Nem sempre o amor é suficiente para duas pessoas ficarem juntas

Eles tentaram muito. Insistiram. Relevaram as diferenças, toleraram a distância, se desgastaram, se amaram, se machucaram. Ela guarda palavras não ditas, sonhos não realizados, trechos de uma vida que não se concretizou. Ele carrega os abraços dados, as noites em claro procurando uma saída, a ironia de gostar tendo que recuar.

Ela sabe que ele foi a pessoa certa na hora errada. Ele acha que um dia ela irá se arrepender por ter sido tão racional. Ela quis que ele mudasse. Ele se ressente por não ter sido aceito como é.

Nem sempre o amor é suficiente para duas pessoas ficarem juntas. Uma relação duradoura é feita de encontro, cumplicidade, admiração e parceria. Pode haver amor, atração, paixão… mas se faltar confiança, compreensão e respeito, não dura.

Às vezes, amar não é o bastante. Pensar na pessoa o dia inteiro não é o suficiente. Ter química, atração, desejo e sintonia não satisfaz. Às vezes é preciso mais. É preciso disposição e disponibilidade para uma relação; maturidade para uma união; fidelidade para apaziguar o coração; confiança, respeito, tolerância e perdão para uma real conexão.

Não adianta ter saudade se não tem maturidade. Não resolve pedir perdão chorando se no dia seguinte permanece maltratando. Não funciona dizer que ama quando todo o resto desanda.

Talvez um dia ela se lembre dele ao ouvir o antigo refrão que diz: “Eles se julgavam diferentes, como todos os amantes imaginam ser; faziam tantos planos que seus vinte e poucos anos eram poucos pra tanto querer…” . Então ela irá sorrir e entender que a vida é feita de caminhos tortos, e nem sempre querer é sinônimo de permanecer. Que o amor deles ficou distante, numa época que se perdeu. E que é por isso que de vez em quando as memórias vêm à tona, não como uma saudade doída, e sim como um afago doce no pensamento.

Ele irá saber dela e terá noção de seus próprios erros. Entenderá as pontas soltas e lamentará não ter tido mais maturidade. Sentirá falta dela nas horas mais improváveis e vez ou outra terá sonhos perturbadores. Mas ficará feliz por perceber que cresceram e souberam superar. Que nem sempre gostar muito de alguém é pré requisito para essa relação funcionar. Que às vezes uma relação dá mais certo com os ex amantes seguindo caminhos distintos e desejando o bem do outro do que caminhando lado a lado.

Enquanto a vida vai e vem, dentro deles permanece a lembrança um do outro. Pode ser que um dia se reencontrem e digam o que sentiram. Que o amor era perfeito, imperfeitas eram as pedras do caminho…

Imagem de capa: Melissa Han/ Shutterstock

Para comprar meu novo livro “Felicidade Distraída”, clique aqui.







Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.