Na tentativa de crescermos, vamos perdendo nossos galhos

Como me dizia uma amiga querida: “As pessoas que se afastam do caos e entram em contato com a própria natureza, se dão o direito de viver.” Mas, quando foi que perdemos este direito? Perdemos na infância, no convívio com a família. Nascemos inteiros e, como árvores, passamos a vida sendo podados. Na tentativa de crescermos, vamos perdendo nossos galhos, isso pra não falar dos frutos que poderíamos dar. Toda vez que cometemos este atrevimento, alguém estava ali pra nos polir.

Será que todos nós queríamos realmente nos casar com quem casamos, trabalhar com o que trabalhamos ou gerar os filhos que geramos?

Por quantos momentos de nossa vida passamos fingindo não ver o óbvio e preferimos aceitar nossa infelicidade a entrar em contato com nossos fantasmas, medos e dificuldades. Crescer é mudar e aceitar o fato de que querendo ou não a vida está em constante movimento.

Com que frequência nos contentamos com poucos minutos anestesiados pelo trabalho, álcool, drogas ou sexo, como crianças que buscam um brinquedo quando estão em uma situação ameaçadora. Será que percebemos quando nos tornamos promíscuos, superficiais e obsoletos, mas o pior, será que elaboramos nossos sentimentos quando saímos sempre mais vazios e mais infantilizados dessas situações?

Então, para preencher o “não sei” de nossa existência,  nos casamos com o menino(a) que apareceu, e como se não bastasse, temos filhos que nunca chegamos a conhecer…ou não permitimos que eles, as maiores vitimas, nos conheçam realmente.

Soltamos essas crianças no mundo, pagamos as escolas, esperamos que passem no ENEM e tenham bons cargos públicos ou privados, que sejam “seguros”. Assim esperamos, como sempre, um dia, que possamos nos deitar com a sensação de missão cumprida, mas o vazio e a infelicidade ainda estão lá. Não existe missão cumprida quando não atribuímos verdadeiro sentido ao que fazemos.

No meio deste caos, pretendemos amar nossos filhos ou pais, mas a tarefa é árdua pois desconhecemos a essência do amor e mal somos capazes de amar a nós mesmos.

É um suicídio coletivo e lento. Deixamos de viver cada segundo precioso de nossa vida perpetuando a hipocrisia de quem não se conhece e reproduz o que no fundo nem quer.

Enquanto vivermos negando o fato de que temos que crescer antes de fazer escolhas, aceitarmos os desafetos, nos livrarmos das culpas e obrigações auto impostas e nos responsabilizarmos pelo que queremos da vida, nada nunca vai mudar e estaremos a cada dia mais distantes do que sempre buscamos, o amor.

Temos que parar de culpar o mundo e nossos pais pelas nossas faltas. Se falta é porque insistimos nas fontes secas. O amor está em toda parte. Temos que aceitar sem culpas que raramente a família é fonte de afeto, deixar de sermos crianças carentes que geram mais milhões de carentes descompromissados e buscarmos o que cada um veio buscar.

A felicidade não esta no casamento, em ter filhos ou no trabalho. Pelo contrário, tudo isso pode ser a fonte de infelicidade para a maioria que não nasceu pra nada disso. A felicidade esta naquilo que cada um quer e veio fazer.

Diante das circunstâncias em que viemos ao mundo, não é mesmo fácil crescer e ter a audácia de nos responsabilizarmos e sermos quem somos, mas, sem dúvida, melhor viver do que morrer sem a consciência de que se jogou a vida pela janela.

Peço desculpas àqueles que passaram pela minha vida, familiares ou não, a quem não pude amar, mas cada um de nós tem seu próprio caminho e só estou seguindo o meu, sem culpas, e tentando não mais sublimar as coisas maravilhosas com as quais nasci para não mais me arrepender de ter desperdiçado tanto tempo da minha preciosa oportunidade de me desenvolver.







Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem.