Os falsos humildes são muito mais destrutivos que os prepotentes descarados

Por traz de um pobre coitado que vive propagando sua “pobrecoitadeza” tem sempre um pobre coitado mesmo; nem espere qualquer outra coisa dessa pessoa. Além de não ter condições orgânicas e emocionais de se revelar de outra forma, ela também não tem interesse nisso. Fazer-se de vítima pode já ter se transformado numa deformação de caráter e num meio de vida.

Essa pessoa conquistou um buraco particular só para ela, com vista exclusiva para o seu próprio umbigo encardido. E se você não ficar esperto, vai acabar nesse mesmo lugarzinho esquecido e podre, na companhia indigesta desse contumaz manipulador.

Sim! Porque manipulador que se preza, não mostra o jogo nem que sua vida dependa disso. Manipulador que se preza pode, inclusive, viver cortejando a morte, colocando sua própria segurança em risco, só para atrair à sua pobre pessoa olhares de afeto e comoção. Manipulador que se preza, mente de forma compulsiva, a ponto de acabar acreditando na própria mentira. Manipulador que se preza, vai corroendo tudo ao seu redor; e se você fizer a bobagem de cair da conversa dele, pode terminar emaranhado numa complexa trama de jogo baseado na tortura emocional do “morde e assopra”.

A má notícia é que livrar-se de um manipulador é tarefa para os fortes; poderia fazer parte do enredo de filmes como “Missão Impossível”, sem nenhum risco de fazer feio. Livrar-se de um manipulador, principalmente aqueles que se fazem de humildes, vai levar você por labirintos emocionais, com direito a efeitos especiais, capazes de fazer inveja à mais assustadora série de suspense do Netflix.

O falso humilde é aquele tipo de pessoa que soa a fraude, tem cara de fraude, age como fraude e pensa de forma fraudulenta. E tudo isso por um simples motivo: ele é uma completa e indiscutível farsa ambulante. Tudo nele é planejado para provocar nos mais afetivos uma lenta e crescente empatia. Todos os seus passos são cuidadosamente arquitetados para fazer o outro acreditar que ele vive mergulhado numa vida trágica e sofrida; mas que apesar disso – a despeito de tudo conspirar contra ele -, ele é um presente na sua vida, porque é a mais dedicada, competente e resolutiva das pessoas.

Cair numa armadilha dessas é fácil demais; sobretudo no caso daqueles, cuja personalidade desarmada faz seu nobre possuidor ter um coração empático, amoroso e pronto para acolher até a mais sombria das criaturas. No entanto, sair dessa armadilha vai exigir dessa alma bondosa que a sua natural empatia seja desativada temporariamente, que a sua capacidade de amar ganhe travas de proteção e que seus braços aprendam que esse lugar sagrado só merece ser ocupado por alguém que seja gente de verdade, não por esses articulados e premeditados sugadores de talentos e amores alheios.

Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"