Reality show virou sinônimo de emoção em pacote: lágrima cronometrada, aplauso dirigido e intriga com trilha sonora. “A Paris Errada”, de Janeen Damian, na Netflix, entra nessa conversa de frente — não para denunciar a TV, mas para brincar com ela.
A trama acompanha como um programa de namoro, feito para gerar cortes virais, empurra uma artista texana para um caso inesperado e para uma confusão geográfica que muda tudo: a “Paris” onde ela chega não tem Sena, tem rodeio.
No centro está Dawn, escultora cheia de talento que mal consegue pagar as contas. Mora com as irmãs Emily e Maxine e com a avó Birdie, num rancho afastado do burburinho urbano.
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Entre turnos servindo mesas e cafés, ela guarda cada dólar de gorjeta pensando em estudar na França e lapidar o próprio trabalho — literalmente, já que vive coberta de pó de pedra. O tempo, porém, corre contra: as economias minguam com o tratamento de Birdie e a carta de admissão numa academia francesa, que deveria ser vitória, vira pressão.
É aqui que o roteiro de Nicole Henrich puxa a alavanca do espetáculo. Surge “O Pote de Mel”, reality que promete 250 mil dólares à vencedora e 20 mil às eliminadas — exatamente o valor que tiraria Dawn do sufoco.
O plano é simples: participar, faturar a quantia mínima e embarcar para a tal academia. O detalhe que ninguém leu com atenção? As gravações acontecem em Paris, sim — Paris, Texas, a 96 km de casa.
A piada geográfica funciona como motor do romance e como espelho de “Paris, Texas” (1984), de Wim Wenders, só que traduzida aqui para o campo da comédia romântica contemporânea.
Janeen Damian evita transformar o interior americano em tese sociológica. A diretora prefere apostar no elenco e no ritmo leve, semelhante ao de “Pedido Irlandês” (2024), deixando que os encontros e trombadas emocionais façam o serviço.
O cenário texano serve de contraste pitoresco para a fantasia romântica, e a produção se diverte com os clichês do formato de competição amorosa: confessionários milimetricamente iluminados, provas absurdas e rivais que já entram com bordão pronto.
Miranda Cosgrove conduz a narrativa com timing certeiro, alternando vulnerabilidade e ironia. No prólogo familiar, sua química com Emilija Baranac, Ava Bianchi e Frances Fisher dá textura à vida pré-reality; no estúdio de “O Pote de Mel”, a atriz sustenta o jogo entre autenticidade e performance.
Pierson Fodé, o solteiro irresistível do programa, vira parceiro de cena e de provocação cômica — a dupla rende momentos em que o improviso parece atravessar o roteiro, especialmente nas “paqueras dirigidas” e nos bastidores, onde o romance sai do script.
A direção valoriza esse vaivém entre encenação e sentimento. Sem pretensão de reinventar o mapa afetivo do gênero, “A Paris Errada” opera com uma ideia simples e eficiente: quando o amor aparece, pouco importa se o cartão-postal diz “Paris” em neon rosa ou em letreiro rústico na estrada.
Entre uma prova televisiva e outra, o filme encontra espaço para a arte de Dawn — suas esculturas, vistas de perto, funcionam como diário emocional — e para pequenas viradas que mantêm a torcida acesa até o último bloco.
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