A geração de frustrados emocionalmente

A geração de frustrados emocionalmente

Por  MARI RIVAS

Uma boa escola, depois uma excelente nota para passar no vestibular, depois a universidade, o estágio na empresa dos sonhos, o diploma, a pós graduação, a promoção tão esperada, um MBA e finalmente o topo, uma diretoria, presidência, o “ser chefe” demorou, mas chegou. E é esse o caminho do sucesso e da felicidade ensinado para nós desde que nos foi feita a pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Acontece que muitas vezes o fim desse caminho resulta em jovens infelizes profissionalmente, mas conformados graças ao afunilamento mental feito pelas instituições de ensino da sociedade brasileira. A maioria dos brasileiros encara essa situação do descontentamento profissional como algo que “faz parte da vida”. Só que não deveria fazer. Mesmo.

Se eu pudesse voltar no tempo hoje, jamais teria feito faculdade. Sim, economizaria tempo, estresse e dinheiro. Sou publicitária e trabalho com comunicação online. A faculdade não me ensinou a escrever bem. Não me ensinou a ser eloquente com os clientes. Não aprendi a usar o Photoshop e nem a desenhar bem na faculdade. Não aprendi sobre Google AdWords e sobre as redes sociais na sala de aula tão pouco. Na faculdade, não obtive nenhum tipo de inspiração criativa e não aprendi a falar outras línguas. Mas aprendi um bocado nos cursos livres que já fiz. Nas aulas de teatro perdi a vergonha de falar em público e a me expressar. Nas palestras sobre tecnologia eu me vi curiosa para pesquisar mais sobre o assunto por conta própria. Viajar me ensinou mais duas línguas. Assistir um filme, ver uma exposição, uma peça e passar o fim de semana num festival me deram um montão de ideias. Se eu pudesse voltar no tempo hoje faria muitos cursos livres sobre tudo o que realmente gosto, desde história e filosofia, até programação de sistemas e por que não, culinária? Poderia até parecer uma bagunça aos olhos de uma empresa pouco visionária, mas com certeza hoje eu seria muito mais completa e realizada.

Claro que algumas pessoas nascem com uma vocação e utilizam a faculdade como ferramenta essencial nesse processo. Estudar o que gosta torna qualquer pessoa o melhor profissional de todos os tempos. Ok, já sabemos. Mas nem todo mundo nasceu pra isso. Provas. Testes. Pra quê? Quando você finalmente pode escolher o que quer fazer da sua vida lhe é apresentado um leque de cursos de graduação em que você obrigatoriamente deve escolher um. Nem todo mundo se encaixa nesse mundo tão limitado. Pessoas talentosas são jogadas de um lado pro outro como marionetes porque um dia lhe disseram que esse é o caminho certo a seguir.

Quem disse que a moça que comprou uma máquina de costura porque gosta de fazer alguns reparos é menos importante do que a que está na faculdade estudando Fashion Design? Ou que o rapaz que tem talento como artesão e que faz móveis lindos de madeira é menos importante do que o outro que estuda administração de empresas? “Ah é que com o curso de graduação você vai ter um trabalho melhor, vai ganhar mais dinheiro.” – Será? E até que ponto esse raciocínio vale a pena já que é a sua felicidade que está em jogo?

As pessoas não param e pensam no que estão fazendo. Tenho certeza que tem muita gente que abre a boca pra falar cheia de orgulho da sua formação, da carreira, mas que senta todo dia na mesa do trabalho e pensa “que saco”. E pronto. Foi-se uma vida.

Quem foi você? Que diferença você fez? Trabalhou bastante? Fez bastante dinheiro na sua carreira promissora? Que bom, parabéns.

Mas e ai?

A conclusão é que você nunca deve se acomodar e nunca deve parar de procurar uma resposta. Porque se você acha que já tem uma resposta para o que quer fazer da vida, é porque você está no caminho errado. O sentido da vida é exatamente o contrário. É buscar as perguntas. É se questionar. É parar e pensar que nem tudo precisa seguir uma exatidão, um caminho certo. É perceber que quando se está tendo a mesma opinião da maioria, você talvez deva pensar de um outro jeito. É se perguntar sobre tudo o tempo inteiro. E enquanto isso, escolha um trabalho que gire em torno da sua vida e não o contrário.

Fonte indicada: Obvious

MARI RIVAS
contioutra.com - A geração de frustrados emocionalmente

Publicitária, aspirante a fashionista, prefiro ser chamada de “admiradora investigativa” do que “stalker profissional”. Email:[email protected].

 

Que toda  criatividade possa ser festejada

Que toda  criatividade possa ser festejada

Criar, conceber, idealizar, copiar de uma outra forma, dar uma pincelada pessoal na tela que começa a amarelar…

Usar os recursos disponíveis e o momento de inspiração para produzir arte, soluções, respostas, provocações, inquietações, devaneios…

A criatividade é um mundo maravilhoso e acessível a todos, muito embora creiamos que seja dom de poucos e só seja justo validar as realizações mais notáveis.  Uma lástima, já que ela se apresenta em situações tão mínimas quanto delicadas e sutis.

A criatividade exige que deixemos a timidez de lado um pouco. Ela ordena que experimentemos algo sempre diferente, que escolhamos caminhos nada óbvios e, portanto, insondáveis à primeira vista.

Em troca, ela nos devolve uma resposta original, uma certeza individual, a sensação de que o impossível é uma enorme mentira inventada pela preguiça.

Quando sondamos soluções pelo olhar criativo, nos alegramos, sentimos esperança, nos acreditamos inovadores, desbravadores, empreendedores.

A criatividade é uma aliada, uma parceira multitarefas, e quando mais a convocamos, tanto mais rápido ela se apresenta com desenvoltura e beleza.

Aquela velha máxima que quase todo mundo já ouviu na vida: “você não consegue fazer isso ou aquilo”, é certamente uma porta batida na cara da criatividade. Ela até quer sair, mas não encontra uma brecha, é sufocada e não consegue se expressar. E as consequências são tristes, rotineiras, repetitivas, enfadonhas, desesperadoras.

Vida sem criatividade é vida sem cor, sem perfume, sem emoção. Se a vida passar por uma crise, é possível que desça toda a escadaria do sofrimento antes de cogitar uma saída criativa. Se a vida estiver sem graça e previsível, é certo que passará voando, como uma folha ao vento, sem sequer ser notada.

Gosto de pensar na criatividade como um bando bem grande de vagalumes que vivem dentro das mentes. Quanto melhor o ambiente para viverem, mais se multiplicam e iluminam as dúvidas da existência. E clareiam soluções.

E se não há solução pelo caminho da direita, deixemos a criatividade mostrar as outras possibilidades. Há surpresas inesperadas aguardando para serem festejadas!

A garota dinamarquesa (The danish girl)

A garota dinamarquesa (The danish girl)

A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl) é um filme dirigido por Tom Hooper, baseado no romance homônimo de David Ebershoff, com atuações impecáveis de Eddie Redmayne e Alicia Vikander nos papéis dos artistas Einar Mogens Wegener/Lili Elbe e Gerda Wegener.

O filme conta a história do pintor dinamarquês Einar Wegener que, em 1931, foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero.  A história gira em torno do relacionamento do pintor dinamarquês com sua esposa Gerda e o processo de transformação dele em Lili Elba.

Em Copenhague, Einar é um pintor em ascensão e sua esposa Gerda busca reconhecimento como pintora. Um dia, ela pede ao marido que pose vestido de mulher para concluir um dos seus quadros despertando em Einar sentimentos, até então, adormecidos. A partir daí, começa a luta do pintor para readequar o seu corpo ao seu gênero.

A beleza do filme está na história de amor, companheirismo e cumplicidade do casal protagonista e no desejo e coragem de Einar em se tornar o que ele acreditava já ser por dentro há muito tempo: mulher. Numa das passagens do filme ele afirma: “Eu penso como a Lili, tenho os sonhos dela. Ela esteve sempre lá.”

Einar vive os conflitos e dificuldades de ser transgênero e os médicos só pioravam o seu estado emocional, tratando-o como uma pessoa louca ou desviada, mas é em Gerda que ele encontra forças para seguir sempre em frente.

Ao mesmo tempo em que Gerda apoia Einar, ela precisa superar seus próprios conflitos diante da perda do marido, da própria solidão e, também, da dificuldade em se adaptar a situação que vive. Porém, o seu amor transcende o gênero, o preconceito e as dificuldades. A personagem nos mostra que muitas vezes amar é deixar o outro partir e é o que Gerda faz, ela deixa Einar partir para que Lili finalmente viva.

contioutra.com - A garota dinamarquesa (The danish girl)

Lili, por sua vez, conquista pela sua delicadeza e inocência, numa belíssima atuação de Eddie Redmayne. Uma mulher frágil e ao mesmo tempo muito corajosa por buscar a sua verdadeira essência, numa época em que atitudes como a sua eram associadas à loucura.

O filme é tocante, seja pelo amor transformador dos protagonistas, seja pela coragem de Lili, seja por trazer um tema que precisa ser tratado na sociedade com menos preconceito e julgamento.

contioutra.com - A garota dinamarquesa (The danish girl)
contioutra.com - A garota dinamarquesa (The danish girl)

 

Muitos estudos médicos sobre o transexualismo defendem que a cirurgia de redesignação sexual é de natureza terapêutica, pois trata-se de uma situação irresistível ao indivíduo que reclama a readequação do seu sexo biológico ao psicológico. Como se vê, a medicina avança em uma velocidade maior do que a mentalidade de parte da sociedade que ainda se mostra altamente preconceituosa quanto ao assunto.

Isto porque, quase 90 anos depois da história de Lili, ainda há, por muitos, uma grande resistência em aceitar as diferenças e isso se expressa de modo intenso no campo da sexualidade, o que é lamentável.

O filme foi bem avaliado pela crítica, inclusive pelas atuações soberbas de Eddie Redmayne e Alicia Vikander. Ambos vão concorrer ao Oscar 2016.  Por outro lado, alguns censuraram o longa por não expor que Einar/Lili era intersexual e, por isso, já tinha características tanto masculinas como femininas, o que também explicaria grande parte dos seus conflitos e sofrimento.

Abaixo, imagens do verdadeiro Einar Wegener / Lili Elbe:

contioutra.com - A garota dinamarquesa (The danish girl)

A questão é que independente das críticas positivas ou negativas, o filme é belo e nos faz pensar com um olhar mais humano sobre o assunto, pois numa sociedade com tanta complexidade como a nossa, que envolve a multiplicidade, a variedade, a pluralidade social, onde convivem vários grupos heterogêneos não deveria haver espaço para preconceitos de qualquer natureza.

O país onde (ainda) há tempo para brincar

O país onde (ainda) há tempo para brincar

Na Finlândia, brincar faz parte do método de ensino. Os finlandeses são conhecidos pelo seu sistema de educação, um dos melhores do mundo. Curiosamente, este é o país da Europa onde os alunos passam menos tempo nas aulas, aprendem a ler mais tarde e só têm exames no final do 12.º ano. Esta foi a conclusão de uma investigação publicada no jornal Atlantic e realizada por Tim Walker, um professor norte- americano que dá aulas em Helsínquia.

A Finlândia tem, ainda, uma das maiores taxas de alfabetização do mundo, sendo que 94 por cento da sua população sabe ler, escrever e frequenta ou frequentou a escola. E esta aposta na educação não é recente, tendo sido iniciada nos anos da década de 1970. Porquê? «Porque os finlandeses viram sempre a educação como a sua maior riqueza», explica Tim Walker.

Até o PISA, sigla de Program International Student Assessment, o maior teste de avaliação aos sistemas educativos realizado em 64 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e que mede a qualidade do ensino, atesta essa aposta, colocando-o no topo dos países com melhor sistema educativo. A par da China, de Singapura, e de Xangai.

Um dos fatos mais apreciados pelo PISA é a igualdade entre alunos e escolas, ou seja, as condições económicas das famílias e a localização das escolas não têm muita influência nos resultados. Todos têm bons resultados! O último PISA foi divulgado em 2012. No entanto, os positivos dados finlandeses são já reconhecidos desde o início do novo milénio e a média de chumbos é só de 3,8 por cento, enquanto a média da OCDE é de 12 por cento.

A brincar (também) se aprende

Mas vamos por partes. Na Finlândia, contrariamente ao que acontece na maioria dos outros países europeus, incluindo Portugal, as crianças só aprendem a ler quando entram na escola aos sete anos. Até lá, os pequenos são estimulados, sobretudo, a brincar e, mesmo no ensino primário, a brincadeira continua. As crianças são estimuladas para a instrução através de atividades lúdicas, de forma a ganharem interesse pela escola, que, segundo Tim Walker, «também pode ser divertida».

E, muito importante, sem terem medo de falhar. Os alunos finlandeses passam 703 horas por ano na escola, enquanto os portugueses ficam 827 horas. No início do lectivo 2015/2016, o sistema educativo finlandês teve mais uma novidade. Ass disciplinas foram todas integradas, pelo que, os professores de matemática, finlandês, história, ciências e todas as outras cadeiras, se juntaram para lecionar as matérias.

Tal foi feito definindo tópicos que podem ser trabalhados através de diferentes perspetivas. O objetivo não é que os professores debitem a matéria, mas sim que os estudantes discutam as temáticas abordadas pelos primeiros. Os alunos gostam dessa independência e, no ensino secundário, além de serem eles a escolher as matérias que mais lhes interessam, podem concluí-lo em três anos. A confiança é um dos pilares do sistema educativo do país.

As vantagens do ensino gratuito

Na Finlândia, todo o ensino (do pré-escolar ao universitário) é gratuito. Mesmo nas poucas escolas privadas existentes, os estudantes não pagam. E no gratuito incluem-se as refeições, os manuais escolares e os transportes, até ao final da escolaridade obrigatória, o nono ano. Apesar disto, o investimento no ensino é de apenas seis por cento do PIB do país.

Nas escolas finlandesas, há ainda uma equipa que presta assistência aos alunos, composta por um assistente social, um orientador, um enfermeiro, um psicólogo, um orientador escolar e um professor do ensino especial. Todos eles se encontram com os alunos que necessitam do apoio, pelo menos, uma vez por semana. Entre os membros da equipa há várias reuniões para discutir os possíveis problemas dos alunos em questão, numa atividade multidisciplinar.

A aprendizagem que vem dos jogos

Enquanto que, nos outros países, se está a transformar o pré-escolar quase no primeiro ano de escolaridade, como é o caso de Portugal, na Finlândia, o tempo é gasto a brincar e isso acontece até aos sete anos, altura em que as crianças entram para a escola. Mas isso não quer dizer que não estejam a aprender.

Fazem-no, segundo Tim Walker, «sem dar por isso e de uma forma muito interessada». Passam poucas horas sentados com caneta e papel nas mãos, mas, em contrapartida, têm um horário que estipula as atividades da semana. Podem ser jogos de grupo,  música, correr, visitas de estudo ou até brincar às várias profissões.

A (boa) imagem dos professores

Se, em Portugal, a imagem dos professores é pouco abonatória, na Finlândia, é precisamente o contrário. É uma profissão muito popular e prestigiada, à qual muitos jovens querem aceder, sendo que muitos não conseguem tornar-se professores. Para se ensinar, atualmente, é necessário ter um mestrado e são as escolas que os escolhem para docentes.

Não há um concurso nacional. Cada diretor do estabelecimento de ensino é que decide quem contrata. E cada professor pode definir o seu método de ensino. Ao contrário do que sucede em países como o nosso, acaba por ter muita autonomia. O salário médio de um professor na Finlândia ronda os 3.000€, sensivelmente o dobro do salário médio de um professor em Portugal.

Texto: Rita Caetano, via Sapo

Nunca se culpe por fazer a coisa certa

Nunca se culpe por fazer a coisa certa

Por 

Nunca se culpe por ter amado. Por ter confiado. Por ter ajudado. Nunca se culpe por acreditar na bondade humana, na amizade verdadeira, no amor eterno. Nunca se culpe por pagar as contas em dia, ser dedicado ao seu trabalho, honrar seus compromissos. Nunca se culpe por dizer a verdade construtiva e pregar pequenas mentiras a fim de não magoar as pessoas. Nunca se culpe por algo que não deu certo apesar de todo empenho empregado. Nunca se culpe por fazer a coisa certa.

Amou e não foi amado? Paciência. Acreditou que tinha um amigo de verdade e não tinha? Azar do falso amigo que perdeu o seu carinho e atenção. Ajudou alguém e recebeu ingratidão? O problema não está com você com certeza.

Por alguma razão que não sei explicar algumas pessoas ficam ressentidas quando são amparadas e transformam o gesto de carinho em uma arma contra quem as ajudou. Uma espécie de sentimento de inferioridade. Uma raiva forte por ter dependido da bondade alheia. A tristeza por deparar-se com as próprias limitações. Limitações comuns à raça humana. Ninguém é autossuficiente.

Se o outro mentiu, não é você que deve se sentir magoado. Se o outro foi desleal, não é você que deve se sentir traído. Se o outro foi ingrato, não é você que deve se sentir tolo. Tolo é quem não consegue ver a beleza da solidariedade. Tolo é quem acha perda de tempo ajudar as pessoas. Tolo é quem se acha superior aos outros, autossuficiente. Tolo é quem ignora o sofrimento alheio. Tolo é que nunca se permitiu acreditar em nada e deixa a vida passar sem cor, sem odor, sem gosto.

Pode soar como loucura ou poesia barata, mas tolice é deixar de viver, de amar, de acreditar, de se entregar aos sentimentos, sensações e desafios da vida. Tolice é deixar de amar por medo de ser desprezado. Tolice é deixar de fazer uma prova por medo de ser reprovado. Tolice é deixar de fazer um convite por medo de ouvir um não. Tolice é dizer que nada muda no mundo por preguiça de arregaçar as mangas.

Sim, estamos no mundo para sofrer por amor, para sermos enganados por nós mesmos e pelos outros, manipulados, ignorados, mas também amados, queridos, acolhidos. Estamos no mundo para rir de nós mesmos, da nossa ingenuidade, dos absurdos que dizemos quando estamos tristes, confusos e sozinhos.

Estamos no mundo para ganhar e perder. Ganhar aprendizado perdendo o que julgamos mais querer. Estamos no mundo ao sabor das intempéries da natureza e precisamos aprender a nadar na marra quando formos arremessados no mar das incertezas. Viver é não saber. É não entender. É perdoar …é se perdoar e seguir em frente. Nunca se culpe por fazer a coisa certa.

Fonte indicada: Obvious

SÍLVIA MARQUEScontioutra.com - Nunca se culpe por fazer a coisa certa

Paulistana, escritora, idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filósofa de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas, amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas. Serei uma atleta no dia em que levantamento de xícara de café se tornar modalidade esportiva. Sim, eu acredito realmente que um filme possa mudar a sua vida! Autora do blog Garota desbocada. Lancei recentemente em versão e-book pela Cia do ebook o romance O corpo nu.

 

Quando o domingo chegar

Quando o domingo chegar

Acorde mais cedo, faça uma prece, beije quem mora com você
e caso more sozinho, procure sentir a presença de Deus.
Depois, prepare um lanche bem gostoso e saudável.
Cuide de seu bichinho de estimação – caso tenha, regue com muito amor suas plantinhas, cumprimente o vizinho – mesmo que ele não seja dono de uma grande simpatia.
Calçe as meias, o tênis, coloque uma roupa bem verão e dê uma caminhada.
Não importa se essa sua caminhada dure 10, 20 ou 40 minutos, mas que seja
o tempo suficiente para você estar com você!
Quando estiver caminhando, não pense nos compromissos que terá na segunda-feira, não pense em suas dívidas, não fique remoendo dúvidas,
esqueça a dor, a(s) perda(s) , a doença… esqueça tudo e vá!
Respire fundo, levante a cabeça, olhe a beleza do céu – da cor do mar…
repare que algumas nuvens, se fixarmos o olhar nelas, formam lindos desenhos…
Procure admirar uma flor, mesmo a mais simples, até aquelas que chamamos de sem-vergonha (porque nascem em qualquer lugar), mas elas sempre saúdam um novo dia …
Sinta o vento batendo em seu rosto e o seu coração aberto às emoções da vida.
Contemple as árvores, os passarinhos,
e também, as outras pessoas que passarem por você. Elas também estão lutando para ser felizes – todos estamos!
E volte refeito,
na certeza de que a cadência da vida quem faz é você!

Lu Prado (Vitória – ES)

XXY, o filme que fala sobre identidade de gênero e sexualidade

XXY, o filme que fala sobre identidade de gênero e sexualidade

Por Bruna Arakaki e Karina Ishimori

XXY (2008) é um filme dirigido por Lucia Puenzo e que nos convida a refletir sobre identidade de gênero e sexualidade, temas estes que têm ganhado evidência graças às mudanças sociais e culturais na contemporaneidade. Hoje, mesmo que de maneira tênue, as questões da transexualidade e da intersexualidade são colocadas a postos e não mais escondidas e encalacradas nos fundos dos porões da humanidade. Oportunidade que temos para trazer à luz e consciência a diversidade e complexidade humana.

Alex, protagonista da trama, nasceu com a Síndrome de Klinefelter que lhe confere uma genitália ambígua devido a uma mutação genética. Essa síndrome ocoore quando uma pessoa do sexo masculino nasce com um comossomo X a mais. Por sua condição, Alex é considerada uma intersexo. Diferentemente de várias crianças que nascem com essa síndrome, seus pais optaram por não realizar a cirurgia de “redesignação de sexo”, que neste caso retiraria as características masculinas, transformando Alex em uma menina. Ao invés disso, decidiram-se mudar para um vilarejo no Uruguai mantendo a condição de Alex em segredo, mas a educando como se fosse uma menina.

Alex  está com 15 anos e como qualquer adolescente passa pelas inúmeras transformações biopsicossocias desta fase, acrescentando-se a questão da intersexualidade. Percebe-se que toma hormônios femininos e que tal fato lhe traz incômodo, pois não sabe se quer continuar a tomar os medicamentos. Concomitantemente a isso, a convite de sua mãe, sua família recebe em casa a família de um médico que quer estudar o caso de Alex a fundo para uma possível cirurgia de redesignação. Esse médico vem com sua mulher e filho (Álvaro) da mesma idade que Alex.

Alex vivencia um momento de descoberta não só de sua identidade, mas também de sua sexualidade. Esse processo torna-se angustiante principalmente por sua condição ser vivida em segredo, especialmente no ambiente extra-familiar. Para todos no vilarejo, Alex é uma menina. Aqui as questões se mostram bastante complexas por diversos motivos. A questão de gênero está intrinsecamente relacionada com a construção da identidade, isto é, da descoberta de “quem eu sou”. Apesar desse processo não se relacionar com a sexualidade, Alex também está se descobrindo nesse aspecto. Assim, possuir uma condição corporal ambígua, diante de uma sociedade que só engloba o sexo e gênero feminino ou masculino, faz com que a personagem se sinta bastante solitária e excluída no processo de definição de sua identidade.

Há uma pressão para que o indivíduo se defina homem ou mulher e nada mais além disso. Caso não se defina nessas duas condições, há grande probabilidade de viver sob o véu do preconceito. Assumir a ambiguidade é correr o risco de ser visto pelos outros como “freak”, uma aberração.

Por isso, a família de Alex foge para o vilarejo e mantém sua condição em segredo com intuito de protegê-la. Mas, como nos lembra Ana Maria Galrão Rios, os segredos têm grande poder emocional, são sempre revelados num discurso paralelo, por alterações do clima emocional, lapsos e evitações. Eles produzem uma linguagem estranha por mais que os silenciamos, pois fazemos com que as coisas falem sobre eles. Interessante é que aqueles em volta, geralmente, se asseguram de não ouvir nada. Essas pessoas possuem todo o necessário para entender, exceto o desejo de fazê-lo. Sendo assim, por um lado, Alex se protege ao não revelar o segredo (se protege dos outros), mas por outro, isso a torna estranha pra si mesma (tornando-a desprotegida de si). Este fato nos leva a compreender também a questão de Alex não querer mais tomar os hormônios femininos como uma tentativa de se encontrar, descobrir quem é verdadeiramente. Fazendo isso, parece ir em direção ao Self (centro regulador da personalidade total), o que lhe traria maior proteção, pois aí sim, habitaria seu próprio corpo e a si mesma. Uma vida dupla é, em última instância, exaustiva e trágica, porque não se pode ser amado se não se é conhecido.

A mãe de Alex chama o médico e sua família para passarem um tempo em sua casa, com o intuito de investigar melhor a possibilidade da cirurgia de resignação. Torna-se claro que para o médico, este procedimento era o mais acertado, pois embasava sua opinião a partir da perspectiva biológica/orgânica e da visão da necessidade de escolha entre os gêneros. Ele realmente acreditava que faria o bem dessa maneira, mas deixava de enxergar Alex em sua humanidade e complexidade emocional e subjetiva. Alex não dava o nome desse procedimento de cirurgia de resignação, mas de amputação, deixando claro esse procedimento como um ato de crueldade e mutilação. Por que ela não poderia ser inteira?

Vale aqui ressaltarmos como o corpo é visto na atualidade. Ana Galrão Rios pontua que o corpo é entendido como uma parte “maldita” da condição humana e por isso, a ciência e sua técnica concordam em remodelá-lo e refazê-lo para liberar o homem do seu embaraçoso enraizamento com a carne. Dessa maneira, o corpo se torna coisa em si e vira mercadoria, pois pode ser vendido em peças avulsas. O corpo, quando visto como uma coleção de órgãos fica dissociado do homem que ele encarna e deixa de ser identidade humana.

Alex percebia que seu problema não se resolveria cortando e remodelando seu corpo, pois o que se arranca ou acrescenta modifica uma existência inteira. O que mostra que corpo, homem e alma são indissociáveis. Assim, as questões apresentadas no filme nos convida a refletir, e ampliar nossa concepção de corpo, no sentido de percebermos seu inesgotável significado se olhado sob o aspecto simbólico, cultural e social.

Nesse jogo todo, a mãe de Alex apresenta-se muito perdida, não sabendo o que fazer. Chamar o médico foi uma tentativa de ter um aval técnico, um alicerce para resolver a questão. Isto é, a sua decisão será pautada numa entidade superior que sabe mais, assim, assegura-se que está fazendo o correto. Principalmente porque, sua decisão também será reconhecida socialmente.

Por outro lado, o pai de Alex se mostra bastante sensível, consegue enxergá-la de maneira mais profunda e por isso, compreendê-la. Sabe que a cirurgia não é só uma questão física, mas algo que definirá toda a vida e subjetividade de sua filha. Importante ressaltar que ele dizia que, desde o nascimento de Alex, sempre a achou perfeita, do jeito que ela era. Essa afirmação é o reconhecimento e aceitação incondicional à Alex, que pode ser o que é e o que desejar ser, dando-lhe liberdade e suporte para a sua construção pessoal.

Esse pai que acolhe é de suma importância, pois como Ana Galrão Rios nos alerta, na adolescência, a imagem corporal é formada prioritariamente a partir do externo e o adolescente quer passar despercebido em suas diferenças, que são ameaçadoras. Dessa maneira, quando os pais criticam, rejeitam ou consertam um traço corporal é uma experiência emocional complicada para o adolescente porque é como se estes se mostrassem decepcionados com seu filho. Ele não possui defesas contra o olhar desses pais, sentindo-se assim com raiva e culpado. O adolescente passa a esconder, camuflar a parte do corpo que não corresponde ao esperado porque entende o próprio corpo como errado, e se não se intervém de alguma forma, este passa a se sentir responsável e culpado pela não correção.

Pode-se pensar que a pessoa transgênero ou intersexo suscita ainda mal-estar na sociedade porque não há clareza em sua definição, pois transgride a ideia habitual do que seja feminino ou masculino. Como aponta Luana Oliveira, a psique configurada de modo rígido, binário e polarizado acaba por se defender da diversidade e o faz a partir da exclusão e preconceito. Além disso, há na humanidade um espectro entre o masculino e feminino e ninguém deveria ser impelido a provar ser isso ou aquilo.

Em culturas distintas e de acordo com o momento histórico, as definições de gênero e de papéis atribuídos a eles também são singulares. Ou seja, o que define o gênero varia de cultura para cultura, e também pode se modificar ao longo do tempo. Além disso, uma pessoa pode também se identificar com um determinado gênero e não necessariamente cumprir todos os papéis designados culturalmente para aquele gênero, é o caso de uma mulher na nossa sociedade que decide permanecer solteira e não ter filhos, ou mesmo do homem que não deseja ser provedor da casa, embora tais papéis sejam esperados e cobrados social e culturalmente.

O que ocorre, contudo, é que não somos estimulados a questionar tais construções sociais e culturais sobre o mundo que nos cerca, e quando surge algo ou alguém que foge desses padrões, não somos capazes de entendê-los e aceitá-los.

Com aponta Marilena Dreyfuss, o resultado disso é a reprodução quase que automática de padrões que nos foram impostos, e no caso das questões de gênero, acontece uma naturalização, a necessidade de definir o indivíduo e sua sexualidade em categorias. Afinal, precisamos nos perguntar: De onde vêm, como foram criadas todas essas nossas concepções?

 Neste sentido, a psicóloga Luana Oliveira, que é especialista no assunto nos traz a importância do olhar e da escuta empática a esse “outro” que nos é desconhecido, mas que traz em si próprio as respostas para entendermos a dimensão humana na sua pluralidade de existência.

 Se pudermos integrar em nossas consciências esse leque todo de experiências entre o que seja gênero e sexualidade, e concomitantemente a variabilidade da expressão do humano possibilitaríamos maior mutabilidade de papéis e funções como também nos sentiríamos mais libertos, pois seríamos pessoas mais inteiras e realizadas. Esse é o caminho de Alex, nos mostrar a riqueza e possibilidades humanas sem a dogmatização do que seja certo ou errado, feminino ou masculino, bonito ou feio, do que deveria ou não ser feito.

 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

Este texto foi produzido pela Comissão Organizadora do Cine Sedes Jung e Corpo com base nas reflexões realizadas durante o evento realizado em Outubro de 2015, com os comentários da Professora e Psicóloga Junguiana Marilena Dreyfuss e das Psicólogas Luana Oliveira e Ana Maria Galrão Rios. A CONTI outra possui autorização para sua reprodução.

O Cine Sedes Jung e Corpo é uma atividade extracurricular do curso Jung e Corpo: Especialização em Psicoterapia Analítica e Abordagem Corporal do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo.

É um evento gratuito e aberto ao público geral organizado pelos professores do curso em conjunto com ex-alunos e ocorre todas as últimas sextas-feiras dos meses letivos do curso.

Para maiores informações acompanhe e assine no Blog do Cine Sedes Jung e Corpo

Inscreva-se no Youtube ou curta Cine Sedes Jung e Corpo no Facebook.

Sobre mães que carregam ( ou não ) seus bebês

Sobre mães que carregam ( ou não ) seus bebês
Baby girl with mother smiling

Elas estão por toda parte.

Andam pelas ruas carregando suas pequenas crias. Em uma das mãos seguram com destreza o pequeno bebê e na outra abrem a carteira, pegam a fralda de pano, seguram no corrimão, empurram o carrinho do supermercado, pegam produtos, dão ao bebê a chupeta, ajeitam o cabelo, sobem e descem do ônibus, caminham debaixo do sol…

Vivo observando impressionada a capacidade de algumas mulheres, mães como eu, quando as vejo pelas ruas fazendo tudo que fariam sozinhas, porém com o bebê nos braços.

E de tanto observar criei dois tipos de mães: as que carregam os seus filhos por aí sem cuidado algum e as que carregam babás.

Surge então em minha mente a imagem um ringue de luta, como se eu pudesse transformar uma delas na heroína e a outra na vilã.

De um lado uma mãe superprotetora, cuja vida é abastada. Mãe que pôde deixar tudo para cuidar do filho, que mal saía de casa nos três primeiros meses de vida dele para que ele pudesse tomar grande parte das vacinas antes. Mãe que teve mãe e sogra para ajudar, que teve uma ajudante das boas em casa em tempo integral e que teve uma babá enfermeira para orientar sobre os cuidados com recém-nascidos. Mãe que leu a bíblia, a encantadora e tudo mais que estavam nas prateleiras da livraria, desde que o título terminasse com “do bebê”. Mãe que se preparou para a chegada do filho, que fez pilates, hidroginástica e drenagem, e que seguiu à risca as orientações médicas e nutricionais, que comprou todos os itens da lista do enxoval (comprou muito mais, na verdade). Mãe que tinha tudo, menos experiência.

Do outro lado, outra mãe, de vida menos abastada. Mãe que trabalhou até o nono mês de gestação e que levou o filho sozinha ao pediatra para a primeira consulta. Mãe que sozinha o levou também ao posto para que ele recebesse todas as vacinas e em todas essas vezes ela usou o transporte público. Ela já cuidou dos sobrinhos e dos irmãos mais novos e por isso ela carrega bebês, troca fraldas e dá banho com a mesma eficiência que têm as enfermeiras dos berçários. Ninguém a ajuda, nem com os afazeres da casa e ela nunca lê livro algum. A gravidez veio desejada como a da primeira mãe, afinal, as amigas dela, depois dos vinte costumam se casar e engravidar. Ela se casou para isso. O enxoval de bebê ela ganhou na pequena festa que fez e aceita todas as roupas de bebê que lhe derem. Ela dançou funk grávida, e para ela isso vale como a atividade física que orientam ser importante para as gestantes e para o bebê.

Uma mãe compra as fraldas importadas e a outra compra as mais baratas para que ambas tenham o mesmo fim: receber coco, xixi e ir para o lixo.

Uma mãe tem vinte e poucos anos e a outra quase quarenta.

Ambas amamentaram. A primeira porque amamentar é o melhor para o bebê, disse o pediatra renomado; a segunda porque não haveria como comprar outro leite.

Ambas saem à noite. A primeira deixa o bebê com a babá e vai jantar com o marido. A segunda deixa o bebê com a tia e vai ao baile funk com o marido.

São frutos da minha imaginação que naquele momento segrega e discrimina as mães baseadas em suas possibilidades financeiras, idade ou contexto sócio cultural e que imediatamente percebe o erro.

Não! Não é nada disso que faz de uma mãe uma mãe de verdade.

As mães de verdade carregam seus filhos!  Na Europa, todas as mães carregam seus bebês, a maioria preso aos “cangurus” e muitas delas tem uma boa vida financeira. Na Europa não existem babás salvo raras exceções como a da família real.

Não é a idade e nem as possibilidades financeiras de compra e contratação de serviços que separam essas duas mães em lados opostos. O que faz de uma mãe uma mãe é a capacidade de continuar fazendo tudo que fazia antes acolhendo e amando o seu bebê.

As duas mães que eu citei acima estão em dois extremos. Lados opostos de uma mesma moeda. Elas têm uma característica comum. A primeira terceirizou o colo e a segunda carrega sua cria como se carrega um saco de qualquer coisa, sem sequer olhar para ele.

Eu então destruo o ringue e as coloco juntas, do mesmo lado.

Ambas erram no que poderiam acertar.

Ambas deixam de fazer o que podem fazer: olhar, acolher, aconchegar e criar vínculo com o filho. Ver uma mãe que carrega uma babá em tempo integral deixando assim de carregar seu filho nos braços é como ver uma mãe que amamenta no meio da rua sem sequer olhar nos olhos daquela pequena criança que carregam debaixo do sol. Aquela fraldinha tapando o rosto da criança é horrível.

Não é o dinheiro ou a falta dele que faz de um bebê um ser humano amado, é exatamente o amor, ou a falta dele. Amor não se compra como enxoval em Miami e também não se distribui na fila do SUS. Amor exacerba os modelos de mãe facilmente vistos pelas ruas. Amor não é privilégio de ricos nem de pobres.

Seu bebê não precisa de uma babá, ele precisa que você o carregue no colo e o ame.

Seu bebê não pode ser carregado pelas ruas sem cuidado, ele precisa ser carregado com amor e atenção.

Adeus a um quase amor

Adeus a um quase amor

Hoje me vesti de preto.

Coloquei um chapéu com véu rendado em frente ao rosto e um vestido justo apertado.

Fui ao funeral do quase amor. Enterrei-o num café ou dois. Lá perto da esquina, em uma tarde mansa, calma, quase sombria.

Sentei-me calma, pedi um cappuccino e disse que não queria mais, que não seria de novo, que não receberia mensagens ou atenderia telefonemas.

Risquei das agendas o nome, da vida a presença. Traguei minha última paciência.

Ri ao dizer adeus para compensar o choro do passado, o choro que transborda de quem não se vê completo e se ressente disso.

Senti-me livre, esquecendo o peso de dançar um ritmo que não era meu.

Sai do café caminhando devagar para longe das vontades. Enterrar um quase amor é como estar de dieta. É tentador voltar atrás. É tentador cavar o buraco, no qual acabamos de enterrá-lo, e resgatá-lo pesarosos.

Enterrar um quase amor é ver-se chorar o milésimo choro sabendo que outros mil virão pela dor da perda e da saudade. É morrer em tudo que se é. É odiar-se por magoar, mas ter que tomar decidido a última palavra.

É sentir dores dilacerantes sem marcas no corpo. É conversar sozinho e encontrar em si mais perguntas que respostas. É dizer adeus a tudo que o outro construiu de você e a tudo que você construiu do outro. É ter no passado um estranho. Um alguém com quem um dia acreditou-se sonhar junto.

Ah, mas um punhado de terra e de coragem quase sempre resolve, enterra e apaga o que foi engano.

A chuva de verão lava a alma, derrete no corpo o calor mundano do que não é. A tempestade de negras nuvens arrasta a pele morta da vida para os bueiros do tempo.

Terminar um quase amor é levantar a mão para o alto, abri-la e deixar a poeira presa nos dedos ser levada para longe. É pedir conforto a si quando de si pouco se pode dar. É perdoar-se por sentir tanto por deixar o que é tão pouco.

Não há razão no amor, tão pouco no não amor. Não há certezas ou dúvidas exatas na vida. O outro é um mundo diferente. Uma incógnita. Nós somos incógnitas. Somos plenamente capazes do amor e do ódio e de uma gama de coisas entre um e outro. Amamos, nos entregamos, gritamos e sussurramos aos que estão ao lado, buscando encontrar razões no irracional. Buscando sentir na entrega a chama do grande amor.

Comumente suplicamos para que, em equívoco, nos convençamos que o coração está entendendo errado, que o caminho torto é uma reta plana, mas o amor verdadeiro não se vale de súplicas, ele é para os fortes, para aqueles que sabem ver além das miragens.

Os fracos aceitam o que não é amor e fingem acreditar, mas aos fortes cabe a coragem de se despedir do que pode ser amigável, desejoso, mas que não é verdadeiro.

Só os fortes se permitem a esperança do novo, tendo para si clara a ideia de que o quase não preenche, nem transborda o coração.

Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.

Musical infantil premiado no Brasil faz turnê em Portugal!

Musical infantil premiado no Brasil faz turnê em Portugal!


Nos próximos dias começa a digressão por Portugal do grupo brasileiro Núcleo Caboclinhas, especializado em teatro infanto-juvenil, com vários prêmios na carreira. Pela primeira vez no País, a companhia traz na mala o espetáculo Letras Perambulantes, um teatro-musical dedicado às crianças e jovens, que já recebeu diversos prêmios no Brasil e retrata uma das maiores expressões artísticas da cultura popular brasileira: a Literatura de Cordel.

A primeira apresentação acontece em Lisboa, no domingo,14, às 16h, na livraria Ler Devagar, na LX Factory. Depois, o grupo segue para Coimbra, Mangualde, Viseu, Mêda, Oliveira de Azeméis, Matosinhos e Setúbal.

contioutra.com - Musical infantil premiado no Brasil faz turnê em Portugal!
Fotografia Arô Ribeiro – Okê

A ideia de realizar essas apresentações em Portugal tem um grande motivo. Foi pelas mãos dos portugueses que essa arte chegou ao Brasil ainda no início de sua colonização e influenciou a cultura brasileira com uma obra altamente questionadora, impactante e bela.

Baseado na obra de Patativa do Assaré, um dos seus maiores representantes, o espetáculo propõe uma aproximação com o jogo das palavras, através das rimas dos cordéis, destacando a importância das palavras e aguçando a criatividade de quem as ouve. A crianças são convidadas a partilhar seus poemas, interagir em algumas ações dramáticas da encenação e cantar versos de cantigas populares brasileiras executadas ao vivo pelas atrizes em cena.

contioutra.com - Musical infantil premiado no Brasil faz turnê em Portugal!
Fotografia Arô Ribeiro – Okê

Literatura de Cordel:

A literatura de cordel é assim chamada pela forma como são vendidos os folhetos, dependurados em barbantes (cordão), nas feiras, mercados, praças e bancas de jornal, principalmente das cidades do interior do Brasil. A tradição dessas publicações populares, geralmente em versos, vem da Europa. No século XVIII, já era comum entre os portugueses a expressão literatura de cego, por causa da lei promulgada por Dom João V, em 1789, permitindo à Irmandade dos Homens Cegos de Lisboa negociar com esse tipo de publicação.

17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Depois da publicação do artigo 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes, segue uma versão mencionando frases que um ansioso dificilmente dirá. Lembra-mos, entretanto, que esse tipo de sintomatologia, quando atrapalha o bem estar e a vida da pessoa, merece atenção especial e tratamento.

1. “Vamo, vai estar lotado, vai ser legal”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

2. “Nossa, ando com a cabeça tão tranquila”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Pode acontecer, mas é tão raro que provavelmente a pessoa nunca vai verbalizar.

3. “Não precisa fazer massagem aí não, eu não tenho dor nas costas”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Se um ansioso te falar isso provavelmente é porque sofre mais com a gastrite do que com a tensão.

4. “É só uma preocupaçãozinha boba, logo passa”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Hahahahah, preocupaçãozinha é uma palavra inexistente no vocabulário de um ansioso.

5. “Magina chefe, podemos conversar sobre isso amanhã”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Te garanto que o ansioso passaria uma noite em claro se dissesse isso.

6. “Nossa, acordei muito bem disposto”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

UM SONHO: ACORDAR FELIZ E BEM DISPOSTO.

7. “Nossa tive uma noite de sono não tranquila”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Vida ansiosa = sono ansioso.

8. “Não tá perfeito, mas dá pro gasto”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

IMPOSSÍVEL.

9. “Estou aproveitando o momento, sabe?”

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Se você soubesse o esforço que é não ficar se preocupando com todos os problemas do mundo saberia que um ansioso nunca falaria essa frase.

10. “Nossa, o dia rendeu muito, eu estava super concentrado”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

DU-VI-DO.

11. “Foi a escolha mais fácil que eu fiz na vida”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Nenhum ansioso tomou uma decisão rapidamente.

12. “Ela não me respondeu mas tudo bem, quem sabe um dia”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Além de nada ansiosa, essa pessoa é também desapegada.

13. “Consigo fazer tudo porque faço uma coisa de cada vez”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Até parece.

14. “Acho que minha principal característica é a espontaneidade”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Um legítimo ansioso que é espontâneo sempre = difícil.

15. “Acho tão tranquilo esperar, não sei porque as pessoas reclamam tanto”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Quanto mais tempo esperando, mais tempo para pensar nos problemas.

16. “Acho que esqueci a janela aberta, mas dá nada, depois é só secar”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Tal situação acabaria com o dia de um ansioso, pode ter certeza.

17. “Nossa, nada melhor do que estabelecer prazos rígidos e uma pressãozinha para eu funcionar”.

contioutra.com - 17 frases que você NUNCA vai ouvir de um ansioso

Vai nada, vou chegar em casa e vai ter um mar de água para secar.

Fonte indicada: Buzz Feed

Homem mantém seu cão-guia que ficou cego e agora os dois compartilham um cão-guia

Homem mantém seu cão-guia que ficou cego e agora os dois compartilham um cão-guia

Que os cães são os melhores amigos do homem, isso nunca foi segredo para ninguém. Mas para algumas pessoas, os cães além de melhores amigos cumprem a incrível missão de fazer o papel dos olhos de seus donos.

É o caso de Edward, cão guia de Graham Waspe. Durante seis anos, Edward foi os olhos que faltavam para Waspe. Até que por uma reviravolta do destino, Edward adquire catarata e acaba cego, como seu tutor.

As pessoas mais sem coração diriam: “Troca de cão guia, esse daí não serve mais para nada!”

Mas quem escolhe dividir a vida com um cão, seja por mera vontade, ou necessidade como é o caso das pessoas cegas, é contagiada com o amor mais puro e gracioso deste mundo. E Waspe diante deste novo obstáculo de Edward, seu fiel companheiro e literalmente escudeiro, não hesitou em passar por cima deste obstáculo.

E foi aí que a Opal entrou na vida desses dois companheiros. Opal é uma cadelinha de dois anos de idade e agora guia tanto de Graham quanto de Edward, sendo a peça que faltava nessa parceria onde o essencial é invisível aos olhos.

contioutra.com - Homem mantém seu cão-guia que ficou cego e agora os dois compartilham um cão-guia

contioutra.com - Homem mantém seu cão-guia que ficou cego e agora os dois compartilham um cão-guia

contioutra.com - Homem mantém seu cão-guia que ficou cego e agora os dois compartilham um cão-guia contioutra.com - Homem mantém seu cão-guia que ficou cego e agora os dois compartilham um cão-guia
Fonte indicada: Awebic

15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

“O termo “ansiedade” tem várias definições nos dicionários não técnicos: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, entre outros.

Levando-se em conta o aspecto técnico, devemos entender ansiedade como um fenômeno que ora nos beneficia, ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou intensidade, e que tornar-se patológico, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal).

A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações.” (fonte- Minha Vida)

Abaixo, uma listab de 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes. Será que você vai se reconhecer?

1. “Será que a cabeça de alguém já explodiu de tanto pensar?”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Se não, grandes chances da minha ser a primeira.

2. “Me mata mas não fala que precisa conversar mais tarde.”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Enquanto se segura para não fazer xixi nas calças.

3. “Mandei mensagem tem quinze minutos e ela não me respondeu. Será que aconteceu alguma coisa?”.

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

“Foi roubada? Desmaiou na rua? Sequestro?”

4. “Mas tá certinho, né? Precisa mudar alguma coisa? Refazer algo?”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Já sentindo um suador danado com medo de pedirem para refazer algo.

5. “Vou terminar aqui, aí vou ali fazer aquilo e depois vou fazer aquelas três coisas e depois…”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Completamente sem ar.

6. “Nossa, mas não vou chegar em 20 minutos NUNCA.”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

E já começa a sentir uma palpitação.

7. “Minha cabeça vai explodir de tanto que pensei naquilo.”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Enquanto coça o olho meio confuso.

8. “Eu queria tanto ser daquelas pessoas que não planejam nada e deixam a vida levar.”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Sempre quando você terminou de falar todos os seus planos para o final de semana.

9. “Mas nem a pau que eu vou ficar uma hora na sala de espera do médico para que ele me examine.”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

á sentindo a pálpebra direita tremer.

10. “Mas como foi? Quando foi? Como aconteceu? Como assim, você ainda não sabe?”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Sempre revirando os olhos.

11. “Será que eu tranquei a porta? E se eu não tranquei?”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Já se imaginando entrando em casa e encontrando tudo revirado.

12. “Se minha vida dependesse de ter que dormir cedo eu já estaria morta.”

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Muitas noites sem sono pensando que teria que estar dormindo para acordar dali algumas horas.

13. “Realmente não funciono sobre pressão”, já sentindo o braço formigar.

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

14. “Como que pode dormir doze horas e acordar completamente cansado?”.

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Uma vida toda fazendo cosplay de zumbi.

15. “Tô tranquilo. Sério, tô tranquilo MESMO. Sério, dessa vez vai ser diferente. Tranquilão aqui”.

contioutra.com - 15 frases que todo ansioso já disse um milhão de vezes

Também conhecido como autoenganação eterna.

Fonte indicada: Buzz feed

Imagem de capa:Nicoleta Ionescu/shutterstock

O que há por trás da irritação frequente?

O que há por trás da irritação frequente?

Por trás de toda irritação há algum grau de frustração. Nós nos irritamos porque nos sentimos incapazes de controlar alguma situação ou pessoa. Isso é claro. Também é claro que todos nós, absolutamente todos, temos momentos de mau humor de vez em quando. Pequenas explosões de caráter que podem ser muito saudáveis quando são originadas por uma causa razoável.

Mas o que acontece quando a irritação não acaba? Quando permanecemos quase todo o tempo com a testa franzida, os olhos entreabertos e procurando alguma briga? Será que pertencemos a esse grupo de “resmungões por natureza” ou há algo mais aí?

Por trás de uma irritação frequente, pode haver mais do que uma frustração passageira; o que pode estar escondido é uma depressão encoberta.

A irritação crônica

Em algumas ocasiões, o mau humor não é algo de momento, mas se estende por semanas, meses ou anos. Às vezes, o incomum não é que tenhamos esses incêndios repentinos em nosso caráter, mas sim que consigamos manter a serenidade. A irritação vai se transformando em nossa maneira normal de ser diante da vida. Tudo nos incomoda, ficamos irritáveis e perder a calma é o que acontece com mais frequência.

Nesse caso, a irritação não está direcionada contra uma pessoa ou uma situação em particular. A pessoa simplesmente sente tudo o tempo todo, experimentando intolerância, aborrecimento e tédio.

Por sua vez, expressa-se por meio das atitudes clássicas: gritar, permanecer inquieto, tenso, ter sempre à mão um comentário de auto-desqualificação ou de crítica para os demais. Fisicamente, manifesta-se por meio do cenho franzido permanentemente, problemas digestivos e, muito provavelmente, dificuldades para dormir adequadamente.

Se esse é o seu caso, o mais provável é que não esteja irritado com o mundo: na realidade, está irritado consigo mesmo.

As razões que lhe impulsionaram a criar inimizade internamente com o que você é certamente tem a ver com os modelos mentais que gerencia inconscientemente. Há parâmetros que você escolheu para avaliar a si mesmo, sem ter muito claro o porquê, e que só estão servindo para reprovar a si mesmo mais uma vez. Também há experiências não resolvidas em seu passado. Por isso você se irrita, mas não sabe.

O fogo e a chama

Não é o caso de entrar e analisar aqui todas as possíveis razões pelas quais você decidiu se transformar em um dos seus piores inimigos. Está na profundidade da sua mente, no mais remoto da sua história. Mas o que, sim, podemos esboçar é pelo menos uma pergunta “por que são tão válidas as razões que o levam a manter-se irritado?”

Esqueça os demais, porque eles nunca vão se comportar exatamente como você quer ou pensa que devem se comportar. Os outros são somente uma desculpa que você utilizou para poder expressar a sua irritação. Não são as suas falhas, nem a crise econômica, nem a tensão bélica na Coréia que lhe deixam irritado.

Simplesmente, você tem uma ideia do “dever ser” na vida e não consegue se ajustar a ela. Isso faz com que se sinta terrivelmente mal; você não só se julga severamente, mas também se culpa e se atormenta. Paradoxalmente, seu ego gigantesco não o permite que se compreenda, nem que se perdoe.

A ira é como um fogo interno que arde. Um elemento capaz de dar calor ou de arrastar o que se encontre pelo seu caminho. Essa raiva indefinida é também uma força interna da qual não conseguiu se apropriar. Pode ser o motor de grandes ações, mas também a brasa onde se consomem os melhores momentos da sua vida.

Há um assunto que está pendente com você mesmo, não com os demais. Você deve resolvê-lo e, provavelmente, precisará de ajuda para isso. O que está esperando?

 
 Fonte indicada: A mente é maravilhosa

INDICADOS