Não desconte sua raiva em quem não tem nada a ver com ela

Quantas vezes não somos surpreendidos com uma resposta atravessada, com uma grosseria ou com o mau-humor alheio, sem nem ao menos termos feito nada para aquela pessoa? Isso é comum a quase todo mundo, seja no trabalho, em casa, na escola, seja na roda de amigos. Nesses momentos, precisaremos ter a certeza de que aquilo não nos atinge diretamente, ou viveremos desgostosos.

Muitas pessoas engolem os dissabores que vêm sentindo e acabam colocando para fora sua revolta em lugares distantes daqueles onde se sentem mal e atingem quem não tem nada a ver com os problemas. Seguram até onde podem a amargura, mas costumam, muitas vezes sem se darem conta, externar seu descontentamento destemperadamente quando menos esperam, de forma injusta.

É assim que vemos chefes gritando com a secretária, colegas se digladiando por causa fútil, pais bravos exageradamente com os filhos, pessoas chegando aos lugares de cara amarrada, sem cumprimentar a ninguém. Não raro, trata-se de situações em que nada do que se encontra naquele contexto relaciona-se com a raiva instalada.

Tudo isso ocorre pelos simples fato de que ninguém suporta guardar dentro de si por muito tempo as tristezas e decepções que se avolumam no dia-a-dia. Uma hora ou outra, aquilo tudo tem que sair e, infelizmente, muitas vezes acaba vindo à tona junto a quem nem imagina o porquê daquele destempero. Com isso, covardemente descontamos nossa raiva em quem não tem nada a ver com ela.

Daí a necessidade de evitarmos engolir as palavras e os sentimentos, de nos colocarmos, de expressarmos o que sentimos, o que deixamos de sentir, o que nos faz bem ou não. É preciso dizer o que deve ser dito a quem deve de fato ouvir. Caso se quebre essa ordem, iremos nos comportar como não deveríamos com as pessoas erradas.

É claro que temos que saber o momento adequado para dizermos as coisas, pois, se o outro não estiver disposto, tudo o que dissermos será em vão. Mas teremos de dizer, mesmo que esperemos, não importa, pois calar-se demais nunca será saudável para nenhum dos envolvidos. Ou agimos da maneira mais transparente possível, ou estaremos sempre machucando as pessoas erradas, no lugar e na hora errada. E ninguém merece ser alvo da agressividade de quem covardemente foge ao enfrentamento dos próprios problemas.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.