Jiddu Krishnamurti: desapegue-se

“Quando condenamos ou justificamos, não podemos ver com clareza, e também não podemos fazê-lo quando nossa mente está a tagarelar incessantemente; não observamos então o que é; só olhamos nossas próprias “projeções”. Temos, cada um de nós, uma imagem do que pensamos ser ou deveríamos ser, e essa imagem, esse retrato, nos impede inteiramente de vermos a nós mesmos como realmente somos.”
– Krishnamurti –

Por que confundimos ser, amar e estar com possuir? Vivemos um estado de apego, sem conseguir olhar de fato para a delicadeza do que temos a volta.

Somos apegados ao que fomos, ao que aprendemos, ao que queríamos, ao que desejaram para nós. Somos possuidores de projeções.

O apego ao que possuímos é a ligação do prazer e do medo. O pensador indiano Jiddu Krishnamurti afirmou que somos aquilo que possuímos. É preciso atenção ao que possuímos.

O que possuímos realmente? Não possuímos nada além de nós mesmos. Não temos propriedade de coisa alguma, mas sim a possibilidade de experimentar por um tempo, ainda que infinito, um amor, um filho, um amante, uma música.

A experimentação de algo que dura pelo tempo de toda nossa vida não significa sua posse; significa estar de maneira nova a cada tempo desta infinitude.

Desapegar-se é estar atento ao que somos, é preparar-se para o novo, inclusive para o novo que há em nós. Aprender sobre nós mesmos é ter a chave que liberta nossas asas, porque é um aprender infinito e presente, em constante movimento; este aprender não pode estar envolvido em juízos e valores, porque é um experimentar com suavidade.

É preciso uma mente livre com a capacidade de ver e escutar. É difícil olhar com simplicidade. Olhar com simplicidade é olhar diretamente, sem medo. É também a capacidade de olhar para nós mesmos sem nenhum astigmatismo, é a capacidade de dizer que mentimos quando mentimos; de aceitar nossos erros, conhecer nossas ilusões e vaidades.

Olhar com simplicidade é desapegar-se. Desapegar-se é abrigar nossas despedidas como um novo encontro. Desapegar-se é receber asas.







Luciana Chardelli é carioca, jornalista, escritora e advogada pós graduação em Direito Penal e Processual Penal. É autora do livro "Penso, logo insisto. Um desencontro." Escreve também na Revista Obvious.