Maternidade, na dura

Não vou generalizar e dizer que com todas as mães seja assim, mas posso afirmar que, para boa parte das mulheres, a maternidade “de fato” é bem diferente do que se imaginava.

E eu acho isso um tanto cruel, pois poderíamos estar um pouco mais preparadas para a função de mãe se tivéssemos uma noção melhor do que ela realmente é.

A maternidade é muito romantizada por aí, só se fala (e só se posta) o lado bonitinho e prazeroso de ser mãe, mas a coisa é muito, muito mais complexa.

A maternidade sem sombra de dúvidas é uma das coisas mais lindas e mais intensas que pode acontecer na vida de uma mulher. É o sentimento mais profundo e mais maravilhoso o de ter gerado uma pessoa.

Descobrimos o amor num sentido que nem imaginávamos existir. Independentemente de qualquer coisa, é importante destacar desde já que VALE A PENA.

Contudo, por só termos conhecimento do lado mais glamouroso da coisa, acabamos não preparadas para o pacote completo, muitas vezes tomando um grande choque quando a maternidade chega.

Pra começar, quando o bebê nasce pode acontecer de não sentirmos paixão à primeira vista. Sim, é bem normal olharmos para aquele ser e o vermos como um estranho. Pode não começar a sair coraçõezinhos no ar já desde o hospital. É possível que demore alguns dias (talvez meses) para que o liame emocional se desenvolva e, enfim, cairmos de amor pelo nosso filho. Mas vamos cair, podemos ter certeza. Só precisamos ter um pouco de paciência se a coisa, no começo, foi meio estranha. Faz parte.

Também pouco se fala que, para o recém-nascido, ficar “coladinho” à mamãe é essencial. Geralmente, se ele abre o berreiro, todo mundo surge para ajudar e levam ele lá longe da mãe, o que só traz mais mal estar para a mãe e o bebê. Ele acabou de sair de forma abrupta de dentro dela e ficar bem juntinho pode ajudar muito na adaptação ao mundo. Vale tentar.

Além disso, o nosso estado emocional influencia bastante como o bebê se sente, principalmente nos seus dois primeiros anos de vida, nos quais somos muito ligados, ainda que não pareça. O livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra” é fantástico ao descrever esse fenômeno. Ele narra como o choro compulsivo do bebê pode ser o choro da genitora, confusa e perdida com o seu novo papel.

Ainda, passamos por um período de perda de identidade logo após o nascimento do bebê. Quem sou eu mesmo? Até poucos dias era a tal fulana que virou a grávida linda e cheia de expectativas, e agora estou aqui doendo em vários ângulos, sangrando (muuuito e por 1 mês, registre-se!), me acostumando com a falta de sono, com os seios pingando pra todo lado, com as necessidades sem fim do pequeno, tentando processar as mil dicas recebidas sobre a maternidade e não conseguindo colocar em prática quase nenhuma das “promessas” feitas durante a gravidez (do tipo “vai ter horário certo para o sono” e “não vou pegar no colo quando chorar, para não criar ‘barde’”). Uma revolução completa na rotina, na vida, no presente e no futuro.

Filho dá muuuuuito mais trabalho do que parece, do que nos avisaram, do que imaginávamos. Fato.

Vai ter várias vezes, principalmente no início, em que pensaremos “o que eu fui inventar!”, “minha vida era tão tranquila”, “agora é para sempre, estou perdida”. E não somos pessoas más por isso. Faz parte do processo de adaptação. Logo a coisa vai se ajeitando e tudo vai ficando menos difícil, esses pensamentos vão diminuindo (ainda que possam voltar, vez ou outra, ao longo da vida, hehehe).

Na verdade, precisamos nos acolher, respeitar nossa fragilidade, aceitar a montanha russa emocional, não nos culpar pelas nossas imperfeições (pois nunca seremos perfeitas, nunca), não nos julgar (em nenhum aspecto) e esperar o tempo passar, com a maior serenidade possível. Ah, um tempo sozinha é fundamental para qualquer mãe, em qualquer fase da maternidade. Não o podemos dispensar.

E todo o apoio, principalmente no princípio da maternidade, é muito bem vindo, deve ser aceito e, se for o caso, solicitado: pais, avós, vizinhas, amigas, madrinhas. Sim, estamos frágeis e precisamos de toda a ajuda possível. E, muito importante: não se importar com o que os outros vão pensar, referente a NADA.

Haverá momentos em que vamos chorar de cansaço, em que vamos parar de respirar com uma ligação da escola (o que será que aconteceeeu?!), em que vamos ficar com o coração saindo pela boca ao levá-los fazer um exame, em que vamos morrer de remorso por ter dado uma bronca (ainda que ela tenha sido muito bem colocada e para o bem do rebento). Certamente, os sentimentos mais intensos da nossa vida. Emoção a nível máster.

Além de dar uma trabalheira danada, filho dá piti, nos faz passar vergonha, nos faz mudar conceitos (do tipo “essa criança é assim ou assado porque seus pais não fazem nada”), mas também nos faz despertar para uma nova realidade, para um novo mundo: mais colorido, mais cheio de sentido, de missão ou propósito de vida. Sim, os filhos despertam os dons mais sagrados dos seus pais.

Filhos nos fazem fortes e nos fazem sensíveis ao mesmo tempo.

Fundamental é sabermos que cada criança é diferente, que médicos não são donos da verdade, que pesquisar sintomas no Google é a pior furada que pode existir (pois sempre aparecerão as piores hipóteses possíveis, para apavorar ainda mais pais já amedrontados) e que colinho e amor podem curar muitas coisas (para nós e para eles, hehehe).
E viva a dura e deliciosa complexidade que é maternar!

Imagem de capa: Africa Studio/shutterstock







“Servidora Pública da área jurídica, porém estudante das questões da alma. Inquieta e sonhadora por natureza, acha a zona de conforto nada confortável. Ao perder-se nas palavras, busca encontrar um sentido para sua existência...”