O amor manda cartas

Um entregador dos Correios chega à casa de Maria, às nove da manhã. Ela está tomando café e se assusta com uma correspondência tão cedo. Recebe o rapaz que lhe entrega uma carta em um envelope perfumado. Ela agradece, fecha a porta e rasga a carta enquanto termina sua caneca de café. No envelope, não há um remetente, só seu nome enquanto destinatária da mensagem. Em uma letra quase que desenhada, dispõem-se as seguintes palavras:

“Querida Maria, meu amor por ti é um continente onde não há miséria e todos  as pessoas se cumprimentam ao amanhecer e ajudam umas as outras a manter suas próprias vidas.

Caso deixes, serei a fenda da tua janela por onde o amor te acordará todas as manhãs, jogando um facho de luz sobre teus olhos. Unidos, seremos a igualdade de uma existência individual desigual. Juntos, poderemos abrir as janelas do mundo, sem que seja preciso fechar nenhuma porta. Caminharemos sempre de mãos dadas até que nossos pés se cansem e abandonem o mundo físico.

Quero participar de cada passo teu, de cada gesto e da tua insônia, caso a tenhas. Quero viver tua saúde e cuidar da tua doença. Quero provar do teu doce e comer do teu sal.

Case-se comigo, Maria. Quero-te já, quero-te ontem. Nasci para conhecer a luz dos teus olhos, nem que depois, eu cegue. Amo-te como um faminto em busca de pão. Desejo-te; és minha respiração.”

Maria se encanta pelas palavras, toca-as, cheira-as. Está inebriada pela declaração, mas não tem como mandar respostas, pois o remetente não lhe enviou nome e endereço.

E quase todos os dias ela recebia cartas com o mesmo teor, atiçando ainda mais sua curiosidade. Uma manhã, ela olha bem o moço que entrega as correspondências. Ele ri para ele e em sua testa está escrito “Me chamo Daniel, moro na rua da paixão, bairro dos apaixonados”. Ela o abraça e sente que já o ama. Daniel continua entregando-lhe as cartas todos os dias, mas agora, espera que a moça abra e leia enquanto tomam café da manhã entre abraços duradouros e beijos ardentes.

Hoje, domingo, cinco meses depois da primeira carta,  Maria e Daniel se casam na Igreja Matriz e mudam-se, apaixonados, para a Rua dos Apaixonados.







É professora de Língua Portuguesa, mora em Patos, PB e escreve poemas, contos, crônicas…