O amor não é um jogo

“Errei pela primeira vez quando me pediu a palavra amor, e eu neguei. Mentindo e blefando no jogo de não conceder poderes excessivos, quando o único jogo acertado seria não jogar: neguei e errei. Todo atento para não errar, errava cada vez mais. ” – Caio Fernando Abreu

Eu tinha 25 anos, ele, 21. Isso já era o suficiente para me fazer não esperar nada daquilo. Nós nos conhecemos no carnaval, isso só reforçava a minha crença de que não passaria dali. Eu fiquei apenas um dia naquele carnaval de 2013, fui embora na segunda, sem avisá-lo, não trocamos telefones e muito menos endereço mas nada disso impediu que na terça ele estivesse batendo na porta da minha casa com um lanche na mão, dizendo que tinha trazido torta de palmito porque sabia que eu não cozinhava.

Eu não queria deixar que ele entrasse em minha casa mas ele simplesmente não aceitou “não” como resposta. Observou tantas grades nas janelas e portas, todas fechadas, e disse que eu me fechava em meu mundo assim como fazia o Batman. Disse também que eu era do tipo que gostava de romances e esperava que um romance caísse do céu em minha vida e que eu não fazia nada para acontecer. Ele estava certo, ele estava certo em tudo o que disse.

Eu estava solteira há alguns meses e vivia a melhor fase da minha vida até então, uma fase em que eu descobria que a felicidade estava em mim e não em uma outra pessoa. Eu estava tão bem que a partir do momento que as coisas entre nós começaram a envolver sentimentos, eu tive medo de perder toda a felicidade que eu havia conquistado até então. Em um ato egoísta e em uma mistura de medo e jogo, eu disse: “Olha, é melhor você desencanar porque eu não quero me apegar a ninguém”. E foi exatamente isso que aconteceu, ele se vestiu suas armaduras e saiu da minha vida. Eu estava convicta de que havia tomado a decisão certa, mas a medida em que os dias se passaram e eu vi que ele não iria voltar, a minha ficha caiu: eu quis evitar sofrimento mas era exatamente isso que estava acontecendo agora: eu estava sofrendo. Sofri porque, devido ao medo, eu desisti de algo que estava me fazendo bem, eu desisti de algo que eu estava sentindo…

Não sabia como consertar o meu ato falho mas um tempo depois eu tentei: pedi que me encontrasse, que eu queria conversar sobre tudo. Mas já era tarde, ele fugia de mim. Tempos depois ele me explicou: “Fiquei com medo de conversar com você, fiquei com medo de pegar as minhas coisas na sua casa…”. E eu o questionei: “Medo? Você nunca teve medo”. Sua resposta mudou a minha vida: “Nat, a partir do momento que você demonstrou ter medo de se envolver, eu passei a ter muito medo de me envolver com você”.

Ele, em seus 21 anos, me mostrou o seguinte: se você tiver medo, o outro vai ter medo também, se você jogar, o outro vai jogar também até porque ninguém joga sozinho.  Eu estava bem e me apaixonei, então para tentar me proteger eu joguei do início ao fim. Joguei tanto e tão bem que o resultado não poderia ser outro: eu ganhei aquele jogo, mas ficou uma certeza: eu perdi algo maior. Eu perdi alguém que estava me fazendo bem.
Mas eu aprendi que onde se encontra uma perda, sempre há também um ganho. E o que eu ganhei foi a lição de saber que, quando se gosta de alguém a melhor coisa a se fazer é ser honesto com os nossos sentimentos. Gostar de alguém é como estar em um barco: nós sabemos que aquele barco pode afundar a qualquer momento e se ele afundar nós temos que ter boias e saber nadar. Mas se o barco não possui buracos e está inteiro, por que pular fora antes da hora? Não permita que o medo de sofrer faça com que você se sabote. É como se você mesmo virasse o barco só porque acha que ele pode afundar um dia…
Se fazer de difícil, ignorar, dizer que é descolado somente para fazer o outro se interessar pode até dar certo inicialmente, mas isso não terá sustentação. Jogo é apenas disfarce. No fundo, o que você realmente sente estará gritando dentro de você. Talvez os outros não ouçam, mas você ouvirá. E o principal: não se colhe amor plantando indiferença. O cara pode até ir atrás porque você o esnobou, mas o que está o atraindo não é você em si, e sim a sua aparente indiferença.

Relacionamento nunca foi e nunca será um jogo. Relacionamento é troca, é companheirismo. Se for pra jogar, vocês devem jogar no mesmo time, um cobrindo o outro quando necessário. O goleiro e o atacante têm funções diferentes dentro do time mas o objetivo é o mesmo: ganhar. Agora, se for pra estarem em times ou torcidas diferentes que seja no jogo Galo x Cruzeiro, na Arena Independência de preferência. Porque em se tratando de amor, a gente precisa é de um companheiro e não de um adversário.







“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”