Por que é fácil se apaixonar por uma amizade?

Por que é fácil se apaixonar por uma amizade?

Muitos de nós, em algum momento de nossas vidas, já nos apaixonamos por um amigo muito próximo. Trata-se de uma daquelas situações em que não conseguimos pensar com clareza, em que ficamos confusos sobre a natureza daquele sentimento, o que nos deixa intranquilos e sem saber o que fazer. Afinal, avançar o passo e declarar-se, em muitos casos, pode significar o distanciamento e a perda da amizade que nos é tão especial.

Talvez isso seja comum pelo fato de que com um amigo íntimo nós temos a liberdade de sermos naturais e verdadeiros, sem máscaras. É muito tranquilo abrirmos os nossos corações a um amigo, tornando-o alguém que nos conhece em tudo de bom e ruim que carregamos aqui dentro. Ao lado dele, festejamos nossas vitórias e amargamos nossas derrotas, descrevemos nossos sonhos mais absurdos e revelamos nossos medos mais bobos.

E não é exatamente essa liberdade e essa cumplicidade que se espera de um amor com quem compartilhar vidas? Quase tudo aquilo que uma amizade verdadeira nos oferece, como se vê, corresponde ao que desejamos obter junto aos nossos relacionamentos amorosos; daí ser frequente surgirem novos amores a partir de fortes laços fraternais. Lançar-se ao encontro da construção amorosa junto a um amigo, por isso mesmo, a muitos se torna inevitável.

No entanto, caso não haja reciprocidade de sentimentos entre ambos, tentarmos avançar no relacionamento poderá nos trazer tanto a decepção da rejeição, quanto a perda de uma amizade essencial em nossas vidas. Muito provavelmente, nesse caso, a relação entre os amigos não voltará a ser a mesma, uma vez que é preciso muita maturidade emocional para reatar o que já se tinha, após uma significativa mudança de direção emotiva na jornada. Poucos terão o equilíbrio necessário à retomada de tudo o que havia antes.

Nem sempre teremos a certeza de que o outro sente por nós a mesma coisa que por ele sentimos, ou seja, arriscarmo-nos será muitas vezes necessário, caso queiramos tentar partilhar mais do que amizade com aquela pessoa querida. No entanto, precisaremos ter a consciência de que estaremos sujeitos a obter de volta o vazio dolorido junto às lembranças do então ex-amigo. Da mesma forma, caso não nos arrisquemos, poderemos ter de carregar o peso da dúvida pelo resto de nossos dias. Trata-se, pois, de uma decisão pessoal e que necessita de cuidados e de ponderações.

Ninguém há de negar, contudo, que nos casarmos com alguém com quem cultivamos uma grande amizade vem a ser uma das mais prazerosas conquistas que poderemos obter, pois a união de corações que já são cúmplices há tempos só tende a tornar esse sentimento mais forte e duradouro. É um risco que talvez valha a pena correr. Porque o amor requer muito mais do que atração física, precisa de muito menos do que conforto material e, sem dúvida alguma, alimenta-se diariamente de reciprocidade afetiva, o que existe de sobra nas amizades verdadeiras.

 

5 filmes brasileiros subestimados

5 filmes brasileiros subestimados

A comédia domina as bilheterias nacionais já há algum tempo. Não faltam exemplos de sucesso, geralmente baseados em peças de teatro ou de programas de humor das TVs fechadas. Este bem sucedido nicho foi encontrado e é explorado a exaustão pela Globo Filmes, com distribuição similar aos blockbusters norte americanos.

Por causa disto, muitos filmes brasileiros acabam passando despercebidos do grande público, mesmo sendo verdadeiras obras primas de direção, roteiro ou performance dos atores. Conheça alguns deles e saia da mesmice, como quem troca a megasena pela lotofácil e é premiado logo na primeira vez!

Nina

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Um filme urbano, baseado na realidade clubber paulistana. Excelentes interpretações – com a presença de Wagner Moura e Lazaro Ramos, ainda em início de carreira, além de vários outras pontas de atores conhecidos – e boa trilha. Bem diferente do que se costuma ver no cinema nacional.

Estômago

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João Miguel, mais uma vez, dando um banho de interpretação, como o cozinheiro que aposta em ingredientes pra lá de inusitados. Um filme digno de prêmios, mas pouco falado.

Casa de Areia

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Com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro se revezando no mesmo papel, na medida em que o tempo avança ou retrocede. Belíssima fotografia e baseado numa história real.

Depois da Chuva

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Filme baiano, que mostra uma Salvador sem os estereótipos de sempre. Urbana e classe média, ambientada na época do final da ditadura militar.

A festa da menina morta

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S11 ARQUIVO 29-09-2008 CADERNO2 OE – cena do filme A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele. FOTO DIVULGAÇÃO

Primeiro longa dirigido pelo ator Mateus Nachtergaele, conta tudo o que está por trás de uma história de fé numa pequena cidade amazônica. Intenso, forte e até chocante, uma história quase Rodriguiana, com interpretações surpreendentes.

Alguns estão no Netflix, outros esporadicamente são exibidos pelos Canais fechados, mas nenhum é difícil de encontrar na internet. Quem gosta de cinema bem feito não terá nenhuma queixa a fazer. Aproveite e veja todos!

“Me chamem de velha”, por Eliane Brum

“Me chamem de velha”, por Eliane Brum

Na semana passada, sugeri a uma pessoa próxima que trocasse a palavra “idosas” por “velhas” em um texto. E fui informada de que era impossível, porque as pessoas sobre as quais ela escrevia se recusavam a ser chamadas de “velhas”: só aceitavam ser “idosas”. Pensei: “roubaram a velhice”. As palavras escolhidas – e mais ainda as que escapam – dizem muito, como Freud já nos alertou há mais de um século. Se testemunhamos uma epidemia de cirurgias plásticas na tentativa da juventude para sempre (até a morte), é óbvio esperar que a língua seja atingida pela mesma ânsia. Acho que “idoso” é uma palavra “fotoshopada” – ou talvez um lifting completo na palavra “velho”. E saio aqui em defesa do “velho” – a palavra e o ser/estar de um tempo que, se tivermos sorte, chegará para todos.

Desde que a juventude virou não mais uma fase da vida, mas uma vida inteira, temos convivido com essas tentativas de tungar a velhice também no idioma. Vale tudo. Asilo virou casa de repouso, como se isso mudasse o significado do que é estar apartado do mundo. Velhice virou terceira idade e, a pior de todas, “melhor idade”. Tenho anunciado a amigos e familiares que, se alguém me disser, em um futuro não tão distante, que estou na “melhor idade”, vou romper meu pacto pessoal de não violência. O mesmo vale para o primeiro que ousar falar comigo no diminutivo, como se eu tivesse voltado a ser criança. Insuportável.

A velhice é o que é. É o que é para cada um, mas é o que é para todos, também. Ser velho é estar perto da morte. E essa é uma experiência dura, duríssima até, mas também profunda. Negá-la é não só inútil como uma escolha que nos rouba alguma coisa de vital. Semanas atrás, em um programa de TV, o entrevistador me perguntou sobre a morte. E eu disse que queria viver a minha morte. Ele talvez não tenha entendido, porque afirmou: “Você não quer morrer”. E eu insisti na resposta: “Eu quero viver a minha morte”.

Na adolescência, eu acalentava a sincera esperança de que algum vampiro achasse o meu pescoço interessante o suficiente para me garantir a imortalidade. Mas acabei aceitando que vampiros não existem, embora circulem muitos chupadores de sangue por aí. Isso só para dizer que é claro que, se pudesse escolher, eu não morreria. Mas essa é uma obviedade que não nos leva a lugar algum. Que ninguém quer morrer, todo mundo sabe. Mas negar o inevitável serve apenas para engordar o nosso medo sem que aprendamos nada que valha a pena.

A morte tem sido roubada de nós. E tenho tomado providências para que a minha não seja apartada de mim. A vida é incontrolável e posso morrer de repente. Mas há uma chance razoável de que eu morra numa cama e, nesse caso, tudo o que eu espero da medicina é que amenize a minha dor. Cada um sabe do tamanho de sua tragédia, então esse é apenas o meu querer, sem a pretensão de que a minha escolha seja melhor que a dos outros. Mas eu gostaria de estar consciente, sem dor e sem tubos, porque o morrer será minha última experiência vivida. Acharia frustrante perder esse derradeiro conhecimento sobre a existência humana. Minha última chance de ser curiosa.

Há uma bela expressão que precisamos resgatar, cujo autor não consegui localizar: “A morte não é o contrário da vida. A morte é o contrário do nascimento. A vida não tem contrários”. A vida, portanto, inclui a morte. Por que falo da morte aqui nesse texto? Porque a mesma lógica que nos roubou a morte sequestrou a velhice. A velhice nos lembra da proximidade do fim, portanto acharam por bem eliminá-la. Numa sociedade em que a juventude é não uma fase da vida, mas um valor, envelhecer é perder valor. Os eufemismos são a expressão dessa desvalorização na linguagem.
Não, eu não sou velho. Sou idoso. Não, eu não moro num asilo. Mas numa casa de repouso. Não, eu não estou na velhice. Faço parte da melhor idade. Tenho muito medo dos eufemismos, porque eles soam bem intencionados. São os bonitinhos mas ordinários da língua. O que fazem é arrancar o conteúdo das letras que expressam a nossa vida. Justo quando as pessoas têm mais experiências e mais o que dizer, a sociedade tenta confiná-las e esvaziá-las também no idioma.

Chamar de idoso aquele que viveu mais é arrancar seus dentes na linguagem. Velho é uma palavra com caninos afiados – idoso é uma palavra banguela. Velho é letra forte. Idoso é fisicamente débil, palavra que diz de um corpo, não de um espírito. Idoso fala de uma condição efêmera, velho reivindica memória acumulada. Idoso pode ser apenas “ido”, aquele que já foi. Velho é – e está. Alguém vê um Boris Schnaiderman, uma Fernanda Montenegro e até um Fernando Henrique Cardoso como idosos? Ou um Clint Eastwood? Não. Eles são velhos.

Idoso e palavras afins representam a domesticação da velhice pela língua, a domesticação que já se dá no lugar destinado a eles numa sociedade em que, como disse alguém, “nasce-se adolescente e morre-se adolescente”, mesmo que com 90 anos. Idosos são incômodos porque usam fraldas ou precisam de ajuda para andar. Velhos incomodam com suas ideias, mesmo que usem fraldas e precisem de ajuda para andar. Acredita-se que idosos necessitam de recreacionistas. Acredito que velhos desejam as recreacionistas. Idosos morrem de desistência, velhos morrem porque não desistiram de viver.

Basta evocar a literatura para perceber a diferença. Alguém leria um livro chamado “O idoso e o mar”? Não. Como idoso o pescador não lutaria com aquele peixe. Imagine então essa obra-prima de Guimarães Rosa, do conto “Fita Verde no Cabelo”, submetida ao termo “idoso”: “Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam…”.

Velho é uma conquista. Idoso é uma rendição.
Como em 2012 passei a estar mais perto dos 50 do que dos 40, já começo a ouvir sobre mim mesma um outro tipo de bobagem. O tal do “espírito jovem”. Envelhecer não é fácil. Longe disso. Ainda estou me acostumando a ser chamada de senhora sem olhar para os lados para descobrir com quem estão falando. Mas se existe algo bom em envelhecer, como já disse em uma coluna anterior, é o “espírito velho”. Esse é grande.

Vem com toda a trajetória e é cumulativo. Sei muito mais do que sabia antes, o que significa que sei muito menos do que achava que sabia aos 20 e aos 30. Sou consciente de que tudo – fama ou fracasso – é efêmero. Me apavoro bem menos. Não embarco em qualquer papinho mole. Me estatelei de cara no chão um número de vezes suficiente para saber que acabo me levantando. Tento conviver bem com as minhas marcas. Conheço cada vez mais os meus limites e tenho me batido para aceitá-los. Continua doendo bastante, mas consigo lidar melhor com as minhas perdas. Troco com mais frequência o drama pelo humor nos comezinhos do cotidiano. Mantenho as memórias que me importam e jogo os entulhos fora. Torço para que as pessoas que amo envelheçam porque elas ficam menos vaidosas e mais divertidas. E espero que tenha tempo para envelhecer muito mais o meu espírito, porque ainda sofro à toa e tenho umas cracas grudadas à minha alma das quais preciso me livrar porque não me pertencem. Espero chegar aos 80 mais interessante, intensa e engraçada do que sou hoje.

Envelhecer o espírito é engrandecê-lo. Alargá-lo com experiências. Apalpar o tamanho cada vez maior do que não sabemos. Só somos sábios na juventude. Como disse Oscar Wilde, “não sou jovem o suficiente para saber tudo”. Na velhice havemos de ser ignorantes, fascinados pelas dimensões cada vez mais superlativas do que desconhecemos e queremos buscar. É essa a conquista. Espírito jovem? Nem tentem.

Acho que devíamos nos rebelar. E não permitir que nos roubem nem a velhice nem a morte, não deixar que nos reduzam a palavras bobas, à cosmética da linguagem. Nem consentir que calem o que temos a dizer e a viver nessa fase da vida que, se não chegou, ainda chegará. Pode parecer uma besteira, mas eu cometo minha pequena subversão jamais escrevendo a palavra “idoso”, “terceira idade” e afins. Exceto, claro, se for para arrancar seus laços de fita e revelar sua indigência.

Quando chegar a minha hora, por favor, me chamem de velha. Me sentirei honrada com o reconhecimento da minha força. Sei que estou envelhecendo, testemunho essa passagem no meu corpo e, para o futuro, espero contar com um espírito cada vez mais velho para ter a coragem de encerrar minha travessia com a graça de um espanto.

Texto de Eliane Brum

Fonte: El País

A vaidade que nos põe de joelhos diante do mundo

A vaidade que nos põe de joelhos diante do mundo

A vaidade não chega a ser assim um grande pecado. Será que não?! Em dupla com a arrogância, a vaidade compõe um dos Sete Pecados Capitais: a soberba! Segundo o filósofo Santo Tomás de Aquino, a soberba era um pecado tão grandioso que era fora de série, devendo ser tratado em separado do resto e merecedor de atenção especial. Aquino tratava em separado a questão da vaidade, como sendo também um pecado, mas a Igreja Católica decidiu atrelar a vaidade à soberba, acreditando que neles havia um mesmo componente de vanglória. Pecado, ou não, a verdade indiscutível é que a vaidade é um laço de armadilha extremamente poderoso que nos põe de joelhos diante do valor que os outros nos atribuem. Então… Você vai ficar aí ajoelhado ou vai se levantar e tentar descobrir se as suas ações e posturas são suas mesmo ou, não passam de representação para angariar adeptos?

Quanto mais vaidosos formos, maior será a nossa necessidade de atrair a admiração e a inveja dos demais. Ficamos retidos numa malha viscosa que nos impele a criar imagens admiráveis de nós mesmos. O aplauso alimenta em nosso íntimo esse desejo voraz pelo reconhecimento, por olhos vidrados em nosso sucesso. À medida que crescemos aos olhos de nossa apaixonada plateia, encolhemos dentro de nós mesmos. A imagem projetada já não nos satisfaz; queremos ser mais, ter mais, valer mais.

O impulso da vaidade é elétrico e constante, cria ondas alternadas de prazer e de sofrimento em nossa frágil percepção da realidade, e nos coloca reféns de mais um elemento além da plateia apaixonada: o espelho! O espelho, esse artefato mágico de metal e vidro que reflete o que somos, o que queremos e o que parecemos ser. O espelho, diferente da plateia, não é apaixonado por nós. O espelho é implacável. Podemos, até, evitar olhar para ele intencionalmente. Mas o mundo, sustentado pela vaidade humana, é cheio de superfícies polidas a atrair nossos incautos olhares para nossa desgastada figura. Corremos dois riscos opostos, mas igualmente perigosos, ao contemplarmos nossa imagem no espelho: podemos nos desapontar ou nos apaixonar pela efêmera figura que nos representa.

O reflexo, o aplauso, o olhar da plateia… Conjunto de elementos ilusórios aos quais podemos facilmente entregar as linhas que nos fazem agir ou reagir. Basta que optemos pela doce sensação de sermos admirados, queridos, desejados e invejados. Pronto! Uma vez transferido o poder da escolha para a mão do outro, ganhamos uma vida de faz de conta. Somos transformados em luxuosas marionetes de porcelana, vestidas em sedas e ornadas em ouro. Tudo uma linda fantasia. Agora, é só relaxar. A decisão foi transferida: aguardemos o movimento das cordinhas que, agora, têm as curvas e retas do nosso destino. É o outro, promovido a roteirista de nossas vidas quem decidirá quando devemos sorrir; ficar; partir ou chorar.

Refletindo sobre as dificuldades enfrentadas pelos inquietos seres humanos, em seguir modelos de virtude, Montaigne (filósofo francês do século XVI), apontou para a escolha menos doentia dos pressupostos de Demócrito. O grego considerava vã e ridícula nossa condição humana; e alegava que nossa única saída para enfrentar os embates da alma, seria sair em público com um semblante risonho e zombeteiro estampado no rosto. Não porque rir seja mais fácil que chorar; mas porque o lamento valoriza o objeto de sua consideração além do que merece, ao passo que as coisas das quais rimos são consideradas no pouco que valem. Há no homem mais variedade e tolice do que infelicidade e maldade: se a dor o atinge, se o infortúnio o surpreende, é mais sábio rir do que chorar, pois o riso tira o peso dos acontecimentos e desvia o espírito para pensamentos leves e propícios à distração. Nossa história é mais cômica do que trágica e é segundo seu caráter ridículo que merece ser narrada. Por isso, os elementos grotescos e disformes atravessam os Ensaios (obra de Montaigne), mesmo quando o assunto parece digno de lamento. Assim, o filósofo descreve sua própria experiência, esperando que o riso traga emenda à vaidade humana, fazendo-a ciente de sua futilidade e inconstância.

Tendo em mente que nossas estreias na vida, nunca serão precedidas de ensaios; tentemos atribuir maior leveza às nossas posições, decisões e inevitáveis julgamentos. Estamos todos nós tentando nos equilibrar sobre um mar inconstante; teimando em manter cada uma das pernas em um barquinho. Uma hora dessas vamos ter de escolher. Uma hora dessas vamos ter de criar coragem para ver além do que parecemos ser. Uma hora dessas, vamos ter de entender que dar de cara com a verdade, pode ser muito melhor do que viver enganado. Vamos ter de abrir mão do falso calor do amor do outro, quando se baseia numa imagem de fumaça de nós mesmos, criada para nos garantir uma certeza definitiva que nunca ninguém terá.

Ignore certas pessoas e seja feliz

Ignore certas pessoas e seja feliz

Quanto mais vivemos, mais percebemos que a arte de ignorar certas pessoas é capaz de nos poupar de muitos dissabores, aumentando a qualidade de nosso dia-a-dia. Com o tempo, vamos aprendendo que gastar energia com pessoas e coisas que não merecem um mínimo de consideração é atraso de vida, e que só serve para aumentar a quantidade de nossos cabelos brancos e de nossas decepções acumuladas.

Não dê ouvidos a quem está sempre dizendo que nada vai dar certo, que você não vai conseguir, ou que seus sonhos são utópicos demais. Ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos e ninguém tem o direito de nos determinar qual é o real alcance de nosso potencial. Nossos ideais é que alimentam as nossas esperanças, as nossas certezas de que o amanhã virá mais belo e pleno de realizações.

Passe por cima, com dignidade e elegância, das opiniões contrárias, dos pontos de vista que denigrem e diminuem tudo aquilo em que acredita. Poderemos nem sempre estar com a razão, mas jamais deveremos abrir mão do pulsar de nossos sentidos, das crenças que nos sustentam o olhar adiante e que nos impulsionam a seguir sempre em frente, a despeito das adversidades e dos tombos que a vida nos dá.

Atropele seus medos, os temores que emperram os seus passos, que tolhem o seu caminhar da liberdade da qual deve se revestir. Não se contamine pelas negatividades alheias, de gente que nunca ousou desvencilhar-se das amarras das convenções sociais, de gente que nunca saiu do lugar, iludindo-se pela comodidade desconfortante da ilusória zona de conforto em que se amotina.

Não ligue para aqueles que desacreditam de seus empreendimentos, de suas idéias, dos sonhos que embasam a sua busca pela felicidade, em casa, no trabalho, onde for. Mantenha firme o seu propósito de encontrar o amor verdadeiro, o amigo leal, o emprego perfeito, a carreira naquilo em que você é melhor. Nada nem ninguém nos impedirá a construção de um caminho de sonhos palpáveis, caso acreditemos em nós mesmos.

Esqueça as palavras de desânimo e de desmotivação que ouvir pelo caminho, enquanto tenta seguir a luz que ilumina a sua jornada. Lembre-se de que ouvir a voz que vem do seu coração lhe abrirá muitas portas que estarão prontas para recebê-lo diariamente, bem como lhe levará ao encontro de pessoas que o acompanharão com apoio sincero, amando tudo o que em você é digno de admiração verdadeira. Não guarde dentro de si lixo emocional que os desavisados tentam lhe empurrar, tentando atraí-lo para dentro de suas próprias escuridões.

Ignorarmos aqueles que nos ferem gratuitamente, que querem tão somente nos paralisar, para que estagnemos ao nível da miséria emocional em que se encontram, será uma das atitudes mais sábias e úteis que tomaremos ao longo de nossas vidas. Porque ninguém é capaz de acabar com a grandeza que possuímos aqui dentro, nem ninguém tem poder algum sobre as nossas verdades, a não ser que deixemos. No mais, o que importa é ser feliz, e bem longe de gente chata.

 

 

 

Deixei de ser satélite pra virar planeta!

Deixei de ser satélite pra virar planeta!

 

Antes eu orbitava os outros planetas, aqui e ali, totalmente entregue às forças de atração, e me chocava, me machucava, esbarrava, perdia a rota e a linha.

Manter uma órbita é coisa complicada se isso depende de órbitas alheias e fenômenos que não nos cabe explicar ou entender. É íntimo, é particular, não é da conta de ninguém. Ser satélite é ser coadjuvante de uma trajetória já plena e autônoma, é apertar o passo para acompanhar um ritmo indiferente, é frequentar uma estrada como presença convidada mas não essencial.

E se isso não for um problema e não trouxer outras ânsias ou frustrações, que seja assim por muito tempo.

Desse jeito eu escolhi ser por uma boa porção da vida, mas, como todo mistério da vida e dos aprendizados, em algum momento achei que ser satélite era pouco. Achei até que era cruel. Orbitei por tempo demais em planetas egoístas e narcisos; escolhi a luz alheia para iluminar o caminho, pensando ser seguro e confortável; entreguei decisões e direções a interesses que afinal não me incluíam, apenas me permitiam andar por perto.

E um dia, um ano, um momento do tempo que não se prende a nada nem ninguém, escolhi sofrer a dura e penosa transformação, a morte do que era para o nascimento do que queria ser. E por vezes voltei às órbitas antigas e conhecidas, já sem desenvoltura e cada vez trombando mais e mais com a realidade que nunca me apoderei.

Por fim, e ainda bem, aquela transformação sonhada e ensaiada um sem número de vezes aconteceu, e, alegremente deixei de ser satélite para me tornar um planeta.

Os desafios são outros agora, assustadores e de tirar muitas noites de sono:

Definir uma órbita própria; não criar dependências nocivas; ter o tempo como aliado e não como inimigo; valorizar e cuidar de cada conquista particular; ser um lugar confortável para quem quiser se chegar e somar; e, gerar a própria luz, sem descuidar dos ciclos de sombras e escuridões necessárias.

Agora, como planeta, é possível ver com clareza as estrelas e luas que sempre estiveram por perto, embelezando o céu de quem escolhe a sua própria órbita.

Aprendendo a ouvir e a filtrar

Aprendendo a ouvir e a filtrar

 

“A gente ama não é quem fala bonito, é quem escuta bonito.” – Rubem Alves

Por Luciana Barbosa

 

Eu verdadeiramente gosto de um bom conselho, seja ele profissional ou de cunho pessoal. Acho válido quando alguém enxerga o que não conseguimos enxergar e nos chama para uma boa conversa. O duro é aguentar quem gosta de falar apenas por falar.

Para essas horas aprendi a filtrar; ouço, balanço a cabeça positivamente e sigo meu caminho. Não me irrito, não penso sobre, apenas descarto. E tenho feito muito isso nos últimos meses. O que ouvimos de conselhos vazios foi impressionante. Vazios porque não nos coube, vazios porque quem os deu não nos conhece e isso para nós significa muito, nos conhecer.

Preocuparam-se tanto com a casa, com nossos empregos, com os filhos (meus no caso e adultos por sinal) e até com Clarice (nossa cachorrinha). Caríssimos, para nós o lar é emocional, não físico, nós o constituímos e onde estivermos reunidos (tipo igreja sabe?) é onde está nosso lar. Empregos, serão os mesmos, temos a tecnologia e home office é o canal. Filhos adultos, cuidam cada qual da sua vida, nunca sem nosso suporte, nunca sem nosso amor e possuem o livro arbítrio de nos acompanharem se quiserem. Aprendi depois de muita porrada que mesmo antes de ser mãe, era indivíduo e para realizar e não me frustar diante da vida eu teria sempre que me lembrar disso e a cachorra gente, por favor!! É nossa, nos acompanha e vai amar os parques de São Paulo, já tivemos uma longa conversa sobre isso (risos).

Então se não nos conhece verdadeiramente não nos julgue e não nos ofereça conselhos vazios. Faça como nossos verdadeiros amigos de Minas e São Paulo, que já ofereceram desde festa para empacotamento do lado de cá até pouso no sofá do lado de lá se houvesse a necessidade, que pegaram carro em um Domingo (salve Helena) e verificaram se onde pensamos em morar seria bom, que devastaram a internet (salve Irleidy) buscando informações para nos ajudar, que no nosso bate volta de São Paulo (Salve Antonio), tiveram a delicadeza de nos ligar e  oferecer ajuda até com a chata da burocracia dos infinitos papéis. Isso é amor que transborda e nos dá a certeza que estamos indo na direção certa e para isso amados, não existe filtro, existe apenas a alegria de sabermos que temos a coragem e que o que buscamos é apenas viver, afinal não é para isso que estamos nesta terra?

Texto original no Aos 44

Atendimento humanizado à saúde: Você sabe reconhecer?

Atendimento humanizado à saúde: Você sabe reconhecer?

 Por Marcela Alice Bianco

Qualquer situação de saúde e doença que nos torne vulnerável diante da vida se configura como um momento de crise existencial. É como se a nossa relação entre passado, presente e futuro se modificasse a partir do início de um sintoma, do resultado de um exame, de um acidente ou outro acontecimento que nos torna física e/ou mentalmente vulneráveis. Muito do que conhecíamos sobre nós ou esperávamos para o futuro deixa de ser e dá lugar a tudo que permeia a nova condição existencial.

Mesmo quando o quadro parece ser somente de natureza orgânica, tudo que acontece impacta nosso ser integralmente trazendo consequências emocionais, sociais, espirituais e econômicas em maior ou menor grau.

Assim, quando adoecemos vivemos as mais variadas emoções, experienciamos diversos sentimentos e situações novas e inesperadas, para as quais nem sempre temos os recursos internos para lidar.

Quando em tratamento, nossa adesão e confiança dependerão da nossa segurança na equipe que cuida da gente. E, neste aspecto, muitos estudos mostram que a relação paciente-família e equipe é tão importante quanto a qualidade do tratamento técnico que nos é oferecido.

Mas, como saber se estamos recebendo um atendimento que nos humaniza em nossa condição e que favorece o nosso cuidado e recuperação?

Um atendimento humanizado é aquele que considera a integralidade da “unidade de cuidado”, ou seja, ele pressupõe a união entre a qualidade do tratamento técnico e a qualidade do relacionamento que se desenvolve entre paciente, familiares e equipe.

Estamos recebendo um atendimento humanizado quando:

  • O tratamento baseado na ética profissional.
  • O tratamento é individualizado, ou seja, considera a pessoa como um todo e não a classifica de maneira generalista em função do seu diagnóstico ou quadro geral.
  • O cuidado é realizado com empatia, atenção e acolhimento integral ao paciente e sua família/ acompanhante.
  • Existe uma escuta atenta e diferenciada, com a presença de um olhar sensível para as questões humanas.
  • Há respeito a intimidade e as diferenças.
  • A comunicação é eficiente e permite a troca de informações levando em consideração o estado emocional do paciente e da família.
  • O atendimento transmite confiança, segurança e apoio.
  • A estrutura física atende às necessidades de cuidado e tratamento.

Mas, nem sempre é fácil identificar se os itens acima listados estão realmente acontecendo na relação estabelecida entre quem cuida e é cuidado. Por isso, também é importante que saibamos reconhecer há a desumanização.

Assim, alguns comportamentos podem ser indicativos da falta de humanização no tratamento:

  • Frieza e indiferença diante da situação do paciente e/ou família.
  • O profissional não chama o paciente pelo nome, o infantiliza ou mantém sua atenção somente no diagnóstico ou procedimento, sem considerar o paciente como um todo ou os sentimentos envolvidos na situação.
  • A expressão dos sentimentos, medos e ansiedades não são acolhidos ou são desvalorizados.
  • Frases prontas, como “você tem que ser forte”, “não chore por isso”, tem situações muito piores que a sua”, etc. surgem no lugar de atitudes empáticas e acolhedoras.
  • O espaço e a estrutura de onde o atendimento ocorre é inadequada, ou precária ou expõe a saúde física e emocional da unidade de cuidado.
  • Não há o fornecimento das informações necessárias ou as dúvidas não são esclarecidas.
  • O paciente e/ou sua família se sentem inibidos ou com medo de perguntar ou se posicionar diante de uma situação.
  • A opinião e o que paciente e/ou família têm a dizer não são levados em consideração, não é escutado ou valorizado.
  • O paciente ou sua família é rotulado em função do seu diagnóstico ou algum comportamento característico.
  • Evita-se os “olhos nos olhos”.
  • O atendimento é demasiadamente rápido.
  • A intimidade física ou emocional do paciente e/ou família fica exposta desnecessariamente.
  • As crenças pessoais não são levadas em conta ou não são respeitadas.
  • Não há inclusão da família na atenção oferecida.
  • Há situações em que “falam sobre mim como se eu não estivesse presente”.

Vale ressaltar que nem sempre a questão é responsabilidade do (s) profissional (is) que nos atende (m). Muitas questões, como a estrutura física do local onde o tratamento é realizado, por exemplo, faz parte do funcionamento de uma instituição e, por vezes, a própria equipe também está exposta de maneira desumana e insalubre. Neste caso, é preciso que saibamos identificar de onde vem o problema para acionar os meios corretos e tentar solucioná-lo.

Investir na formação básica do ser humano e especialmente numa formação profissional que forneça os alicerces para um atendimento humanizado é a chave para que situações de descaso e descuido deixem de acontecer.

Como diz Leonardo Boff, “o que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”.

É o tão falado “olhos nos olhos” que humaniza o tratamento. É ele que permite a troca, o cuidado e o crescimento mútuo entre quem cuida e quem é cuidado. Em um atendimento humanizado todos saem ganhando independente do resultado final, porque nele o amor ao humano prevalece em sua mais nobre essência.

Você não escolhe quem ama, mas pode escolher quem vai deixar de amar.

Você não escolhe quem ama, mas pode escolher quem vai deixar de amar.

A verdade é que o amor vem de não sei onde, sem por quê, veloz ou sorrateiro e se instala, muitas vezes sem nos darmos conta. Parece que não temos controle sobre as razões do coração, tampouco escolhemos as direções do poder de atração de certas pessoas sobre nós. Mesmo assim, após experenciarmos a forma como o outro entra em nossas vidas, bem como o que ganhamos ou perdemos a partir desse encontro, deveremos estar prontos para agir acertadamente em relação à manutenção ou não desse alguém junto de nós.

De início, quando a paixão parece minar qualquer controle sobre nosso discernimento frente ao que o outro traz junto com ele, acabamos por supervalorizar suas qualidades, as quais se sobrepõem às falhas, àquilo que no parceiro nos incomoda. E assim vamos tentando, de novo e mais um pouco, pois temos esperança de que receberemos em troca o tanto que nos doamos, torcendo para que dê certo.

Difícil é perceber quando já tentamos demais, quando nada mais parece surtir resultado, quando os erros se repetem além da conta. Difícil é encarar de frente tudo o que se fez ou se deixou de fazer, tudo o que se disse ou se calou, tudo o que foi exposto, aniquilado, roubado, usado, todas as mentiras, os fingimentos, os silêncios ensurdecedores. Porque dói a constatação de que tudo o que sonhamos e construímos não tem mais futuro.

Ninguém quer dar errado na vida, seja no trabalho, na família, nas amizades. Queremos ser alguém que deu certo, que venceu e conquistou o que queria. Muitos de nós vemos a falência amorosa como a pior de todas as decepções que podemos carregar, uma vez que a separação leva junto com quem se foi muito de nossa força e de nossa autoestima. O que resta, de início, é tristeza, desalento e uma sensação amarga de derrota.

Além disso, ponderarmos sobre o relacionamento que estamos mantendo, sobre as perdas e ganhos que ele vem trazendo às nossas vidas, não depende somente do que realmente queremos, pois, à nossa volta, deparamo-nos com as opiniões e os julgamentos dos familiares, dos amigos, da sociedade enfim, o que pesa muito nessa questão. Mantermos a lucidez nesses momentos requer que nos desvencilhemos de todas as cargas afetivas que nos amarram e nos vinculam ao parceiro. Trata-se de uma tomada de decisão solitária e cruel.

Estaremos sempre sujeitos aos términos indesejáveis dos relacionamentos em nossa vida, haja vista que o para sempre pode, sim, acabar um dia ou outro. É preciso, pois, que estejamos dispostos ao enfrentamento de tudo o que não deu certo em nossa caminhada, de modo a nos libertarmos daquilo que se tornou peso inútil, desenterrando diariamente os sonhos e ideais que se perderam por entre as algemas de um cotidiano frio e desarmônico.

E, no final das contas, ninguém há de negar que, por mais que doa, desistirmos de qualquer pessoa, de qualquer situação, de qualquer amarra afetiva, em favor de quem somos e de nossa felicidade, será sempre a melhor decisão a ser tomada. Porque desistirmos de nós mesmos seria condenarmo-nos à morte em vida e viver será sempre a nossa maior vitória. Sempre.

Uma mania? De limpeza

Uma mania? De limpeza

No final da noite, em uma reunião na casa de uma amiga, lhe pergunto se eu poderia recolher os copos e lavá-los no intuito de ajudá-la. Foi uma noite muito agradável, éramos quatro casais e seis crianças. Havia toda a louça utilizada sobre a mesa e aquela característica cena dos brinquedos espalhados pela sala. Já era tarde e como eu era a única além dela que não tinha um filho mais novo, me prontifiquei a ajudar. Nossos filhos mais velhos estavam com quatro anos e haviam feito, ainda de fraldas, o primeiro ano da educação infantil juntos. O turbilhão de emoções ao deixar nossas crianças de menos de dois anos na escola acabou nos unindo e lá estávamos nós, dois anos depois nos revendo e dividindo nossas experiências.

A resposta da minha amiga à pergunta sobre recolher e lavar os copos foi: “Não se preocupe, eu lavo tudo quando vocês forem embora e ainda vou lavar todo o chão da cozinha”. Diante daquela frase, nós três nos rebelamos dizendo não ser necessário fazer isso, ela poderia deixar para o dia seguinte, já passava de meia noite e ela ainda teria que colocar a filha para dormir. Ela então nos diz que jamais conseguiria dormir estando o chão da cozinha “daquele jeito”.

Se você também não dorme se o chão da cozinha ou o banheiro estiverem sujos, ou se a pia estiver cheia de louça para lavar, precisamos refletir sobre a “mania de limpeza”.

Já ouvi relatos de pacientes que deixavam de lado qualquer convite para um cinema ou qualquer tipo de lazer porque tinham que limpar a casa. Lembro-me de uma mulher que me disse que: um dia antes da vinda da faxineira ela costumava limpar tudo para “facilitar as coisas e para que a faxineira não pensasse que a casa dela era uma casa suja”. Vejo dois problemas aí: a preocupação excessiva com o que o outro possa pensar e; o aprisionamento ao comportamento de limpar a casa – muitas vezes associado ao limpar tudo que esteja a sua volta.

A mana de limpeza pode estar ligada ao Transtorno Obsessivo Compulsivo. Se existem rituais de limpeza ou checagem em frequência diária, é importante procurar ajuda psiquiátrica com urgência. Porém, mesmo que este comportamento ocorra sem que exista o diagnóstico da doença, é bom observar. A mania de limpeza é muito vista em mulheres e parece estar ligada a algum tipo de fuga ou à necessidade de descarregar alguma energia acumulada. É comum observar nas mulheres muito preocupadas, atentas e incomodadas com a limpeza; um padrão de comportamentos rígidos, tensos e uma irritabilidade constante.

Mulheres com mania de limpeza parecem pouco felizes e vivem presas a um círculo vicioso – o de limpar tudo, sempre. Limpar é uma tarefa sem fim. O natural é não apresentar prazer à maioria das mulheres. Limpamos nossas casas por fatores ligados à higiene e para o nosso conforto, porém quando o comportamento de limpar passa a ser prazeroso ou quando escraviza a ponto de não nos deixar dormir; é hora de acender o alarme vermelho e procurar as razões disso.

Então talvez vocês me perguntem: “Por quê? Isso não é normal?” A resposta é: Isso não é natural.

Dizem algumas linhas do pensamento psicológico – e eu aqui não vou citar e nem entrar pelos labirínticos túneis da psicanálise cavados por tantos teóricos importantes – que a mania de limpeza pode estar ligada á repressão sexual. Acredito que seja porque o sexo foi conceituado como sujo e pecaminoso pela igreja. Fazer sexo dentro dos padrões do cristianismo servia apenas para a procriação e não era digno de quem almejava o reino dos céus se deliciar com qualquer tipo de relação sexual, principalmente se você fosse mulher. O impulso sexual faz parte da nossa espécie, é natural e saudável, porém, uma vez tendo que reprimir essa nossa necessidade, mesmo que secundária, é provável que algumas mulheres possam ter canalizado esta energia toda no aprimoramento da técnica de limpar a casa, ou as roupas ou qualquer coisa que esteja disponível para ser limpa.

Assim como existe o prazer sexual, existem outros prazeres naturais disponíveis para que possamos descarregar nossa energia. Eu, particularmente acredito que limpar a casa seja pouco (ou nada) prazeroso e que é, de fato, o deslocamento de uma vontade reprimida ou uma forma de simplesmente esvaziar-se do que está preso e não consegue sair, de limpar seus próprios canos entupidos. A mania de limpeza, estando ou não ligada ao TOC, não parece ser normal na medida em que escraviza e afasta dos prazeres naturais na vida, disponíveis a todos. A arte, a leitura, a atividade física, o cultivo de plantas, o convívio social e, claro, o sexo; são alternativas mais interessantes. Experimente dormir sem lavar o chão da cozinha ou aceitar o convite para sair deixando a casa “suja” – pode ser um bom começo.

 

Às vezes é preciso ir para poder ficar

Às vezes é preciso ir para poder ficar

Escrevi um adeus em um papel e o assinei. Não me alonguei como geralmente costumo fazer em sua presença. Preferi ser breve.

Finquei o escrito no portão da sua vida.  Eu sei, não avisei quando cheguei, mas senti uma vontade incontrolável de anunciar que agora me vou.

Vou porque é tempo de ir. É tempo de seguir a minha natureza de partir. De guardar bonito o que vivemos. De guardar as memórias partilhadas, as histórias dedilhadas, os dias que nos acolheram em horas de longas conversas e admiração.

Preciso dizer que finquei o papel de forma displicente, e o fiz para que, com sorte, o vento o leve e o meu adeus fique no silêncio, se valendo apenas da tua percepção em sentir que já não estou mais.

O mundo anda rápido hoje. Pessoas muitas vezes são substituídas como a última coleção outono/inverno abrindo espaço para novos modelos primavera/verão. Pessoas são, comumente, liquidadas, bem baratinho, em algum saldão da vida.

Esse tipo de coisa entristece, esse tipo de comportamento desalinha o ânimo mais exultante. Espero que eu valha pra ti mais que o teu all star velho (e eu sei que você tem um certo apreço por ele).  Espero, lá no fundo, que você reserve um lugar especial para mim em seu coração.

Rezo que em algumas horas, ao passar de táxi em frente a sua casa, quiçá pela última vez, eu não me encontre, em restos, sendo ofertada em uma inesperada venda de garagem.

Os nossos discos, os nossos sonhos, os nossos segredos. Guarde-os carinhoso na estante dos teus mais bonitos sentimentos. Permita que um dia, ao acaso, eu possa lhe assaltar as memórias e voltar serena para junto de você. Permita que um dia eu possa me aninhar em seu corpo e afirmar que é muito bom ir, mas que é ainda melhor poder voltar.

Eu sei, é estranho, contudo às vezes é preciso ir para poder ficar. É preciso ir para, depois de tudo, regressar e quem sabe dividir um maço de cigarro barato, como se o tempo não tivesse passado. É preciso ir para saber aqueles que são de verdade.

Então se nada mudar, depois de um longo tempo de distância, se nada mudar depois que novamente nos tocarmos, eu saberei que sempre morei em você, que teu coração me abrigou carinhoso no tempo em que fiquei fora. Saberei que a gente vai ser pra sempre, mesmo que de vez em quando um dos dois resolva simplesmente ir.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Se console, mas não se conforme

Se console, mas não se conforme

Das tantas e tantas inquietudes e inconformidades que experimentamos na vida, jamais conseguiremos resolvê-las na totalidade. É praticamente impossível almejar esse resultado, levando em conta todas as variáveis envolvidas: As outras partes, o humor do momento, a palavra usada, a palavra calada, a palavra ouvida, a decisão de ir ou de ficar, a obediência ou a falta dela, os recursos, as carências…

Para algumas situações conseguimos conforto, consolo. Em abraços amados, em ombros queridos, em palavras amigas, lágrimas escondidas, mensagens nunca enviadas. Um alívio para a famosa e dolorosa pressão no peito, o escape da panela de pressão que atormentava a tempos com seu chiado constante. Na verdade, se não houver consolo, não haverá contrapartida e só conseguiremos enxergar a perda, o prejuízo. Mas consolo não é solução. É analgésico, é gelo na torção, é lenço de papel, é um sorriso confiável para seguirmos em frente.

Não há parada permanente no consolo de uma dor. Isso é ilusão.

Depois do consolo há o entendimento, a contagem dos danos, a reparação dos erros, o perdão dos malfeitos alheios, o pedido de perdão pelos próprios malfeitos, a nova tentativa, a forte e inalienável experiência conquistada a duras e dolorosas penas.

E, se o que queremos é seguir adiante, partimos mais fortes e mais corajosos a cada queda, no começo mancando, patinando, derrapando. A atitude definirá a porção de medo que terá permissão para nos acompanhar.

E, sem aviso ou qualquer dica, em algum momento estaremos inteiros novamente, lutando ainda com mais força e destemor, pois se há um reconhecimento positivo em todas as perdas e dores da vida, é essa saudável inconformismo que nos impede de ficar estagnados nas almofadas fofas e suaves dos breves consolos da vida.

Viver requer muito mais do que essa frágil troca.

Há uma infinidade de combinações e possibilidades de caminho. E que haja sempre um gelo e um lenço de papel oferecido por mãos amigas para enfrentarmos os tropeços desses tantos caminhos.

Consolar-se sim, faz bem, mas passa. conformar-se, nunca!

 

 

 

Quem perdeu foi quem te deixou

Quem perdeu foi quem te deixou

Ninguém consegue lidar direito com a rejeição, quando se é largado, quando se é preterido e trocado por outra pessoa. Talvez seja porque, nessas situações, acabamos por acreditar que não somos dignos do amor de ninguém, o que fere ainda mais a nossa autoestima, estendendo o nosso luto sentimental além da conta. Já não basta a dor da perda, somos levados a também ficar tentando encontrar os nossos erros, o que fizemos ou deixamos de fazer para que o relacionamento ruísse.

Infelizmente, quando somos deixados para trás, num primeiro momento parece que negamos todas as dificuldades e dissabores que contaminavam há tempos o relacionamento e enxergamos somente o que houve de bom no parceiro e naquilo que se viveu junto. E, se quem nos deixou era alguém com tantas qualidades como pensamos, logicamente o erro somente pode ter partido de nós mesmos, ou seja, a culpa fatalmente recairá sobre nossas cabeças.

Da mesma forma, tendemos a supervalorizar os momentos bons que passamos juntos com o ex, como se eles fossem capazes de compensar todas as dores, todo o desgaste, todas as falhas e mentiras que minaram, a pouco e pouco, aquela relação. E, assim, as músicas, os filmes, objetos, lugares, viagens, tudo parece evocar em nós os momentos idos, lembrando-nos que estaremos sozinhos de agora em diante. E nos martirizamos ainda mais, achando que não conseguiremos suportar, que não conseguiremos prosseguir sozinhos.

É comum tentarmos procurar, de início, em nós mesmos os motivos que levaram ao fim de um relacionamento, como se toda a responsabilidade fosse nossa. Frente ao avassalamento sentimental em que somos jogados enquanto o outro vai embora, acabamos nos sentindo vazios de tudo, inclusive de qualidades que possam nos tornar alguém interessante, alguém por quem valha a pena se apaixonar. Com isso, vamos carregando em nossos ombros os focos causadores da separação, enquanto a imagem do parceiro se torna leve e isenta de qualquer responsabilidade sobre nossa dor.

Por mais que seja difícil, deveremos manter nossos pensamentos em ordem, agarrando-nos ao entendimento lúcido das causas do rompimento, bem como visualizando as suas consequências com um olhar mais otimista, para que consigamos respirar sozinhos. É preciso que tenhamos em mente a noção exata de que existem duas pessoas num relacionamento amoroso e ambas são responsáveis pela manutenção do amor, ambas necessitam guiar-se pela verdade e ambas possuem sua parcela de culpa para que não tenha dado certo.

Quando nossas vidas se pautam por vivermos aquilo em que acreditamos, em sermos o que somos e em sentirmos o que temos verdadeiramente dentro de nós, jamais estaremos oferecendo menos do que poderíamos, ou seja, teremos a certeza de que fizemos o nosso melhor e nos doamos com sinceridade e entrega honesta, transparente. E, se tudo isso não foi suficiente para que o outro permanecesse ao nosso lado, não foi por culpa nossa, mas sim porque ele é que não estava preparado para dividir e compartilhar sonhos e verdades. Não temos nada a ver com os medos, com as inseguranças ou com as covardias alheias.

Enfim, se o sofrimento da separação é inevitável, mantenhamos sempre aqui dentro de nós o nosso melhor, tudo aquilo que sustenta nossas verdades, que alimenta os nossos sonhos, pois assim estaremos menos enfraquecidos para enfrentar o mundo e abrir as portas que se encontram à nossa frente, todos os dias, enquanto durar a intensidade da força que move nossa busca incansável pela felicidade.

A culpa nossa de cada dia

A culpa nossa de cada dia

 

“A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos”.

(Thoreau)

Para cada ação, milhões de juízes.

A expressão de opiniões parece ter pulado a cerca do bom senso; ou as redes sociais trouxeram isso à tona, ou libertaram de vez o “direito a inquisidor” de cada um de nós.

Outro dia me peguei adivinhando os “donos das postagens” no Facebook, apenas pela postagem em si, consegui isso dez vezes seguidas e fiquei meio perplexa. As coisas têm se tornado obvias demais. As pessoas têm sido previsíveis e se me permitem, pouco pensantes.

Culpa de quem?

Pronto, agora posso começar o meu texto!

Já se perguntou o que a “culpa” tem feito na sua vida?

Pois eu respondo:

-Um estrago!

Vivo rezando “…mas livrai-me da autocrítica, amém”.

Por quê?

Porque estamos todos presos em um círculo vicioso na busca de culpados para tudo, enquanto que, dialeticamente vivemos paralisados, feito estátuas catatônicas, adoecendo simplesmente por errar, e ao errar, enfrentar a aterrorizante pergunta:

“O que os outros vão pensar, dizer, achar?”

Julgamos, culpamos e condenamos sem dó, enquanto morremos de medo por achar ou saber que farão o mesmo conosco.

Criamos a prisão perfeita para nós mesmos.

Se Deus castiga, imagina o vizinho da frente?

O colega de trabalho?

O “irmão” da igreja?

Olhares retalhadores, com poder de provocar dor, medo, angústia e “morte”. Fuxicos, acusações e penas implacáveis.

Somos lobos em pele de cordeiro, inimigos em papel de amigos, falando nisso:

-Quer saber quem são seus amigos?

-Cometa um erro!

…pois a maioria irá te responsabilizar de alguma forma, irá ter pena talvez, e se afastar.

Ser humano não sabe lidar com frustração, nem com nada que tenha dado errado. Quando isso acontece, corre para encontrar um culpado, e então fica em paz, achando-se seguro.

Querem ver?

-Fulano está com câncer.

-Ah, mas ele fumava, (ou bebia, ou foi uma pessoa ruim…).

-Meu amigo bateu o carro!

-Ah não presta atenção no transito (ou corre demais, ou andava distraído…).

-Pai, minha amiga brigou comigo.

-Alguma coisa errada você fez!

-Meu irmão perdeu o emprego.

-É inveja, é muita inveja…

 

-O meu filho não dormiu bem à noite.

-Botaram “quebrante” nele.

Maravilha!  Explicações encontradas… E SÓ!

Já experimentaram parar de dar respostas confortáveis e perguntar o que podem fazer para ajudar?

Culpa nunca foi cura, nem muito menos solução para nada nessa vida, nem sei se ajuda em algo, pois já temos nosso próprio superego para fazer o “trabalho sujo”.

Ando me deparando com gente que viciou tanto em julgar e condenar os outros que perdeu a noção de si mesmo, do mal que propaga, aos outros e a si próprio.

Vamos julgar menos o peso, as roupas, o carro, a religião, a opção sexual, a forma de viver dos outros, afinal de contas, somos todos livres e vivendo numa sucessão de ensaios e erros.

Ninguém tem a fórmula.

Ninguém sabe o que está do lado de lá.

O mundo é um pouco mais do que enxergamos por nossa janela (real ou virtual) e, cá entre nós, a sua opinião é só a sua opinião, e essa minha que você lê agora também.

Me diz: Onde e quando nos deram o direito de julgar alguém?

É tão bom ter amigos, é tão bom ter com quem contar. Melhor ainda é ser você mesmo e saber que o afeto pode ser propagado sem culpa. É bom saber que sua família te ama, independente do que você seja e de quais sejam as suas escolhas.

Enquanto postam o tal “dance como se ninguém estivesse olhando”, lembre-se de não olharem a forma como os outros dançam.

Amem, incondicionalmente.

Respeitem, para que possam ser respeitados.

Libertem-se para serem libertados…

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