As curiosidades da vida de Édith Piaf

As curiosidades da vida de Édith Piaf

Por Daniela Costa

Édith Piaf teve uma carreira recheada de sucessos, mas há algumas curiosidades na sua vida que provavelmente você desconhece. Saiba mais sobre ela no aniversário dos 100 anos do seu nascimento.

É uma das cantoras de referência francesas e, apesar de ter falecido na década de 1960, a sua fama persiste até aos dias de hoje.

Piaf teve uma vida cheia de histórias. Lenda ou verdade, saiba algumas curiosidades da vida dessa grande cantora.

1. O nascimento de uma estrela

Conta a história que Édith Piaf nasceu na calçada da Rue de Belleville 72, em Paris, quando a sua mãe procurava ajuda por se encontrar em trabalho de parto. No entanto, a sua certidão de nascimento refere que Piaf nasceu no Hospital de Tenon, local que se situa em Belleville.

2. Nome de enfermeira

Acredita-se que o seu nome, Édith, foi escolhido como homenagem a uma enfermeira britânica, que foi executada por ajudar soldados franceses a escapar dos alemães na Primeira Guerra Mundial.

3. Uma família pouco tradicional

Filha de mãe cantora em cafés e de pai acrobata com experiência em teatro, diz a história que a pequena Édith foi abandonada pelos pais ainda bebé, tendo ficado aos cuidados da avó materna durante 18 meses. O pai de Piaf, antes de se alistar no exército, levou-a para os cuidados da avó paterna, proprietária de um bordel, na Normandia. Nesse tempo, eram as prostitutas do bordel que tomavam conta do bebê.

4. A cegueira que chega na infância

Diz a lenda que Édith Piaf ficou cega quando era criança por causa de uma ceratite (inflamação na córnea). A cura chegou quando as prostitutas com quem viviam a levaram a rezar no túmulo de Santa Teresinha. A cantora foi devota desta santa durante toda a sua vida.

5. Uma jovem que não estava preparada para ser mãe

Com 17 anos, Édith deu à luz a sua única filha, em 1933, que batizou de Marcelle, fruto da sua relação com Louis Dupont, um entregador. A menina viria a padecer de meningite aos dois anos de idade.

6. “La Môme Piaf”

Édith foi descoberta pelo dono do cabaré “Le Gerny’s”, Louis Leplée, quando cantava na rua. Foi nesse momento que a sua carreira artística melhorou substancialmente. Foi ele que a batizou de “La Môme Piaf” (O pequeno pardal), uma vez que a cantora media apenas 1,47 m. Mas foi Raymond Asso que, mais tarde, mudou o seu nome artístico para Édith Piaf.

7. Às voltas com a justiça

Em 1936, Louis Leplée é assassinado em casa e Édith Piaf é acusada de ser cúmplice da sua morte. A cantora acabou por ser absolvida destas acusações. No entanto, este episódio chamou sobre si muita publicidade negativa, que Piaf conseguiu superar.

8.  Charles Aznavour, o motorista

É um dos músicos referência na França mas, em 1951, Charles Aznavour era um aspirante a cantor que tinha sido contratado como assistente e motorista de Édith Piaf. Foi a cantora que impulsionou a sua carreira.

9. Os casamentos da diva

Édith Piaf casou duas vezes. O primeiro marido foi o francês Jacques Pills e a madrinha de casamento foi a célebre atriz Marlene Dietrich. O segundo marido da cantora foi Theo Sarapo, um cabeleireiro de origem grega, 20 anos mais jovem. Diz-se que, após a sua morte, apesar de Piaf ser católica, foram proibidas as obséquias religiosas por ser divorciada. No entanto, o Arcebispo de Paris autoriza a presença de um padre no cemitério para rezar pela artista.

10. A morte em Paris

Édith Piaf sempre tinha manifestado o desejo de morrer em Paris, mas quis o destino que a morte da artista chegasse quando a cantora de encontrava em Plascassier, em Grasse, nos Alpes, a 10 de outubro de 1963. O seu corpo foi movido em segredo e a sua morte anunciada no dia seguinte, 11 de outubro, em Paris.

Fonte indicada: Sapo

Carrego o mundo nas costas e ninguém reconhece

Carrego o mundo nas costas e ninguém reconhece

“Faço tudo por tal pessoa, penso nela primeiro do que em mim, carrego o mundo nas costas, e, em troca, recebo maus-tratos e ingratidão.”

Sempre que ouço isso, lembro de quando viajava muito a trabalho e ao sentar no avião eu ouvia: “Em caso de despressurização do ar, máscaras de oxigênio cairão à sua frente, coloque-a sobre sua boca e nariz para só então auxiliar crianças, idosos e quem necessitar”.

Pela minha natureza empática e pelo meu vício de “cuidar dos outros primeiro”, ficava inconformada com tamanho egoísmo. Como deixar uma criança ou um ser amado morrendo ao seu lado enquanto você cuida do seu próprio bem estar primeiro?

Com essa minha inquietação, eu tocava a vida seguindo as instruções de voo, sem jamais entender que eram instruções a serem seguidas também em terra firme, na vida prática.

Quando “a ficha caiu” já tinha experimentado um número sem fim de frustrações e ingratidão. A vida não funcionava bem, simplesmente não engrenava nada. Eu me doava e me desdobrava e não recebia nem um mísero “valeu aí”.

Um dia, desolada com uma enésima frustração, me sentei num voo para “esquecer a minha doação não reconhecida” e foi bem ali, ao ouvir as instruções de voo, que concluí que para sobreviver em todos os aspectos da vida é preciso usar o que chamei de:

TEORIA DO AR DESPRESSURIZADO

É bem simples. Num ambiente onde há despressurização do ar, a falta de oxigênio leva o ser humano a perder os sentidos rapidamente, cessando em seguida suas funções cerebrais. Ou seja, ao se deparar com uma situação de emergência em pleno voo, se você não colocar sua máscara rapidamente, morrerá e morto, não poderá ajudar as pessoas que são necessitadas, levando-as também, à morte.

Assim funciona nas relações interpessoais em pleno voo da vida. Ao esquecer-se de si para alimentar primeiro a necessidade do outro, você deixa de suprir-se da energia vital necessária para continuar vivo de modo a poder dar ao outro aquilo que já se deu.

Portanto, passageiros e passageiras desse lindo voo chamado vida, quando acharem que estão “carregando o mundo nas costas, dando mais do que recebendo e cuidando primeiro dos outros”, fazendo com que lhe falte o mínimo de energia necessária para manter seu próprio sorriso no rosto, lembrem-se da “teoria do ar despressurizado” e coloquem imediatamente sua máscara de oxigênio. RESPIRE pela boca e pelo nariz, sinta-se FORTE e CONSCIENTE, de modo a ter condições para preservar a vida e a alegria de pessoas importantes: VOCÊ e as pessoas que você ama.

 

15 palavras que mudam de sentido após os 30 anos (ótima)

15 palavras que mudam de sentido após os 30 anos (ótima)

1 – Tarde

Antes: entre as 03:00h e 04:00h da madrugada.

Agora: qualquer hora depois das 23.00h da noite.

2 – Friends

Antes: aquela serie de televisão sobre pessoas que pareciam tão tão tão velhas.

Agora: uma série sobre pessoas mais novas do que eu.

3 – Protetor solar

Antes: Protetor de fator 10 passado só nas zonas mais sensíveis antes de chegar à praia.
Agora: Besuntar o corpo todo com fator 50 e repor várias vezes ao longo do dia de praia.

4 – Estar bêbado

Antes: beber diversas cervejas e bebidas destiladas.

Agora: beber dois copos de vinho branco com o estômago vazio.

5 – Jovens

Antes: aqueles que estavam na escola secundária.

Agora: literalmente todas as pessoas com vinte e poucos anos.

 

6 – Metabolismo

Antes: algo muito bom que permite comer e beber o que se quiser.

Agora: uma maldição que faz com que a pizza e as pipocas vão diretamente para as pernas, a barriga e o bumbum.

7 – Rejeição

Antes: Algo que me afetava completamente.

Agora: que venha o próximo/a.

8 – Azia

Antes: Aquilo de que os seus pais se queixavam.

Agora: Ai meu deus, não aguento mais..!

9 – Quando eu tinha a tua idade

Antes: aquilo que se dizia ironicamente.

Agora: aquilo que se diz com total sinceridade e melancolia.

10 – Apagado/Morto

Antes: o excesso de bebidas alcoólicas que levavam à perda de memórias de certas partes da noite anterior.

Agora: estar cansado demais e ir dormir  às 20:00h, ainda com a roupa do trabalho.

11 – Creme para rugas

Antes: aqueles produtos que a sua mãe comprava sem parar.

Agora: conversa que tem com as suas amigas quando toma café.

12 – Olheiras

Antes: aquilo que ficava sob os olhos quando não dormia o suficiente.

Agora: aquilo com que acorda todos os dias.

13 – Acordar cedo

Antes: acordar às 07:00h para ir para as aulas.

Agora: acordar às 6:30h para chegar cedo ao mercado e levar os melhores vegetais e peixe fresco.

14 – Show

Antes: curtir a noite toda.

Agora: eu só quero sentar e apreciar um pouco de boa música.

15 – Divórcio

Antes: aquilo que acontecia aos seus pais ou pais dos seus amigos.

Agora: aquilo que acontece com você e com os seus amigos

Artigo adaptado para o português-BR pela CONTI outra. Fonte original Sapo/ MustStrazzera

Imagem de capa: Alice Mason

Pássaros engaiolados

Pássaros engaiolados

Meu pai gostava, assim como inúmeras pessoas gostam, de ter pássaros em casa. Através de suas gaiolas ele admirava a beleza e o canto.

Eram bem tratados, tinham água e comida.
Mas, não tinham algo indispensável: a liberdade!

Como meu pai tinha pássaros em casa, em especial canários belgas, cresci acostumada a ouvir o trinar e o lindo canto deles e nunca havia parado para pensar na liberdade que eles deveriam ter.

Um dia, meu irmão escreveu um texto para um jornal local comentando sobre esse assunto, e comparou a prisão de pássaros à prisão de seres humanos.

Bem, a prisão de pessoas se torna necessária dado às suas atitudes delinquentes. Mas, não é da natureza humana, ficar aprisionado, como não o é também a natureza das criaturas aladas.

Diziam que os canários belgas não sobrevivem se fossem libertos, mas, e se nunca tivessem ficado presos numa gaiola? Pensei!

Fomos feitos dotados da necessidade de liberdade, assim como os pássaros necessitam alçar voos , cantar livres e se acasalarem.

Por mais que, às vezes, desejemos ter em casa um pássaro de estimação, é bom pensarmos com sensatez que eles nasceram com a genética da liberdade de voar livres, de cantarem soltos…

Vamos apreciar os pássaros nas árvores, em praças, jardins, nas matas…
Que fiquem livres para o voo ao vento, assim como queremos ser livres na terra.

Medo, todo mundo tem! E criança tem também!

Medo, todo mundo tem! E criança tem também!

O medo é um sentimento orgânico. Sua manifestação provoca reações emocionais e físicas, além de alterar a nossa percepção do mundo ao redor. Não há quem nunca tenha experimentado o medo, em alguma esfera, intensidade ou circunstância. E, para compreender minimamente este senhor tão antigo quanto implacável, é preciso antes respeitá-lo e, sobretudo, abrir mão de julgá-lo.

De uma hora para outra, aquele bebê risonho e sociável muda de comportamento; começa a estranhar pessoas que não estranhava antes, parece assustado, esconde o rostinho no colo seguro; por vezes, a rejeição é  tão forte que o bebê chega a apresentar um choro sentido e expressivo. Essa alteração de comportamento costuma surgir por volta de seis a oito meses de idade e está relacionada com o desenvolvimento motor e emocional da criança. Nessa fase o bebê inicia um processo de percepção de si mesmo como uma outra pessoa e, não mais, como uma extensão de sua mãe. Assim, é natural que surja um sentimento ligado à sensação de ameaça, quando se está diante de alguém desconhecido. A mudança é motivo de comemoração, visto que este comportamento está relacionado ao amadurecimento das funções motoras, neurológicas e emocionais do bebê.

É no oitavo mês de vida que a criança passa a manifestar medo de ficar sozinha. Isso acontece porque é nesse período que ela começa a se socializar e expressar real interesse pela presença e companhia do outro. A criança chega a sonhar que está sem os pais nesta fase, e fica muito angustiada com isso. No entanto, é  preciso entender que o sonho com a separação dos pais é outra manifestação de amadurecimento que se baseia no desejo de explorar o mundo.

Dos oito meses até aproximadamente um ano, além da perda dos pais manifesta durante o sono, a criança pode passar a temer perdê-los durante o dia também. A explicação vem do fato de que os pequenos acreditam que as pessoas desaparecem quando saem de seu campo de visão. Situações e lugares novos também costumam causar algum desconforto nessa fase; por isso, é importante que as novidades sejam apresentadas na presença dos pais ou do cuidador do bebê.

É bem nessa deliciosa fase que vai de um a três anos, quando a criança se torna um explorador do mundo que pode surgir o medo de máscaras ou pessoas fantasiadas; esse desconforto é explicado pela falta de intimidade da criança com tudo o que é diferente ou exagerado.

Já maiorzinhos, entre três e cinco anos, é comum a manifestação do medo de monstros, fantasmas, bruxas, trovão, de se perder. Esses medos têm relação com o imaginário, pois nessa fase de desenvolvimento a criança vai experimentando e começando a perceber o que é verdade e o que é fantasia. Assim, a fonte do temor ora é fantasiosa, ora é absolutamente real.

Dos cinco anos em diante, os pequenos podem ser mais facilmente atingidos pelas ameaças que fazem parte do mundo dos adultos. Por isso passam a ter medo de bandidos, de serem esquecidos na escola, de desastres naturais e da violência. Esses temores entram para o repertório da criança porque nessa faixa etária ela fica muito interessada pelo “mundo dos grandes”; e, junto com o fascínio pelas profissões, pela habilidade de dirigir um automóvel ou tomar decisões, vem uma maior aproximação com as tragédias cotidianas.

A partir dos seis ou sete anos, a criança entra em contato com o medo da própria morte mas, principalmente da morte dos pais; e, também tem horror a ser criticado, não agradar ou perder o amor do pai e da mãe. Esse temor vem com a percepção que a criança tem de que há situações irreversíveis que assolam as pessoas. E o receio de não agradar é uma manifestação íntima da percepção que a criança possui de que o amor dos pais depende de seus êxitos e comportamentos adequados.

As crianças de oito ou nove anos têm uma consciência mais ampliada acerca dos perigos e complicações que nos rondam. Elas sofrem com a possilidade dos pais se separarem, perderem o emprego, ficarem doentes ou sofrerem um acidente. Temem também pela segurança daqueles que amam e sofrem com a possibilidade de perder os amigos ou serem deixados de lado pelo grupo. São medos muito mais racionais e ligados à elementos que permeiam a vida afetiva e os relacionamentos.

Diante de tantas variações e modulações relativas ao medo no decorrer da infancia, é natural que surjam dúvidas acerca da melhor forma de lidar com cada situação.

No caso do bebê que começa a estranhar as pessoas ou manifestar medo, entra a sabedoria de compreender que tudo que essa pequena criança precisa é de tempo e da garantia de estar inserida num ambiente seguro, para que as pessoas, situações e experiências novas sejam vividas com tranquilidade e prazer; diante do desconforto do bebê, nunca force um enfrentamento; acolha-o,  respeite-o e conduza-o com afeto a cada nova descoberta.

Quando a criança maiorzinha ficar com medo do palhaço na festa de aniversário, da bruxa no filme do cinema ou do Papai Noel no shoping,  entenda que ela está buscando entender o que existe de fato, o que existe só no livro de histórias fantásticas e o que existe só na sua imaginação. Ajude-a a fazer essa “leitura” do mundo. Uma estratégia simples que pode ajudar muito é levar a criança a uma loja de fantasias e deixar que ela olhe, explore, toque, experimente. Fazer fantasias improvisadas em casa também pode ser uma atividade lúdica e prazerosa para ajudar a administrar este temor.

Os medos do cotidiano, como ser esquecido na escola, sofrer um assalto ou perder-se dos pais precisam ser tratados como são: reais e eventualmente passíveis de acontecer. Assim, diante de um temor dessa natureza, é  necessário garantir à criança que ela sempre poderá contar com a proteção de um adulto conhecido; a garantia de segurança ajuda a criança a equalizador o medo. Outra orientação, igualmente importante é ter o cuidado de filtrar os conteúdos a que a criança tem acesso pela televisão, computador e outros veículos de mídia. Assistir a noticiários sensacionalistas, assistir filmes ou fazer uso de games violentos não traz nenhum tipo de benefício.

O medo de não ser aceito costuma ser mais frequente do que se imagina. Assim é preciso refletir sobre as dinâmicas da família para lidar com o erro, o fracasso e as frustrações. Pais extremamente exigentes e competitivos criam filhos ansiosos, tensos e cheios de dificuldades de auto aceitação. Pais extremamente permissivos ou superprotetores, criam filhos frágeis emocionalmente, inseguros diante dos desafios da vida e incapazes de lidar positivamente com as inevitáveis frustrações. Num caso ou no outro, as crianças crescem despreparadas para vivenciar situações não planejadas ou que exijam delas que se posicionem e façam escolhas; serão adultos com medo de crescer e enfrentar a vida.

O medo é componente desse caldo de emoções que modulam a nossa personalidade. Uma porção adequada dele nos é necessária, pois nos faz buscar proteção diante de uma situação de perigo real. Precisamos compreender que toda manifestação de medo é legitimamente humana; merece respeito, acolhimento e disponibilidade para estender a mão e ajudar aquele que sofre a comprendê-lo, seja para administrá-lo ou libertar-se dele.

Entre vítima ou refém, escolha ser livre!

Entre vítima ou refém, escolha ser livre!

Toda liberdade tem seu preço e em igual medida, seu valor.
Quando você diz que escolhe ser livre, diz também que vai ser preciso discordar muito, transgredir um pouco, decepcionar às vezes, contrariar um monte, espantar, escandalizar, atrapalhar planos, fechar ciclos, quebrar paradigmas, destruir tabus. Não é pequeno o estrago que a liberdade produz.

Para ser livre, não se pode entregar os comandos da vida a nada ou a ninguém. Não se pode ser vítima do outro, nem da própria fraqueza, tampouco trapacear, fingindo-se frágil e incapaz, terceirizando responsabilidades e decisões.

Liberdade é poder esticar os braços e as pernas e nenhum obstáculo interferir.
Liberdade é levar os pensamentos até onde desejar e, no retorno, vê-los transformando-se em ações e resultados.
Liberdade é encarar com altivez os monstros que nos espreitam, fazer escolhas e sustentá-las, não se entregar às lábias, não se entregar ao canto da sereia.

Sempre que se abre mão da liberdade, alguém a toma para si. E desse alguém viramos vítimas, reféns, escravos, criaturas submissas, sem voto nem opinião.
Há quem acredite nas vantagens de uma vida assim. Mas há cada vez menos. Quem já desfrutou do gostinho da liberdade, mesmo que momentânea, não volta para o cativeiro. Não por sua própria vontade.

A escolha é tão difícil quanto recompensadora. Libertar é romper, cortar, rasgar, puxar e empurrar. É ocupar um espaço individual, solitário, silencioso, espelhado. Nada se esconde neste espaço. Tudo fica à mostra e tudo lhe pertence. O bom e o ruim.

Mas libertar é também escolher, decidir, ir, voltar, girar, dançar, flutuar, gritar e calar, sem consentimento ou reprovação. Libertar é estar no espaço ocupado, o espaço individual, solitário, silencioso e espelhado, e ainda assim se sentir dono e propriedade do mundo. Não ser de ninguém.

Ser livre é assustador, no entanto, ser refém, propriedade, vítima ou qualquer outro nome que possa se dar, é não ser nada, é ser utensílio em mãos alheias.
Faça a sua escolha.

Quando o Santo não bate.

Quando o Santo não bate.

Às vezes não adianta. Não bate mesmo. Na pausa do – Muito prazer! – da pessoa a gente percebe que não vai com a cara dela e pronto. E estranhamente a gente começa a cavoucar os defeitos, procurar ironias, atento a uma opinião que a gente possa demonizar. A gente procura até que encontra um motivo, ou milhares, que confirmem aquele azedume precoce. Nosso santo não bate, minha filha.

Há uns anos cruzei com o Marcelo no aeroporto. Ambos íamos de Brasília pra Palmas. Não posso dizer que não gostava dele. Eu não o conhecia. Mas nem precisava: o tal do santo não batia de jeito nenhum. Nossos tantos amigos em comum só tornavam a implicância mais estranha ainda. Mas eu permaneci no meu papel de manter-me a uma distância segura. Distância que ele cruzou com seis palavrinhas mágicas – Porque você não gosta de mim? – gelei – Eu não tenho nada contra você Marcelo. A gente só não se conhece, né? – parecia primitivo demais admitir pra ele o real motivo.

No saguão da sala de embarque ecoou o aviso de que nosso voo havia sido mudado de portão, atrasado, atropelado uma garça, ficado preso no Nepal. O universo me queria ali, em banho-maria de constrangimento. Marcelo me chamou pra um café e ficamos ali conversando por cerca de duas horas. Reclamando do atraso juntos. Rindo das mesmas situações. Adorando os mesmos autores. Até aniversário a gente fazia no mesmo dia. Marcelo, para meu pavor, era um cara muito bacana. E eu nunca me senti tão pequeno.

Claro, às vezes o santo que não bate tem fundamento. E ele já nos livrou tantas vezes de gente esquisita. Mas entre seus acertos, penso eu, quantos erros cometi pela vida? Quanta gente foi taxada de antipática por ser tímida? Quanta gente passou por grosseira por estar em um mau dia? Todo mundo pode ter um dia bem ruim. Quanta gente foi repelida por um dizer que a gente escutou errado? Quanto amor abortado antes mesmo de vir à luz? Quanta chance perdida? Quanta gente querida que passou sem nem mesmo ter tempo de encostar-se na vida da gente? Quanta verdade perdida por preguiça, medo ou intolerância nossa? Quantas meias verdades vendidas a preço de ouro?

Perdão a todos vocês que foram vítimas minhas da primeira impressão. É ela que fica, mas não devia. Todo mundo pode errar e isso não o tornar uma pessoa má. Todo mundo pode acordar por dentro de um dia ruim. Inclusive a gente. Inclusive a nossa intuição. Às vezes nosso santo não bate por pura preguiça de olhar para os nossos próprios pecadinhos.

Pelo direito de ser você mesma

Pelo direito de ser você mesma

Enrolei muito para escrever sobre gordofobia, que é algo tratado como “bobagem” e mimimi por quem nunca sofreu na pele algum tipo de discriminação ou constrangimento pelo seu peso.  Esse texto não é polarizado, não é uma ode ao ganho de peso e nem uma censura à perda dele. A busca é começar um diálogo, falar da importância da sororidade e sinalizar a opressão que está acontecendo.

Estamos massacrando umas as outras por estarem acima do peso e do padrão de beleza considerado como “aceitável”. Precisamos conversar sobre isso quando mulheres são destratadas, discriminadas e são alvo de preconceitos por uma marca que é ícone fashion carioca, que é considerada uma das marcas mais influentes de moda jovem feminina.

Em tempos que blogueiras fitness tem milhares de seguidores no Instagram e no Youtube, deixando claro o crescente interesse de alcançar aquele corpo idealizado. O preocupante não é a viralização do que elas postam, mas o poder de influência que essas blogueiras têm. Elas dão dicas para treinos, dietas e detox com uma restrição que beira ao radicalismo, padronizando dietas que deveriam ser individualizadas.

Fazendo parecer que é apenas seguir um “manual de instruções” que iremos alcançar o peso ideal, mas na realidade não é bem assim que funciona. Pode até funcionar um período, porque essas dietas restritivas causam um efeito rebote quando são quebradas. Como nós sendo tão diferentes, podermos fazer a mesma dieta e querer que funcione?

A nossa diversidade é tão rica, e o poder da nossa individualidade é o que nos torna únicas, mas apesar disso, o padrão vendido é um só, a receita é uma: a perda de peso, às vezes em detrimento da própria saúde, a busca desenfreada pelo corpo ideal, como ser magra modo de usar.

Isso é arbitrário, a imposição de um padrão de beleza absoluto, sendo que nós somos milhares e não poderíamos ser mais diferentes entre si. O estereótipo vendido obriga se enquadrar nessa padronização, nessa camisa de força para ser considerada desejável ou atraente.

O importante não é ser magra, o que importa é ter saúde, é amar cada pedaço de si mesma, é não ter vergonha da própria imagem refletida no espelho. É escolher o que é melhor para você e não o que a mídia, a moda te impõe como padrão de beleza. Afinal essa não é apenas uma questão estética, é um assunto de saúde pública, pois meninas e adolescentes adoecem e por vezes, morrem oprimidas por um padrão inatingível de beleza.

Nós mulheres temos que pensar na mensagem que estamos reproduzindo, conscientemente ou não. Repensar se nós temos que emagrecer para caber nas roupas ou se as roupas que devem ser feitas para caber no nosso corpo?  Que imagem queremos passar para as meninas, para as adolescentes, que só existe um modelo de corpo ideal, que só existe um padrão aceitável de beleza, que uma mulher só é considerada bonita se ela for magra? Ou iremos mostrar outros tamanhos, outras curvas, outros corpos e finalmente rompermos com esse padrão engessado e mostrarmos que mulher bonita é mulher à vontade na própria pele, independente do seu peso e suas medidas?

Cada corpo tem uma história, cada quilo a mais ou menos, cada marca de expressão, cada olheira, cada cicatriz, cada peça desse quebra-cabeça conta a nossa trajetória, como chegamos até aqui. A vida não é simplista, nem as pessoas, nem suas bagagens de vida. A gente tem que respeitar a história das pessoas! A gente não deve projetar nossos ideais particulares do que é belo ou atraente no outro, usar nossa régua para fazer o outro se sentir mal. Devemos parar com a insatisfação seletiva e nos colocar no lugar do outro.

Você acha bonito ser magra? Maravilha, mas não desqualifique quem não estiver no seu padrão ideal, use-o somente para você. O seu corpo é seu, o meu corpo é território meu, me deixe ser o que sou e permita me emancipar com ele.

Não vamos oprimir as outras mulheres, os meios de comunicação e a indústria da moda já fazem isso sem precisar da nossa ajuda. Não vamos competir com outras mulheres, humilhá-las por não ser magras, o machismo já nos segrega e objetifica desde sempre.

Nós temos que ser amigas uma das outras e não rivalizar em uma quebra de braço invisível. Estamos começando a nos dar conta que juntas somos mais fortes, somos irmãs e que a sororidade nos torna uma potência. Enquanto uma mulher for oprimida, seja em qualquer esfera, nenhuma de nós está livre.

O feminismo nos dias atuais é só um sinônimo para igualdade de gênero, isso implica também nos direitos e não só nos deveres como tem sido. Cada vez que usamos a empatia, quando somos solidárias e defendemos umas às outras nos fortalecemos e enfraquecemos a sociedade patriarcal, o machismo, o sexismo, a misoginia. E damos mais um passo na direção do que queremos ser. Livres, para sermos quem quisermos.

Verdades que parecem mentira

Verdades que parecem mentira

A vida nos reservas inúmeras surpresas, muitas delas agradáveis, outras nem tanto. E ainda haverá aqueles momentos em que não seremos capazes de compreender o porquê daquilo que acontecerá conosco, quando encararemos certas constatações inevitáveis que teimamos em negar ou em deixar esquecidas. Não adianta, acabaremos, cedo ou tarde, carregando conosco o peso das decepções e a dor da incompreensão, no entanto, sobreviver a tudo isso com vida nos trará esperanças renovadas.

Parece mentira, mas muitas pessoas irão usar contra nós tudo o que dissermos, descontextualizando nossas frases e jogando-as de volta em situações que nos fragilizarão, pois distorcerão nossas verdades injustamente. Isso provavelmente virá de quem nos é alguém próximo, íntimo, especial, o que aumentará o peso de nossa dor. Será o preço que pagaremos por nem sempre confiarmos nas pessoas certas.

Parece mentira, mas quem diz nos amar para sempre poderá destruir nossos corações sem aviso prévio, deixando-nos sozinhos, traindo nosso corpo, nossa confiança, jogando fora tudo o que construímos em troca de uma vida mais cômoda, de uma outra pessoa qualquer, de apelos ilusórios do mundo lá fora do relacionamento. Será uma possível e dolorosa experiência a que estaremos sujeitos, por sermos fiéis e adeptos do amor para a vida toda.

Parece mentira, mas nos depararemos com a ingratidão de pessoas a quem ajudamos, em quem confiamos, a quem demos as mãos durante as ventanias, sendo cobrados por não termos dado ainda mais de nós, como se não tivéssemos nos doado o quanto poderíamos e deveríamos. Nossa doação voluntária será então confundida com um dever para uma vida toda, algo a que estaremos obrigados de forma vitalícia; e tudo se anulará quando não respondermos às expectativas alheias. Será uma reação indigesta que colheremos por não sermos egoístas.

Parece mentira, mas seremos julgados por nossa posição social, por nossa etnia, por nossos estilos de vida, pelas escolhas que fizermos, mesmo que não machuquemos ninguém, mesmo que se trate apenas de nossa própria vida. Cobrarão de nós que ajamos de acordo com o que as convenções sociais preconizam, mesmo que aquilo fira as nossas convicções, mesmo que aquilo tudo nada tenha a ver com os nossos sonhos, com a direção de nossos desejos, com as verdades que nos dignificam e nos constituem. Será uma indignação alheia incompreensível que nos acompanhará, por nossa coragem de viver o que temos dentro de nós.

Ninguém disse que a vida iria ser fácil, mas haverá decepções que nem cogitaríamos poder existir, com quem deveria tão somente nos apoiar ou então nos deixar em paz e seguir seu rumo. Teremos pela frente muitos dissabores, encontraremos pessoas infelizes, maldosas e que tentarão nos desestruturar, sem mais nem porquê. Cabe-nos manter firme nosso propósito em ser feliz e em encontrar quem nos tornará a vida mais especial e fácil de viver. Porque ninguém será capaz de nos desviar de nossas buscas, quando estivermos certos do que e de quem realmente queremos para nós.

Quando é a mãe que chora – uma breve reflexão sobre o primeiro dia de aula

Quando é a mãe que chora – uma breve reflexão sobre o primeiro dia de aula

Lancheira na mão, cabelinho penteado para o lado e uma bela cara de sono. É assim que começa nossa jornada pelo aprendizado, e é assim que saímos na calorosa foto do primeiro dia de aula, que toda mãe tira e guarda com orgulho do seu pequeno prodígio.

Tudo muito bonito, até a fatídica hora em que a “tia da escolinha” chega e o momento do adeus é anunciado pela primeira vez. Digo fatídica pensando principalmente na dor da mãe, essa que chora ao deixar seu bebê pela primeira vez na escolinha, e que ao mesmo tempo conta para as amigas com orgulho que o filhote a deixou a foi para os braços da professora com alegria. Dor essa que se tornou naturalizada, vindo muitas vezes acompanhada de uma aceitação do sofrimento, como se sofrer na ausência do filho já fosse algo intrínseco ao fato de ser mãe.

Essa cena bastante comum, que com certeza acontece aos montes por aí, deve ser alvo de, no mínimo, uma breve discussão. Como sabemos (nós todos, no senso comum nosso de cada dia), é fundamental que a criança se separe da mãe e crie laços com outras crianças e aprenda a lidar com a separação da mesma. Até mesmo as mães que choram no adeus sabem disso, mas justificam suas lágrimas pelo “amor incondicional”, e acham que o correto é ser assim; creio que não é bem por aí. Se pensarmos um pouco, o que representa esse choro?

As lágrimas de uma mãe ao deixar o filho na escola podem vir do medo de perde-lo, do medo que ele se machuque ou qualquer coisa ruim aconteça, ou até mesmo pode vir do orgulho de ver que o pequeno está crescendo.

Em alguns casos, pode vir de um sentimento egoísta, de perder algo que lhe pertence. Sim, é bastante comum pensar assim, não é? Toda mãe sente que o filho é “seu”, e que nada pode acontecer com aquele que saiu de seu próprio ventre.

Mas será que o filho pertence mesmo aos seus pais? Afinal, um ser humano pertence a outro ser humano? Encerro com as palavras do poeta libanês Khalil Gibran “Vossos filhos não são vossos filhos.São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma…”

Quando vai ser amor de verdade?

Quando vai ser amor de verdade?

Vai ser amor de verdade se for como o céu. Um dia vai estar nublado, cinza, vai passar por tempestades, pela escuridão, vai parecer desabar. Em outro dia vai estar limpo, azul, com um lindo e brilhante sol que aquece e ilumina. MAS ESTARÁ SEMPRE ALI.

Vai ser amor de verdade se você conseguir estar feliz, mesmo longe de seu amor, porque ele está feliz. E se alguém lhe fizer algo de ruim, vai lhe doer como dói nas mães e você talvez sinta vontade de agredir, de matar o autor das maldades.

Vai ser amor de verdade quando o tempo apagar todas as coisas ruins que seu amor tiver lhe feito, assim como as mães esquecem todas as malcriações de seus filhos e os perdoam infinitamente.

Vai ser amor de verdade quando você compreender que viemos a este mundo para aprender a amar. Amor é verbo intransitivo, já disse Mario de Andrade. Amor é livre, livre de regras, livre de dogmas, livre de ser correspondido.

Amar incondicionalmente é privilégio de poucos, é refúgio dos artistas, é para os grandes de alma, é para as mães de verdade, é para os que superam a cegueira da paixão, é para os que são felizes simplesmente porque o outro existe.

contioutra.com - Quando vai ser amor de verdade?

Os que disseram “hello” para Adele

Os que disseram “hello” para Adele

“Olá, sou eu. Eu estava imaginando se após todos esses anos/ Você gostaria que nos encontrássemos/ Para superarmos tudo/ Dizem que o tempo supostamente lhe cura/ Mas eu ainda não fui completamente curada/ (…) (Tradução de um trecho da música Hello – Adele)

O clipe “Hello”, da cantora britânica Adele, ultrapassou a marca de 1 bilhão de visualizações no Youtube. Não é espantoso o sucesso da artista, afinal, sobra talento em suas composições e apresentações. Entretanto, o que inquieta foi a rapidez com que este número foi alcançado: 88 dias. De um lado da linha a cantora diz “olá” e na outra ponta, milhões respondem da mesma forma. Qual o motivo de termos dito “Hello”?

A resposta começa na própria vida da cantora, criada pela mãe e sem um relacionamento afetivo com o pai. As rupturas amorosas têm uma implicância evidente em suas composições, marcadamente em “Hello”. O sucesso desta música é a conjugação da projeção artística de uma talentosa cantora, com o luto e decepções dos ouvintes que romperam uma relação.

A canção se funda na separação de um casal, e o luto que surge com esta perda do objeto amado é entoado de forma melancólica. Em “Luto e Melancolia”, Sigmund Freud irá se debruçar sobre as perdas que vivemos, o tempo do luto e suas conseqüências. O vazio temporário que surge é um terreno de poetas, compositores e ciladas.

Esta última nos coloca de frente com algo que se refere á idealização de um sonho; aquilo que esperávamos, fruto de nossa profunda imaginação e não aconteceu. (“Hello/ Você pode me ouvir?/ Estou na Califórnia sonhando com quem costumávamos ser/Quando éramos mais jovens/ E livres/ Eu esqueci como era antes do mundo cair aos nossos pés.)

Precisamos assumir a responsabilidade do que imaginamos e criamos e perceber que muito mais do que o outro, somos co-autores de muitas de nossas decepções. Entretanto, mais do que as elaborações de quase um sonho a ser vivido e não realizado, a música em questão aponta uma revisitação da cantora aos locais deixados. Uma suave tentativa de reencontro e superação, que pode ser identificada logo no início. Sente-se culpada, pede desculpas por partir o coração do amado.

Uma das ciladas do espaço vazio do luto da ruptura é a criação da culpa “superegóica’, uma autopunição, e é exatamente aí que milhões de pessoas estão dizendo “Hello” junto com Adele. A cantora coloca de forma especular a culpa elaborada, inconsistente de quem ouve a melodia.

Habitualmente temos a tendência de nos responsabilizarmos pelo fracasso de um relacionamento, pegamos um chicote, nos martirizamos de forma impiedosa. Lutamos por uma chance, surge o desejo de pegar o telefone e dizer “Hello”, me desculpe, será que podemos nos encontrar? A tentativa de retorno estruturada no medo do vazio da ruptura, não é eficaz, apenas iguala-se aos mecanismos da fuga.

A música não ignora o momento de luto, e a produção em preto e branco do clipe reforça esta condição: “Dizem que o tempo supostamente lhe cura/ Mas eu ainda não fui completamente curada”. Eventualmente este tempo surge e percebemos que o nível de culpabilidade do fim da relação diminui, admitimos apenas o que é real, nos reposicionamos e retomamos o espaço vazio, ainda com a marca da aliança.

O luto da separação tem sua importância quando nos permite uma revisão sincera que possa nos levar a uma compreensão mais profunda do que somos. É o momento em que a lágrima pode escorrer sem vergonha, mas ela cessa abrindo as portas para um sorriso sereno que brota da compreensão dos fatos; sem culpas ou responsáveis. Com este mesmo sorriso não precisaremos mais dizer “Hello” para o objeto que um dia foi amado, e assim, o sol surge pondo fim às cores enlutadas de uma relação que se foi.

Não há um só dia que não seja da mulher

Não há um só dia que não seja da mulher

Eu sou um sujeito do interior. Fui criança numa cidade em que, assim como no resto do mundo, havia muito mais mulheres do que homens. Só na minha casa eram cinco: minha bisavó, minha avó, duas tias e minha mãe. Cinco meninas para três meninos — meu pai, meu irmão mais moço e eu.

Mas levando em conta que meu pai ficava o dia inteiro fora, no trabalho, e que meu irmão caçula chegou ao mundo quatro anos depois de mim, é justo dizer que passei um bom tempo da infância ocupando o posto de único homem da casa. Um só bicho confuso, surpreso, entre cinco criaturas perfeitas.

Minha bisavó tinha poderes mágicos. Seus pés de hortelã, erva-doce e arruda, boldo e guiné curavam todo o mal que havia no mundo. Minha avó ouvia jogo de futebol no rádio gritando palavrões, bebia pinga, sabia histórias de assombração, usava saiote sob o vestido e era uma festa inteira. Minhas tias e minha mãe voltavam do serviço à mesma hora com um pacote para mim, e era sempre um pedaço de bolo, uma fatia de pão com manteiga, duas balas Juquinha, uma maria-mole e essas coisas que àquele tempo faziam a alegria de uma criança.

Em minha casa, o lugar mais importante era a cozinha. Porque era ali que as cinco mulheres existiam juntas. De lá, sentado debaixo da mesa onde minhas avós escolhiam o arroz, eu sonhava com o mundo que havia para além do nosso quintal.

Lá pelas tantas eu adoeci. Virei dessas crianças que passam mais tempo em hospital do que em casa, e as cinco se desdobravam na tentativa de encontrar unguentos, simpatias, benzedeiras e outras formas de ajudar os médicos. Eu sobrevivi. E não tenho dúvida de que foram elas, reais beneficiárias da Graça Divina, com a boa ajuda da Medicina, que me mantiveram aqui.

Foi o amor absurdo e desmedido das cinco mulheres que me deu esperança em tempos de agonia. Seus olhos de afeto iluminaram minhas noites escuras, suas mãos operosas me empurraram para a frente. Sua presença distante me manteve no caminho. Mesmo longe, sigo pertinho delas, andando afoito neste mundo que fica para além do nosso quintal. Aprendendo a passar adiante o amor que elas me deram desde sempre.

Tudo isso porque careço dizer a você que o fato de existir o Dia Internacional da Mulher não me incomoda, não. Nem um pouco. Mas penso na data como um jeito de nos lembrar que todos os outros dias do ano pertencem a elas.

Para mim, o mundo é a casa de todas as mulheres, um lugar onde os homens são, uns mais e outros menos, apenas visitantes mal habituados. E a mulher, ahh… a mulher é o resultado do sonho mais lindo de Deus.

Por um mundo sem mulheres de verdade!

Por um mundo sem mulheres de verdade!

Por Marcela Alice Bianco

Vivemos num mundo que está sempre querendo encaixar as pessoas em rótulos, como se fossemos produtos à venda numa vitrine. E isso não é diferente quando o assunto é o feminino. Cada tempo e cultura ditou às mulheres um padrão a ser seguido,  tentando apontar quais seriam as formas corretas de se comportar, de se vestir, de exercer a maternidade, de ser esposa, amante, amiga, filha ou funcionária. Mas, o que próprio tempo provou é que, “ser mulher” é algo que vai muito além de uma moda ou de uma ditadura.

Verdades são unilaterais e dependem do padrão de consciência de quem as coloca. Muitas verdades caem por terra e são substituídas todos os dias por outras que, aliás, também podem ser transformadas conforme nosso mundo interno e externo vai evoluindo.

Já houve época que “mulher de verdade” era a do tipo Afrodite, era a que usava o espartilho, era a Amélia, era àquela que vivia a maternidade, era a que dava conta de tudo…

E cada uma dessas mulheres de verdade foi deixando o podium, fazendo-nos intuir que ser mulher é muito mais complexo do que qualquer padrão possa definir.

Por isso mulher, não tenha como pretensão de vida ser uma mulher de verdade…ela não existe!

Não busque ser a “mulher da vida e dos sonhos” de alguém, mas busque apenas ser você. E se, isso lhe conceder a oportunidade de desfrutar de uma boa companhia para viver momentos de amor e cumplicidade aproveite. Mas, não espere que a outra pessoa seja o homem ou a mulher da sua vida, mas apenas que  seja quem se é!

Não persiga um padrão de beleza, eles são inatingíveis já que nenhuma mulher consegue ser igual a outra. Muitas das exigências estéticas só nos afastam da nossa personalidade, do nosso próprio corpo e de quem somos de verdade. Não torture seu corpo com modismos passageiros e nem com a rigidez de uma verdadeira ditadora. Ao contrário, aprenda a reconhecer em si mesma aquilo que é belo e somente seu. Lembre-se que seu corpo é a sua casa e seu templo sagrado e, portanto, merece todo seu respeito e cuidado.

Não busque ser igual aos homens ou à outras mulheres que você admira, mas apenas reconheça suas habilidades e àquilo que você faz de melhor. O mundo precisa de boas engenheiras, contadoras, professoras, enfermeiras, atrizes, mães, cuidadoras, lutadoras, etc. Se você se dedicar àquilo que você faz bem, que te preenche existencialmente e que dá sentido à sua vida, então você merecerá a sua própria admiração.

Aliás, não busque ser “a melhor” em nenhum papel que você assumir, pois isso só gerará desgaste e frustração. O mundo não precisa das melhores mães, das melhores esposas, das melhores amantes, das melhores mulheres ou das melhores profissionais. O mundo precisa de pessoas capazes de nutrir, de acolher, de escutar, de agir com empatia e fazer o melhor que podem conforme suas aptidões e limites. O mundo precisa apenas de mulheres conscientes de sua feminilidade e de sua inteireza enquanto ser.

O mundo precisa de mulheres criativas, estabanadas, organizadas, carinhosas, ativistas, competentes, melindrosas, inseguras, amorosas, românticas…

O mundo precisa de Malalas, Cocos Channel, Michelles Obama, Nises da Silveira, Irmãs Dulce,  Ladys Gaga. O mundo precisa de mulheres de todos os tipos. O mundo precisa de você!

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