Ler é privilégio, não é só hábito.

Sugerir uma “intervenção literária” para que caminhoneiros, esse grupo de trabalhadores que ganha por volta de 3 salários mínimos e chega a trabalhar 12 horas por dia, vivem se dopando pra cumprir prazos, aprendam sobre a ditadura reflete a falta de consciência desse privilégio.

Boa parte dos grupos de trabalhadores brasileiros mal possuem tempo para ficar com a família, fazer exames rotineiros de saúde, praticar exercícios físicos.

Mas, mesmo assim, a gente, dentro da universidade, acha que vai solucionar a falta de informação embasada sugerindo livros, leituras e até ridicularizando as pessoas que não tiveram , repito, o privilégio de ter uma alfabetização científica.
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Então, se você tem o privilégio de estudar fatos históricos, matemática, biologia… Quer fazer algo relevante?

Conheça caminhoneiros. Converse com eles, aprendam sobre o que eles podem te ensinar. Depois disso, só depois de um profundo conhecimento sobre o contexto de vida deles, ponha-se como educador.

Eles usam whatsapp, por exemplo. Faça pequenos áudios, construa imagens ilustrativas, compartilhe essa informação que você julga importante numa linguagem acessível e contextualizada.

Ou faça uma graduação, uma IC, um mestrado, um doutorado, apresente tudo isso apenas em eventos acadêmicos e nos seus clubinhos.

Depois fique chocadíssimo que o mundo não saiba das coisas que você não quis contar.







"Escrevo porque fui alfabetizado um dia. Nada é meu, tudo é aprendido. Sou um autor de textos de todo mundo. O meu texto é pra ser isso, é pra ser teu." Um dos editores do Conti Outra e integrante do fan club de gifs de cachorros.