Nos momentos de crise, a dor da exclusão social

Um dia você acorda e é bastante popular. Muitos “amigos”, trabalho, projetos, vida social, liberdade de ir e vir e paz na terra, pelo menos na sua.

De repente, centenas de dias depois, você se levanta numa manhã e um furacão de problemas sérios estão a sua espera. Esfrega os olhos tentando entender o que está acontecendo, arruma os cabelos que ainda estão emaranhados, mas não dá, sua vida está de pernas pro ar.

Você fica tenso, perdido, sem saber pra onde vai ou o que fazer. Como se tivessem retirado seu chão.
Tenta ir resolvendo tudo, mas se enrola ainda mais.

Começa um período de declínio nunca antes vivenciado. Nada em comum com os altos e baixos da vida encarados antes. O trabalho já não rende, não consegue mais produzir como antes, tudo é um peso a ser carregado.

A grana vai ficando curta e as dívidas, antes nunca feitas, brotam como plantação. Começa a se desfazer dos poucos bens, ainda pouco usufruídos, que levaram anos pra serem adquiridos. Tudo pra conseguir colocar a cabeça no travesseiro e poder dormir.

Mas o pior ainda esta por vir, a exclusão social.

Aquelas pessoas, antes tão animadas pra te ver, começam a desaparecer. O telefone quase não toca mais, e quando dá sinal de vida, é uma empresa de cobrança. Você não vale mais a pena. Como se teus talentos, graça, generosidade, companheirismo e inteligência tivessem virado pó junto com seu dinheiro.

De fato, até chega a crer neste desaparecimento súbito de si mesmo, tendo que dar uma olhada no espelho vez ou outra, só pra lembrar que ainda existe, que esta aí.

Você vai se safar dessa. Pode ser a curto, médio ou longo prazo, mas vai. A vida sempre dá voltas e conseguimos nos superar, porém a realidade de ser colocado em quarentena, como um leproso, vítima de maus tempos, como se seu desfortúnio fosse contagioso, isso é difícil de esquecer porque dói na pele.

Isto também te faz pensar em como já podem ter sofrido e ainda sofrem os pobres de fato, assim como os negros, judeus, palestinos, muçulmanos, cristãos, e todos as demais vitimas de preconceitos hediondos no mundo.

Você mais cedo ou mais tarde vai superar… mais sábio, mais seletivo, mais inteiro e maleável com as intempéries da vida. E os outros que são obrigados a conviver com a rejeição toda vida? Será que já nasceram com muito mais armas internas?

De qualquer forma, sempre existe uma, duas ou três pessoas que nunca te abandonarão e que sempre te apoiarão em momentos que até você se recusará lembrar. Aqueles momentos em que nos sentimos sem a pele e com frio, desamparados pela falta da luz e do calor humanos.

Os reais e verdadeiros amigos estarão sempre ali… atentos a te manterem aquecido e fortalecido, até que possa encontrar uma saída. Não há desenhos e nem palavras que possam exprimir a gratidão eterna pela existência desses amigos. Eles nos renovam a fé no humano e nos fazem crer que existem, sim, muitos anjos encarnados na Terra.







Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem.