Ordem absurda não se cumpre!

Aprendi essa frase há muitos anos e me disseram que era uma frase de quartel. Se é verdade não sei, mas gostei do conceito e trago até hoje como preceito básico.

Uma ordem absurda é geralmente o cumprimento de uma ação precisa ser feita, mas o mandante não o que fazer com as próprias mãos. Pode ser um delito, uma humilhação, armadilha, uma fofoca, uma traição,o que for…

Uma ordem nem sempre vem em forma de ordem; Muitas vezes um pedido manhoso, aquele apelo que sutilmente lembra favores em débito, uma velha e eficiente chantagem emocional.

Aí a gente percebe que tem absurdo, mas pondera no rabo preso, na autoridade de quem pediu, nas consequências da negativa. E sente medo. E acaba cumprindo, ainda que sofrendo. Nessa hora a gente se desintegra, literalmente. Perde a integridade para não perder a relação. Perde a piada para não perder o amigo. A campainha soa forte dentro da consciência: Escolha errada, obrigada, coagida.

E a gente passa do estado de devedor submisso, a rancoroso injustiçado, mas a culpa é nossa, exclusivamente nossa. O esperto pediu, mandou, ordenou. O medroso cumpriu por vontade. Vontade de agradar. Não tem o que cobrar depois. E não virá reconhecimento nem agradecimento, nem muito menos arrependimento. No máximo, mais uma dúzia de absurdos até que a fonte seque, até que se acorde.

A gente tem um medo mortal de decepcionar. A gente fantasia que negar é proibido, principalmente nas relações de afeto. Medo do amor acabar. Mas, e encarar isso é uma dor, amor que não tem maturidade para conviver com contrariedade, é egoísmo disfarçado, é individualismo tentando escravizar o par.

Dito isto, e voltando às ordens absurdas, a melhor a mais segura forma de saber se é bom cumprir, é rapidinho pensar – e sem fantasiar – se quem pediu o faria em reciprocidade, sem vacilar.

Nessa hora despencam as ilusões, e, antes mesmo de catá-las no chão, a resposta já está pronta: – Não, sinto muito. Ou nada.
E reafirmando o velho dito, ordem absurda não se cumpre, nem se vier camuflada de um pedido manhoso.







Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.