O fim de uma relação e sua ética

Quando uma relação afetiva termina, a saída mais curta e simplória para a resolução da instabilidade interna é o extravasar e culpar o outro pela ruptura. Na ansiedade de detratar o ex-parceiro (a), o que era segredo ou pertencia ao universo íntimo de um casal, acaba tornando-se tema comum de conversas de bar ou esquinas de um shopping. Entre uma bebida e outra, o ex-amante, que outrora fora objeto de amor e desejo, torna-se alvo de gracejos e piadas infames, simplesmente para aliviar uma dor ou culpa de quem enuncia o discurso.

Um caminho menos doloroso seria estabelecer uma ética pós- ruptura dos amantes. O que era o discurso da intimidade de um casal poderia ficar no passado. A fala proveniente da confiança e de um afeto que imperavam poderia ser respeitada. O oposto disso reside num ambiente de reminiscências melancólicas que encontra saída nas agressões disfarçadas em graça e anedotas permeadas de álcool em uma mesa de bar. Não há anormalidade em escolher alguém para compartilhar a frustração, mas a profundidade do que relatamos pode esbarrar em uma ética.

Os aspectos positivos do passado pertencem aos ex-amantes, e que isso possa ser uma lembrança agradável; já o que entendemos por experiência negativa, seria efetivamente aproveitado como correção para um novo relacionamento. A mágoa tem o poder de nos apontar o que queremos da vida e aprimorar nossas escolhas, mas não nos escravizar.

“A habilidade em aprender a superar o embróglio presente nas situações paradoxais é um fator muito significante na moldagem da plasticidade a ser adquirida pelo psiquismo. Somente assim pode-se vir a adquirir o jogo de cintura imprescindível para enfrentar as exigências, as dificuldades e as surpresas da vida. E do processo terapêutico.” (Marco Aurélio Baggio – “Erotika – Conjecturas Psicanalíticas”)







Jornalista, apresentador do Sentinelas da Tupi (Rádio Tupi -RJ), Licenciado em História e Psicanalista em formação pala Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa.