a mudança é a minha escolha, e o não saber é o meu caminho. E que a dor vem justamente de pensarmos que temos controle de tudo. E que ela vai embora quando a gente ama e deixar ser.

Acho que a vida pode ter direção, mas viver não precisa ter um sentido maior do que o próprio ato em si.

Tem dias que a gente anda, e não há sequer um raio de sol no céu. Nesses dias a gente precisa de uma árvore, de um amigo ou de uma poesia para nos ajudar a resgatar com amor e devoção o sem sentido da vida.

 

É proibido estacionar

É proibido estacionar

É proibido estacionar nas curvas do ressentimento, das mágoas, da raiva, do desejo de revanche. É permitido percorrer todo o caminho, tanto por fazer parte do aprendizado como pela experiência que ele traz, mas é proibido estacionar.

É proibido estacionar na contramão dos desejos, esperanças, planos e conquistas. É preciso ir em frente, mesmo com obstáculos e paradas não planejadas.

É proibido estacionar nas ladeiras da ansiedade, do medo, do desespero. É preciso usar a potência máxima para superar a dificuldade e enfim chegar a lugar plano, seguro, confortável, com bela vista e onde se respire ar e pensamentos saudáveis.

É proibido estacionar em fila dupla, especialmente ao lado de pessoas negativas, contrariadas, enfezadas, descontroladas. É permitido fazer algo por elas, tentar encorajar, mudar o sentimento, mostrar outros caminhos, mas nunca estacionar ao lado, parar junto, enguiçar na fila que não anda e não deixa andar.

É proibido estacionar nas vagas reservadas ou especiais, ainda que se sinta especial e privilegiado. É expressamente proibido não prestar atenção nas necessidades e particularidades alheias; não se dar conta dos direitos alheios e não enxergar o outro no seu próprio espelho.

É proibido estacionar na vida alheia, ocupar um espaço que não lhe pertence, tomar para si um direito ou sentimento que já encontrou outras afinidades e felicidades.

É proibido bloquear a passagem, ficar atravessado impedindo progressos, não pedir desculpas ao cometer erros e imprudências, buzinar frustrações nem critério ou educação, bater portas e bocas com violência, atropelar sentimentos.

Sujeito a multas, reboque, culpas e muita solidão.

Cárcere emocional

Cárcere emocional

 

“Temos medo da liberdade. A liberdade assusta o homem, ao contrário da escravidão, o impede de viver plenamente o presente porque esvazia o passado e o faz acreditar que não se pode sonhar, voar e esperar”.

(Papa Francisco)

Durante a minha graduação, um dos estágios foi na área de Psicologia Forense. Eu realizava a parte prática do estágio na Cadeia do São Bernardo em Campinas. Um dia me perguntaram por que eu havia escolhido a cadeia se poderia ter optado pela Delegacia da Mulher, por exemplo, onde então eu estaria ajudando mulheres e não infratores. Fui um dia à DDM com a amiga que havia optado por estagiar lá e saí com a certeza que, para mim, era muito mais fácil enfrentar o “cadeião”.

Assistir àquelas mulheres chegando todos os dias, visivelmente machucadas para denunciar os agressores e, no dia seguinte vê-las voltando para retirar a queixa me fazia mal. Somos um povo machista, diariamente, muitas mulheres são violentadas e mortas, mas quero falar de algo bem mais sutil, porém igualmente doloroso e praticado por indivíduos de ambos os sexos: o cárcere emocional.

É muito fácil ilustrar um cárcere quando se trata de uma mulher que vive um relacionamento afetivo com um parceiro que a violenta física e verbalmente e não entender porque ela se mantém ali, porque cede sempre e porque se nega a aceitar qualquer tipo de ajuda. Uma mulher que se mantém presa numa relação violenta, desprovida de qualquer autoestima, é motivada pelo medo e por acreditar que aquele tipo de comportamento agressivo é afetivo. Ela acredita mesmo que o parceiro a ama, e acredita que não será amada por mais ninguém. Como ela não se gosta, acaba acreditando que não merece nada mais do que aquilo.

A violência física e/ou verbal, além de ser um desvio de conduta, é também uma tentativa de controle, de ameaça, e vem de pessoas que acreditam mesmo ter o direito de agir assim com o outro. A grande questão é que as pessoas que vivem sob o cárcere emocional nem sempre são agredidas fisicamente. Não é preciso bater para machucar, muitas vezes um olhar, um tom de voz ou uma palavra machucam muito mais e exercem um controle nada saudável. Se a relação gera medo, insegurança ou desconforto constante, o sinal é de que há cárcere emocional. É exatamente o “afeto” que muitas vezes é usado como forma de controlar o outro. Seria mais ou menos assim: “eu te amo desde que….” ou “eu te amo” verbalizado associado a ações contrárias ou mesmo um “então não te amo mais”. Muitas pessoas vivem presas em relações que já deram enormes sinais de serem nada afetivas, porém, estão encarceradas com medo do mundo, do novo, da vida. Algumas chegam a dar desculpas como dependência financeira – como se dinheiro e afeto tivessem alguma ligação! Não tem viu, e nem devem ter!

Lembro-me de ter acompanhado profissionalmente poucos casos nos quais se envolvia violência física, porém me lembro de muitos dos meus pacientes presos em cárceres emocionais, cujos algozes eram os pais, os filhos, os amigos ou companheiros. Relações que eram foco da terapia, pois os mantinham presos, tensos e com um medo parecido com o da  mulher que espera amedrontada com que humor o marido violento vai chegar. Talvez vocês se lembrem de alguns casos nos quais mulheres foram mantidas em cárcere desde ainda muito meninas. Elas, ao saírem, não tinham a menor noção do que acontecera. Acreditavam que seus algozes as amavam, porque cuidavam delas, as mantinham protegidas, quando na verdade eram mantidas acorrentadas, em sótãos e estupradas. Talvez para elas aquilo fosse afeto. Talvez as mulheres que vi na DDM acreditem serem amadas e acreditem que o melhor seja estar ao lado do agressor, porque têm medo, porque já eram agredidas desde a infância, porque se acham um lixo.

Acredito que as relações devam evoluir para a liberdade. Analisemos a nós mesmos e vejamos se não estamos encarcerados – ou pior – se não estamos encarcerando alguém com algum tipo de afeto cobrado, ou algum tipo de ameaça, ou mesmo de violência. Antes de se chocar, pense se seu amor é mesmo incondicional ou se você emburra, faz cara feia e diz que não ama mais quando o outro não faz exatamente o que você quer. Relações são ruas de duas mãos que devem fluir em ambos os sentidos, não apenas no seu. Não há afeto no cárcere. A liberdade e o respeito são bases para toda relação real.

Cuide de seus achados e esqueça seus perdidos.

Cuide de seus achados e esqueça seus perdidos.

Viver implica inevitáveis perdas e ganhos, tendo ambos uma importância extrema ao nosso amadurecimento pessoal. No entanto, é muito difícil aprendermos a lidar com os aspectos negativos e que incomodam o nosso caminho, pois eles parecem se fixar em nossas memórias de forma indelével, perseguindo-nos enquanto vivermos. E, enquanto não conseguirmos digerir os obstáculos com lucidez e maturidade, não estaremos preparados para sorver todo o prazer inerente aos aspectos positivos que nos circundam diariamente.

Teimamos em nos prender ao que se foi, ao que já não tem mais razão de ser, ao que poderia ter sido e, enquanto isso, a vida passa lá fora, com todas as novas oportunidades que sempre traz consigo, muitas delas nos estendendo as mãos inutilmente. Sem que nos desapeguemos daquilo que já cheira a mofo, é impossível que abracemos o novinho em folha. Caso fiquemos lamentando aquilo que não deu certo, não teremos forças para fazer algo dar certo. Lágrimas excessivas acabam cegando nossos sentidos, enganando nossa percepção de mundo, retirando todo o colorido da vida de nosso olhar.

Existem tragédias cujas consequências são por demais dolorosas e inevitavelmente nos marcarão tão fundo, que jamais seremos os mesmos após o ocorrido, como, por exemplo, a perda de um filho, um acidente que nos limita fisicamente, um fenômeno natural que destrói tudo o que lutamos para obter. São os divisores de água que demarcam o antes e o depois em nossas vidas, são os alarmes necessários a que acordemos frente à finitude da vida, à pequenez de cada um de nós diante da força do universo, à insensatez do acúmulo de bens em desfavor do sentir e do compartilhar.

Para que possamos passar por tudo o que a vida nos reserva, no melhor e no pior, sem nos perdermos em meio a uma noite eterna, vale nos prepararmos enquanto há luz do dia. Nos momentos de calmaria, é preciso aproveitar os momentos, desfrutando-os junto com amigos e familiares, cultivando nossos relacionamentos com as pessoas que serão nosso arrimo, nosso porto-seguro, sempre que precisarmos. Vale acolhermos com amabilidade a todos que convivem conosco, pois a ajuda muitas vezes vem exatamente de quem menos esperávamos, de alguém em quem nem prestávamos atenção.

Temos que nos permitir sermos eternos aprendizes, a estarmos inacabados, em formação, abertos à reorganização dos pensamentos, à desestruturação de paradigmas, ao enfrentamento de verdades. É necessário criar uma consciência elástica, flexível frente às mudanças que abalarão tudo o que pensávamos saber a respeito das coisas, das pessoas, dos sentimentos. Compreender a própria finitude e a certeza de que nada nesta vida é certo nos ajudará a atravessarmos a nossa lida com mais sobriedade, segurança e capacidade de nos reinventarmos a cada abalo sísmico de nossos sentidos.

Valorizar os ganhos e aprender com as perdas, no sentido de reconstruirmos o nosso caminho, mesmo que às duras penas, eternizará em nossas lembranças tudo aquilo que deverá ser o alicerce de nossos pensamentos e ações enquanto estivermos dispostos a encontrar a felicidade. E sabermos que essa felicidade é um caminho de busca nem sempre prazeroso determinará, enfim, a qualidade de nossa vida junto de quem nos provoca sorrisos sinceros, pois, tendo conhecido a escuridão, os caminhos de luz serão ainda mais mágicos e especiais.

A felicidade instantânea é insípida, inodora e incolor

A felicidade instantânea é insípida, inodora e incolor

A analgesia emocional é o caminho mais rápido e seguro para nos livrar da dor. Mas, ela nos rouba o que temos de mais precioso: o prazer de viver.

Nossas lembranças não montam um quebra-cabeça; não há encaixes perfeitos ou figuras inteiras que se formam por partes recortadas. Nossas lembranças são o caos, a confusão estabelecida pela mente instável que é regida pela emoção. O paradoxo é mais constante em nossas vidas do que a coerência, isso é fato. O que nos traz alegria pode, ao mesmo tempo, nos infringir dor. E, a dor, pode ser a prova mais contundente de que a experiência é real e vale o mergulho. Se o mergulho vai garantir felicidade?! Que importância tem isso? Afinal, nossos momentos mais intensos de felicidade acontecem na superfície, não nas profundezas. Quem persegue a felicidade não precisa mergulhar; pode boiar eternamente.

Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), personagens do filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, representam no roteiro de Charlie Kaufman, a possibilidade de recriar lembranças dentro de sua própria mente, quando o desejo inicial era justamente eliminá-las para evitar a dor. Ao descobrir que Clementine submeteu-se a um tratamento experimental para apagá-lo de suas memórias, Joel fica desesperado porque ainda a ama. Ele tenta reproduzir a escolha de Clementine, mas desiste. Em vez de apagar o amor mal-sucedido, ele o recria. E subverte as memórias reais a situações ideais, nas quais encaixa o amor de e por Clementine. Não é o amor que Joel luta para manter vivo; mas, sim a lembrança de que ele existiu.

Na atualidade, nossas lembranças passeiam pelas mais diversas e adaptáveis áreas do conhecimento, a depender de sua natureza. Estudiosos se debruçam sobre o complexo assunto da aprendizagem e recorrem às mais diversas teorias e estudos científicos para tentar entender qual é a relação entre a nossa capacidade de captar uma informação, transformá-la em conhecimento para, só então, convertê-la em experiência. A verdade é que nenhuma situação, fato ou conceito que não atraia a atenção de nossa mente por sua relevância, sequer chega a fazer parte do nosso acervo de memória imediata; portanto, é descartado; não chegará a ser conhecimento, muito menos experiência. E nós, seres pensantes que somos, dependemos do aprendizado para tudo, desde balbuciar os primeiros sons a nos conectar com o mundo e nos relacionar afetiva, profissional e socialmente. Se refutamos o sofrimento logo de cara, como é que vamos aprender a lidar com ele?

Ocorre, estranhamente, que demonstramos uma bizarra atração por tudo o que nos causa alguma dor. Temos muito mais apego às nossas memórias dolorosas do que aos episódios de feliz normalidade. Por que será?! Outra questão não menos estranha é que o nosso cortejo à dor se limita às fatalidades que nos atingiram no passado; estão lá, acomodadas no tempo como se fossem um filme com recursos de “pausa”, “volta” e “prossegue”.

Assim, quando por alguma razão nos bate uma saudade inexplicável da dor passada, basta clicar o botão e revivê-la. Sim, somos seres muito estranhos. No momento em que temos de lidar com a situação dolorosa iminente, queremos fugir; queremos ter também o botão “passe rápido”; queremos atropelar a experiência que dói. Só para podermos guardá-la numa caixinha segura e voltarmos a cortejá-la lá do futuro quando nos der saudade. A dor presente ninguém quer. Estamos ficando viciados em analgésicos emocionais. Afinal, eles não são ilegais (bem, pelo menos a maioria não é!), cabem em todos os bolsos e independem de vínculos emocionais para serem utilizados. Esses remedinhos milagrosos nos livram da dor, como num passe de mágica. E são ecléticos! Você pode encontrá-los numa caixa de bombons de chocolate; numa garrafa de vinho; numa viagem; num bom livro; numa noite de sexo casual; numa mudança de visual e até mesmo numa instituição religiosa. Os analgésicos emocionais evitam que nos encontremos frente a frente com nossas frustrações, nossos desenganos, perdas e outros monstros até piores e mais feios.

O problema é que esses recursos artificiais fazem efeito por pouco tempo, dada à sua natureza imediata e superficial. Seres sociais que somos, carecemos da conexão com o outro para nos sentirmos confortáveis. Não basta ser bem-sucedido, feliz, bonito, desejado. É preciso garantir que o outro tome conhecimento de tudo isso. É preciso tornar público. Sendo assim, um dos maiores fantasmas do nosso imaginário é ser excluído socialmente. Para aplacar nossa necessidade de pertencer e garantir que sempre haverá uma plateia para testemunhar nossos grandes feitos, nós estamos sempre em busca de um número maior de contatos, seguidores e afins. Pior do que não ter plateia, só mesmo não ter o que exibir. Nesse caso de dor extrema, talvez os analgésicos emocionais já não sejam assim mais tão eficientes.

Entretanto, somos também muito inventivos, encontramos sempre uma nova saída; mais rápida, mais fácil e mais eficiente. Cientistas da Universidade da Flórida realizaram uma pesquisa, orientada pelo Psicólogo Gregory Webster, na qual utilizaram Paracetamol (analgésico de uso comum), para auxiliar pessoas que sofriam de exclusão social e outros contratempos. Os cientistas dividiram os pacientes voluntários em dois grupos: um foi medicado com Paracetamol e o outro recebeu placebo durante três semanas. O analgésico reduziu a dor do sofrimento; sua ação no Sistema Nervoso Central reduz as respostas neurológicas para rejeição e angústia, atuando em áreas do cérebro responsáveis por processar mensagens de dor física.

É claro que os resultados são inconclusivos e que esse medicamento, assim como todos os outros, só pode ser utilizado sob prescrição médica. Webster alerta para a necessidade de tratar as dores da alma com a mesma atenção que se dá para as dores físicas. O pesquisador ressalta que o problema da exclusão social afeta um número significativo de pessoas; portanto, deve ser assunto de interesse de políticas públicas.

Pesquisas científicas à parte, a verdade é que sonhamos cada vez mais com respostas e soluções instantâneas para curar nossas mazelas, inclusive as da alma. E, não deixa de ser assustador pensar num “inocente analgésico para dor física” como a solução para a gritante falta de habilidade em nos relacionarmos com nossos semelhantes e nossos diferentes. Esse desejo obstinado pela felicidade instantânea e pela distância do sofrimento, ainda vai nos levar longe. O problema é que vai nos levar, também, para muito longe de nós mesmos e para uma vida sem sabor, sem aroma e sem cor. Corremos o risco de “dar de cara” com alguém sobre quem não sabemos quase nada, ao nos vermos no espelho; uma personagem de ficção.

Na vida real, ainda nos cabe a difícil tarefa de administrar nossa complexa existência. Vivemos em busca da racionalização, enquanto sabemos que somos uma incompreensível mistura de células, experiências, desejos, expectativas, frustrações, e mais um milhão de fatores que nos transformam o tempo todo. Somos apenas um projeto, nunca estaremos prontos. E é por isso, em respeito à nossa impermanência e incompletude que precisamos compreender que a dor é inevitável no processo de amadurecimento. Sem ela, corremos o risco de nunca sermos capazes de sentir o real prazer que nos é garantido em nossa rápida estadia por aqui: viver!

Cuida dela pra mim

Cuida dela pra mim

A vida comumente é estranha. Às vezes ela nos apresenta o amor da vida em um momento no qual estamos convictos de que ele é algum tipo de lenda, alguma espécie de Saci-Pererê mitológico e nos pega desprevenidos. E era assim que eu estava quando te toquei com os olhos pela primeira vez. Naquela festa, em meio às bebidas, canapés e chatices teu olhar encontrou o meu e eu descobri que o amor é uma verdade. Descobri que o mundo guarda em si tesouros valiosos que bem poucos sabem apreciar.

Eu soube do seu valor assim que te vi. Eu soube quem você era assim que te contemplei. Você não sorria. Guardava em si uma tristeza mansa. Tinha os olhos mais profundos que eu já conheci e neles parecia haver algum tipo de súplica pela verdade.

Eu também não gosto de atuar, não gosto dessa peça na qual nos jogam em um evento social, na qual mãos se dão sem se sentirem, na qual abraços acontecem sem o ardor da verdade. Também não curto beijos no ar. Gosto de beijos nas bocas certas e a sua me pareceu a mais certa de todas.

Ei moça, quem nos tempos de hoje ainda dança? Outras danças sim, mas a nossa foi única e especial e foi assim que eu me senti ao te puxar para aquela pista tão cafona. Você me deslumbrou e eu quis saber tudo sobre você. Me interessei por todas suas alegrias mas, sobretudo, por todas suas tristezas. Quis que me contasse suas milhares de histórias em meio a um rodopio e outro. Quis te ouvir eternamente e não me surpreendi ao notar, depois de algum tempo, que já não havia mais música, que já não havia mais festa, que já não havia mais nada além de nós dois.

O mundo congelou. O mundo parou e a ânsia das horas morreu em nossos braços. Tínhamos o tempo preciso para nos amarmos em palavras, toques, versos e beijos.

Mãos nas mãos, olhos nos olhos, sorriso com sorriso. Mão nas coxas, corpos em desejo e a vontade de ficar para sempre. Um gozo, um gemido e o tempo voltou a sua monotonia. A banda retornou e cantou um último “We are the world”. Você partiu.

Nos perdemos no mundo como se o tempo fosse uma correnteza a nos arrastar para longe um do outro. Você se foi. O amor não. Teus olhos. O prazer da tua companhia. O delírio de me descobrir em você. Isso não morre.

Nunca mais te vi, nunca mais ouvi tua voz. Nenhum dos amigos a quem perguntei soube dizer de você. A vida continuou depois disso, a vida assoprou as folhas das árvores que se vestiram e despiram incontáveis vezes e você virou em mim um sonho bom.

Te lembrei todas as noites depois daquele dia. Te quis tocar em incontáveis momentos. Te pensei com ternura nas datas em que o mundo para e olha com alegria os seus.

Outras vieram, uma ficou. Amei-a de uma forma diferente. Assumi quilos de responsabilidades, mas o mundo não te apagou em mim.

Hoje te guardo carinhoso e te penso com o meu melhor. Desejo, moça bonita, que tenha encontrado no mundo alguém que seja para ti o abrigo certo para os dias de tormenta, o porto seguro em momentos de incertezas, a segurança nas horas de aflição. Que esse outro amor seja teus olhos quando não puder ver, teu consolo quando precisar de um ombro. Que ele saiba te amar na sua medida mais certa. Que ele esteja sempre ao seu lado, te nutrindo e te cuidando. Que ele te dite aos ouvidos as mais lindas palavras. Que ele saiba com um olhar, assim como eu soube, a maravilha que você é e te ame exatamente por isso.

Para você todos os dias eu entrego meus melhores pensamentos e para ele, moça bonita, para esse outro que tem a sorte da sua companhia eu peço baixinho: Cuida dela pra mim.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Texto de ficção – Imagem de capa meramente ilustrativa

 

 

A encantada geração das rosas roubadas

A encantada geração das rosas roubadas

Parece que faz tanto tempo, mas foi logo ali, naqueles últimos anos antes de virar o século, naquelas casas que quase não tinham computadores, às vezes um único, bojudo, que fazia aquele barulhinho inesquecível de processamento quando a gente ficava por uns quinze minutos tentando acessar a internet para poder conversar no ICQ ou nas salas de bate papo da uol. E cada conexão bem sucedida, e cada barulhinho de nova mensagem recebida, ah que emoção!

Não faz tanto tempo assim que a gente ia ao cinema, escolhia qualquer filme, às vezes assistia três ou quatro vezes o mesmo porque não havia muitas opções e um filme ficava em cartaz por cerca de dois meses. E não importava muito essa repetição desenfreada porque o filme não era mesmo o principal motivo da gente ir ao cinema, o cinema era apenas o lugar mais seguro e camuflado para duas horas seguidas (e quase sem intervalo) de beijos intermináveis.

Não faz tantos anos assim e eu ainda sinto tão fresca a memória daquelas noites, daqueles bailes, do salão de festa, das madrugadas que a gente, antes de ir pra casa, ficava rodando a cidade, procurando a casinha ideal, o lar de alguma senhorinha que tinha um jardim bem cuidado e portões de grades largas (de preferência sem cachorro), o lugar perfeito pra gente encontrar a rosa mais linda, a perfeita rosa roubada.

E então a gente consultava as amigas, pedia ajuda para escrever aquela frase manjada, aquela coisa brega que vinha no papel de carta ou na agenda, e com mãos quase tremulas a gente escrevia o bilhete secreto para aquele cara que, no meu caso, geralmente era um amor platônico.

E munidas de bilhetinho assinado apenas com as inicias (quem era mais sofisticada ainda borrifava uns pingos de perfume – geralmente era Thaty do Boticário) e a brilhante rosa roubada, a gente ia com as pontas dos pés (ou com o motor do carro desligado) até a casa do amado para consumar o ato: jogar a rosa no quintal.

Ah, e que delícia era quando nosso quintal amanhecia com uma dessas rosas! Como era bom quando o admirador realmente era secreto e a gente passava semanas investigando as possibilidades daquelas iniciais. E como era mais mágico ainda quando o admirador era justamente aquele cara, o amor platônico, aquela pessoa que nunca tinha trocado mais do que meia dúzia de palavras com a gente e horas de olhares noite adentro.

Como era bom quando esses acontecimentos singelos eram motivo para meses de um coração serelepe e descompassado, sorrisos bobos, borboletas no estômago, notas baixas nas provas de matemática, passarinhos verdes na janela, enredos para sonhos das longas manhãs de sábado, leituras profundas dos conselhos rasos da revista Capricho e do signo do amado. Até coelho na lua era motivo de longas conversa por telefone com a amiga.

Como era bom quando havia menos falas e mais troca de olhares, quando o brilho dos sentimentos se estendia por meses, quando se precisava de tão pouco para construir vastos significados.

Não faz tanto tempo assim que o nosso coração era mais amplo e sereno, que as nossas vontades eram mais simples e intensas, que as pequenas coisas tinham um peso tão grande a ponto de nos fazer flutuar.

20 detalhes incríveis que ninguém conta sobre morar junto

20 detalhes incríveis que ninguém conta sobre morar junto

Mudar-se com a pessoa que a gente ama dá sempre um frio na barriga. Todo mundo manda um monte de conselhos, falam que é o melhor dos mundos ou falam que foi a pior coisa que já fizeram. A verdade é que não existe um padrão e não tem como saber se vocês vão se unir mais ou se vão odiar cada mania rotineira do outro. Mas morar com alguém é sempre abrir mão de alguma coisa, nem que seja da sua preguiça. Seja com um amigo, um namorado ou um desconhecido, é preciso respeitar o espaço do outro, saber quais são o seus próprios limites e tentar deixar o ambiente agradável para todo mundo. Infelizmente, isso nem sempre dá certo. As pessoas são diferentes e muito complicadas dentro dos seus universos mentais, onde uma coisa pode sempre parecer outra coisa. Alguém tem que ceder e, nesse caso, os dois.

Depois de dois anos morando com meu namorado, percebi vários detalhes incríveis, ao longo do tempo, que ninguém nunca tinha me contado. Já ouvi muito que os primeiros meses são maravilhosos, mas, depois, tudo desmorona por causa da rotina. A verdade é que tudo é muito subjetivo, tudo é uma construção de vocês, e o mais legal de morar junto é  poder criar o jeito como vocês querem viver. Se estiver chato, mude a rotina! Não existe uma regra para seguir, porque cada casal vai criar as suas. A nossa estratégia é sempre surpreender o outro nas pequenas coisas do dia, aí a rotina, em vez de se transformar num bicho de sete cabeças, vira um lugar de repouso.

Eu tenho acreditado também que cada um tem que ter seu objetivo pessoal. Tipo desenvolver uma habilidade nova, ganhar uma promoção no trabalho, abrir uma empresa, escrever um livro, apresentar uma peça, plantar uma árvore. Enquanto os dois estiverem se ajudando para alcançar o objetivo um do outro, fica TÃO mais fácil e divertido. E, se não tiver objetivo, dá para inventar alguma coisa nova para aprender. Não tem como ter uma vida legal a dois, se não existir troca de conhecimento diário. A sua empolgação puxa a do outro.

Fiz uma lista de coisas legais que acontecem quando você mora junto. Claro que é uma visão muito pessoal, mas eu gostaria que tivessem me falado mais coisas empolgantes antes de me mudar, então agora estou fazendo isso.

  1. Vocês podem fazer atividades diferentes no mesmo cômodo, sem precisar conversar, só se olhando de vez em quando, para se certificar da companhia física e momentânea. E aí vão sentir que estão caminhando juntos para algum lugar. No final da experiência, vocês podem contar um ao outro para onde a mente de cada um foi. Um pode ficar no computador, enquanto o outro pinta a unha, ou um pode tocar violão enquanto o outro lê…
  2. Você pode querer ficar sozinho e, às vezes, não poder por falta de espaço. Mas dá sempre para deixar isso claro e sair para ouvir uma música ou ver um filme no seu canto. Eu tenho muita necessidade de ficar sozinha, pensando com o pé na parede, ouvindo música. Sempre precisei do meu tempo para conversar comigo. Acho importante, para ponderar algumas ações e tentar entender alguns sentimentos que eu desconheço. É legal saber se dar esse tempo e não roubar o tempo do outro. Isso não quer dizer que você queira ficar com a pessoa. Só quer dizer que você precisar ficar com você. No começo, foi meio difícil, porque a gente queria ficar sempre no mesmo cômodo, mas, depois, fui sentindo muita necessidade de ficar sozinha de novo, no meu mundinho.
  3. Vocês podem cozinhar juntos, experimentar receitas novas. A gente já colocou Nescau no molho de tomate, porque não tinha açúcar.
  4. Vocês podem ficar conversando até tarde da noite, como naquela época em que você ia à casa do seu melhor amigo no dia de semana e conseguiam tirar assunto de onde nem tinha mais assunto.
  5. Vocês começam a ter várias piadas internas e referências engraçadas que ninguém vai entender
  6. Vocês podem brigar, mas não dá para não resolver o problema no mesmo dia. Pode sair, dar uma espairecida e voltar para resolver antes de dormir. O acordo de não dormir brigado foi o que salvou o casamento dos meus avós. Esse foi o conselho deles para mim, antes de eu me mudar e, cá entre nós, foi o único que realmente valeu a pena. Sua casa é um espaço para você ficar em paz e é insuportável ficar desconfortável na sua própria cama com alguém que você ama.
  7. Vocês vão sair separados, cada um para um canto, e amarão a ideia de que vão se encontrar de qualquer forma no final da noite, em casa, meio bêbados, comendo pão com requeijão na cozinha. Vocês vão sair juntos e vão fazer a mesma coisa (tenha sempre comidas para a madrugada).
  8. Esquece. Usar o mesmo par de meias é superficial. De repente, vocês vão estar usando a meia um do outro e vão se acusar sempre que tirarem os sapatos: “Ei, essa meia é minha”. As blusas básicas não têm mais dono.
  9. Vão disputar todas as noites quem vai apagar a luz ou pegar água na cozinha. Vão disputar a melhor posição no sofá.
  10. A casa fica sempre cheia de amigos dos dois.
  11. Você vai ficar puto quando o último pedaço de bolo que você guardou misteriosamente desaparecer, mas vai se surpreender quando descobrir que o outro guardou o último iogurte para você.
  12. Sair da cama vai ser mais difícil do que nos dias frios.
  13. Nada vai acelerar mais o seu coração do que o barulho da chave fechando a porta, quando a outra pessoa estiver chegando.
  14. Vocês vão gastar muito dinheiro com supermercado e jurarão que vão parar de pedir delivery e comer fora, porque está muito caro, mas vão continuar pedindo.
  15. Você não vai entender como consegue sentir tanta saudade da pessoa durante o dia no trabalho.
  16. Vocês vão viajar e voltar para a mesma casa e vai parecer que a viagem se prolongou um pouquinho
  17. Vocês vão criar muita intimidade (isso é quase inevitável) e, para não deixar o sexo ficar sem graça por causa disso, o legal é usar essa intimidade para fazer coisas completamente novas e malucas. Fantasias, brinquedinhos e assistir a filmes pornôs juntos são pouco para o que vocês podem fazer. Sejam criativos.
  18. Programas caseiros de repente começam a ser muito divertidos
  19. A paixão só acaba se vocês deixarem
  20. Você deve continuar investindo nos seus projetos pessoais. Morar junto não quer dizer deixar sua vida particular de lado ou deixar de sair com seus amigos. Enquanto você tiver interesse em você e na sua própria vida, o outro sempre vai ter também.

Cuidado com o que pensa e com o que diz; as palavras podem te engordar.

Cuidado com o que pensa e com o que diz; as palavras podem te engordar.

Tudo é comportamento. Pensar é se comportar. Falar é se comportar.

Seu comportamento pode te ajudar a emagrecer.

Antes de começar de fato a lhes mostrar como podemos nos boicotar, vou lhes contar três pequenas histórias que vão mostrar como o nosso pensamento e as nossas crenças são responsáveis pelo nosso “aprisionamento” aos padrões inadequados de comportamento alimentar.

De manhã, eu estava comendo uma fatia de melão e meu filho de quatro anos estava comigo. Segue nosso diálogo:

-Quer um pedaço de melão, filho?

-Eu gosto de melão mamãe?

-Gosta!

-Eu já experimentei?

-Sim, e você gostou.

Meu filho come melão e outras frutas diariamente, desde os seis meses de vida, mesmo assim ele fez essa pergunta, mostrando que ainda não criou uma escala de valores para o que gosta e o que não gosta de comer. Percebam como a mente de um indivíduo aos quatro anos de idade está completamente aberta para adquirir os conceitos que levará para a vida adulta.

Em outro momento, eu conversava com minha mãe e lhe dizia que ela precisava comer mais verduras de tom verde escuro, quando ela me respondeu:

-Eu não gosto filha. Eu não fui acostumada a comer isso.

Aqui percebemos que na terceira idade somos presos às crenças de todos os tipos e bastante resistentes a abandona-las.

O terceiro momento aconteceu no consultório quando eu ainda fazia avaliação psicológica de pacientes que queriam se submeter à cirurgia bariátrica. Uma paciente me contou que não conseguia comer verduras porque parecia que elas cresciam dentro da boca dela e lhe causavam náuseas. Ele mandava o tempo todo, aquele tipo de ordem ao seu cérebro que acabava por obedecer e provocar o desconforto ao mastigar a verdura. Perguntei então se as náuseas aconteciam quando ele comia Big Mac e então ele riu e disse que não. Minha dúvida foi: “Mas como não? No Big Mac tem alface!” É com a realidade que enfrentamos e quebramos as mentiras que nossos pacientes inventam para si mesmos.

Estes três casos nos mostram como a nossa alimentação sofre severas influencias do ambiente, da cultura, dos valores que nos são ensinados. Os seus hábitos alimentares, assim como todos os outros, são consequência das suas crenças e não causa delas. Eu poderia ter arruinado a relação do meu filho com o melão e com as demais frutas se tivesse dado uma resposta negativa assim como fizeram com a relação da minha mãe com a couve, os brócolis e o espinafre.

Você talvez acredite não gostar de certos alimentos simplesmente porque não os come com frequência e por isso não sente a falta deles. É assim com a ingestão de água também. Indivíduos que ingerem a quantidade correta de água sentem mais sede, o padrão de comportamento está estabelecido e não é preciso mais que se faça a força inicial de mudar o paradigma. É provável que você também acredite gostar e “não viver sem” certas guloseimas sem observar que pode viver muito bem sem elas. É preciso questionar sempre as nossas crenças, ou vocês acreditam que mastigar alface dá náuseas? O segredo está na observação.

Estudos mostram que a modificação e/ou a aquisição de um hábito, de um padrão de comportamento implica em se dedicar a ele por trinta dias, cinco vezes por dia. Se eu quero adquirir o hábito de passar batom diariamente, devo fazer isso cinco vezes por dia durante trinta dias e assim meus lábios se acostumarão com a hidratação e eu passarei a, automaticamente, fazê-lo, sem precisar me esforçar para isso.

As escolhas saudáveis, o abandono de velhos hábitos prejudiciais à saúde e que levam ao aumento do peso devem ser seguidas à risca e com dedicação no início, até que os nossos paradigmas se modifiquem e se torne então natural o tão desejado comportamento de se alimentar bem sem sofrer.

O foco deve ser a dedicação e não o sofrimento. A privação nunca produz bons resultados e é a responsável por quase todo o fracasso das chamadas dietas. Você é o que acredita ser e gosta do que acredita gostar.

De pássaro para pássaro

De pássaro para pássaro

No meu pensamento você pode voar, asas zunindo como os ruídos de sua mente, levam-no longe pouso breve decidido. Encantado pela amplitude do céu eterno, incansável no tempo, infinito no espaço, pássaro amplo de voo azul. Sem os limites das grades você pode ir a todos os lugares, mas vai apenas aonde quer. É meio como se parece, mas não é.

Com o mundo à disposição sem medo faz escolhas certas, e se erra nem por isso abranda o voo, voa mais para tornar-se mais certeiro. Pede desculpas com flores do campo em ramos emaranhados de modéstia. Não precisa do orgulho que engoma suas camisas, é nu de maldade e vestido de penas para o vento.

Voa antes só do que meio acompanhado, liberto do passado e dos prejuízos que este projeta no futuro. Bebe da lucidez desembaraçada do amor para manter-se prumo em movimento, assim não canta injúrias nem lamentos, sopra sonoridades curvas que ecoam na caixa acústica do universo. Se no ritmo parceiro surpreende o encontro, não hesita, e livre do medo confia que mesmo diferente o canto, diferentes as penas, diferentes as formas, é o ritmo que dita a harmonia do permanecer.

Nos meus sonhos você pode ser. E poder ser é como poder voar. Você fala com honestidade desinibida de agressividade ou defesas supérfluas. Tem leveza nos toques e economia nas análises limitadas do que não pode ver. É tão fluído e envolvente que invoca sinceridade irrepreensível, sabido de que sem máscaras conquistou o poder de dissolver todas as outras.

Trocou os papéis sociais pelos papéis de carta e escreve apaixonadamente como quem desconhece o ridículo, ri da própria timidez e despede-se dela com beijos de cócegas. Descobriu que a gargalhada inocente e o sorriso isento de sarcasmo são antídotos para a vergonha. Que a vida é curta demais para ter vergonha de existir.

Aprecia o ouro apenas de longe, sabe que o peso da fortuna o faria cair e a vida é cheia de abismos. Prefere adornar-se de tempo e de espaço, faz suas próprias regras e não acredita quando dizem que sem tais bens você não é ninguém. Sou pássaro. Sabe em silêncio. Toca instrumentos de sopro com o bico. Sou mágico. Canta. Sou rico. Ri.

Na minha vida há um espaço imenso. Você na gaiola estático simula bateres de asas, cansado grita rouco: “sou livre”. Cada vez que te vejo do alto da montanha, sinto-me eu mesma cercada de ilusão. Tiro de luto uns dias – perco o gosto de voar. Às vezes, quando te vejo penso que a minha gaiola é o mundo.

Para ser feliz é preciso escolher o que nos faz bem

Para ser feliz é preciso escolher o que nos faz bem

Quanto vale um domingo? Quanto vale uma semana, um mês ou um ano de nossa vida?

Eu diria que o tempo vale ouro, mas como nascemos com ele em abundância parece corriqueiro vendê-lo barato.  Parece normal gastá-lo para fazermos coisas que não nos completam, coisas alheias à nossa vontade.

Quanto tempo falta para terminar a aula chata da matéria não apreciada? Quanto tempo falta para chegar o fim de semana, as férias… o próximo ano? É comum que passemos parte de nossa vida a contar quanto falta para acabar alguma coisa e não nos deleitando com o deslumbre do instante que vale por ele mesmo, com o deslumbre do instante no qual encontramos nossa aptidão, aquilo que parece perfeito para nós, aquilo que faríamos pelo resto da vida sem nos cansarmos.

E sabem, não é difícil distinguirmos esse instante mágico dos demais. Nele a vontade é sempre maior que o medo e a ânsia pelo passar do tempo desaparece. Nele nos refastelamos com a vontade de permanecer. Tocamos carinhosos a felicidade e a puxamos, decididos, para nós.

Quando nos acostumamos a fazer as coisas de forma automática, preenchendo requisitos, desanimados, estamos vivendo como aquele aluno que se esforça para passar na média. Que deseja apenas passar de ano. Um aluno que terá sempre o mesmo anseio até que todos os anos passem e a vida diga que já não existem mais anos para serem passados e vividos.

E é muito fácil se graduar na escola da tristeza. É só seguir planos traçados por outros, tendo o peso das escolhas retirado das costas. Mas escolher é uma característica inerentemente humana que nos define, que diz de nossos valores. São nossas escolhas que contam quem somos aos que conhecemos na vida. Se não escolhêssemos seríamos gatos, pássaros ou peixes e faríamos o que nossa espécie e instinto nos dita, sem pestanejar.

A natureza humana que nos habita permite que cada um de nós tenha características únicas e apaixonantes. Às vezes nasce um artista em uma família de advogados, às vezes nasce um músico em uma família de médicos, às vezes nasce uma dançarina em uma família de engenheiros. Isso é simplesmente maravilhoso. A diversidade é enriquecedora. Contudo quando o artista resolve que ser advogado é o mais apropriado, o músico resolve colocar a viola na sacola e se dedicar à medicina forçadamente e a dançarina abandona os rodopios pelas pranchetas e cálculos matemáticos, contra sua vontade, é desastroso.

Nos deixarmos nivelar pelo que o mundo acha mais rentável, mais pé no chão, mais apropriado, é sufocar em nós a natureza humana que nos habita, é deixar para trás a tão almejada felicidade.

Que nós levemos o tempo que for preciso para descobrirmos onde mora a nossa felicidade, mas que ao encontrá-la, possamos ter força suficiente para não a abandonarmos por nada. É na descoberta daquilo que nos faz bem que mora o deslumbre de uma vida vivida e não sobrevivida.

Nossa vida, por vezes, pode até parecer um ensaio, mas ela é pra valer. Ela não volta. Escolhas nem sempre são fáceis, contudo são extremamente necessárias. Escolher o que nos traz felicidade depende apenas de nós.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

 

Amor aos animais; que loucura é essa?

Amor aos animais; que loucura é essa?

Eu já participei ativamente na luta pela proteção animal, e na época eu ouvi algumas perguntas e afirmações como estas: “Tanta criança na rua e você alimentando cachorro!” “Por que as pessoas que cuidam de animais de rua são todas meio loucas?” “Eu acho falta do que fazer, você precisa arrumar um filho”! “Cuidar de bichos é coisa de gente carente”. Estas são as frases menos agressivas e acredito que somente quem vive ligado a uma ONG como eu já fui, ou quem é protetor independente saiba do que eu estou falando.

Já me questionei muitas vezes porque os ativistas sofrem tantas críticas. O que observei é que elas costumam vir sempre de pessoas incomodadas, mas de pouca preocupação com o que não seja si próprio, nunca são militantes de causa alguma e, apesar de criticarem a nossa atividade, nunca eram pessoas que ajudavam nem crianças, nem idosos, nem ninguém. Pareciam apenas incomodadas.

Nos dias de hoje, as ONGs de proteção animal têm uma representatividade cada vez maior na sociedade. As novas gerações já se conscientizaram que podem viver sem ingerir carne, e algumas não utilizam de nada que seja de origem animal. Eu acredito que seja o ser humano evoluindo, se compararmos os hábitos da nossa espécie na idade média, por exemplo.

Mas de onde vem esse amor? Sim, amor, e talvez por isso seja loucura. Amor e loucura caminham juntos (leiam o mito de Eros e Psiquê). Acredito que eu não tenha que me estender descrevendo a imensidão do meu amor pelos animais – quem já se permitiu amar e ser amado por um deles sabe do que eu falo, quem não se permitiu, ainda é tempo. A verdade é que esse amor pode nos trazer cura, paz, felicidade e não há nada mais gratuito do que a relação afetiva com um animal.

Além de já terem nos provado serem ótimos companheiros, os animais auxiliam na cura dentro dos hospitais, na reabilitação nos centros de equoterapia, e nos mostram que pode se amar livremente, sem cobrar quase nada em troca, a não ser o próprio amor. Mesmo seres humanos que ainda não aprenderam a amar, acabam se rendendo quando a relação é com um animal de estimação – que como o próprio nome diz, feito para se estimar. É como se disséssemos ao nosso cérebro: “dele eu posso gostar”. Não há dor na relação com o animal, a não ser a dor da perda, por isso muitos humanos a preferem, principalmente o que sofreram alguma decepção com a raça humana.

Para nós, psicólogos, a relação e o afeto aos animais só traz benefícios. De uma forma geral, as crianças que crescem com animais de estimação desenvolvem com mais competências as relações e a comunicação, tendo isso efeitos diretos na sua autoestima. Os animais tornam-se companheiros fiéis e confidentes, parceiros de jogo e brincadeiras e gostam quase “sem limites” dos seus donos. Com os seus animais de estimação, as crianças partilham alegrias e tristezas, medos, raivas e desgostos, bem como os seus próprios pensamentos. Além disso, só a própria textura dos animais (o pelo fofo que lhe faz lembrar aquele urso de pelúcia que tanto gostava) é muito calorosa.

Penso que tanto as pessoas como os animais podem ganhar muito a partir de uma convivência harmoniosa. Os estudos mais recentes têm demonstrado que existem vários benefícios dos animais de companhia no bem-estar geral, no desenvolvimento psicológico, social e na qualidade de vida das pessoas. Tudo indica que interação com animais de companhia provoca nas pessoas resultados fisiológicos, psicológicos e sociais. Por exemplo, as pessoas com animais de companhia apresentam menor número de visitas a médicos e gastos mais baixos com medicação. Apresentam, também, níveis de solidão, depressão e ansiedade mais baixos. Verifica-se, ainda, que os animais de companhia funcionam como facilitadores sociais e de integração para crianças, idosos e pessoas portadoras de deficiência. Estes são apenas alguns resultados encontrados nas centenas de estudos que já foram realizados por psicólogos, psiquiatras e médicos.

“Chegará um dia no qual os homens conhecerão o íntimo dos animais; e nesse dia, um crime contra um animal será considerado crime contra a humanidade.”

(Leonardo da Vinci)

“Não levante a sua voz, melhore os seus argumentos”.

“Não levante a sua voz, melhore os seus argumentos”.
New York artist Tatayana Fazlalizadeh, 27, says she couldn't take the daily cat calls from men on the street.

Nas reuniões de trabalho, nas mesas de bar, nos encontros de família, na fila do banco, onde estivermos, encontraremos alguém que confunde decibéis com verdade, como se seus pontos de vista se tornassem mais contundentes quanto mais alto e agressivo for seu tom de voz. São os donos da verdade, alheios ao que não lhes convém, ao que possa desautorizar aquilo em que eles tanto acreditam. De tanto viverem aos berros, acabam se tornando surdos frente a opiniões divergentes às suas.

Algumas pessoas possuem a personalidade mais forte do que as outras, são mais incisivas e se expõem com mais segurança. Entre estes, há aqueles que não se furtam a fazer discursos inflamados e resistentes a interrupções ou discordâncias. Isso não significa, de forma alguma, que estarão cobertos de razão, sempre que se pronunciarem. Como quase ninguém está disposto a entrar em contendas com quem é muito cheio de si, pois poucos se sujeitam a perder energia com o que não vale a pena, os donos da verdade absoluta – e muito provavelmente somente eles – realmente acabam crendo piamente na veracidade de seus argumentos, por mais frágeis que possam ser.

No outro lado da roda, existem aqueles que têm muito a dizer, mas não o dizem, pois a insegurança tem mais poder do que suas certezas. São os alunos que não respondem o que pensaram e assistem arrependidos ao sucesso do outro aluno dizendo em voz alta exatamente o que tinham pensado. São os amigos que vêm os colegas saindo com a garota com a qual eles próprios não tiveram coragem de conversar. Antecipar-se ao suposto erro, por insegurança e timidez excessiva, não traz ganho algum, pois não se aprende nada com isso, nada se ganha a não ser mais bagagem para se juntar aos arrependimentos já acumulados dentro de nós. Como se vê, falar baixo demais, ou emudecer o tempo todo, é da mesma forma nocivo ao aprimoramento pessoal.

Nossos caminhos cruzam-se com os de outras pessoas o tempo todo e, em vários momentos, haverá choque de idéias e conflitos a serem resolvidos; assim é a vida. Passividade e subserviência em demasia acabarão nos tornando passíveis de engolir imposições alheias, acumulando dissabores, angústias e frustrações aqui dentro da gente. E isso tudo terá que sair, pois nossos sentidos não digerem tanta contrariedade e sente necessidade de se livrar do incômodo, da forma que encontrar, sem medir as consequências físicas e psicológicas decorrentes. Daí as somatizações, as úlceras, gastrites, enxaquecas, entre outros sintomas que não são mais do que gritos de uma alma sufocada pelo peso do que não se disse, pelo arrependimento do que não se fez, pela recorrência da lamentação do “ah, se eu tivesse…”.

Colocar-se de maneira clara, coerente e elegante é fundamental para que cresçamos como pessoas e ocupemos os lugares a que temos direito em casa, na escola, no trabalho, na vida. Não estaremos sempre com a razão, mas pelo menos seremos ouvidos e levados em consideração, bem como será mais fácil nos aproximarmos das pessoas que farão toda a diferença em nossas vidas. Vale a pena tentar. Por sua vez, os supostos donos da verdade, que impõem suas opiniões por meio da coerção e da violência na voz e no comportamento, afastam cada vez mais de si as oportunidades de perceberem os próprios erros e assim aprender e evoluir seus pensamentos e ações em direção ao verdadeiro encontro consigo mesmo e com o próximo. Continuarão perdidos entre os próprios gritos, desacreditados pela maioria e relegados à solidão a que continuamente se condenam enquanto bradam aos ventos.

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